Trabalho Acadêmico Metodologia_cientifica

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    FACULDADE ENERGIA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - FEANCURSO DE ADMINISTRAÇÃO

    CIÊNCIAS CONTÁBEISSISTEMAS DE INFORMAÇÃO

    DESIGN GRÁFICO

    MARCELLO B. ZAPELINISILVIA M. K. C. ZAPELINI 

    METODOLOGIA CIENTÍFICA E DA PESQUISA DA FEAN 

    FLORIANÓPOLIS2013

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    SUMÁRIO 

    1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 4

    2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO......................................... 52.1 O PROCESSO DE LEITURA...................................................................................................... 52.1.1 que ler –  e onde ler..................................................................................................................... 52.1.2 A ideia principal......................................................................................................................... 62.1.3 Os diferentes tipos de leitura...................................................................................................... 72.1.4 Fases da leitura........................................................................................................................... 72.1.5 Como sublinhar um texto........................................................................................................... 92.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA................................................................. 103 CONHECIMENTO E CIÊNCIA................................................................................................. 133.1 CONHECIMENTO....................................................................................................................... 133.1.1 Conceito..................................................................................................................................... 13

    3.1.2 Elementos................................................................................................................................... 133.1.3 Tipos de conhecimento.............................................................................................................. 143.2 CIÊNCIA..................................................................................................................................... 173.2.1 Conceito..................................................................................................................................... 173.2.2 Características da ciência........................................................................................................... 183.2.3 Divisão da ciência...................................................................................................................... 193.2.4.Critérios de cientificidade.......................................................................................................... 223.3 A PESQUISA COMO PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO............................ 234 O MÉTODO CIENTÍFICO.......................................................................................................... 254.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA................................................................................... 254.1.1 Conceito..................................................................................................................................... 254.1.2 Tipos de raciocínio..................................................................................................................... 264.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS......................................................................................................... 385 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS................................................................ 355.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS.................................................................................................. 375.2 ELEMENTOS TEXTUAIS.......................................................................................................... 415.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS.................................................................................................. 436 CITAÇÕES..................................................................................................................................... 457 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A NBR 6023:2002....................................................... 498 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO........................................... 558.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO..................................................................................... 55

    8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR...................... 568.2.1 Definição da área e do tema....................................................................................................... 578.2.2 Definição do problema............................................................................................................... 598.2.3 Definição do local...................................................................................................................... 638.2.4 Definição do orientador............................................................................................................. 658.3 PROJETOS DE ESTÁGIO........................................................................................................... 668.4 O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO.................................................................... 709 ABORDAGENS DE PESQUISA NO ESTÁGIO........................................................................ 749.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS........................................................ 749.1.1 Pesquisa quantitativa.................................................................................................................. 759.1.2 Pesquisa qualitativa.................................................................................................................... 78

    9.1.3 Pesquisa quali-quantitativa........................................................................................................ 809.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO..............................................................................9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS.................................................................................................

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    9.3.1 Classificação quanto aos fins..................................................................................................... 839.3.1.1 Pesquisa explicativa................................................................................................................ 839.3.1.2 Pesquisa descritiva.................................................................................................................. 849.3.1.3 Pesquisa explicativa................................................................................................................ 86

    9.3.1.4 Pesquisa metodológica............................................................................................................ 869.3.1.5 Pesquisa aplicada.................................................................................................................... 879.3.1.6 Pesquisa intervencionista........................................................................................................ 879.3.2 Classificação quanto aos meios.................................................................................................. 889.3.2.1 Pesquisa de campo.................................................................................................................. 889.3.2.2 Pesquisa de laboratório........................................................................................................... 899.3.2.3 Pesquisa documental............................................................................................................... 899.3.2.4 Pesquisa bibliográfica............................................................................................................. 899.3.2.5 Pesquisa experimental............................................................................................................. 909.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto............................................................................................................. 919.3.2.7 Pesquisa participante/participativa.......................................................................................... 91

    9.3.2.8 Pesquisa-ação.......................................................................................................................... 929.3.2.9 Estudo de caso........................................................................................................................ 939.3.2.10 Levantamento........................................................................................................................ 959.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................................................................... 9610 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................................. 9710.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA................................................................................................. 9810.2 AMOSTRA................................................................................................................................. 9910.2.1 Tipos de amostragem............................................................................................................... 10110.2.2 Cálculo da amostra................................................................................................................... 10411 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS..................................................................................... 10711.1OBSERVAÇÃO.......................................................................................................................... 10911.1.1 Observação simples.................................................................................................................. 11111.1.2 Observação participante........................................................................................................... 11111.1.3 Observação sistemática............................................................................................................ 11311.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta..................................................................................... 11311.2 ENTREVISTA............................................................................................................................ 11411.2.1 O Focus Group......................................................................................................................... 12011.3 QUESTIONÁRIO...................................................................................................................... 12111.4 PESQUISA DOCUMENTAL................................................................................................... 12411.4.1 A pesquisa bibliográfica........................................................................................................... 12712 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS..................................................................... 129

    12.1 CLASSIFICAÇÃO..................................................................................................................... 13012.2 CODIFICAÇÃO......................................................................................................................... 13212.3 TABULAÇÃO............................................................................................................................ 13312.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA......................................................................................................... 13412.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............................................................................................ 14113 TRABALHOS ACADÊMICOS.................................................................................................. 14313.1 RESUMOS DE TEXTO............................................................................................................. 14313.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................................... 14513.3 ARTIGO..................................................................................................................................... 14613.4 PAPER........................................................................................................................................ 14813.5 RESENHA CRÍTICA................................................................................................................ 150

    13.6 ENSAIOS................................................................................................................................... 15113.7 MONOGRAFIAS....................................................................................................................... 15213.8 ESTUDOS DE CASO................................................................................................................ 153

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    13.9 SEMINÁRIO.............................................................................................................................. 155REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 156APÊNDICES...................................................................................................................................... 160

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    1 INTRODUÇÃO

    O estudo não pode prescindir dos cuidados com o método para sua realização,

    tampouco independe de técnicas que aumentem sua eficiência. Foi com esse espírito que este

    trabalho foi realizado, objetivando fornecer ao estudante de graduação noções gerais sobre o

    método científico, as técnicas de estudo e as normas que regulamentam a apresentação dos

    trabalhos acadêmicos.

    Dessa forma, este trabalho procura identificar e desenvolver aspectos metodológicos

     básicos para o estudo e a pesquisa eficientes. Com seu foco voltado para o curso de

    graduação, o trabalho discute aspectos referentes aos projetos e relatórios de estágio, fase de

    extrema importância na vida acadêmica, que exige cuidados redobrados em termosmetodológicos, e fornece bases para os trabalhos acadêmicos na área.

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    2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO

    2.1 O PROCESSO DE LEITURA

    2.1.1 O que ler - e onde ler

    A leitura é essencial para o aprendizado e a formação do administrador de empresas,

    sendo ainda uma prática que o acompanhará necessariamente durante toda a sua vida

     profissional: relatórios, atas de reuniões, documentos da empresa, são a face mais visível, mas

    não a única, pois o administrador precisará se manter informado a respeito da conjunturaeconômica e empresarial, os concorrentes, a realidade social em que sua organização está

    inserida, bem como acompanhar os mais recentes desenvolvimentos de sua especialidade.

    Assim, o primeiro aspecto que deve ser trabalhado para se garantir a maior eficiência

    no processo de leitura refere-se ao que deve ser lido. Evidentemente, deve-se procurar ler o

    que é importante para a vida e a prática do indivíduo. Ruiz (1995, p. 36) destaca muito bem a

    importância da leitura:

    A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vezmais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação,disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulosdiferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua

     própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu.

    Para determinar o que ler, é preciso ter em mente, inicialmente, o que se pretende

    atingir, ou seja, o propósito da leitura. De acordo com Ruiz (1995), a leitura busca captar,

    criticar, reter e integrar conhecimentos. Isso se faz, segundo Northedge (1998), para

    desenvolver os próprios pensamentos do leitor, agregando informações e ideias adicionais

    àquelas que este já possui, conferindo-lhe novos pontos de vista. “O objetivo da leitura não éapresentar uma porção de palavras passando em frente de seus olhos [...]. É reunir suas ideias

    e fazê-lo repensá-las.” (NORTHEDGE, 1998, p. 34, grifos do autor).

     Northedge (1998) sublinha que o conhecimento só será eficientemente construído a

     partir da leitura se o leitor tiver interesse pelo assunto; isso significa, antes de mais nada, que

    a leitura idealmente deve ser motivada por uma curiosidade e um desejo de aprendizado, de

    dominar o conhecimento que o texto traz.

    Definidos os propósitos, é preciso examinar o título do livro, o nome do autor, seucurriculum, o índice, a bibliografia, e, sempre que possível, a introdução, o prefácio, a nota do

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    autor, para ver se este está de acordo com o que se objetiva atingir (ou seja, a leitura deve

    estar previamente planejada, deve seguir objetivos previamente definidos). Professores,

    colegas e pessoas que já tenham tido contato com a área de conhecimento da qual a obra trata

     podem ajudar a tirar dúvidas quando se está selecionando a bibliografia a ser lida.

    Uma vez que se tenha selecionado o que será lido, o passo seguinte se refere à seleção

    de um local para a leitura. A grande maioria das pessoas necessita de ambiente bem

    iluminado, arejado e silencioso para uma leitura proveitosa. Manter distância de fontes de

    ruído é essencial para não prejudicar a concentração do leitor. Ergonomicamente falando, está

    demonstrado que a fonte de iluminação, no caso de luz artificial, deve estar à esquerda do

    leitor. Uma cadeira ou poltrona confortável é fundamental, sobretudo nos casos em que a

     pessoa irá passar muito tempo lendo; não obstante, é recomendável interromper periodicamente a leitura para “esticar as pernas” e descansar os olhos, reduzindo o esforço no

     processo.

    Alguns outros acessórios são importantes para uma leitura proveitosa: um dicionário

    de fácil manuseio deve estar disponível para dirimir dúvidas em relação ao significado das

     palavras do autor, e um bloco de papel com lápis ou caneta é de grande utilidade para destacar

    aspectos fundamentais do texto, dúvidas e pontos que mereçam maior desenvolvimento em

    leituras posteriores.

    2.1.2 A ideia principal

    Um aspecto central no processo de leitura está na captação da ideia principal ou

    central de cada parágrafo. Cada texto escrito, qualquer que seja sua dimensão, destaca Ruiz

    (1995), possui uma ideia central, fundamental para sua compreensão. O bom leitor, ao ler,

    concentra-se em captar a ideia central do texto, procurando unidades de pensamento eideias em cada parágrafo (RUIZ, 1995). Como reconhecer essa ideia central? Uma vez que o

    leitor tenha encontrado uma ideia importante em um parágrafo, ele deve memorizá-la ou

    anotá-la, e continuar o processo de leitura com ela em mente, procurando desenvolver a

    argumentação do autor a partir dessa ideia, distinguindo, dentro dessa argumentação, o

     principal do secundário. Normalmente, a ideia central exige maior esforço do autor em termos

    de prová-la e demonstrá-la, levando-o a incluir exemplos, analogias e fatos que a expliquem,

    que a sustentem, que a demonstrem, pois a ideia central, de uma forma grosseira, é a

    mensagem que o autor deseja passar.

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    2.1.3 Os diferentes tipos de leitura

    Lakatos, Marconi (2001) apresentam uma classificação dos tipos de leitura baseada

    nos objetivos do leitor, organizada em termos de profundidade:

    a)  Scanning : é uma leitura rápida, de procura de algum tópico ou assunto, lendo-se o índice,

    algumas linhas ou alguns parágrafos do texto, em busca de frases ou palavras-chave.

    Trata-se de leitura de contato inicial com a obra;

     b)  Skimming : é uma leitura que objetiva captar a tendência geral de pensamento do autor do

    texto, usando-se sobretudo os títulos e subtítulos nos quais o texto se divide, mas também

    alguns parágrafos, de modo a permitir a compreensão da tendência do trabalho ou a

    metodologia com o qual ele foi construído;c)  Leitura de significado: procura dar uma visão ampla do conteúdo, desprezando aspectos

    secundários. O leitor normalmente percorre uma única vez o texto, não voltando para

    aprofundar sua compreensão;

    d)  Leitura de estudo ou leitura informativa: seu objetivo é dar uma visão completa do

    conteúdo do texto, exigindo normalmente mais de uma leitura do mesmo texto, a sublinha

    e o destaque de trechos ou palavras-chave do texto, e o resumo;

    e) 

    Leitura crítica: como o tipo mais profundo de leitura, pretende formar um ponto de vistasobre o texto, comparando o que o autor escreveu com conhecimentos anteriores,

    avaliando a qualidade, correção, atualidade e fidedignidade dos dados apresentados por

    este e a solidez da argumentação. Neste caso específico, o processo de leitura exige, para

    ser bem-sucedido, sólido conhecimento do assunto por parte do leitor.

    Estes dois últimos tipos de leitura são os que mais recompensam o leitor em termos de

    conhecimentos, mas também são os mais trabalhosos. É praticamente impossível, mesmo para

    o leitor treinado, captar adequadamente as ideias centrais e a mensagem do autor em uma sóleitura. Por isso o processo de leitura se divide em fases.

    2.1.4 Fases da leitura

    Lakatos e Marconi (2001) apresentam diversas fases diferentes para o processo de

    leitura, que podem ser sintetizadas como se segue:

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    a)  Leitura de reconhecimento ou leitura prévia: é uma leitura rápida, que visa dar um contato

    inicial com o texto, para determinar se os conhecimentos que se procura estão sendo

    abordados no mesmo. Lê-se normalmente o índice, os títulos e subtítulos do texto;

     b) 

    Leitura exploratória: busca sondar as informações disponíveis no texto. Já se determinou a

    existência, neste, do conhecimento que se pretende buscar, mas é preciso definir se de fato

    o texto aborda os aspectos específicos que se procura. Lê-se normalmente a folha de rosto,

    a contracapa e as “orelhas” do livro, a bibliografia e as notas de rodapé do texto e, mais

    importante, a introdução ou o prefácio do texto;

    c)  Leitura seletiva: visa selecionar as informações mais importantes do texto, relacionadas

    com o problema que se está estudando. Busca-se eliminar o supérfluo no texto, como

    subitens e outras subdivisões que não abordem o assunto;d)  Leitura reflexiva: nesta fase, busca-se frases-chave e ideias centrais que determinem o que

    o autor pensa sobre o assunto, e porque faz determinadas afirmações. É uma leitura mais

     profunda do que todas as anteriores;

    e)  Leitura crítica: avalia as informações prestadas pelo autor, hierarquizando as ideias que

    este desenvolve de maneira a determinar suas intenções ao escrever o texto. Nesta fase, o

    leitor primeiro compreende o que o autor quis transmitir, e depois modifica ou ratifica

    suas próprias ideias e argumentos sobre o texto;f)  Leitura interpretativa: procura relacionar as afirmações do autor com os problemas para os

    quais o leitor está procurando uma solução através da leitura. É um estudo mais profundo

    das ideias desenvolvidas no texto, buscando a associação de ideias na solução dos

     problemas que motivaram a leitura;

    g)  Leitura explicativa: a mais profunda de todas, procura verificar os fundamentos de

    verdade usados pelo autor.

    Portanto, o processo de leitura engloba mais de uma leitura. As fases iniciais (“a” e“b”) normalmente são cumpridas numa só leitura do texto, mas as demais exigem mais

    leituras. O importante, aqui, não é o número de vezes que o texto será lido, e sim quanto de

    conhecimento será gerado pelo processo de leitura. Esse conhecimento pode ser gerado por

    apenas duas leituras, no caso de leitores metódicos e experimentados, que possuem bom

    conhecimento do assunto tratado pelo autor. Entretanto, dependendo do leitor, leituras

    adicionais deverão ser empreendidas. Dessa maneira, é fundamental que o leitor disponha de

    tempo suficiente para a leitura antes de empreender o processo completo de leitura, ou seus

    objetivos serão prejudicados.

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    Evidentemente, antes de iniciar o processo de leitura, o leitor deve ter estabelecido

    objetivos em relação à leitura, de modo que possa determinar quais textos devem ser lidos

    com maior profundidade. Isto, entretanto, será trabalhado com maior profundidade quando se

    tratar da pesquisa bibliográfica, na qual o planejamento prévio desempenha um papel central

    no delineamento.

    2.1.5 Como sublinhar um texto

    Sublinhar um texto é uma das melhores formas de captar seu conteúdo, pois permite

    identificar melhor as ideias principais de cada parágrafo, destacando-as para leituras

     posteriores, além de aumentar a concentração do leitor. Sublinhar, de acordo com Ruiz(1995), exige alguns cuidados:

    a)   Não se deve sublinhar em demasia, somente as ideias principais e os aspectos mais

    importantes do texto;

     b)   Não se deve sublinhar após a primeira leitura, pois esta somente fornece um contato

    inicial com o texto, e dificilmente permite uma seleção eficaz dos detalhes mais

    importantes do texto;

    c) 

    A parte sublinhada deve dar a possibiliade de reconstituir todo o parágrafo;d)  O texto sublinhado deve permitir uma leitura rapidíssima do texto, como um telegrama -

    vai daí que a sublinha não precisa ser contínua, ou seja, não é preciso sublinhar todo um

     período para se captar o que ele quer dizer, mas apenas duas ou três palavras ou

    expressões do texto, que possam ser concatenadas posteriormente;

    e)  Deve-se sublinhar com dois traços as palavras-chave da ideia central do texto, e com um

    só traço detalhes e pormenores importantes do texto, associados àquela ideia;

    f) 

    As passagens mais significativas do texto devem ser destacadas com linha vertical àmargem do texto;

    g)  Dúvidas e pontos de discordância devem ser assinaladas com um ponto de interrogação.

     Naturalmente, determinar o que sublinhar, e o quanto sublinhar é um aspecto essencial

     para o processo eficiente de sublinha; somente a prática pode conduzir à perfeição neste item,

     pois sublinhas em demasia tornam monótona e demorada a leitura, enquanto que poucas

    dificultarão a compreensão do texto. O trabalho, entretanto, é compensador: textos

    adequadamente sublinhados são lidos mais rapidamente quando há a necessidade de leituras

    adicionais, de rememorização das ideias tratadas, e de compreensão mais profunda do que o

    autor desejava passar com o texto.

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    2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA

    Uma técnica que normalmente dá bons resultados em termos de maior aproveitamento

    da leitura consiste em fazer anotações sobre o texto, na forma de esquemas, fichas e resumos.

    Algumas dicas são importantes para facilitar o trabalho.

    O esquema é o processo mais simples de trabalhar o conteúdo de um texto. Consiste

    em condensar as ideias expressadas pelas frases do texto em palavras-chave, as ideias de um

     parágrafo em uma frase-mestra que transmita a ideia principal do mesmo, e finalmente, a

    sucessão das ideias desenvolvido no texto como um todo por meio de parágrafos-chave. O

     processo exige o encadeamento lógico das diferentes ideias, de modo que se possa ter umacompreensão do texto como um todo. Nas palavras de Lakatos e Marconi (2001, p. 25), “a

    elaboração de um esquema fundamenta-se na hierarquia das palavras, frase e parágrafos-

    chave que, destacados após várias leituras, devem apresentar ligações entre as ideias

    sucessivas para evidenciar o raciocínio desenvolvido.” 

    De acordo com Ruiz (1994), a elaboração de um esquema obedece a algumas regras:

    a)  É preciso ser fiel ao texto, evitando encaixar as ideias deste nos próprios pensamentos e

    conhecimentos; b)  Deve-se usar os títulos e subtítulos do texto como guias para apreensão do tema

    trabalhado pelo autor;

    c)  Clareza, simplicidade e critério na distribuição das ideias são essenciais para se manter

    fidelidade ao texto;

    d)  Deve-se encadear e subordinar as ideias trabalhadas pelo autor, em vez de simplesmente

    reuni-las;

    e) 

    Deve-se ter um sistema uniforme de observações, gráficos ou símbolos para dividir otexto e subordinar as ideias umas às outras.

    Os resumos  exigem um esforço maior por parte do leitor, condensando o texto de

    modo a reduzi-lo aos seus elementos mais importantes. Ao contrário do esquema, o resumo

    deve formar um texto completo, redigindo cada parágrafo de modo a garantir a compreensão

    do texto original, desobrigando o leitor de voltar a este quando precisar do conteúdo do

    mesmo. É possível também incluir no resumo uma apreciação crítica do texto, a partir de um

     posicionamento assumido pelo autor (RUIZ, 1994).

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    Um resumo é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto por parte do

    leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ, 1994). Algumas

    regras, de acordo com Ruiz, são importantes:

    a) 

    Deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e

    depois de fazer anotações sobre o mesmo;

     b)  Um resumo deve ser breve e compreensível;

    c)  O autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do

    texto, pois estas devem transmitir as ideias deste;

    d)  Toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a

    referência bibliográfica completa da mesma;

    e) 

    Pode-se incluir, ao final do resumo, ideias integradoras, referências bibliográficasadicionais e posicionamentos críticos a respeito do texto.

    Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os

    resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de

    fidelidade em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias

     palavras do estudante, mas precisa se manter fiel às ideias do autor do texto original. De

    qualqeur forma, o resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado,

    expondo-o de modo a permitir uma rápida consulta e a rememorização do assunto(LAKATOS; MARCONI, 2001).

    Os resumos são de três tipos básicos:

    a)  Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência

    às partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito,

    valendo-se de frases curtas para indicar elementos importantes deste;

     b)  Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais

    informações do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e oassunto do texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados

    e conclusões a que o autor chegou;

    c)  Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto.

    Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário

    absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado

    tanto do estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em

    diversas fontes diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar

    conteúdos), quanto daquele que apenas deseja maior compreensão de um determinado

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    assunto. Subseqüentemente, este trabalho abordará os resumos enquanto trabalhos

    acadêmicos.

    Finalmente, as fichas consistem num sistema de apresentação de conteúdo do material

    escrito, permitindo identificar uma obra, conhecer e analisar seu conteúdo, apresentar citações

    importantes, e elaborar críticas ao texto (LAKATOS; MARCONI, 2001). As fichas seguem

    regras básicas para sua apresentação: toda ficha possui três componentes, o cabeçalho, a

    referência bibliográfica e o corpo ou texto, sendo opcional incluir a indicação da obra (ou

    seja, a que tipo de público ela se destina) e sua localização (LAKATOS; MARCONI, 2001).

    O cabeçalho identifica a ficha, apresentando-lhe o título, o número de classificação e,

    no caso de o conteúdo se estender por mais de uma ficha, a letra indicativa de seqüência

    (LAKATOS; MARCONI, 2001). Em seguida, a ficha deve apresentar a referênciabibliográfica, que deve ser elaborada de acordo com a norma da ABNT (6023: 2002). Já o

    corpo ou texto deve ser elaborado de acordo com o tipo de ficha. A classificação das fichas é

    definida por sua finalidade; assim, as fichas se classificam em bibliográficas (de obra inteira

    ou parte), de citações, de resumo ou conteúdo, de esboço, e de comentário ou analítica

    (LAKATOS; MARCONI, 2001).

    As fichas bibliográficas abordam, de maneira sucinta e breve, os principais elementos

    da obra fichada, definindo-lhes o campo do saber, a problemática abordada, as conclusões àsquais o autor chegou, as contribuições que este possa ter dado, as fontes dos dados, a

    metodologia utilizada, entre outros. As fichas de citações  reproduzem fielmente citações

    relevantes para o estudo empreendido. As fichas de resumo sintetizam clara e concisamente

    as principais ideias ou aspectos da obra. As fichas de esboço são semelhantes às de resumo,

    mas detalham com maior profundidade a obra estudada. Por fim, as fichas de comentário 

    analisam a obra, abordando aspectos como a forma e a metodologia de exposição, fazendo

    análises críticas do conteúdo e/ou a comparação da obra com outras do mesmo tema, eexplicando a importância da obra para o estudo que está sendo empreendido (LAKATOS;

    MARCONI, 2001).

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    3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA

    3.1 CONHECIMENTO

    3.1.1 Conceito

    Etimologicamente, a palavra “conhecimento” deriva do latim cognitio  (o termo grego

    correspondente é ghnosis). Segundo Nicola Abbagnano (1992), conhecimento é a técnica para

    comprovação de um objeto (seja ele uma entidade, um fato, uma coisa, uma realidade ou uma

     propriedade); o termo “comprovação” deve ser entendido como um procedimento que

     possibilita a descrição, o cálculo ou a previsão do objeto. É preciso mencionar,adicionalmente, que essa comprovação não é infalível.

     Neste sentido, não se deve confundir o conhecimento com a crença: esta deve ser

    entendida como o empenho de colocar uma verdade qualquer, mesmo que ela não seja

    comprovável; ademais, o verdadeiro conhecimento atinge as causas da coisa. O conhecimento

    é um processo mais complexo do que a crença, como será visto na próxima seção, aonde

    serão descritos os elementos do processo cognitivo.

    3.1.2 Elementos

    O processo de conhecer alguma coisa ou fenômeno envolve necessariamente três

    elementos, a saber: o sujeito, isto é, o cognoscente ou aquele que conhece, o objeto, ou seja,

    aquilo que deve ser conhecido, e a imagem, que vem a ser o ponto de coincidência entre o

    sujeito e a realidade; o conhecimento vem a ser uma transferência das propriedades do objeto

     para o sujeito. Felix Kaufmann (1977) frisa: a imagem não é uma cópia fiel da realidade. Afigura a seguir auxiliará no entendimento:

    Figura 1- Os elementos do processo de conhecimento

    SUJEITO OBJETO

    IMAGEM

    Fonte: Autores.

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    Toda operação cognitiva se dirige do sujeito para o objeto e tende a efetuar uma

    relação com esse objeto, de forma que surja uma característica efetiva deste na mente do

    sujeito. Dessa maneira, como dizem os filósofos, todo conhecimento é uma apropriação do

    mundo objetivo por parte do sujeito cognoscente. A percepção desempenha um papel

    fundamental no conhecimento.

    Embora todos os seres vivos sejam capazes de possuir alguma forma de conhecimento,

    somente o ser humano é capaz de transcender o conhecimento fornecido pelos sentidos: o

    conhecimento humano é intelectual, ou seja, o homem é capaz de conhecer as realidades

    materiais não somente na sua singularidade, mas vai além disso, pois ele pode comparar,

    analisar e fazer relações entre os objetos. Uma pedra é a mesma coisa para qualquer animal,

    mas somente ao homem ela pode ser considerada preciosa; uma planta é percebida pelosanimais herbívoros como comida, e pelo homem como: comida, como remédio, como

    decoração, etc.; um pedaço de carne é identificado como tal por um cachorro ou um gato, mas

    somente para um ser humano ele tem forma triangular ou retangular.

    3.1.3 Tipos de conhecimento

    A tipologia de conhecimentos que será explicada nesta seção é fornecida por JoãoÁlvaro Ruiz em seu livro “Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos” (1995);

    os estudantes que desejem se aprofundar nessa tipologia, especialmente no que tange à

    diferença entre as diferentes formas e o conhecimento científico devem consultar o capítulo 4

    dessa obra.

    O primeiro tipo que se pretende descrever é o chamado conhecimento vulgar. Este é

    uma forma empírica de conhecer as coisas, baseada nas experiências e vivências de cada

     pessoa, que é capaz de atingir os fatos mas não de discutir-lhes as causas. Toda pessoaacumula imensa carga de conhecimento vulgar ao longo de sua vida; as experiências vividas

    são acumuladas pelas pessoas de forma acrítica e ametódica, isto é, sem a realização de

    análises, de críticas ou de demonstrações sobre os objetos conhecidos.

    O conhecimento vulgar forma a maior parte da carga de conhecimentos de cada um,

    sendo capaz de fornecer aos homens algumas certezas; entretanto, não concede nenhuma

    demonstração ou prova dessas certezas. Para exemplificar o tipo de conhecimento vulgar,

     pode-se mencionar o fato de que, por experiência própria ou transmitida pelos parentes e

    amigos, todas as pessoas sabem receitas caseiras de remédios para algumas doenças;

    entretanto, não sabem explicar o porquê dessas receitas funcionarem, nem tampouco a forma

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     pela qual elas fazem efeito. Um cientista procederia à análise das receitas, buscando

    identificar as razões pelas quais elas curam as doenças a que se destinam, bem como a forma

     pela qual ocorre essa cura.

    O segundo tipo é chamado conhecimento intuitivo. Ruiz (1995) observa que a

    intuição é uma forma de conhecimento que, pela sua característica de atingir o objeto sem

    “meio” ou intermediários de comparação, assemelha-se ao fenômeno do conhecimento

    sensorial, em particular da visão; Abbagnano reforça essa ideia mencionando que a intuição é

    uma relação direta com um objeto qualquer, relação esta que implica a presença do objeto.

    Como forma de conhecimento, o tipo intuitivo é imediato, subjetivo, e se reduz a um

    único ato de experiência. Laville e Dionne (1999) associam o conhecimento intuitivo ao senso

    comum, observando que ele representa uma primeira compreensão do objeto, e denunciandocomo ele pode ser enganador. O conhecimento intuitivo não pode aspirar à validade do

    conhecimento científico (que é objetivo), pois suas conclusões não têm validade geral. Há

    duas formas de conhecimento intuitivo, a saber:

    a)  Sensorial: conhecimento obtido por meio dos sentidos;

     b)  Intelectual: conhecimento obtido por meio de determinados princípios lógicos (“nada

     pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto”), éticos (“faça o bem, evite o

    mal”) e estéticos (conceito do belo ou esteticamente agradável). O terceiro tipo é o conhecimento teológico, o qual pressupõe a existência de uma

    autoridade divina, suprema e soberana acima dos homens. Exige também a fé, e se baseia na

    revelação divina; os livros sagrados, revelados por Deus aos homens são as fontes dos

    conhecimentos divinos. Para o fiel, o conhecimento teológico é superior ao científico, pois se

    origina diretamente de Deus e é atingível pelo homem por meio da revelação. A fé é, dessa

    forma, o conhecimento supremo para o ser humano. A crença não deve ser confundida com o

    conhecimento teológico, pois este apresenta fundamento definido.O objeto do conhecimento teológico é (ou pode ser) o mesmo do científico, mas ele se

     pauta por princípios diferentes: em primeiro lugar, o cientista se vale dos sentidos e de sua

    razão para conhecer, ao passo que o teólogo utiliza a razão iluminada, ou seja, esclarecida por

    Deus; em segundo lugar, o cientista se fundamenta no conhecimento dos fatos e das

    experiências, enquanto que o teólogo se baseia na Revelação. Dessa maneira, enquanto o

    teólogo sustenta que o mundo é uma criação de Deus - pois assim está escrito nos livros

    sagrados - o cientista se esforça por explicar as leis físicas que deram origem ao mundo.

    O quarto tipo é o conhecimento filosófico. A filosofia já foi definida das mais

    diferentes maneiras, mas pode-se ficar com a conceituação de Platão, na qual ela é o “saber a

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    serviço do homem.” (apud ABBAGNANO, 1992). “Filósofo” é uma palavra grega cunhada

     por Pitágoras como um substituto para a denominação “sábio”: segundo esse pensador, apenas

    os deuses são sábios; os homens são apenas amigos ( philos) da sabedoria ( sophoi).

    O conhecimento filosófico objetiva as ideias, as relações conceituais e as causas mais

    remotas do objeto; embora ela tenha o mesmo objeto material das ciências particulares, estas

    não podem se pronunciar sobre as finalidades supremas de tal objeto, ao passo que a filosofia,

    sim (RUIZ, 1994). Num exemplo simples, o cientista estuda os mecanismos da vida humana,

    ao passo que o filósofo indaga o porquê do homem estar vivo; o cientista estuda o papel do

    cérebro no conhecimento, enquanto que o filósofo se concentra nos mecanismos utilizados

     pela mente para o raciocínio, e assim por diante.

    A filosofia se vale do método racional e dedutivo para conhecer; esse método nãonecessita da confirmação empírica, e sim de coerência. Além disso, a filosofia busca a síntese

    e o todo, enquanto que a ciência é analítica e procura a parte, o fragmento, a particularidade.

    Devido a isso, não existe nenhuma verdade definitiva em filosofia: ela faz perguntas, fornece

    respostas, mas não aspira a alcançar respostas supremas ou absolutamente corretas. A ciência,

    em contraste, faz perguntas e oferece respostas, algumas das quais podem ser aceitas como

     perfeitamente verdadeiras (pelo menos no estágio atual de seu desenvolvimento).

    Finalmente, deve-se introduzir o conhecimento científico. Tal como ocompreendemos, ele é uma conquista recente, podendo ser datado na Revolução Galileana do

    século XVII; isso não quer dizer que não existisse ciência antes de Galileu, e sim que as bases

    modernas da ciência foram estabelecidas a partir do cientista italiano. O conhecimento

    científico aspira à objetividade, pois o cientista deve se despir de suas emoções e

     preconceitos, de forma que suas experiências possam ser repetidas e suas conclusões,

    verificadas por seus colegas. Além disso, o cientista se vale de uma linguagem rigorosa que é

    de conhecimento dos outros cientistas. O conhecimento científico se caracteriza ainda, por sersistemático, metódico, preciso, e por estudar fatos abstratos, isolados do todo aonde se

    inserem.

    O cientista está interessado em descobrir regularidades que lhe permitam enunciar

    generalidades sobre os fenômenos na forma de leis; assim, ele busca descobrir relações

    universais e necessárias sobre os fenômenos estudados e, ao encontrá-las, prever

    acontecimentos e agir sobre a natureza. Evidentemente, nada disso será atingido se não for

     possível repetir as experiências que levaram ao descobrimento das leis; como Alan F.

    Chalmers colocou, “o conhecimento científico é conhecimento confiável porque é

    conhecimento provado objetivamente.” (CHALMERS, 1995, p. 23). 

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    3.2 CIÊNCIA

    3.2.1 Conceito

    Etimologicamente, a palavra “ciência” deriva do termo latino  scientia, cujo sentido

    original é “conhecimento”; o termo grego, epistheme, vem sendo modernamente utilizado no

    sentido de “epistemologia”, teoria do conhecimento. Portanto, o que se originalmente

    utilizava para definir todo o conhecimento humano, atualmente deve ser considerado somente

    como uma das formas possíveis de se conhecer.

     Não existe um conceito universalmente aceito de ciência. Na verdade, esse conceito

    não somente mudou ao longo dos séculos, como ainda foi profundamente influenciado pelastradições de pesquisa e de conhecimento adotadas. A lista que se segue não pretende ser

    exaustiva, e sim apresentar uma variedade de concepções diferentes sobre o assunto:

     Nicola Abbagnano (1992): ciência é um conhecimento que inclui, em qualquer forma ou

    medida, uma garantia de sua própria validade. Oposto à ela é o conceito de opinião, que

    não possui garantia alguma de validade;

    Rubem Alves (1987): a ciência é uma especialização: ela consiste num refinamento de

     potenciais comuns a todos e na hipertrofia de capacidades que todos têm. Neste sentido,ela pode ser considerada uma metamorfose do senso comum, já que ambos (ciência e

    senso comum) são expressões da mesma necessidade de compreender o mundo com o

    intuito de melhor viver. Ambos estão em busca de ordem, ainda que possuam visões

    diferentes do que é ordem;

    Roy Bhaskar (1975 apud MAY, 2004): a ciência é uma tentativa sistemática de pensar as

    estruturas e ações das coisas que existem e agem independentemente do pensamento;

    Alan F. Chalmers (1995): a ciência é objetiva. Não existe uma categoria geral chamada“ciência”, em relação à qual alguma área de conhecimento pode ser aclamada como tal ou

    difamada por não sê-la;

    Antonio Carlos Gil (1995): a ciência é uma forma de conhecimento, e seu objetivo é a

    formulação, através de linguagem rigorosa e adequada (quando possível, com o uso da

    linguagem matemática), de leis que regem o comportamento dos fenômenos, leis estas que

    sejam capazes de descrever séries de fenômenos, comprováveis por meio de

    experimentação e observação e capazes de prever acontecimentos futuros;

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    William J. Goode (1979): a ciência é um método de abordagem de todo o mundo empírico

    (sendo este o mundo suscetível de ser experimentado pelo homem). Não visa alcançar a

    verdade última, e sim analisar os fenômenos de forma que os cientistas possam apresentar

     proposições sob a forma de “se..., então...”; 

    Fred N. Kerlinger (1977): a ciência é um empreendimento preocupado exclusivamente

    com o conhecimento e a compreensão dos fenômenos naturais. Os cientistas desejam

    conhecer e compreender as coisas, de forma que possam afirmar: “se fizermos isto aqui,

    acontecerá aquilo ali”; 

    João Álvaro Ruiz (1995): a palavra “ciência” pode ser entendida de duas  maneiras: num

    sentido AMPLO, ela significa simplesmente conhecimento; num sentido RESTRITO,

    trata-se de um conhecimento que não apenas apreende ou registra fatos, mas também os

    demonstra pelas suas causas determinadas ou constitutivas.

    3.2.2 Características da ciência

    O tipo de conhecimento que a ciência fornece ao ser humano é, como visto na seção

    anterior, muito diferente dos demais que o ser humano pode alcançar. Dessa maneira, a

    ciência possui diversas peculiaridades, que Antonio Carlos Gil (1995) formulou da seguintemaneira:

    a)  A ciência é objetiva, no sentido de que descreve a realidade independentemente dos

    caprichos, valores e preconceitos do observador;

     b)  É racional, uma vez que se vale da razão, e não de sensações ou impressões, para chegar

    aos resultados;

    c)  É sistemática, já que procura construir sistemas de ideias racionalmente organizadas e em

    incluir conhecimentos parciais em totalidades cada vez maiores;d)  É geral, posto que busca formular leis e normas que expliquem fenômenos de todos os

    tipos;

    e)  É verificável, dado que possibilita a demonstração da veracidade de suas informações;

    f)  É falível, porque reconhece sua capacidade de errar.

    A objetividade  (a característica apresentada na letra “a” acima) é freqüentemente

    considerada como uma das características centrais da ciência, um dos critérios que devem ser

    satisfeitos para que se possa falar em conhecimento científico. Bernstein (apud MAY, 2004) a

    define como uma convicção fundamental: existe uma estrutura permanente, independente da

    História, que permite determinar a racionalidade, a correção, a realidade, a verdade ou a

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     bondade. Assim, a objetividade seria uma base de conhecimento à qual se pode apelar em

    caso de dúvida, fornecendo uma medida das afirmações feitas pelo cientista.

    Como uma complementação, de acordo com Ruiz (1995), a ciência se caracteriza por

    ser um conhecimento pelas causas (demonstra os porquês de determinado enunciado), por

    ser capaz de conhecer profundamente os fenômenos, por generalizar suas conclusões, por

    ter uma finalidade teórica (aumentar o conhecimento) e uma prática (melhorar as condições

    de vida do ser humano), por possuir um objeto formal (entendido como a forma pela qual ela

    atinge o objeto material), por empregar método na busca do conhecimento, por operar sob

    condições de controle  rigoroso, por alcançar um resultado final exato e por ser uma

    instituição social. Das características levantadas por Ruiz é importante, sobretudo o fato de

    que a ciência é uma instituição social (ou seja, a ciência é produzida em um grupo social, parauso desse grupo e deve ser validada por ele); esse aspecto fica muito mais visível nas ciências

    sociais, como será visto.

    3.2.3 Divisão da ciência

    Abbagnano (1992) e Gil (1995) destacam: ao longo da história, a ciência foi objeto de

    uma grande quantidade de divisões diferentes, nenhuma das quais pode ser consideradainteiramente satisfatória, ou ao menos universalmente aceita pelos estudiosos. Uma vez que

    não é possível apresentá-las todas, serão colocadas algumas tentativas.

    Abbagnano (1992) coloca, entre as divisões mais conhecidas, a de Ampère, que se

     baseou sobretudo nas teorias dos filósofos gregos (entre eles Platão e Aristóteles), e reconhece

    as ciências noológicas (ou do espírito) e as cosmológicas (ou da natureza), e a de Comte, que

    classifica as ciências em abstratas (que buscam descobrir as leis que regulam os fenômenos)

    e concretas (ciências descritivas que buscam aplicar as leis à história dos seres existentes).Durante o século XIX, Wilhelm Dilthey (conhecido filósofo alemão) complementou a divisão

    de Ampère ao estabelecer que as ciências noológicas tentam compreender um objeto (o

    homem) e revivê-lo internamente, enquanto que as cosmológicas buscam conhecer

    causalmente um objeto externo.

    Mas é a divisão de Comte que se tornou mais conhecida e serve de base para a que

    será utilizada ao longo desta disciplina, que reconhece as ciências formais  (como a

    matemática e a lógica formal), que tratam de entidades ideais e suas relações, e as empíricas,

    que tratam de fatos e processos. As ciências empíricas podem ser subdivididas em dois

    grandes grupos, as naturais (como a física, a química, a biologia e a astronomia) e as sociais 

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    (como a sociologia, a história, a antropologia, a economia e a ciência política). A psicologia é

    um caso à parte: ainda que muitos a coloquem no plano das ciências naturais, ela deve ser

    considerada como uma ciência social, ainda que se reconheça que seja quase fronteiriça às

    duas subclasses. A figura a seguir auxiliará na visualização:

    Figura 2- Divisão das ciências

    CIÊNCIAS FORMAIS

    CIÊNCIAS EMPÍRICAS Naturais

    (FACTUAIS)

    Sociais

    Fonte: Autores.

    Existe amarga controvérsia a respeito da divisão entre ciências naturais e sociais;

    desde os tempos de Comte, as ciências sociais têm sido pressionadas na busca de uma

    aproximação às naturais. Há dois motivos para essa controvérsia: em primeiro lugar, asciências naturais conseguem maiores neutralidade e objetividade que as sociais. Além disso,

    ainda permitem maior campo de experimentação e são mais facilmente transformadas em leis

    de alcance geral; essas considerações levam muitos autores a desprezar o caráter científico das

    ciências sociais, negando-lhes o  status  de ciências. Dentro de tal debate, são reconhecidos

    quatro grupos de críticas às ciências sociais:

    Em primeiro lugar, fenômenos humanos e sociais não possuem a ordem e a regularidade

    do universo físico e por isso não são previsíveis;As ciências sociais não são quantificáveis e isso dificulta a comunicação de seus

    resultados;

    Os pesquisadores sociais trazem suas normas éticas e valores para o campo da pesquisa, e

    com isso prejudicam seus resultados;

    Por fim, as ciências naturais são experimentais, enquanto que nem sempre as sociais

     permitem a experimentação.

    Por outro lado, tem-se a reação dos defensores do caráter científico das ciênciassociais, que respondem a essas críticas da seguinte maneira:

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    O determinismo absoluto e as relações causa-efeito das ciências naturais não são livres de

    questionamento. Além disso, as ciências sociais permitem fazer previsões probabilísticas;

    O objeto de estudo das ciências sociais não é quantificável num sentido emocional, mas a

    inteligência, por exemplo, é mensurável. O grau de quantificação das ciências sociais,

    entretanto, sempre será menor do que o das naturais;

    É muito difícil deixar de lado os valores, mas em problemas técnicos e teóricos eles

     podem ser colocados em segundo plano. Os valores não são inteiramente negativos;

    Finalmente, o experimento não é de todo indispensável: ciências naturais como a

    astronomia não são experimentais. Há muita negligência em relação à capacidade

    experimental das ciências sociais.

    Dito isto, podem ser apresentadas as características específicas das ciências sociais, as

    quais Pedro Demo (1995) formulou da seguinte maneira:

    a)  As ciências sociais têm objeto histórico, caracterizado pela provisoriedade e pela situação

    de estar, não de ser. As ciências naturais possuem objeto cronológico, cuja identidade é

    estável;

     b)  O ser humano possui consciência histórica, ou seja, pode intervir em sua história e

     planejá-la a partir da interação de suas ideias com as condições da realidade;

    c) 

    Há uma identidade entre sujeito e objeto: o homem não pode conceber uma realidadesocial que lhe seja inteiramente alheia;

    d)  As realidades sociais se manifestam de forma qualitativa, não podendo ser manipuladas

    com exatidão. Isso não implica, entretanto, em uma análise frouxa ou pouco rigorosa: a

    verdadeira ciência social é construída com procedimentos muito cuidadosos;

    e)  As ciências sociais são ideológicas, no sentido de que seu objeto é ideológico. A ideologia

    deve ser entendida como o modo pelo qual se justifica uma posição política, um interesse

    social, privilégios de classe social, etc. A ideologia não pode ser eliminada da ciênciasocial, por isso o cientista deve controlá-la criticamente, de forma que seus efeitos não

    sobrepujem a cientificidade;

    f)  Quando se estuda uma realidade social, a separação entre teoria e prática não é perfeita.

    O cientista social tem um compromisso com a prática mesmo quando se omite, pois é

    cidadão e membro de uma sociedade.

    Tim May (2004) afirma que as ciências não devem ser consideradas como uma

    explicação definitiva a respeito dos fenômenos da vida, que não pode nem deve ser desafiada;seu papel é “[...] entender e explicar os fenômenos sociais, focalizar a atenção em questões

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     particulares e desaf iar crenças convencionais sobre os mundos social e natural.” (MAY, 2004,

     p. 22). Mas nem por isso as ciências sociais podem se arrogar a infalibilidade.

    3.2.4 Critérios de cientificidade

    Existem, de acordo com Demo (1995), dois tipos principais de critérios que medem a

    cientificidade de uma proposição ou teoria: os internos (divididos em critérios de forma e de

    conteúdo) e o critério externo.

    Os critérios internos ligados à forma são:

    a)  Coerência: uma teoria científica deve ser lógica, de maneira que tudo esteja em seu

    devido lugar, de acordo com um planejamento racional, as conclusões não contradigam os princípios, haja início, meio e fim, e assim por diante. É preciso também que o objeto seja

    sistematizado, claro e distinto;

     b)  Consistência: a obra científica deve possuir profundidade, isto é, basear-se em

    argumentos sólidos, ser firme, buscar o âmago do fenômeno, demonstrar conhecimento de

    causa e considerar discussões anteriores.

     No que tange aos critérios ligados ao conteúdo, deve-se mencionar os seguintes:

    a) 

    Originalidade: a teoria deve buscar renovar a ciência através de novas discussões, novasalternativas de estudo e potencialidades, ou seja, tentando abrir novos caminhos para a sua

    discussão;

     b)  Objetivação: a teoria deve ser científica, captando a realidade como ela se apresenta e

     buscando eliminar o máximo possível de ideologia, preconceitos e valores pessoais que

     possam atrapalhar a visão do cientista. O conhecimento deve estar isento de todo aspecto

    que deturpe a realidade.

    Por fim, o critério externo de cientificidade: a intersubjetividade. Como as ciências possuem um débito para com a sociedade, é preciso levar em consideração a opinião

    dominante em cada assunto, obra ou autor. Três fenômenos cercam a intersubjetividade:

    I)  O argumento da autoridade: algumas teorias são reconhecidamente importantes e são

    usadas como citações;

    II)  A opinião dominante: há, em cada escola de pensamento, uma linha de opinião que

     predomina sobre as demais;

    III) Comparação crítica externa: visualização das teorias, escolas e autores, e comparação

    entre eles.

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    3.5  A PESQUISA COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

    A pesquisa é o método de construção do conhecimento científico por excelência.

    O papel da teoria não pode ser desprezado na definição da pesquisa científica. Como

    nota May (2004, p. 43), “a teoria, junto com a pesquisa, é de central importância nas ciências

    sociais.” O mesmo pode ser dito, em verdade, para qualquer tipo de ciência. A teoria auxilia a

     produzir hipóteses, a orientar o pesquisador em seus questionamentos, a criticar os resultados

    da pesquisa, a evitar erros cometidos anteriormente e denunciado por outros pesquisadores.

    Mas a relação entre teoria e pesquisa vai além dessas contribuições: os resultados da pesquisa

    submetem a teoria a reavaliações constantes, forçando-a a se reexaminar criticamente à luz

    dos resultados obtidos pelos pesquisadores que a testam ou avaliam empiricamente suas proposições. Nas palavras de May (2004, p. 44, grifos do autor),

    [...] existe um relacionamento constante entre a pesquisa e a teoria social. Para nós,como pesquisadores, a questão não é somente o que  produzimos, mas como  ofazemos, pois isso é inseparável do processo da pesquisa. Um entendimento dorelacionamento entre a teoria e a pesquisa é parte desse projeto reflexivo quefocaliza nossas habilidades não apenas para aplicar técnicas de coleta de dados, mastambém para considerar a natureza e os pressupostos do processo de pesquisa.

    Assim, a teoria e a pesquisa encontram-se inevitavelmente entrelaçadas no processo de

    construção do conhecimento científico. O trabalho de pesquisa coletará dados e construiráinformações que criarão condições para aperfeiçoar, modificar ou refutar as teorias então

    aceitas.

    Algumas correntes de pensamento defendem o papel transformador da pesquisa

    científica, mormente no caso das ciências sociais. Soriano (2004) afirma que a pesquisa em

    ciências sociais pode atender a quatro objetivos diferentes:

    a)  Pesquisas voltadas à mudança estrutural no tecido socioeconômico, a partir das classes

    mais necessitadas;

     b)  Pesquisas meramente especulativas;

    c)  Pesquisas produzidas conforme os imperativos da produção de bens e serviços por parte

    das organizações privadas;

    d)  Pesquisas voltadas a objetivos econômicos individuais.

    Assim, esses pensadores consideram que a pesquisa deva ser feita em termos de

     produção de mudança social, e esta, como fica nítida na obra de Soriano (2004), está voltada a

    uma ideologia específica (o marxismo). Sem entrar nos méritos desse tipo de exposição, há

    que se afirmar que ela introduz uma clivagem qualitativa muito grave nas pesquisas,

    desprezando aquelas que não estão direcionadas à “emancipação das classes exploradas”. Se a

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     pesquisa científica fosse produzida inteiramente com essa destinação, então a ciência estaria

    comprometida diretamente com um determinado tipo de juízo de valor  –   o que

    necessariamente excluiria da comunidade científica os pesquisadores não comprometidos com

    esse valor; e isso é inteiramente contrário ao espírito científico, que deve estar comprometido

    não somente com a mudança social, mas com a produção de conhecimento desinteressado (a

    favor de Soriano, há que se afirmar que seu manual está voltado para a pesquisa a ser

     produzida com fundos públicos).

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    4 O MÉTODO CIENTÍFICO

    4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA

    4.1.1 Conceito

    “Método” deriva do latim methodus, que significa “caminho”; a palavra, no entanto,

    tem origens gregas: meta (através, por meio de) hodos (caminho), donde methodos. O termo

    vem sendo utilizado, de acordo com Abbagnano (1992), em dois sentidos: no primeiro, a

     palavra significa toda investigação ou orientação de investigação, como uma doutrina; neste

    sentido, fala-se de método dialético, método hegeliano ou método experimental. No segundosentido, método significa uma técnica particular de investigação, isto é, um procedimento

    ordenado de investigação que garante a obtenção de resultados válidos, como no caso do

    método silogístico.

    O primeiro sentido definido por Abbagnano é o que normalmente se estuda nas

    disciplinas de Metodologia de Pesquisa, e pode ser melhor explicitado por Antonio Carlos

    Gil: “pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método

    científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir oconhecimento.” (GIL, 1995, p. 27). O método é central para a atividade científica, sendo

    indispensável para a produção de conhecimento científico; entretanto, é um erro considerá-lo

    como um dogma, pois a atitude crítica, não dogmática, é fundamental para a ciência (ALVES-

    MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999).

     Nesta disciplina, serão enfocados os métodos normalmente utilizados nas Ciências

    Sociais, posto que são aqueles normalmente adotados pelos estudiosos da Administração. Há

    muita discussão sobre a adequação do uso dos métodos das ciências exatas ou naturais nasciências sociais; alguns defendem que somente o método típico da ciência natural garante

    cientificidade ao objeto pesquisado e à teoria resultante da pesquisa, enquanto que outros,

    como Kaufmann (1977) defendem exatamente o contrário. Não se entrará nesta discussão

    aqui; os interessados poderão consultar Chalmers (todo o livro), Blaug (parte I) e Kaufmann

    (parte II) para maior aprofundamento na discussão. Serão vistos os métodos gerais, os

    métodos específicos e os quadros teóricos de referência mais comumente utilizados nos

    estudos administrativos. Antes de se passar a esses tópicos, é conveniente apresentar algumas

    considerações a respeito das formas de raciocínio: indução, dedução e adução.

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    4.1.2 Tipos de raciocínio

    O primeiro tipo de raciocínio que será abordado aqui é o indutivo. Este pode ser

    facilmente descrito como o raciocínio que vai do particular para o todo, isto é, “[...] que nos

    leva de uma lista finita de afirmações singulares para a justificação de uma afirmação

    universal.” (CHALMERS, 1995, p. 27). Há várias formas de indução, das quais apenas a

    científica é interessante neste curso, pois ela concede segurança ao cientista.

    O conhecimento científico é construído a partir de induções baseadas na observação

    dos fenômenos, da seguinte forma: “se um grande número de As foi observado sob uma

    ampla variedade de condições, e se todos esses As possuíam sem exceção a propriedade B,

    então todos os As têm a propriedade B.” (CHALMERS, 1995, p. 27). Exemplificando: se umgrande número de cisnes observados são brancos, então todos os cisnes são brancos. O

    filósofo britânico Karl Popper colocou a posição indutivista numa sinuca, ao afirmar que

     bastaria observar um cisne negro para invalidar a cientificidade da proposição baseada na

    indução; em outras palavras, o raciocínio indutivo parte do pressuposto de que as observações

    de um determinado fenômeno são suficientes para construir a ciência, o que é evidentemente

     perigoso. Por outro lado, pode-se afirmar que, com base nas observações dos planetas do

    sistema solar e nas leis da Física, qualquer novo planeta a ser observado deve ter órbitaelíptica - o que prova que, em certos casos, a indução ainda é uma forma razoável de fazer

    ciência. Na verdade, pode-se dizer que a indução mantém sua validade como uma forma de

    criar hipóteses científicas a serem testadas.

    O segundo tipo de raciocínio é chamado dedutivo. Este faz o caminho contrário ao

    indutivo, ou seja, parte do geral para o particular. O raciocínio dedutivo opera sobretudo a

     partir de silogismos, dos quais o exemplo clássico é: “Todos os homens são mortais. Sócrates

    é homem. Logo, Sócrates é mortal”. A primeira frase é chamada premissa maior, a segunda,premissa menor, e a terceira, conclusão; as premissas são estabelecidas indutivamente.

    Evidentemente, se as duas primeiras premissas forem verdadeiras, a conclusão forçosamente o

    será; dessa forma, o método é muito criticado porque, na verdade, a conclusão não chega a ser

    uma nova teoria ou mesmo algo que possa ser considerado uma contribuição significativa à

    ciência. De fato, o simples estabelecimento de que Sócrates é mortal em nada acrescenta ao

    que já foi definido, ou seja, de que todos os homens são mortais e de que Sócrates é homem.

    Entretanto, o raciocínio dedutivo é a base para um método científico: o hipotético-dedutivo.

    O método hipotético-dedutivo foi proposto por Karl Popper e outros cientistas como

    uma alternativa para os problemas do método indutivo; ambos se fundamentam na observação

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    dos fenômenos mas, enquanto o indutivo permite apenas a generalização empírica de

    observações, o hipotético-dedutivo admite a construção de teorias e de leis científicas (GIL,

    1995). Popper apontava as dificuldades inerentes à observação como um método de

    conhecimento, pois não se pode observar nenhum fenômeno sem uma teoria prévia, ponto de

    vista ou expectativa (GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI;

    GEWANDSZNAJDER, 1999). Em seu livro “A conduta na pesquisa” (publicado no Brasil

    em 1972), Abraham Kaplan (apud GIL, 1995, p. 30) descreveu o método hipotético-dedutivo da

    forma que se segue:

    [...] O cientista, através de uma combinação de observação cuidadosa, hábeisantecipações e intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governamos fenômenos pelos quais está interessado; daí deduz ele as conseqüênciasobserváveis; a seguir, verifica essas conseqüências por meio de experimentação e,dessa maneira, refuta os postulados, substituindo-os, quando necessários, por outrose assim prossegue.

    O método hipotético-dedutivo progride, para usar a expressão do próprio Popper, por

    meio de conjecturas (hipóteses) e refutações (uma hipótese deve ser testada, e se falseada,

    rejeitada, sendo este o único teste definitivo da mesma: não é possível provar uma hipótese

    como verdadeira, mas pode-se provar que seja falsa, e neste caso, deve-se abandoná-la). Este

    método é muito apreciado pelos neopositivistas (que chegam a considerá-lo o único método

    científico possível), mas sua dependência da experimentação torna-o pouco aplicável àsCiências Sociais, ainda que Popper defenda justamente o contrário. Ele apresenta um conjunto

    de teses em seu texto “A lógica das ciências sociais” para demonstrar que não há conflito

    algum entre seu método e as ciências sociais (POPPER, 1978).

    O terceiro tipo de raciocínio, muito pouco tratado pelos filósofos e estudiosos da

    ciência é a adução. Esta pode ser definida como uma indução não-demonstrativa, isto é, como

    a “[...] operação não-lógica que consiste em pular do caos, que é o mundo real, para uma

    intuição ou tentativa de conjetura acerca da relação real existente entre o conjunto de

    variáveis pertinentes.” (BLAUG, 1993, p. 54). Ainda segundo Blaug, a adução pertence ao

    contexto da descoberta: ela é o insight , o eureka do pensador e do cientista, que transcende os

    limites da indução baseada na simples observação dos fenômenos. Na lógica formal, um dos

     poucos usos da adução é feito pelo filósofo inglês Peirce, para quem a adução é o primeiro

    momento do processo indutivo (ABBAGNANO, 1992).

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    4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS

    Dentre os métodos científicos gerais, cujo objetivo é “[...] garantir ao pesquisador a

    objetividade necessária ao tratamento dos fatos sociais.” (GIL, 1995, p. 28), destacam-se três:

    o positivismo, a dialética (e, dentro dessa denominação geral, os materialismos histórico e

    dialético) e a fenomenologia. As características gerais dos três serão vistas a seguir (àqueles

    que desejarem se aprofundar no tema, recomenda-se a leitura dos capítulos 2 e 3 do livro de

    Augusto Triviños e, sobre o método dialético em particular, o capítulo 6 do livro de Pedro

    Demo).

    O método positivista é, na opinião de seus defensores, a única forma possível de fazer

    ciência. Seu fundador, Auguste Comte, coloca-se tanto entre os pioneiros da Sociologia comoentre os visionários da Filosofia, já que pretendia criar uma nova religião para a humanidade,

     baseada na Ciência. O modelo das Ciências Naturais, com sua exatidão, sua neutralidade, seu

    empirismo e sua capacidade de previsão de acontecimentos futuros foi tomado por Comte

    como o mais adequado para a construção de ciências da sociedade. Evidentemente, o moderno

     positivismo é bastante diferente do de Comte, devido às contribuições de pensadores como

    Ernest Mach, Rudolf Carnap, Moritz Schlick, Bertrand Russell, A. J. Ayer, Ludwig

    Wittgenstein, entre outros.Segundo Triviños (1995), a filosofia positivista condena a especulação, exaltando os

    fatos. Ainda de acordo com esse autor, doze são as características principais do positivismo, a

    saber:

    a)  Em primeiro lugar, o positivismo despreza a integridade, buscando conhecer o fenômeno

    em suas partes isoladas. O mundo deve ser concebido como um amontoado de coisas

    separadas;

     b) 

    Os fatos são as únicas realidades a serem observadas pelo cientista;c)   Não se deve buscar as causas últimas dos fatos (o que é “metafísico”), e sim as relações

    entre eles (ou seja, busca-se conhecer como os fatos se relacionam, e não o porquê dessas

    relações);

    d)  O conhecimento é um fim em si: a ciência deve ser neutra, preocupada com conhecer e

    não com a aplicação do conhecimento;

    e)  Os únicos fatos realmente importantes são aqueles que são objetivamente dados,

    atingíveis por meio da experiência. Fatos metafísicos não são dignos do conhecimento

    científico;

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    f)  Existe um princípio da verificação: tudo aquilo que for empiricamente verificável é

    verdadeiro, ou seja, toda afirmação a respeito do mundo deve ser confrontada com o dado

    real;

    g) 

    Tanto fenômenos naturais quanto sociais devem ser estudados pelo mesmo método;

    h)  As teorias científicas são formadas pela operacionalização de variáveis, isto é, pela

    conceituação de variáveis que significam relações entre os fenômenos;

    i)  Fisicalismo: todas as ciências devem ser expressas na mesma linguagem, qual seja, a da

    Física;

     j)  O conhecimento a priori, isto é, o conhecimento independente da experiência não existe

    (ABBAGNANO, 1992);

    k) 

    Fatos e valores são diferentes, e somente os primeiros devem ser objeto de estudo doscientistas;

    l)  Existem apenas dois tipos de conhecimentos autênticos: os empíricos (representados

     pelas ciências naturais) e os lógicos (representados pelas ciências formais).

    A essas características levantadas por Triviños (1995) devem ser somadas as

    seguintes, de acordo com Easterby-Smith et al.  (apud ROESCH, 1996): o observador é

    independente do fato observado, e isento de valor; a ciência progride por meio de um

     processo hipotético-dedutivo, em que os conceitos são operacionalizados de forma a permitirsua quantificação; devem ser selecionadas amostras de tamanho grande o suficiente para que

    as conclusões possam ser generalizadas (além disso, é necessário comparar variações entre

    amostras); por fim, o cientista deve elaborar leis fundamentais que permitam a explicação de

    regularidades no comportamento humano.

    Como síntese, pode-se destacar as seguintes características como sendo centrais para a

    compreensão do positivismo:

    a) 

    Empirismo; b)  Objetividade;

    c)  Experimentação;

    d)  Validade ou reprodução das experiências;

    e)  Formulação de leis e de previsões de comportamento dos fenômenos (LAVILLE;

    DIONNE, 1999).

    Em torno de 1920, o positivismo foi reavaliado pelos pensadores do Círculo de Viena

    (Schlick, Carnap, Neurath, entre outros), que buscaram conjugar o empirismo com a lógica

    moderna. Esses pensadores defendiam que a Lógica e a Matemática são conhecimentos a

     priori, independentes da experiência (em flagrante contraste com o positivismo comtiano que,

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    como visto anteriormente, não admitiam essa possibilidade), e o uso da indução para a

    formulação de teorias que poderiam ser experimentadas, sendo aceitas quando verificadas, ou

    seja, testadas e confirmadas; após um certo número de repetições, uma teoria seria

    considerada indutivamente provada (GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI;

    GEWANDSZNAJDER, 1999).

    Essas concepções positivistas foram muito criticadas pelos diferentes pensadores,

    dentre eles Karl Popper (ver o método hipotético-dedutivo na seção anterior) e os da Escola

    de Frankfurt (Adorno, Benjamin, Horkheimer, Habermas, entre outros), mas desempenhou

    um importante papel no avanço do conhecimento (TRIVIÑOS, 1995).

    O segundo método científico a ser estudado é o fenomenológico. A concepção atual

    de fenomenologia foi criada por Edmund Husserl (1859-1938), e está ligada a um tipo demétodo científico no qual a única coisa que realmente importa é o fenômeno, o dado ou a

    coisa que se apresenta diante da consciência do ser humano, sem se importar com o fato do

    dado ou fenômeno ser real ou aparente: ele existe e se dá ao conhecimento; além disso, o

    método busca exclusivamente mostrar o que é o dado ou fenômeno e esclarecê-lo, sem

    formular leis e princípios a seu respeito (GIL, 1995). O fenômeno, portanto, é tudo aquilo que

    aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo (MOREIRA, 2002). Não há, entretanto,

    objeto de conhecimento sem sujeito cognoscente (TRIVIÑOS, 1995).Este método opera por meio do que Husserl chamou “redução fenomenológica”, ou

    seja, o processo por meio do qual o fenômeno se mostra em sua forma pura, livre dos

    elementos pessoais e culturais do observador; dessa forma, pode-se alcançar a essência  das

    coisas, objetivo máximo da fenomenologia (TRIVIÑOS, 1995), essência que deve ser descrita

    (MERLEAU-PONTY apud MOREIRA, 2002), essência que deve ser compreendida como a

    forma pela qual o fenômeno aparece diante da consciência (MOREIRA, 2002). A redução, ou

    epoqué, funciona da seguinte forma: o indivíduo deve “suspender” suas crenças na tradição enas ciências, examinando os conteúdos da consciência como dados, e dessa forma

    descrevendo o fenômeno em sua forma mais pura (MOREIRA, 2002). À redução

    fenomenológica segue-se a redução eidética, voltada para a intuição da forma de alguma

    coisa, separando essa forma de qualquer qualidade acidental; seu funcionamento se dá em três

    níveis, dos quais o primeiro consiste na observação de coisas similares na natureza, as quais

    são posteriormente agrupadas em características comuns, ou universais empíricos, e, por fim,

    dentro da coisa, procura-se uma característica sem a qual não se possa pensá-la  –   os

    universais eidéticos, características necessárias das coisas (MOREIRA, 2002).

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    Para alguns autores, como Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996), o uso do

    método fenomenológico implica na análise do objeto de conhecimento tomando em

    consideração também as diferenças culturais entre os observadores, que levam a formas

    diferentes de percepção; tal visão, como observado, não é unânime entre os estudiosos.

    Husserl dividia as ciências em ciências de fatos, fundamentadas na experiência sensível, e

    ciências eidéticas, que buscam a intuição essencial, às quais se pode aplicar o método

    fenomenológico; entretanto, mesmo as ciências de fatos possuem essência, o que significa que

    também podem ser estudadas pelo método fenomenológico (GIL, 1995).

    Husserl também pressupunha a universalidade do conhecimento: em sua visão, a

    essência captada é a mesma para qualquer sujeito cognoscente, ou seja, “[...] o mundo que eu

    conheço [...] é o mundo que pode ser conhecido por todos.” (HUSSERL apud TRIVIÑOS,1995, p. 46). O conhecimento fenomenológico não se preocupa com a historicidade; a busca

    da essência de um fenômeno implica em desprezar toda a história por trás dele, o que faz com

    que o método seja criticado como conservador, pois o pesquisador que o utiliza está

    interessado em captar a realidade para descrevê-la em sua essência, sem qualquer

     preocupação de atuar sobre ela (TRIVIÑOS, 1995). Entretanto, o método fenomenológico é

    útil para um pesquisador na formulação e definição de problemas, de hipóteses, e dos

    conceitos utilizados na fundamentação teórica de suas pesquisas (GIL, 1995).O terceiro e último método geral a ser apresentado é o dialético. Devido às limitações

    de espaço e tempo, não serão tratadas todas as vertentes da dialética, preferindo-se a

    concentração na chamada dialética marxista, que vem a ser a mais conhecida e utilizada pelos

    cientistas sociais. Segundo Gil (1995), há três formas de encarar a dialética: como uma

    filosofia da natureza, como uma lógica de pensamento aplicada ao estudo histórico de

    mudanças e conflitos sociais e como um método de investigação da realidade.

    Essa terceira faceta da dialética é a que interessa para os objetivos desta disciplina, eserá estudada aqui. Não existe um consenso a respeito do que é a dialética, mas em geral se

    admite que o pressuposto central do método seja a admissão de que “[...] toda formação social

    é suficientemente contraditória par a ser historicamente superável.” (DEMO, 1995, p. 86), isto

    é, que a realidade historicamente observável possui, em seu interior, contradições em

    diferentes graus (tanto solúveis quanto insolúveis), que podem ser historicamente superáveis;

    as contradições insolúveis dentro de uma determinada formação social são solucionadas pela

    superação de tal formação por uma nova. Além disso, alguns princípios são, conforme Gil

    (1995), comuns a todas as abordagens:

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    Em primeiro lugar, há o princípio da unidade e luta dos contrários, que postula que

    todos os fenômenos e objetos de pesquisa possuem aspectos contraditórios,

    indissoluvelmente unidos como opostos que se encontram em estado de luta permanente

    entre si, de maneira a construir e desenvolver a realidade. Demo (1995) reforça: a unidade

    de contrários (cada tese traz em si sua antítese) não significa exclusão pura e

    simplesmente, mas convivência, no objeto, desses contrários;

    O segundo é o princípio de transformação das mudanças quantitativas e qualitativas.

    De acordo com os pesquisadores que trabalham com o método dialético, todos os objetos e

    fenômenos possuem características qualitativas e quantitativas, sendo que estas últimas,

    em seu processo gradual de mudança, geram mudanças qualitativas, e assim por diante.

    Triviños (1995) menciona: todo objeto tem propriedades e características, que podem ser

    definidas como suas qualidades, bem como características definidoras de suas dimensões,

    volume, peso, grau de desenvolvimento e intensidade de suas propriedades, que definem

    seu aspecto quantitativo. Como exemplo, a passagem do capitalismo para o socialismo se

    dá por meio de mudanças quantitativas, que levarão a uma nova realidade social,

    qualitativamente diferente;

    Por fim, tem-se o princípio da negação da negação, que define o desenvolvimento como

    uma espiral em que, nos estágios superiores, repetem-se aspectos dos inferiores. Em outras palavras, o surgimento do novo não implica numa completa desaparição do velho, pois

    implica em admitir que “[...] o desenvolvimento tem um caráter contraditório, isto é, que é

     possível que em determinadas etapas se repitam, com nova qualidade, fases do fenômeno

    que já foram passadas.” (TRIVIÑOS, 1995, p. 73). 

    Com base nisto, pode-se concluir:

    [...] para conhecer realmente um objeto é preciso estudá-lo em todos os seusaspectos, em todas as suas relações e todas as suas conexões. Fica claro também que

    a dialética é contrária a todo conhecimento rígido. Tudo é visto como em constantemudança: sempre há algo que nasce e se