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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
Artes e Letras
168
Trabalho de Projeto
Mauro Santos Moura
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Cinema
(2º ciclo de estudos)
Orientador: Prof. Doutor Frederico Lopes
Covilhã, Outubro de 2012
Agradecimentos
Este espaço é dedicado a todos os que me ajudaram, incentivaram e
apoiaram de modo a que o meu projecto final fosse realidade. A todos eles o meu
profundo agradecimento.
Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao Professor Doutor Frederico
Lopes por ter aceite o meu convite para ser meu orientador e por, durante o último ano
e apesar de estar bastante ausente do continente a trabalhar nos Açores, me ter
ajudado, aconselhado e facilitado a realização de todo o meu projeto.
Em segundo lugar gostaria de agradecer a todos os meus professores que no
primeiro ano de Mestrado me orientaram e me ensinaram a perceber o Cinema de um
outro ponto de vista e muito mais aprofundado, sem os ensinamentos dos quais não seria
possível ter realizado este trabalho.
Por fim, e não menosprezando o trabalho dos mesmos, gostaria de
agradecer a todos aqueles que colaboraram, directa ou indirectamente, para que tudo
isto fosse possível.
Resumo
Actualmente, encontramo-nos numa sociedade que cada vez mais nos
coloca à prova diariamente acerca do real valor da nossa formação bem como do nível
dos nossos conhecimentos e aptidões.
Encarei este trabalho com esse espírito e essa vontade, de mostrar que
apesar das dificuldades ou dos contratempos que nos possam colocar no caminho do
mesmo, se estivermos bem preparados e principalmente muito motivados, tudo é
possível de acontecer.
Não pretendo com este trabalho mostrar apenas todos os conhecimentos
técnicos aprendidos ao longo dos anos mas também e principalmente alguns aspectos ao
nível da narrativa, bem como das opções estéticas e de todos os pequenos pormenores
que julgo serem esses que vão determinando as características e identidade de cada
autor.
Deste modo, o meu trabalho não pretende ser apenas um trabalho
académico, mas também um alerta para a forma como uma pequena parte da nossa
sociedade vive e como todos os outros os vêem viver essa mesma vida.
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
1. Índice
2. Lista de figuras
3. 168 – Um filme sobre um esquizofrénico
4. A Ezquizofrenia
6. Imagem – Opção estética
8. Referências
9. The Beaver
10. Donnie Darko
12. Dr Jekyll and Mr Hide
14. Rain Man
15. One Flew Over the Cuckoo's Nest
16. Kabinett des Dr. Caligari
18. Mapa de rodagem
20. Personagens
20. Caracterização da Personagem Principal
21. Caracterização das Personagens Secundárias
22. Iluminação
24. Reperage e cenário
25. Banda Sonora e Sonoplastia
27. Sinopse
Anexos:
Guião
Cartaz
1
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Lista de figuras
Figura 1 – imagem do filme '168'
Figura 2 – capa do filme 'The Beaver'
Figura 3 – Mel Gibson em 'The Beaver'
Figura 4 – capa do filme 'Donnie Darko'
Figura 5 – Jake Gyllehnhaal em 'Donnie Darko'
Figura 6 – imagem do filme 'Donnie Darko'
Figura 7 – capa do filme 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Figura 8 – Fredric March em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Figura 9 - Fredric March em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Figura 10 - Fredric March em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Figura 11 – capa do filme 'Rain Man'
Figura 12 – Dustin Hoffman 'Rain Man'
Figura 13 - capa do filme 'One Flew Over the Cuckoo's Nest'
Figura 14 – Jack Nicholson em 'One Flew Over the Cuckoo's Nest'
Figura 15 – Jack Nicholson em 'One Flew Over the Cuckoo's Nest'
Figura 16 - capa do filme 'Kabinett des Dr. Caligari'
Figura 17 – Conrad Veidt em 'Kabinett des Dr. Caligari'
Figura 18 - capa do filme 'Kabinett des Dr. Caligari'
Figura 19 – Conrad Veidt em 'Kabinett des Dr. Caligari'
Figura 20 – mapa de rodagem
Figura 21 – actor Artur Marques em '168'
Figura 22 – actores Artur Marques e Rita Pinheiro em '168'
Figura 23 – esquema de iluminação para chroma key
Figura 24 – esboço da reperage
Figura 25 - visualização da área de trabalho do programa Digital Performer
2
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
168 – Um filme sobre um esquizofrénico
168 é um filme que retrata alguns episódios diários da vida de um
esquizofrénico durante 7 dias.
O título do filme foi escolhido tendo em conta um pouco como funciona a
mente de um doente com esquizofrenia, visto que a sua mente se encontra fragmentada
e sem capacidade para pensar com clareza, daí que 168 seja a soma das 24horas de 7
dias da semana. Além disso, como os esquizofrénicos vivem um pouco obcecados com
conspirações, perseguições e ilusões, apenas reais na sua mente, podemos considerar
que 168 é a soma das horas em que algo muda no seu comportamento 'aparentemente'
normal , em cada um dos dias do filme.
No filme tenta-se retratar alguns dos sintomas mais comuns presentes na
doença, doença essa que é considerada a doença mais devastadora tratada pelos
psiquiatras.
Para a construção da narrativa deste trabalho, tive por base 2 aspectos: o
primeiro a vivência que tive com duas pessoas que, de maneiras diferentes, eram
esquizofrénicas e com as quais lidava ocasionalmente, antes e depois dos sintomas
estarem mais presentes; o segundo foi a leitura do livro 'Introdução à Psiquiatria' 1 que
me fez manifestar um interesse muito maior por este tema e pelo desafio que ele
poderia proporcionar, visto que retratar a vida de uma pessoa que vive com problemas
mentais graves nunca poderia ser de maneira nenhuma um desafio fácil.
Para além desses dois aspectos tive também a ajuda de alguns filmes, os
quais tomei como referências e de que falarei mais à frente.
1 Introdução à Psiquiatria, Nancy C. Andreasen e Donald W. Black, Artmed, 2009
3
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
A Esquizofrenia
A esquizofrenia, esquizo (fragmento) e frenia (mente), atinge normalmente
as pessoas na idade em que estas se preparam para entrar na vida de forma mais
independente ou produtiva, deixando a maioria incapacitada de ter uma vida adulta
normal: estudar, trabalhar, casar ou ter filhos.
Os sintomas normalmente associados à esquizofrenia dividem-se em dois
grupos: os positivos e os negativos. Os positivos são caracterizados pela presença de algo
que deveria estar ausente (por exemplo ouvir vozes), enquanto que os negativos são
caracterizados pela ausência de algo que deveria estar presente (por exemplo a
incapacidade de tomar decisões).
Como os sintomas da doença podem ser tantos e tão diversos, optou-se por
focar os mais característicos na maioria dos doente. Como o dia avança dia após dia com
o doente cada vez com o seu estado de saúde mental mais agravado, esses sintomas iam
também avançando e sendo cada vez mais marcantes na vida do doente.
Alucinações (auditivas, visuais, olfativas, tácteis), delírios (persecutórios,
grandiosidade, de ser controlado, de referência), deterioração das relações afectivas,
discurso desorganizado e incoerente com recurso ao uso de palavrões, expressão facial
inalterada, bloqueio tanto físico como mental, deficiência nos cuidados higiénicos e
pessoais, comportamento e aparência bizarros e o pouco interesse sexual são os
principais sintomas retratados durante o filme.
Um dos aspectos que pode marcar alguma estranheza a quem se depara
pela primeira vez com um filme sobre esta doença é o facto do primeiro dia ser
perfeitamente normal, igual ao dia de qualquer outra pessoa, não antecipando em nada
o que vem nos dias seguintes. Também no penúltimo dia, o personagem parece estar
grande parte dele aparentemente consciente de tudo o que aconteceu, arrumando até
uma parte da confusão com que se encontra o seu quarto, com o senão de no final do
dia já estar a ter algumas alucinações e a voltar ao seu estado dito 'normal'.
Um doente esquizofrénico também tem dias normais como qualquer outra
pessoa, a sua vida não é sempre um caos, uma desorganização mental, como por vezes
as pessoas querem fazer ver. Foi um pouco isso que quis também realçar, focando
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Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
pormenores nos primeiros dias de extrema arrumação e aprumo, e de alguns hábitos
revelando uma boa educação, não antevendo o que viria depois.
O filme serve também de alerta já que as pessoas com doenças mentais são
cada vez mais desprezadas, negligenciadas ou mesmo gozadas pelo resto da população
que com elas convive diariamente, mas nenhum de nós, um nosso familiar, está livre de
passar pelo mesmo. Os esquizofrénicos são pessoas aparentemente normais, apenas
precisam de terem a doença controlada.
5
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Imagem – Opção estética
Ao dar início à escrita da história que iria servir de suporte ao guião foi
necessário definir a estética do filme. Foi aí que tomei a opção de se usar câmara à mão
na maior parte das cenas.
Há um principio que parece reger os documentários, ou falsos
documentários, que é exactamente esse, o uso da câmara à mão, mas no caso deste
filme, não se pretende que ele seja visto como um documentário.
O uso de câmara à mão pressupõe um cinema mais realista, mais ''sujo'',
mais documental, que aproxima muito mais a imagem da realidade, criando uma maior
ligação e proximidade com o espectador.
Ao usar uma imagem mais próxima do personagem, mais dinâmica, vamos
criando uma afectividade e uma perceção mais real da ação criando quase a ilusão de
que estamos ali, naquele lugar, a presenciar tudo o que nos é dado pela imagem da
câmara.
Há também a presença de imagens de uma outra câmara, câmara essa
estática e sempre com o mesmo campo de ação, que nos marca uma grande diferença
para a imagem que acompanha os nossos personagens. Essa foi definida como sendo uma
câmara de segurança.
Para definir a sua coerência e concordância, primeiramente decidi que não
iria ser deslocada, e iria estar em modo automático durante toda a rodagem. Isso iria
dar-nos uma imagem muito aproximada da realidade de uma câmara de segurança,
apenas com o senão da qualidade da imagem e nitidez não estarem a ser afectadas,
visto que normalmente uma câmara de segurança trabalha a metade dos frames usados
pelas câmaras de rodagem, entre outros parâmetros.
Para colmatar tudo isso, a decisão de deixar a câmara em foco automático
veio dar um pouco de coerência a essa teoria, visto que num dos dias, no penúltimo dia,
a câmara começa com a imagem exactamente desfocada, focando apenas mais tarde
nessa mesma cena, como se de uma câmara de segurança real se tratasse.
Outra das decisões que tomei, em edição, depois de todo o filme cortado e
alinhado, entendi que aquela imagem, da câmara fixa, não estava totalmente de acordo
6
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
com a realidade. Foi então que, após visionamento de pequenos filmes de câmaras de
segurança, optei pela colocação de um filtro que passasse toda a imagem para preto e
branco e posteriormente um filtro a verde para dar um ar mais realista. No final faltava
apenas a presença de uma legenda nessa mesma imagem com um timer e uma
descrição, não revelando ao espectador exactamente o significado de todos aqueles
códigos.
A alteração, em relação ao guião, do final foi sugerida quando em edição
entendi que o filme poderia acabar já naquele momento em que o personagem cai no
chão. Apesar do espectador não ter ficado totalmente elucidado do porquê existir uma
câmara fixa com uma imagem diferente, ou não perceber o que realmente se passa com
o personagem, poderia acabar ali para dar hipóteses ao espectador de fazer essas
interrogações a si próprio. Foi então que resolvi colocar naquela altura as imagens
escolhidas para o final do filme juntamente com os créditos, mas nunca deixando de ter
a música a marcar toda essa ação para manter fixa a atenção do espectador no ecrã .
Após fazer alguns testes aos segundos necessários para manter a atenção do
espectador mesmo sem imagem, apenas com música, colocou-se então o final do filme
para finalizar o filme, como estava previsto em guião.
7
Hora
DataNúmero da Câmara
Proprietário da Câmara e Número do Paciente
Figura 1 – imagem do filme '168'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Referências
É quase incontornável realizar uma obra, seja ela de que arte for, sem ter
por base alguma referência pela qual sempre tivemos algum interesse ou ligação através
da nossa formação académica ou mesmo como ser humano.
Ao passar de uma história da nossa mente para o papel, e posteriormente
ao orientar a mesma em forma de guião, passam-nos pela cabeça diversos episódios,
cenas, flashs de filmes, citações, planos, etc, que logicamente irão influenciar a nossa
forma de escrever e filmar.
'Uma Mente Brilhante' 2, 'The Black Swan' 3, 'Shine' 4 ou mesmo 'Donnie Darko' 5 são filmes
obviamente presentes sempre que se fala em Ezquizofrenia ou em algum outro distúrbio
mental. Apesar de serem filmes os quais já vi mais que uma vez por questões
profissionais, como é o caso de 'Shine' visto que sou professor de musica e todos os anos
visiono o mesmo nas aulas, ou simplesmente por gosto pessoal, não pretendi que os
mesmos fossem vistos como referências directas, quer em termos de escrita, ou mesmo
em termos cinematográficos.
2 'Uma Mente Brilhante', Ron Howard, 20013 'The Black Swan', Darren Aronofsky, 20104 'Shine', Scott Hicks, 19975 'Donnie Darko', Richard Kelly, 2001
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Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
The Beaver, Jodie Foster, 2011
Em 'The Beaver' não se conta a história de um doente
com esquizofrenia. Retrata sim a história de um personagem
que se encontra num estado de depressão de tal modo
profundo e distante do resto do mundo que se aproxima e
muito aos estados mais catatónicos do meu personagem.
Mel Gibson interpreta o papel de um doente depressivo
que se assemelha em muito ao nosso personagem nas diferentes fases da sua doença:
abstracção da restante realidade; viver num mundo só seu com a sua personagem
fictícia, que no caso do filme existe mesmo algo, não real mas um fantoche;
confrontação com a personagem fictícia que o acompanha levando mesmo ao
descontrolo e a situações de conflito consigo mesmo; a quebra dos laços familiares ou
afectivos quando a doença está mais marcada, marcando quase uma total indiferença.
Apesar de não se tratar de um filme que aborda a mesma doença, as
doenças do foro mental estão sempre ligadas, fazendo paralelismos entre sintomas e
causas dos mesmos.
Não só esses factores influenciaram e serviram de base para a escrita da minha história,
mas também a abordagem que se faz
no filme às diversas mudanças de
expressão e humor da personagem,
bastante marcadas nos close-ups.
9
Figura 2 – capa do filme 'The Beaver'
Figura 3 – Mel Gibson em 'The Beaver'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Donnie Darko, Richard Kelly, 2001
'Donnie Darko' é um jovem inquietante, com variações
do seu estado emocional entre o ausente e o presente. No filme
conta-se a história de um rapaz, interpretado por Jake
Gyllenhaal, esquizofrénico que numa noite ouve o chamamento
de um coelho gigante, na rua, que lhe conta numa profecia que
o mundo acabará ao fim de um certo período de tempo. Nesse
mesmo instante parte de um avião se despenha sobre o seu
quarto, mas como este se encontrava
na rua devido ao chamamento do
coelho, entende a sua salvação como
um sinal e procura entender sinais que
o liguem ao fim do mundo anunciado
na profecia.
Os sinais da sua mudança
de humor e do seu estado emocional é
acompanhado pela mudança da sua
expressão, das suas acções, atitudes, como que se fosse um outro personagem ali
presente. Sempre que há uma mudança pro seu estado mais ausente, ele ouve uma voz
que lhe dita algumas profecias.
No seu estado normal Donnie é um rapaz bastante inteligente e normal sem
traços da sua doença.
Esta diferença de estados emocionais, atitudes, expressões faciais bem
como da sua postura serviu para enquadrar emocionalmente a minha personagem.
Um paralelismo que acontece entre os 2 filmes são a presença de 2
personagens imaginárias. No caso de Donnie Darko essa personagem é bastante presente
não só através das suas profecias como da sua presença, apesar de bizarra, enquanto
que no meu filme essa presença é praticamente imaginária tento apenas uma aparição
quando Tiago em frente ao espelho vê um outro Tiago com atitudes as quais o próprio
10
Figura 5 – Jake Gyllehnhaal em 'Donnie Darko'
Figura 4 – capa do filme 'Donnie Darko'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
não as reconhece como sendo suas, fazendo com que este se sinta incomodado e saia do
quarto. Enquanto que Donnie vê o coelho em diversos locais, Tiago apenas vê a sua
personagem imaginária no espelho, que no seu caso é ele próprio.
Outro factor bastante importante é existir uma certa indiferença no trato e
nos afectos dos personagens principais para com algumas personagens, sobre as quais se
nota que há alguma ligação entre ambos mas que devido ao estado descontrolado dos
mesmos faz com que estes se
desliguem de tudo o resto.
11
Figura 6 – imagem do filme 'Donnie Darko'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Dr Jekyll and Mr Hide, Rouben Mamoulian, 1931
'Dr Jekyll and Mr Hide' é talvez a maior referência que
usei para me basear no estudo do personagem principal e
também a que está mais presente durante todo o filme podendo-
se notar em algumas opções estéticas que tomei.
'Não pretendo, neste dia, debruçar-me sobre os
segredos do corpo humano... sobre a saúde e a doença. Neste dia quero lhes falar sobre
um prodígio maior: a alma humana. A minha análise da alma da psique humana leva-me
a crer que o ser humano não é verdadeiramente um … mas dois. Um deles esforça-se
para alcançar tudo o que é nobre na
vida. É o que chamamos de ''lado
bom''. O outro quer expressar
impulsos que prendem-no a obscuras
relações animais com a terra. Esse é o
que podemos chamar de ''lado mau'' .'
Esta citação poderia ser também
utilizada como introdução para o meu
filme, como um prólogo que iria
conduzir toda a acção do personagem
principal.
Em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
vive-se uma constante mudança de
humor e personalidade em torno da
mesma personalidade, tal como no
meu filme, chegando por vezes a
estarem as 2 em confronto quase
que como é referido no filme,
estando uma no lado bom e outra no
lado mau.
12
Figura 8 – Fredric March em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Figura 9 – Fredric March em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Figura 7 – capa do filme 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Tanto no meu filme como no filme aqui em questão, com o avançar da acção o ''lado
mau'' torna-se muito mais constante chegando mesmo a apoderar-se e a dominar
praticamente o ''lado bom'', levando este a perder o controle até ao desfecho final.
Essa é de facto uma constatação do autor do livro que deu origem à obra,
Robert Louis Stevenson publicado em 1886 em que ele afirma todo ser humano é dotado
de duas naturezas completamente opostas equilibradas de acordo com sua saúde
mental. Uma é boa, aquela que traz admiração das pessoas, compaixão dos mais velhos,
elogios dos amigos e da esposa ou namorada; outra é má, aquela que é violenta,
agressiva, mal-educada, feia e temida por todos. Quando bem distribuídas, com
pequenas alternâncias de estado, o homem pode ser considerado normal, mas há os
casos em que uma natureza se
sobrepõe a outra, tentando se
libertar.
Toda esta incerteza em
relação ás constantes mudanças de
personalidade e dos dois 'eus' em
questão ajudaram a criar uma
atmosfera de mistério e suspense
durante todo o filme.
13
Figura 10 – Fredric March em 'Dr Jekyll and Mr Hide'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Rain Man, Barry Levinson, 1988
'Rain Man' acabou por não ser uma referência directa
para mim e para o meu filme, mas não deixa de ter alguns
traços presentes no mesmo.
Sempre me fascinaram os filmes que retratam doenças
do foro mental e psíquico e principalmente a forma como as
suas personagens se movimentam neles. 'Rain Man' foi um deles
apesar do autismo ser retratado de uma forma leve, sem
exageros mas de forma séria.
Dustin Hoffman interpreta brilhantemente no filme o papel de um
personagem autista com traços característicos da doença: andar lento e inseguro, olhar
vago, a fala por vezes desarticulada, gestos repetitivos e compulsivos que denotam um
certo ritual.
Apesar de Tiago não ser autista, alguns traços são comuns entre as doenças
do foro mental. Além desses traços comuns, podemos juntar-lhe a falta de ralações e
afectos sociais normais ou
mesmo a forma como vivem
fechados e ausentes.
14
Figura 12 – Dustin Hoffman em 'Rain Man'
Figura 11 – capa do filme 'Rain Man'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
One Flew Over the Cuckoo's Nest, Milos Forman, 1975
'One Flew Over the Cuckoo's Nest' é um filme bastante
pertinente sobre as ténues fronteiras entre a saúde e a doença
mental, que além disse tem em comum com 168, passar-se
toda a história num espaço fechado.
Apesar do filme retratar um ambiente num hospital
psiquiátrico com vários pacientes que sofrem das mais diversas
doenças mentais, nenhum deles foi tido em consideração, ou
as suas acções, para o meu estudo. O que me despertou
bastante interesse no filme foi a relação do personagem interpretado por Jack
Nicholson, R. P. McMurphy, com o
espaço em si, visto que se encontra
numa ala psiquiátrica fechada do
exterior.
Um aspecto que me
intrigou bastante no filme, foi que
a maior parte dos doentes estão lá
voluntariamente apesar de serem
sujeitos a tratamentos psiquiátricos
e sempre que se portam incorrectamente são castigados e mesmo torturados. É uma
semelhança bastante grande com Tiago, visto que ele no seu quarto tem uma relação
estranha e conflituosa que lhe causa bastantes perturbações com o 'outro' Tiago que se
encontra no espelho e mesmo assim ele não abandona a casa e regressa sempre.
Tal como no filme,
parece ser fácil entrar no
quarto/hospital estando ou não
com alguma perturbação mental,
sair de lá e mentalmente são é que
é mais dificil.
15
Figura 14 – Jack Nicholson em 'One flew over the cuckoo's nest'
Figura 15 – Jack Nicholson em 'One flew over the cuckoo's nest'
Figura 13 – capa do filme 'One flew over the cuckoo's nest'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Kabinett des Dr. Caligari, 1919, Robert Wiene
Durante grande parte da minha vida e quando comecei
a ter um certo gosto e interesse por cinema, comecei a ter como
referencias alguns realizadores, e a acompanhar a sua obra, com
os quais me identificava mais.
Nessa altura estava longe de saber que um filme de
1919 iria ter bastante influencia sobre mim, indirectamente. Digo
que esse filme me iria influenciar indirectamente, porque
comecei desde cedo a acompanhar a obra de Tim Burton e gravava mentalmente cada
cena dos filmes da sua obra.
Quando me foi pedido
na Universidade para fazer um estudo
sobre um realizador, escolhi
logicamente Tim Burton, não porque
era fascinado pelos filmes, mas para
agora desmistificar um pouco a sua
arte e perceber grande parte dos
segredos da sua obra. E foi nessa
altura que deparei com o filme
'Kabinett des Dr. Caligari', talvez a
maior referência para Tim e com bastantes traços do mesmo presente nos seus filmes.
O filme em questão é considerado como o marco inicial do expressionismo
no cinema e conta a história de um hipnotizador que chega ao circo de uma cidade para
apresentar um sonanbulo que misteriosamente faz profecias macabras que acabam por
ser concretizadas, ao mesmo tempo que começam a acontecer crimes na cidade, e os
dois passam a ser os principais suspeitos dos crimes.
16
Figura 17 – Conrad Veidt em 'Kabinett des Dr. Caligari'
Figura 16 – capa do filme 'Kabinett des Dr. Caligari'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Para marcar a presença de alguns traços do expressionismo no meu filme,
infelizmente não me recorri do uso de um cenário distorcido ou com cores e linhas
bastante acentuadas como é característico, não só pelo pequeno orçamento de que
dispunha e também porque queria aproximar o máximo da realidade. Apesar pude ter
essa presença bem marcada no uso
de algum excesso de maquilhagem,
tal como a personagem do filme de
Robert Wiene, o uso de bastantes
close-ups bem intercalados com as
imagens de uma camera fixa,
deixando os actores encenarem à sua
frente. Para além disso o uso de um
cenário por vezes sombrio, com
pouca luz, alternando com dias em
que a luz parece exagerada ajudam
a fazer um grande paralelismo entre
os 2 filmes.
Em comum posso
também relacionar o facto de 168
por ter poucas falas, ser um filme
que vive praticamente do
desempenho do actor e das suas
expressões e muitas vezes poder ser
quase considerado cinema mudo, em
que a expressão corporal e facial
eram fundamentais para provocar
algum medo.
17
Figura 18 – imagem do filme 'Kabinett des Dr. Caligari'
Figura 19 – Conrad Veidt em 'Kabinett des Dr. Caligari'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Mapa de rodagem
Para organizar um mapa de rodagem que permitisse um melhor
desempenho e aproveitamento dos actores, fiz o seguinte esquema:
Dia 16
(segund
a-feira)
1)
Sábado
Dia 17
(terça-
feira)
2)
Segunda
3)
Terça
Dia 18
(quarta-
feira)
4)
Quarta
5)
Quinta
Dia 20
(quinta-
feira)
6)
Sexta
Dia 21
(sexta-
feira)
7)
Domingo
8)
Domingo
(chroma)
9)
Domingo
(final)
O fato de ter começado num dia que não o primeiro dia, não foi por acaso.
Como não comecei a rodar no primeiro dia efectivo do filme, o espectador
ao ver o filme, não vai ter aquela percepção de que é o inicio do filme e o actor ainda
não encarnou a personagem ou não está totalmente a vontade com o cenário, visto que
está num processo de adaptação, e que ainda está a ter uma representação um pouco
falsa e artificial, mais pensada do que natural.
Assim sendo escolhi para começar um dia que fosse mais fácil em termos de
representação, sem grandes esforço pro actor, e que o espectador ao ver esse dia no
ecrã não vai ter a tentação de julgar o desempenho do actor por ser o inicio, já que
nessa altura já está bastante absorvido pelo.
Quando rodei o primeiro dia efectivo do filme, já o actor está a entrar no
18
Figura 20 – mapa de rodagem
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
papel do personagem e já está mais ambientado ao cenário, à presença da câmara, à
luz, e tal como em teatro, já todas as marcações no cenário estão facilitadas,
permitindo ao mesmo um desempenho mais natural, que ajuda a que o espectador seja
logo de inicio levado a entrar no filme.
Não foi possível alternar muito mais pelos dias de rodagem, obrigando a
filmar tudo quase pela ordem do guião, visto que o cenário ia ficando progressivamente
mais caótico dia após dia, devido ao agravamento do estado do personagem, bem como
do guarda roupa.
19
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Personagens
Caracterização da Personagem Principal
Todo este guião foi escrito tendo em conta duas características para a
personagem principal: os sinais exteriores que a doença provoca em alguém, e o
conhecimento prévio do desempenho do actor em alguns papéis semelhantes mas em
teatro.
Tiago, é um jovem de 40 anos, bem constituído, aparentemente saudável,
sem sinais exteriores de alguma anormalidade, tendo uma vida aparentemente normal,
mas que na verdade sofre de esquizofrenia.
O facto de sofrer dessa doença vai afectar profundamente a sua vida e a
rotina do seu dia a dia.
No primeiro dia deparamo-nos com um dia normal de uma pessoa normal,
que pessoas que sofrem dessa doença também os têm, com ou sem medicação.
A partir do segundo dia começam a transparecer anormalidades diárias
diversas que são características da
doença, e que influenciam o seu dia a
dia e todos os seus comportamentos.
Algo que gosto sempre de
deixar em aberto sempre que escrevo
algo para cinema ou teatro, é não
revelar tudo sobre as personagens. No
caso de Tiago não se sabe de onde vem
no primeiro dia, e por isso se trabalha
ou estuda, já que traz uma pasta na mão. Também não se sabe se tem família, se aquele
quarto é numa residência ou pensão ou efectivamente numa casa. Também não se sabe
realmente a verdadeira relação de Tiago com Carla, a personagem feminina da história.
Todos estes aspectos levantados têm uma razão de ser, já que fazem com
que cada um de nós seja levado a poder elaborar mentalmente a associação e o
pensamento que quisermos acerca dessas associações, e por isso enriquecer muito mais
20
Figura 21 – actor Artur Marques em '168'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
a história na mente de cada um, fazendo com que o filme não seja visto da mesma
maneira por todos nós.
Caracterização das Personagens Secundárias
Carla, é a rapariga presente na história. Tem aproximadamente a mesma
idade do personagem principal, Tiago, vem de um estrato socio-econónimo semelhante,
e apresenta ter alguma empatia, relação e conhecimento para com Tiago, visto o seu à-
-vontade natural. Apesar de tudo isso não revela ser total conhecedora dos reais
problemas de Tiago.
Esse é também um dos
problemas porque passam as pessoas
que convivem regularmente com
outras com este tipo de problemas,
visto que nem sempre há um total
conhecimento das doenças e
sintomas das mesmas.
As outras personagens secundárias que participam são:
– a vizinha que vem abrir a porta já entreaberta, à autoridade, dando a impressão
que é aquela típica personagem que está sempre a par de tudo o que se passa na
vizinhança e que mostra uma certa confiança e à-vontade;
– a autoridade, que neste caso é um GNR, que vem desempenhar o seu papel de
vigilante e toma conta da ocorrência chamando os serviços de socorro, sempre a
acompanhar de perto a ação dos outros intervenientes;
– os enfermeiros que entram com a maca e retiram o personagem de cena;
– o assistente do Dr. Francisco Menezes, personagem fictícia, do Hospital de São
Mateus que vem a acompanhar os enfermeiros e a autoridade e regista todo o
caos que se encontra no quarto. Finaliza o filme dando ao espectador a
informação que faltava acerca do nosso personagem.
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Figura 22 – actores Artur Marques e Rita Pinheiro em '168'
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Iluminação
Quando iniciei a reperage deparei-me com um grande problema em termos
de iluminação: a altura do tecto.
Como iria estar sempre uma câmara fixa, a apanhar todo o cenário,
chegando quase a apanhar o tecto, optei por montar spots de iluminação fixos no tecto.
Ao usar esses stops fixos, poderia ter o problema de falta de iluminação
inclusive para a parede com o chroma key, visto requerer uma iluminação bastante
característica não podendo ter sombras entre o chroma e a personagem.
A solução que usei foi tomar 3 pontos fixos com vários spots,
estrategicamente posicionados e que pudessem ser posicionados em termos de direcção,
de modo a servirem as diversas cenas, visto que a mudança de luz na mesma cena
poderia influenciar uma certa diferença de luminosidade entre cenas dinâmicas e até
mesmo para a fixa ao ter que mudar a posição dos projectores.
Como no cenário se encontravam algumas pontos de luz visíveis, atenuei a
intensidade dos mesmos com dimmers, e reforcei essa intensidade com os spots, dando
um mais natural às cenas.
Ao usar os spots houve um outro problema para tratar que seria a dispersão
da luz nos mesmos.
Como tenho apenas alguns pontos no cenário que queremos realçar, não
podia usar os spots totalmente abertos. Então, e graças a alguma criatividade, usei umas
cartolinas pretas de um material esponjoso, maleáveis, que não deixavam passar luz,
nem mesmo reflectir a mesma no seu interior. Ao fazer uns cones com as mesmas, e
controlando a abertura dos cones, permitia que o cenário fosse iluminado ponto a ponto.
Usei também folhas opacas para permitir a dispersão dessa mesma luz, quando
necessário.
Para controlar a temperatura de cor, e visto que estava a usar spots fixos,
esse controlo foi feito com o uso de lâmpadas de diferentes temperaturas de cor: Sunset
light (1850 K), Warm light (2700 K) e Daylight (6500 K). Para além disso usei também
filtros de cor em casos pontuais, quando não obtive a cor pretendida.
Talvez a maior dificuldade em todo o filme foi a de fazer uma boa
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Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
iluminação para o chroma, para depois em edição permitir o fácil controlo e uso do
mesmo.
Para o chroma optei pelo seguinte esquema de luz:
Apesar do esquema de luz do chroma ter sido bem feito, o problema foi o
controlo da temperatura de cor da cena. Como o jornal usado na parede não era
totalmente branco, e a cor do chroma não era um verde perfeito (era um verde claro em
vez de um verde mais escuro), em edição foi extremamente difícil conseguir picar todos
os pontos do chroma sem afetar um pedaço de jornal. A solução a encontrar
futuramente para que o chroma ficasse perfeito será o uso de uma tinta verde mais
escura, mas o orçamento e os timings não permitiram que o mesmo acontecesse.
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Chroma
Chroma screen light Chroma screen light
Back light
Side light (right)Side light (left)
Main light (front)
Spot de luzProjeção/direção da luz
Figura 23 – esquema de iluminação para chroma key
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Reperage e cenário
Inicialmente quando comecei a escrever a história que iria dar origem ao
guião, a grande dificuldade encontrada estava sempre no espaço onde toda a história se
iria desenrolar. Como era um espaço único em que tudo iria acontecer e não
multicenários, esse espaço teria que ter características muito próprias para que fosse
possível concretizar a ideia inicial, que era a de usar, como se veio a usar, uma câmara
através de uma janela falsa interior e ter duas portas em zonas distintas.
Como são características muito incomuns de se encontrar num espaço já
feito, a construção da história com base num esboço que foi inicialmente feito continuou
até que se encontrasse um espaço adequado, e onde fosse possível adaptar a nossa
história, visto que o orçamento não nos permitia construir um cenário de raiz.
Ironia do destino, e como depois de uma tempestade vem a bonança, no
início do ano tive um incêndio em casa, num salão muito parecido com o retratado no
esboço, e tive que refazer parte do edifício, no qual se fizeram as alterações
exactamente como estavam previstas, e assim consegui o cenário exactamente como
estava no esboço apesar do esforço financeiro e os timings para que tudo estivesse
pronto a tempo.
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Figura 24 – esboço da reperage
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Banda Sonora e Sonoplastia
Para esta tarefa contei com a ajuda de dois colegas de licenciatura com os
quais já anteriormente cooperara noutros trabalhos: o Luis Marques e o Mário Jacinto,
que são Mestres em Sound Design e Musica Interactiva pela Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto.
Ao Mário ficou o difícil desafio de compor a banda sonora original e ao Luis
coube a tarefa de fazer todo o equilíbrio, mistura e masterização do resultado final.
O desafio para o Mário não foi fácil. Comecei por ter uma conversa com ele
acerca do tema que iria ser abordado no filme para lhe dar alguma base de sustentação
criativa e posteriormente enviei-lhe o guião para ele ter uma base mais sólida.
À medida que as gravações foram avançando eu fui-lhe enviando alguns
takes, principalmente da câmara de segurança para ele começar a pensar no sentido a
dar às músicas, dando sempre total liberdade ao mesmo para criar.
Em relação às músicas, o tema do primeiro dia serviu de mote a todos os
outros. Tal como o comportamento do personagem se vai alterando durante todo o
filme, também as músicas vão progredindo ao longo de toda a ação culminando com um
clímax no último dia, em consonância com a história do personagem, do qual resulta um
tema praticamente igual ao inicial, para dar um retorno à vida aparentemente normal,
tal como no primeiro dia.
Todos estes temas foram feitos ao mesmo tempo que se ia editando toda a
imagem, até porque grande parte do filme está marcado pelos tempos da música que
servem para ajudar a fazer a viagem pelo cenário e pela ação, acompanhando sempre
tudo a um ritmo constante.
Em relação à captação do som, inicialmente foram feitos testes de som
com microfones colocados estrategicamente no cenário e com uma perche, mas como os
ensaios não foram bem sucedidos foi feito um teste com 2 micros acoplados na câmara
para fazer o par estéreo e termos alguma amplitude sonora os quais foram bem
sucedidos e serviram depois para gravar toda a ação.
Uma vantagem em relação a isso é o facto de por vezes sentirmos uma
certa distância em relação à voz das personagens com a câmara, o que nos faz um efeito
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Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
mais natural de distância ou proximidade consoante a imagem que estamos a ver, para
ser um pouco mais coerente e menos artificial com a realidade.
Em relação á edição, produção e masterização final de toda a sonoplastia
do filme, foi usado o programa Digital Performer.
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Figura 25 – visualização da área de trabalho do programa Digital Performer
Trabalho de projeto '168' de Mauro Moura
Sinopse
Tiago é um rapaz que vive aparentemente normal … aparentemente … normal.
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168
1. Segunda-feira
Plano 1.1 – PG corrido de Tiago a entrar no quarto com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.Plano 1.2 – PA corrido de Tiago a entrar no quarto com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos)
Tiago chega a casa, acende a luz do quarto, dirige-se para a mesa que fica a meio da sala e pousa a pasta que trás consigo. Depois pousa o casaco e pendura-o nas costas de uma cadeira com bastante perfeição. Descalça-se arrumando os sapatos e calça uns chinelos.
Plano 1.3 – PP de Tiago a descalçar os sapatos e calçar os chinelos
Liga a televisão, faz um zapping pelos canais e instala-se confortavelmente no sofá.
Plano 1.4 – PA de Tiago mas visto através da tv (gravar um take corrido visto através desta perspectiva)
Nisto levanta-se e sai pela porta por onde entrou e volta a entrar com uma sandes com óptimo aspecto e um copo de sumo num tabuleiro.
Pousa o tabuleiro e volta atrás pra ir buscar 2 guardanapos, um pra se limpar e outro pra segurar na sandes.
Senta-se em frente á televisão e ali fica a comer …
Plano 1.5 – Master shot de toda a acção visto através da câmara de segurança
2. Terça-feira
Plano 2.1 – PG corrido de Tiago a entrar no quarto com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.
Plano 2.2 – PA corrido de Tiago a entrar no quarto com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos)
Tiago vem da casa de banho (porta de entrada), a arranjar as calças e vai mudar de roupa, vestindo uma roupa mais confortável.
Plano 2.3 – PP de Tiago a apertar as calças.
Plano 2.4 – PP de Tiago a apetoar o fecho do casaco. Tiago depois de vestir o fato de treino, vai um pouco para o computador, agarra nos alteres e faz um pouco de exercício, folheia uma revista, senta-se na cama a mexer no telemóvel.
Plano 2.5 – PP de Tiago no computador, visto do computador
Plano 2.6 – PA de Tiago no computador mas visto lateralmente
Plano 2.7 – PP de Tiago a teclar
Plano 2.8 – PP de Tiago a agarrar nos alteres
Plano 2.9 – PP de Tiago a fazer algum exercício, fixando a imagem num alter e esperando que o mesmo execute o movimento.
Plano 2.10 – PP de Tiago de frente a fazer exercício
Plano 2.11 – PA de Tiago a folhear a revista, visto lateralmente
Plano 2.12 – PP de Tiago a folhear a revista, visto da revista
Plano 2.13 – PA de Tiago sentado na cama com o telemóvel, visto lateralmente
Tiago dirige-se para o sofá e agarra no comando da televisão e começa a fazer zapping
Plano 2.14 – PP da cara de Tiago
Plano 2.15 – PA de Tiago no sofá
Nisto Tiago começa a fazer zapping pelos mesmos 2 canais ininterruptamente, até parar num deles e começar a fazer caretas … até que pára imóvel e mudo.
Plano 2.16 – PA de Tiago a fazer zapping pelos mesmos 2 canais
Plano 2.17 – PP de Tiago a fazer caretas
Plano 2.18 – PA de Tiago imóvel
Plano 2.19 – PP de Tiago imóvel
Após um grande momento de imobilidade, pena num copo que tem a seu lado bebe o que está no seu interior, atira-o á parede, levanta-se e sai porta fora.
Plano 2.20 – PP do copo a ser levantado
Plano 2.21 – PP de Tiago a beber o copo
Plano 2.22 – PA de Tiago a mandar o copo á parede e a levantar-se
3. Quarta-feira
Tiago está imóvel e em silêncio sentado na cama virado pro móvel branco. A cama está desfeita. A televisão desligada.
Plano 3.1 – PG corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.
Plano 3.2 – PA corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos)
Plano 3.3 – PA de Tiago sentado na cama.
Subitamente, levanta-se e grita:
Não … não … nãaaaao!! (este não final até ficar quase sem fôlego)
Não quero saber do que aqueles filhos da puta me possam fazer …
Plano 3.4 – PP de Tiago visto lateralmente de Tiago deitado na cama
Tiago deita-se na cama de cabeça pra baixo com o corpo esticado e grita com a voz abafada pela cama:
Ninguém me conhece, ninguém sabe do que é que sou capaz …
Tiago estica-se ainda mais com os braços lateralmente
Eles escusam de me vir buscar que eu dou cabo de tudo …(respiração ofegante)
Nisto Tiago começa a contorcer-se e repousa numa posição nada confortável
Plano 3.5 – PP da cara de Tiago visto lateralmente
Plano 3.6 – PP do corpo de Tiago com Traveling ao contorcer-se
De repente Tiago levanta-se e senta-se na cama.
Plano 3.7 – GP da cara de Tiago
Nisto diz:
Tou cheio de fome … vou comer qualquer coisa!!!
Levanta-se calmamente e ajeita maneira a cama. Veste-se dando a entender que vai sair de casa, nisto acende todas as luzes, a televisão e tudo, sai e fecha a porta.
4. Quinta-feira
Plano 4.1 – PG corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.
Plano 4.2 – PA corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos)
Tiago entra em casa a fugir, bate com a porta e vai direito ao espelho que tem em frente.
Plano 4.3 – GP da cara e dos olhos de Tiago frontalmente.
Chega ao espelho e permanece imóvel durante algum tempo...
Plano 4.4 – PP visto de lado da cara de Tiago
Plano 4.5 – PP visto do outro lado da cara de Tiago
Plano 4.6 – GP do nariz de Tiago a respirar
Nisto Tiago grita até não ter fôlego
AHHHHHHHhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!
Plano 4.7 – GP da boca de Tiago a gritar
Vai até ao móvel branco, pega numa jara e atira-a contra a parede e enfia-se na cama todo enrolado e ali fica.
Plano 4.8 – GP da jarra a partir na parede
Plano 4.9 – PP da cara de Tiago na cama
5. Sexta-feira
Plano 5.1 – PG corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.
Plano 5.2 – PA corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos)
Tiago encontra-se a andar de um lado pro outro no quarto descalço.Está muito exaltado.
Nisto veste uma peça de roupa … despe-a.
Anda a falar sozinho como se falasse pra alguém.
'Amanhã vamos lá ver o que o Silva apanhou … aquele gajo anda sempre metido em merdas … e depois é a mim que eles vêm fuder os
cornos … amanhã vamos lá … ai vamos vamos … e tu deixa-te de merdas que já sei como é …
coquinhas de merda!!! (apontando na direcção do candeeiro)
Plano 5.3 – PP de lado de Tiago a falar
Nisto calça um pé e não o outro desloca-se para o espelho e pára uns momentos em frente ao mesmo.
Plano 5.4 – PA de Tiago a calçar-se
Nisto afirma com a cabeça para cima e para baixo como que a responder a algo vindo do espelho e acalma um pouco.
Após isto dirige-se para o computador, saindo da imagem e aparece como que a inspeccionar o espelho e após parar em frente ao mesmo, vemos a sua imagem espelhada neste e de repente ele muda a acção e no espelho ele continua a inspeccionar o espelho.Feito isto sai pela porta sem fechar a porta.
Passam uns minutos e entra acompanhado por uma rapariga. Ela aparentemente trata-o com carinho.
Plano 5.5 – PP cara de Tiago com o fundo desfocado
Tiago entra e vai até ao espelho e despreza-a.
Ela entra em casa e dirige-se para junto de Tiago tentando fazer-lhe um afecto ao que ele a despreza sem reagir.
Plano 5.6 – PA dela de costas fazendo afecto a Tiago
Nisto ela dirige-se para a cama, com uma expressão bastante triste e deita-se nela olhando para o tecto.
Plano 5.7 – Plano Picado dela vista na cama a deitar-se
Nisto levanta-se e dirige-se para junto de Tiago e tira a roupa que trás consigo tentando chamar a atenção do mesmo.
Plano 5.8 – PP da cara dela
Tiago não reage a ela e responde para o espelho dizendo:
Eu sabia que tu não querias lá ir mas eu não quero saber e vou lá na mesma.
Plano 5.9 – PP da cara de Tiago com ela em fundo desfocada
Ela reage com estranheza desconhendo o porque da resposta olhando em volta e repara que não há mesmo mais ninguém á sua volta e acena com a cabeça dizendo que não.
Tiago continua agora a falar em voz baixa não dizendo coisas com nexo para o espelho.
Ela dirige-se para a cama, tira uma t-shirt do chão e veste a t-shirt e deita-se de lado na cama
Plano 5.10 – Plano de costas dela a vestir a t-shirt
Plano 5.11 – GP da cara dela na cama deitada com Tiago em fundo desfocado.
6. Sábado
Plano 6.1 – PG corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.
Plano 6.2 – PA corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos)
Tiago entra em casa, aparentemente com uma roupa nova, nada amarrotada, vem tranquilo, apesar do caos que o quarto ainda apresenta.
Começa a arrumar algumas coisas mal entra em casa, mas poucas coisas.
Plano 6.3 - Amorcée de Tiago a mexer nos objectos da mesa
Tiago observa alguns objectos que tem na mesa, e escolhe um livro, sentando-se a ler o mesmo no sofá.
Plano 6.4 – GP dos olhos de Tiago lendo e depois olhando em frente
Tiago começa a ler e após algum tempo de começar a ler começa a ter algumas paragens na leitura olhando em frente primeiro e começando a olhar em seu redor como se procurasse alguém no quarto
Plano 6.5 – Pan pelo fundo do quarto para um lado e depois para o outro de Tiago a olhar pelo sofá
Plano 6.6 – PP de Tiago a ler no sofá com o espelho em fundo com foca desfoca dos 2
7. Domingo
Plano 7.1 – PG corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago pelo quarto sempre à mesma distância.
Plano 7.2 – PA corrido de Tiago com traveling acompanhando toda a acção de Tiago no quarto a uma distância bastante aproximada dele.(na edição vai-se intercalando entre estes 2 planos) Tiago encontra-se dentro da cama que está desfeita e está como que a lutar com ele mesmo e a roupa, gritando como se outra pessoa estivesse com ele na luta. A roupa que tem é praticamente a mesma dos dias de maior caos
'Vou-te fuder a tromba toda … vais deixar de andar atrás de mim … ninguém me vai tirar isto de dentro de mim … nuuuuncaaaaaaa!!!'
Plano 7.3 – PP da secretária com tudo a ir pelo ar
Plano 7.4 – PP dos tapetes a irem pelo ar
Plano 7.5 – PP do sofa a ir contra a biciclete
Nisto levanta-se e começa a partir tudo e derrubar tudo para o chão, parando algumas vezes para se coçar e também tentar tirar as roupas que trás consigo.
Atira a jarra da secretária contra a parede que tem os computadores
Nisto dirige-se para a porta que está ao lado do espelho e grita:
'É por aqui … é por aqui que eles vêm …
é por aqui que eles entraram quando me meteram aquela merda … mas agora ninguém me vai tirar nada.'
Nisto agarra no jarro de vidro com molas e atira em direcção á porta para o chão.
Plano 7.5 – PP da jarra a partir
Por momentos pára em frente ao espelho com a respiração super descontrolada e começa lentamente como que a tirar teias de aranha que supostamente sente em cima de si. Grita e dirige-se para a parede dos jornais e começa a rasgar a mesma até que fica assustado com o que vê.
Afasta-se da mesma e pega na cama que atira ao ar e fica debaixo dela desmaiado.
Passados alguns minutos espreita uma pessoa á porta e entra um GNR na casa, que olha em redor de tudo e chama pelo radio
Central … preciso de transporte para um doente mas este é do São Mateus
Plano 7.6 – PP do Gnr a fazer o telefone
Plano 7.7 – PP dos maqueiros a entrar em casa
Passado um bocado entra um médico que inspecciona o local e manda entrar os maqueiros que o carregam para a maca.
O médico tira algumas fotos e apontamentos e nisto entra na porta que está no quarto e dirige-se para o quarto que tem a câmara de segurança vira a câmara na sua direcção e diz
Paciente Tiago Ferreira Martins nº3457
21 de Outubro de 2012 16h e 58h
Arquivo do doutor Francisco Menezes
E desliga a câmara.