Trabalho Direito Comparado

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANSETOR DE CINCIAS JURDICAS

    METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTFICO

    RODRIGO MACHADO

    RAPHAEL GUSTAVO BARBOSA

    TRIBUNAL DO JRI E CIVIL LAW NA CINCIA DODIREITO COMPARADO: BRASIL X ESTADOS UNIDOSDA AMRICA

    Curitiba, 28 de Setembro de 2012.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANSETOR DE CINCIAS JURDICAS

    METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTFICO

    RODRIGO MACHADO

    RAPHAEL GUSTAVO BARBOSA

    TRIBUNAL DO JRI E CIVIL LAW NA CINCIA DODIREITO COMPARADO: BRASIL X ESTADOS UNIDOS

    DA AMRICA

    Trabalho Acadmicoapresentado ao ProfessorDoutor Ilton Norberto RoblFilho, na disciplina deMetodologia do Trabalhocientfico, Departamento deCincias Jurdicas, daUniversidade Federal doParan.

    Curitiba, 28 de Setembro de 2012.

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    O JRI. Direo: Gary Fleder. Produo: Gary Fleder, Christopher Mankiewicz e ArnonMilchan. Roteiro: Brian Koppelman, David Levien, Rick Cleveland e Matthew Chapman,baseado em livro de John Grisham. Intrpretes: Dustin Hoffman, Gene Hackman, JohnCusack, Rachel Weisz, Jennifer Beals e outros. EUA: 20th Century Fox Film Corporation

    UIP, 2003. 1 CD (127 min), DVD, son, color.

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    INTRODUO

    Este trabalho tem como finalidade, dissertar sobre as semelhanas e diferenas

    do Tribunal do Jri dos Estados Unidos da Amrica e do Brasil, no se atendo a

    minuciosidades, pois este no o propsito, traz um olhar mais de prxis, com uma

    linguagem didtica e objetiva, sem floreios e aluses filosficas, abordando o tema sob

    uma analise da cincia do Direito Comparado.

    Quando a palavra crime ou mesmo pena recitada, no se pode esquivar o

    Tribunal do Jri, este tribunal torna-se um instrumento de grande importncia para

    julgar certos delitos, para ento promover a justia de maneira igual.

    A constituio de 1988 em seu artigo 5 inciso XXXVIII reconhece o Tribunal do

    Jri, garantido e aferindo o aval da constitucionalidade para que este, por sua vez,

    venha a corroborar com as decises, buscando consigo uma maior aproximidade com

    a justia, e suas decises tragam consigo, prerrogativas muito positivas.

    A histria do Jri um tanto longa, trilharemos em linhas gerais, comeou na

    Inglaterra, por volta do de 1215, se opondo aos julgamentos individuais, alegando que

    os mesmos, eram julgados por homens diferentes e que no expressavam em sua

    magnitude, a vontade geral e o pensamento da comunidade.

    O jri foi instaurado no Brasil em 18 de junho de 1822, sendo incumbidos a ele

    os crimes de imprensa, contudo, na prpria constituio de 1824 o jri aparece com

    atribuies para julgar todos os crimes, parecendo-se com o Tribunal do Jri dos EUA,

    como veremos no decorrer deste trabalho, mais tarde que suas funes foram

    reduzidas as causas criminais.

    A instituio do Jri uma prerrogativa do julgamento pelos seus pares,

    constituindo uma forma de garantir os direitos fundamentais os quais so assegurados

    pela nossa constituio. Sendo assim, consideramos que a diferena entre os doistribunais seja de relativa importncia, uma vez que as constituies foram embasadas

    na constituio americana, que trazia consigo uma forte tendncia francesa,

    principalmente no ps-revoluo francesa.

    um tema relevante, uma vez que o sistema norte americano esta sempre em

    pauta seja pela mdia ou pelo cinema, e tambm pelo aspecto aparentemente estvel

    da Common Law.

    Portanto conceituaremos Jri, na doutrina de Alexandre Moraes:

    O Jri um tribunal popular, de essncia eobrigatoriedade constitucional, regulamentado

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    na forma da legislao ordinria, e, atualmente,

    composto por um Juiz de Direito, que o preside,

    e por 21 jurados, que sero sorteados entre cidados

    que constem do alistamento eleitoral do Municpio,

    formando o Conselho de Sentena com sete deles.

    de suma importncia, na atualidade, a abordagem sobre a instituio do

    Tribunal do Jri, devido a crescente globalizao que torna necessria uma maior

    compreenso, obviamente sobre a analise tcnica, a cincia do Direito comparado, a

    histria, e o estado atual da instituio, nos Estados Unidos e no Brasil, que ora ser

    debatido.

    O mtodo que julgo ser mais til, para analisarmos a legitimidade, legalidade e

    sistematizao do Tribunal do Jri norte-americano em comparao com o brasileiro,

    o mtodo dedutivo, sem a pretenso de centrar nas incontveis diferenas existentenos institutos em questo, mas buscar explorar a problemtica proposta, neste texto,

    verificando a existncia de diferenas e similaridades nos dois sistemas.

    Porm, a Instituio do Jri a nica a permitir que qualquer cidado que

    preencha os requisitos, que sero mencionados abaixo, participe de um dos assuntos

    mais importantes dos Poderes da Repblica, qual seja a preservao da dignidade do

    ser humano ao se fazer justia diante da ocorrncia de um crime tentado ou

    consumado.

    No primeiro captulo trataremos como ocorre e como composto o Tribunal do

    Jri no Brasil, analisando axiologicamente suas particularidades, generalidades, e porltimo, sem menos importncia, a questo do alistamento dos jurados. J no capitulo

    segundo abordaremos a legislao norte americana e tambm a sistematizao que

    legitima o Tribunal do Jri daquele pas.

    O terceiro e ltimo captulo desta abordagem, traz algumas consideraes

    finais, ressaltando os aspectos antagnicos, dos institutos em questo, tecendo uma

    crtica nada velada, das obras que sero analisadas no decorrer da dissertao.

    1 TRIBUNAL DO JRI BRASILEIRO

    1.1. Caractersticas Gerais

    Jri o tribunal em que cidados, previamente alistados, sorteados e afinal

    escolhidos, em s conscincia e sob juramento de ser o mais justo possvel, renem-se

    de fato, para decidirem se o ru traz consigo culpabilidade ou no nas infraes penais

    a ele imputadas.

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    A composio do Tribunal do Jri assim estabelecida: um juiz de Direito, que

    o seu presidente, e de vinte e um jurados, os quais se sortearo dentre os alistado e

    sete dos quais constituiro o conselho de sentena em cada sesso do julgamento.

    Quando intimado e convocado para compor as cadeiras dos jurados o cidado

    dever-se- estar pronto para assim comp-la, caso vier recusar o servio do jri,invocando profisso de f religiosa e/ou convices poltico-filosficas, perder os

    direitos polticos, entretanto uma vez pronto e disposto para realizar o feito,

    acarretar uma srie de regalias para aqueles que assim necessitarem, como por

    exemplo, ficar estabelecido e presumido a idoneidade moral e tambm em caso de

    crime comum, at o julgamento definitivo do mesmo, ser assegurada priso especial

    para o mesmo.

    Formado o Conselho de Sentena, o tribunal do Jri identificado como um

    colegiado compreendendo os jurados integrantes daquele Conselho e o Juiz

    Presidente, que figuram como sujeitos processuais principais da relao jurdico-processual que em plenrio desenvolviam. Dissolvido o Conselho de Sentena,

    reassume, isoladamente, o Juiz singular, a posio de sujeito processual.

    Analisaremos os papis de cada grupo e/ou indivduos que participam do

    julgamento, e como pessoas comuns, at mesmo leigas em relao a processo penal,

    decidem o destino do acusado:

    Promotor: Seu papel defender os interesses da sociedade. Se ele perceber que o ru

    inocente ou que merece tratamento diferenciado em virtude das circunstncias do

    crime deve pedir a sua absolvio ou a atenuante aplicvel provvel pena. A famlia

    da vtima pode contratar um assistente que dividir o tempo da acusao com opromotor.

    Juiz-Presidente: Autoridade mxima do tribunal faz valer a deciso dos jurados, mas

    no responsvel por ela nem pode induzi-la. Ele conduz o julgamento e resolve as

    questes de Direito, como definir a pena no caso de condenao. O escrivo que

    registra tudo o que dito no julgamento fica ao seu lado.

    Espectadores salvo em casos de grande repercusso, qualquer pessoa pode

    assistir ao julgamento. Em geral, o auditrio ocupado por parentes do ru e da

    vtima, jornalistas e estudantes de Direito.

    Testemunhas: Defesa e acusao podem chamar at cinco testemunhas cada. O juiz

    tambm pode requerer a presena de algum. Muitas vezes, as testemunhas de

    defesa no viram o que aconteceu (vo falar do carter do ru ou apresentar um libi),

    enquanto as de acusao estavam no local do crime, considerando isso um

    pressuposto.

    Ru: Quando est preso, o ru fica algemado e acompanhado por policias militares.

    Apesar de ser a figura central do julgamento (afinal, seu destino que est sendo

    decidido), sua participao pequena dentro do tribunal.

    Conselho de sentena: Dos 21 jurados intimados, s sete participam do julgamento,

    como j foi dissertado, formando o conselho de sentena. Eles so sorteados e podem

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    ser recusados pelas partes. So permitidas at trs recusas sem motivo (por exemplo,

    o promotor pode preferir no ter pessoas com forte crena religiosa no conselho).

    Nesse caso, novos nomes sero sorteados.

    Sala secreta: Para cada quesito a ser votado, os jurados recebem uma cdula com a

    palavra sim e outra no, as decises so tomadas por maioria simples de votos(confrontando com os EUA, onde a deciso deve ser unnime) e a votao sigilosa.Se

    um julgamento demorar dois dias ou mais, os jurados se hospedam em alojamentos e

    so acompanhados por oficiais de justia, para garantir o sigilo entre si.

    O Perfil do jurado: Deve ser maior de 21 anos, alfabetizado e no ter

    antecedentes criminais.

    Um julgamento pode durar de algumas horas a alguns dias dependendo do

    caso em questo. Elencamos as dez etapas do processo:

    1 - escolhido o conselho de sentena. Defesa e promotoria podem dispensar at trs

    jurados sorteados. Sete participaro do julgamento;

    2 - Juiz, promotor, defesa e jurados formulam, nessa ordem, perguntas para o ru, que

    tem o direito de respond-las ou no;

    3 - O juiz apresenta aos jurados o processo, expondo os fatos, as provas existentes e as

    concluses da promotoria e da defesa;

    4 - So ouvidas as testemunhas. Primeiro as indicadas pelo juiz (quando h), seguidas

    pelas de acusao e depois pelas de defesa;

    5 - Comeam os debates entre a acusao e a defesa. O primeiro a falar o promotor,que tem duas horas para a acusao;

    6 - O advogado ou defensor pblico, no caso de pessoas que no podem pagar

    tambm tem duas horas para a defesa;

    7 - O promotor pode pedir uma rplica. Cabe ao juiz conced-la ou no. Tambm pode

    haver uma trplica do advogado, se necessrio;

    8 - O juiz formula os quesitos (perguntas) que sero votados pelo conselho de

    sentena e os l, em plenrio, para os jurados;

    9 - Um oficial de justia recolhe as cdulas de votao dos quesitos. Os votos so

    contabilizados pelo juiz;

    10 - Voltando ao plenrio, o juiz pede que todos se levantem e d o veredicto em

    pblico. Estipula a pena e encerra o julgamento.

    1.2 Caractersticas marcantes do tribunal do Jri Brasileiro

    No Brasil, o tribunal do Jri se apresenta sob divises dos poderes, ou seja,

    cada integrante do mesmo traz consigo um fim, cabe a um juiz togado lavrar a

    sentena, e aos jurados julga-la, trazendo consigo o poder de decidir o fato ali narrado,

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    determinando ou cerceando a liberdade do acusado, nesta diviso que o fato

    especfico que qualifica o Jri, o de tutelar o direito de liberdade, se apresenta como

    causa - finalidade principal.

    Soberania, talvez seja essa a palavra que possa ser definido o Jri Popular, pois

    este uma vez decidido no deve ser sobreposta por qualquer outro rgo jurisdicional,e tampouco esta deciso dos jurados, deve ser substituda por outra sentena sem

    esta base de soberania.

    H uma discusso notadamente em nossa doutrina, usando como pretexto o

    artigo 593 do Cdigo de Processo Penal, que a instncia superior, baseando se em

    deciso contraria as provas contidas nos autos, determine um novo julgamento.

    Entretanto as constituies vm mantendo este instituto - O Tribunal do Jri-

    sendo que a constituio prev no captulo dos direitos e garantias fundamentais,

    artigo 5 a soberania das decises proferidas pelo tribunal do Jri, esta mesma

    corrente doutrinaria entende que o artigo deve ser revogado quando o ru forabsolvido, trazendo consigo uma forte contradio, mas atualmente as decises vm

    sendo mantidas, considerando os tribunais leigos soberanos.

    Diante do exposto, e dos traos que marcam nosso tribunal, considerando

    apenas a titulo de curiosidade, no modelo brasileiro, a absolvio ou condenao do

    acusado, representa acima de tudo, justia. Sem grandes conjecturas e com grande

    veemncia, sete cidados, com conhecimentos naturais e, no obstante sujeitos a

    erros, decidem se o acusado esta devidamente com os mritos, necessrios a voltar

    para a sociedade, livre como outrora.

    2 TRIBUNAL DO JRI NORTE-AMERICANO

    A instituio do Jri dos EUA evoluiu, historicamente, de forma coerente com

    as ideias e os princpios da common law, que uma tradio jurdica, que definiu as

    condies e o contexto adequados para o aparente sucesso do jri.

    O realismo sociolgico, nos Estados Unidos, definiu o estatuto terico que

    tornou aceitvel o sistema da common law, com o seu governo pelos juzes e atravs

    do povo, em que direito e sociedade esto cotidianamente renovando sua seiva e

    alimentando-se mutuamente. J as caractersticas da tradio poltica do povo

    americano possibilitaram o surgimento de um esprito cvico e de uma conscincia

    jurdica comum que tornam materialmente possvel de ser executado o jri como

    regra e no a exceo (BARBOSA, 1950, p.28-35).

    2.1 Caractersticas Gerais do Jri Americano

    O engajamento dos cidados americanos atravs do envolvimento na

    administrao pblica e consequente receptividade dos rgos do Estado s suas

    solicitaes e reais necessidades so claramente evidenciados na justia dos Estados

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    Unidos da Amrica EUA e, principalmente, na instituio Tribunal do jri. O mximo

    freio possvel a um eventual despotismo judicial o significativo contrapeso do corpo

    de jurados selecionados ao acaso, a partir do conjunto de cidados, dentre os

    minimamente aptos cvica e intelectualmente, cuja deciso soberana e impe-se

    exatamente na esfera das sanes penais.Segundo a democracia constitucional americana somente a instituio do jri

    possui legitimidade suficiente para aplicar sanes to severas. O jri coloca face a

    face s partes que de forma concreta e democrtica aderiram limitao contratual de

    sua liberdade, inclusive deliberando sobre a extenso dessa limitao, e exercendo

    papel fiscalizador de sua efetividade.

    O julgamento pelo Tribunal do jri considerado uma das mais importantes

    salvaguardas constitucionais, tendo sido consagrado na Sexta e Stima Emendas

    Constitucionais de 1791, na esfera criminal e cvel, respectivamente. Entende-se de

    fundamental importncia a limitao constitucional do direito estatal de restringir ouprivar a liberdade dos cidados e punir os ilcitos. No coincidentemente 12 dos 23

    direitos autnomos privilegiados nas oito primeiras emendas constituio dos

    Estados Unidos tratam da justia criminal (ISRAEL & LA FAVE, 1988, p. 3), onde os bens

    jurdicos so, indiscutivelmente, mais valiosos. Isto mostra que a tradio poltica do

    cidado americano possibilitou o surgimento de uma conscincia jurdica comum que

    torna necessria a instituio do jri para que a real justia seja privilegiada.

    A participao e conscientizao do cidado nas atividades dos jris norteamericanos so extremamente elevadas quando comparadas a dos outros pases que

    consagraram este instituto. O jri se disfara com a maioria das caractersticas queseus defensores lhe atribuem, porm, nem sempre exerce sua funo de formarcidados respeitadores da lei.

    O sistema americano de justia , essencialmente, um processo em que h um

    confronto. Como explica Sroussi (2001, p. 98-99), o sistema se baseia na crena de

    que a verdade tem maior probabilidade de aparecer quando os dois lados a defesa

    e a acusao podem apresentar a sua causa de forma veemente a um jri, em

    conformidade com normas imparciais que regem as provas, perante um juiz isento. O

    carter meramente diretivo da atuao do juiz no processo pelo jri nos EUA, um

    trao caracterstico daquele sistema, j o advogado do jri um cone de massa, umheri da Amrica.

    Cabe s partes produzir as provas, convocar e preparar as testemunhas,

    contratar os peritos (quando necessrio) e arrecadar as provas que lhes possam ser

    favorveis.

    Durante a sesso do jri cabe ao juiz zelar pela fairness (equidade) dos

    procedimentos, aplicando um conjunto de normas costumeiras e legais que rege a

    admissibilidade e relevncia das provas oferecidas apreciao do tribunal.

    Segundo o princpio da apreciao compacta, os procedimentos devem ser fluentes,

    sendo resolvidas de plano pelo juiz eventuais controvrsias de direito, porm, no h

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    oposio de que uma questo de direito seja esgotavelmente discutida, visto que a m

    aplicao da law of evidence pode ensejar uma nulidade.

    A principal garantia dos americanos a igualdade de condies no esforo pela

    descoberta da verdade na busca da comprovao de sua inocncia ou incriminao de

    outrem.Outra caracterstica marcante do sistema americano a discricionariedade dos

    atos do Promotor de Justia. O promotor controla e supervisiona todo o inqurito,

    sendo o responsvel pela correo e efetividade da colheita de elementos probatrios.

    O Chefe da Promotoria , na maioria dos Estados, eleito pela comunidade da Comarca

    onde atua. Pode dispor de verbas significativas e de pessoal prprio de apoio que lhe

    dar suporte para realizar diligncias, sendo requerida autorizao judicial nos casos

    em que esto envolvidas regras de direitos humanos ou garantias constitucionais.

    Tem, ainda, a opo de determinar o arquivamento de inquritos; quando d curso

    ao, submete a denncia, em alguns estados, ao Grand Jury. Geralmente, ele oferecea denncia diretamente ao Juiz-Presidente do Petty(ou Petit)Jury.

    a que tem lugar a plea bargaining, oportunidade em que e a acusao pode

    pleitear uma plea of guiltyde iniciativa do acusado em troca de uma capitulao do

    crime mais branda.

    O Sistema Judicial Americano parece muito complexo num primeiro momento,

    todavia, devido a alguns institutos tpicos dos Estados Unidos o nmero de ofensas

    criminais que realmente vo a julgamento pelo Tribunal do jri infimamente menor

    que o nmero de casos que chegam ao conhecimento da Justia. Isto se d atravs da

    renncia do acusado ao julgamento pelo jri, optando, assim, pelo julgamento feito,exclusivamente, por um juiz, havendo, ainda, a possibilidade de negociao para que a

    denncia seja mais branda, mediante a admisso de sua culpa.

    2.2 A Seleo dos Jurados

    Teoricamente, nenhum cidado, nos Estados Unidos, vai para a cadeia porque

    o governo quer. Essa deciso tomada por um jri formado por pessoas da

    comunidade seus concidados que tomam uma deciso sobre o caso, tendo

    como base normas imparciais sobre provas que tem como objetivo, na medida do

    possvel, assegurar que somente os culpados sejam condenados e punidos, conforme

    previsto em sua Constituio e conforme seus clebres romances judiciais e inmeras

    produes Hollywoodianas tentam impor, de forma velada, no consciente e, at

    mesmo, inconsciente do seu pblico alvo.

    A seleo de um jri de pessoas comuns , a rigor, um processo aleatrio. Os

    escriturrios dos sistemas de tribunais norte-americanos compilam nomes a partir de

    uma srie de listas, incluindo, mas no se limitando, listas de ttulos de eleitores, ao

    licenciamento de veculos, s carteiras de motoristas entre outras (MARQUES, 2002, p.

    191-196).

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    Segundo a legislao norte-americana, qualquer pessoa que tenha pelo menos

    18 anos de idade, atendendo aos requisitos genricos concernentes ao gozo dos

    direitos de cidadania, alfabetizao e insero em uma certa faixa de idade e no

    tenha sido condenado por nenhum crime pode ser membro de um jri, e deve se

    apresentar no frum, em um determinado dia, como parte de umpool(associao) dejurados. Alguns estados, explica Marques, exigem que as pessoas que faam parte do

    poolretornem todos os dias por um certo perodo de tempo; outros usam o sistema de

    "um dia ou um julgamento", aps o qual o cidado fica isento da obrigao de prestar

    servios como jurado. Em qualquer um dos casos, geralmente passam-se anos at que

    uma pessoa seja procurada.

    A recusa de um jurado em potencial passa pelo ritual de o magistrado, em

    concurso com as partes, efetuar a inquisio buscando os moralmente idneos para a

    funo; o momento da identificao dos candidatos tendenciosos, incapazes de

    abstrair-se de seus preconceitos ou comprometidos com princpios incompatveis coma funo de jurado (SROUSSI, 2001, p. 154-156). Defesa e acusao tambm tm o

    direito de exercer individualmente o histrico e retratado direito s recusas

    peremptrias (absolute denial). Os advogados de ambos os lados tm alguns

    procedimentos para dispensar jurados em potencial sem ter que explicar o motivo

    (SROUSSI, 2001, p. 154- 156). Tal acontecimento est retratado na obra literria e

    cinematogrfica.

    O Jri(GRISHAM, 1998) com todas suas particularidades. Tal recusa do jurado por uma

    ou ambas as partes vem diminuindo consideravelmente nos Estados Unidos, devido ao

    novo ideal de composio do Tribunal do jri, selecionando pessoas que esto aptas aserem imparciais, consagrando, assim, o princpio da representatividade. No final do

    processo, eles selecionam, em comum acordo, 12 jurados homens e mulheres

    para participar de um julgamento, e selecionam, tambm, trs substitutos que so

    convocados se um dos 12 tiver que se desligar do grupo no decorrer do julgamento.

    Nos casos civis, apenas seis jurados so necessrios. S neste processo de

    seleo, nos casos em que a pena de morte est em questo, pode-se levar em torno

    de dois meses para se chegar ao conselho de sentena.

    As deliberaes podem levar horas ou, at mesmo, dias para serem concludas,

    porque as decises tm que ser unnimes (SROUSSI, 2001, p. 154). O jri de O. James

    Simpson ficou reunido por seis meses e todos os lances do caso foram acompanhados

    pela populao. O julgamento pode ser encerrado antecipadamente devido a defeito

    jurdico insanvel, se o jri no chegar a um veredicto.

    Em um caso criminal, se o ru for considerado culpado, a sentena geralmente

    encaminhada pelo juiz, em uma data posterior. E seja o ru considerado culpado ou

    inocente, os jurados so dispensados por ocasio do trmino do julgamento, com os

    agradecimentos do tribunal, por terem cumprido o seu dever cvico (SROUSSI, 2001,

    p. 154-156).

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    Os protagonistas da maioria das obras que abordam a temtica do Tribunal do

    Jri Americano, como os baseados em obras de Grisham (por exemplo, Susan

    Sarandon em O Cliente, 1994), esto sempre imersos em uma aura de pureza e

    messianismo, funcionando como inocentes-teis que so, a princpio, manipulados poruma estrutura corrompida, mas que, com o decorrer da narrativa, conseguem vencer e

    derrubar a hipocrisia na qual se veem envoltos, reestabelecendo ao final a tica e a

    dignidade.

    Os momentos iniciais de O Jri(GRISHAM, 1998) sugerem que, no caso, est-se

    diante de uma situao no mnimo um pouco diversa, uma vez que os protagonista

    aparentam ser to manipuladores e antiticos quanto o vilo da vez que no poupa

    esforos e tecnologia para direcionar jris a sentenciar veredictos favorveis s

    grandes corporaes que o empregam. Entretanto, a obra no atingiu um resultado

    final diferente da burocrtica narrativa que atinge todas a maioria das obras literriase cinematogrficas americanas.

    O Jricomea com a morte de um corretor que se encontrava junto com outras

    pessoas em seu ambiente de trabalho. Ele assassinado por um ex-funcionrio

    descontrolado, que se suicida aps o massacre. Na noite anterior, a vtima

    comemorara o aniversrio de seu filho pequeno. Na manh do crime, mostra-se mais

    compreensivo, calmo e otimista que qualquer outro parceiro de trabalho. Quando

    comeam os sons da metralhadora, ele se preocupa com a segurana de sua secretria

    e, inclusive, se arrisca diante do perigo. Em suma, morre injustamente um funcionrio

    modelo, herico at, e excelente pai de famlia. Quando sua viva tenta processar ofabricante de armas, as filmagens do aniversrio do menino so usadas no tribunal.

    Cabe aqui uma pergunta: se a vtima fosse um pai escroto, profissional medocre,

    morto numa manh de pssimo humor, a sua causa seria menos digna, menos

    defensvel? Mal o filme comea e o seu "bom-mocismo" bvio prejudica o suposto

    vigor de seu objetivo principal: criticar a indstria blica norte-americana.

    Assim, j nos primeiros minutos ou pginas lidas no fica difcil de adivinhar que se

    seguir uma srie de lies moralistas e um ultra-americanismo dispensvel. As tramas

    intrincadas destas obras, na prtica, se configuram em armadilhas para o pblico que

    acaba por se prender s amarras de uma eterna luta do bem contra o mal onde, ao

    final, a justia americana prevalecer.

    Em seu primeiro filme, Doze Homens e Uma Sentena (1957), Sidney Lumet

    mostra como a fora da argumentao de um s homem pode dirigir e alterar a

    opinio de todo um jri. A cena inicial focaliza um Salo de Jri. Em julgamento, um

    jovem acusado do crime de parricdio. A Juza adverte os doze Jurados: - A lei exige

    deciso unnime. A condenao implicar pena de morte. No filme O Jri (FLEDER,

    2003) potencializa-se ao mximo esta manipulao, quando os protagonistas montam,

    cada um por seu lado, circos e artimanhas intrincadas para atingir os resultados que

    desejam.

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    Nas obras referidas, observa-se a pertinncia de algumas questes. A forma

    como Hollywood se apropria de forma oportunista de discusses e ondas

    contemporneas, por exemplo, a do combate indstria de armas de fogo. O filme de

    Fleder (2003) tem sua ao determinada por um processo contra uma fbrica de

    armas, movido por uma viva cujo marido fora assassinado por um ensandecido emseu local de trabalho, modificando o original de Grisham, onde a ao judicial era

    movida contra a indstria do tabaco. Outra questo seria a do fascnio do cinema

    americano pela tecnologia e manipulao: o filme, principalmente em seu tero inicial,

    acompanha a parafernlia e a estrutura montada pelo Defensor e companhia na

    seleo dos jurados, que parece sempre remeter construo de um filme e a todo

    um jogo publicitrio de seduo e direcionamento das platias.

    Por fim, as obras com enredo jurdico americano, revelam-se, em sua maioria,

    como mais uma artimanha estratgica que acaba por enganar o espectador que se

    traveste de uma imagem superficial de denncia para terminar por mais uma vezfortalecer a estrutura e o iderio americano. O que, muitas vezes, parece ser um

    questionamento ou protesto quanto corrupo e manipulao s quais estariam

    sujeitas o sistema judicirio americano e a instituio de tribunais de jri popular,

    configura-se, ao final, numa louvao ao jri como sendo um eterno bastio de

    confiabilidade e promotor de uma justia que resguarda os valores de tica e

    imparcialidade que os americanos sempre venderam e reforaram atravs de suas

    obras literrias e cinematogrficas e sintetizados quando Cusack afirma ao fim do

    julgamento que "Os jurados votaram com o corao".

    2. CONSIDERAES FINAIS

    Ao finalizar esse trabalho, chegamos a concluso que h muitas Diferenas entreo tribunal do jri americano e o brasileiro. Notamos que nos Estados Unidos, todos os

    crimes so de sua competncia, ou seja, diferentemente do Brasil que apenas oscrimes dolosos contra a vida, so atribudos ao Jri popular, nos EUA qualquer crimepoder-se- ser atribudo ao Jri popular.

    O interrogatrio do ru e a inquirio das testemunhas, nos Estados Unidos, soprocedidos diretamente pelas partes, e os jurados no respondem a quesitos comoocorre no Brasil, ou seja decidem ento somente se o ru ou no culpado pelo crime ele imputado.

    Outra possibilidade do ru americano, a de que se ele vier a renunciar o direitode ser julgado pelo jri, basta apenas antecipar-se o veredicto, vindo confessar suaculpabilidade, obviamente em audincia prvia, extingue a possibilidade de jri e

    ento somente nesses casos, que sero julgados apenas e pelo juiz.

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    Notamos tambm que, entre os jurados, diferentemente do Brasil, no hincomunicabilidade entre os jurados, a deciso no se admite por maioria, deve serunnime a deciso dos jurados, entretanto sabemos que no Brasil a maioria decide.

    Na velha Inglaterra, o rei Alfredo mandou enforcar o juiz Cadwine que imps a pena

    capital a um ru que os jurados haviam condenado por maioria de votos e no porunanimidade.

    Diferentemente dos tribunais populares norte-americanos, onde, em geral, sodoze os jurados e os julgamentos criminais so estabelecidos, em regra, porunanimidade, no Brasil os jris so compostos por sete cidados, que votam pormaioria simples.

    Incomunicveis, os jurados brasileiros, sorteados entre pessoas do povo detodas as classes sociais e profisses, devem votar de acordo com suas conscincias e aprova dos autos. Ouvem os jurados os argumentos do Ministrio Pblico, pela voz dopromotor de Justia, representando a sociedade, e os comparam s contra-alegaes

    da defesa, onde se postam os advogados dos rus. Seu veredicto reconhecido comosoberano, pelo artigo 5, inciso 38, da Constituio Federal, o que impede asubstituio do julgamento popular por decises de rgos judicirios de segundograu.

    No entanto, o preceito no se equipara regra do doubl jeopardydo direitodos EUA, que obsta mais de um julgamento pelo mrito, a fim de evitar decisescontraditrias. E mais ainda, no Brasil o Jri s tem competncia para julgar os crimesdolosos contra a vida, que so, grosso modo, os praticados voluntariamente. S lhecompete, pois, julgar o homicdio; o infanticdio; o induzimento, instigao ou auxlioao suicdio; e o aborto. Os outros crimes, ou seja, virtualmente todos os previstos nas

    leis penais, so da competncia do juiz singular. Aqui, os jurados no participam dainstruo do processo e no podem se comunicar. O ru no pode renunciar ao

    julgamento pelo Jri e no interrogado pelas partes. As testemunhas so inquiridasatravs do juiz.

    Os jurados respondem a quesitos relativos as teses apresentadas pela acusaoe pela defesa. O Jri, entre nos, s assiste aos debates, embora possa inquirir astestemunhas que eventualmente sejam convocadas.

    O Tribunal do Jri foi popularizado especialmente pelos filmes americanos,onde a dramaticidade do confronto entre teses de acusao e de defesa exploradapara caracterizar a difcil misso de avaliar as evidncias para se fazer Justia. A

    maioria das obras americanas, conhecidas como livros ou filmes de Tribunal,apresenta a discusso do caso no tribunal ao mesmo tempo em que h uma batalha deforas envolvendo a paixo pela justia, a ambio de se desviar dela e o interesse emtirar proveito dessa situao. Mas ao final de tudo, a Justia norte-americana sempreprevalecer. Em outras palavras, passam massantemente uma mensagem errnea desoberania da justia americana fazendo com que todos acreditem em suas liesmoralistas quando na verdade nos EUA acontecem diariamente chacinas, assim comono Brasil; presos so negligenciados, assim como no Brasil; Juzes so corrompidos,assim como no Brasil; testemunhas so subornadas, assim como no Brasil; Tribunais doJri so, praticamente, simulados, assim como no Brasil.

    Ao invs de transformarem suas obras ldicas em um verdadeiro bangbang,onde o bandido tenta eliminar o mocinho (no caso, a Justia Americana) por que no

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    as utilizam como numa verdadeira bandeira contra as injustias que ocorrem nasociedade? No filme O Jri(FLEDER, 2003) a denncia da insuficincia de controle dasempresas armamentistas na distribuio de armas aos civis, estimulando sutilmente asua venda a potenciais criminosos passou quase despercebida na trama. Por qu?Porque melhor investir no marketing de uma Justia forjada do que, muitas vezes,

    perder os patrocinadores de grandes obras literrias e cinematogrficas na buscadaquilo que os prprios cidados americanos acreditam que tm: justia material. Aest uma grande diferena entre os Sistemas Jurdicos brasileiro e norte-americano: oque l eles chamam de primazia da Justia, no Brasil chamamos de tapar o sol com apeneira.

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    Conceitos de Civil Lawe Common Law:

    O Civil Law constitudo de leis escritas em cdigos, que so feitas em sentido

    amplo para enquadrar cada caso e ento escolhida a lei que mais se adequa s

    circunstncias. O Common Law um direito mais casustico conhecido como direitono escrito, cada caso tratado de forma particular tendo como referncia decises

    anteriores do poder judicirio.

    Conceito de lei no Common Law ampliado, de maneira significativa, porquecompreende no somente normas escritas, mas tambm, e principalmente, normascostumeiras. De um lado o Common Law flexvel e de outro, estvel. Assim, temosque os tribunais devem estar sempre consultando as experincias judiciais dos outros

    pases do common lawpara se utiliza da mesma analogia, caso desejem mudar algumadeciso da Suprema Corte; mas ao mesmo tempo, as decises judiciais da SupremaCorte so as nicas com fora de lei, e isso d estabilidade ao sistema.Diferente do conceito de Lei no direito brasileiro que, a forma pela qual as normas

    jurdicas se manifestam a de leis e cdigos, ficando o costume como fonte secundriae como forma de complementao quando no h leis tratando sobre determinadoassunto.

    O atual common law americano:

    No sculo XX houve um desenvolvimento do Common Law que pode serchamado de statute law, ou seja, leis promulgadas pelos legisladores. Com o aumentode casos julgados ficou muito difcil identificar a lei, e tambm, devido ao crescimento,s guerras mundiais e ao recente ataque ao World Trade Center, os americanospassaram a olhar para o Congresso, outorgando fora para o controle de vrios setorescomo alimentos, cosmticos, farmoqumicos, gerenciamento do trabalho,instrumentao mdica, licenciamento, mediao de conciliao, penses e bem-estar,padres de qualidade, programas de proteo e qualidade ambiental, reduo derudos, sade, segurana, transporte e mais. Todas as regulamentaes podem ser

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    encontradas no Code of Federal Regulations. Com a vigncia desse cdigo, o poder deregulamentao dos Estados americanos foi diminudo e hoje eles regulam somentecasos de educao, a maioria dos casos cveis, contratos, crimes ordinrios comoassalto, estupro, homicdio, multa etc. Outro exemplo de como a lei americana sedesenvolveu rapidamente pelo sculo XX a histria da FDA (Food and Drug

    Administration). A centralizao do poder (em Washington), leis feitas ou reforadaspelas agncias, corpos administrativos, as influncias de incidentes e escndalos, assimcomo as opinies da mdia e do pblico, ganharam fora durante o sculo .s vezes aSuprema Corte faz leis a respeito de matrias sobre as quais o Congresso no podelegislar, como, por exemplo, armas nas escolas. Alm disso, ela limitou o interstatecommerce power of Congress. Mas isso no significa que Washington controle tudoque federal; ainda h alguns programas federais controlados pelos Estados, poisfederal no significa estritamente controlado pelo centro, simplesmente significa queo poder pode ser exercido pelo centro se assim decidir o Congresso (Friedman,2002).Roland Sroussi (2001) confirma o crescimento das leis nos Estados Unidos e cita

    como exemplos a prpria Constituio escrita, a Declarao dos direitos (Bill of Rights,que so as dez primeiras emendas da Constituio e a XV emenda de 1868), asliberdades pblicas (civil rights) e a presena dos cdigos federais e estaduais. Eletambm diz que os juzes americanos no ficam mais presos s jurisprudncias, masconforme a necessidade as reforma e limitam. Alm disso, h mais autores queconfirmam este desenvolvimento, entre eles Lincoln Magalhes da Rocha, em seu livroque trata exatamente do tema aqui abordado: Aproximaes do Common Lawe doCivil Law. Nele, o autor confirma vrias vezes a tendncia americana de adotar alegislao: O sistema americano, por ora, est mais prximo do ingls, mas atendncia desviar-se em direo ao sistema romano (ROCHA, 1990, p.79). Outro

    exemplo disso o due process of law, conhecido aqui como o devido processolegal.

    Atual Civil Lawdo regime brasileiro:

    O Direito brasileiro se preocupa mais com a logicidade e a formalidade, ou seja,as leis esto limitadas pelos cdigos. Maria Helena Diniz, no livro Compndio deIntroduo Cincia do Direito, que encontramos o fundamento da origem dasnormas na exigncia da natureza humana de viver em sociedade (Diniz, 2001, p.

    328). Portanto, as normas se tornam necessrias para garantir a Iniciao Cientfica,paz e a ordem dentro de uma sociedade. Assim, Del Vecchio, citado por Maria HelenaDiniz, diz que a norma jurdica a coluna vertebral do corpo social (Del Vecchio,1953, p.279 apud Diniz, 2001, p.329).

    Essas normas podem ser codificadas ou no, mas de acordo com a conclusosobre a base do Direito brasileiro de Guido Fernando Silva Soares, no livro CommonLaw: Introduo ao Direito Americano, nas Universidades Medievais (sic), estudantese professores eram mais preocupados com a racionalidade e logicidade do sistema,(sic) do que com os reais efeitos da aplicao da norma jurdica (que era sempre umaproposio abstrata e geral) na corrente vida da sociedade (Soares, 2000, p. 28).

    Pode-se, ento, concluir que a preocupao com a formalidade da norma exageradadentro do sistema jurdico brasileiro.

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    Todos os atos so considerados isoladamente; portanto o sistema americanoparte de vrios casos particulares para outros particulares, enquanto o sistemabrasileiro parte do geral para o particular. Neste caso, podemos dizer que um cdigoantigo como o de Napoleo no est ultrapassado devido ao trabalho da

    jurisprudncia, pois a lei no fica presa ao legislador, possuindo vida espiritual

    autnoma, sobre a qual se desdobra o trabalho mental das geraes (Ferrara apudSilveira, p.419).

    No obstante, h muitas discusses sobre a segurana da jurisprudncia,devido ao seu dinamismo. De acordo com Carlos Aurlio de Souza, em seu livroJurisprudncia e segurana jurdica, a jurisprudncia oferece segurana maisqualificada do que as leis. certo reconhecer que na jurisprudncia h um dinamismomaior do que o das leis; entretanto, temos smulas do STF que h trinta anos noforam modificadas. EX: correo monetria, que os tribunais estenderam a todas asespcies de dbito judicial. Contudo, em alguns casos, o dinamismo extremamenteessencial, e isso acontece mais frequentemente nos direitos comercial e trabalhista

    brasileiros, por serem reas que se desenvolvem com mais rapidez.Existem ainda autores - como Paulo Nader - que, apesar de confirmarem que a

    jurisprudncia no Brasil tem a funo apenas interpretativa, afirmam queindiretamente os juzes esto fazendo leis, s que aqui os juzes dos tribunais inferioresno so obrigados a decidir de acordo com os tribunais superiores, como ocorre nospases do Common Law. Lawrence Friedman diz que o sistema legal produto dasociedade, portanto o dinamismo da jurisprudncia muitas vezes vira lei. Alm disso,JIMNES DE ASA, diz que a lei reina e a jurisprudncia governa, isto , um sistema

    jurdico ideal seria aquele que possusse o equilbrio entre leis e jurisprudncia, semque uma possusse prioridade em relao outra. Eis a questo de Miguel Reale sobre

    o Common Lawe o Direito brasileiro: Na realidade so expresses diversas que, nosltimos anos, tm sido objeto de influncias recprocas, pois enquanto as normaslegais ganham cada vez mais importncia no regime do common law(sic), por sua vez,os precedentes judiciais desempenham papel sempre mais relevante no Direito detradio romanstica (Reale, 1998, p. 142). E Sroussi (2001, p.162) chega at aexagerar quando diz que um dia a famlia do Common Law ser a nica, por procurardar solues prticas e simples aos conflitos.

    Alm disso, Maria Helena Diniz confirma a afirmao acima, dizendo que ospases que adotam o Common Lawtm sofrido influncias do processo legislativo, poish no Estado moderno uma supremacia da lei ante a crescente tendncia de codificar

    o direito para atender uma exigncia de maior certeza e segurana para as relaesjurdicas... (Diniz, 2001, p.283). Em contraste, a mesma autora aponta a influncia dajurisprudncia como fonte do direito, pois a jurisprudncia no Direito brasileiro auxiliana produo de normas e tambm fora o legislador a fazer leis que acompanhem odesenvolvimento da sociedade. Por esse motivo, Maria Helena Diniz afirma que a

    jurisprudncia possui fora normativa. Com o advento da reforma do Poder Judiciriono Brasil, ainda em trmite no Congresso Nacional, haver (se ela realmente ocorrer)uma maior proximidade entre o Common Law e o Direito brasileiro, pois h umaproposta na qual se institucionaliza a smula vinculante, ou seja, aquela pela qual ostribunais inferiores estaro obrigados a seguir a jurisprudncia do Supremo Tribunal

    Federal.

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    Diferenas e comparao Common lawe civil law brasileiro:

    As diferenas bsicas entre os dois sistemas se resumem nas seguintesquestes: o Common Lawpossui uma filosofia pragmtica, portanto, ele parte do casoconcreto para solucionar as controvrsias presentes e futuras, enquanto que o direitobrasileiro dedutivo, ou seja, ele parte das construes tericas para entoestabelecer os princpios. Assim temos o ltimo constitudo por elementos formais e oprimeiro por elementos variveis. Como podemos perceber, primeira vista, oCommon Law o oposto do direito romano-germnico, por ser um direito de essncia

    jurisprudencial, enquanto o ltimo baseado em leis devidamente votadas.