Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

  • Upload
    rachel

  • View
    222

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    1/17

    Diretoria

    Humberto Cota VeronaPresidente

    Ana Maria Pereira LopesVice-Presidente

    Clara Goldman RibemboimSecretria

    Andr Isnard LeonardiTesoureiro

    Conselheiros efetivos

    Elisa Zaneratto RosaSecretria Regio SudesteMaria Christina Barbosa VerasSecretria Regio NordesteDeise Maria do NascimentoSecretria Regio SulIolete Ribeiro da SilvaSecretria Regio NorteAlexandra Ayach AnacheSecretria Regio Centro-Oeste

    Conselheiros suplentes

    Accia Aparecida Angeli dosSantosAndra dos Santos NascimentoAnice Holanda Nunes MaiaAparecida Rosngela Silveira

    Cynthia R. Corra Arajo CiaralloHenrique Jos Leal FerreiraRodriguesJureuda Duarte GuerraMarcos RatinecasMaria da Graa MarchinaGonalvesPsiclogos convidadosAluzio Lopes de BritoRoseli GoffmanMaria Luiza Moura Oliveira

    Psiclogos convidados

    Aluzio Lopes de BritoRoseli GoffmanMaria Luiza Moura Oliveira

    Prticas em Psicologiae Polticas Pblicas

    O TRABALHO DO/A PSICLOGO/A NO

    SISTEMA PRISIONAL: O RESGATE DAS

    RELAES INTERPESSOAIS NO PROCESSODE REINTEGRAO SOCIAL TAMBM POR

    MEIO DE GRUPOS

    Centro de Referncia Tcnica em Polticas Pblicas (CREPOP)

    Conselho Federal de Psicologia (CFP)

    Braslia, 2010

    Plenrio responsvel pela publicao

    Conselho Federal de Psicologia - XIV Plenrio

    Gesto 2008 2010

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    2/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    3 4

    O TRABALHO DO/A PSICLOGO/A NO SISTEMA

    PRISIONAL: O RESGATE DAS RELAES

    INTERPESSOAIS NO PROCESSO DE

    REINTEGRAO SOCIAL TAMBM POR MEIO DE

    GRUPOS

    Karine Belmont Chaves

    Trabalho como psicloga no Sistema Prisional (SP) h

    cerca de sete anos. Iniciei em 2002, contratada por uma

    empresa quando o SP no Paran foi terceirizado. Em outro

    momento, o governo do estado reassumiu a administraodireta e participei de teste seletivo. Em 2008, o governo fez as

    contrataes por meio de concurso pblico, o que favoreceu a

    possibilidade de um trabalho contnuo e melhores condies

    para o funcionrio. Fiquei extremamente feliz com a

    possibilidade de continuidade do trabalho.Quando me formei em Bauru-SP, em 1999, comecei a

    trabalhar em clnica. Fiz especializao em Psicologia Clnica e

    adorava a rea, mas, por sentir falta de renda fixa, procurei

    outro trabalho. Vim para Foz do Iguau para trabalhar na

    penitenciria onde estou at hoje. Um trabalho desafiador. Na

    minha formao ainda no se dava nfase a essa rea, e cursos

    de especializao eram quase inexistentes. Tive de estudar por

    conta prpria. Tive boas instrues de psiclogas que j

    atuavam no SP e de uma grande mestra: a psicloga Margarete

    Rodrigues, que se aposentou neste ano e ainda desenvolve

    atividades importantes. Apaixonei-me tanto pela rea quetambm dou aulas de Psicologia Jurdica em cursos de

    graduao.

    Atuo na Penitenciria Estadual de Foz do Iguau (PEF),

    uma unidade penal (UP) de segurana mxima, destinada a

    presos do sexo masculino em regime fechado. So trs galerias,

    que somam 124 celas, com capacidade para quatro presos cada,

    num total de 496 presos. Alm da questo primordial da

    segurana, o Departamento Penitencirio (Depen) organiza

    suas unidades penais visando a cumprir as disposies previstas

    na Lei de Execuo Penal (LEP). Alm dos funcionriosresponsveis pela equipe de segurana, da qual fazem parte os

    agentes penitencirios, e da equipe administrativa, a PEF conta

    com uma equipe tcnica composta por duas psiclogas, duas

    assistentes sociais, duas advogadas, um mdico, uma dentista,

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    3/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    5 6

    uma enfermeira e duas auxiliares de enfermagem, objetivando

    oferecer aos presos tratamento penal no qual tenham a garantia

    de seus direitos, sendo-lhes oferecida assistncia mdica,

    odontolgica, social e psicolgica. Para que tenham acesso a

    educao, o estado mantm parceria entre as Secretarias de

    Justia e Cidadania (Seju) e a Secretaria de Estado da Educao

    do Paran (Seed), que tem nas unidades penais uma extensodo sistema de ensino Educao de Jovens e Adultos (CEEBJA),

    sendo oferecido aos presos oportunidade de escolarizao

    (embora o espao fsico de algumas unidades seja reduzido,

    no sendo possvel que todos os que ali cumprem pena estudem

    ao mesmo tempo). Existe ainda uma preocupao no que tange necessidade de profissionalizao dos presos, bem como de

    atividades ocupacionais.

    A Psicologia est inserida dentro deste contexto

    jurdico, desempenhando papis de avaliao e tratamento,

    desenvolvendo, alm do polmico exame criminolgico,atividades psicoteraputicas e, ainda no que se refere

    Psicologia Criminal, estudando e analisando intervenes

    possveis, perante as pessoas presas e a instituio prisional

    como um todo.

    Conhecendo um pouco sobre a realidade brasileira, sei

    que tenho boas condies de trabalho no panorama nacional,

    pois o Paran tem feito significativos investimentos nessa rea,

    mas essas condies ainda so limitadas para o

    desenvolvimento de algumas aes importantes dentro do

    Sistema Prisional. Duas psiclogas para atender

    aproximadamente 500 presos e ainda atender a outrassolicitaes, como as avaliaes, fundamentando pareceres e

    laudos, bem como a participao nas reunies de Comisso

    Tcnica de Classificao e Tratamento (CTC) que ocorrem

    semanalmente, discutindo casos, baseadas em uma proposta de

    individualizao da pena, tal como a participao na reuniosemanal do Conselho Disciplinar (CD), um quantitativo

    insuficiente.

    Os casos dos presos que do entrada na unidade para

    cumprir sua pena passam pela reunio da CTC, em que so

    analisados os histricos pessoais, criminais, familiares ecomportamentais e so feitas sugestes de encaminhamento

    para intervenes necessrias e disponveis. Por exemplo: se o

    preso analfabeto, encaminha-se para alfabetizao; se no tem

    profisso, para curso profissionalizante; se tem hiptese de

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    4/17

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    5/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    9 10

    ser, de fato, um espao mais humanizado e, diante disso,

    possibilitar que o outro se encontre, em seu significado pessoal

    e social. Humanizar o sistema, resgatar as relaes baseadas no

    respeito pelo outro no tarefa simples como pode parecer.

    Porm esta tarefa no simples, nem para aqueles que se

    vestem dessa responsabilidade da segurana, nem para os

    demais funcionrios, nem para os prprios presos.

    Existe um sistema que incorporou valores, que dita

    regras de convivncia e cobra posturas. Os presos no esto ali

    para sofrer mais julgamentos, nem de outros presos nem da

    sociedade. Mas a criminalidade faz isso. Ela tambm rejeita

    alguns, segrega outros, que nega serem iguais. Criminosos.

    Aqueles em que de fato a identidade est vestida. Eu gosto at

    de mudar o modo de referenci-los: de criminoso, para pessoa

    que cometeu um crime, diferente de quando se remete a ele

    como um todo. Pois bem. O crime estigmatiza. Separa. Como

    possibilitar que essas pessoas presas estudem, convivam nummesmo lugar, at mesmo na priso? Este o lugar de

    reaprender a conviver e respeitar. Mas as barreiras no so

    fceis: vencer estigmas preexistentes, derrubar paredes

    impermeveis. E no s existentes entre os que esto presos,

    existentes tambm em cada pessoa. Principalmente nos

    machos. A cultura absorvida urge ser revista. Tarefa rdua.

    Processo lento. De vrias discusses, de discursos que querem

    atingir, mas muitas e muitas vezes no convencem. Trabalho

    contnuo, permanente, sobre as barreiras.

    O SP s vezes perpetua o crcere. D menos trabalho do

    que possibilitar qualquer abertura. Menos atividade, menos

    risco. Nesse sentido, um fator determinante nos trabalhos o

    perfil dos profissionais. Se forem acomodados, a mudana

    quase impensvel.

    O Departamento Penitencirio do Paran conta com a

    Escola Penitenciria (Espen) e a Diviso de Servios Tcnicos

    e Assistenciais (Dist), que estudam e coordenam as aes

    psicossociais, alm de outras funes, auxiliando o

    desenvolvimento dos trabalhos e propondo melhorias nos

    atendimentos realizados. Busca-se eficincia no desempenho e

    nos resultados e sistematizao das atividades tcnicas e

    assistenciais nas unidades penais, por meio de trocas e

    discusses, das quais surgiu por exemplo o Manual de

    Procedimentos do Psiclogo.

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    6/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    11 12

    Mas existe um espao possvel de criatividade. Os

    profissionais de cada UP podem planejar e sugerir projetos que

    favoream o desenvolvimento da pessoa que se encontra presa

    nas unidades penais onde trabalham.

    Nesta UP a rotina no setor de Psicologia est organizada

    da seguinte forma: segunda-feira so realizadas triagens com

    presos que do entrada na unidade; tera-feira, atendimento

    individual e elaborao de pareceres; quarta-feira, reunio da

    CTC e realizao de exame criminolgico; quinta-feira,

    atendimentos individuais; sexta-feira realizao dos grupos e

    oficinas.

    A sociedade tem a iluso de que os presos contam com

    psiclogos (como se fosse uma regalia), mas de fato no

    oferecemos a eles nenhum trabalho psicoterpico

    superestruturado. Os atendimentos se baseiam na proposta de

    trabalhar algum foco, breve, e h atendimentos de apoio em

    situaes de crise, no sendo possvel um trabalho de longa

    durao que possa contemplar todas as pessoas que ali esto

    presas. Muitas vezes faltam at salas especficas para os

    atendimentos, bem como para outras atividades que podem

    acontecer dentro do sistema, pois no raro a construo fsica

    das unidades penais desconsidera os espaos para intervenes

    numa perspectiva de humanizao, estando focadas na questo

    da segurana.

    Os atendimentos psicolgicos individuais hoje, em sua

    grande maioria, ocorrem em parlatrio (aqueles telefones de

    comunicao atravs de vidros, dos filmes americanos), e

    muitas das salas de aula (eventualmente usadas para grupos

    psicoteraputicos) so separadas por grades do teto ao cho. Os

    parlatrios so espaos secos. Desconsideram qualquer

    necessidade de setting teraputico. Muitas vezes a

    necessidade de acompanhamento por agentes, em prol da

    segurana, limita o estabelecimento de um vnculo genuno,

    visto que no conseguimos lhes fornecer condies ticas de

    confidencialidade e sigilo.

    Diante de um nmero expressivo de pessoas presas e de

    poucos profissionais, os grupos so oportunidades de oferecer-

    lhes alguma interveno psicoteraputica.

    Finalmente chegamos aos grupos. Entendo o contexto

    acima como necessrio para compreender o funcionamento do

    Sistema Prisional. Os grupos so espaos de possibilidades.

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    7/17

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    8/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    15 16

    comportar-se de acordo com as regras? O sistema ainda tem

    muito que crescer, muito contaminado, desgastado, hoje, por

    sua construo histrica. Mas a humanizao abre

    possibilidades. Renova, revigora. Pensar em atividades que

    auxiliem seu desenvolvimento, com responsabilidade, uma

    tarefa para a Psicologia.

    Em mdia a UP onde trabalho tem dois grupos em

    funcionamento s sextas-feiras, A metodologia de trabalho

    utilizada : cerca de 20 presos participantes/cada, com durao

    dos encontros variando de 1h30min a 2 horas,alguns grupos

    tm durao de 10 encontros, outros de trs meses, e as oficinas

    so momentos nicos. Temos duas salas de aula improvisadasque so ocupadas pelos professores de segunda a quinta-feira e

    a Psicologia tratou de ocupar o dia disponvel. Espao

    conquistado com a direo e a segurana, enfrentando

    resistncias. Os presos muitas vezes manifestam interesse nos

    grupos ao saber, por meio de outros, ser selecionados econvidados a participar. As CTC tambm sugerem nomes para

    participar. Os dependentes qumicos so indicados para grupos

    voltados sua problemtica. Existem ainda outros critrios no

    rgidos. No fundo, acredito que quase todos eles deveriam ter a

    oportunidade de participar. A segurana nos auxilia a

    selecionar do ponto de vista comportamental, se tm potencial

    agressivo. O controle requisito mnimo para convivncia.

    Nunca so obrigados. Quando querem desistir, conversa-se

    com eles, mas sempre respeitada sua deciso. uma

    oportunidade, no uma imposio. No h consequncias para

    quem no quer participar, mas pode-se ver um diferencial emmuitos dos que participam, apresentando vontade, interesse de

    mudar ou aprender algo. Mas claro que h presos que apenas

    querem passear, sair um pouco de suas celas.

    O profissional fica na sala com 20 presos e um agente

    penitencirio. Sim, existem riscos: fui refm num dessesgrupos, em 2003, mas, resisto. E prefiro ainda que aconteam.

    Em muitas cidades os grupos simplesmente no acontecem.

    um trabalho de resistncia (resilincia), de reflexes internas e

    posicionamento. Algumas vezes me reconheo em ciclos, de

    reenergizao. Algumas (muitas) vezes desanimo com asbarreiras, com as limitaes, fico sem energia. Me desgasto,

    mas insisto. Bato contra a parede. Recuo. Descanso, poupo

    energias e, quando vejo, l estou eu tentando novamente.

    Muitos sentimentos so mobilizados numa rea de atuao com

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    9/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    17 18

    tantas questes sociais e humanas. Os funcionrios todos se

    deparam com dificuldades e limitaes, at porque essa

    clientela rene muitos pontos inquietantes. uma rea de

    trabalho cheia de dificuldades, limitaes, frustraes. Mas

    tambm cheia de desafios.

    O modo de trabalhar que descobri foi criando e

    recriando projetos. Organizamos um grupo, desenvolvemos,

    analisamos os resultados, conclumos. Encontramos

    dificuldades, a energia se desgasta, Pensamos em uma

    alternativa. Energia renovada: outro nome, outra temtica,

    outra proposta. Um novo trabalho. Novos participantes. E

    diante de pequenas vitrias, insistimos.

    Quando a energia da luta acaba, alguns grupos se

    encerram. Depois, particularmente sinto falta do trabalho. Me

    sinto impotente, muitas vezes, mas quero ousar. No consigo

    imaginar que sairo sem possibilidades de qualquer reflexo.

    Se eles ficam presos, escutam muitas vezes vozes contaminadas

    de possveis companheiros de cela, comprometidos com a

    cultura do crime. Os grupos so possibilidades de resgat-los

    para a sociedade da qual de fato fazem parte e que, em alguns

    casos, por um momento (ou uma vida), negou sua existncia.

    Um dos projetos iniciais e permanentes na unidade onde

    trabalho se chama:

    GRUPO DE ORIENTAO PARA LIBERDADE.

    Pblico-alvo: So selecionados 20 presos que esto

    aptos progresso de regime (aguardando a realizao ou

    resposta do pedido de progresso, por terem cumprido

    determinado tempo de pena) e que, portanto, podem sair da

    unidade a qualquer momento por determinao judicial, para

    outra unidade ou para a liberdade.

    Objetivo: Este trabalho visa a oferecer pessoa que se

    encontra presa um espao de dilogo, orientaes e

    informaes acerca da vida em sociedade, bem como fomentar

    suas reflexes a respeito da vida em liberdade, visto que muitas

    pessoas que se encontram presas distanciam-se da realidadesocial, ou foram presas por j estar distantes dos objetivos

    coletivos.

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    10/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    19 20

    Metodologia: Organizado pela Psicologia, mas de

    carter multidisciplinar, cada encontro de responsabilidade de

    um profissional do sistema ou convidado da comunidade. Cada

    grupo participar de dez encontros, com profissionais do

    sistema e convidados que fazem parte da comunidade e podem

    contribuir para que as pessoas presas reflitam sobre seu retorno

    ao meio social. A durao dos grupos de 1h30min a 2 horas.So abordados temas como: mercado de trabalho, vida em

    sociedade, motivao para a vida, doenas sexualmente

    transmissveis, sade bucal, a importncia da educao, famlia,

    autoestima, entre outros.

    Em mdia so organizados quatro grupos por semestre,atingindo a populao de (20+20+20+20 x 2) 160 presos ao

    ano. Foi absorvido como prtica e hoje tem carter permanente

    de funcionamento, sendo desenvolvido tambm em outras

    unidades penais do estado.

    Relato de experincia: Este grupo foi criado pela

    Psicologia em 2003, quando minha parceira na poca, a colega

    psicloga Glucia Emlia Warken de Souza, batizou-o. A

    proposta inicial era ser desenvolvido pela Psicologia, e, anos

    depois, com o interesse de outras reas em participar, bem

    como diante do interesse em aproximar a comunidade, no

    processo de reintegrao social, o grupo passou a ter carter

    multidisciplinar. organizado em dez encontros, com

    profissionais diferentes. Foi incorporado pela direo, e h anos

    acontece na unidade, bem como tem sido implantado em outras

    unidades penais do estado. Neste grupo, diversos profissionais

    podem dar sua contribuio. A dentista fala sobre higienebucal, por exemplo, a enfermeira, sobre vrias temticas da

    sade, o Servio Social, sobre a importncia da famlia ou

    sobre recursos sociais disponveis, orientaes de cidadania, a

    Pedagogia, sobre a questo da Educao, entre outros.

    Tambm sentimos a necessidade de que outras pessoase instituies participassem, e ento abrimos espao para a

    comunidade. Convidamos por exemplo, o Pr-Egresso e o

    Conselho da Comunidade, que hoje so nossos parceiros, e

    assim iniciamos uma articulao com a rede disponvel, isso

    porque entendemos o processo de reintegrao social com anecessidade de mobilizao da comunidade. A sociedade

    tambm precisa despertar para a responsabilidade sobre as

    pessoas que esto presas, afinal de contas, elas voltaro para o

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    11/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    21 22

    convvio, e precisam ser acolhidas, pois a excluso tambm

    fator que influencia a reincidncia criminal.

    A ideia inicial deste grupo era de poder oferecer

    pessoa presa, aps tanto tempo de encarceramento, alguns

    momentos em que pudessem ouvir e tambm falar com a

    sociedade. Muitas vezes, pelas limitaes das instituies

    prisionais, essas pessoas passam um tempo significativo de

    suas vidas no convvio com semelhantes, mas muitas vezes sob

    influncia da criminalidade. Muitas vezes em convvio com

    pessoas altamente comprometidas com seus valores

    antissociais, e nossa funo intervir. Mostrar outras

    possibilidades. Ento, diante da realidade de que muitaspessoas estavam prestes a sair, sem que lhes tivesse sido

    oferecidas oportunidades de crescimento, pensamos neste

    grupo. Quando sabamos que a pessoa presa estava prestes a

    progredir de regime, providencivamos sua insero no grupo,

    para que pudesse sair com algumas reflexes sobre suaretomada da liberdade. Os participantes costumam gostar das

    temticas apresentadas e, muitas vezes, no haviam participado

    de palestras ou de qualquer grupo anteriormente e

    experimentam importante momento de relacionamento

    interpessoal, alm de outros conhecimentos.

    Segue descrio de outros grupos e trabalhos

    desenvolvidos tambm com o auxlio de outros profissionais do

    Sistema Prisional, bem como em articulao com outras

    instituies. Alguns destes j aconteceram, e alguns continuam

    em andamento. Seu relato pode contribuir para que outros

    profissionais visualizem possibilidades de interveno, bem

    como suas dificuldades, podendo usar sua criatividade e

    habilidade tcnica para aprimorar nossa interveno.

    Psicocine

    Organizado inicialmente com a exibio de um filme

    por encontro, seguido pelo debate sobre a temtica abordada.

    Esse recurso bastante conhecido da Psicologia, e uma

    estratgia utilizada em muitos locais e com populaes

    diversas, por sua riqueza e pela facilitao de abordagem.

    Atualmente no organizamos mais um grupo unicamente

    destinado aos filmes, mas o utilizamos como recurso pontual

    em outros grupos, pois muitas vezes esgotvamos as

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    12/17

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    13/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    25 26

    autorizao dos juzes da Vara de Execues Penais e da Vara

    da Infncia e da Juventude. Foi um momento importante, noqual este preso relatava aos adolescentes os prejuzos em sua

    vida pelo caminho da criminalidade e se dizia ladro

    aposentado, tendo perdido todos os vnculos de sua vida,

    inclusive no tendo acompanhado o desenvolvimento de seus

    filhos. Tambm se pretendia a construo pelos presos de umacartilha educativa, mas o trabalho foi interrompido por

    mudanas tcnicas, bem como devido progresso de regime

    dos presos envolvidos.

    Grupo de Apoio ao Dependente Qumico

    Pblico-alvo: So selecionados presos que

    apresentavam dependncia qumica em seu histrico de vida, o

    que frequentemente contribui para o envolvimento criminal e

    seu agravamento.

    Objetivo: Proporcionar reflexes, e apoio diante da

    problemtica das drogas.

    um grupo que participou numa unidade de Francisco Beltro. Feedbacksraros, mas importantes.

    Metodologia: Os encontros acontecem semanalmente,

    pelo perodo de dois meses, com durao mdia de 1h30. Sousados recursos como dinmicas de grupo e filmes, bem como

    so convidados profissionais do municpio que atuam na rea

    (Caps-Ad por exemplo). baseado na identificao de seus

    integrantes, na troca de experincias por meio de seus relatos e

    na abordagem de temas que favoream o desenvolvimentopessoal, bem como seu fortalecimento.

    Grupo de Dana de Salo

    Pblico-alvo: presos que sejam casados ou tenham

    relacionamento estvel e recebam frequentemente visitas de

    suas companheiras, visto que estas so convidadas a participar

    junto com eles.

    Objetivo(s): Fornecer ao preso e a sua companheira

    aprendizado de estilos de dana de salo (forr, valsa, salsa,

    entre outros) e proporcionar, por meio desse espao, o

    desenvolvimento de posturas individuais (autoestima,

    autoimagem e autoconceito), bem como a melhoria de aspectos

    do relacionamento conjugal (vnculo, intimidade e seduo, por

    exemplo).

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    14/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    27 28

    Metodologia: Seleo de dez presos, com suas

    companheiras. Os encontros sero semanais e com duraomdia de duas horas. A professora utiliza tcnicas especficas

    do ensino de dana de salo, com acompanhamento da

    Psicologia.

    Relato de experincia: Uma das experincias mais

    bonitas e ricas que tive com grupos. Criado junto com uma

    voluntria, professora de dana, estudante de Educao Fsica,

    depois de termos assistido ao filme Vem danar, com Antonio

    Banderas. A ideia era que um nmero de presos danasse com

    suas companheiras, e que as aulas pudessem favorecer sua

    autoestima e desenvolver melhoria na relao conjugal. Ogrupo encontrou muitas dificuldades, que parecem simples,

    como o horrio da semana em que suas companheiras

    pudessem vir para as aulas, visto que algumas tm filhos ou

    trabalho e no conseguiam estar presentes. Mas, mesmo com

    nmero reduzido de casais, as aulas eram fantsticas, e at osfuncionrios acabavam por se envolver a atividade aconteceu

    sem qualquer problema de segurana. Num desses momentos,

    eu disse ao diretor, depois, que por alguns instantes a priso

    nem parecia priso. Foi uma experincia fantstica. Aconteceu

    apenas uma vez, tendo em vista a necessidade de uma

    profissional de dana.

    Grupo Re-parar para Re-construir

    Pblico-alvo: Presos reincidentes desta UP, ou seja,

    presos que j estiveram presos na Penitenciria Estadual de Fozdo Iguau e, por algum motivo, voltaram a cometer novos

    delitos, ou so evadidos da Colnia Penal Agrcola e foram

    recapturados.

    Objetivo: Aplicao de tcnicas psicoteraputicas e de

    outros tipos de interveno que facilitem e possibilitem areflexo sobre a histria de vida de cada um, focalizando seus

    projetos de vida, bem como o funcionamento social e outras

    questes ligadas a reintegrao social.

    Metodologia: Organizado pela Psicologia, com

    aplicao de tcnicas psicoteraputicas que visem a suamobilizao em relao temtica social, no resgate e na

    reflexo sobre os valores e as normas sociais.

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    15/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    29 30

    Relato de experincia: Um dos grupos em que tive mais

    dificuldade de trabalhar, um dos mais desgastantes, pois muitasvezes seus valores so de fato comprometimento com a cultura

    do crime. Diante da reincidncia criminal, demostram muitas

    vezes a escolha por esse estilo, sendo mais resistentes e

    menos permeveis a medidas teraputicas.

    Grupo Agentes multiplicadores de sade

    Objetivo: Aprimorar conhecimento sobre questes de

    sade, bem como ampliar a rede de conhecimento, com foco na

    preveno de doenas, bem como em orientaes sobre

    cuidados com higiene pessoal, repassando-as populao

    carcerria.

    Metodologia: So selecionados presos que se mostram

    colaborativos e se interessados em auxiliar em diversas

    atividades. Os selecionados participam de palestras e recebem

    material de estudo e divulgao sobre questes de sade. No

    convvio com os outros presos, podem multiplicar o

    conhecimento, visto que tm acesso facilitado, sem barreiras,

    com grandes possibilidades de aceitao das orientaes.

    Relato de experincia: O projeto foi interrompido, pois

    alguns presos multiplicadores foram embora. Verificamos anecessidade de apoio dos agentes penitencirios, bem como da

    disposio tcnica para sua capacitao, alm da mobilizao

    dos presos com perfil adequado.

    Oficina de Sexo Seguro

    Pblico-alvo: Presos recm-chegados na UP.

    Objetivo: Com base na proposta de aconselhamento, so

    oferecidas orientaes sobre DSTs/Aids, seguindo a proposta

    de trabalho preventivo, devido ao nmero significativo de

    pessoas que so infectadas pela exposio dentro do sistema

    penitencirio. Tem como objetivo, ainda, trabalhar no s os

    temas relacionados s doenas sexualmente transmissveis e

    Aids (preveno e tratamento), mas tambm temas ligados a

    relacionamento sexual-afetivo.

    Metodologia: Os presos so convidados a participar de

    uma oficina, que ocorre em um nico encontro, com durao

    mdia de 1h30. So organizados grupos de 20 presos, no

    fixos. desenvolvido pela Psicologia, podendo contar com a

    participao de outros profissionais da rea de sade. So

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    16/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    31 32

    utilizados recursos didticos, com folders e cartazes do

    Ministrio da Sade. Eventualmente os profissionais participamde treinamentos destinados a sua capacitao, na Secretaria de

    Sade no municpio. As questes de relacionamento so

    fundamentadas pelo conhecimento da Psicologia, com

    embasamento terico da terapia de casal.

    Relato de experincia: Alm de existir troca de

    informaes e reflexes sobre relaes afetivas e sexuais, as

    oficinas acabam como um grande bate-papo, em que eles falam

    de sua intimidade, das relaes, e mostram interesse em

    aprender mais sobre relacionamento humano do que sobre

    preservativo em si. Os presos se mostram interessados nodesenvolvimento da temtica, com participao ativa, dando

    exemplos, fazendo perguntas e interagindo de modo

    significativo. Normalmente preciso finalizar, pela questo do

    tempo, mas sempre h demanda de contedo. H indicativos de

    reflexos na relao com muitas de suas companheiras.Esta oficina j foi feita tambm com as mulheres nos fins

    de semana antes da visita, ou depois, mas o nmero de pessoas

    que compareceu foi pequeno, talvez por falta de hbito de

    participar desse tipo de atividade, bem como pela existncia de

    outros compromissos e pelo horrio, motivos listados por elas.

    necessria uma pesquisa antes de ser implantado, para avaliarsua viabilidade perante as companheiras.

    Finalizando, acredito que a Psicologia pode contribuir.

    Sempre. Os grupos so espaos possveis e ricos, mesmo diante

    de obstculos, so oportunidades de relao interpessoal, num

    lugar de paredes rgidas como a priso.

    Reforo que as medidas teraputicas desenvolvidas no

    sistema necessitam de envolvimento da administrao e da

    equipe de profissionais de cada unidade.

    Atualmente os projetos so desenvolvidos com a

    parceria com a psicloga Monica Cielo Vedoim e com o apoio,

    o consentimento e a participao da equipe de profissionais

    administrativos, alm da equipe tcnica, na qual se incluem:

    Coordenao Depen: Cezinando Vieira Paredes

    Direo PEF: Ivan Vidalk Graczyk

    Chefe de Segurana: Aldair Andretti e agentes penitencirios

  • 8/2/2019 Trabalho Do Psicologo No Sistema Prisional

    17/17

    Prticas em Psicologia e Polticas Pblicas

    33 34

    Advogadas: Ana Paula Garcia Marchante e Daniela Cristina

    Fabro da Silva

    Assistentes Sociais: Luclia Beraldo e Lucir Barbosa de

    Oliveira Barbieiro

    Dentista: Carina C. dos Santos de Assis

    Enfermeira: Maria do Carmo Santos CorreaMdico: Fbio de Fiori

    Pedagoga: Luz Marina Pretz (Seed CEEBJA ) e professores

    E os parceiros:

    Pr-Egresso: Jusilei Soleide Natick (diretora)Conselho da Comunidade: Luciane Ferreira (diretora)