TRABALHO E EDUCAÇÃO: IMPLICAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO NA FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS - APROXIMAÇÕES

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TRABALHO E EDUCAÇÃO: IMPLICAÇÕES DO MUNDO DOTRABALHO NA FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS - APROXIMAÇÕES

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  • TRABALHO E EDUCAO: IMPLICAES DO MUNDO DO

    TRABALHO NA FORMAO DE PEDAGOGOS - APROXIMAES

    Silva, Maria Ruth Sartori da.- UEL

    [email protected]

    Leite, Sandra Regina Mantovani.- UEL

    [email protected]

    Resum

    1 Maria Ruth Sartori da Silva Mestre em Educao pela Universidade Estadual de

    Londrina, docente titular do curso de Pedagogia do Departamento de Educao na

    Universidade Estadual de Londrina, atua na rea de polticas e gesto da Educao.

    Leciona as disciplinas: Trabalho Pedaggico na Gesto Escolar, Educao e Trabalho.

    Participa do Projeto de extenso: GEPEJA Grupo de Estudos Pedaggicos de Educao

    de Jovens e Adultos.

    2 Sandra Regina Mantovani Leite Mestre em Educao pela Universidade Estadual de

    Londrina, docente titular do curso de Pedagogia do Departamento de Educao na

    Universidade Estadual de Londrina, atua na rea de formao de professores para a

    Educao Infantil e Anos Iniciais, com nfase nos temas de formao de professores;

    projeto poltico pedaggico, famlia e escola e organizao do trabalho pedaggico.

    Participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Infncia; Projeto de Pesquisa em

    Infncia, Experincia e Formao de Professores e Projeto de Extenso Infncia e

    Ludicidade: Oficinas e Vivncias.

    Resumo:

    O presente estudo busca refletir as mudanas no mundo do trabalho e as

    implicaes na formao do trabalhador. As transformaes, que tm ocorrido no processo

    de globalizao econmica, provocam repercusses nas polticas pblicas, e conduzem os

    pases a se ajustarem, implementando medidas de conteno de despesas, reduzindo os

    investimentos na rea social. A globalizao econmica reflete nas polticas pblicas. As

  • mudanas ocorrem rumo a racionalizao e modernizao dos servios do Estado,

    implicando em reduo de custos na rea de pessoal, muitas delas. A educao tem sido

    destaque nos debates, sendo colocada num ponto central e de privilgio em que possui a

    proposta de qualidade e esta, sendo assumida como principal aspecto por diversos setores

    governamentais e empresariais. A lgica capitalista, de mercadorizao utiliza-se da

    educao para interiorizar e internalizar as condies legitimadoras do sistema produtivo

    com vistas aceitao passiva da explorao do trabalho, que em nosso caso a educao.

    Desse modo, toma vulto como estratgia, enquanto maneira eficaz para a realizao mais

    eficiente, refinando e aprofundando as novas formas de acumulao e do projeto

    capitalista. Diante disso imposta aos trabalhadores, uma determinada competncia, esta

    entendida sob os auspcios da Unesco e que para os trabalhadores da educao, no caso dos

    Pedagogos, tem o seu trabalho intensificado. Assim o que ocorre uma maior precarizao

    do seu trabalho. A mundializao do capital tende a um mundo mais competitivo tendo

    como tonica, a polivalncia e flexibilidade, em substituio ao trabalho rgido. O que vem

    a propiciar a abertura de um campo favorvel s mudanas, reformas e ajustes na qual est

    inserida a proposta toyotista de reorganizao do trabalho. Tal fato leva a formao destes

    profissionais seguir as transformaes do mundo do trabalho.

    Palavras Chaves: Mundo do trabalho Educao Formao do Pedagogo.

    O Mundo do Trabalho e a Educao

    A relao entre trabalho e educao se apresenta como tema importante para a

    formao dos educadores, como tambm para os que querem aprofundar seus estudos nesta

    rea de trabalho.

    As questes referentes educao e ao trabalho tm estado fortemente entrelaadas

    no decorrer dos tempos histricos, perpassando toda a histria da humanidade. Uma

    reviso desse percurso, revela que o setor econmico determina as mudanas de rumo da

    educao, que se modifica de acordo com as ideologias econmicas hegemnicas que se

    sucedem, embora as transformaes contenham resqucios dos desejos de grupos vencidos

    ainda que camuflada ou veladamente.

    Parafraseando Saviani (2007), podemos dizer que Trabalho e Educao so

    atividades especificamente humanas, sendo assim, apenas o ser humano trabalha e educa,

    ou seja, o homem precisa ser entendido e constitudo como ser possuindo propriedades que

  • lhe permitem trabalhar e educar. Pressupe-se, portanto, uma definio de homem que

    indique em que ele consiste, isto , sua caracterstica essencial a partir da qual se possa

    explicar o trabalho e a educao como atributos do homem. E, nesse caso, fica evidente

    que o homem se diferencia dos outros animais medida que se apropria, transforma e

    transformado pela sua relao com a natureza atravs do trabalho.

    [...] o homem se diferencia propriamente dos animais a partir do momento em que comea a produzir seus meios de vida, passo este que se encontra condicionado por sua organizao corporal. Ao produzir seus meios de vida, o homem produz indiretamente sua prpria vida material (MARX, 1998, p. 19 itlico no original).

    Na sociedade capitalista contempornea a educao dual se apresenta como marca

    registrada num mundo globalizado em que a produo de objetos e mercadorias se resume

    educao profissional/politcnica ou tecnolgica do trabalhador e a educao da classe

    dominante fica voltada para a comunicao e fruio dos bens.

    O capital passa a ser compreendido enquanto investimento no potencial

    humano, havendo conforme aponta Cattani (1997, p. 35), a redefinio das relaes de

    trabalho na empresa e no papel do sistema educacional. O trabalho deixa de ser

    compreendido enquanto ao de transformao da natureza por meio da produo das

    condies materiais para a vida humana, passando a ser entendido como uma mercadoria

    geradora de lucro para quem dele se apossa (o empregador). Assim, a capacitao do

    trabalhador surge como ponto importante para o aumento da produtividade. Entendia-se

    que a qualidade deste, dependia da formao escolar e profissional, garantindo a produo.

    A formao do trabalhador, segundo a anlise de Cattani (1997) a esse

    respeito, que proporcionaria mais lucro para as empresas e para os trabalhadores, pois

    cada um proveria o seu capital pessoal, na perspectiva de investir na prpria formao e na

    anlise de suas compensaes. O autor acima citado afirma ainda, que essa idia de

    formao do trabalhador, com vistas eficcia do trabalho e do aumento de lucro, est

    presente nas obras de Adam Smith.

    No Brasil, as agncias como a Comisso Econmica para a Amrica

    Latina (CEPAL) e o Banco Mundial foram os representantes internacionais que

    disseminaram as estratgias capazes de criar o capital humano, investindo na educao,

    com o discurso de superar as desigualdades sociais. No entanto, essa defesa de mais

    ateno para a educao, no trouxe consigo a reflexo crtica sobre a internacionalizao

    econmica, da qual os pases da Amrica Latina, incluindo o Brasil, foram e esto sendo

    obrigados a participar (MIRANDA, 2000). Essa concepo tem sido promotora de valor

  • sem a interveno do trabalhador, ocultando a produo de mais valia, a qual produz e

    reproduz a relao capitalista.

    Assim, a Teoria do Capital Humano o modo capitalista de compreender

    a Educao, desvirtuando o conceito dela como prtica social, tcnica e histrica. A partir

    desta outra postura, a educao passou a ser vista como prestao de servio e que tem

    como funo tcnica principal, formar recursos humanos. Acaba por encobrir a realidade

    de modo que, Miranda (1995, p. 61) analisa como sendo para substituir as relaes de

    dominao e explorao pela ideologia do mrito, esforo, satisfao prpria, criatividade

    e racionalidade.

    A partir dos anos 60 do sculo XX a teoria do capital humano difundiu-se,

    com o propsito de tornar o potencial humano, enquanto pea fundamental para o

    crescimento econmico, a fim de recompor o capitalismo, apontando alguns pontos com

    formas articuladas, os quais seriam: A substituio da dominao e da explorao pela

    ideologia meritocrtica; o trabalho entendido como mercadoria; a educao compreendida

    como prestao de servio tcnico que tem o objetivo de formar recursos humanos.

    Pode-se ressaltar que a Teoria do Capital Humano tem como funo a

    camuflagem da dimenso poltico-ideolgica da educao, sob o patamar de aparente

    cientificidade que, na perspectiva de Miranda (1995, p. 62), significava a formao de

    recursos humanos no planejamento da educao e a formao profissional atravs da

    escola. Essa ideologia acabou colocando a Educao como fator tcnico de produo, de

    acordo com as necessidades capitalistas, no intuito de que o poder econmico se tornasse o

    grande Deus Salvador, fazendo com que os seres humanos usassem uma espcie de

    adorao, pelo valor e leis do mercado e pela produtividade. Ao mesmo tempo, pauta-se

    pelo objetivo maior de tornar a educao competitiva, produtiva e antenada com as

    necessidades industriais e empresariais.

    A Teoria do Capital humano tem atualmente buscado nova interpretao

    ideolgica, de maneira que justifique as relaes de poder e de explorao contidas na

    globalizao. Engloba caractersticas prprias da ideologia dominante, com o discurso da

    sociedade do conhecimento, que acaba por exigir novas qualificaes e habilidades para

    a manuteno dos trabalhadores no mercado de trabalho. As novas exigncias pautam-se

    pela flexibilidade, capacidade de comunicao e participao. Estes aspectos so vistos

    como fundamentais a partir da argumentao, para a atuao dos trabalhadores num

    modelo de produo que rompe e supera o modelo taylorista de produo. Neste sentido,

    espera-se que a escola tenha a capacidade de garantir a educao bsica que, neste contexto

  • de todo o debate e discurso, deve garantir a apropriao dos novos conhecimentos,

    ajustando-os flexibilizao do novo padro de produo.

    Em um segundo momento deste estudo, faz-se a anlise sobre a

    globalizao. A globalizao uma conseqncia da transformao do capitalismo.

    Necessita, para manter a hegemonia, fortalecer os pases ricos e impor aos pases pobres a

    condio de consumidores. Na medida em que reorganiza as formas de consumo e

    produo, elimina as fronteiras comerciais, com o objetivo de integrar mundialmente a

    economia. Indica fatores econmicos, sociais, polticos e culturais, mostrando a etapa em

    que o capitalismo se encontra atualmente. Sugere, a idia de movimentao, como

    percebemos na anlise de Libneo (2003, p.51) as pessoas esto no meio a um acelerado

    processo de integrao e de reestruturao capitalista.

    As naes tm diante de si muitas realidades e desafios. Esto s voltas

    com a implementao de polticas econmicas e sociais, a fim de atender aos interesses

    hegemnicos, industriais e comerciais de conglomerados financeiros dos pases ricos, tais

    como: Japo, Estados Unidos e Unio Europia.

    De todas as polticas, a Educacional foi a mais afetada, visto estar sujeita

    s exigncias da produo e mercado. Os organismos internacionais traaram polticas

    educacionais aos pases mais pobres, na perspectiva de otimizar os sistemas escolares

    tendo em vista atender as demandas da globalizao, para uma educao que atendesse ao

    processo produtivo e para a formao de consumidores. Alm do interesse em reformular o

    papel do Estado na educao, tambm esto preocupados com os efeitos que as polticas

    neoliberais esto trazendo aos pases, conseqncias como o do desemprego e a excluso

    social (FRIGOTO, 1997).

    Ainda de acordo com este autor, as reformas educacionais dos anos 90 do

    sculo XX tiveram carter excludente devido aos ajustes neoliberais e aos monoplios

    tecnolgicos e cientficos. Estes fatos provocaram grandes transformaes econmicas e

    polticas. O neoliberalismo na perspectiva poltico-ideolgico tem como princpios:

    O capitalismo atual coloca fim s classes sociais, aliena e explora;

    As relaes de mercado legitimam a regulao dos interesses humanos e sociais,

    O Estado Mnimo tornar o Estado mais eficiente.

  • Esses princpios neoliberais impem as diretrizes das instituies

    educacionais de acordo com os interesses das organizaes empresariais, no sentido de

    produo de servios educacionais. A educao entendida na perspectiva de mercadoria,

    sob a tica de mercado; vista como ponto estratgico frente produtividade e a

    competitividade que deveria atender a capacitao e ao perfil de trabalhadores, exigidos

    para estes novos tempos, em prejuzo da educao entendida como dever do Estado e um

    direito incontestvel de todos os cidados.

    No processo de produo as novas tecnologias e as formas flexveis de

    organizao da produo necessitam de um trabalhador mais qualificado. Significa que ele

    deve ser polivalente, flexvel, verstil; que aprenda rpido, seja autnomo; que tenha

    iniciativa, seja especializado em sua funo, qualificado intelectual e tecnologicamente. Ao

    contrrio disso, a desqualificao significa excluso do processo produtivo.

    Assim, com o aumento cada vez maior da qualificao do trabalhador, a

    educao necessitou ser mais flexvel, mais polivalente, promovendo novas habilidades

    cognitivas, competncias sociais e pessoais, domnio de linguagem oral e escrita e

    conhecimentos de linguagens da informtica.

    O maior desafio para a educao est na capacitao de mo-de-obra e na

    requalificao dos trabalhadores, a fim de dar conta das exigncias do sistema produtivo e

    formar o consumidor para um mercado competitivo. Assim transformar a escola um

    desafio empresarial.

    A crise apontada pelos neoliberais origina-se na estrutura ineficiente do

    Estado em gerir polticas pblicas. Para esta transformao do Estado inoperante,

    preciso, segundo o neoliberalismo, a construo de um mercado educacional que se traduza

    em eficincia, competio e produtividade. Isto significa que o carter poltico da educao

    passou a ter carter de mercado, na viso neoliberal. Desse modo, as polticas pblicas e a

    legislao trouxeram em seu bojo princpios da organizao empresarial de mercado,

    baseados na produtividade, competitividade, flexibilidade e eficincia.

    Octavio Ianni (1998 p.28) afirma que o que est no auge a busca de

    maior e crescente produtividade, competitividade e lucratividade, tendo em conta mercados

    nacionais, regionais e mundiais, haja vista a impresso de que o mundo se transforma no

    territrio de uma vasta e complexa fbrica global e, ao mesmo tempo, em shopping center

    global e disneylndia global.

    As novas tecnologias trazem a exigncia para a formao do trabalhador

    tendo como objetivo a empregabilidade, que este seja autnomo, capaz de se comunicar,

  • trabalhar em grupo, responsabilidade, disciplina, curiosidade, ser polivalente e flexvel.

    Frigoto (1994 p.51) ao analisar nos diz que: se o capital se constituir no sujeito definidor

    dessas capacidades abstratas numa perspectiva de multi-habilitaes, de uma formao

    polivalente; continuar, todavia, uma formao seletiva, fragmentria, pragmatista e

    produtivista.

    Os desafios que se processam para a educao na atualidade a de que o

    aluno domine os contedos bsicos da cincia contempornea que fundamentam os novos

    processos sociais e produtivos. H a necessidade de novas atitudes e comportamentos

    perante a sociedade e o trabalho, uma nova tica de responsabilidade, de crtica e de

    criao, voltada para a preservao da vida, do ambiente, e para a construo da

    solidariedade, como condies necessrias para a criao de uma sociedade mais humana e

    mais igualitria, que supere a excluso.

    A lgica capitalista, de mercadorizao utiliza-se da educao para

    interiorizar e internalizar as condies legitimadoras do sistema produtivo com vistas

    aceitao passiva da explorao do trabalho, que em nosso caso a educao, alienando,

    causando o estranhamento do trabalho, levando-o a no se reconhecer, a se negar e se

    degradar.

    O profissional deixa de lutar pela manuteno de algo que seu e passa a

    simplesmente cumprir os ditames de seu empregador. Deixando acontecer a perda dos

    limites do posto de trabalho, das tarefas, das habilidades e da sua competncia.

    Freitas (2006, p. 17) ao analisar as Diretrizes Curriculares para o Curso de

    Pedagogia diz que a Pedagogia a nica rea que, aceitando o poder regulador do estado

    e de seu brao normatizador, abriu mo de manter, reafirmar, referendar, enquanto rea

    como um todo, propostas j construdas coletivamente por todas as entidades da rea.

    Assim, o pedagogo agora precisa aprender os vrios processos para que

    possa atuar na escola nas vrias funes de acordo com as necessidades do dia-a-dia, que

    conforme aponta Oliveira (2004, p.77) est a exigir um trabalhador que aprende vrios

    processos e que capaz de ser deslocado para as vrias tarefas de acordo com a

    necessidade da produo diria. O que significa que todos devem estar atentos para

    resolver os problemas. Temos agora, profissionais polivalentes e multifuncionais que vo

    tratar apenas das questes emergenciais na escola, deixando de lado, a reflexo na escola

    para alm do cotidiano.

    Saviani ressalta que o que ele denominou como concepo produtivista

    de educao impulsionada pela teoria do capital humano formulada nos anos 50 do

  • sculo XX, se tornou dominante no pas a partir do final da dcada de 1960 permanecendo

    hegemnica at os dias de hoje (2007, p.121).

  • O Pedagogo e o trabalho coletivo: agente de transformao democrtica

    Considerando, que aps a promulgao das Diretrizes Curriculares para o

    Curso de Pedagogia, a formao do licenciado em pedagogia fundamenta-se no trabalho

    pedaggico realizado em espaos escolares e no-escolares e que tem a docncia como

    base. Docncia entendida como ao educativa e processo pedaggico metdico e

    intencional, construdo em relaes sociais, tnico-raciais e produtivas, as quais

    influenciam conceitos, princpios e objetivos da pedagogia. Faz-se necessrio um claro

    entendimento, por todos os que trabalham com a formao desse profissional, da sua

    importncia como mediador e gestor de prticas comprometidas com a coletividade e com

    a democratizao de todos os espaos de atuao do mesmo, evitando dessa forma a

    precarizao do trabalho e explorao do profissional.

    O pedagogo como educador e membro do processo de democratizao no

    interior da escola no pode trabalhar sozinho. Ele o lder do processo de transformao,

    de coletividade, das participaes e das instncias colegiadas presentes no interior da

    instituio escolar.

    A democracia dentro da escola exige um trabalho coletivo intenso,

    fazendo com que a equipe pedaggica (ao contrrio do que os burocratas de planto

    sinalizam), alunos, funcionrios e as famlias possam tomar decises e ter um controle

    democrtico do Estado (autonomia de deciso financeira, pedaggica e administrativa)

    atravs de uma educao escolar de quantidade e qualidade de acordo com os direitos e

    interesses dos cidados.Todos esses princpios implicam uma nova escola, onde novos

    processos de participao na gesto da escola pblica devem ser implementados,

    envolvendo comunidade, professores, coordenadores, supervisores, orientadores

    educacionais, pais e alunos na definio das polticas e na orientao para a gesto de

    sistemas com autonomia para a escola.

    O papel do Pedagogo dentro da escola democrtica de conscientizar a

    equipe pedaggica da importncia do trabalho coletivo, inclusive sobre a participao

    concreta da famlia dos educandos, desenvolvendo um trabalho de acordo com a realidade

    do aluno.

    De acordo com Grinspun, o Pedagogo:

  • Atua junto com os demais professores da escola, participando de um projeto coletivo, de uma formao de um homem coletivo, procurando identificar as questes das relaes de poder, das resistncias dentro e fora da escola e do como e do porqu devemos agir juntos em prol de uma educao transformadora e, especialmente, junto aos alunos no desenvolvimento do que caracteriza sua subjetividade (2003, p.88).

    preciso que o Pedagogo dentro de uma escola democrtica exercite os

    alunos a vivenciarem e pensarem realmente a democracia, atravs do seu cotidiano e de

    atividades intencionais, fazendo os alunos a refletirem sobre essa questo, ou seja, da

    importncia do outro e do coletivo no decorrer da vida.

    Garcia ressalta que em uma escola democrtica preciso:

    que se desenvolva nos alunos, em sua totalidade, e no simplesmente nas minorias, as possibilidades de argumentar, de discutir, de expressar seus interesses, de encontrar canais de comunicao dos interesses de seu grupo, de se organizar coletivamente, e num determinado momento, de liderar e fazer circular as lideranas, para que futuramente eles se capacitem a falar pela sua classe ou a escolher seus representantes e control-los (1999, p. 24).

    O Pedagogo o articulador dessas propostas na instituio escolar, ele

    quem organiza e planeja essas atividades essenciais para se obter uma educao

    democrtica, favorecendo a formao do indivduo enquanto cidado transformador.

    O objetivo do profissional Pedagogo colaborar no processo pedaggico,

    na administrao do espao e tempo da escola, visando sempre a melhor forma e atender o

    aluno, compreendendo a realidade e as subjetividades de cada um e a partir disso ser

    mediador na construo dos conhecimentos e do campo afetivo. No entanto, o pedagogo

    deve estar atrelado com a comunidade e a realidade do aluno e suas especificidades, para

    contribuir de maneira mais efetiva no seu desenvolvimento.

    fundamental que o Pedagogo esteja atento a realidade do aluno, ou seja,

    as experincias que acontece com ele fora da escola, as suas barreiras, fragilidades e

    angstias, podendo intervir para ajud-los a superar o problema com ajuda de outros

    profissionais e da famlia. Mas, para que haja de concreto essa democracia necessrio que

    o pedagogo aprenda a trabalhar com alunos oriundos de grupos scio-culturais e

    econmicos diversos, fazendo o seu papel atravs da interveno pedaggica para que

    estes alunos tenham acesso cultura acumulada historicamente.

    De acordo com Garcia:

  • O ponto de partida a diversidade; o ponto de chegada que a homogeneidade, para que todos os alunos tenham acesso ao saber que buscam na escola. Que tenham acesso instrumental, que para eles no s tem o sentido de melhoria de condies de vida, mas tambm constitui em instrumento de luta, na transformao desta sociedade, na qual eles se colocam to mal, no por opo, mas pelo modo como ela se organiza (1999, p.33).

    A identidade do Pedagogo a ao pedaggica, ou seja, todas as

    atividades intencionais voltadas para o educacional e para o educativo, proporcionando aos

    alunos o saber sistematizado e a formao do indivduo enquanto cidado, desenvolvendo

    propostas respeitando as individualidades de cada um. Para isso o pedagogo tem o papel de

    investigao, de conhecer melhor a realidade de seus alunos, podendo intervir da melhor

    maneira possvel no desenvolvimento do aluno, respeitando as suas singularidades.

    Grinspun diz que essa realidade:

    Ser tratada a partir dos valores que a envolve, da tica que a constitui, do significado histrico que a determina. Essa realidade no s a do aluno, mas a do prprio contexto histrico precisa ser compreendida em uma viso maior, com todos os componentes do tecido social. Precisamos lembrar que estamos formando o aluno para um novo tempo, onde a cincia e a tecnologia, apesar dos avanos, trazem para este aluno, para o homem, as novas necessidades, os novos desconfortos do progresso. As novas conquistas novos valores, novas leituras daquela realidade (2001, p. 29).

    O aluno deve ser preparado para enfrentar essa sociedade de alienao,

    onde muitos aceitam a sua condio e so oprimidos. Por isso, fundamental que o

    Pedagogo esteja atento as prticas sociais dos docentes, para que os mesmos no

    contribuam para essa situao de opresso.

    O Pedagogo pode contribuir para essa transformao social, deve

    conscientizar toda equipe pedaggica da importncia das atividades que desenvolvam o

    raciocnio, como trabalho em grupo (socializao e liderana), debates, proporcionado

    sempre aos alunos situaes de conflito para que eles possam resolv-los ou solucion-los.

    O Pedagogo de acordo com Grinspun deve promover na escola:

    Condies para a socializao e a participao dos alunos em uma sociedade em mudana, assim como possibilitar aos alunos o acesso aos bens culturais, cientficos e tecnolgicos desta sociedade. Para tanto, a escola deve oportunizar a aquisio do conhecimento a ser construdo, bem como os meios necessrios para tal atividade. Alm dos aspectos cognitivos, tero importncia os demais aspectos bsicos quela construo, revestido de vivncias e Experincias que o aluno dever realizar. A escola deve reconhecer a bagagem que o aluno traz e estimul-

  • lo para que ele, sempre, seja capaz de produzir e criar. Inserida neste contexto temos, ento, uma construo do prprio sujeito, que envolve o auto e o heteroconhecimento, a questo da participao nas aes coletivas, os valores nas escolhas efetuadas e a responsabilidade e autonomia nas decises efetivadas (2001, p.154-155).

    O papel do Pedagogo na instituio escolar em relao ao professor,

    diante de um trabalho de humanizao do indivduo :

    de argumentar, discutir e refletir sobre as problemticas existentes de forma a tornar o aluno, principalmente mais crtico e consciente da sociedade evidenciando os conceitos de parceria, coletividade, solidariedade, entre outros, para um pas que se quer mais justo, mais humano e mais solidrio (GRINSPUN, 2003, p.90).

    Tendo em vista a importncia dessa formao crtica, preciso que o

    Pedagogo tenha um trabalho integrado com os docentes, pois eles so os protagonistas

    dessa educao. Este trabalho deve propiciar momentos constantes de reflexo, ou seja,

    toda ao educativa deve ser refletida, o pedagogo condicionar que os educadores e os

    alunos tenham o hbito de refletir sobre suas aes para poder melhor-las.O movimento

    de ao-reflexo, evidencia-se, de forma difusa, no intercmbio entre os atores na

    sociedade e de forma sistematizada na escola e demais instncias educativas da sociedade.

    A ao-reflexo no sentido da conscincia histrica e crtica requer considerar a

    pluralidade dos olhares destes atores sobre a realidade e a parcialidade do conhecimento

    diante da dinamicidade do scio, pressupondo a superao da conscincia verbal (senso

    comum). Por vezes, passando da subordinao e da passividade diante das situaes de

    dominao para uma poltica transformadora da realidade social, para uma prxis.

    A atuao do Pedagogo est em orientar e supervisionar esses

    profissionais da educao, atravs de trabalhos coletivos envolvendo sempre a

    interdisciplinaridade dos contedos, para uma melhor compreenso do processo

    pedaggico da escola. fundamental que as prticas educativas estejam de acordo com o

    Projeto Poltico Pedaggico da escola, pois este construdo coletivamente com o objetivo

    de aprimorar a aprendizagem do aluno, no entanto o Pedagogo deve condicionar momentos

    em que o professor tenha acesso esse projeto.

    Placco ressalta que os pedagogos:

    Um dos educadores da escola dever participar de uma ao educacional coletiva, assessorando o corpo docente no desencadeamento de um processo em que a sincronidade desvelada. Torna-se consciente, autnoma e direcionada para um compromisso com uma ao pedaggica

  • competente e significativa para os objetivos propostos no projeto poltico da escola (apud GRINSPUN, 1999, p. 6).

    O planejamento essencial para que o pedagogo possa avaliar o cotidiano

    de cada professor, de cada sala de aula, de cada espao, verificar se as propostas

    pedaggicas esto de acordo com o Projeto Poltico Pedaggico e com os parmetros

    curriculares nacionais. A ao de avaliao e superviso fundamental, pois assim ter

    viso do todo da instituio.

    Esse tipo de avaliao faz com que o Pedagogo esteja mais presente nas

    dificuldades dos professores, podendo contribuir para corrigir as falhas presenciadas, como

    a metodologia, didtica, apoiando o educador nos momentos de fragilidades e dvidas. A

    hora atividade tambm deve ser supervisionada e orientada pelo Pedagogo, sendo um

    espao que o educador pode utilizar para aprimorar e enriquecer seu trabalho pedaggico

    desenvolvido em sala de aula.

    As reunies pedaggicas coletivas e grupos de estudos organizados pelo

    Pedagogo tambm so fundamentais, sendo um espao da formao continuada na busca

    do aprimoramento dos saberes e dos conhecimentos, com o objetivo de se obter maior

    desempenho em sala de aula na formao do sujeito, contribuindo para a formao critica e

    tica desse cidado.

    Placco afirma que essa mediao um compromisso do pedagogo:

    Com a formao contnua de seus professores, na medida em que esta exigncia do prprio movimento de desenvolvimento da sincronidade do profissional e da evoluo do conhecimento. Cada ao formadora a ser desencadeada possibilita a ocorrncia de ampliao da conscincia da sincronidade do professor, portanto, um clareamento das direes a serem impressas ao projeto coletivo da escola (2006, p. 101).

    O pedagogo tem um importante papel dentro da escola, tem o

    compromisso com seus alunos, com a formao da cidadania, trabalhando com o aluno em

    sua totalidade, com suas emoes e razes, construindo um ser humano capaz de enfrentar

    as situaes de seu cotidiano pensando em um bem estar social. Tambm tem o

    compromisso com o educador, de apoi-lo, pois ele o mediador do ensino aprendizagem.

    De acordo com Grinspun o Pedagogo tem um compromisso com os alunos em primeiro

    lugar, buscando que eles reflitam e compreendam o mundo de valores em especial a tica

    que circunda o nosso meio (1999, p.93).

    Portanto, o Pedagogo deve estar atento a tudo o que acontece na escola, na

    sociedade e com o aluno, deve refletir sobre as questes internas e externas do ambiente

  • escolar, acompanhando integralmente os alunos em todos os aspectos e desenvolvendo

    projetos que os fazem refletir, que favoream a no vulnerabilidade do educando,

    permitindo a este uma condio melhor e satisfatria de vida.

    O trabalho do pedagogo junto famlia essencial, pois atravs dessa

    relao o educador poder compreender mais as dificuldades, o cotidiano das crianas. O

    pedagogo deve incentivar a famlia nessa participao, com o objetivo de auxiliar o

    desenvolvimento da criana.

    A atuao do pedagogo junto a famlia e a participao dos alunos podem

    ocorrer de diferentes formas, como na construo do Projeto Poltico Pedaggico, atravs

    de reunies, grmios estudantis e rgos colegiados.

    ...os sistemas escolares podem contar com os rgos colegiados, como associao de pais e mestres (existente na maioria dos sistemas de ensino), conselho de escola (em considervel nmero de sistemas que experimentaram algum tipo de democratizao da gesto) e grmio estudantil (tambm previsto em muitos sistemas, mas com concorrncia ainda modesta) (PARO, 2007, p.82).

    Segundo Gentile (2006) a famlia a primeira referncia educacional no

    qual o indivduo tem contato, por isso a demonstrao de interesse em relao ao processo

    educacional escolar importante. Este interesse e incentivo apesar de simples contribuem

    para o sucesso da aprendizagem.

    A atuao do pedagogo junto comunidade e a famlia indispensvel, os

    alunos entram na escola com conhecimentos prvios que devem ser respeitados, por isso

    necessrio que o pedagogo conhea a realidade de cada um para assegurar um ensino de

    qualidade, com oportunidades e crescimento pessoal e profissional.

    O papel do pedagogo junto a comunidade escolar e no escolar

    imprescindvel na escola democrtica, assim poder construir coletivamente a formao do

    indivduo, estabelecendo critrios para um ensino de qualidade, formando cidados ticos,

    crticos, transformadores, capazes de melhorar o mundo.

    De acordo com Paro o pedagogo tem a funo de:

    ...de tornar a unidade escolar agradvel e atrativo a seus usurios diretos e indiretos, dotando-a dos competentes mecanismos de participao capazes de atrair pais e demais componentes da comunidade externa, na convico de que sua participao no apenas um direito de participao no controle democrtico do Estado nos servios que este oferece populao, mas tambm uma necessidade da escola, se esta fazer-se da fato educativa. (2007, p.113).

  • Portanto, o pedagogo tem que dar o ponto de partida, construir a poltica

    da escola com todas as pessoas que contribuem na educao, incentivar os pais para essas

    discusses, pois juntos estabelecero critrios para o ensino de qualidade e a formao

    integral do ser humano. A gesto democrtica em suas diferentes formas de conselhos e

    colegiados, precisa desenvolver uma cultura participativa nova, que altere as mentalidades,

    os valores, a forma de conceber a gesto pblica em nome dos direitos da maioria.

    preciso desenvolver saberes, atravs de pesquisas e estudos nos cursos de formao de

    professores, que orientem as prticas educativas e sociais e que valorizem a relao

    pedaggica.

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