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TRABALHO FINAL Lideranças intermédias: Projeto de intervenção para a melhoria das práticas dos coordenadores de departamento UC de Modelos Organizacionais e Liderança Ercília Costa Fátima Poças Fevereiro de 2014

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TRABALHO FINAL

Lideranças intermédias: Projeto de intervenção para a melhoria das

práticas dos coordenadores de departamento

UC de Modelos Organizacionais e Liderança

Ercília Costa

Fátima Poças

Fevereiro de 2014

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Trabalho Final

UC de Modelos de Modelos Organizacionais e Liderança

Resumo:

Os órgãos de administração e gestão assumem um papel preponderante na forma

como as escolas são geridas e organizadas. Os departamentos curriculares, enquanto

estruturas intermédias, sempre tiveram um papel estruturante na articulação e gestão

curricular. O coordenador de departamento curricular é um dos principais pilares da

escola, como estrutura de coordenação e supervisão pedagógica, com a responsabilidade

de, com a sua equipa, promover um trabalho conjunto com vista à melhoria da

qualidade do ensino e da aprendizagem. Considerando a importância do coordenador

enquanto líder de uma equipa, apresentamos um projeto de intervenção, a desenvolver

pelas escolas, dando respostas às necessidades sentidas nesta área de formação.

Palavras-chave: liderança; gestão; coordenadores de departamento curricular;

organização; projeto; formação.

Abstract:

School organization and management depend deeply on its administrative and

executive boards. Despite the educational reforms over the last 30 years in Portugal,

curricular departments, as intermediate structures, have always played an important role

in curricular management and articulation. Heads of department, as academic leaders,

are responsible for the pedagogical coordination and supervision of their team so that,

through collaborative work, educative success is achieved. The purpose of this paper is

to present an intervention project based on a collaborative and reflective approach to

teacher education which would meet the needs of schools.

Key-words: leadership, management, heads of curricular departments, organization,

project, teacher education.

Introdução

Desde 1974, a escola tem passado por vários processos de mudança e a gestão da

mudança constitui uma das preocupações fundamentais dos líderes. Nas últimas três

décadas, as constantes alterações legislativas sobre a organização escolar reforçam a

necessidade de lideranças fortes e eficazes.

No preâmbulo do Decreto-Lei nº 75/2008, de 22 de abril, que aprovou o regime

de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-

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escolar e dos ensinos básico e secundário, consta que se pretende “reforçar as lideranças

das escolas, reconhecendo ser uma das mais necessárias medidas de reorganização do

regime de administração escolar”. Destaca, ainda, a importância da “criação de

condições para que se afirmem boas lideranças e lideranças eficazes”. No preâmbulo do

Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho que procede à segunda alteração ao Decreto -

Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, e o republica, é reforçada a hierarquização no exercício

dos cargos de gestão, reconhecendo a importância do coordenador de departamento na

organização escolar e consagrando “mecanismos de responsabilização no exercício dos

cargos de direção, gestão e de gestão intermédia”. Este normativo vem reforçar o papel

dos coordenadores de departamento curricular, como principal estrutura de coordenação

e supervisão pedagógica, articulação e gestão curricular, com a responsabilidade de

liderar uma equipa cujo trabalho deve refletir-se na melhoria da qualidade do ensino e

da aprendizagem. Como consequência dos desempenhos das suas funções e

desenvolvimento das suas competências, os coordenadores de departamento têm de

assumir, necessariamente, o papel de líderes capazes de mobilizarem os professores que

coordenam.

Estas novas dinâmicas de poder levam à necessidade das escolas desenvolverem

ações de desenvolvimento profissional para as lideranças intermédias, nomeadamente

dos coordenadores de departamento curricular. É este desafio que nos propomos realizar,

apresentando um plano de intervenção.

O presente trabalho apresenta duas partes: a primeira, de fundamentação teórica,

onde serão abordadas as temáticas da organização, liderança e gestão, liderança em

contexto escolar e o coordenador de departamento enquanto líder. A segunda parte

apresenta o plano de intervenção.

Enquadramento teórico

Conceito de organização

As organizações fazem parte da vida de qualquer pessoa, desde da sua nascença

até à sua morte, e assumem hoje um enorme protagonismo, na medida em que toda a

sociedade está organizada em torno de organizações com as mais diferenciadas funções.

Apesar disso, Trigo & Costa (2008, p. 563) consideram que não é fácil explicitar o

conceito de organização por se tratar de “um conceito complexo, passível de diferentes

abordagens e conceções” e Teixeira (2005) que se trata de uma palavra que, mesmo em

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gestão empresarial, pode ser usada com mais do que um significado. Teixeira (2005, p.

85) define organização como “um conjunto de pessoas agrupadas à volta de objetivos

comuns cujo cumprimento implica, de algum modo, algumas limitações no

comportamento individual”, definição semelhante à de Etzioni (cit. por Trigo & Costa,

2008, p. 563) que define as organizações como “unidades sociais (ou agrupamentos

humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos

específicos”. Numa linguagem metafórica Cunha et al (cit. por Trigo & Costa, 2008, p.

563) apresentam cinco metáforas organizacionais: a “organização racional”; a

“organização orgânica”; a “organização política”; a “organização cognitiva” e a

“organização humana”. Além destas cinco, apresentam uma outra que denominam como

“a metáfora das metáforas” que é a “organização como amálgama” e que é reveladora

da realidade complexa e multidensional das organizações (Ibidem). Apesar das

múltiplas definições, o conceito de organização apresenta como elementos comuns:

composição (indivíduos e grupos interrelacionados); orientação para objetivos e fins;

diferenciação de funções; coordenação racional intencional e continuidade através do

tempo (Muñoz & Perez cit. por Trigo & Costa, 2008, p. 563).

As contribuições de cada participante da organização variam em função das

diferenças individuais e também em função das oportunidades de participação

oferecidas pela organização. As organizações são tidas como sistemas orgânicos, nos

quais ocorre uma consciencialização coletiva dos participantes pelos seus destinos e

pela orientação necessária para melhor os atingir. Desenvolve-se uma nova

consciencialização social dos participantes na vida organizacional, não somente deles

em relação à organização interna, mas também, e principalmente, no papel que a

organização deve ter em relação ao ambiente em que se encontra.

A escola como organização

A escola é um espaço organizacional próprio que assenta em valores, normas,

perceções, comportamentos e sentimentos próprios. Qualquer que seja a definição

adotada para “mudança”, uma organização está sempre sujeita a situações mutáveis,

tanto no contexto externo como no interno, de acordo com o processo natural de

mudança. Esse processo de mudança é dito “natural”, pois admite que todas as

organizações estão sujeitas a forças desestabilizadoras para o status quo. Tal como as

restantes organizações, também a escola se encontra sujeita a processos contínuos de

mudança para se adaptar às alterações do seu meio envolvente, o que implica que os

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processos de mudança e de inovação exigem a compreensão da instituição escolar, em

toda a suas complexidade.

É importante compreender as teorias da organização para melhor compreender a

escola do ponto de vista organizacional. Tendo como ponto de partida as várias teorias

subjacentes aos vários modelos organizacionais da escola, Costa (1996) definiu-as

como: a escola como empresa; a escola como burocracia; a escola como democracia; a

escola como arena política; a escola como anarquia e a escola como cultura. Estas novas

teorias de administração contribuem para a caracterização da escola enquanto

organização, no seu contexto mais abrangente. A escola como organização tem que ser

vista para além do modelo burocrático e de anarquia organizada que a caracterizou

durante alguns anos. Considerando as características dos vários modelos, a escola

enquanto organização contém quase “obrigatoriamente” aspetos dos vários modelos

organizacionais. Assim, como escola empresa, destacamos os programas e planificações

das várias disciplinas com regras uniformes e aplicadas ao território nacional, o

calendário escolar anualmente definido pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC).

O modelo burocrático está presente no funcionamento/ organização e identifica-se na

hierarquia, divisão do trabalho, normas e procedimentos, uma vez que todas as escolas

se regulam pela legislação emanada dos Ministérios, especialmente do MEC. A escola

como democracia dá enfâse ao homem como ser social e no desenvolvimento de

processos participativos na tomada de decisão, sendo a que melhor reflete a realidade

em que cada escola está inserida. A escola como anarquia é, em termos organizacionais,

uma realidade complexa, heterogénea, problemática e ambígua. A escola como cultura

apresenta uma escola diferente de qualquer outra escola, a especificidade própria de

cada escola constitui a sua cultura e a torna diferente das outras organizações e de cada

escola ser “única”.

A escola é uma organização complexa e peculiar e que, no atual cenário de

alguma turbulência, exige lideranças fortes. Mas qual é a melhor forma de liderar as

escolas?

Liderança e Gestão

A liderança escolar é uma temática central na sequência das constantes reformas

de que o nosso sistema educativo tem sido alvo no dealbar do século XXI.

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O conceito de liderança não é de fácil definição e consideramos pertinente

clarificar os conceitos de liderança e gestão que são, muitas vezes, alvo de algumas

confusões concetuais.

Teixeira (2005, p. 3) define gestão como “processo de se conseguir obter

resultados (bens ou serviços) com o esforço do outro. Resumidamente, gerir é

interpretar os objetivos propostos e transformá-los em ação, recorrendo ao planeamento,

organização, direção e controlo dos esforços realizados em todas as áreas e a níveis da

organização, de forma a atingir esses objetivos (Teixeira, 2005). Por sua vez, Kotter (cit.

por Rego, 1997, p. 21) define a gestão como “um conjunto de processos que asseguram

o funcionamento da empresa num mundo estático” contrariamente à liderança que “cria

aqueles processos ou que os altera para aproveitar novas oportunidades e que se torna

imprescindível num mundo em constante mudança”.

Segundo Bass (cit. por Rego, 1997, p. 21), “existem quase tantas definições de

liderança quantas as pessoas que tentaram definir o conceito”. De seguida,

apresentamos algumas definições do conceito de liderança:

- “Conjunto de atividades de um indivíduo que ocupa uma posição

hierarquicamente superior, dirigidas para a condução e orientação das atividades dos

outros membros, com o objetivo de atingir eficazmente o objetivo do grupo” (Syroit cit.

por Rego, 1997, p. 23);

- “Processo de influenciar as atividades de um indivíduo ou grupo no sentido de

deles obter esforços que permitam o alcance de metas numa dada situação” (Hersey&

Blanchard cit. por Rego, 1997, p. 23);

- “Processo através do qual um indivíduo influencia outros membros do grupo,

tendo em vista o alcance das metas organizacionais ou de grupo” (Greenberg& Baron

cit. por Rego, 1997, p. 23);

- "É uma forma especial de influência tendente a levar os outros a mudarem

voluntariamente as suas preferências (ações, pressupostos, convicções), em função de

tarefas e projetos comuns" (Bolívar, 2003: 256);

Em suma, liderança é o processo de conduzir pessoas. É a aptidão para motivar e

influenciar os liderados para que contribuam da melhor forma para os objetivos do

grupo ou da organização.

Importa fazermos a distinção entre líderes e gestores. Apresentam-se as

principais diferenças:

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Líder Gestor

Faz a coisa certa Faz as coisas bem

Potencia as mudanças Procura ordem

Foca-se no futuro, no longo prazo Foca-se no presente, no imediato

Assume riscos Restringe o risco

Apela simultaneamente à razão e à emoção Apela mais à razão do que à emoção

Inova Administra

Desenvolve Mantém

Concentra-se nas pessoas Concentra-se em estrutura e sistemas

Questiona-se sobre o quê e porquê? Questiona-se sobre o quando e como?

Olha o horizonte Olha o fim da linha

Modifica Aceita

Procura agir sobre a situação Rende-se à situação

É original Imitam

As competências de liderança não podem ser

ensinadas/aprendidas

As competências de gestão podem ser

ensinadas/aprendidas

Direciona a visão Planeia

Desafia o status quo Aceita o status quo

Influência de relacionamento Relacionamento de autoridade

Inspira confiança Baseia-se no controlo

Fonte: Adaptado de Rego, 1997

Liderança em contexto escolar

Num contexto de mudança acelerada, globalização e acelerado desenvolvimento

tecnológico, a escola, enquanto organização, é uma instituição dinâmica e complexa,

que necessita de uma mobilização coletiva de todos seus atores em torno dos objetivos

comuns.

Bolivar (2010, p. 11) defende que o desafio que hoje se coloca às escolas, para a

melhoria da educação, passa por alterar o modelo das direções dos estabelecimentos de

ensino, um modelo administrativo-burocrático, desenvolvendo-se equipas de direção

com uma liderança que contribuam para “dinamizar, apoyar y animar que aprenda a

desarrollarse, contribuyendo a construir la capacidade interna de mejora”. As lideranças

em contexto escolar são diferentes das lideranças noutras organizações/contextos

porque as escolas têm “de dar resposta às realidades políticas singulares que enfrentam”

(Sergiovanni, 2004, p. 172) e tendo como fim a melhoria das aprendizagens dos alunos,

defendendo Bolivar (2010) uma liderança educativa/para a aprendizagem ou pedagógica.

A complexidade das lideranças da administração e gestão escolar é reconhecida pelo

próprio MEC. O desafio da liderança é colocado a todos desde o diretor/direção,

conselho geral, conselho pedagógico e conselho administrativos, mas também ao nível

dos órgãos intermédios (conselhos de turma, conselhos de diretores de turma,

coordenadores de departamento, conselhos de docentes) criando uma dinâmica de

trabalho reflexivo, participativo e cooperativo, delegando responsabilidades. O "líder

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não intervém diretamente nas questões didáticas e curriculares, mas procura transformar

a cultura escolar, instaurando mecanismos e estruturas que possibilitem o planeamento

conjunto e a colaboração, num processo decisório participativo e partilhado" (Santos,

2008, p. 31).

O coordenador de departamento curricular enquanto Líder

Como referimos anteriormente, os órgãos de administração e gestão escolar

assentam numa estrutura hierarquizada, com estruturas/lideranças de topo e

estruturas/lideranças intermédias. Entre as estruturas intermédias estão os

departamentos curriculares. Segundo o DL n.º 75/2008, de 22 de abril, artigo 43.º, o

coordenador de departamento curricular deve ser um docente de carreira detentor de

formação especializada nas áreas de supervisão pedagógica, avaliação do desempenho

docente ou administração educacional. Ao coordenador de departamento curricular cabe

promover a articulação e gestão curricular no seu departamento, promovendo a

cooperação entre os docentes e procurando adequar o currículo às necessidades

específicas dos alunos (artigo 43.º). O mesmo diploma, no seu artigo 32.º, define que o

coordenador de departamento curricular é membro do conselho pedagógico que tem

outras as seguintes competências (artigo 33.º): elaborar a proposta de projeto educativo

a submeter pelo diretor ao conselho geral; apresentar propostas para a elaboração do

regulamento interno e dos planos anual e plurianual de atividade e emitir parecer sobre

os respetivos projetos; emitir parecer sobre as propostas de celebração de contratos de

autonomia; elaborar e aprovar o plano de formação e de atualização do pessoal docente;

definir critérios gerais nos domínios da informação e da orientação escolar e vocacional,

do acompanhamento pedagógico e da avaliação dos alunos; propor aos órgãos

competentes a criação de áreas disciplinares ou disciplinas de conteúdo regional e local,

bem como as respetivas estruturas programáticas; definir princípios gerais nos domínios

da articulação e diversificação curricular, dos apoios e complementos educativos e das

modalidades especiais de educação escolar; propor o desenvolvimento de experiências

de inovação pedagógica e de formação, no âmbito do agrupamento de escolas ou escola

não agrupada e em articulação com instituições ou estabelecimentos do ensino superior

vocacionados para a formação e a investigação; promover e apoiar iniciativas de

natureza formativa e cultural; propor mecanismos de avaliação dos desempenhos

organizacionais e dos docentes, bem como da aprendizagem dos alunos, credíveis e

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orientados para a melhoria da qualidade do serviço de educação prestado e dos

resultados das aprendizagens.

Consideramos que o coordenador de departamento curricular é um dos

principais pilares da escola, como estrutura de coordenação e supervisão pedagógica,

com a responsabilidade de, com a sua equipa, promover um trabalho conjunto com vista

à melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Essa responsabilidade exige que

os coordenadores de departamento curricular sejam líderes que mobilizem os

professores numa dimensão reflexivo-colaborativa. Representam, assim, como a seguir

se explicará, os destinatários privilegiados de uma formação que pretende abranger

todos os docentes da escola no sentido de alterar práticas rumo a um maior sucesso

educativo.

Plano de intervenção

À semelhança de muitos autores, defendemos uma formação centrada em contexto que

implique uma mobilização ativa, participativa e crítica dos intervenientes., partindo das

necessidades sentidas pela escola e pelos professores, no sentido fomentar a mudança

quer ao nível da profissionalidade quer ao nível da escola. Porém, para que tal aconteça,

urge tomar medidas que incentivem práticas de formação diversificadas que se

traduzam em consequências para a melhoria do trabalho das escolas no contexto em que

se situam. Alarcão & Tavares (2003, p. 121) defendem que esta formação seja feita

numa atmosfera de aprendizagem colaborativa: “os professores, como adultos, não

aprendem tanto na frequência de cursos ou a leitura de livros e revistas, mas sobretudo

com a observação, análise e reflexão do seu próprio ensino ou do ensino praticado

pelos seus colegas”.

Segundo Zabalza (1987, p. 278), o processo de ensinar não se confina a uma

série de ações rotineiras e reflexivas, aprendidas pela insistência, mas reflete uma série

de ações idiossincráticas e racionais. Deste modo, a chave para o desenvolvimento

profissional implica a melhoria de uma “arquitetura concetual” que permita ao

professor dar sentido às suas atividades: clarificar as suas teorias, alargar as suas

construções pessoais, tornar-se mais consciente dos “porquês” e dos “para quês” das

suas opções na sala de aula.

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Este autoconhecimento e esta consciência dos princípios que estão na base da

sua ação enquanto professor podem ser encorajados de várias maneiras, nomeadamente

através da supervisão interpares onde é possível desocultar as teorias subjacentes e

comparar modos diferentes de atuar em situações específicas.

Também Nóvoa (2008, p. 24) defende que, para que haja uma verdadeira

alteração na escola enquanto organização que potencie a melhoria do sucesso educativo,

cabe aos professores formar os seus pares: “Não haverá nenhuma mudança significativa

se a comunidade dos formadores de professores e a comunidade de professores não se

tornarem mais permeáveis e imbricadas”. É neste espaço de supervisão colaborativa que

se pode produzir um diálogo efetivo entre alunos e professores, promovendo a

coconstrução de conhecimento a partir das experiências de todos.

Objetivos do plano

Este plano de intervenção pretende dar resposta à seguinte questão: como

podem os coordenadores de departamento promover práticas colaborativas que

resultem num maior sucesso educativo?

Esta questão surgiu do diagnóstico realizado pelos diretores de agrupamentos/

escolas e apresentado em sede de Comissão Pedagógica, face aos resultados escolares

insatisfatórios apresentados por um elevado número de alunos.

A escolha dos coordenadores de departamento como destinatários da formação

prende-se com o facto de constituírem, de acordo com Preâmbulo do Decreto-Lei n.º

75/2008, de 22 de abril, a principal estrutura de coordenação e supervisão pedagógica e

deles dependerá, em grande medida, o sucesso do projeto educativo se conseguirem

dinamizar os restantes professores para o alcance dos objetivos educativos propostos no

respetivo projeto. O departamento curricular, enquanto estrutura de gestão intermédia na

escola, permite a realização de uma “ coordenação vertical (intradisciplinar) dos

professores de uma mesma disciplina”, mas também de uma “coordenação horizontal

de várias disciplinas de áreas do saber vizinhas (inter/pluridisciplinar)” (Albuquerque,

1998, p. 42-43).

De entre todas as competências do coordenador de departamento previstas nos

documentos legais, listamos as que se nos afiguram mais pertinentes no âmbito deste

plano de intervenção e que acabam por ser também os seus objetivos:

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promover, dinamizar e acompanhar a troca de experiências e a cooperação entre

todos os docentes que integram o departamento curricular;

assegurar a coordenação das orientações curriculares e dos programas de estudo,

promovendo a adequação dos seus objetivos e conteúdos à situação concreta da

escola;

promover a articulação com outras estruturas ou serviços da escola com vista ao

desenvolvimento de estratégias de diferenciação pedagógica;

promover a articulação vertical e horizontal nos diversos grupos do

departamento;

promover a realização de atividades de reflexão e de estudo, visando a melhoria

da qualidade das práticas educativas.

Fundamentação da escolha da modalidade

Optamos pela modalidade de Projeto, que, “pela riqueza dos seus objetivos,

enquadra-se em vários modelos e métodos de ensino, entre os quais destacaremos os

cognitivos, os sociais e de interação social, e os humanistas, revelando-se como uma

boa estratégia à formação centrada na escola e nos contextos e territórios educativos,

bem como à consolidação de atitudes de mudança e de produção de conhecimentos”

(Regulamento para acreditação e creditação de ações de formação na modalidade

Projeto). Trata-se de uma modalidade de formação que permite:

desenvolver metodologias de investigação-formação centradas na realidade

experimental da vida escolar;

incrementar o trabalho cooperativo em equipa e o diálogo pluri e

interdisciplinar;

aprofundar a capacidade para relacionar o saber e o fazer, a aprendizagem e a

produção;

potencializar a integração afetiva, a socialização e a realização de interesses

pessoais e grupais;

favorecer a capacidade para resolver problemas e desenvolver planos de ação;

consolidar de atitudes de mudança e de produção de conhecimentos.

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Metodologia

O plano de formação incluirá cinco fases:

ações de curta duração para os coordenadores de departamento subordinadas aos

temas liderança, gestão de equipas, gestão de conflitos, monitorização e

avaliação;

sessões de trabalho conjuntas (quatro) onde serão explorados os conceitos de

colaboração, reflexão, narrativas, análise de casos, observação de aulas, o

trabalho de projeto e o desenvolvimento profissional;

na componente não presencial, os formandos operacionalizarão os

conhecimentos e os documentos produzidos nas sessões presenciais,

nomeadamente nas reuniões dos respetivos departamentos e no dinamismo de

relações de trabalho colaborativo entre os docentes. Numa linha de orientação

investigação/ ação, os formandos elaborarão um relatório/inquérito reflexivo

sobre um Plano de Melhoria para a supervisão pedagógica e o trabalho

colaborativo no contexto do seu departamento;

sessões presenciais conjuntas em que os diversos participantes produzem relatos

do trabalho intermédio realizado, discutem metodologias e acertam mecanismos

de desenvolvimento futuro;

avaliação da formação e avaliação da consecução dos objetivos iniciais.

Privilegiar-se-á uma abordagem reflexiva, no sentido atribuído por Zeichner

(1993) do professor como prático-reflexivo, em que a reflexão incluirá três vertentes:

“como instrumento de mediação da ação, na qual se usa o conhecimento para orientar

a prática; (…) como modo de optar entre visões do ensino em conflito, no qual se usa o

conhecimento na informação da prática; (…) como uma experiência de reconstrução,

na qual se usa o conhecimento como forma de auxiliar os professores a apreender e a

transformar a prática.” (Zeichner, 1993, p.32).

Resultados esperados após a implementação do Plano de Formação

Após a implementação do projeto, espera-se que os professores, pelo trabalho

conjunto com os coordenadores de departamento, sejam capazes de:

questionar a sua prática;

refletir em grupo, desocultando teorias e pressupostos que informam a sua

prática;

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fazer e receber supervisão horizontal;

construir conhecimento profissional através de estratégias colaborativas que

incluem a descrição, interpretação, confronto e reconstrução de práticas

educativas;

comprometer-se em conjunto na consecução das metas do projeto educativo do

agrupamento/escola.

Avaliação

A ação de formação será avaliada por intermédio de:

a) Avaliação contínua e processual

b) Relatório reflexivo da investigação/ação produzida realizado no final da

mesma.

O impacto da formação será avaliado num encontro final entre todos os docentes

para partilha de conclusões, de boas práticas e tomada de decisões para intervenções

futuras.

Breve conclusão

O plano de intervenção foi construído com base no pressuposto que a liderança

deverá atuar sobre a cultura da escola e sobre a relação entre a melhoria das

competências e o desempenho organizacional. Estamos conscientes que a

implementação de um plano desta natureza implica uma alteração no modo como os

professores e a própria instituição percecionam a escola e as relações que aí se

estabelecem. Todavia, acreditamos que só uma liderança partilhada em que o

coordenador de departamento assume o papel de facilitador, garantindo a cooperação

entre os professores e promovendo a qualidade das relações interpessoais, conduzirá à

construção de uma escola de sucesso.

Referências:

Alarcão, I. & Tavares, J. (2003). Supervisão da Prática Pedagógica. Uma Perspectiva

de Desenvolvimento e Aprendizagem Coimbra: Edições Almedina.

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UC de Modelos de Modelos Organizacionais e Liderança

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Documentos Oficiais:

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Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho. Procede à segunda alteração ao Decreto -Lei

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gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré -escolar e dos ensinos

básico e secundário. Diário da República – I série.

Regulamento para acreditação e creditação de acções de formação na modalidade

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