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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISFACULDADE DE CIENCIAS ECONOMICAS
Planejamento Regional no Brasil: a Sudene
Trabalho entregue à disciplina Fundamentos do Planejamento Urbano e Regional.
Professores: Roberto Luís de Melo Monte-Mór e João Bosco Moura Tonucci Filho
Alunos: Bárbara Cardoso Dias e Leonardo Falabella
Belo Horizonte2012
Introdução
O território nacional foi reconfigurado na segunda metade do século passado por grandes
projetos de investimento do governo. As principais características desses projetos, segundo
Vainer (2007), eram a integração e a desigualdade. A integração vinha no sentido explorar as
complementaridades entre as regiões, entretanto, esse modelo de configuração territorial
gerava enclaves sociais, econômicos, políticos culturais e até mesmo ecológicos. Para Simões
e Lima (2008), o período é marcado por uma clara escolha pelo desenvolvimento nacional,
onde os desequilíbrios gerados pelos próprios planos foram muitas vezes ignorados.
As políticas econômicas implementadas no plano de metas (1956-1960) tinham grande
arcabouço teórico. A implantação de novas plantas industriais para dinamizar o território
nacional identificava-se com a teoria de polos de crescimento de Perroux e Boudeville,
segundo a qual o crescimento não aparece simultaneamente em toda parte, manifesta-se em
pontos ou polos de crescimento, com intensidades variáveis, expande-se por diversos canais e
com efeitos finais variáveis sobre toda a economia. A indústria motriz aparece nessa teoria
como a força propulsora do polo de crescimento. As externalidades criadas por essa indústria
são consequentes da interligação entre as firmas a partir de suas técnicas e mudanças. Essas
interligações possibilitam o crescimento e expansão de grandes conjuntos de firmas e
possibilitam também o investimento cujo volume e natureza são decididos tendo em conta os
lucros e outras vantagens induzidas. Assim, o aumento do produto global acontece tanto a
partir da própria indústria quanto a partir dos produtos adicionais induzidos de suplemento à
indústria motriz (LIMA, SIMÕES; 2009).
Foram realizados, de acordo com o plano, elevados investimentos em indústrias de bens de
consumo duráveis, principalmente na indústria automobilística. Segundo Hirschman, essa
indústria teria o potencial de maximizar os encadeamentos intersetoriais e a criação de
oportunidades de investimento. Os investimentos deveriam induzir desequilíbrios em um
setor líder, e este desequilíbrio deveria ser a força de propagação da dinâmica de crescimento
através da complementaridade e das economias externas criadas. Os estrangulamentos
estruturais (insuficiência de serviços, infraestrutura, logística, regulação bancária) deveriam,
por sua vez, ser supridos de forma seletiva e ordenada de acordo com o maior retorno social.
E de fato, grande ênfase foi dada à importância dos investimentos em infraestrutura na
década de 50 (LIMA, SIMÕES; 2009)..
1
Embora o crescimento econômico tenha de fato acontecido com o plano de metas e os planos
que o sucederam (PAEG e II PND), os custos em termos de fragmentação territorial e
acentuação de desigualdades foram elevados. O próprio Hirschman não ignora em sua teoria
os problemas que podem surgir em razão do efeito da polarização sobre as desigualdades
regionais, destacando que a região menos dinâmica pode em última instância se afastar do
contato benéfico com o polo dinâmico e apenas sugando apenas os efeitos negativos dessa
relação. Para evitar que esse resultado se torne um enclave ao crescimento econômico do
país, Hirschman defende que se conceda autonomia relativa para sua região mais estagnada
por meio de “equivalentes de soberania”, mesmo que esse tipo de instrumento pareça ir de
encontro à integração nacional (LIMA, SIMÕES; 2009).
Assim, “apesar das questões relacionadas às disparidades setoriais e regionais não estarem
relacionadas entre os principais objetivos das políticas econômicas, observa-se ainda na
década de 50 a criação de importantes instituições de apoio ao desenvolvimento regional
como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e do Banco do Nordeste
do Brasil (BNB) em 1952 e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene)
em 1959. Esta última representa o esforço de conceder os chamados equivalentes de
soberania elaborados por Hirschman a determinada região do país” (LIMA, SIMÕES; 2009).
Um relatório elaborado por Celso Furtado em 1958 mostrava que a relação da região
Nordeste com a centro-sul no período e a política econômica de incentivo à industrialização
do centro-sul pelo governo impediam o crescimento da capacidade produtiva da primeira
região. Esse quadro tendia ao aumento do nível de disparidades, pela incapacidade do
Nordeste em tirar proveito da economia centro-sul do Brasil (DINIZ, 2001). A Sudene surge
então como elemento de planejamento e de administração dos recursos públicos para
promover o desenvolvimento a partir do financiamento de projetos que induziriam o
crescimento econômico e corrigiriam as desigualdades (MOREIRA, 2003). Tendo em vista
esse propósito de criação da Sudene, pretende-se nesse trabalho explorar os planos de
desenvolvimento projetados pelo órgão na década de 1960 e sua eficácia na diminuição das
desigualdades da região Nordeste. Por fim, pretende-se discutir o ressurgimento da Sudene na
última década.
2
I. O diagnóstico e a criação
A importância do planejamento e o desenvolvimento regional ganham destaque com a
criação do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) no ano de 1956.
O grupo, coordenado pelo economista Celso Furtado, foi responsável pela primeira
interpretação teórica sobre as desigualdades regionais no Brasil, elaborando amplo
diagnóstico acerca da Região Nordeste que retratava a situação da região Nordeste no final da
década de 50 e debatia as causas geradoras de seu atraso relativo em relação às áreas mais
dinâmicas do país, principalmente sul e sudeste (MOREIRA, 2003).
Segundo o diagnóstico, o mercado doméstico, emergente da industrialização pesada, é
marcado pela diferença de produtividade e incorporação do progresso técnico entre o centro-
sul e o Nordeste. O centro-sul teria se tornado um núcleo dinâmico e as demais regiões
passaram a gravitar sobre ele. O desenvolvimento econômico dessa maneira se apresenta em
um processo de articulação das regiões com um mínimo de integração e fortes discrepâncias
regionais. Furtado aponta a tendência ã mobilidade de capital para a área de maior
produtividade (EGLES, 1993).
Do diagnóstico de Celso Furtado, enquanto coordenador do GTDN sucede-se a criação da
Sudene. Em seus primórdios, a autarquia exercia o papel de órgãos regional formulador de
planos de desenvolvimento, programas e projetos de investimento. As competências da
Sudene ainda se estendiam à análise, avaliação e acompanhamento das aplicações dos
incentivos fiscais e financeiros, assim como da isenção e redução do imposto de renda para
projetos na região Nordeste. A autarquia também tinha a competência de supervisionar,
coordenar e controlar a elaboração e a execução dos programas e projetos de interesse para o
desenvolvimento do Nordeste, a cargo de outros órgãos ou entidades federais (MOREIRA,
2003).
A necessidade do planejamento emerge como alternativa ao agravamento da questão
regional, que é produto da industrialização substitutiva de importações. Esse agravamento
aparece em forma de pressões e tensões, primeiramente no Nordeste porque foi lá que as
disparidades assumiram forma mais aguda e foi ainda dramatizada por uma estiagem em
1958. A Sudene foi, nesse sentido, a resposta a estas "pressões e tensões" que se
manifestaram originalmente na crise regional nordestina. Um segundo significado, não menos
importante, foi que ela representou “uma descentralização administrativa associada a uma
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centralização política, em resposta a problemas sociopolíticos regionais, que operam mais
como desencadeadores da ação do sistema econômico abrangente do que derivado deste"
(EGLES, 1993).
A transformação da questão regional em um problema nacional tem no econômico lugar
central, traduzindo-se no planejamento que é enraizado na ação política que por sua vez está
conjugada à racionalidade imposta pelas necessidades econômicas.
Furtado, no momento em que assume o cargo de superintendente da Sudene logo após a
aprovação da lei de criação da Sudene em 1959, expressa que sua criação dava espaço a
novas formas de intervenção do estado na economia, agora de forma mais racional uma vez
que os investimentos da União serão coordenados por critérios técnicos, consubstanciados em
um Plano Diretos. Esse novo quadro técnico teria então dois resultados: maior coerência e
transparência nos incentivos à iniciativa privada e uma nova concepção de estado como
agente promotor do desenvolvimento (EGLES, 1993).
Foram enormes as dificuldades enfrentadas por Furtado para lidar com os interesses das
oligarquias do Nordeste. Com o objetivo de estabelecer uma forma de ação política coesa em
cooperativa entre os líderes nordestinos, a Sudene contaria com um conselho deliberativo
formado pelos governadores da região. Segundo relato de Rosa Freire d’Aguiar Furtado,
(2009) o espaço acabou se tornando um terreno para confrontos entre interesses
patrimonialistas locais e para a manifestação de rusgas políticas.
O então superintendente também sofreria com a resistência por parte de oligarcas nordestinos
em relação aos ataques de Furtado à estrutura agrária obsoleta, antieconômica e desumana da
região (FREYE apud D’AGUIAR FURTADO, 2009). Uma pressão crescente pelo seu
afastamento ou por uma redução de seus poderes se fazia presente, com a retórica de
governadores nordestinos incorporando um temor anticomunista. O então senador paraibano
Argemiro de Figueiredo acusaria Furtado de “promover a rebelião das massas camponesas”.
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II. Os planos diretores
Inicialmente, a Sudene se orientou por planos diretores plurianuais, sendo que o primeiro
deles contemplava, predominantemente, investimentos em infraestrutura, incentivos para a
consolidação do parque manufatureiro e implantação de indústrias de base, reformulação da
política de aproveitamento da água, orientação da pesquisa agronômica, melhoria das
condições de abastecimento, investimentos em saúde pública e educação básica.
Três planos diretores subseqüentes seriam formulados, tendo crescido a proporção de
recursos destinados a outros setores ligados ao bem-estar social, os quais incluíam
eletrificação de pequenas comunidades, habitação, saneamento, ampliação de cursos técnicos
e reaparelhamento das universidades.
III. Os resultados
Os conflitos de interesse já mencionados neste trabalho não deixaram de comprometer a
implementação das diretrizes do GTDN, tendo havido, adicionalmente, dificuldades
atribuídas à relativa escassez de recursos do órgão. Até mesmo a implantação da indústria de
base seria inviabilizada pelos entraves que se apresentaram ao trabalho da Sudene. As
dificuldades de implementação das políticas públicas se apresentaram de forma
especialmente intensa no âmbito da reforma agrária, prejudicando-se o objetivo estabelecido
de reduzir o custo de reprodução da mão-de-obra com a expansão da oferta de alimentos.
Como resultado, prosseguiu-se um hiato crescente entre o diagnóstico e as prescrições de
política social, com a implementação efetiva de reformas restrita àquelas que atendessem a
uma agenda mais permissiva de desenvolvimento.
Após o golpe de 1964, a Sudene passaria a sofrer com um esvaziamento político e
orçamentário. O órgão perderia seu status de ministério, passando a ser incorporado ao
Ministério do Interior; a autonomia, os recursos e os objetivos da Sudene minguaram. Da
década de 70 em diante, as superintendências passariam a exercer o papel de executoras das
estratégias de desenvolvimento regional.
Ao longo da ditadura militar, verificou-se a preocupação em relação às desigualdades
regionais em todos os planos nacionais, especialmente no primeiro e no segundo PND.
Nestas ocasiões, foram criados variados programas de desenvolvimento regional, mas
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freqüentemente com execução centralizada e reduzido papel das instituições de
desenvolvimento regional, as quais também se encontravam submetidas ao centralismo da
época. Conforme relata Moreira (2003), a Sudene sofreu, sobretudo durante os governos
militares, com sérios entraves institucionais que comprometeram gravemente a execução de
seus projetos. A autora descreve que a instituição demonstraria:
(...) inobservância de critérios para seleção dos projetos e liberação de
recursos do Finor; carência de pessoal responsável pela fiscalização,
em face do volume de projetos aprovados; registros desatualizados
e/ou incompletos; inexistência de programa de aperfeiçoamento dos
técnicos responsáveis pela análise de projetos; inexistência de
programação das fiscalizações in loco nos projetos incentivados pelo
Finor; falta de atuação da auditoria interna da Sudene no sistema;
aplicação remota de medidas punitivas; falta de mecanismos para
apurar possíveis superfaturamentos; inexistência de cronograma de
desembolso de recursos para os projetos em implantação; liberação de
recursos a empresas inadimplentes; existência de projetos em
implantação há vários anos sem o devido aporte de recursos
incentivados; falta de adoção de providências para recuperação dos
recursos aplicados em projetos mal-sucedidos, causadores de
prejuízos ao Finor estimados em US$ 532 milhões; falta de integração
entre os sistemas de controle da Sudene e do BNB. (MOREIRA,
2003, p. 6)
As falhas institucionais do órgão, cujas ocorrências foram, em grande medida, permitidas
pelo processo de esvaziamento e perda de autonomia pelo qual a Sudene passou, persistiram
ao longo da Nova República. Durante os governos Sarney, Collor, Itamar Franco e FHC, a
superintendência em nenhum momento recuperou o status da época em que fora concebida.
Em meio a um contexto específico de divulgação da ocorrência de desvios de verbas na
Sudene e na Sudam pela mídia, o governo FHC viria a extinguir ambos os órgãos em
fevereiro de 2001. Seria criada, no lugar da Sudene, a Adene (Agência de Desenvolvimento
do Nordeste), à qual, em tese, caberia a função de “promover políticas de desenvolvimento
regional, assim como a integração das regiões mais pobres com as mais desenvolvidas do
país” (COLOMBO, 2008).
Para Furtado, o enfraquecimento da Sudene representou um enorme retrocesso para o
desenvolvimento socioeconômico do Nordeste. O economista, que teria seus direitos políticos
cassados pelos militares, viria a manifestar em entrevista concedida em 2004 sua
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consternação com o destino da superintendência: “No Nordeste, região do país que havia
acumulado maior atraso social, as conseqüências do golpe foram mais graves, a repressão
exercida acabou com tudo”.
IV. O planejamento regional para o Nordeste na última década
Durante o governo Lula, a Sudene viria a ser recriada, por meio de uma lei complementar do
ano de 2007, obtendo resultados práticos controversos. Até então, o órgão diretamente
responsável pela promoção das políticas de desenvolvimento regional passaria a ser o
Ministério da Integração Nacional, ao qual a “nova Sudene” seria vinculada.
Em 2006, o Ministério da Integração Nacional lançaria o Plano Estratégico do
Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (PNDE), no qual já se ensejava a criação da nova
Sudene. O plano também manifestava preocupação com a implementação do Projeto São
Francisco e da Ferrovia Transnordestina, os dois principais investimentos em infraestrutura
efetuados pelo governo Lula na região. Segundo o plano, as vertentes do desenvolvimento do
nordeste eram três:
1) a funcionalidade e aderência da política de desenvolvimento
regional ao projeto de país que se pretende para o Brasil, percebendo
que os problemas regionais estão presentes em todas as
macrorregiões, apesar da gravidade no Norte e no Nordeste; 2) o
entendimento de que a política de desenvolvimento regional deve ter
um escopo seletivo, ocupando-se tão somente de elementos
estratégicos, capazes de alavancar transformações sustentáveis para a
população regional; e 3) a consideração do território enquanto locus
da atuação e sobrevivência dos atores sociais, implicando na
necessidade de articulação de múltiplas escalas espaciais e retirando a
atenção exclusiva à escala macrorregional até então adotada.
(MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2006, p. 7).
O Presidente Lula formalizaria, em 2008, a I Reunião do Conselho Deliberativo da Sudene,
sinalizando em direção a um desenvolvimento articulado, que viesse do próprio Executivo
Federal. Além da revitalização do órgão, o governo federal também empunhava a bandeira do
PAC como elemento importante para dinamizar o desenvolvimento do nordeste.
Supostamente “uma autarquia especial, administrativa e financeiramente autônoma”
(SUDENE, 2012), o novo órgão se distancia da sua concepção dos tempos de JK por manter-
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se vinculado ao Ministério da Integração Nacional, enquanto que Celso Furtado, primeiro
superintendente, respondera diretamente ao Presidente da República, tendo a própria
instituição seu status de ministério. A nova Sudene ainda é alvo de desconfiança por parte de
cientistas sociais. O técnico do Ipea Mansueto Almeida, por exemplo, afirma em artigo de
opinião, publicado no jornal Valor Econômico em 2008:
(...) o que temos, na verdade, é que a nova Sudene não saiu do papel e
continua sendo, até o momento, uma promessa de campanha, com o
agravante que agora já existe uma lei autorizando o seu
funcionamento. O que mais impressiona é que projeto de Lei
Complementar da criação da "nova" Sudene passou por vários vetos
que diminuiu em muito o escopo do projeto discutido por mais de
dois anos no Legislativo. Mas nem mesmo as inovações que não
foram vetadas foram ainda implementadas.
Para o antropólogo Antonio Risério, por seu turno:
O Nordeste tem projetos particulares, estaduais, mas não tem um
projeto global de desenvolvimento, como chegou a acontecer na
época de Celso Furtado, e isso fragmenta as ações e realizações.
Nossos governos agem pontualmente, sem o alto grau de coordenação
que poderiam alcançar, até mesmo por conta da sua proximidade
política. A tal da ‘nova Sudene’ nunca deu o ar de sua graça.
(RISÉRIO, 2011, entrevista à Carta Capital)
Mesmo se for vista como precisa a afirmação de Risério, porém, não deve ser desprezado o
fato de o Nordeste ter mantido, ao longo da última década, taxas de crescimento do PIB
frequentemente acima da média nacional (IBGE). A região foi impactada de forma
significativa pela ampliação do Bolsa Família, pelo aumento real do salário mínimo, pela
recuperação da aposentadoria rural e pela expansão do crédito. Entre 2008 e 2011, o Nordeste
viu sua participação na carteira do BNDES saltar de 8,4% para 13% (BNDES). A construção
da Ferrovia Trasnordestina, por sua vez, tem gerado perspectivas de atração de investimentos
do setor privado, com a futura facilitação do escoamento da produção.
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V. Considerações Finais
O Nordeste tem se destacado ao longo dos últimos anos como uma região brasileira com
crescimento acelerado, obtendo investimentos significativos e passando a ter melhores
perspectivas para que eventualmente se atenue o contraste ainda marcante em relação ao
centro-sul do país. Por mais que os governos federais recentes não tenham articulado uma
política clara de desenvolvimento regional (nas palavras de Risério, “um projeto global de
desenvolvimento”), é inegável que a região recebeu um estímulo substancial das políticas de
transferência de renda dos governos Lula e Dilma. Segundo dados do Ipea, o Nordeste
concentrou 51,1% dos benefícios do Bolsa Família em 2011.
Por outro lado, não seria sensato esperar que o desenvolvimento da região dependa de tais
políticas. O aumento do consumo em massa possibilitado pelas políticas de distribuição de
renda e pela ampliação do acesso ao crédito teve grande importância neste primeiro salto da
região no século XXI, mas as desigualdades regionais do país continuam abissais, e uma
sustentação do desenvolvimento do Nordeste que permita à sua população obter uma
qualidade de vida comparável às regiões Sul e Sudeste necessitará de políticas públicas que
enxerguem o desenvolvimento nordestino como alvo de prioridade, contemplando-se tanto
investimentos em infraestrutura quanto em saúde e educação de base.
Nesse sentido, é fundamental que a “nova Sudene” seja despertada do atual estado de letargia
e venha a demonstrar uma articulação política, autonomia e relevância que a aproxime de seu
projeto inicial. Uma retomada do espírito desenvolvimentista dos tempos em que Celso
Furtado esteve à frente do órgão seria bem-vinda caso o país almeje corrigir seus contrastes
regionais.
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Referências
ALMEIDA, Mansueto. O mito da recriação da Sudene. Valor Econômico, São Paulo,
18/02/2008.
COLOMBO, Lucélia A. Federalismo e as Políticas de Desenvolvimento Regional para o
Nordeste, pós-Sudene. V Simpósio dos Pós-Graduandos em Ciência Política da USP. São
Paulo, 2008.
D´AGUIAR FURTADO, R. F. A batalha da Sudene. In: O Nordeste e a saga da Sudene,
1958-1964. Rio de Janeiro: Contraponto-Centro Internacional Celso Furtado, 2009.
DINIZ, Clélio C. A questão regional e as políticas governamentais no Brasil.
Cedeplar/UFMG. Belo Horizonte: 2001. (Texto para discussão n° 159).
EGLER, Cláudio, C. Crise e questão regional no Brasil. Tese de Doutoramento apresentada
ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. São Paulo: 1993.
Ipea: Nordeste leva mais de 50% dos benefícios do Bolsa Família. Terra, 10/01/2012.
(Disponível em http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5551532-EI306,00-
Ipea+Nordeste+leva+mais+de+dos+beneficios+do+Bolsa+Familia.html)Acesso em
04/07/2012.
MOREIRA, Cláudia C. P. A extinção da Sudam e da Sudene. Revista de Informação
Legislativa Brasília, v.40, n.157, jan./mar. 2003.
RISÉRIO, Antonio. Autoestima reconquistada. Carta Capital, São Paulo, 07/12/2011.
SIMÕES, Rodrigo, F.; LIMA, Ana Carolina C. Teorias do desenvolvimento regional e suas
implicações de política econômica no pós-guerra: o caso do Brasil. Cedeplar/UFMG. Belo
Horizonte: 2009. (Texto para discussão n° 358).
SUDENE. Contribuição da Sudene ao desenvolvimento do Brasil. (Disponível em
http://www.sudene.gov.br/sudene#nova%20sudene) Acesso em 04/07/2012
VAINER, Carlos. Planejamento territorial e projeto nacional: os desafios da fragmentação.
Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 9, n.1, 2007.
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