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Trabalho infantil marca a cena urbana de Macapá A ausência de políticas públicas eficientes favorece permanência de crianças e adolescentes no trabalho informal em ruas da capital Fotografia: Aline Paiva Crianças trabalhando na Praça do Coco, no centro da cidade de Macapá “Muitas vezes aque las que reparam um carro, aqueles que querem engraxar um sapato, querem ter o que não tem na casa, às vezes é dinheiro pra comprar um lanche”, diz a Conselheira Tutelar da Zona Norte de Macapá, Maria do Socorro, sobre Trabalho Infantil no Amapá. o Brasil, o trabalho não é permitido sob qualquer condição para crianças e adolescentes entre zero e 13 anos; a partir dos 14 anos pode-se trabalhar como aprendiz. Em Macapá, capital do Amapá, é visível observar crianças e adolescentes que trabalham. “Encontramos em oficinas de bicicleta, oficina de pneus de carros, na praça vendendo amendoim e em frente de bancos e reparando carros”, relata o Conselheiro Tutelar da Zona Sul de Macapá, Diogo Sênior. N

Trabalho infantil marca a cena urbana de Macapá200.144.189.84/html/expocom/2015/EE44-0502-1(1).pdfas crianças e adolescentes ao trabalho”, explica. Conforme Brenda Vilhena, socióloga

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Trabalho infantil marca a cena urbana de Macapá

A ausência de políticas públicas eficientes favorece permanência de crianças e

adolescentes no trabalho informal em ruas da capital

Fotografia: Aline Paiva

Crianças trabalhando na Praça do Coco, no centro da cidade de Macapá

“Muitas vezes aque las que reparam um carro, aqueles que

querem engraxar um sapato, querem ter o que não tem na casa, às

vezes é dinheiro pra comprar um lanche”, diz a Conselheira Tutelar

da Zona Norte de Macapá, Maria do Socorro, sobre Trabalho Infantil

no Amapá.

o Brasil, o trabalho não é permitido sob qualquer condição para crianças

e adolescentes entre zero e 13 anos; a partir dos 14 anos pode-se

trabalhar como aprendiz.

Em Macapá, capital do Amapá, é visível observar crianças e adolescentes

que trabalham. “Encontramos em oficinas de bicicleta, oficina de pneus de

carros, na praça vendendo amendoim e em frente de bancos e reparando

carros”, relata o Conselheiro Tutelar da Zona Sul de Macapá, Diogo Sênior.

N

Segundo Diogo Sênior, o motivo de uma criança ou adolescente realizar

qualquer tipo de atividade é a pobreza da família. Muitos pequenos

trabalhadores aumentam o orçamento familiar e contribuem nas despesas

domésticas com dinheiro do próprio trabalho.

Joana (nome fictício para preservar identidade da fonte), 12 anos,

trabalha desde os sete anos com a venda de bombons no transporte coletivo

municipal de Macapá. A menina começou a realizar a atividade para ajudar a

família (ver Box 1). “Eu quis vim mesmo para ajudar”, diz.

O dinheiro arrecadado por Rael (nome fictício para preservar identidade

da fonte), 12 anos, que trabalha sozinho na venda de amendoim, cerca de 5

horas por dia, todas as noites, ajuda na compra de roupas, calçados e comida

(ver Box 2). “Eu começo cinco horas, termino dez, onze da noite”, conta.

O Conselheiro Diogo Sênior admite a existência de ocorrências de

trabalho infantil na capital. “É uma atividade muito frequente aqui no Estado

como um todo, não só no município de Macapá”, afirma.

Para a conselheira tutelar da Zona Norte da Capital, Maria do Socorro,

muitas crianças encontradas em situação de trabalhos acabam vivendo nas

ruas, apesar de terem residência. “A maioria tem família, apesar de muitos

dormirem nas ruas. As famílias não têm condições financeiras, por isso, levam

as crianças e adolescentes ao trabalho”, explica.

Conforme Brenda Vilhena, socióloga da Secretaria Municipal de

Assistência Social e do Trabalho – Semast, os pais que são beneficiários de

programas sociais são orientados sobre o trabalho infantil, mas muitos acabam

permitindo a ida dos filhos ao trabalho. “A gente conversa com o responsável,

explica que lugar de criança não é na rua trabalhando, tem que estar na escola.

Mas, eles questionam que o beneficio da renda é baixo”, diz.

De acordo com o auditor fiscal Marcos Marinho, da Superintendência

Regional do Trabalho e Emprego no Amapá – SRTE/AP, as famílias que

possuem crianças buscam auxilio financeiro nas ruas são em sua maioria

chefiadas por mulheres, que geralmente foram abandonadas pelo marido. As

mães dependem da ajuda dos filhos para sobreviver.

Segundo Marcos Marinho, o trabalho infantil é uma problemática

crescente no Amapá. “Uma situação que cresce, principalmente no nosso

contexto social. A mãe vai trabalhar e não tem onde deixar o filho, ou o filho

geralmente vai ficar trabalhando na rua, numa situação de abandono”,

comenta.

Consequências

Fotografia: Aline Paiva

Adolescente vendendo queijo quente na Orla de Macapá

O trabalho infantil interfere diretamente no desenvolvimento físico,

emocional e social das crianças e adolescentes. De acordo o Ministério Público

do Trabalho – MTE, crianças e adolescentes trabalhadores estão sujeitos a

sofrer acidentes de trabalho, mais propensos a sentir dores musculares, a ter

deformação óssea, gerando com frequência, dores de cabeça e de coluna,

fadiga excessiva, insônia e mutilações.

Rael, 12 anos, que trabalha com a venda de amendoins na Praça do

Coco, diz que gostaria de descansar um pouco mais. “Eu chego tarde, tem

vezes que eu quero dormir até mais tarde, mas eu tenho que levantar”, explica

o menino.

Conforme a Fundação Promenino, nas ruas as crianças ficam expostas à

violência, drogas, assédio sexual e tráfico de pessoas. Há riscos de

envolvimento em acidentes de trânsito e da exposição ao sol e chuva

De acordo com Marcos Marinho, Auditor Fiscal do Trabalho da SRTE/AP,

existe um amplo levantamento em relação às sequelas causadas pelo trabalho

infantil, na qual envolve prejuízos físicos, psicológicos e sociais. “Na questão

física, as crianças tem seu desenvolvimento físico comprometido, pois tem que

carregar peso, fica muito tempo curvado, apresentam danos à visão e sistema

respiratório”, relata.

O Auditor Fiscal da SRTE/AP diz que há probabilidade do assedio sexual

a meninas que trabalham desde cedo em casas de terceiros. “As crianças são

mais vitimas de assedio moral e de sexual”, afirma.

Segundo a Conselheira Maria do Socorro, o maior prejuízo do trabalho

infantil é a perda da infância da adolescência. O atraso e evasão escolar

também são consequências graves do trabalho precoce.

A Professora e Técnica Ministerial Denise Santos, do Ministério Público

do Amapá, diz que o trabalho infantil interfere numa etapa importante de uma

criança. “Ela está pulando uma etapa, deixando de brincar, buscando dinheiro

fácil, aonde tudo vem mais fácil. Se os Pais pensam que estão ajudando, eles

estão prejudicando, pois lugar de criança é na escola, não é tendo

responsabilidade de levar dinheiro pra casa”, critica.

Para Marcos Marinho, o maior prejuízo é do direito de não viver a

infância. “Nessa idade a criança tem que estar brincando ou estudando. No

momento que ela recebe o compromisso de levar dinheiro pra casa, ela se

torna a renda da família, atribui uma responsabilidade que não é dela, é o

papel é dos Pais”, afirma.

Termo de Compromisso

O Prefeito de Macapá, capital do Estado, Clécio Luiz Vilhena Vieira,

assinou um termo de compromisso em junho de 2013, do Fórum Nacional de

Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil – FNPETI, que aconteceu nos 16

municípios do Amapá. O Termo tem como objetivo a implantação de ações

voltadas para prevenção e erradicação do trabalho infantil e de proteção ao

adolescente trabalhador no município.

O termo estabelece a criação de um plano municipal de prevenção e

erradicação da exploração de mão-de-obra de crianças e adolescentes,

garante orçamento necessário para implementação, busca ativa e permanente

de menores em situação de trabalho infantil, estruturando serviços

socioeducativos e assistenciais para atender as crianças e suas famílias.

Após mais de um ano da assinatura do termo de compromisso pela

Prefeitura de Macapá, o plano municipal de erradicação do trabalho infantil não

foi concluído, conforme explica a Socióloga Brenda Vilhena, da Divisão de

Apoio da Criança e do Adolescente – Daca, da Semast. “A Prefeitura está

tentando fechar o plano municipal de erradicação do trabalho Infantil, com

todos os conselheiros, às vezes não dá pra um, dá pra outro, e assim

sucessivamente”.

De acordo com Brenda, a Prefeitura não participa há mais de 3 meses

das fiscalizações permanentes, que estão previstas no termo, realizadas em

parceria com a Vara da Infância e Juventude, o Centro de Referência

Especializado de Assistência Social – Creas e o Centro de Referência da

Assistência Social – Cras, devido à falta de investimento. “Tem uns três meses

que a nossa Divisão não vai pra rua, devido à falta de recursos humanos”,

justifica.

As fiscalizações devem acontecer mensalmente e realizadas em parceria,

para assim se tornarem mais eficazes. “É mais fácil tu conseguir as coisas com

parceria, do que sozinho, pois somente a nossa divisão, não adianta”, explica a

Socióloga.

O termo assinado pela prefeitura de Macapá também prever erradicar no

município o trabalho infantil na faixa de 5 a 13 anos e até 2016 eliminar de

Macapá todas as piores formas de trabalho infantil. No entanto, para o Marcos

Marinho, que também é responsável pelo setor de combate ao trabalho Infantil

da SRTE/AP, essa meta é impossível de ser atingida devido à falta de

investimentos necessários nos programas de proteção e atendimento a

crianças e adolescentes encontrados em situação de trabalho.

“Infelizmente a gente não vai conseguir alcançar essa meta, por que

existem dificuldades. Não houve uma organização suficiente e um

compromisso das autoridades de cumprir para cumprir essa meta”, questiona

Marcos.

Programas Sociais

Conforme Maria do Socorro, Conselheira da Zona Norte, a atividade de

combate ao trabalho infantil é realizado diretamente com a família. “Quando a

gente realiza blitz recolhemos essas crianças, trazemos pro conselho,

conversamos, chamamos a família, orientamos e notificamos. Mas, a gente não

pode também penalizar só a família, que também é vitima de um sistema”,

explica.

De acordo com Maria do Socorro, o papel do conselho é fiscalizar e

encaminhar para programas sociais. “O conselho tutelar não promove política

pública. Quem promove política pública é o Estado. A gente encaminha para os

programas sociais”, afirma.

Para as crianças e adolescentes saírem das ruas, seriam necessário

programas sociais atuantes e eficazes. “A gente necessita encaminhar para os

programas sociais, mas não foi criado no Brasil um programa que funcione

para isso uma coisa que atraia mais a criança do que a rua.”, comenta a

Conselheira.

Não há um acompanhamento de cada caso registrado de trabalho infantil,

com o passar do tempo as crianças voltam para as ruas. A falta de pessoas

capacitadas e contratadas pelo órgão seria o problema. “Para se ter um

acompanhamento de todo esse universo de famílias o conselho tem que ter

pessoal, e não temos isso. A gente faz um diagnóstico e encaminha para os

programas”, relata à Conselheira.

Para o Auditor Fiscal Marcos Marinho, houve falta de compromisso com

relação ao trabalho infantil. “O problema é falta de comprometimento. Quando

existia o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), as crianças eram

retiradas do trabalho infantil, as famílias recebiam uma bolsa, e os menores

participavam em determinado período de atividades socioeducativas. Mas essa

medida perdeu prioridade em função da bolsa família, que tem uma contra

partida, é necessário manter a criança na escola, mas o foco em relação ao

trabalho infantil deixou de existir”, critica.

De acordo com Marcos Marinho, as famílias recebem a bolsa família, mas

matem a criança no trabalho, pois é uma forma de aumentar a renda,

mostrando assim que os programas sociais são falhos no Amapá. “Atualmente,

os programas não tem sido tão eficazes, para contribuir nesses novos setores

que afetados pelo trabalho Infantil”, conta.

Conforme Marcos, a solução seria a realização de atividades de

sensibilização, no sentido de conscientizar os pais da necessidade de erradicar

o trabalho infantil, além de reformulação nas políticas públicas atuais.

“Deveria existir outro instrumento dentro das políticas atuais, por exemplo,

realmente atividades socioculturais, que fossem complementares a atividades

educacionais propriamente dita, pois essas ações sendo atrativas, as crianças”,

exemplifica Marcos.

Serviço de Acolhimento

A abordagem social das crianças e adolescentes trabalhadores é feita

pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social – Creas, órgão

da Secretaria Municipal de Assistência Social de Macapá.

De acordo com a coordenadora do centro, Nívea Mendes, é realizado um

planejamento. “Primeiro é feito um cadastro, nos fazemos um planejamento

social. Existem locais estratégicos onde são abordadas as crianças, e

dependendo da situação, fazemos o acolhimento, apresentamos a forma de

prevenção ou intervenção através de formulário, e direcionado ao Conselho

Tutelar para localização dos responsáveis”, ressalta.

Segundo Nívea Mendes, após o registro das crianças, as Assistentes

Sociais da Prefeitura fazem o acompanhamento de cada caso nas residências,

de acordo com cada necessidade, encaminhamos para as redes assistenciais.

Fiscalização e Combate

Fotografia: Aline Paiva

Criança que vende ovos de codorna na praça do coco, em Macapá

Os Conselhos Tutelares de Macapá são os responsáveis de fiscalizar se

há casos de imprudências aos direito das crianças e dos adolescentes na

cidade. As instituições afirmam que realizam trabalho de combate ao trabalho

infantil na capital, mas mesmo assim ainda vemos menores pelas vias.

De acordo com Marcos Marinho, Auditor Fiscal da SRTE/AP, acontece

fiscalizações periodicamente nas empresas do Estado, o que ocasionou a

diminuição nos casos de trabalho infantil registrados. “Nós fazemos

rotineiramente fiscalizações nas empresas, temos observado que não tem

acontecido trabalho infantil na modalidade de emprego, devido à fiscalização

do SRTE/AP. As empresas têm contratados menos crianças para trabalhar, em

virtude de todo o processo administrativo de fiscalização”, explica.

Segundo o Auditor Marcos, a última grande fiscalização foi feita no dia 12

de junho de 2014, no dia de combate ao trabalho infantil. “Abordamos as

feiras, onde encontramos diversas crianças trabalhando, fizemos o

encaminhamento para o Conselho Tutelar, para identificar as famílias, para

serem orientadas e colocadas nos programas”, diz.

Acontecem ainda blitzes promovidas pelo Conselho Tutelar,

Superintendência do Regional do Trabalho no Amapá– SRTE/AP, Vara da

Infância e órgão de defesa aos direito das crianças e adolescentes. “Ocorrem

com bastante frequência à noite, não só para os casos do trabalho infantil”,

explica a Conselheira Maria do Socorro.

Conforme o Conselheiro Diogo Sênior, as fiscalizações ocorrem quase

todos os fins de semana. “Num mês tem três ou quatro fiscalizações, as

chamadas blitz, que são realizadas com vários órgãos da segurança pública”,

diz.

Segundo a Conselheira Maria do Socorro, a última blitz realiza no Estado,

tanto na zona norte, quanto na zona sul, foram registrados mais de 82 casos de

trabalho Infantil.

Conforme o Auditor Marcos Marinho, as fiscalizações não têm alcançado

resultados. “As fiscalizações não surtem efeito nenhum, porque são as

mesmas crianças, das mesmas famílias que são encontradas, porque não

acontece o fluxo que deveria ocorrer em função da rede”, critica.

O Conselho Tutelar da Zona Norte, em parceria com a SRTE/AP, seguem

um cronograma de fiscalizações nas Feiras. Geralmente, as denúncias são as

únicas formas de identificar crianças em situação de risco. “A gente tem um

cronograma também, de fazer visitas nas feiras, principalmente no período de

grandes festas”, explica a Conselheira Maria do Socorro.

A feira do bairro Pacoval, na zona norte de Macapá, é um dos locais de

concentração de crianças e adolescentes. Alguns, são filhos dos próprios

feirantes e auxiliam os pais no trabalho; outros reparam carros.

“Quando a gente começa a fazer a fiscalização eles somem. A gente

chama a família, muitas vezes recebem o renda e bolsa família, e orientamos

que essa criança não pode está trabalhando, aí para por um período, mas

depois volta novamente”, conta a Conselheira Maria.

Ocorrências

Mesmo com toda a fiscalização, os índices de crianças e adolescentes

realizando atividades de mão-de-obra nas pelas ruas são altos.

Os números de ocorrências de trabalho infantil registradas nos Conselhos

Tutelares da Capital do Amapá são realizados por meio de denúncia nas

instituições. Nos últimos dois anos, poucos casos foram abordados, devido à

população não ter o hábito de denunciar a exploração de crianças e

adolescentes nas ruas de Macapá.

No ano de 2013, o Conselho Tutelar da Zona Norte da Capital, registrou

apenas duas ocorrências de Trabalho Infantil. Em 2014, até o mês de

setembro, houve um aumento, 3 ocorrências, os dados serão fechados até o

final do ano de 2014;

Já no Conselho Tutelar da Zona Sul, em 2013, foram registrados 8 casos,

2 adolescentes de 14 anos, e 6 de 16 anos, que trabalhavam em uma oficina

de bicicleta. Até setembro de 2014, foram registrados 3 casos de crianças

trabalhando com venda na Praça do Coco, duas de 8 anos e uma de 10 anos.

Os números de ocorrências nos conselhos tutelares são baixos

comparados aos quantitativos de crianças e adolescentes nas ruas. “Esses

dados são o de ocorrências registradas aqui no conselho, por conselheiro de

atendimento”, diz a Conselheira Maria do Socorro.

Falhas e falta de gestão

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) é uma das ações

do governo local para combater o trabalho de crianças e adolescentes.

Segundo Diogo Sênior há falta de espaço físico, de pessoas capacitadas e

maiores rigores nas fiscalizações dos recursos fazem o Peti não funcionar de

maneira satisfatória em Macapá “Infelizmente o Peti não funciona como deveria

em Macapá. Eu acredito com maior rigor na fiscalização, a gente pode avançar

muito”, critica.

Conforme o Conselheiro Sênior, a falta de um espaço físico adequado

para gerenciamento financeiro seria um problema na fiscalização dos recursos.

“O Peti não possui espaço físico, gerencia de financeiro, a responsabilidade

com os valores que chegam, e aonde são empregados”, questiona.

De acordo com a Conselheira Maria Socorro, o programa voltou a

funcionar após um tempo sem atividade. “O Peti está faltando ser aprimorado,

até porque passou por muitos anos de abandono no Estado, hoje até que estão

retomando essa política pública”, afirma.

A solução seria tornar o Peti mais atrativo, para assim as crianças e

adolescentes seriam atraídos e motivados a participarem do programa.

“Naquele horário que ela é acostumada a ir para rua é chamada para o

programa social. Mas, lá tem que ter uma coisa que atraia mais que a rua, tem

que ter um lanche, uma brincadeira, tem que ter alguma coisa que a criança

diga não, eu não vou para rua eu vou para o Peti”, explica Maria do Socorro..

Conforme o Auditor Marcos Marinho, a atuação do Programa PETI no

Estado depende dos Prefeitos dos municípios. “Quando o Prefeito quer,

quando ele abraça a causa, o programa funciona. Quando o Prefeito não tem

interesse, o programa não funciona, ou funciona de uma maneira ruim”, critica.

Caravana Norte

Em 2013 no Amapá, aconteceu a Caravana Norte Contra o Trabalho

Infantil, realizada pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do

Trabalho Infantil do Amapá – FNPETI, e coordenada pelo Fórum Estadual –

FEPETI/AP. Nos dias 06 e 07 de junho, foi realizado na Capital, sendo o

terceiro estado da região norte a participar do evento.

A Caravana visa obter o compromisso dos Prefeitos com a

implementação de ações de prevenção e erradicação do trabalho infantil, com

a meta de eliminar as piores formas dessa atividade.

Conforme a Professora Denise Santos, do Centro de Apoio Operacional

da Infância, Juventude e Educação - Caop do Ministério Público do Amapá, a

Caravana durou aproximadamente 2 anos, realizada nos 16 municípios do

estado, tendo inicio no Porto Grande e finalizando em Pracuúba. “Foram dois

anos praticamente de Caravana, devido aos períodos chuvosos, que dificulta o

acesso aos municípios”, afirma.

Em 2015, a equipe responsável pelo evento, pretende voltar aos

municípios, para verificar se o compromisso de erradicar o trabalho infantil,

assinado pelos Prefeitos, está sendo cumprido.

Cenário nacional

Em outubro de 2013, o Brasil sediou a III Conferência Global sobre

Trabalho Infantil, que reuniu representantes de governos, empregadores,

trabalhadores e organizações da sociedade civil dos 185 países membros da

Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o objetivo de reafirmação

das metas de discussão de estratégias para erradicação do trabalho infantil.

Nosso País assumiu o compromisso, diante da comunidade internacional,

por meio do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e

Proteção ao Adolescente Trabalhador, de eliminar as piores formas de trabalho

infantil até 2016, tais como: o doméstico, nos lixões, no narcotráfico, na

exploração sexual comercial, na agricultura familiar e no comércio informal

urbano, e a erradicar a totalidade até 2020.

Segundo o último relatório da Organização Internacional do Trabalho

(OIT), “Medir o progresso na luta contra o trabalho infantil”, em 2013 havia 168

milhões de crianças e adolescentes trabalhadoras no mundo, sendo que cinco

milhões estão presos a trabalhos forçados.

No Amapá, as formas mais comuns de Trabalho Infantil no comércio

informal, onde é possível encontrar crianças nas ruas vendendo doces e a

exploração sexual de adolescentes nas vias das periferias da capital. O

trabalho infantil doméstico é uma realidade comum no Estado. Meninas vêm do

interior dos municípios para morar na casa de terceiros, para assim terminarem

os estudos e acabam reparando outro menor e cuidando de afazeres

domésticos.

Segundo o Marcos Marinho, houve também um crescimento no número

de crianças e adolescentes no setor informal e rural. “Tem aparecido muita

criança trabalhando no setor informal. As estatísticas demonstram que existe

trabalho infantil no setor rural, que é uma característica da nossa região”,

explica.

De acordo com os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios - PNAD, realizada pelo Instituto de Geografia e Estatística – IBGE,

em 2013, são 3,2 milhões de crianças e adolescentes trabalhando no Brasil. No

ano anterior, em 2012, a PNAD registrou aproximadamente 3,5 milhões de

crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam trabalhando no Brasil,

mostrando a tímida diminuição no número de casos de trabalho de mão-de-

obra de crianças e adolescentes

Segundo a PNAD 2013, o Brasil ainda possui meio milhão de crianças e

adolescentes trabalhando na faixa etária de 5 a 13 anos; 61 mil de 5 a 9 anos e

446 mil de 10 a 13 anos. O maior índice de trabalho está na faixa de 14 a 17

anos, sendo 2,6 milhões de adolescentes trabalhando. O nível de ocupação

das pessoas de 5 a 17 anos em 2013 foi de 7,5%, e 8,4%. No entanto, as

regiões Sul (9,1%) e a região Norte (8,2%) continuam apresentando os maiores

percentuais de trabalho infantil

A situação no Norte

Na Região Norte, houve um acréscimo de 3,5% ou de 12,7 mil novos

casos e trabalho infantil. Proporcionalmente reduziu-se em 1 ponto percentual,

passando de 14,7% para 13,7%, entre 2000 a 2010.

No norte também, cerca de 61% do número de crianças e adolescentes

ocupados com idade entre 10 e 17 anos é de meninos, sendo 74,2% (281.180)

dos menores ocupados e com a mesma faixa etária são negros.

O censo também aponta que na região norte, quase a metade, 46%

(174.254) dos casos de crianças e adolescentes ocupados, segundo seções de

atividades, aparecem nas atividades agrícolas, o comércio marca 15,9%, o

serviço doméstico 8,5%, indústria de transformação 4,7%, alojamento e

alimentação 3,6% e a construção registra 3,3%.

No Amapá, em período de 10 anos, piorou a proporção de trabalho

infantil, de 7,9% passou para 9,9%. Em 2010, 21% das crianças e

adolescentes do meio rural trabalhavam no Estado. Considera-se que houve

um aumento na proporção de meninas e meninos que trabalham em todas as

faixas etárias, sendo que a proporção de meninos e meninas negros passou

de 8,2% para 9,3%.

Ao longo de um período de 10 anos, o Amapá, obteve um aumentou em

67% no índice de trabalho entre 10 e 17 anos, o que equivale um acréscimo de

aproximadamente 5000 crianças e adolescentes trabalhando no Estado.

A capital Macapá, sozinha concentra 50% dos casos de trabalho infantil

do Amapá. Os dois municípios mais populosos do Estado, Macapá e Santana,

registram 63%.

BOX 1

“Eu quis vim mesmo para ajudar”

Essa foi à resposta de Joana, uma menina de 12 anos ao ser pergunta o

que fazia na rua.

Tarde ensolarada, 16 horas, com sensação térmica de

aproximadamente 35° graus, lá estava ela, sentada na beirada da parada

de ônibus na avenida Fab, uma das principais vias de Macapá, capital do

Amapá, localizada no centro, quase em frente ao Centro de Atendimento

a Infância e Juventude – Caop, do Ministério Público. Uma menina de

cabelo liso escuro e de boné, short jeans e camisa lisa, com uma

bandejinha de doces.

Joana, (nome fictício para preservar identidade da fonte ) tinha 12

anos, trabalha desde os 7 anos com a venda de bombons no transporte

coletivo municipal de Macapá. Reside na zona norte da capital, com a

mãe e seis irmãos, o pai deixou a família. Juntamente com o irmão de 15

anos, que também começou a realizar atividades muito cedo, a garota

trabalha para ajudar na renda da família, entregando o dinheiro

arrecadado para a mãe, que decide o seu destino. “Eu quis vim mesmo

para ajudar”, afirma.

Estudante do período da tarde, Maria disse que naquele dia não

houve aula, mas o feriado do servidor público foi no dia anterior.

Segundo a menina, o trabalho não interfere nas aulas, não sente sono.

“Normal. Eu já estou acostumada”, explica.

Os doces variam entre chicletes de menta, jujubas, mentos dentre

outros, comprados por ela mesmo no bairro central. As vendas são

diárias, que variam muito, dependendo do movimento. Às vezes é

possível se lucrar R$ 50, outras R$ 100, mas nada é certo.

De segunda a sexta, a rotina é a mesma, das 8h da manhã às 12h.

No fim de semana o horário é resumido, até as 13h. “Domingo eu

trabalho até uma hora, aí eu brinco, faço alguma coisa”, cont a.

O ônibus chegou, ela teve que entrar, para voltar ao trabalho.

BOX 2

“Trabalhar num lugar que não fosse assim”

Diz Rael de 12 anos, ao falar da atividade vendedor de amendoim na

Orla de Macapá.

Praça do Coco, 22h, noite movimentada num dos pontos mai s

atrativos da capital do Amapá, localizada na Orla da Cidade de Macapá,

a poucos metros do maior Rio de água doce, o Amazonas. Lá estava ele,

um garotinho de camisa branca e bermuda jeans, empurrando uma

bicicleta com um balde de amendoim ao lado, passando em cada

quiosque.

12 anos, essa é a idade de Rael (nome fictício para preservar

identidade da fonte), como assim quis ser chamado, residente de uma

área de ressaca, no bairro universidade, com o irmão mais velho, de 27

anos. Trabalha sozinho na venda de amendoim, cerca de 5 horas por

dia, voltando todas as noites sozinho, na sua bicicleta. “Eu começo cinco

horas, termino dez, onze da noite”, conta.

Rael estuda à tarde, mas se sente cansado. “Eu chego tarde, tem

vezes que eu quero dormir até mais tarde, mas eu tenho que levantar”,

explica.

O menino realiza a atividade desde 9 anos, não recebendo nenhum

auxilio de bolsa social. O amendoim é feito pelo próprio, que trabalha

diariamente. Durante a semana, o lucro fica em torno de R$ 60. No fim

de semana, com o aumento no movimento, vende cerca de 100

amendoins por noite, lucrando aproximadamente R$ 200.

O dinheiro arrecado ajuda na renda da família, na compra de

roupas, calçados e comida. Mas, o esforço é grande, e Rael sonha em

realizar outra atividade, se pudesse. “Eu faria. Trabalhar num lugar que

não fosse assim”, lamenta.