Trabalho Mercadorias

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  • 8/17/2019 Trabalho Mercadorias

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    Universidade Federal FluminenseInstituto de Ciências Humanas e FilosofiaCurso de História

    Disciplina: Mercadorias do Mundo AtlânticoProfessor: Leonardo Marues

    !"C"#D$ D"%!I#$%: "%!UD$% %$&'" A P'$DU()$ !*+!IL#A% %$CI"DAD"% A#DI#A% " #A AM,'ICA "%PA#H$LA

    Apresentado por:

    DOUGLAS COUTINHO DIAS

    #iterói30/04/16

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    I#!'$DU()$

    Neste presente trabalho, buscarei desenvolver um estudo da produ!o t"#til

    e dos costumes a ela arrai$ados na re$i!o andina% Utili&ando'me de (ontes diversasacerca do assunto, intento compreender as di(erentes rela)es sociais e econ*micas

    estabelecidas na produ!o de tecidos no +ue hoe - o .eru e o /+uador,

    especialmente, observando as trans(orma)es operadas entre os per0odos pr-'

    incaico, incaico e hisp1nico% O norte das observa)es e an2lises ser2 dado pelas

    contribui)es te3ricas de Immanuel 4allerstein5, Dale Tomich6 e Trouillot7 acerca do

    capitalismo en+uanto sistema'mundo, bem como a an2lise do chamado 8mundo

    atl1ntico9 sob tal prisma%Inicialmente, pretendo abordar os costumes dos povos +ue viviam nos

     Andes antes da con+uista e assimila!o ao Imp-rio Inca% De +ue (orma o tecido era

    visto e utili&ado: ;ual sua import1ncia social: Cabe a+ui a separa!o entre as duas

    localidades +ue seriam centrais no TaCu&co? e

    /+uador >;uito?, de ori$ens culturais distintas no concernente ao papel do vestu2rio%

     A se$uir, estudo com mais "n(ase o per0odo de con+uista e comando

    incaico, abordando as principais di(erenas sociais estabelecidas em rela!o @spr2ticas dos vencidos, bem como pintando os re(erenciais da sociedade +ue ser2

    encontrada pelos espanhois no s-culo BI%

    e(erenciais esses mantidos ou modi(icados no contato, abordado e

    desenvolvido com mais liberdade na se!o se$uinte% Se$uindo as (ormula)es

    te3ricas, prop)e a an2lise n!o apenas dos impactos culturais e sociais mas tamb-m

    da inser!o de nossos obetos de estudo no mercado atl1ntico +ue se desenvolve%

    B2lido a+ui tentar levantar cone#)es entre cadeias mercantis distintas, bem como

    uma e#plora!o sint-tica da divis!o internacional do trabalho nas comunidades

    coloni&adas, em rela!o @ metr3pole europeia%

    1 WALLERSTEIN, Immanuel Maur!e" Capitalismo histórico e civilização capitalista" Ro

    de #anero: $ontraponto, %001

    % T&MI$', (ale" & Atl)nt!o !omo espa*o +str!o" Estudos AfroAsiáticos, -" %6, n" %, p"

    %%1.40, %004"

    3 TR&ILL&T, M"R" Nort+ Atlant! !tons: 2loal Transormatons, 145%15478" In:Global transformations : anthropology and the modern orld! Ne9 or;:

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     Ao (inal do sin$elo trabalho, uma se!o de aspecto mais propositivo,

    embarcando nas tend"ncias 2 e#ploradas no estudo do contato e con+uista

    espanhola% Como demonstraremos a possibilidade de se compreender a cadeia

    mercantil dos tecidos em rela!o direta com a minera!o de prata, creio ser 

    interessante tamb-m tentar entender o papel dos corantes >outra mercadoria com

    cadeia mercantil e e#plora!o pr3prias? nessa produ!o t"#til% A import1ncia das

    cores - herdeira dos primeiros povos a+ui estudados, amarrando o estudo de (orma

    de(initiva, mesmo +ue sob si$nos econ*micos distintos%

    A% FU#(-"% D$ !"CID$ #$ MU#D$ A#DI#$ P',.I#CAIC$

    ohn Eurra analisa em valioso arti$oF o papel dos tecidos na cultura inca,traando compara)es importantes para n3s em rela!o @s culturas dos povos

    andinos con+uistados pelo 8imp-rio das +uatro terras9% De (ato, os t"#teis andinos

    sempre se destacaram, como evidencia uma das $randes re(er"ncias do assunto,

    unius ird, citado por Eurra em sua a(irma!o de +ue os povos dos Andes

    produ&iram al$uns dos produtos mais (inos 2 vistos% Nas 2reas de plan0cie

    predom0nio das (ibras de al$od!o nas montanhas dos Andes, a prima&ia da l! de

    lhama% Importante mencionar +ue o al$od!o - central de acordo com os estudos deird, mais at- do +ue a l!, +ue ter2 seu uso intensi(icado ap3s a e#pans!o inca,

    mesmo +ue nem sempre alcanando todas as 2reas dominadas% Tal e#pans!o se

    dar2 de (orma deliberada atrav-s da institui!o dos mitma+s%

    Como bem demonstrado por Eurra, tecidos e ornamentos eram elementos

    de di(erencia!o social% Eais do +ue o estilo das vestimentas ou a t-cnica aplicada

    no tear, era o tipo de (ibra utili&ada na manu(atura do vestu2rio +ue marcava

    posicionamentos sociais% Uma breve observa!o de al$uns dos aparatos decer1mica sobreviventes de tais sociedades - o su(iciente para a constata!o da

    centralidade das roupas e da produ!o t"#til a+ui evocadas% Das ima$ens mais

    de(inidoras, camponesas andinas retratadas sempre a (iar e tecer, sentadas, de p-,

    at- en+uanto caminhavam% /m uma delas, a bele&a une'se @ (uncionalidadeJ uma

    mulher tece e dos (ios (ormam'se as roupas +ue a vestem, bem com o cobertor +ue

    4 MRRA, #o+n >" $lot+ and Its un!tons n t+e In!a State8" American Anthropologist ,

     Ne9 Seres, >ol" 64, No" 4 ?Au=" 156%@, pp" 10%B

    7 CENNETT, Wendell $" e CIR(, #unus" Andean $ultural 'storD8" American "useum of

     #atural $istory% $andboo& #o! '" Ne9 or;, 1545 ?$ta*o de MRRA@

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    acalenta todo o restante de sua (am0lia% A Kltima representa!o, seu enterro,

    marcada pelo $esto da (am0lia, enterrando unto @ matriarca sua roca de (iar%

     A pr2tica do trabalho t"#til no entanto n!o obedecia @ uma divis!o se#ual

    muito r0$ida% verdade +ue a atividade era normalmente (eminina, por-m tanto

    meninos +uanto meninas aprendiam a trabalhar com as (ibras desde a mais tenra

    in(1ncia% Eesmo dentre os adultos, em $eral +uem n!o estava trabalhando na mitta

     M idosos, de(icientes M audava na manu(atura, independente do $"nero% Eeu

    obetivo - demonstrar +ue tal aparente divis!o se#ual do trabalho n!o - a mesma

    observada por 4allerstein, +ue atribui ao capitalismo en+uanto sistema hist3rico a

    desvalori&a!o do trabalho de mulheres, ovens e velhos em rela!o ao trabalho

    masculino adulto% A pr3pria representa!o citada no par2$ra(o anterior demonstra aimport1ncia de tal atividade, sustentando en(im a produ!o de um dos bens de

    valores mais simb3licos nas sociedades andinas do +ue hoe - o .eru% A

    8institucionali&a!o do se#ismo9P, decorrente da vis!o +ue apre$oa ao homem

    assalariado o papel de 8arrimo9 do $rupo (amiliar, ainda n!o havia se instalado%

    Como bem lembra o soci3lo$o, o capitalismo en+uanto sistema social hist3rico - um

    produto da /uropa do (inal do s-culo B, portanto n!o aplic2vel @s rela)es de

    divis!o se#ual do trabalho a+ui demonstradas, at- por+ue as mesmas eram, umave& mais, pouco r0$idas%

     A import1ncia dos tecidos evidencia'se na observa!o de outras estruturas

    sociais e administrativas% Al$umas comunidades possu0am campos de cultivo do

    al$od!o ou suas pr3prias alpacas, e tais espaos detinham $rande valor comunit2rio

    de (ato% Todas as casas tinham direito de acesso @s (ibras comunit2rias, o +ue

    demonstra uma ve& mais a centralidade da produ!o t"#til% A+uelas comunidades

    +ue n!o possu0am tais campos ou cria)es de animais, provavelmente as obtinhamatrav-s de interc1mbio com outras 2reas%

    epito a+ui @ e#aust!o o +u!o importante era a produ!o t"#til nas

    sociedades andinas do .eru, e o leitor mais impaciente pode che$ar a conclus)es

    certeirasJ mas - 3bvio +ue importamQ O m0nimo de prote!o e calor para +uem vive

    a 5R mil metros acima da super(0cie do marJ n!o pode ser uma re(le#!o t!o di(0cil

    6 MRRA, #o+n >" Idem" p" 11

    WALLERSTEIN, Immanuel Maur!e" Idem" p" %4

    B Idem" Idem"

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    assim de se (a&erQ Acontece, caro leitor, +ue as (un)es dos tecidos nos Andes n!o

    resumiam'se ao seu aspecto (uncional% N!o pretendo (in$ir ter condi)es de a(irmar 

    se a (un!o pr2tica veio antes do papel ritual, mas n!o creio +ue sea mesmo Ktil

    entrar em tal contenda% O +ue me interessa - demonstrar +ue o tecido no .eru pr-'

    incaico constitu0a o maior bem cerimonial, al-m do presente (avorito% A cerim*nia de

    apresenta!o da criana, o seu 8desmamar9, era marcada pela atribui!o de um

    novo nome ao in(ante e o corte de (ios de seu cabelo pelos parentes, +ue ao (a&er 

    tal ato deveriam retribuir imediatamente com um presente% Na lista$em de tais

    re$alos, o tecido - sempre relatado com a maior import1ncia, como demonstrado no

    relato de .olo5R% A inicia!o +ue acompanhava a puberdade tamb-m - not2vel% No

    ritual +ue marcava a mudana de status social, de criana a adulto, a wara, tan$aprodu&ida pela m!e do ovem ou da ovem, tra&ia em si os poderes m2$icos da

    trans(orma!o +ue se operava% Nos a=llus o presente de casamento mais valioso

    era uma pea de al$od!o (iado, e a mulher mais dese2vel a +ual+uer homem era

    a+uela +ue sabia tecer% /sposas dos homens mais poderosos competiam para

    provar +uem bordava o melhor cobertor% A coroa!o da vitoriosaJ a pre(er"ncia do

    esposo pelo seu manto na hora de se recolher% O cerimonial (Knebre, en(im, era

    tamb-m marcado pela presena das roupas% Os mortos eram vestidos com roupasnovas, e oito dias ap3s o enterro, os parentes deveriam voltar ao tKmulo e, cantando

    e danando com ale$ria, lavarem as roupas do (alecido para +ue ele n!o reclamasse

    no momento do seu retorno, por n!o ter um vestu2rio apresent2vel% Todas essas

    pr2ticas citadas permaneceram em vo$a ap3s a e#pans!o do imp-rio inca, incluindo

    os sacri(0cios mais suntuosos, a+ueles onde lhamas e roupas nov0ssimas eram

    o(erecidas ao (o$o%

    Di(erente do Andes central, na re$i!o costeira do +ue hoe - o /+uador amoda do vestir'se era n!o se vestir% aren Olsen ruhns55  demonstra +ue, ao

    contr2rio dos vi&inhos de Andes, os nativos da re$i!o 8e+uatoriana9 tinham o

    costume de vestir poucas peas, +uando vestiam al$uma% De semelhante, apenas o

    uso de capas e cobertores nas noites mais (rias% /n+uanto no .eru a (alta de roupas

    5 Tradu*o l-re e pou!o prossonal de 9eaned8

    10 MRRA, #o+n >" Idem" p" 1%

    11 CR'NS, Faren &lsen" $ostume n E!uador eore t+e In!as8" In: R&WE, Ann

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    era sinal de des$raa social, no /+uador tal pr2tica era comum% /m $eral a

    decora!o do corpo era mais importante% As pinturas corporais eram (ortemente

    disseminadas, com o urucum e a (olha de eripapeiro tendo predomin1ncia na

    con(ec!o das tintas, demarcando o vermelho e o preto como bases crom2ticas de

    $rande parte das artes corporais% Sem dKvida uma bela demonstra!o de bom $osto

    art0stico no uso do rubro'ne$ro%%%

     Ao inv-s do vestu2rio, tatua$ens e piercin$s demarcavam posi)es sociais%

    N!o @ toa as t-cnicas e desenhos v!o se comple#i(icando, desdes os Baldivias at-

    os Chorreras% Isso sem (alar da modi(ica!o cranial, pr2tica muito comum dentre

    beb"s oriundos de (am0lias che(es ou nobres% apenas com os Guan$ala +ue as

    roupas comeam a aparecer com mais (re+u"ncia% No per0odo conhecido como o doDesenvolvimento e$ional >at- RR d%C%?, especialmente nas culturas dos ah0a,

    ama'Coa+ue e Tolita, +ue os traos relacionados ao vestu2rio s!o mais numerosos%

    Curioso +ue ruhns indica estudos +ue su$erem contatos 8precoces9 enrte

    os povos do .eru e /+uador, antes da con+uista incaica% Ornamentos de ouro de

    aspecto peruano, bem como al$umas cer1micas produ&idas em localidades

    distintas, s!o encontradas nas terras e+uatorianas remontando @ -poca em +uest!o%

    o

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    (rias% bom ressaltar +ue o Andes e+uatoriano - bem mais +uente +ue o peruano,

    por sinal% A he$emonia estabelecida pelas culturas inca e subse+uentemente

    espanhola deve ter sido a respons2vel pela ado!o dos vestidos lon$os e outras

    peas de roupa +ue (ormaram a base do costume ind0$ena observado em $rande

    parte das (ontes posteriores%

    $ "%!A&"L"CIM"#!$ D$ D$M/#I$ I#CA

     A con+uista da re$i!o andina pelos incas (oi uma hist3ria de perman"ncias e

    trans(orma)es, no +ue concerne aos aspectos sociais e culturais% O es+uema de

    reciprocidade basal na constru!o e manuten!o do imp-rio obedecia em muitossentidos a perman"ncia de direitos pr-'incaicos% .or e#emplo, al$umas das bases

    da rela!o entre o estado e os camponeses% A obri$a!o de se trabalhar nas terras

    do Imp-rio e dos templos era retribu0da pela perman"ncia do direito de se plantar e

    colher seus cultivos nas suas terras% A obri$a!o de se (abricar tecidos para o

    Imp-rio e os esto+ues dos templos era recompensada com a manuten!o do direito

    de usu(ruir da l! e do al$od!o arma&enados nos esto+ues comunit2rios para a

    produ!o de seu pr3prio vestu2rio% O Ta

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    assim completamente de sua di$nidade social% N!o (oi um conunto de peas de

    roupas +ue Atahualpa enviou a seu meio'irm!o Hu2scar como prova de lealdade e

    $arantia de pa& pouco antes de estourar a $uerra civil (raterna: Not2vel tamb-m

    uma pr2tica imperial um tanto +uanto curiosaJ a de doar tecidos a povos

    con+uistados +ue n!o os possu0ssem em demasia% Talve& para marcar o

    estabelecimento da rela!o de reciprocidade +ue seria marca da domina!o

    conse+uenteJ a $enerosidade do con+uistador deveria ser pa$a% / assim o seria

    re$ularmente%

    /m ;uito, as primeiras campanhas de con+uista ocorreram entre 5F7 e

    5F55% Tupa Inca, (ilho de .achacuti, o (undador do imp-rio, (oi o che(e militar 

    respons2vel pelas vit3rias% Hua=an Capac, seu (ilho, teria nascido no campo debatalha durante a se$unda campanha% O av*, or$ulhoso pelos ausp0cios, aposenta'

    se satis(eito% Hua=na Capac, assumindo em 5F7 ap3s a morte de seu pai, s3

    retornaria @ Tumi .ampa, onde nasceu, em 55% No retorno, er$ue constru)es

    suntuosas e ordena obras de impacto, mandando eri$ir tamb-m uma est2tua de

    ouro de sua m!e, depositando a placenta na +ual (oi concebido diretamente no

    ventre do monumento, unto @ $randes +uantidades de ouro e prata% O comandante

    morreria em ;uito mesmo, acometido por uma das epidemias tra&idas pelosespanhois do outro mundo desconhecido% Como Trouillot a(irma insolitamente, as

    doenas (oram um dos 8bens95 +ue marcaram esse (lu#o in-dito +ue inau$ura a

    e#ist"ncia e desenvolvimento do mundo atl1ntico% Da morte do l0der, os primeiros

    sinais da $uerra civil +ue marcaria os Kltimos momentos do $lorioso imp-rio% Guerra

    essa muito bem e#plorada por .i&arro e seus asseclas5P%

    /m rela!o aos tecidos, observamos mudana (undamental% A+uela

    sociedade +ue n!o atribu0a @s roupas nenhum papel de centralidade social -con+uistada por outra com si$nos distintos% A manuten!o dos costumes +ue

    normalmente se operava nas con+uistas incaicas n!o poderia ser estabelecida no

    /+uadorJ a roupa tinha valor simb3lico $rande demais para ser i$norada pela nude&

    16 R&WE, #o+n 'o9land" T+e In!as n uto8" In: R&WE, Ann

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    ousada% As pr2ticas de (abrica!o t"#til (oram +uase +ue imediatamente introdu&idas

    na sociedade local, e a (alta de peas de vestu2rio (oi se (irmando como um sinal de

    de$redo, reei!o% As roupas antes ne$li$enciadas passaram a distin$uir e

    di(erenciar, como de pra#e no .eru% Interessante notar +ue as roupas mais (inas,

    para ocasi)es especiais, eram encomendas pela che(ia inca a especialistas homens,

    en+uanto as mulheres eram as selecionadas para o servio reli$ioso% Divis!o se#ual

    introdu&ida, por-m import1ncia an2lo$a aos $"neros, como 2 enunciado

    anteriormente%

    No /+uador o modo de se vestir +ue mais (e& sucesso (oi o vestido (eminino

    >aWsu, ou anaWu? e a tKnica masculina >camiseta, ou unWu?, +ue cobriam em $eral

    at- o oelho% Os adereos de cabea acabaram sendo o retrato de perman"nciasculturais 8em luta9 contra as modi(ica)es do con+uistador% (ato +ue o vestu2rio

    passou a ser s0mbolo de status pela primeira ve& no /+uador, por-m a

    8padroni&a!o9 dos vestidos e tKnicas mantinha certa i$ualdade e talve& at-

    resist"ncia na aceita!o do s0mbolo% As di(erencia)es de status eram +uase

    sempre estabelecidas pelos chap-us e adereos de cabea >ou cortes de cabelo?,

    +ue representavam caracter0sticas da prov0ncia do +ual o portador do aparato se

    ori$inava, al-m de ter li$a!o direta com a anti$a pr2tica de modi(ica!o cranianaen+uanto marcadora de status% O s0mbolo social, de certa (orma, permanece em seu

    locus corporalJ a cabea%

    A C$#0UI%!A "%PA#H$LA " A M"'CA#!ILI1A()$ !*+!IL

     Ap3s a captura de Atahualpa em Caamarca5  em 576, a coloni&a!o

    espanhola estabelece suas primeiras a)es de a(irma!o na re$i!o andina% O

    aprisionamento do che(e tinha a inten!o de promover uma trans(er"ncia de poder @s m!os espanholas com um $olpe Knico e decisivo, poder esse +ue seria mantido,

    assim como no E-#ico, atrav-s da manuten!o da estrutura administrativa

    e#istente6R% No dia 5 de novembro de 577, a capital do imp-rio, Cu&co, (oi

    (inalmente con+uistada% N!o precisamos para os prop3sitos deste trabalho

    rememorar todo o processo (actual pol0tico da con+uista, apenas citaremos +ue a

    15 'EMMIN2, #o+n" Con*uest of the +ncas" ol" 01, $olonal Latn Amer!a" $amrd=e

    n-erstD

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    (ase inicial da coloni&a!o nos Andes (oi de incerte&as e rebeli)es% Uma transi!o de

    (oras +ue n!o assentou com tanta (acilidade como os espanhois $ostariam e

    planearam% A pr3pria capital se torna Lima em 57, mais interessante

    economicamente para os con+uistadores uma ve& +ue litor1nea, em oposi!o @

    anti$a re(er"ncia incaica nas montanhas%

    .ara ;uito .i&arro enviou seu tenente, Sebasti2n de en2lca&ar, para

    e#plorar e con+uistar a re$i!o% Euito embora as vit3rias militares tenham sido

    numerosas, os espanhois encontraram pou+u0ssimas (ontes de pedras preciosas no

    norte do imp-rio, $erando (rustra)es +ue (oram base de massacres diversos das

    popula)es ind0$enas65% /n+uanto no comando de ;uito, en2lca&ar ordenou a

    destrui!o e +ueima de casas de nativos para 8abrir espao9 @ constru!o dospr-dios +ue marcariam os s0mbolos e si$nos europeus% A maior parte destes nativos

    +ue (icaram sem lar (oram realocados para a re$i!o do vale do Guapulo, (icando

    assim pr3#imos e 8dispon0veis9 para a necessidade de m!o'de'obra espanhola% / de

    (ato, para prevenir mi$ra)es e (u$as em massa, o cabildo de ;uito aprovou uma

    le$isla!o ordenando +ue todos os nativos deveriam permanecer permanentemente

    em suas comunidades de ori$em @ -poca da che$ada dos europeus% en2lca&ar 

    abandonaria em breve >57? o comando da cidade, partindo para Nova Granadaem busca de metais preciosos% A (alta do obeto de cobia europeia na re$i!o norte

    do Ta

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    ent!o, o principal meio de $erar receitas, e a base econ*mica da re$i!o de ;uito por 

    +uase toda a dura!o do per0odo colonial espanhol%

    Como bem e#plica Su&anne Austin67, a institui!o da encomienda tinha base

    nas rela)es de reciprocidadeJ os nativos pa$avam +uantidades espec0(icas de

    tributos e trabalho ao encomendero, en+uanto o mesmo retribu0a $arantindo a

    se$urana e bem'estar da+ueles, $arantindo no processo a inser!o ind0$ena nos

    preceitos crist!os% A pr2tica, no entanto, era normalmente di(usa% Os encomenderos,

    n!o raro, abusavam de suas prerro$ativas, e cobravam tributos absurdos% Isso sem

    (alar nos trabalhos (orados +ue muitos impunham aos 0ndios, muitas das ve&es sem

    o pa$amento ordenado por lei% No a(! de aumentar o controle administrativo, a

    Coroa passou a tomar o controle o(icial das encomiendas ao (inal do BI com amorte de seus possessores%

     A Coroa obteve lucros n!o apenas assumindo o controle de tais institui)es,

    mas tamb-m atrav-s da venda de licenas para a+ueles deseosos em abrir as

    obrajes, esp-cies de (2bricas de produ!o t"#til% O ne$3cio parecia vantaoso para

    8todos9% Os encomienderos com capital su(iciente para investir nas obrajes lucravam

    com as vendas numerosas dos tecidos produ&idos, e os ind0$enas trabalhadores de

    tais 8(2bricas9 recebiam en(im um sal2rio para poder pa$ar seus tributos% Tudo issose deve @ (orma!o de uma cadeia mercantil t"#til, citando 4allerstein mais uma

    ve&, em cone#!o direta com o com-rcio de metais preciosos produ&idos no .eru

    >ol0via inclu0da a+ui no 8Grande .eru9? e em Nova Granada% A base do com-rcio

    atl1ntico era o (lu#o de prata e ouro, e as ri+ue&as por esse (lu#o produ&idas eram

    em $rande parte usadas no com-rcio de roupas e tecidos advindos do /+uador%

     A produ!o t"#til era comumente sustentada pelas obrajes de comunidad 24,

    opera)es de centenas de trabalhadores locali&adas em $eral em vilas ind0$enas,teoricamente sob o comando e or$ani&a!o da comunidade local% O lucro das

    numerosas vendas pa$ava o tributo% Nas 2reas mais rurais, donos de haciendas e

    ordens reli$iosas empreenderam no estabelecimento de obrajes  pr3prias,

    particulares%

     As condi)es de trabalho em tais estrutuas era $eralmente p-ssimas% A

    maioria trabalhava mais de 56 horas ao dia, sete dias por semana% Crianas de seis

    %3 ASTIN, SuKanne" Idem" p" 5B55

    %4 ASTIN, SuKanne" Idem" p" 101

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    anos de idade (oram documentadas trabalhando em al$umas das obrajes  mais

    produtivas, contrariando todo e +ual+uer re$ulamento r-$io% A ventila!o inade+uada

    levava a diversas doenas respirat3rias, as condi)es sanit2rias prec2rias tamb-m

    n!o audavam% Doenas cr*nicas tra&idas pela e#aust!o corporal e suei!o a

    ambiente t!o nocivo @ saKde eram a t*nica dos ind0$enas +ue nas obrajes

    trabalhavam, $arantindo a produ!o t"#til colonial% A+ueles +ue tentavam (u$ir, ou

    mesmo +ue n!o batiam as metas estabelecidas, encontravam como destino ne(asto

    o encarceramento nas pris)es da obraje, depois de uma surra corretiva%

    Os sal2rios 2 mencionados eram re$ulados pela Coroa espanhola de

    acordo com a (un!o do trabalhador e +uantidade de dias trabalhado ao ano% A meta

    era de 756 dias, por sinal% ;uase nin$u-m conse$uia cumprir as metas necess2riaspara a obten!o dos pa$amentos completos% B2rios recebiam apenas $r!os ou

    ent!o tecido mesmo como remunera!o, sem amais tocarem em um peso se+uer%

    ;uanto @ produ!o em si, a principal e#porta!o (oi sem dKvidas o  paño azul , tecido

    a&ul de l! de alt0ssima +ualidade e $rande consumo%

    O au$e da produ!o t"#til da Audiencia de ;uito se deu por volta de 5R%

     Ap3s esse per0odo, por diversas ra&)es, esse setor da economia so(reu um severo e

    prolon$ado decl0nio6

    % As denKncias de abusos e corrup!o administrativa (e& com+ue a Corte ordenasse o (echamento de diversas obrajes na d-cada anterior, al-m

    de v2rias outras +ue (echaram por conta pr3pria, especialmente as de comunidad ,

    +ue n!o conse$uiram acompanhar a competi!o introdu&ida pelos

    empreendimentos particulares% Uma s-rie de epidemias e desastres naturais nos

    5R redu&iram a popula!o ind0$ena em FR'RX6, criando uma crise de m!o'de'

    obra +ue duraria at- o s-culo BIII% .ara piorar a situa!o, a produ!o de tecidos

    em ;uito perdeu sua prima&ia e e#clusividade com a competi!o decorrente dodecl0nio da minera!o no +ue hoe - a ol0via, levando os anti$os mineradores a se

    dedicarem a atividade +ue tanto lucrava adacentementeJ a manu(atura t"#til% Isso

    sem (alar nas produ)es europeias, 2 no s-culo BIII%

    Contrastando com os outros dom0nios espanhois, para +uem os 5RRs (oram

    uma -poca de crescimento populacional e e#pans!o econ*mica, o /+uador 

    espanhol, +ue (oi base do com-rcio de tecidos por todo o s-culo BII e $rande parte

    %7 ASTIN, SuKanne" Idem" p" 103

    %6 Idem" Idem

  • 8/17/2019 Trabalho Mercadorias

    13/21

    do BI, e#perimentou um per0odo de absoluta esta$na!o demo$r2(ica e severa

    depress!o econ*mica, +ue durariam at- a -poca das $uerras de independ"ncia%

    Talve& Dale Tomich nos sea e#tremamente Ktil, demonstrando a rela!o dial-tica

    estabelecida entre os processos t0picos de um desenvolvimento da economia'mundo

    e seus impactos nos casos particulares% O desenvolvimento da indKstria t"#til em

    ;uito deveu'se em lar$a escala ao (oco do com-rcio atl1ntico na minera!o,

    provendo uma atividade de sustenta!o @ outra em (oco% / entra em decl0nio

     ustamente +uando a minera!o entra em per0odo de crise, avassalada pela

    competi!o +ue outrora n!o e#istia% O caso local s3 (a&endo sentido a partir de um

    estudo $lobal, conuntural%

    O sistema'mundo capitalista e sua divis!o internacional de trabalhomerecem mais uma vis!o espec0(ica antes de concluirmos essa se!o do trabalho%

    N!o @ toa (alamos sobre a +uest!o da divis!o se#ual do trabalho no estudo dos

    e#emplos pr-'incaicos e incaicos% A inten!o era demonstrar a mudana operada a

    partir da con+uista espanhola, t0pica da introdu!o de um novo sistema social

    hist3rico no BI, o sistema'mundo capitalista% aren Graubart e#p)e em e#celente

    arti$o a +uest!o da divis!o se#ual do trabalho no .eru colonial6% Ar$umenta a

    autora +ue a economia colonial peruana (oi constru0da com base em contesta)esJas rela)es de produ!o e consumo desenvolvidas (oram resultado de inKmeros

    con(litos entre os atores ind0$enas e europeus, ao inv-s de simples triun(o de um

    sobre o outro% Tentamos demonstrar e#atamente isso anteriormente, +uando

    (al2vamos da manuten!o de estruturas como estrat-$ia de coloni&a!o% Os

    coloni&adores obtiveram sucesso no entanto na naturali&a!o de al$umas rela)es

    sur$idas, como a divis!o se#ual do trabalho na produ!o t"#til% O leitor se lembrar2

    +ue nas sociedades andinas o tear era uma atividade predominantemente (eminina,muito embora a di(erencia!o n!o constitu0sse necessariamente um u0&o de

    import1ncia a um $"nero ou outro% Se constitu0sse, de (ato, o papel da mulher seria

    de absoluto desta+ue, considerando a (ulcralidade da produ!o t"#til e da rela!o

    com os tecidos mantidos pelas sociedades dos Andes%

    Nas primeiras d-cadas da coloni&a!o, mantendo o a(! de manuten!o de

    estruturas com 8mera9 substitui!o de liderana, os espanhois mantiveram a

    % 2RACART, Faren" Wea-n= and t+e $onstru!ton o a 2ender (-son o Laor nEarlD $olonal

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    tend"ncia 2 demonstrada nas sociedades andinas em rela!o @ produ!o t"#til%

    Homens e mulheres teciam, muito embora a atividade tivesse predom0nio (eminino%

    Duas press)es trans(ormaram esse processo produtivo e as ideolo$ias de $"nero a

    ele li$adasJ as e#pectativas dos coloni&adores e suas demandas por uma produ!o

    t"#til +uase +ue ilimitada6P% Os homens eram considerados os Knicos tribut2rios ao

    /stado espanhol, muito embora as mulheres tamb-m trabalhassem e contribu0ssem

    com produ)es tribut2rias% A rai& da di(erencia!o reside na mita, na +ual apenas os

    homens trabalhavam% As  obrajes  2 a+ui mencionadas s!o outro e#emplo de

    trabalho masculino, em especial na produ!o t"#til +ue - o nosso (oco%

    O +ue se modi(ica com o advento do dom0nio espanhol, portanto, n!o - a

    participa!o masculina ou (eminina no tear% A atividade +ue sempre (oi notadamente(eminina assim permanece, embora n!o e#clusiva @s mulheres% O +ue se modi(ica -

    o valor dado ao trabalho com a introdu!o do sistema'mundo capitalista% O trabalho

    assalariado - posto em proe!o central, sendo o homem na Am-rica espanhola

    a+uele +ue sai de casa para o servio e#terno% As mulheres tamb-m tiveram +ue,

    com o tempo, inte$rar'se completamente @ atividade econ*mica, o +ue demonstra

    uma ve& mais os impactos sociais e culturais do capitalismo en+uanto realidade

    hist3rica, impactos esse somente compreendidos em sua completude a partir de umestudo $lobal +ue tra$a o sentido necess2rio a tais e#peri"ncias locais de

    e#plora!o e divis!o internacional de trabalho%

    $% C$'A#!"% D" PA'ACA%

    /ncerrando nossa re(le#!o, cabe uma proposta de re(le#!o um tanto +uanto

    conse+uente% /studamos o desenvolvimento da produ!o t"#til na Am-rica

    espanhola, en(ocando nos impactos sociais e nas di(erenas na lide com o tecidodentre as sociedades pr-'incaicas, incaica e hisp1nica% Demonstramos tamb-m as

    rela)es intr0nsecas entre o com-rcio de roupas e tecidos e o de e#tra!o de pedras

    preciosas, somente compreendidos a partir das elocubra)es te3ricas de

    4allerstein, Tomich e outros acerca do sistema'mundo capitalista e do com-rcio

    atl!ntico em especial% H2 no entanto, potencialmente, uma outra indKstria li$ada

    diretamente ao com-rcio de roupas e tecidosJ o de corantes% 2 estabelecemos a

    import1ncia das roupas para as culturas (ormadoras da re$i!o do .eru, mas ser2

    %B Idem" Idem" p" 774

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    +ue as cores do vestu2rio tamb-m n!o detinham valor social: / ap3s o advento da

    con+uista espanhola, n!o seriam as cores das roupas marcadores essenciais de

    di(erenas dos produtos e#portados: ecordamos +ue o principal produto das

    obrajes era o paño azul , (eito a partir de pelo de lhama% N!o sei o leitor, mas n!o me

    recordo de observar al$uma ve& na vida al$uma lhama a&ulada a correr pelos

    pastos%%% Trata'se, naturalmente, de um processo de tin$imento% Nosso trabalho tem

    como (oco a produ!o t"#til, e assim permanecer2, mas como as cadeias mercantis

    dos tecidos e corantes possuem tamb-m uma rela!o t!o simbi3tica, propomos de

    (orma bastante breve uma e#orta!o sobre os corantes produ&idos em especial na

    re$i!o de .aracas, no .eru6% O obetivo n!o - apresentar um novo produto, apenas

    inte$r2'lo resumidamente @ import1ncia dos tecidos 2 evidenciada% A pen0nsula de .aracas situa'se na costa sul do .eru, entre os vales dos

    rios Ica e .isco7R% e$i!o des-rtica de pluviosidade +uase nula, .aracas entrou na

    mente dos pes+uisadores das anti$as sociedades andinas especialmente ap3s a

    descoberta de necr3poles +ue remontariam a um povo +ue ali viveu entre cerca de

    RR a%C% e 6RR d%C%% Nas necr3poles (oram descobertas mKmias, envolvidas em

    numerosas e sucessivas camadas de t"#teis, ricamente trabalhados, muitos deles

    +uase sem ind0cios de terem sido previamente utili&ados75

    % O trao - an2lo$o ao +ueestudamos no in0cio do trabalho, com o costume de enterro dos mortos envoltos em

    roupas novas e en(eitadas sendo comprovado pela cultura .aracas tamb-m% A

    import1ncia dada aos t"#teis -, a+ui tamb-m, evidente% Na maioria dos t"#teis de

    .aracas mais trabalhados e com uma decora!o mais rica, as (ibras t"m sido

    identi(icadas como sendo de l! de camel0dio76% Considerando +ue .aracas situa'se

    em re$i!o costeira, a presena de lhamas e alpacas deve indicar interc1mbio com

    outros povos de &onas montanhosas%

    %5 R&(RI2ES, Isa Santos" A cor dos t01teis andinos: análise da cor em t01teis da cultura

    milenar de 2aracas" (sserta*o apresentada na a!uldade de $n!as e Te!nolo=a da

    n-ersdade No-a de Lsoa, %00B"

    30 Idem" Idem" p"

    31 Idem" Idem"

    3% Idem" Idem" p" 5

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     A cor nos t"#teis andinos era muito importante e pensa'se +ue

    corresponderia a um comple#o simbolismo e hierar+uia77% A variedade, ao +ue

    parece, seria obtida a partir de tr"s corantes baseJ o 0ndi$o, pela Indigofera

    suffruticosa o vermelho, purpurina e pseudopurpurina, por uma esp-cie de

    Relbunium e o amarelo, n!o identi(icado% /ssas in(orma)es nos s!o valiosas por 

    serem e#plica)es plaus0veis ao problema do uso de corantes n!o s3 por povos n!o

    inseridos em uma rede comercial e mercantil mundial, mas tamb-m valem para

    e#plicar boa parte do uso de 0ndi$o, ou anil, nas produ)es t"#teis de ;uito e do

    .eru% O a&ul, das cores mais di(0ceis de serem encontradas de (orma natural,

    marcava a distin!o +ue (a&ia do paño +ue recebia seu nome, a pea de tecido mais

    valiosa do com-rcio atl1ntico espanhol%Da manuten!o da import1ncia cultural das cores @ sua import1ncia

    8econ*mica9 durante o dom0nio espanhol, essa curta se!o apresenta como um

    estudo da produ!o t"#til n!o pode prescindir do acompanhamento de um estudo

    dos corantes utili&ados nessa mesma produ!o% Como a n3s (alta ainda uma

    pes+uisa mais demorada, paramos por a+ui% Yica a proposta e a a(irma!o da

    inevitabilidade do encontro dessas duas cadeias mercantis nos estudos do sistema'

    mundo capitalista%

    C$#CLU%-"%

    Immanuel 4allerstein, soci3lo$o estadunidense e (undador do Yernand

    raudel Center, lana as bases de nossa base te3rica a+ui evidenciada no primeiro

    cap0tulo do seu apitalismo hist!rico e ci"iliza#$o capitalista, 8A mercantili&a!o de

    tudoJ produ!o de capital97F% Como bem evidenciado pelo t0tulo da obra, o autor 

    busca reali&ar um estudo do capitalismo en+uanto 8sistema social hist3rico9,analisando sua (orma!o hist3rica 8como um sistema de alcance mundial e suas

    e#press)es nas es(eras econ*mica, pol0tica e cultural'ideol3$ica97% No centro dessa

    33 Idem" Idem

    34 $&TIN'&, (ou=las" 3elatório do Curso "ercadorias do "undo Atl4ntico ?No resst e

    t-e Jue +omena=ear nossa Juerda #an $arneD e aKer uma !ta*o a mm mesmo" A deren*a

    Jue a !ta*o dela era ust!adaOOO S altou alar na ter!era pessoa"""@

    37

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    an2lise, o conceito de sistema%mundo  - o carro'che(e% .ara 4allerstein, o

    capitalismo sempre (oi, desde suas ori$ens, um sistema social de economia'mundo,

    n!o limitado a na)es'/stado ou re$i)es% Eais importante ainda, ele aponta +ue

    desde o s-culo I, a 8economia'mundo capitalista9 - o Knico sistema'mundo

    e#istente ' os minissistemas n!o e#istiriam mais, e os Zimp-rios'mundo[ teriam

    dominado todas as economias at- o per0odo moderno7% no per0odo moderno +ue

    o capitalismo poder2 en(im encontrar seu desenvolvimento en+uanto economia'

    mundo% O +ue caracteri&aria ent!o esse sistema, essa economia'mundo capitalista:

    Uma divis!o internacional do trabalho em e#pans!o, impulsionada pelo obetivo de

    vender a produ!o nos mercados mundiais visando a ma#imi&ar lucros7% O

    capitalismo hist3rico inclui uma ampla mercantili&a!o de processos antescondu&idos por vias n!o mercantis% Um impulso de mercantili&ar tudo, em outras

    palavras% Nosso trabalho demonstra a validade e vitalidade das e#orta)es do

    eminente pes+uisador, apresentando atrav-s das obrajes, por e#emplo, a

    trans(orma!o de uma produ!o de import1ncia cultural a n0veis 8industriais9 com

    (oco no lucro m2#imo% A +uest!o das condi)es de vida dos trabalhadores, bem

    como a ne$li$"ncia com os sal2rios, evidenciam uma e#plora!o caracter0stica

    dessa divis!o internacional de trabalho, e os impactos pro(undos desse sistemahist3rico novo +ue estende suas $arras no mundo americano%

     A cria!o de cadeias mercantis comple#as subse+uente a esse impulso,

    vinculando diversos processos de produ!o (oi tamb-m a+ui comprovada, sea pelas

    cone#)es estabelecidas entre a minera!o do .eru e a produ!o t"#til de ;uito, sea

    pela inte$ra!o dos corantes @ manu(atura dos tecidos% O capitalismo hist3rico - o

    8locus concreto de atividades produtivas cuo obetivo econ*mico tem sido a

    acumula!o incessante de capital9 >4ALL/ST/IN 6RR5, p% 5P?% essaacumula!o a lei +ue $overna a atividade econ*mica (undamental% 8 o sistema

    social no +ual a+ueles +ue operaram se$undo essas re$ras produ&iram um impacto

    t!o $rande sobre o conunto +ue acabaram criando condi)es @s +uais os outros

    (oram (orados a se adaptar ou cuas conse+u"ncias passaram a so(rer9% Como

    36 $'AN2, Ma=da 'olan" A e!onomamundo !aptalsta: !on!etos e !onsdera*Qes

    +str!oespa!as8" In: 5 6esenvolvimento 7rasileiro e os seus 2adr8es de +nserção

     Econ9mica +nternacional ;

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    ne$ar as rela)es 3bvias entre a teoria e nossa pr2tica estudada: Da divis!o

    internacional do trabalho, base das rela)es desi$uais entre economias centrais e

    peri(-ricas, @ divis!o -tnica e se#ual do mesmo%

     A ideia de 8bio$ra(ia cultural das coisas9, de I$or op=to((, tamb-m nos (oi Ktil

    no entendimento do caso% O olhar processual com o +ual o autor analisava a

    escravid!o - aplicado na mercadoria, +ue dei#a de ser um estado permanente dos

    obetos para se tornar uma esp-cie de 8(ase9 na bio$ra(ia das coisas% /ssa produ!o

    de mercadorias -, de (ato, um processo 8co$nitivo e cultural9J as mercadorias devem

    ser culturalmente sinali&adas% Uma mesma coisa pode ser tratada como mercadoria

    em um conte#to espec0(ico e em outro n!o% .ode ser vista como mercadoria por uns,

    mas n!o por outros% /ssas mudanas demonstram, para op=to((, a e#ist"ncia deuma economia moral subacente @ economia obetiva das transa)es% Demonstr2vel

    por n3s n!o apenas na di(erena da vis!o social dos tecidos nas sociedades

    andinas do .eru e do /+uador >mercadorias devem ser culturalmente sinali&adas?,

    como tamb-m na mercantili&a!o macia p3s'con+uista, +ue tra& si$nos novos ao

    valor t"#til, a$ora de 8import1ncia9 econ*mica al-m da social% B2lido lembrar no

    entanto +ue a import1ncia econ*mica 2 era observada no imp-rio inca >pa$amento

    de tributos com roupas, arma&enamentos comunais?, al-m da observa!o cr0ticanecess2ria ao autor +ue parece, em al$uns momentos, eterni&ar a ideia de

    mercadoria e mercado% +uando a(irma +ue acredita +ue as mercadorias seam um

    (en*meno cultural universal, tendo sua e#ist"ncia a(irmada em concomit1ncia @

    +ual+uer rela!o de trocas ou interc1mbio na hist3ria, +ue op=to(( destoa um pouco

    de nosso estudo% O capitalismo parece, assim, perder a sua ess"ncia, de(endida por 

    4allerstein, de um sistema hist3rico e constru0do no tempo% .arece 8natural9 ao

    humano, caminhando em dire!o inteiramente oposta @ 4allerstein +ue che$a aa(irmar +ue de natural o sistema'mundo capitalista n!o teria nada7PQ

    Dale Tomich, meu autor (avorito dentre as inspira)es te3ricas, tamb-m

    contribui de (orma impactante e tem suas e#orta)es comprov2veis pelos estudos

    de nosso trabalho% Chamou'me a aten!o, por e#emplo, a rela!o dial-tica

    estabelecida entre os processos t0picos de um desenvolvimento da economia'mundo

    e seus impactos nos casos particulares% Ao buscar a compreens!o da (orma!o e

    re(orma!o das rela)es e processos +ue constituem a economia'mundo,

    3B $&TIN'&, (ou=las" Idem" p" 6

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    reconstroi'se a especi(icidade espao'temporal tanto das partes +uanto da

    totalidades das rela)es da economia'mundo como entidade distinta e sin$ular% /m

    outras palavras, estuda'se o desenvolvimento do processo $lobal e assim

    evidenciam'se as particularidades com muito mais clare&a, uma ve& +ue pass0veis

    de conte#tuali&a!o mais completa% Yacilmente percept0vel atrav-s dos estudos das

    particularidades dos casos de ;uito e .eru em meio a um conte#to de imp-rio

    espanhol e hist3ria atl1ntica, como 2 dissemos% Observa'se assim a proposta de

    compreens!o do Atl1ntico atrav-s da intera!o de processos e rela)es, t0picas por 

    sua ve& de uma l3$ica constitutiva de uma economia'mundo% Cria'se como

    resultado, a+uilo +ue raudel, citado por Tomich, chamaria de 8conunto de

    conuntos9% Diversas realidades comple#as construindo'se e construindo ao mesmotempo >dial-tico at- di&er che$aQ? um espao hist3rico7%

    ;uanto @ Trouillot, 2 citamos a import1ncia de suas ideias acerca dos (lu#os

    de 8bens9 produ&idos pela primeira ve& na hist3ria a partir do Atl1ntico >cen2rio

    hist3rico, n!o $eo$r2(ico? do s-culo B\BI% As mi$ra)es em massa do BII,

    apresentadas pelo autor como caracter0sticas da divis!o internacional de trabalho,

    tamb-m nos (oram ponto de re(er"ncia importante% A ideia de um sistema'mundo

    constru0do historicamente a partir do desenvolvimento da economia'mundocapitalista, sur$ida na -poca moderna% / o papel da divis!o mundial do trabalho, t!o

    usada por 4allerstein e Tomich para estudar as rela)es centro'peri(eria e o papel

    sist"mico da escravid!o, respectivamente, a+ui em Trouillot sendo remontada para

    e#plicar as bases dos (lu#os interpessoais t0picos do sur$imento de um sistema'

    mundo evidente%

    na e#posi!o dos impactos 8mentais9 +ue reside o $rande trun(o de

    Trouillot no entanto% .artindo da premissa de an2lise do capitalismo hist3ricoen+uanto 8sistema de alcance mundial com impactos pol0ticos, sociais e culturais9

    tamb-m, bem demonstrado por 4allerstein, Trouillot en(oca a +uest!o do ima$in2rio

    para demonstrar como esses (lu#os $lobais modi(icaram vis)es de vida e de

    sociedade% .r2ticas culturais inteiramente ressi$ni(icadas em um processo de

    domina!o e(etuada por +uem detinha o controle do 8valor9% N!o - bastante not2vel

    retornar @s e#plica)es de Graubart sobre a divis!o se#ual do trabalho e perceber 

    como as ideias se amarram de(initivamente:

    35 Idem dem" p"

  • 8/17/2019 Trabalho Mercadorias

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    '"F"'*#CIA%

    A/4/LL, .%% 8A minera!o na Am-rica espanhola colonial9% InJ /TH/LL, Leslie

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    O.VTOYY, I$or% 8A bio$ra(ia cultural das coisasJ a mercantili&a!o como processo9%InJ A..ADUAI, Aran >Or$%?%  A "ida social das coisas) as mercadorias sob uma perspecti"a cultural % NiteroiJ /ditora da Universidade Yederal Yluminense, 6RRP, p%PM56F%

    EUA, ohn B% 8Cloth and Its Yunctions in the Inca State9%  American Anthropologist , Ne< Series, Bol% F, No% F >A$o% 56?, pp% 5R'6P

    .//IA, Isabel rasil% 8esenha de Capitalismo hist3rico e civili&a!o capitalista%Immanuel 4allerstein, io de aneiroJ /ditora Contraponto, tradu!o de enato A$uiar, revis!o da tradu!o de C-sar enamin, 6RR5, 5FF p%9 .rabalho/ duca#$o ea5de, vol% 5, n% 5, mar% 6RR7

    ODIGU/S, Isa Santos% A cor dos t67teis andinos) an8lise da cor em t67teis dacultura milenar de 9aracas% Disserta!o apresentada na Yaculdade de Ci"ncias eTecnolo$ia da Universidade Nova de Lisboa, 6RRP%

    O4/, Ann .ollard, E/ISCH, L=nn A%, et al% ostume and &istor- in &ighland cuador % Austin, Universit= o( Te#as .ress, 6R55%

    TOEICH, Dale% 8O Atl1ntico como espao hist3rico9% studos AfroAsi8ticos, v% 6, n%6, p% 665MFR, 6RRF%

  • 8/17/2019 Trabalho Mercadorias

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    TOUILLOT, E%% 8North Atlantic YictionsJ Global Trans(ormations, 5F6'5F9% InJ:lobal transformations ) anthropolog- and the modern world % Ne< VorWJ .al$raveEacmillan, 6RR7% p% 6MF%

    4ALL/ST/IN, Immanuel Eaurice% apitalismo hist!rico e ci"iliza#$o capitalista%io de aneiroJ Contraponto, 6RR5%

    VU CHANG, Ea$da Holan% 8A economia'mundo capitalistaJ conceitos econsidera)es hist3rico'espaciais9% InJ ; es de Inser#$o con?mica Internacional @1B0%2010C) o 9apel da 9olDticacon?mica e da 9olDtica 7terna em 9erspecti"a &ist!rica%