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Faculdade Católica de Administração e Economia
FAE Business School / Pós-Graduação
Negociação e Administração de Conflitos
Trabalho final
Análise dos conflitos do filme “O Informante”
Trabalho elaborado pela aluna
Maria José Almeida
1
Análise resumida do conflito
Jeffrey Wigand é um cientista que trabalha para um grande fabricante de cigarros, Brown
& Williamson. É um alto executivo e tem um magnífico padrão de vida. Lowell Bergman
é jornalista do famoso programa de entrevistas norte-americano Sixty Minutes. Quando o
filme começa, as vidas desses dois homens estão prestes a se cruzar.
Jeffrey Wigand é demitido da Brown & Williamson por não concordar com os
procedimentos da empresa, que são anti-éticos, para dizer o mínimo. É instado assinar um
acordo de confidencialidade, que o impede, basicamente, de comentar qualquer coisa sobre
seu antigo trabalho. Na seara pessoal, começa uma batalha com sua mulher, que parece
preocupada apenas com a perda do status e do padrão de vida.
Pouco tempo depois da demissão, Jeffrey é procurado por Lowell, que recebeu um dossiê
anônimo sobre um outro fabricante de cigarros e quer entendê-lo. Relutante, Jeffrey aceita
conversar com Lowell. Comenta de seu acordo de confidencialidade e dá as informações
que, a seu ver, não o comprometem.
Dias depois, é chamado à Brown & Williamson — em uma conversa tensa, seu ex-chefe, o
presidente da empresa, tentar impor-lhe um novo acordo de confidencialidade, ainda mais
rígido. Se Jeffrey não aceitar assiná-lo, perderá alguns benefícios aos quais ainda tem
direito. Jeffrey se recusa. Também sente-se traído por Lowell, pois acredita que este o
“denunciou” de alguma forma.
Lowell ganha, pouco a pouco, a confiança de Jeffrey, e tenta convencê-lo a dar uma
entrevista ao Sixty Minutes. A decisão é dificílima para Jeffrey — de um lado estão sérias
questões morais (e de saúde pública!), de outro, a segurança de sua família, pois as ameaças
vão ganhando corpo. Gente espionando sua casa, um sujeito que o segue.
Jeffrey e sua família mudam-se para uma casa menor. As ameaças tornam-se ainda mais
graves — uma mensagem explícita chega por e-mail (Vamos matar vocês!), uma bala é
2
deixada na caixa de correio. A polícia vem e, numa atitude altamente suspeita, acaba
levando o computador de Jeffrey, onde estavam arquivos importantes sobre seu trabalho.
Diante disso, Jeffrey decide dar a entrevista e contar tudo o que sabe. Sua mulher resiste à
idéia. Jeffrey vai em frente. Também começa a trabalhar como professor em uma escola
secundária. Logo depois, sua mulher o abandona.
Enquanto isso, na CBS, o canal que produz o programa Sixty Minutes, começa uma outra
batalha. A advogada da empresa considera altamente arriscado mostrar a entrevista de
Jeffrey. Segundo ela, a Brown & Williamson pode alegar “intervenção ilícita” em seus
negócios, pois a CBS estaria contribuindo para a violação de um acordo de
confidencialidade firmado “livremente” entre duas partes. Um processo desse tipo poderia
impedir um grande negócio que está em curso — a venda da CBS. Mais: a própria Brown
& Williamson poderia tornar-se proprietária da CBS.
Lowell compra a briga, pois sente-se totalmente responsável por Jeffrey, que arriscou tudo,
inclusive o bem-estar das filhas, para dizer a verdade. Também está em jogo sua ética de
jornalista. Lowell busca apoio em outro jornalista, Mike Wallace, mas este,
surpreendentemente, está do outro lado. A direção da CBS decide não mostrar a entrevista.
Em um terceiro front, Jeffrey depõe como testemunha em um processo movido pelo Estado
do Mississípi contra um fabricante de cigarros. A luta contra uma indústria sinistra vai
aglutinando mais e mais pessoas. A indústria contra-ataca, vasculha o passado de Jeffrey e
começa a destruir sua imagem. Fatos são distorcidos na tentativa de transformá-lo em um
suspeito —sua primeira mulher o acusa de não pagar a pensão, uma denúncia indevida de
roubo em uma loja vem à tona.
Lowell se faz valer de seus contatos e convence outro jornal a publicar a verdadeira história
de Jeffrey. O impacto é grande. A CBS decide, finalmente, colocar a entrevista no ar. É um
momento-chave na luta contra os fabricantes de cigarros. Mas Lowell está desiludido com a
CBS e decide deixar seu emprego em nome de sua retidão profissional. O outro
protagonista, Jeffrey, também busca reconstruir sua vida.
3
Do conflito moral ao conflito “nacional”
É interessante observar como um conflito interno (Jeffrey e sua moral) toma dimensões
gigantescas e, num efeito dominó, gera uma série de outros conflitos e conseqüências
surpreendentes. O esquema ilustra esse efeito:
4
Conf lito interno de Jef f rey
Conf lito de Jef f rey com
seu chef e
Conf lito de Jef f rey com a empresa
Demissão
Conf lito de Jef f rey com
a mulherCausa do Estado do Missisípi contra a
indústria do cigarro
Aparecimento de Lowell
(representante da CBS)
Conf lito de um grupo
(antitabagistas) contra outro (a
indústria do cigarro)
Conf lito de Lowell com a direção da
CBS
Conf lito de Lowell com
Mike Wallace
Separação
Busca de nov os
caminhos
Mudança decisiv a na f orma como o cigarro e
seus f abricantes são v istos
pela sociedade
Pedido de demissão de
Lowell
Conf lito inicial
Conf litos
Conf litos analisados
neste trabalho
Fatos que alimentam
os conf litos iniciais
Conseqüências
Conflito de Jeffrey com a empresa
Observação
Para fins de análise, estamos considerando este conflito até o ponto em que outro grupos
(imprensa, advogados do Estado do Mississípi) se unem a Jeffrey. Desse momento em
diante, o conflito ganha outras dimensões, que serão estudadas no tópico a seguir (conflito
entre grupos antitabagistas e fabricantes de cigarro).
Tipo de Conflito
Quando o filme começa, o conflito já é manifesto — Jeffrey acaba de ser demitido. Passa,
então, a ser extremamente destrutivo, pois coloca em risco a vida profissional e pessoal de
Jeffrey e até mesmo sua integridade física. Pode ser definido, ainda, como um conflito
intragrupal, que termina com a expulsão do elemento “perturbador”. Ou seja, da dimensão
chefe (Thomas Sandefur) X subordinado (Jeffrey Wigand) passa à dimensão
corporação X subordinado.
Contexto de poder
A organização (Brown & Williamson) faz uso do poder coercitivo para destituir Jeffrey de
seu cargo e impor a ele um acordo de confidencialidade. Utiliza, também, do seu poder de
conexão, isto é, de suas influências, no episódio em que a polícia invade a casa de Jeffrey e
leva seu computador e seus arquivos. A seu favor, Jeffrey tem o poder da informação —
sabe de coisas que podem comprometer seriamente os negócios da organização.
Clima existente
Autoritário. Quando o questionamento moral e o conhecimento de Jeffrey passam a
ameaçar os interesses da Brown & Williamson, os principais executivos da empresa não
hesitam em defendê-los com métodos sujos. O clima também é, portanto, de confronto e
chantagem.
5
Seqüência do conflito
Causas psicológicas do conflito
Os executivos da Brown & Williamson têm uma visão irrealista da própria posição, do tipo
+ . Vêem-se como superiores a Jeffrey e adotam uma atitude de arrogância extrema, de
quem não considera a hipótese de sair perdendo. Também partem para o ataque, como o
objetivo de “liquidar” Jeffrey e a ameaça que este representa.
Minha opinião sobre a solução do conflito e como eu o resolveria
Nesta etapa, quando ainda não estão envolvidos a imprensa e os grupos antitabagistas,
Jeffrey é simplesmente “informado” da sua demissão e das condições que deve respeitar. A
Brown & Williamson se aproveita da vantagem da sua posição em relação a Jeffrey, e este
faz o que pode fazer: retirar-se. Obviamente, não concordo com a solução, que deveria ser a
do esclarecimento, mas esta só poderá ser alcançada mais tarde, com a pressão da mídia e
dos tribunais.
6
1 "Cale a boca se não
quiser ter problemas"
1 "Eu não posso calar"
2 Questionamento moral e posição f rágil diante de
algo muito maior
2 Moral duvidosa:
não quis retirar
substância nociv a do
produto, por medo de
perder v endas
3 Organização assume papel
de perseguidor, mas acabará
perseguida por sua v ítima!
4 Raiv a e contentamento
com a destruição do
outro
4 Medo e angústia
Jeffrey
Brown & Williamson
Subentendidos
Pontos fracos aos quais os oponentes se
agarram
Atitudes instintivas de
proteção
Sentimentos ineficazes
Conflito dos grupos antitabagistas contra a indústria do cigarro
Tipo de Conflito
Trata-se de um conflito intergrupal manifesto —há acusações de ambas as partes na
imprensa e nos tribunais. No seu desenlace, o conflito acaba sendo construtivo, pois leva a
um novo paradigma em relação ao cigarro e aos seus fabricantes.
Contexto de poder
Todos —imprensa, advogados do Estado do Mississipi e indústria do cigarro— usam do
poder da conexão para fazer valer suas posições.
Clima existente
De discussão aberta, muito a contragosto de uma das partes, a indústria do cigarro, que
prefere o jogo autoritário e obscuro.
Seqüência do conflito
7
1 "Vocês não podem
conosco"
2 Supostas f alhas morais. Ex.: tentativ a de
desmoralização do depoimento
de Jef f rey
2Procedimentos
anti-éticos
3 Fabricantes de cigarros atacam para def ender-
se, ou seja, colocam-se no
papel de perseguidores.
No entanto, acabam
"perseguidos".
4 Raiv a, manif estada por golpes
sujos
Grupos antitabagistas
Fabricantes de cigarros
Subentendidos
Pontos fracos aos quais os oponentes se
agarram
Atitudes instintivas de
proteção
Sentimentos ineficazes
1 "Vamos pegar
v ocês, custe o que
custar"
Causas psicológicas do conflito
Os executivos das indústrias do cigarro repetem o comportamento dos executivos da Brown
& Williamson: têm uma visão irrealista da própria posição, do tipo + . Vêem-se,
inicialmente, como mais poderosos do que os grupos que os combatem, até o momento em
que o jogo de forças se inverte.
Minha opinião sobre a solução do conflito
É muito satisfatória a solução do conflito —o esclarecimento da opinião pública sobre os
procedimentos da indústria do cigarro.
8
Conflito de Jeffrey com a mulher, Liane
Tipo de Conflito
Este conflito instala-se assim que Jeffrey é demitido, mas de forma latente. A primeira
pergunta que Liane faz quando ele anuncia a demissão é: “Como vamos pagar todas as
contas?” O conflito torna-se manifesto na cena em que ela demonstra extrema irritação
com uma atitude banal de Jeffrey: a de lavar as mãos na pia da cozinha. (Logo depois, vem
a separação.) Trata-se, ainda, de um conflito interpessoal, em que é violada a necessidade
de Jeffrey de ser valorizado como indivíduo.
Contexto de poder
Pode-se dizer que Liane exerce uma espécie de poder de recompensa dentro dessa
organização que é a família. Quando Jeffrey deixa de fazer o que ela espera, Liane usa esse
poder para “castigá-lo”, terminando o casamento e afastando-o das filhas.
Clima existente
Liane desaprova as decisões do marido, ainda que estas sejam corretas e éticas, e é incapaz
de lhe dar apoio afetivo no momento em que ele mais o necessita. Cria-se, portanto, um
clima de recriminação (da parte de Liane) e desconforto, em que o casamento desmorona.
Não deixa de ser um clima autoritário...
9
Seqüência do conflito
Causas psicológicas do conflito
Liane tem uma visão irrealista da própria posição, no esquema tipo . Sente-se vexada
em um ambiente hostil e também vê Jeffrey com um “menos”. Sua reação: a retirada
“desiludida”.
Minha opinião sobre a solução do conflito e como eu o resolveria
O conflito é resolvido da pior forma possível: Jeffrey é informado da grave decisão de
Liane por um bilhete. A solução minimamente aceitável seria o esclarecimento, isto é, a
conversa franca e aberta. Mas, para isso, Liane precisaria de algum estofo moral e afetivo e
isso, definitivamente, ela não parece ter!
10
1 "Você dev eria ter
f icado quieto"
2 O questionamento moral de Jef f rey
3 Liane coloca-se
como v ítima, mas, na
v erdade, é a "algoz" do
marido
4Raiv a
4 Tristeza e decepçãoJeffrey
Liane
Subentendidos Ponto "fraco" Atitudes
instintivas de proteção
Sentimentos ineficazes