Trabalho Pedagogic o

Embed Size (px)

Citation preview

TRABALHO PEDAGGICO E FORMAO DE PROFESSORES/ MILITANTES CULTURAISCONSTRUINDO POLTICAS PBLICAS PARA A EDUCAO FSICA, ESPORTE E LAZER

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 1

7/24/aaaa 09:57:20

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

Vice-reitorFrancisco Jos Gomes Mesquita

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DiretoraFlvia Goullart Mota Garcia Rosa

Conselho Editorialngelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Alves da Costa Charbel Nin El-Hani Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti Jos Teixeira Cavalcante Filho Maria do Carmo Soares Freitas

SuplentesAlberto Brum Novaes Antnio Fernando Guerreiro de Freitas Armindo Jorge de Carvalho Bio Evelina de Carvalho S Hoisel Cleise Furtado Mendes Maria Vidal de Negreiros Camargo

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 2

7/24/aaaa 09:57:21

CARLOS ROBERTO COLAVOLPE CELI NELZA ZLKE TAFFAREL CLUDIO DE LIRA SANTOS JNIOR (organizadores)

TRABALHO PEDAGGICO E FORMAO DE PROFESSORES/ MILITANTES CULTURAISCONSTRUINDO POLTICAS PBLICAS PARA A EDUCAO FSICA, ESPORTE E LAZER

Salvador EDUFBA 2009

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 3

7/24/aaaa 09:57:21

2009, by EDUFBA. Direitos de edio cedidos Editora da Universdade Federal da Bahia Feito o depsito legal

Reviso: Celi Nelza Zlke Taffarel, Guilherme Gil da Silva e Joelma de Oliveira Albuquerque, Katia Oliver de S Criao e editorao: Josias Almeida Jr e Jeferson Bezerra. Capa: Joelma de Oliveira Albuquerque

UFBA / Faculdade de Educao Biblioteca Ansio TeixeiraT758 Trabalho pedaggico e formao de professores/militares culturais : construindo polticas pblicas para a educao fsica, esporte e lazer / organizadores, Carlos Roberto Colavolpe, Celi Nelza Zlke Taffarel, Cludio de Lira Santos Junior. Salvador : EDUFBA, 2009. 135 p. ISBN: 978-85-232-0583-6 1. Educao Fsica Aspectos sociolgicos. 2. Professores de Educao Fsica Formao. 3. Prtica de ensino. I. Colavolpe; Carlos Roberto. II. Taffarel, Celi Nelza Zlke. III. Santos Junior, Cludio de Lira. CDD 613.7 - 22. ed.

EDUFBA Editora da Universidade Federal da Bahia Rua Baro de Jeremoabo, s/n Campus de Ondina 40.170-115 Salvador Bahia Bahia Brasil Telefax: 0055(71) 3283-6160/6164/6777 [email protected] www.edufba.ufba.br

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 4

7/24/aaaa 09:57:21

AOS TRABALHADORES DE TODO O MUNDO, EM ESPECIAL AOS NORDESTINOS. a vs que dedico uma obra onde tentei descrever aos meus compatriotas alemes um quadro fiel das vossas condies de vida, dos vossos sofrimentos, vossas lutas e esperanas. [...] e consagrei quase exclusivamente as minhas horas vagas ao convvio com simples trabalhadores; estou ao mesmo tempo orgulhoso e feliz por ter agido deste modo [...]. verifiquei que sois muito mais do que membros de uma nao isolada, que s querem ser ingleses; constatei que sois homens, membros da grande famlia internacional da humanidade, que reconhecestes que os vossos interesses e os de todo o gnero humano so idnticos; e sob o ttulo de membros da famlia "una e indivisvel" que a humanidade constitui, a esse ttulo de "seres humanos", no sentido mais amplo do termo, que eu, e muitos outros no continente vos saudamos pelos vossos progressos em todos os campos e que vos desejamos um rpido xito. Para a frente no caminho que vos engajastes! Muitas dificuldades vos aguardam; continuai firmes, no vos deixeis desencorajar; o vosso xito certo e cada passo frente, neste caminho que tendes de percorrer, servir nossa causa comum, a causa da humanidade.

(FRIEDRICH ENGELS, dirigindo-se classe trabalhadora da Inglaterra, em Barmen (Prssia Renana), no dia 15 de maro de 1845, nas primeiras pginas da obra A situao da classe trabalhadora na Inglaterra).

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 5

7/24/aaaa 09:57:21

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASBM ACC ANFOPE CBCEe CEDES/ME CEDIME CEFE/UFBA CONFEF/CREFs DAAD ENADE ENEM FACED FAPESB FMI GEPEL IBGE IES LEPEL MEL MST ONU PDE PIB PIBIC PIBIC-JR Banco Mundial Atividade Curricular em Comunidade Associao Nacional pela Formao dos Profissionais da Educao Colgio Brasileiro de Cincias do Esporte Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer /Ministrio do Esporte Centro de Documentao e Informao do Ministrio do Esporte Centro de Educao Fsica e Esportes da Universidade Federal da Bahia Conselho Federal de Educao Fsica/Conselhos Regionais de Educao Fsica Servio de Intercmbio Acadmico Alemo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes Exame Nacional do Ensino Mdio Faculdade de Educao Fundao de Amparo Pesquisa do Estado da Bahia Fundo Monetrio Internacional Grupo de Estudos em Educao Fsica & Esporte e Lazer Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Instituies de Ensino Superior Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao Fsica, Esporte e Lazer Grupo de Pesquisa Mdia, Memria, Educao e Lazer Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Organizao das Naes Unidas Plano de Desenvolvimento da Educao Produto Interno Bruto Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica Programa de Iniciao Cientfica Jnior

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 6

7/24/aaaa 09:57:21

PISA PNDE REUNI RPE-BA SECAD/MEC SUDEB/SEC-BA SUDESB UCSAL UEFS UFAL UFBA UFPE UFS

Programa Internacional para a Avaliao de Alunos Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais Rede Pblica de Ensino do Estado da Bahia Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade/Ministrio da Educao Superintendncia do Desenvolvimento da Educao Bsica da Secretaria de Educao do Estado da Bahia Superintendncia do Desporto do Estado da Bahia Universidade Catlica de Salvador Universidade Estadual de Feira de Santana Universidade Federal de Alagoas Universidade Federal da Bahia Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Sergipe

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 7

7/24/aaaa 09:57:21

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 8

7/24/aaaa 09:57:21

SUMRIOAPRESENTAO TEXTO 1 13 17

REDE CEDES NCLEO UFBA: CONSTITUINDO A HISTRIA DA EDUCAO FSICA NO NORDESTECeli Nelza Zlke Taffarel; Carlos Roberto Colavolpe; Nair Casagrande; Raquel Cruz Freire Rodrigues; Welington Arajo Silva; Ktia Oliver de S; Mrcia Chaves-Gamboa; Joelma de Oliveira Albuquerque; Roseane Soares Almeida; Solange Lacks; Cludio de Lira Santos Jnior

TEXTO 2

27

MUTIRES E CRCULOS DE ESPORTE E LAZER: BASES TERICOMETODOLGICAS DO PROJETO DE ENSINO E INVESTIGAOCludio de Lira Santos Jnior; Jaqueline Ferreira de Lima; Flavio Santos de Santana; Jomar Borges dos Santos; Viviane Sena dos Santos; Davi Jos de Almeida Moraes; Celi Nelza Zlke Taffarel, Teresinha de Ftima Perin

TEXTO 3

33

A BASE CONCEITUAL SOBRE FORMAO DE PROFESSORES E MILITANTES CULTURAISCludio de Lira Santos Jnior; Jomar Borges dos Santos; Melina Silva Alves; Raquel Cruz Freire Rodrigues; David Romo Teixeira; Amlia Catharina Santos Cruz; Carolina Santos Barroso de Pinho; Viviane Campos da Costa; Rafael Bastos Costa de Oliveira; rika Suruagy Assis de Figueredo, Celi Nelza Zlke Taffarel

TEXTO 4

47

MUTIRES DE ORIENTAO E O CRCULO DE ESTUDOS DOS ESTUDANTES EM INICIAO CIENTFICA (IC) E INICIAO CIENTFICA JNIOR (ICJ)Cludio de Lira Santos Jnior; Cristina Souza Paraso; Alexandre Henrique Silva Bezerra; Neidejane Souza Santos; Alrio Braz; Sandra Morena Gez e Silva Nonato; Guilherme Gil da Silva; Davi Jos de Almeida Moraes; Alexandre Andrade de Santana; Edielson Santos Moreira; Fernanda Andrade Elsio dos Santos; Tase Almeida dos Santos; Ams Carvalho da Boa Morte; Renata Souza Gomes; Valter dos Santos Machado; Joelma de Oliveira Albuquerque; Nair Casagrande; Moacir Santos de Moares Jnior; Hilda Cirlene Batista de Souza; Carlos Roberto Colavolpe; Celi Nelza Zlke Taffarel

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 9

7/24/aaaa 09:57:21

TEXTO 5

57

MUTIRES E CRCULOS POPULARES DE EDUCAO, CULTURA, ESPORTE E LAZER NO CAMPOCludio de Lira Santos Jnior; Adriana DAgostini; Bruno Viana Coutinho da Silva; Carlos Roberto Colavolpe; Jaqueline Ferreira de Lima; Jomar Borges dos Santos; Mara Arajo de Oliva Gentil; Mario Soares Neto; Felipe Santos Estrela de Carvalho; Mauro Titton; Myna Lizzie Oliveira Silveira; Herbert Vieira de Moura; Paulo Jos Riela Tranzilo; Viviane Sena dos Santos; Celi Nelza Zlke Taffarel

TEXTO 6

69

MUTIRES E CRCULOS NA ESCOLA PBLICA: A GINSTICA NAS AULAS DE EDUCAO FSICA E A ORGANIZAO DO TEMPO PEDAGGICO EM OFICINAS E FESTIVAISCristina Souza Paraso; Amlia Catharina Santos Cruz; Alexandre Henrique Silva Bezerra; Neidejane Souza Santos; Alrio Braz da Silva; Sandra Morena Gez e Silva Nonato; Guilherme Gil da Silva; Davi Jos de Almeida Moraes; Alexandre Andrade de Santana; Edielson Santos Moreira; Fernanda Andrade Elsio dos Santos; Tase Almeida dos Santos; Ams Carvalho da Boa Morte; Renata Souza Gomes; Valter dos Santos Machado; Celi Nelza Zlke Taffarel

TEXTO 7

75

MUTIRO PARA A AVALIAO DOS JOGOS ESCOLARES DA BAHIAMicheli Ortega Escobar; Kelly Cristina Ferreira da Costa; Alcir Horcio da Silva, Joselcia Barbosa Ambrozi; Helena Mrcia Monteiro de Santana; Joelma de Oliveira Albuquerque; Ruy Jos Braga Duarte; Wiliam Jos Lordelo Silva; Iure Cerqueira Correia; Celi Nelza Zlke Taffarel

TEXTO 8

87

EMANCIPAO HUMANA, TRABALHO PEDAGGICO E ESPORTERuy Jos Braga Duarte; Welington Arajo Silva; Celi Nelza Zlke Taffarel

TEXTO 9

95

MUTIRES E CRCULOS ESPORTIVOS NA UNIVERSIDADE: O ESPAO PBLICO DE ESPORTE E LAZER NA UNIVERSIDADE CENTRO DE EDUCAO FSICA E ESPORTE DA UFBA ENQUANTO CENTRO POPULAR DE REFERNCIA DA CULTURA CORPORAL, ESPORTIVA E DE LAZER E DE FORMAO DE PROFESSORESSilvana Rosso; Jaqueline Ferreira de Lima; Flavio Santos de Santana; Jomar Borges dos Santos; Edielson Santos Moreira; Viviane Sena dos Santos; Bruno Viana Coutinho da Silva; Cludio de Lira Santos Jnior, Carlos Roberto Colavolpe; Celi Nelza Zlke Taffarel

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 10

7/24/aaaa 09:57:21

TEXTO 10

103

REDE CEDES NA UFS: AES PEDAGGICAS RECPROCAS DE ESPORTE E LAZERSolange Lacks; Joo Bosco Tavares de Carvalho; Luis Eduardo Leal Prata; Magno Antnio do Nascimento Carvalho; Niccia da Trindade Silva; Rodrigo Silva Nascimento; Yara Arajo Meira

REFERNCIAS SOBRE OS AUTORES

111 121

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 11

7/24/aaaa 09:57:21

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 12

7/24/aaaa 09:57:21

APRESENTAO

[...] devemos comear por constatar o primeiro pressuposto de toda a existncia humana e tambm, portanto, de toda a histria, a saber, o pressuposto de que os homens tem de estar em condies de viver para poder fazer histria. Mas, para viver, precisa-se, antes de tudo, de comida, bebida, moradia, vestimenta e algumas coisas mais. O primeiro ato histrico , pois, a produo dos meios para a satisfao destas necessidades, a produo da prpria vida material, e este , sem dvida, um ato histrico, uma condio fundamental de toda a histria, que ainda hoje, assim como h milnios, tem de ser cumprida diariamente, a cada hora, simplesmente para manter os homens vivos. [...]. (MARX e ENGELS, 2007, p.33).1

O presente livro apresenta cinco caractersticas bsicas. A primeira diz respeito aos autores e sua localizao institucional e territorial: um coletivo constitudo por estudantes da escola bsica, professores da rede pblica de ensino, estagirios cientficos, professores pesquisadores de universidades, estudantes de ps-graduao especializao, mestrado, doutorado, ps-doutorado, doutorado sanduche , tutores, estudantes de graduao estagirios acadmicos, bolsistas de iniciao cientfica, monitores, bolsistas de projetos especiais (Rede CEDES/ME, Programa Permanecer UFBA, Licenciatura em Educao do Campo SECAD/ MEC/UFBA, Atividade Curricular em Comunidade ACC/UFBA) , professores de instituies em intercmbio com o Grupo LEPEL/FACED/UFBA, a saber, UFS, UFPE, UFAL, UEFS. Seus textos dizem respeito classe trabalhadora, aos trabalhadores de movimentos sociais de luta (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, entre outros), as crianas e jovens da escola pblica ensino infantil, bsico (fundamental e mdio) e ensino superior; jovens e adultos, alfabetizao de adultos, enfim, as pessoas da comunidade em geral que reivindicam educao, Educao Fsica, esporte e lazer. Todos os autores participam, de uma ou outra forma, de projetos na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), universidades pblicas situadas no Nordeste do Brasil, um dos maiores bolses de misria da Amrica Latina contraditoriamente, uma regio com grandes arrecadaes fiscais, como o caso do Estado da Bahia, que tem um dos seis maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do Brasil regio onde predomina o bioma da caatinga, o semi-rido, com uma grande faixa litornea e com uma faixa reduzida de zona da mata, devastada pela lgica do capital explorar a natureza. Parte da a primeira concepo bsica sobre 13

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 13

7/24/aaaa 09:57:21

a produo do conhecimento uma obra socialmente til, coletiva, histrica e institucionalmente situada, resultante do trabalho pedaggico e que se desenvolve como categoria da prtica. A preocupao fundamental deste coletivo que todos se apropriem dos meios de produo do conhecimento cientfico e, portanto, do mtodo. Deriva-se da a segunda caracterstica do livro. O que nos unifica, a saber, as necessidades vitais, traduzidas em problemticas, abordadas cientificamente, com o mtodo que permite compreender, explicar e agir no real concreto transformando-o o mtodo materialista histrico dialtico, que permite uma metodologia cientfica para conhecer o real e agir de acordo com as necessidades vitais para a transformao social. A viso cientfica do mundo reveste-se, portanto, de carter terico. Todos os postulados, conceitos e idias so teoricamente fundamentados e confirmados com os fatos da vida, da experincia humana e com os dados cientficos. A viso cientfica do mundo no separada do real e do agir humano no real concreto. Os pressupostos tericos do desenvolvimento histrico da natureza, do homem e de sua capacidade de conhecer no so separados das premissas programticas, ou seja, da ao poltica para transformar a situao atual. Origina-se destes a terceira caracterstica deste livro. Ele est sujeito a leis do desenvolvimento histrico, o que significa que est sujeito ao grau de desenvolvimento das foras produtivas e da capacidade revolucionria do proletariado e do campesinato, das relaes com o Estado burgus capitalista e suas foras hegemnicas a direita, o centrismo e o esquerdismo e expressa em si as contradies do mais geral, na singularidade e particularidade dos objetos aqui delineados. E da identifica-se a quarta caracterstica do trabalho do coletivo, que se apresenta no livro como uma sntese de mltiplas determinaes sua localizao no marco do embate entre reformas e contra-reformas, revoluo e contra-revoluo. mais um dos grandes desafios a ns colocados, aps o enfrentamento no real, com atitude crtica, de se valer do materialismo histrico dialtico, de trabalhar em coletivos enfrentando necessidades vitais com o trabalho pedaggico socialmente til e com unidade terico-metodolgica. Desafio este j localizado em estudos anteriores e que diz respeito ao marco do projeto histrico em que nos situamos ou no marco do institucional e das reformas, ou o marco contra a ordem existente e pela revoluo. Valendo-nos das contribuies de Florestan Fernandes (1981; 1984; 1995) a respeito das classes sociais na Amrica Latina, do que revoluo e da busca do socialismo, afirmamos que mantemos as nossas explicaes e a representao das funes polticas dos conhecimentos obtidos ao nvel da percepo, das atividades prticas e das aspiraes dos grupos e classes sociais empenhados na revoluo e que esto fazendo a experincia histrica da revoluo dentro da ordem e da revoluo contra a ordem existente. 14

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 14

7/24/aaaa 09:57:22

Expressa-se assim, a quinta caracterstica do livro o desafio e o fardo do tempo histrico que representa, segundo Mszros (2007), o surgimento de uma nova fora material conforme a teoria se apodera das massas. Para sermos responsveis acompanhamos, enquanto cientistas, educadores, professores e militantes culturais, os grupos e classes sociais que atuam revolucionariamente. Isto nos coloca o problema de que as elaboraes tericas podero ser afetadas pelas deficincias das foras sociais revolucionrias e que, por conseguinte, tero pouca contribuio ao alargamento do comportamento social revolucionrio. Consideramos, no entanto, como nos alerta Florestan Fernandes (1981), que ao construir o conhecimento cientfico, o elemento abstrato do pensamento crtico mantm-se fiel aos contedos e aos sentidos tpicos da ao social revolucionria. Mas isto no de forma abstrata, e sim, projetando o conhecimento no contexto mais amplo dos requisitos da situao histrico-social, em que a transformao revolucionria da sociedade se mede pela estrutura da ordem social existente e por sua incompatibilidade em relao ordem social a ser criada pela prpria revoluo. Admitimos, portanto, que vivemos em meio s contradies aprofundadas com o capital mantendo a subsuno do trabalho sua lgica, e que nosso trabalho pode ficar aqum da nossa inteno de contribuir com a revoluo social, considerando, principalmente, que as revolues tm um longo perodo de gestao. Mas, como bem nos lembra Florestan Fernandes, estas, quando atingem o clmax agem com extrema velocidade. As evidncias apontam que estamos em um perodo de transio (TROTSKY, 2007). O capital que subsume o trabalho criou uma ordem invivel vida da humanidade. A premissa econmica da revoluo proletria, segundo Trotsky, j alcanou h muito o ponto mais elevado que possa ser atingido sob o capitalismo.As foras produtivas da humanidade deixaram de crescer. As novas invenes e os novos progressos tcnicos no conduzem mais a um crescimento da riqueza material. As crises conjunturais, nas condies da crise social de todo o sistema capitalista, sobrecarregam as massas de privaes e sofrimentos cada vez maiores. O crescimento do desemprego aprofunda, por sua vez, a crise financeira do Estado e mina os sistemas monetrios estremecidos. Os governos, tanto democrticos quanto fascistas, vo de uma bancarrota a outra. A prpria burguesia no encontra sada. (TROTSKY, 2008, p.91).

Urge revolucionar o modo de produo e esta revoluo permanente. Almejamos estar sendo teis com o conhecimento cientfico aqui apresentado sobre educao, Educao Fsica, esporte e lazer e com nosso envolvimento poltico, com a revoluo, que permanente porque s terminar com o triunfo definitivo da nova sociedade em todo o nosso planeta (TROTSKY, 2007). Por isto admitimos que a luta para vencer.

15

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 15

7/24/aaaa 09:57:22

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 16

7/24/aaaa 09:57:22

TEXTO 1REDE CEDES NCLEO UFBA: CONSTITUINDO A HISTRIA DA EDUCAO FSICA NO NORDESTECeli Nelza Zlke Taffarel; Carlos Roberto Colavolpe; Nair Casagrande; Raquel Cruz Freire Rodrigues; Welington Arajo Silva; Ktia Oliver de S; Mrcia Chaves-Gamboa; Joelma de Oliveira Albuquerque; Roseane Soares Almeida; Solange Lacks; Cludio de Lira Santos Jnior

Essa concepo da histria consiste, portanto, em desenvolver o processo real de produo a partir da produo material da vida imediata e em conceber a forma de intercmbio conectada a esse modo de produo e por ele engendrada [...]. Ela no tem necessidade, como na concepo idealista da histria, de procurar uma categoria em cada perodo, mas sim de permanecer constantemente sobre o solo da histria real; no de explicar a prxis partindo da idia, mas de explicar as formaes ideais a partir da prxis material e chegar, com isso, ao resultado de que todas as formas e [todos os] produtos da conscincia no podem ser dissolvidos por obra da crtica espiritual, por sua dissoluo na autoconscincia ou sua transformao em fantasma, espectro, vises etc., mas apenas pela demolio prtica das relaes sociais reais [realen] de onde provm essas enganaes idealistas; no a crtica, mas a revoluo a fora motriz da histria [...]. (MARX e ENGELS, 2007, p.43).

Somos coordenadores e participantes de grupos de pesquisa de universidades nordestinas, federais, estadual e particular e constitumos a Rede LEPEL de Grupos de Pesquisa (Rede LEPEL)2 instituda em universidades da Bahia (UFBA e UEFS), de Sergipe (UFS), de Pernambuco (UFPE) e de um Grupo em recomposio e formao em Alagoas3 desde o ano de 2000. Em 2004, a Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer do Ministrio do Esporte, por intermdio do seu Departamento de Cincia e Tecnologia do Esporte, instituiu, atravs do Plano Plurianual (2004-2007), duas aes programticas especficas para o Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer a chamada Rede CEDES (BRASIL, 2008) visando ao desenvolvimento do esporte recreativo e do lazer, para estimular e fomentar a produo e a difuso do conhecimento cientfico-tecnolgico voltadas gesto do esporte recreativo 17

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 17

7/24/aaaa 09:57:22

e do lazer, tendo como horizonte a (re)qualificao e a formao continuada dos gestores de polticas pblicas. O Cedes tem tambm o papel de articular, por meio da Rede, os setores comprometidos com informao e documentao esportiva, dando vazo s iniciativas que preservem a especificidade da ao de cada um dos entes envolvidos com a sua comunicao. A Rede CEDES, conforme nos demonstra o site do prprio Ministrio do Esporte (BRASIL, 2008), estabelece ainda linhas de ao para a composio de um sistema federal formado pelos centros de informao existentes e os que sero criados, de modo a garantir um padro de comunicao rpido, seguro e de qualidade aos pesquisadores e demais usurios. Alm deste sistema federal de informao e documentao esportiva, juntamente com o Centro de Documentao e Informao do Ministrio do Esporte (Cedime), para democratizar o acesso informao e documentao, a Rede CEDES vem construindo diretrizes para uma poltica nacional de informao e documentao em Cincias do Esporte, alm de realizar interface com o fomento a eventos cientficos, edio e distribuio de materiais tcnicos e cientficos (peridicos e livros). A estas aes somam-se outras como o Diagnstico da Estrutura do Esporte Brasileiro, a Conferncia Nacional de Esporte e o Prmio de Literatura Esportiva, que, em conjunto, buscam contribuir para a formao continuada dos gestores pblicos e a qualificao dos protocolos de avaliao e monitoramento dos programas esportivos e de lazer, nos distintos nveis governamentais e no-governamentais. A Rede CEDES um avano no campo da gesto pblica porque induz a produo e a disseminao do conhecimento nos estados e municpios, podendo vir a contribuir com os processos decisrios no campo da gesto de polticas pblicas do esporte recreativo e do lazer. Promove tambm o debate e a articulao desses conhecimentos na perspectiva de romper com aes fragmentadas e dispersas presentes nos sistemas de gesto das polticas pblicas de esporte e lazer. O Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao Fsica, Esporte e Lazer (LEPEL/ FACED/UFBA) instalado na UFBA desde 2000 e a Rede LEPEL nas Instituies de Ensino Superior (IES) do Nordeste, rede que est em construo desde 2001, est articulado em torno de uma pesquisa de carter matricial4 cujas problemticas centrais so: o trabalho pedaggico, a produo do conhecimento cientfico, a formao de professores e as polticas pblicas de Educao Fsica, esporte e lazer, admitindo-se como hipteses que o trabalho pedaggico elemento modular de alteraes da qualidade do ensino e da pesquisa, que a teoria se constri como categoria da prtica e que a histria a matriz cientfica para o ensino e a pesquisa na Educao Fsica, no esporte e no lazer. Trabalho pedaggico constitudo pelos pares dialticos objetivo-avaliao, contedo-mtodo, tempo-espao. Teoria do conhecimento materialista histrica dialtica, e a matriz cientfica que pressupe que, para manter-se vivo, o ser humano deve garantir suas condies de existncia em intercmbio consciente com a natureza. 18

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 18

7/24/aaaa 09:57:22

Para manter suas atividades de ensino, pesquisa e extenso os grupos de pesquisa integrantes da Rede LEPEL tm concorrido a editais e chamadas pblicas visando criar a infra-estrutura necessria para a pesquisa, o que uma grande dificuldade no Nordeste do Brasil, uma vez que os grupos no tm programas prprios de ps-graduao que os articulem, o que torna a disputa por financiamento pblico muito desigual em relao ao Sul e ao Sudeste do Brasil. Em sua primeira chamada pblica, a Rede CEDES possibilitou que nos apresentssemos com um projeto para instalar o Plo UFBA/Rede CEDES. Este plo foi constitudo e alocou recursos no montante de trinta mil reais, inaugurando, assim, o que seria denominado de Ncleo UFBA. Inicialmente foi encaminhado o projeto do Grupo LEPEL/FACED/UFBA e os recursos obtidos foram utilizados somente para a compra de equipamentos. No ano de 2006, dois grupos de pesquisa da UFBA, (Grupo LEPEL/FACED/UFBA e Grupo MEL/FACED/UFBA5) apresentaram um projeto conjunto e conseguiram alocar recursos no montante de cinqenta mil reais. Estes recursos foram predominantemente utilizados na prestao de servios e para o pagamento de bolsistas. Em 2007, o Grupo LEPEL apresentou outro projeto ao edital aberto e conseguiu alocar recursos no montante de trinta mil reais, para material permanente e bolsas. Alm da UFBA, a UFS, atravs do grupo GEPEL coordenado pela professora doutora Solange Lacks e que constitui a Rede de Grupos LEPEL do Nordeste do Brasil tambm conseguiu recursos no ano de 2006 para bolsistas. Em 2008, aprofundando estudos sobre a formao de professores e militantes culturais 6, o Grupo LEPEL/FACED/UFBA concorreu e foi contemplado com trinta e quatro mil reais destinados a bolsas, material permanente e de consumo. Estes recursos esto viabilizando a construo de bancos de dados, de planejamento, implementao e avaliao de experincias pedaggicas e de contribuies na formulao de polticas pblicas de Educao Fsica, esporte e lazer. Os resultados desses investimentos podem ser mensurados tanto no conhecimento cientfico produzido e divulgado, quanto nos bolsistas formados (graduao e ps-graduao), na populao atendida, nos mutires realizados, nos crculos instalados, nas contribuies aos rgos de governo, assim como na continuidade de projetos que asseguram formulaes e proposies superadoras para as polticas pblicas na rea do esporte e lazer. So exemplos dessas proposies as contribuies para a Educao Fsica escolar, as contribuies para a formao de militantes culturais, o acesso, constituio e balano da produo do conhecimento, dos bancos de dados, assim como as contribuies para a educao do, no e para o campo. Parte dessas elaboraes e desses trabalhos poder ser localizada no presente livro. Decidimos apresentar textos de sete a dez pginas, com o coletivo que, de uma maneira ou de outra, se envolveu e est assegurando o trabalho. Os textos seguiro conforme as temticas, e apresentados pelos autores que se envolveram com cada um dos projetos, assim como as referncias citadas e consultadas ao 19

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 19

7/24/aaaa 09:57:22

longo das discusses sero includas em uma nica relao, ao final dos nove textos expostos. Apresentamos a seguir os elementos centrais do projeto inicial enviado ao Ministrio do Esporte, que possibilitou tal produo. A proposta inicial levou o titulo de Mutires e Crculos de Esporte e Lazer na Cidade e no Campo, com o desdobramento e enfoque posterior na Formao continuada de militantes culturais de esporte e lazer no campo e na cidade6 , com a realizao de atividades de ensino-pesquisa-extenso, no campo e na cidade, para consolidar a produo de conhecimentos cientficos e a formao qualificada de professores, militantes culturais, educadores populares para atuarem na rea de educao, esporte e lazer na perspectiva do esporte para todos como garante a Constituio Federal de 1988. A ementa consistiu em estudar o trabalho pedaggico e as teorias sobre desenvolvimento humano, cultura corporal, esporte e lazer enquanto polticas culturais, na perspectiva de propor aes crtico-superadoras para a poltica de esporte e lazer no campo e na cidade. Os objetivos traados foram planejar, implementar e avaliar iniciativas na rea de esporte e lazer nas escolas e nos movimentos de luta social da classe trabalhadora, que levem em considerao os princpios de formao humana omnilateral, o projeto histrico para alm do capital, o trabalho como princpio educativo, os fundamentos do esporte e do lazer educativo, solidrio, cooperativo, auto-determinado, criativo, crtico, para todos, tanto no campo quanto na cidade. O trabalho pedaggico baseou-se na proposta de realizao de mutires e crculos de esporte e lazer enquanto elementos organizativos das atividades pedaggicas. Vale mencionar que a Prefeitura Municipal do Recife, na rea de esporte e lazer, desenvolveu tambm a idia dos crculos populares com a coordenao do professor Jamerson Silva (SILVA; SILVA, 2004). Em relao aos locais e ao universo de interveno, tratam-se de aes articuladas com os projetos desenvolvidos pelo Grupo LEPEL, que envolvem graduao, ps-graduao, escolas pblicas e movimentos sociais de luta da classe trabalhadora, considerando o Estado da Bahia e em especial o recncavo baiano. As aes so desenvolvidas nos seguintes espaos sociais do estado da Bahia: as escolas pblicas da Rede Pblica de Ensino do Estado da Bahia (RPE-BA), os acampamentos e assentamentos dos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora (Movimento dos Trabalhadores Desempregados MTD e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST) e o Centro de Educao Fsica e Esporte da UFBA (CEFE/UFBA). A implantao do projeto compreende diferentes fases. A primeira fase ocorreu nos seis primeiros meses, com mutires de planejamento, estudos temticos e orientaes para criar bases tericas slidas e bancos de dados sobre o trabalho a ser desenvolvido. A segunda, que abarca um perodo em que so empregados esforos na implementao das aes e na avaliao do que foi realizado. A terceira 20

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 20

7/24/aaaa 09:57:22

fase de avaliao final e elaborao de relatrios e demais produes cientficas amplamente difundidas. Participam do projeto aproximadamente 1.200 pessoas entre crianas, jovens, adultos e idosos da cidade de Salvador e do campo (acampamentos e assentamentos do recncavo baiano), professores da RPE-BA, docentes e discentes das universidades e militantes culturais e educadores populares dos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora. As condies de participao e inscrio so, para as crianas e os jovens, freqentar a escola, estar vinculado a alguma associao de moradores ou movimentos sociais organizados, alm de terem autorizao dos pais e passarem por exame mdico prvio em centro de sade oficial. Para os professores da RPE-BA, ter disponibilidade para estudos e pesquisas e elaborar um projeto para dar continuidade aos seus estudos. Para os discentes, estar matriculado na graduao ou na ps-graduao e assumir um termo de responsabilidade com o Projeto. Para as demais pessoas militantes culturais, educadores populares tambm devem assumir um termo de responsabilidade. Para os coordenadores, assumir esse mesmo termo e ter, no mnimo, disponibilidade de 8 horas semanais de trabalho pedaggico junto ao grupo de estudos e pesquisa. As intenes bsicas so as seguintes:a) constituir e atualizar bancos de dados acerca da produo do conhecimento cientfico sobre esporte e lazer; sobre prticas esportivas de esporte e lazer; sobre trabalho pedaggico; sobre polticas pblicas de esporte e lazer; e sobre organizao de atividades em mutires e crculos; desenvolver projetos atravs do trabalho de mutires e crculos populares em que todos possam participar e desenvolver com criatividade, responsabilidade e autodeterminao o campo da cultura corporal, preservando contedos e valores na perspectiva da emancipao humana e do esporte para todos; propiciar campo de vivncia social prtica e de elaborao terica nas reas de esporte e lazer para as comunidades da cidade e do campo, atendendo crianas, jovens, adultos e idosos, portadores de deficincia, problematizando a questo da sociedade de classes, da propriedade privada dos meios de produo de bens materiais e imateriais, do modo de vida, das questes da decorrentes, tais como a organizao, o conhecimento, a conscincia coletiva sobre a integrao social, a sade, o meio ambiente, construindo com a coletividade a autodeterminao e auto-organizao para as prticas corporais esportivas e de lazer e a construo de tempos, espaos e processos para a difuso das prticas corporais na perspectiva da emancipao humana; propiciar campo de estudo e pesquisa, bem como de experincias profissionais para estudantes do ensino fundamental e universitrio, educadores populares e professores das redes pblicas de ensino, para investigar as problemticas da educao e da Educao Fsica, esporte e lazer, considerando informaes dos diferentes bancos de dados (CAPES, INEP IBGE, NUTESES e outros) acerca do esporte e do lazer no pas, que compreendam , a prtica esportiva nas comunidades, escolas, bairros, assentamentos, centros esportivos

b)

c)

d)

21

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 21

7/24/aaaa 09:57:22

em relao autodeterminao, auto-organizao e s polticas culturais de municpios, dos Estados e do Governo Federal; e) promover atividades que consolidem projetos com impacto imediato, de mdio e de longo alcance para avanar na produo de conhecimentos cientficos, na formao de professores e militantes culturais e nas prticas educativas emancipatrias. Entre os eventos a serem realizados, constam mutires que consolidem crculos: rodas de estudos; oficinas de construo de espaos, implementos, materiais para as prticas esportivas; festivais de cultura corporal; seminrios interativos; eventos esportivos; jogos cooperativos para ampliar a capacidade de reflexo crtica dos participantes acerca da cultura corporal e sua ampliao atravs de trabalhos em Mutires e Crculos Populares de Esporte e Lazer; capacitao de professores e militantes para atuarem na promoo do esporte e lazer nas comunidades da cidade e do campo como pesquisadores e militantes culturais na rea de educao, Educao Fsica, esporte e lazer. Avanar na consolidao do Programa de Pesquisa e Ps-Graduao em Educao Fsica na UFBA a partir das aes da Rede CEDES; contribuir na consolidao de bases tericas e infra-estruturais para a produo do conhecimento nos cursos da graduao, especializao, mestrado e doutorado na rea do esporte e do lazer.

f)

g)

As possibilidades centrais do trabalho so, portanto, contribuir para a materializao de polticas pblicas na rea de esporte e lazer, que permitam a ampliao da participao por autodeterminao e auto-organizao das comunidades, a partir da produo do conhecimento cientfico e da formao de professores e militantes culturais qualificados para tratarem das problemticas na rea do esporte e lazer na cidade e no campo. Alm disso, se constituem enquanto possibilidades, o desenvolvimento de estudos e pesquisas que favoream a apropriao comunitria do seu acervo cultural e observem a integrao entre ensino-pesquisa-extenso (universidade-comunidade), produzindo conhecimento cientfico autnomo, em consonncia com os propsitos da Rede CEDES. O fazemos no de maneira alienada, mas sim conscientes de que em uma sociedade onde o esforo humano est subsumido aos interesses do capital imprescindvel que se quebrem iluses e se rompa com estruturas alienadoras e alienantes e se lute pela emancipao humana. Conforme j mencionado no texto 2 do presente livro, a emancipao humana diz da luta de cada indivduo das classes sociais e da humanidade para superar a fase pr-histrica de relaes sociais baseadas na explorao de classe e explorao da natureza, para sustentar, pelo trabalho, a existncia humana. A Emancipao humana nos diz da superao do trabalho alienado subsumido ao jugo do capital, como tambm nos diz da superao da sociedade de classes para a sociedade sem classes a sociedade comunista. Reconhecemos, portanto, que incluso, identidade e qualidade de vida esto definitivamente comprometidas e so iluses no modo de produo capitalista, o qual baseado na subsuno do trabalho ao capital, na propriedade privada dos meios de produo, na explorao do trabalho assalariado e na destruio da natureza. 22

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 22

7/24/aaaa 09:57:23

Consideramos, portanto, que esses anncios devem ser localizados no esforo histrico do contexto da luta de classes, para a superao daquilo que destri a vida humana no planeta o modo do capital organizar a vida. Nosso trabalho considera dados que nos so fornecidos em relao situao scio-econmica e geogrfica em que estamos trabalhando, especificamente o semi-rido, a caatinga, o Nordeste brasileiro. neste bioma que se organiza a produo e reproduo da vida humana, a organizao da produo dos bens materiais e imateriais, bases da determinao da cultura em geral e, em especial, da cultura corporal, esportiva e de lazer. Partimos em nosso trabalho, da problematizao das condies de vida para, atravs da instrumentalizao (que significa a apropriao coletiva dos meios de produo do conhecimento cientfico bem como dos seus produtos), da catarse e do retorno prtica social, superar as contradies especficas do trabalho pedaggico e das polticas pblicas de esporte e lazer e avanar na atitude crtica perante o modo de vida capitalista. No desarticulamos a questo da Educao Fsica, do esporte e do lazer da necessidade histrica da superao do trabalho alienado, da propriedade privada dos meios de produo e do enfrentamento do estado burgus, que se expressam no modo de vida. Concordamos que essas necessidades orientam, por exemplo, os trabalhadores para se organizarem em todo o Brasil na luta pela terra e pela reforma agrria, na luta por trabalho e educao, na luta pela soberania das naes. Estamos em especial trabalhando com as polticas pblicas na rea do esporte e lazer em reas de Reforma Agrria na regio do Recncavo Baiano e nas escolas pblicas dos municpios, junto aos movimentos de luta social da classe trabalhadora e junto universidade. a que reside grande parte da fora do que poder gerar e sustentar alteraes no modo de vida. a que se estabelece a relao do homem com a terra, com o conhecimento e com seus semelhantes. Para explicitar sobre que bases desenvolvemos o processo de formao inicial e continuada de professores e de militantes culturais do esporte e lazer para o campo e para a cidade, mencionamos tambm o manifesto poltico que orienta nossas aes pblicas expresso na Carta de Sergipe (1994)7 e ainda o resultado de estudos, pesquisas e discusses travadas por companheiros que atuam profissional e academicamente no interior do Grupo LEPEL/FACED/UFBA, bem como dos demais grupos que compem a rede de intercmbio de pesquisadores LEPEL/UFPE, LEPEL/UEFS, GEPEL/UFS os quais lidam com a temtica das polticas pblicas e especificamente com a Educao Fsica, o esporte e o lazer enquanto poltica cultural de educao das amplas massas. Apresentamos, de forma sucinta e objetiva, nossas posies enquanto contribuies desses grupos de pesquisa na defesa das reivindicaes emergenciais e histricas da classe trabalhadora, nas quais situamse as reivindicaes no campo da cultura corporal patrimnio da humanidade, socialmente construda e historicamente acumulada. Entendemos, por fim, que um programa de transio, entre uma perversa ordem do capital e uma sociedade socialista, deve apontar para a defesa de polti23

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 23

7/24/aaaa 09:57:23

cas pblicas de esporte e de lazer, como direito de todos e dever do Estado e ainda, polticas que contemplem os seguintes pontos: a formulao, a implementao e a avaliao de tais polticas que devem se dar com base em um processo de ampla participao em profundas reflexes crticas, realizadas de forma coletiva, auto-determinada e auto-organizada atendendo aspiraes e reivindicaes dos diferentes segmentos das diferentes regies, diferentes territrios e biomas regionais. Em relao ao esporte e ao lazer, estes devem permitir configurar um programa de transio que considere as reivindicaes dos trabalhadores, acumuladas e no atendidas pelos governos reacionrios e retrgrados que se instalaram nos Estados brasileiros ao longo da histria e as condies objetivas colocadas para gestar e administrar um governo de e para os trabalhadores; devem ser diagnosticadas com preciso as diferentes situaes das regies, para que as decises tticas sobre o que propor e o que fazer estejam assentadas em dados concretos das necessidades e demandas regionais, que se situem no marco da construo de um projeto histrico superador ao capitalismo; o levantamento do potencial do Estado para implementao de projetos especiais de esporte e lazer deve ser realizado minuciosa e criteriosamente, para identificar as relaes culturais entre trabalho e lazer, campos de trabalho que podem ser expandidos, servios que podem ser desenvolvidos e relaes que podem ser estabelecidas, com autonomia e auto-determinao dos povos; a inter-relao de setores, secretarias, ou brigadas, no caso do campo, para compreendermos tanto a educao quanto a sade, o esporte, o lazer, o planejamento urbano e outras reas, na perspectiva de uma poltica unificada poltica cultural em torno de eixos articuladores que nos unificam e visam garantir, criticar, criar, preservar e construir a cultura corporal na perspectiva da emancipao humana. Nessa linha, estamos, portanto, levantando o que ttico no campo do esporte e do lazer na perspectiva da emancipao humana e da superao do projeto histrico capitalista, o que significa, por exemplo:a) criticar, criar e preservar a cultura corporal que garanta a elevao do padro cultural e a identidade dos trabalhadores em luta no campo e na cidade tendo como eixos articuladores e unificadores das aes as prticas corporais diversificadas em uma perspectiva crtica, organizadas pelo trabalho pedaggico que permite elevar o patamar de entendimento, compreenso e ao dos participantes na construo da cultura; criar espaos e tempos, implementos e equipamentos coletivizados auto-geridos e autoorganizados; assegurar o acesso a orientaes tcnicas e pedaggicas adequadas aos interesses dos diferentes segmentos que compem a comunidade e os movimentos sociais de luta da classe trabalhadora; fomentar aprendizagens sociais significativas na linha do acesso aos conhecimentos clssicos e populares e a solidariedade, a cooperao, a diversificao, a criatividade, a emancipao, para a construo da cultura esportiva e de lazer dignificante e dignificadora da luta no campo e na cidade;

b) c)

d)

24

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 24

7/24/aaaa 09:57:23

e)

valorizar os patrimnios naturais, humanos e culturais, ampliando-se formas de relaes nas prticas esportivas e de lazer que preservem a natureza, as relaes humanas dignas e os valores culturais que contribuam para a emancipao do ser humano; propor gestes e administraes auto-determinadas, auto-gestadas, participativas, democrticas e autnomas por parte das comunidades e segmentos dos movimentos de luta social da classe trabalhadora em relao ao esporte e ao lazer; acessar o patrimnio cultural esportivo clssico e de lazer, imprescindveis vida humana com dignidade; promover e assegurar relaes interativas e cooperativas entre escolas, comunidades, movimento de luta social da classe trabalhadora e suas formas de organizao, bem como relaes interativas inter e entre secretarias, setores, brigadas, visando otimizar aes no campo da cultura esportiva e de lazer; praticar o esporte e o lazer sem violncia e agresses entre seres humanos, ou com a natureza e o patrimnio cultural das populaes; praticar o esporte e o lazer que ampliem as possibilidades de trabalho, com a preservao do meio-ambiente; elaborar programas e projetos decididos por coletivos polticos ampliados, legitimados e relacionados com perspectivas de trabalho que promovam a autodeterminao e a emancipao dos participantes; realizar o controle e avaliao coletiva, democrtica, pblica, transparente na utilizao de recursos e na implementao de programas e projetos.

f)

g) h)

i) j) l)

m)

Estamos aprofundando e ampliando o debate acerca da proposta de construo da poltica de esporte e lazer no campo e na cidade, com os militantes culturais em processo de formao continuada, com base na poltica que tenha em seu centro a perspectiva da emancipao humana, que supere o trabalho laser alienados (base da sociedade capitalista) e possibilite a construo da sociedade socialista. Isto significa, tambm, a responsabilidade voluntariamente assumida pelos membros da sociedade por meio do exerccio da tomada de deciso autodeterminada e livremente associada, em vez da irresponsabilidade institucionalizada que marca e vicia todas as dimenses da vida no capitalismo.

25

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 25

7/24/aaaa 09:57:23

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 26

7/24/aaaa 09:57:23

TEXTO 2MUTIRES E CRCULOS DE ESPORTE E LAZER: BASES TERICO-METODOLGICAS DO PROJETO DE ENSINO E INVESTIGAOCludio de Lira Santos Jnior; Jaqueline Ferreira de Lima; Flavio Santos de Santana; Jomar Borges dos Santos; Viviane Sena dos Santos; Davi Jos de Almeida Moraes; Celi Nelza Zlke Taffarel, Teresinha de Ftima Perin

certo que a arma da crtica no pode substituir a crtica das armas, que o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a teoria converte-se em fora material quando penetra nas massas. A teoria capaz de se apossar das massas ao demonstrar-se ad hominem, e demonstra-se ad hominem logo que se torna radical. Ser radical agarrar as coisas pela raiz. (MARX, 2005, p.151).8

Delimitamos nesta exposio os elementos bsicos da teoria do conhecimento e da teoria pedaggica com a qual trabalhamos. fato que o trabalho pedaggico (FREITAS, 1987), as idias pedaggicas (SAVIANI, 2007) e as tendncias educacionais (MANACORDA, 1989) so sempre articuladas em projetos histricos, hegemnicos ou no, vez que, antes de serem apreendidas enquanto snteses no pensamento, as teorias so constitudas pelo trabalho pedaggico, que decorre em condies objetivas, reais e concretas. Trabalhamos em reas de reforma agrria e nos espaos pblicos escolas, centros esportivos e outros onde se faz necessrio radicalizar a crtica geral sociedade capitalista, a crtica prxis da humanidade, a partir da crtica prtica social presente nesses espaos e tempos. Isso possvel a partir do trabalho pedaggico, suas singularidades e a particularidade na escola e nos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora9, porque reside a a possibilidade da identificao inequvoca das fontes geradoras dos problemas a serem pesquisados. Em nosso caso, tratamos dos problemas relacionados cultura corporal esporte, jogo, dana, capoeira, entre outros. Optamos pela abordagem materialista histrica dialtica10 porque ela implica articular o mtodo de anlise da realidade e o sistema de categorias explicativas do modo de produo capitalista e sua superao, com indicaes ttico-estratgicas 27

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 27

7/24/aaaa 09:57:23

que, alm de tudo, no se dissociam da orientao poltico-partidria. Onde poderia ser gestada uma teoria revolucionria, seno na luta a ser travada para atingir as transformaes sociais almejadas? No podemos deixar de ressaltar que em reas de reforma agrria e em espaos pblicos urbanos, em particular, tambm, no mbito do esporte e das polticas culturais esportivas que se articulam essas lutas. Nesses espaos que h condies objetivas para o estabelecimento de mutires e de crculos populares de esporte, lazer e cultura. A idia dos mutires e crculos nos advm, justamente, dos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora, como o so as experincias dos mutires do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e as experincias das organizaes polticas revolucionrias, como as organizaes bolchevistas e seus mtodos de organizao (LUKCS, s.d.). Assim, os crculos populares de esporte e lazer se configuram como um espao cujo objetivo est para alm de possibilitar o lazer apenas como atividade de recuperao psicossomtica (SIQUEIRA, apud SILVA e SILVA, 2004, p.22), mas tambm, principalmente, organizar possibilidades de lazer que combinem a liberdade de escolha, ludicidade, prazer com uma direo poltica pedaggica de crtica e transformao da realidade (SILVA e SILVA, 2004, p.22). Isso significa assumir no desenvolvimento dos trabalhos as tarefas imediatas, mediatas e histricas na luta de classes e sua expresso no trabalho pedaggico. Isso significa que as questes polticas no podem ser separadas das organizativas e que as premissas tericas no podem ser separadas das programticas. Delimitamos como categorias tericas e problemtica significativa da pesquisa a realidade, as contradies, as contingncias e as possibilidades do trabalho pedaggico contedo-mtodo; objetivos-avaliao; tempo-espao; relaes educadores - educandos; escola-comunidade, movimentos sociais de luta da classe trabalhadora Estado na sala de aula, na escola, na comunidade e nos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora. A partir da problemtica colocada, perguntamos: como desenvolvido o esporte e o lazer na cidade e no campo, em escolas pblicas e em reas de reforma agrria? Quais as contradies a presentes e quais as possibilidades de desenvolvimento do esporte e do lazer no campo? Como pode ser desenvolvido o trabalho pedaggico para a instalao de crculos populares de esporte e lazer, na perspectiva da auto-determinao dos sujeitos (PISTRAK, 2000) nas escolas e nos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora no campo? Quais as possibilidades de planejamento, implementao e avaliao de aes no esporte e no lazer nas escolas pblicas e em reas de reforma agrria que incentivem a auto-determinao e autogesto dos participantes e quais os resultados do trabalho seguindo a metodologia de ao reflexo ao na realizao de mutires e crculos? A unidade observacional o trabalho pedaggico e a auto-organizao. O objetivo formular, a partir do trabalho pedaggico em espaos pblicos na cidade 28

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 28

7/24/aaaa 09:57:23

e no campo, proposies explicativas para o trabalho pedaggico, a gesto e a poltica pblica de educao, esporte e lazer em reas de reforma agrria e nas escolas pblicas. As hipteses centrais so as seguintes: a) os elementos moduladores de alteraes no trabalho pedaggico residem na forma/contedo, na unidade tericometodolgica, no trabalho como princpio educativo e na auto organizao dos sujeitos; b) as condies objetivas para desenvolver o trabalho na rea de esporte e lazer no campo e na cidade apontam para a necessidade de formao de militantes culturais que assumam a responsabilidade social de, com a populao envolvida, criar tempo-espao, objetivos-avaliao, organizao do trabalho pedaggico-contedos culturais a serem desenvolvidos na perspectiva da formao emancipatria11 e da superao do atual modo de organizar a vida em que prevalece a subsuno do trabalho ao capital; c) para a formao de militantes culturais que desenvolvam o esporte e o lazer no campo e na cidade, a prtica social o ponto de partida para a construo de crculos populares de esporte e de lazer, de forma a sustentar a construo da cultura corporal e esportiva com auto-determinao e auto-gesto dos participantes, o que implica em problematizar, instrumentalizar, planejar-implementar-avaliar, criar e retornar constantemente prtica com um grau mais elevado de elaborao terica sobre o problema do desenvolvimento do esporte e do lazer no campo e na cidade. A populao participante do projeto so crianas, jovens e adultos pertencentes s escolas pblicas das redes municipal, estadual e federal de ensino e dos movimentos sociais de luta da classe trabalhadora do campo e da cidade.

Sobre o mtodo didtico para o ensino e o mtodo de pesquisaNa organizao do trabalho pedaggico, decidimos juntos sobre as condies necessrias para a realizao do processo educativo, ou seja, sobre os objetivos, a proposio de contedos e a utilizao de mtodos, formas de planejamento e critrios de avaliao, as relaes entre os militantes culturais e os educadores, entre as instituies envolvidas e a gesto do processo pedaggico, do projeto de integrao universidade-sociedade. A finalidade da organizao do trabalho pedaggico a partir da realidade local a formao de militantes culturais atravs da produo de conhecimentos sobre esporte e lazer, uma vez que conhecer a realidade social um pressuposto fundamental para transform-la, j que no se pode transformar aquilo que no se conhece. A partir do conhecimento coletivo da realidade local e das propostas de polticas culturais envolvidas, agimos em conjunto para enfrentar os problemas do desenvolvimento do esporte e do lazer do campo e da cidade. Reafirmamos aqui o mtodo didtico, que o mtodo didtico da prtica social, o qual tem cinco momentos, a saber: a prtica social, a problematizao, a instrumentalizao, a catarse e o retorno prtica social. A prtica social sempre o ponto de partida e o ponto de chegada; o alvo da problematizao, e este o 29

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 29

7/24/aaaa 09:57:23

segundo momento do mtodo, em que os problemas da realidade so evidenciados, e as questes que precisam de soluo so consideradas em relao prtica social, sendo identificados os conhecimentos que sero necessrios para resolvlos. A apropriao de instrumentos tericos e prticos necessrios soluo dos problemas que tm referncia na prtica social, faz parte do terceiro momento do mtodo, o da instrumentalizao. Nesse momento, os conhecimentos produzidos e preservados historicamente so objetos de apropriao, seja pela transmisso direta, seja pela indicao de meios de investigao, cotejando-se o conhecimento do cotidiano com conhecimentos cientficos. Trata-se da aquisio de ferramentas culturais necessrias transformao social, no sentido da emancipao humana. A expresso elaborada da nova forma de entendimento da prtica social que se ascendeu a partir da problematizao e da instrumentalizao realizada como catarse, sendo este o quarto passo do mtodo. o momento da criatividade, onde se efetiva a incorporao dos instrumentos culturais em elementos ativos de transformao social. quando a prtica social vista em um novo patamar, mais elevado, mais elaborado. a apropriao individual e coletiva do conhecimento elaborado para planejar a prtica social. O retorno do pensamento prtica social o quinto momento. Ou seja, a construo do conhecimento sintetizado sobre a realidade, reduzindo-se a precariedade da parcela de sntese existente anteriormente, transformando-a em algo mais rico e orgnico. A prtica social transformada num espao pedaggico pautado pelo dilogo entre os participantes, e, sobretudo, entre os nveis e tipos de pensamentos. (GASPARIN, 2003; SAVIANI, 2003). Esse dilogo que acontece o tempo todo deve contribuir para que o pensamento persiga o seguinte caminho: primeiro, perceber e denotar; segundo, intuir e conotar; terceiro, raciocinar e criticar; e quarto, sentir e criar. A prtica social referida no primeiro e no ltimo momento do mtodo didtico passa por uma alterao qualitativa. Essa a inteno poltica: alterar significativamente o trabalho pedaggico na perspectiva da educao emancipatria, para desenvolver a poltica cultural de esporte e lazer no campo e na cidade. Portanto, desenvolvemos o ensino com base na pesquisa como instrumento de trabalho com grupos, instituies, coletividades de pequeno ou mdio porte. (CHAVES; SNCHEZ GAMBOA; TAFFAREL, 2003). A investigao d nfase anlise das diferentes formas de ao que se manifestam num conjunto de relaes sociais estruturalmente determinadas. So tcnicas de pesquisa que compem o mtodo: a observao, a sistematizao, a avaliao, a elaborao terica. Para tanto, so necessrios instrumentos de pensamento e instrumentos de pesquisa. Estamos delimitando problemas, hipteses de trabalho, variveis, unidades observacionais e realizamos registros, organizando fontes, analisando dados e teorizando sobre esporte e lazer na cidade e no campo. A pesquisa permite descrever situaes concretas e orientar intervenes ou aes em funo da resoluo de problemas detectados nas coletividades conside30

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 30

7/24/aaaa 09:57:23

radas. A pesquisa se d com a participao de vrios sujeitos sociais, com nveis de participao e tipos de envolvimento diversos universidade, Ministrio do Esporte, escolas, associaes, cooperativas, movimentos sociais de luta da classe trabalhadora, entre outros. no contexto da pesquisa-ao (THIOLLENT, 2007), que fazemos a anlise da realidade observada e propomos conjuntamente as aes pedaggicas. A pesquisa-ao implica na participao das pessoas envolvidas nos problemas investigados, o que absolutamente necessrio. Esse tipo de pesquisa uma estratgia metodolgica da pesquisa social na qual: h uma ampla interao entre pesquisadores e pessoas implicadas na situao investigada, especificamente dos agentes/ militantes culturais. Dessa interao resulta a ordem de prioridade dos problemas e das solues a serem encaminhadas; o objeto de investigao constitudo pela situao social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nessa situao. Especificamente na rea do esporte e do lazer no campo e na cidade; tem como objetivo resolver ou esclarecer os problemas da situao observada; h um acompanhamento das aes e decises, e no se limita a uma forma de ao pretende-se aumentar o conhecimento ou o nvel de conscincia das pessoas e grupos considerados. As aes esto relacionadas ao trabalho pedaggico em contextos formais (escolas e outros) e no formais de esporte e lazer, produo do conhecimento sobre o tema esporte e lazer, s polticas pblicas, e formao de professores/ agentes/militantes culturais. So considerados dois tipos de objetivos: os prticos (levantamento de solues e propostas de ao) e os de conhecimento (obter informaes a partir das situaes pesquisadas sobre auto-determinao e auto-gesto do esporte e lazer a partir da configurao de mutires e crculos populares de esporte e lazer). Para a observao do que ocorre nas situaes concretas investigadas so delimitados trs momentos do processo: inicial, durante as aes e final. So agregados pesquisa procedimentos e tcnicas de pesquisa social, tendo em vista a participao e a ao de todos os envolvidos, baseada no estabelecimento de uma estrutura coletiva, participativa e ativa, trabalhando na produo e apropriao do conhecimento cientfico sobre o esporte e o lazer no campo e na cidade. Todas as formas de registros (verbais, escritas, fotogrficas, filmagens, depoimentos, entre outras), so utilizadas para coleta e organizao de dados. As fontes de dados so, portanto, as situaes concretas do modo de vida (TROTSKY, s.d.) tanto na cidade, quanto no campo, em reas de reforma agrria. So utilizados questionrios, entrevistas, registros descritivos densos convertidos em relatrios, anlise documental, entre outras tcnicas de pesquisa. Recorremos, portanto, a mtodos, instrumentos e tcnicas variadas para lidar com dimenses coletivas e interativas da investigao, bem como tcnicas de registro, processamento e exposio dos resultados. 31

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 31

7/24/aaaa 09:57:23

Na anlise dos dados, a pesquisa em desenvolvimento intensifica o uso de uma estrutura de raciocnio subjacente, que contm momentos de inferncias no limitados s estatsticas, e de argumentao ou dilogo entre os vrios participantes. Muito do material da pesquisa essencialmente extrado de documentos e de espresso de linguagem dos participantes, o que requer da investigao uma anlise cuidadosa e rigorosa para compreenso da lgica dos processos educativos em desenvolvimento. O trabalho apresenta tambm muitas situaes e aspectos argumentativos, como por exemplo: na colocao dos problemas do esporte e lazer no campo e na cidade; nas explicaes ou solues apresentadas pelos educadores/pesquisadores e discutidas com os militantes/participantes; nas deliberaes em relao aos meios de ao a serem implementados; nas avaliaes dos resultados e das aes desencadeadas; no trabalho pedaggico como um todo aberto a experincias dos indivduos e grupos sociais. Os textos que se seguem descrevem resultados deste trabalho investigativo, que busca consolidar uma base de pesquisa e de formao de quadros no Nordeste do Brasil.

32

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 32

7/24/aaaa 09:57:23

TEXTO 3A BASE CONCEITUAL SOBRE FORMAO DE PROFESSORES E MILITANTES CULTURAISCludio de Lira Santos Jnior; Jomar Borges dos Santos; Melina Silva Alves; Raquel Cruz Freire Rodrigues; David Romo Teixeira; Amlia Catharina Santos Cruz; Carolina Santos Barroso de Pinho; Viviane Campos da Costa; Rafael Bastos Costa de Oliveira; rika Suruagy Assis de Figueredo, Celi Nelza Zlke Taffarel

Logo que o trabalho comea a ser distribudo, cada um passa a ter um campo de atividade exclusivo determinado, que lhe imposto e ao qual no pode escapar; o indivduo caador, pescador, pastor ou crtico crtico, e assim deve permanecer se no quiser perder seu meio de vida - ao passo que, na sociedade comunista, onde cada um no tem um campo de atividade exclusivo, mas pode aperfeioar-se em todos os ramos que lhe agradam, a sociedade regula a produo geral e me confere, assim, a possibilidade de hoje fazer isto, amanh aquilo, de caar pela manh, pescar tarde, noite dedicar-me criao de gado, criticar aps o jantar, exatamente de acordo com a minha vontade, sem que jamais eu me torne caador, pescador, pastor ou crtico12. (MARX & ENGELS, 2007, p. 38).

ApresentaoO presente texto constitui a srie de textos de referncia no trabalho que estamos realizando para consolidar um grupo de pesquisa, uma rede de grupos de pesquisa regional e uma rede nacional de estudos e pesquisas sobre polticas pblicas de esporte e lazer induzidas a partir do Ministrio do Esporte. Dentro desse esforo local, regional e nacional destacamos a questo da formao de professores e militantes culturais, sujeitos histricos dos quais depende, em parte, em funo da qualidade da atuao pedaggica, cientfica e poltica, os rumos que podem ter a formao humana de crianas, jovens e adultos e a construo da cultura, em nosso caso, a cultura corporal. Vamos faz-lo explicitando, a seguir, a base conceitual sobre formao de professores e militantes culturais sob a qual estamos propondo mutires e crculos enquanto elementos organizativos 33

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 33

7/24/aaaa 09:57:24

articulados na perspectiva do projeto histrico que se coloca para alm da lgica do capital organizar a produo da vida.

IntroduoEstamos vivendo um perodo de profundas transformaes em todos os mbitos da vida resultantes da crise do modo de produo e reproduo da vida baseado na produo coletiva e na apropriao privada: o capitalismo. Segundo Mszros (2002), trata-se de uma crise sem precedentes, profunda, e pior, estrutural, que exige do conjunto da humanidade uma resposta radical no sentido de alterar a maneira pela qual o metabolismo social controlado para a manuteno da vida no planeta. O autor condensa um fato demonstrado pela histria: o capitalismo no passvel de face humana, como querem nos fazer crer os apologistas da terceira via. Nesse contexto, o debate sobre formao de professores vem tomando rumos nefastos no sentido de contribuir para a formao de crianas e jovens numa perspectiva crtica. Em primeiro lugar, por um movimento, no campo da formao, que expressa a perda da soberania poltica de pases situados na periferia do capitalismo diante das investidas dos organismos do capital Banco Mundial (BM), Fundo Monetrio Internacional (FMI), Organizao das Naes Unidas (ONU), entre outros. A posio poltica hegemnica de pases como o Brasil, cada vez mais subserviente ao imperialismo, no pode ser alcanada e/ou mantida sem seu corolrio no campo das idias. Marx desde 1845/46 j asseverava queAs idias da classe dominante so, em cada poca, as idias dominantes, isto , a classe que a fora material dominante da sociedade , ao mesmo tempo, sua fora espiritual dominante. A classe que tem sua disposio os meios da produo material dispe tambm dos meios da produo espiritual, de modo que a ela esto submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da produo espiritual. As idias dominantes no so nada mais que a expresso ideal dominante das relaes materiais dominantes, so as relaes materiais dominantes apreendidas como idias; portanto, so a expresso das relaes que fazem de uma classe a classe dominante, so as idias da sua dominao. Os indivduos que compem a classe dominante possuem, entre outras coisas, tambm conscincia e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o mbito de uma poca histrica, evidente que eles o fazem em toda a sua extenso, portanto, entre outras coisas, que eles dominam tambm como pensadores, como produtores de idias, que regulam a produo e a distribuio das idias de seu tempo; e, por conseguinte, suas idias so as idias dominantes da poca. (MARX e ENGELS, 2007, p. 47).

A educao, sob a idia de empregabilidade, alada a elemento chave de alvio pobreza. Conforme posio da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO) expressa no Relatrio Delors13 depois de demarcar, com insuspeitssima clareza, que no sculo XXI a humanidade ficaria exposta 34

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 34

7/24/aaaa 09:57:24

ao impondervel, aponta uma nova misso para a educao: a de preparar a prxima gerao para conviver com as incertezas, com os riscos e com o inesperado. Nesse estgio de desemprego estrutural (eufemismo para destruio das foras produtivas), sob o mote da empregabilidade e da melhor preparao das pessoas para o inesperado, essas referidas agncias internacionais envidam esforos, mais uma vez, para implantar um capitalismo com face mais humana. Algo que a histria e os estudos de MARX (1986; 1989a;b; 1978;) ENGELS (1979; 1990); MARX E ENGELS (2007); LNIN (1986; 2007), TROTSKY (2007; 2008), MSZROS (2002; 2003), HOBSBAWN (1995; 1998), FERNANDES (1981;1984, 1989, 1994), LESSA (2007), entre outros demonstrou ser impossvel. nesse contexto que podemos afirmar, estribados nos estudos de Melo (2004), que existe um projeto/processo de mundializao da educao. Este tem como caractersticas mais marcantes: a) o aprofundamento e a superao da teoria do capital humano, uma (re)valorizao do sentido individual/individualista da formao e, desdobrando-se desta ltima, nfase nas habilidades e competncias (que cada um deve buscar no mercado educacional no sentido de estar apto s chances de ascenso social que porventura apaream e, nesse sentido, contribuir para o desenvolvimento de seu pas)14 ; b) a meritocracia (desde as reformas polticas montagem dos currculos at os sistemas de avaliao Exame Nacional de Cursos (Provo), Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE); c) a mercantilizao da educao (que expressa o esforo para cambiar a formao humana de direito em mercadoria). O uso que a professora Adriana Melo (2004) faz da expresso-fora de seu livro indica que o conhecimento passou a ser utilizado, mais do que em qualquer outro momento da histria da humanidade, como fora produtiva principal, contraditando com o processo de desmonte dos sistemas pblicos de ensino dos pases da Amrica Latina (contradio em termos, posto que guarda extrema coerncia com o processo de privatizao dos bens e direitos em voga por todo o globo terrestre). Esse processo constitui a pedra angular das polticas educacionais para a formao de professores em voga no Brasil. Em segundo lugar, a formao de professores, em funo do quadro atual da situao da Educao e da Educao Fsica no Brasil mostra, segundo dados do Programa Internacional para a Avaliao de Alunos (PISA), e considerando resultados das aplicaes do Programa de 2001 a 2006, que a situao evolui do arranho gangrena, quando nos debruamos sob as condies concretas da educao ser efetivada: escolas sem espaos adequados, em pssimas condies; material didtico escasso e/ou defasado; professores e servidores mal remunerados e mal formados e sem uma poltica sria de formao continuada; ausncia de uma poltica nacional de formao que, no mximo, encontra as intenes postas pela econometria de melhorar os ndices a partir de aes fragmentadas 35

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 35

7/24/aaaa 09:57:24

e autoritrias como os so o Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE)15 e seus vrios programas entre os quais consta o Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (REUNI Decreto n 6.096, de 24 de abril de 2007). A Educao Fsica nesse contexto torna-se, cada vez mais, artigo de luxo e distino de classe, materializada nas condies de acesso aos bens da cultura corporal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2003) mais da metade de nossas crianas e jovens no tem acesso cultura corporal de forma sistemtica. Faltam espaos pblicos adequados, faltam recursos humanos qualificados, materiais, e equipamentos, para absorver a demanda nas escolas do campo e da cidade. Esse contexto no novo nem recente. Muito pelo contrrio: tudo como um velho filme a passar de maneira montona e insistente, mudando apenas os nomes dos lugares. Segundo Mszros (2007) o discurso poltico tradicional habitualmente adjudica a esse tipo de inrcia contingncias polticas corrigveis (no discurso atual da governabilidade tudo se resume a questes de management) o que, levado s ltimas conseqncias, significa postular como soluo para o problema a mudana de pessoal no momento eleitoral adequado. A classe dominante quer e parece que logrando xito fazer crer que possvel dar uma soluo moral a um problema poltico.Mas essa seria uma evaso corriqueira, no uma explicao plausvel. Pois a teimosa persistncia dos problemas em questo, com todas as suas dolorosas conseqncias humanas, aponta para conexes com razes muito mais profundas. Eles indicam alguma fora aparentemente incontrolvel de inrcia que parece ser capaz de transformar, com uma freqncia deprimente, at mesmo as boas intenes de manifestos polticos promissores nas pedras que pavimentam o caminho do inferno, tomando emprestado as palavras imortais de Dante. Assim, o desafio enfrentar as causas e determinaes estruturais subjacentes que tendem a desencaminhar pela fora de inrcia muitos programas polticos concebidos para interveno corretiva, mesmo quando os autores desses programas admitem desde o princpio o carter insustentvel do estado de coisas existente (MSZROS, 2007, p.348).

Nossa posio foi a de reconhecer a impossibilidade de se investigar criticamente a formao de professores sem considerar a crise mais geral do modo de produo capitalista. no marco dessa crise que toma forma cada vez mais definido um projeto de mundializao da educao impregnada do vis privatista da empregabilidade. Nesse contexto de educar para a incerteza que se colocam as possibilidades de formao do professor de Educao Fsica. Sustentamos a hiptese de que o discurso oficial de valorizao do magistrio e da Educao Fsica encobre o processo de radicalizao da desqualificao e desvalorizao do professor, limitando dessa forma as possibilidades de acesso aos bens culturais maioria da populao brasileira, e que as alternativas construdas no sentido de corrigir as proposies sintonizadas com a pedagogia do capital explicitadas pela Resoluo CNE/CES 07/04 (BRASIL, 2004) e/ou aquelas situadas 36

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 36

7/24/aaaa 09:57:24

no campo utpico so inviveis para garantir a qualificao necessria a uma formao voltada humanizao do homem. Estamos cientes de que essa perspectiva no poder ser edificada longe das lutas sociais de resistncia e enfrentamento ao capital que colocam no horizonte histrico a superao do capitalismo.

Proposies para enfrentar as causas e determinaes histricas da m formao dos professoresO debate sobre a formao do professor apresenta interesses polticos indiscutveis, dada a funo que eles professores desempenham, ou podem desempenhar, no movimento social e econmico. Se, por um lado, existe o reconhecimento dessa importncia, por outro, continuam a prevalecer problemas especficos na formao cuja busca de respostas se converte em grande desafio para a prtica pedaggica. A persistncia e o agravamento de determinadas problemticas no processo de formao de professores como o so a fragmentao do processo de trabalho pedaggico, a desqualificao profissional j no processo de qualificao, a fragmentao do conhecimento, as antinomias entre as reas do conhecimento especfico e pedaggico, os anacronismos frente aos avanos das foras produtivas e das exigncias do modo de produo capitalista, entre outros constituem uma perversa e histrica negao de conhecimentos maioria da populao. No conjunto da discusso acerca da formao de professores encontramos explicaes advindas da teoria da reproduo (BOURDIEU; PASSERON, 1976), da teoria compreensiva (GARFINKEL, 1997; 1967; GIDDENS, 1998) e da teoria da resistncia (APPLE, 1986; GIROUX, 1986). Revigoram-se essas discusses em decorrncia no s de novos elementos, novas problemticas significativas, introduzidas principalmente por fora do projeto de mundializao da educao (MELO, 2004) atualmente delineado pelas relaes internacionais estabelecidas em acordos comerciais que pem na ordem do dia a exigncia da formao de um novo tipo de trabalhador que corresponda s necessidades da mundializao do capital, mas tambm em funo dos avanos de propostas tericas que buscam associar a anlise histrico-social dos determinantes da educao a uma teoria pedaggica capaz de orientar o trabalho dos professores, de modo a se construrem possibilidades de interveno poltica consistente para a construo coletiva de um projeto histrico e poltico-pedaggico alternativo, nas condies objetivas colocadas. Conforme debate acumulado no interior da Associao Nacional pela Formao dos Profissionais da Educao (ANFOPE), a formao de professores tem estratgica importncia para a consolidao da reforma educacional que vem sendo imposta pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Incio Lula da Silva, sintonizados com as propostas neoliberais do FMI/BM. Est claro que a concepo de educao privilegiada pelos rgos do capital deve continuar a ga37

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 37

7/24/aaaa 09:57:24

rantir a reproduo, numa escala ampliada, das mltiplas habilidades sem as quais a atividade produtiva no poderia ser realizada. O complexo sistema educacional da sociedade tambm responsvel pela produo da estrutura de valores dentro da qual os indivduos definem seus prprios objetivos e fins especficos. As relaes sociais de produo capitalistas no se perpetuam automaticamente. Esta estrutura de valores imprescindvel para a realizao de tal tarefa. (MSZROS, 2005). A aparente fora incontrolvel de inrcia transforma-se nas aes determinadas de uma classe enquanto estratgia de dominao sobre outra. Dito de forma clara, a classe burguesa no tem e nunca teve interesse em educar as massas. Essa , alis, uma das contradies centrais da formao na escola capitalista. Existe, reconhecidamente, a necessidade de qualificar a fora de trabalho para que se possa explor-la concomitantemente necessidade de no permitir a compreenso da realidade complexa e contraditria. A escola capitalista no pode, portanto, contribuir para a humanizao do homem. Antes, ela precisa de que o processo de formao seja sempre e agora mais que em qualquer outra poca fragmentado, conditio sine qua non para a manuteno das relaes sociais capitalistas. Dessa forma, Santos Jnior (2005) demonstra que um dos elementos para se entender por que, a despeito das reformas curriculares ocorridas nos ltimos anos, o processo de formao de professores de Educao Fsica (e de professores em geral) no foi alterado. Mudou muito na aparncia sem alterar em nada os parmetros terico - metodolgicos. Os parmetros terico-metodolgicos dizem respeito a um conjunto de elementos que, articulados, ampliam nossas possibilidades de abordar a realidade no sentido de sua compreenso, da produo de conhecimentos, do encaminhamento de aes, enfim, de entender, explicar e agir no enfrentamento dos problemas postos pela existncia. Para a formao de militantes culturais, consideramos que o princpio fundamental para a elaborao desses parmetros deve ser a colocao, com clareza, do projeto histrico. O saudoso Florestan Fernandes afirmava que numa sociedade dividida no existe, na poltica, posio neutra. Ainda, afirmava que assumir uma posio de neutralidade significa assumir a posio dos poderosos, a posio da manuteno. Os dados da conjuntura demonstram com impiedosa fora que se a humanidade quiser construir uma alternativa vivel para garantir a existncia da espcie no poder prescindir de colocar na ordem do dia a derrubada do capitalismo. Como bem ressalta Hobsbawn, a histria dos ltimos vinte anos aps 1973 a de um mundo que perdeu suas referncias e resvalou para a instabilidade e a crise (HOBSBAWN, 1995, p.393). Outro elemento fundamental que serve de referncia para novos parmetros terico-metodolgicos a crtica, tanto no entendimento da realizao, quanto no da formao. Na acepo marxiana, significa dizer que para realiz-la no se pode 38

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 38

7/24/aaaa 09:57:24

estar baseado em um modelo de referncia para medir aes futuras a crtica se materializa no real e em oposio a ele. Portanto, no tem como ponto de partida um plano terico, mas uma realidade concreta; tem de ser materialista, logo, dispensa qualquer possibilidade de basear-se em ideais educativos. D-se em dado momento histrico concreto; no descuida, em hiptese alguma, da totalidade histrica e social, o que significa que a crtica educao deve abarcar todas as vias pelas quais se produz a conscincia social e individual, e a prpria educao principalmente na sua verso restringida o ensino (ENGUITA, 1993, p.79); deve demonstrar a relao existente entre os valores educativos e as condies materiais implcitas, contribuindo para a dissoluo dessas bases; deve situar a importncia da anlise econmica pondo em relevo o papel desempenhado pela educao no seio do processo de produo e reproduo do capital; e, por fim, deve estabelecer as condies para a anlise da educao realmente existente, ou seja, das idias educacionais dominantes de forma dialtica, o que implica em reconhecer que as possibilidades de superao se gestam no interior das tendncias realmente existentes. Dessa forma, conforme afirma Mszros (2005), uma reformulao significativa da educao, de um modo geral, inadmissvel sem uma correspondente modificao do quadro social em que as prticas educacionais acontecem.Limitar uma mudana educacional radical s margens corretivas auto-servidoras do capital significa abandonar de uma s vez, conscientemente ou no, o objetivo de uma transformao social qualitativa. Do mesmo modo, procurar margens de reforma sistemtica no prprio enquadramento do sistema capitalista uma contradio em termos. por isso que necessrio romper com a lgica do capital se quisermos contemplar a criao de uma alternativa educacional significativamente diferente (MSZROS, 2005, p.27).

Na linha do que estamos propondo e cientes de que a formao de professores (especificamente) e a educao (no mbito geral) sofrem as determinaes da contradio capital-trabalho, perguntamos: teramos como avanar rumo a uma formao de professores voltada para a humanizao do ser e no apenas para a reproduo do capital? Existiria a possibilidade de uma educao emancipatria antes que seja superada a diviso entre capital e trabalho? A referncia dialtica sinaliza positivamente para essas questes. Claro que as possibilidades de instaurar uma pedagogia socialista no marco referencial do capitalismo so um engodo. Entretanto, nossa posio situa-se no marco da construo/contribuio de alternativas de resistncia e enfrentamento pedagogia do capital, convictos de que o capitalismo traz no seu ventre a semente de seu desenvolvimento e de sua destruio. Isso quer dizer que nossas formulaes acerca da educao e, mais especificamente, sobre a questo da formao de professores de Educao Fsica localizam-se no bojo das possibilidades que consideramos como as mais humanizadoras que existem no interior das contraditrias foras que tm atuado sobre a realidade escolar. (DUARTE, 2001, p.4). Localiza-se no conjunto 39

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 39

7/24/aaaa 09:57:25

das propostas construdas com e para os que vivem do trabalho, e consideram o trabalho como princpio educativo (KUENZER, 2000; 2001). Os argumentos apresentados servem para contribuir com o debate local e nacional que est sendo travado, vez que existem posies antagnicas acerca dessas questes e que interesses opostos esto determinando a disputa de projetos de formao humana e de sociedade, o que no pode ser desconhecido, principalmente nesse momento quando est em curso a construo do consenso possvel, que merece ser questionado e combatido, uma vez que a sua base falsa e que esses projetos de sociedade e de formao humana so antagnicos. Conforme nos aponta Chau (2005), no podemos reduzir a democracia ao entendimento pfio de regime dos consensos. Ao contrrio, devemos lutar intransigentemente para que as diferenas sejam realmente consideradas, para que a democracia seja o regime do trabalho dos e sobre os conflitos (CHAU, 1981, p.10). Sem perder de vista que essas diferenas numa sociedade de classes assumem a forma de contradies, operamos na linha de fazer avanar as reivindicaes e de alargar a esfera democrtica. No faz-lo esperar que as coisas se ajeitem sozinhas ou trabalhar com a idia do quanto pior, melhor. Continuando nosso esforo de organizar uma contribuio alternativa de parmetros terico-metodolgicos, verificamos, a partir da anlise dos dados da realidade, que a instituio que mais avanou o fez em grande parte, pela presena de coletivos, de grupos. Estes no podem desenvolver suas posies distantes de uma localizao clara na luta de classes. Defendemos, pois, que as reivindicaes histricas dos setores organizados que lutam por uma formao de professores para alm do capital sejam consideradas na reconceptualizao dos currculos e dos parmetros terico-metodolgicos que orientam a formao dos professores de Educao Fsica. Significativo exemplo pode ser encontrado nas resolues do VII Seminrio Nacional Sobre a Formao dos Profissionais da Educao. As resolues desse evento reafirmam e atualizam muitas das posies construdas nos ltimos 13 anos de luta. Nenhum dos princpios defendidos est contemplado no processo de formao de professores em andamento nas instituies investigadas. So eles:1. slida formao terica, inter e transdisciplinar sobre o fenmeno educacional e seus fundamentos histricos, polticos e sociais, promovendo a articulao e domnio dos saberes para a compreenso crtica da sociedade brasileira e da realidade educacional, e ainda, a apropriao do processo de trabalho pedaggico; 2. interao teoria e prtica, que resgata a prxis da ao educativa, como elemento inerente ao trabalho pedaggico, tendo a docncia como base da formao profissional; 3. a pesquisa como princpio formativo e epistemolgico, eixo da organizao e desenvolvimento do currculo; 4. gesto democrtica e trabalho coletivo como base para a organizao do trabalho pedaggico em contextos educativos escolares e no-escolares; 5. compromisso social, tico, poltico e tcnico do profissional da educao, voltado formao humana e referenciada na concepo scio-histrica da educao e nas lutas desses profissionais articuladas com os movimentos sociais; 6. articulao

40

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 40

7/24/aaaa 09:57:25

entre a formao inicial e a continuada do profissional da educao; 7. avaliao permanente e contnua dos processos de formao (ANFOPE, 2005, p.1).

Esses elementos servem de fundamento para a base comum nacional e expressam uma concepo da educao construda na prxis educacional. Os professores de Educao Fsica no podem insistir no equvoco histrico de no considerar o debate mais geral da rea da educao. No se trata aqui de apenas defend-los. Os dados apontam para essa necessidade. Trata-se de chamar a responsabilidade dos atuais responsveis pela formao de futuros professores de Educao Fsica em no ficar indiferentes e de colocar esses elementos no interior do debate que ora vem sendo travado nos cursos que esto reorganizando seus currculos. A base comum nacional outro elemento estruturante para novos parmetros terico-metodolgicos. A docncia , tambm, considerada elemento central na nossa proposta. Aqui retomaremos de forma muito breve uma das expresses que o debate vem assumindo, seja no plano nacional, seja no local especfico onde trabalhamos. Diz respeito defesa de que como atuamos em locais diferentes, nossa formao precisa ser diferenciada. Se a pretenso trabalhar na escola, deve-se cursar licenciatura, mas se pretendido trabalhar em academias, o correto seria cursar bacharelado. Essa uma das teses que os arautos do chamado Sistema CONFEF/ CREFs16 vm defendendo. O mote para uma formao flexvel est pronto. Se examinarmos de perto essa afirmao, veremos que completamente destituda de fundamentos. Vejamos o exemplo da ginstica. Esta pode ser tratada de forma idealista, calcada na perspectiva tradicional de ensino, numa concepo de aprendizagem inatista ou ambientalista. Como seria essa ginstica? Que diferena ter se for trabalhada na escola, no clube, na academia, no hotel? As respostas a essas questes levaro, inevitavelmente, a um conjunto de possveis diferenas aparentes com profunda simetria na essncia. Em qualquer desses ambientes ela ser trabalhada sob a perspectiva instrumentalista, utilitarista. Por isso insistimos que o que defendemos no preparar o futuro professor para adaptar-se ao local onde vai atuar. Ao contrrio, queremos que ele seja formado sob uma base slida o bastante que o permita contextualizar sua interveno e, a partir da, que seja capaz de dosar, garantir uma seqncia lgica e sistematizar o conhecimento que ser tratado. Mesmo porque, se radicalizarmos o debate chegaramos, indefectivelmente, a uma fatdica concluso: os locais so, tambm, diferentes entre si. Caminhar pela diferena ser equivocado e nos levar por labirintos formais onde no h fio salvador de Ariadne17. No podemos desconhecer que existem diferenas. Isso est claro. Nossos alunos precisam ser formados com habilidade para decifr-las separando aparncia da essncia. Ou seja, eles devero ser capazes 41

Miolo_Trabalho_pedagogico.indd 41

7/24/aaaa 09:57:25

de, compreendendo com radicalidade a realidade complexa e contraditria, intervir de forma consciente e autnoma no sentido da alterao dessa realidade. Mas isso s vai acontecer no confronto com a realidade. Confronto que ser tanto menos problemtico quanto mais preparado eles estiverem. Defendemos a docncia sobre a base do domnio de trs eixos chave. O primeiro o domnio dos macro-conceitos da rea (esporte, sade, lazer, ginstica, etc.); o segundo trata do domnio dos fundamentos para o trato com o conhecimento (teoria do conhecimento X teoria da aprendizagem como o conhecimento construdo e como o ser humano aprende); o terceiro diz respeito ao domnio dos elementos especficos da docncia (organizao do trabalho pedaggico/teoria pedaggica X metodologias especficas). Esse trip, caso no esteja articulado, estaro comprometidas as possibilidades de atuao dos futuros professores. Os elementos postos at aqui no se sustentam sem uma determinada concepo de homem e sem as ferramentas tericas adequadas que permitam articullos numa perspectiva de totalidade concreta. Isto posto, central recuperar a concepo de homem expressa por Karl Marx enquanto conjunto das relaes sociais ou, de forma mais elaborada, a viso marxiana do homem pressupe tom-lo em sua plena realidade enquanto membro de uma sociedade concreta, de uma classe, estabelecendo uma relao dialtica com a sociedade, que tanto o auxilia em seu desenvolvimento, quanto o aprisiona. A realizao total da humanidade do homem e de sua emancipao das foras que o aprisionam est vinculada, segundo Marx e Engels (1978; 1987; 1989a e b, 2007) ao reconhecimento dessas foras e mudana social. Nessa acepo, o homem deve ser entendido como um devir. A riqueza do homem enquanto ser est justo no fato de que sua humanidade no dada pela natureza, ela produzida pelos prprios homens. por isso que Marx ir conceber o homem como sujeito prtico, que age, que produz, que transforma a natureza e, conseqentemente, a si mesmo. Da porque Saviani (2002; 2003; 2007), Duarte (2000; 2001; 2003; 2004; 2005), entre outros, afirmam que para integrar o gnero humano, para ter sua humanidade na plenitude o homem precisa ser formado, precisa ser educado. No embate que se trava pela formao, esto em curso foras que operam no sentido no da humanizao, mas do embrutecimento do homem; e aquelas que operam na via da humanizao. Por isso que segundo Saviani (2007, 2008) os cursos de preparao de professores devem visar a formao de seres humanos plenamente cultos, profundos conhecedores da histria concreta dos homens, em lugar da formao de indivduos curtos. O ato pelo qual o homem vai agir sobre a natureza transformando-a, ao mesmo tempo em que por ela transformado, ser o trabalho. A essncia humana ser o trabalho. O trabalho na r