7
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS CURSO: Filosofia DEPARTAMENTO: Filosofia DISCIPLINA: Problemas Metafísicos - DOCENTE: Ecio Pisetta DISCENTE: Marcus Albuquerque Presente trabalho tem como objetivo estudar e ponderar sobre o posicionamento de Gadamer quanto à hermenêutica e a dialética em suas características filosóficas presente no texto utilizado para o desenvolvimento do trabalho, parte integrante do livro Verdade e Método I 1 , com o título de A Primazia Hermenêutica da Pergunta. Em termos gerais, Gadamer em seus pensamentos, nos conduz a reflexão da relevância da pergunta no processo dialético entre pergunta e resposta e o objeto de observação. A primazia se dá ao passo que compreendemos que no processo de interpretação de um texto, de uma obra, ou na conversação se dá pela suspensão das verdades comuns, visando o entendimento da verdade originário da coisa em busca do conhecimento através da pergunta. São as possibilidades levantadas pelas perguntas que podem nos conduzir ao verdadeiro entendimento, ou conhecimento da coisa. Daí, podemos apreender que não há conhecimento sem pergunta. A importância do conceito de pergunta para análise da situação hermenêutica reside no fato de que toda experiência pressupõe a estrutura de pergunta, pois toda experiência a que nos submetemos a conhecê-la mais profundamente, é conduzida pelo ato de perguntar. Já 1 GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método I. Tradução Flavio Paulo Meurer. Petrópolis, RJ. Ed. Vozes. 1997.

Trabalho Sobre Gadamer

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho Sobre Gadamer

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIOCENTRO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHSCURSO: Filosofia DEPARTAMENTO: FilosofiaDISCIPLINA: Problemas Metafsicos - DOCENTE: Ecio PisettaDISCENTE: Marcus Albuquerque

Presente trabalho tem como objetivo estudar e ponderar sobre o posicionamento de Gadamer quanto hermenutica e a dialtica em suas caractersticas filosficas presente no texto utilizado para o desenvolvimento do trabalho, parte integrante do livro Verdade e Mtodo I[footnoteRef:1], com o ttulo de A Primazia Hermenutica da Pergunta. [1: GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Mtodo I. Traduo Flavio Paulo Meurer. Petrpolis, RJ. Ed. Vozes. 1997.]

Em termos gerais, Gadamer em seus pensamentos, nos conduz a reflexo da relevncia da pergunta no processo dialtico entre pergunta e resposta e o objeto de observao. A primazia se d ao passo que compreendemos que no processo de interpretao de um texto, de uma obra, ou na conversao se d pela suspenso das verdades comuns, visando o entendimento da verdade originrio da coisa em busca do conhecimento atravs da pergunta. So as possibilidades levantadas pelas perguntas que podem nos conduzir ao verdadeiro entendimento, ou conhecimento da coisa. Da, podemos apreender que no h conhecimento sem pergunta. A importncia do conceito de pergunta para anlise da situao hermenutica reside no fato de que toda experincia pressupe a estrutura de pergunta, pois toda experincia a que nos submetemos a conhec-la mais profundamente, conduzida pelo ato de perguntar. J introduzindo as premissas desta dialtica, Gadamer afirma que as perguntas abertas partem de uma negatividade, o saber que no se sabe, levantando possibilidades a medida quem que esta abertura para o conhecimento uma abertura que indaga as possibilidades do resultado.Nos pargrafos seguintes, onde Gadamer nos apresenta a dialtica presente nos textos de Plato, somo introduzidos nesse intercmbio de perguntas e respostas, onde pode-se reconhecer que para todo conhecimento do contedo das coisas a pergunta toma a dianteira e por essa razo que a dialtica se concretiza na forma de perguntas e respostas, resumidamente dizendo que todo saber acaba passando pela pergunta, colocando-se o tema no aberto. Embora se tenha essa abertura, Gadamer nos chama ateno para a limitao da pergunta. A considerao de uma delimitao para a pergunta incorre no que o autor chama de horizonte da pergunta. Essa delimitao da pergunta permite que ela no caia no vazio, na falsidade ou ambiguidade, pois assim sendo, estas no conduziriam a realmente a situao aberta de suspenso, onde ocorre a deciso (os dois aspectos do julgamento, tanto o sim quanto o no). Em outras palavras, a deciso da pergunta incide no caminho para o saber, contudo, para o autor s se chega a saber a coisa mesma quando se resolverem as instancias contrrias e quando a visa perpassa os contra-argumentos na sua incorrectura (p. 537).Ainda ponderando sobre a questo da dialtica, o autor nos inteira que a dialtica medieval, sendo essa uma dialtica que repousa na pertena ntima entre cincia e dialtica, isto , a resposta e pergunta, j que esta no se continha em alinhas os prs e os contras e acabava arrolando o conjunto de todos os argumentos intuindo desmascarar a incorreo dos argumentos. Recorre-se a um pensamento de Aristteles em sua Metafsica o qual afirma que a dialtica a faculdade de investigar os opostos, mesmo independentemente do que , e (de investigar) se pode haver uma e a mesma cincia para coisas opostas (p. 537 ). Da Gadamer, considera que o nexo entre essas duas perguntas torna-se claro quando se constata a primazia da pergunta sobre a resposta, uma primazia que a base para o conceito do saber. Quando analisamos, podemos inferir que a pergunta aristotlica conteria objetivamente a base da possibilidade da dialtica em geral e ainda esta teoria da prova e da inferncia permite reconhecer essa mesma primazia da pergunta para a essncia do saber, demonstrando de maneira mais originria a limitao da ideia de mtodo para o saber, uma vez que no h mtodo que ensine a perguntar, a ver o que se deve questionar, pois o que conduz a uma pergunta determinada um no saber determinado. Retomando a ideia do no saber, Gadamer recorre aos ensinamentos de Scrates, reforando a ideia de que tudo depende de que se saiba que no se sabe. Segundo o autor, a dialtica socrtica conduzida pela arte de desconcertar, criando ai os pressupostos para o ato de perguntar. Porm, existe uma dificuldade de sabermos que no sabemos. Isso porque somos acometidos pelo poder da opinio, que como exposto por Plato, torna to difcil chegarmos ao reconhecimento do que no se sabe. Segundo o autor a opinio o que reprime perguntar. -lhe inerente uma particular tendncia expansionista (p. 539), haja vista que a opinio, pretendendo ser a opinio comum pretende um consenso da maioria.Contudo, Gadamer nos prope a reflexo de que a negatividade da experincia que nos incita a pergunta. O autor coloca que na realidade, o impulso, que representado por aquilo que no quer integrar-se nas opinies pre-estabelecidas, o que nos move a fazer experincias (p. 540). Segundo o autor, chega-se a um momento em que a ocorrncia das perguntas insurge, de maneira que no h como desviar-se delas ou ficar agarrado a opinies costumeiras.Gadamer apresenta a contradio quanto dialtica socrtico-platnica que tem em sua arte de perguntar um pressuposto de elevao a um domnio do consciente. Ela est reservada quele que quer saber, quele que j tem perguntas. Para o autor,a arte de perguntar no a arte de esquivar-se da coero das opinies; ela pressupe essa liberdade. Nem sequer uma arte no sentido em que os gregos falavam de TEKNE, no um saber que se possa ensinar e atravs do qual podemo-nos apoderar do conhecimento de verdade (p. 540).

Aps tal colocao, podemos apreender que no so as tcnicas que orientam para um possvel ganhador na elaborao de argumentos. o oposto disto, como nos afirma Gadamer, ela s se mantem se o perguntador sabe manter em p suas perguntas e para mant-las, necessariamente, precisa orienta-las para o aberto, incidindo na arte da continuao das perguntas, promovendo a arte de pensar. Como o autor define, chama-se dialtica porque a arte de conduzir uma autentica conversao (p. 540).Assim sendo, Gadamer nos apresenta suas consideraes sobre o dilogo platnico, o qual traduz um acompanhamento das respostas pelos interlocutores. Entende-se que este acompanhamento demanda abertura, no abafando o outro com argumentos, mas leva em considerao a real importncia objetiva de sua opinio. O dilogo, ento, se caracteriza como a arte de ir colocando prova. De acordo com o autor a dialtica, como arte de conduzir uma conversao, ao mesmo tempo a arte da formao de conceitos como elaborao da inteno comum (p. 542).Retomando a questo do fenmeno hermenutico, Gadamer apela a Plato no que tange o plano das perguntas. Ele nos conduz ao entendimento de que os dilogos de Plato contem, de alguma maneira, uma crtica a escrita, no que diz respeito a prtica de escrita da poca. O autor aponta que a forma literria do dilogo devolve linguagem e conceito ao movimento originrio da conversao (p. 543).Para Gadamer, tambm a dialtica hegeliana um monlogo do pensar, como nos elucida Almeida[footnoteRef:2] (2002), que no intiuito de encontrar uma resposta positiva a sua pergunta, Hegel acabou matando a negatividade inerente ao perguntar e fechando, na subjetividade, a abertura ontolgica que marca a experincia humana. Tal fato se d por Hegel reafirmar o modelo da dialtica grega, trazendo a lgica para a realizao da linguagem e dando ao conceito fora de sentido da palavra na dialtica entre a pergunta e resposta. [2: ALMEIDA, Custdio Lus Silva de. Hermenutica e dialtica: dos estudos platnicos ao encontro com Hegel. Porto Alegre. EDIPUCRS, 2002.]

A lgica da pergunta e resposta

A partir daqui, Gadamer nos prope a reflexo quanto ao texto como objeto de interpretao. A compreenso de um texto requer compreender a pergunta para ao qual ela resposta.Tomando os argumentos de R.G. Collingwood, Gadamer nos conduz ao entendimento de que o centro de todo conhecimento histrico perpassa por um mtodo histrico o qual exige essa lgica de pergunta e resposta a tradio histrica. Entretanto, nos alerta a iluso de se tomar um ponto de vista de forma superior, a partir do qual se poderia pensar a verdadeira identidade. No pargrafo seguinte o autor reflete quanto a esse pensamento, com base na premissa das perguntas serem originrias dos problemas. Para Gadamer o conceito do problema formula, evidentemente uma abstrao{...}Refere-se ao esquema abstrato que se deixam reduzir, e sob o qual se deixam subordinar as perguntas reais e realmente motivadas (p.553), como vimos anteriormente, as perguntas que partem para o aberto.O autor ainda exemplifica utilizando exemplo do conceito de problema em Aristteles, pontuando que: problema diz respeito ao gnero de perguntas que se mostram como alternativas abertas, porque tudo fala a favor de ambos os lados, e porque no cremos poder resolv-las com fundamentos j que so perguntas demasiadamente grandes (p. 553).

No que diz respeito aos textos escritos, Gadamer faz um breve comparativo a dialtica da conversao, mas considerando que somos ns que trazemos--fala o tu compreendido no texto e avana refletindo sob um fenmeno hermenutico onde omodelo da conversao que tem lugar entre duas pessoas, o carter de unidade e o de orientao entre essas duas situaes aparentemente to diversas, como so a compreenso de um texto e o chegar a um acordo em uma conversao consiste sobretudo no fato de que toda compreenso e todo acordo tm presente alguma coisa que est postada diante de ns (p. 555).

Em outras palavras, a interpretao ocorrida no processo de conversao, na dialtica entre os atuantes diante da coisa, tem o mesmo efeito de interpretao no momento de apreenso do texto, na medida em que as perguntas ocorrem na busca verdadeira do sentido da coisa a ser apreendido. Para isso, as perguntas originrias, ainda que reconstrudas, no podem permanecer em seu horizonte imaginrio, considerando que essa reconstruo descrita no horizonte histrico abarca perguntas refletidas pelas palavras da tradio.Grosso modo, somos levados pelos pensamentos de Gadamer a compreender que a verdade est acima da metodologia. Essa Filosofia prtica prope uma conexo entre o universo racional, o que se passa na conscincia e a realidade fora do esprito, a prxis moral, baseada na experincia. Nesse sentido que podemos apreender a pergunta como matria primordial da Filosofia, a relevncia do processo dialtico e da hermenutica diante desse processo.