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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA MESTRADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA – SISTEMAS DE ENERGIA Cenários de Proteção Aplicados a Sistemas de Distribuição Inteligentes (Smart Grids) Tópicos Especiais em Análise de Redes Elétricas Proteção de Sistemas Elétricos Prof. Dr. Leandro Ramos de Araujo Integrantes: Jonatas Marques Rodrigues 102100262 Ricardo Viol dos Santos - 102100277 Juiz de Fora, 06 de Janeiro de 2014

Trabalho v2

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Page 1: Trabalho v2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

MESTRADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA – SISTEMAS DE ENERGIA

Cenários de Proteção Aplicados a

Sistemas de Distribuição

Inteligentes (Smart Grids) Tópicos Especiais em Análise de Redes Elétricas – Proteção de Sistemas Elétricos

Prof. Dr. Leandro Ramos de Araujo

Integrantes:

Jonatas Marques Rodrigues – 102100262

Ricardo Viol dos Santos - 102100277

Juiz de Fora, 06 de Janeiro de 2014

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SUMÁRIO

1. Smart Grids .................................................................................................................. 3

a) Introdução ......................................................................................................................... 3

b) Tecnologias ........................................................................................................................ 5

c) Investimentos .................................................................................................................... 6

2. Cenários de proteção aplicados a Smart Grids ............................................................... 8

a) Sistemas de Gerenciamento e Supervisão ........................................................................ 9

b) Proteção de Redes Inteligentes ....................................................................................... 11

I. Sistemas Self-Healing .......................................................................................... 11

A. Sistema de gestão de chaves e apoio a manobras ............................................... 12

B. Sistema Multiagente (SMA) .................................................................................. 13

Processo de Recomposição ............................................................................. 14

Estudo de Caso ................................................................................................ 16

II. Localização de Distúrbios no Sistema de Potência utilizando Sincrofasores .......... 18

Detecção do Evento ........................................................................................ 19

Localização e Identificação do Evento ............................................................ 22

III. Sistema de Múltiplos Agentes para Implementação de Proteção Adaptativa em

Microrredes ........................................................................................................... 22

Análise off-line: ............................................................................................... 24

Análise on-line: ............................................................................................... 24

IV. Proteção de Sobrecorrente com Ajuste de Configuração Adaptativo .................. 28

V. Detecção de Ilhamento de Geração Distribuída .................................................. 31

Referências ....................................................................................................................... 33

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1. Smart Grids

a) Introdução

A indústria de energia elétrica tem experimentado contínuas mudanças e avanços

tecnológicos, revolucionando as formas de geração, transmissão, distribuição e

consumo e, portanto, exigindo um esforço coordenado e focado para modernizar todo o

sistema elétrico, buscando aperfeiçoamento técnico, maiores rendimentos, novas

possibilidades de operação, agregação de novas tecnologias, minimização de perdas

elétricas e de custos e melhoria na qualidade e no fornecimento de energia elétrica.

Nesse contexto, surgem as Redes Inteligentes de Energia – Smart Grids. A

expressão Smart Grid deve ser entendida mais como um conceito tecnológico do que

uma tecnologia ou equipamento específico. Baseia-se na utilização intensiva de

tecnologia de automação, computação e comunicações para monitoração e controle,

substituindo a tradicional infraestrutura da rede elétrica, permitindo a implantação de

estratégias de controle e otimização da rede de forma muito mais eficiente que as

atualmente em uso [7].

Ainda de acordo com o U.S. Department of Energy, Smart Grid não é uma

“coisa”, mas uma visão a ser completada e que deve ser construída de acordo com as

necessidades do mercado no qual será implantado e tomando em conta múltiplas

perspectivas, tais como tecnológica, ambiental, socioeconômica e político-regulatória,

ou seja, a definição varia de acordo com as necessidades (reduzir perdas, poluentes,

custos operacionais) e com a ótica (financeira, ambiental, entre outras).

Como benefícios, essa arquitetura possibilita um meio mais econômico e

inteligente de gerar, transmitir e distribuir energia, minimizando os impactos

ambientais. Isto é obtido a partir do aumento da eficiência operacional, da otimização da

geração e do armazenamento de energia de forma distribuída, da predição de falhas, da

auto-recuperação e de novos serviços ao consumidor [15].

Assim, a ideia de tornar a rede inteligente não é um processo de passo único, mas

sim um processo evolutivo, conforme pode ser visto na figura abaixo.

Figura 1 – Aspectos Evolutivos das Redes

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Os pontos cruciais que levam o desenvolvimento das redes de distribuição em

direção às redes inteligentes é a crescente pressão ambiental pela introdução das fontes

de energia limpas ou renováveis (biomassa, eólica e solar), preocupação em melhorar a

eficiência e a qualidade do serviço (principalmente na distribuição), a inquestionável

crescente demanda de energia elétrica (que segundo dados da Siemens Energy, é

previsto um crescimento anual de 2,2% – passando dos 20.300 terawatts-hora de hoje

para 33.000 terawatts-hora em 2030), o congestionamento das redes de transmissão, o

crescente desenvolvimento da geração própria ou do “produtor-consumidor” e até

mesmo a cada vez mais difundida venda e operação dos veículos elétricos. Esses

fenômenos levam a um ponto: geração distribuída (GD), onde consumidores poderão

gerar energia para si mesmos e vender o excedente gerado à distribuidora, tornando o

fluxo na rede bidirecional, tudo isto conforme legislações estabelecidas pelos órgãos

administrativos locais.

Figura 2 - Comunicação inteligente entre diversos usuários da cadeia de energia

Com a geração se mostrando cada vez mais descentralizada e próxima aos centros

urbanos (ou das respectivas cargas) sendo muitas das vezes ligada diretamente à rede

primária de distribuição, que por sua vez estão cada vez mais adotando uma

configuração malhada ao invés da radial, torna-se necessário tornar a operação desta

rede cada vez mais inteligente a fim de utilizar com eficiência os recursos provenientes

destas novas fontes pontuais de energia.

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b) Tecnologias

O esquema a seguir ilustra a gama de tecnologias que compõem o conceito de

redes inteligentes:

Figura 3 – Cadeia industrial para a rede elétrica inteligente

As principais características que um sistema deve apresentar para seja classificado

como Smart Grid são [2-6]:

Maior confiabilidade e melhoria na eficiência operacional,

proporcionada pelo conjunto maior de informações que são processadas

em tempo real, permitindo ações de planejamento contra possíveis

contingências e sobrecargas e atenuando, assim, interrupções de serviço.

Autodiagnose e autorreparação (“Self Healing”) do sistema, ou seja,

capacidade de detectar, analisar, responder e restaurar possíveis falhas na

rede.

Resistência a ataques cibernéticos e de fenômenos naturais, ou seja, a

rede inteligente deverá ser capaz de perceber e responder a interrupções

advindas de causas naturais e também de ataques de terceiros.

Permita a instalação de uma grande variedade de fontes e o suporte a

um novo tipo de consumidor (veículos elétricos e/ou híbridos

recarregáveis). Tal fato promoverá uma mudança no modelo atual do

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sistema elétrico, baseado na geração concentrada, para uma matriz cada

vez mais voltada para uma geração descentralizada ou distribuída.

Possibilidade de fluxo bidirecional (microgerações).

Maior interatividade entre a concessionária e o consumidor final. A

implantação do sistema de medição inteligente juntamente com o

fornecimento de informações inovadoras ao consumidor, como por

exemplo, o preço da energia (tarifa) em tempo real, possibilitará que este

controle sua demanda por energia e até mesmo decida por fornecer energia

para a rede, no caso de ser um microgerador.

Gestão preventiva do funcionamento de ativos da rede, tais como:

transformadores, chaves seccionadoras, relés, entre outros.

Combate ao furto de energia e a inadimplência através do

monitoramento da medição.

É ambientalmente de menor impacto.

c) Investimentos

A princípio, olhando para o avanço destas redes inteligentes no mundo, o que se

observa é que muitos dos aspectos que definem uma rede como inteligente já estão

aplicados em muitos projetos pilotos e até mesmo em grandes metrópoles. As redes

inteligentes e a medição inteligente recebem grande atenção, tanto dos reguladores

como também da mídia, consumidores e pesquisadores. Segundo dados da ABB, desde

2003 foram investidos cerca de $14 bilhões em projetos ao redor do mundo, porém a

maior parte destes investimentos são focados no desenvolvimento de tecnologias de

medição e monitoramento. Ainda é necessário se aprofundar nas avaliações de custo

benefício e retorno de capital para que os investimentos se voltem mais para a

interconectividade do sistema, inclusive com os consumidores finais.

Como alguns exemplos de projetos já implantados que se mostraram atrativos

estão:

Austrália

Figura 4 – Logo dos projetos australianos

Cerca de quatro projetos “Smart Grid Smart City”, com investimentos da GE,

IBM entre outras empresas, com um investimento total de cerca de $240 Milhões e

milhares de casas atendidas. Os consumidores podem monitorar seu uso de energia,

sendo disponível também em algumas casas um sistema wireless de controle de alguns

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eletrodomésticos. O projeto inclui medidores e sensores inteligentes e uma rede de

comunicação a fim de melhorar a confiabilidade e eficiência do sistema e integrar os

sistemas de geração distribuída, armazenamento de energia e veículos elétricos.

Japão

De nome “Hachinohe Microgrid Demonstration Project”, com o apoio de

empresas como a Mitsubishi Electric Corporation, consiste em uma operação ilhada

com geração totalmente renovável, sendo 20kW de energia eólica, 130kW de energia

fotovoltaica, 100kW de baterias e cerca de 510kW de cogeração a gás. Nesse projeto,

cujo período de atuação foi de uma semana, o desempenho de um sistema de “geração-

demanda” ilhado é testada com consumidores reais (cerca de 605kW de demanda) e

dados também foram retirados para futuros projetos de maior escala de tempo.

Canadá

Projeto “Ontario Smart Metering Initiative”, com cerca de 4,5 milhões de

medidores inteligentes instalados e custo capital estimado em $1 bilhão (com um

aumento anual dos custos com operação da rede estimados em $50 milhões). O governo

da província de Ontario adotou uma política de energia verde como inciativa de se

tornar líder em energias renováveis, medidores inteligentes e adoção de microgrids. Foi

adotado também uma tarifa diferenciada pela hora do uso da energia, sendo o maior

mercado do mundo que utiliza tal tipo de tarifa atualmente, sendo assim possível o corte

da demanda de pico de cerca de 5-8%.

Figura 5 – Logo do projeto canadense

Estados Unidos:

De nome “Houston’s Smart Grid”, o projeto já instalou aproximadamente 2,2

milhões de medidores inteligentes a um custo de $640 milhões sendo cerca de $200

milhões do governo dos EUA. Ainda não foi aplicada uma tarifa diferenciada pela hora

de uso, mas tal mudança está nos planos do governo local na segunda etapa do projeto.

Figura 6 – Logo do projeto americano

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Brasil:

Em 2010, o MME criou um Grupo de Trabalho com o objetivo de analisar e

identificar ações necessárias para subsidiar o estabelecimento de políticas públicas para

implementação de um Programa Brasileiro de Rede Elétrica Inteligente. No mesmo ano,

a ANEEL tornou público as características, os critérios para participação e os

procedimentos para elaboração de Projeto Estratégico. Atualmente, cerca de 157

instituições e 42 concessionárias estão envolvidos em cerca de 178 projetos espalhados

pelo território, com investimentos de mais de R$ 400 milhões.

Figura 7 – Projetos piloto no Brasil – Redes Elétricas Inteligentes

2. Cenários de proteção aplicados a Smart Grids

No mesmo caminho que se busca a eficiência na operação, deve-se também

buscar a segurança, que nos sistemas elétricos está diretamente ligada ao sistema de

proteção aplicado. Já é de praxe que a implementação de um sistema de proteção

eficiente na distribuição não é uma tarefa fácil, mesmo nos sistemas radiais, e agora

juntamente com as características de redes inteligentes, como redes malhadas e geração

de menor potência distribuída, o sistema de distribuição torna-se ainda mais complexo.

Tomando como conceito de seletividade a capacidade que a proteção possui de

isolar a falta em tempo hábil e desenergizando o menor número possível de circuitos de

carga, as soluções encontradas para um sistema radial muitas vezes não se aplicarão aos

sistemas altamente malhados, já que enquanto no primeiro a ordem, ou a sequência de

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operação dos dispositivos de proteção, já está definida de acordo com o local de

ocorrência da falta, no segundo existirão diversas maneiras diferentes, relacionadas à

ordem de atuação dos dispositivos, de se isolar uma mesma falha.

Portanto, é notório que diversas áreas da engenharia e também das

telecomunicações necessitam de altos investimentos e profundos estudos a fim de que

possam se desenvolver conjuntamente, de forma a vencer os inúmeros desafios técnicos.

O processo de implantação de “inteligência” nos sistemas elétricos tem que ser feito de

maneira planejada e através de um processo contínuo [1].

Portanto, a proteção de smart grids envolve um complexo conjunto de

dispositivos, softwares e tecnologias de comunicação. A seguir, iremos comentar sobre

algumas destas tecnologias, esquemas de proteção e metodologias para detecção de

problemas no sistema elétrico de redes inteligentes presentes em artigos da área,

apresentando o conteúdo em duas partes: sistemas de gerenciamento e supervisão,

apenas para fins informativos; e os cenários e metodologias propostas em artigos de

proteção propriamente dita.

a) Sistemas de Gerenciamento e Supervisão

O roadmap da implementação de redes inteligentes pode ser dividido em quatro

etapas [13]:

Nível 01: Inteligência Local (Aumento da eficiência & confiabilidade

através de automação localizada);

Nível 02: Integração (Compartilhamento de dados e informação entre

sistemas);

Nível 03: Otimização da Rede (Controle analítico possibilitando tomada

de decisões otimizadas);

Nível 04: Rede Autônoma (Rede automatizada capaz de reagir às

mudanças).

Já se encontram disponíveis, atualmente, softwares especializados que buscam

empregar os conceitos essenciais para a implantação das técnicas inteligentes. Por

exemplo, podemos citar os seguintes:

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EMS: Monitora, analisa, otimiza, simula e controla os ativos críticos de

transmissão em tempo real, viabilizando soluções que agregam confiabilidade aos

sistemas de potência.

Figura 8 – EMS (Sistema de Gerenciamento de Energia)

OMS: Reduz o impacto das interrupções planejadas e não planejadas, além do

tempo e dos recursos necessários para realizar serviços de operação e manutenção na

rede elétrica. Tal “classe” de software é essencial para esquemas de proteção de self

healing (reconfiguração automática de rede através de chaves telecomandadas

garantindo maior assertividade no tratamento de ocorrências).

Figura 9 – OMS (Sistema de Gerenciamento de Interrupção)

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DMS: Integra a localização de defeitos, o isolamento da interrupção e a

restauração do fornecimento de energia elétrica, reduzindo significativamente os

períodos de interrupção e otimizando a confiabilidade da rede.

Figura 10 – DMS (Sistema de Gerenciamento de Distribuição)

b) Proteção de Redes Inteligentes

A seguir apresentam-se esquemas e metodologias de proteção aplicadas à

infraestrutura de smart grids. Cada um dos itens a seguir possui uma aplicabilidade

específica, mas podem ser visualizados como um conjunto atuante para a proteção das

redes inteligentes. Enquanto o primeiro tópico de discussão (Self-Healing) apresenta a

ideia geral da reconfiguração automática adaptativa de um sistema de distribuição

inteligente, os tópicos posteriores ilustram propostas e cenários que, segundo seus

respectivos autores, influenciam de maneira positiva na atuação da proteção, seja por

agilizar a localização de distúrbios (por meio dos Sincrofasores), ou impactar na

seletividade (Sistema de Múltiplos Agentes) e coordenação (Proteção de Sobrecorrente

Adaptativa), dentre outros.

I. Sistemas Self-Healing

A automação nos sistemas de distribuição teve início com a introdução de

sistemas supervisórios nas subestações que, juntamente com lógicas de automação,

permitiram transferências ou cortes seletivos automáticos de cargas em situações de

contingência, melhorando significativamente os indicadores de qualidade do

fornecimento de energia.

Com a implementação das redes inteligentes, a utilização das filosofias de

proteção das redes “convencionais” nem sempre se aplicarão, sendo necessária a busca

por filosofias diferentes, tal como proteções adaptativas. Uma rede elétrica inteligente

deve possuir a capacidade de auto monitoramento e auto restabelecimento (self-

healing).

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A auto recomposição é a capacidade da rede elétrica, diante de um distúrbio, de

isolar a falta, reduzindo ao máximo o número de clientes afetados (acarretando numa

diminuição de DEC e FEC) e retornando o sistema pós-falta ao seu estado normal [16].

Esta capacidade busca avaliar o comportamento da rede em tempo real, comutar

chaves, disjuntores ou religadores e transferir carga para reduzir o tempo de restauração

e restaurar o máximo de trechos desenergizado e não defeituosos em consequência de

distúrbios na rede. A recomposição automática da rede deve atender critérios de não

violação de restrições operacionais e restrições de suprimento de maior número de

clientes ou de maior potência instalada, de clientes eletrodependentes, e de cargas

críticas, de acordo com a filosofia adotada pela empresa de energia [18], sem

necessidade de deslocamento de equipes de manutenção para realização da manobra,

impactando positivamente na sua performance.

Em [18], definem-se duas abordagens para desenvolvimento de sistemas de

recomposição automática (SRA): centralizada e distribuída. Na abordagem centralizada,

o SRA é integrado ao SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) no centro de

controle da concessionária. A abordagem distribuída baseia-se na automação

descentralizada, com dispositivos eletrônicos inteligentes compartilhando informações,

negociando tomada de decisões para recomposição do sistema, independente do COD

(Centro de Operação da Distribuição), cuja lógica local para chaveamento entre

circuitos de alimentação se encontram em concentradores.

Equipamentos tais como religadores e chaves automáticas são tipicamente

utilizados nestas redes, mas considerando que estes apresentam razoável complexidade

construtiva e que, além de serem telecomandandos, são capazes de realizar várias

funções de monitoramento e proteção, algumas questões relevantes surgem,

relacionadas ao nível de confiabilidade e de eficiência operacional.

Nesse contexto, os trabalhos [17-18] apresentam procedimentos para

desenvolvimento de sistemas de recomposição automática distribuídas.

A. Sistema de gestão de chaves e apoio a manobras

Em [17], o SRA é baseado na aplicação de um sistema de gestão de chaves e

módulo de apoio a manobras e uma lógica local armazenada em concentradores. Esse

sistema é validado por um projeto experimental que desenvolveu uma célula de self-

healing nos circuitos CAT-113 e CAT-114, na cidade do Rio de Janeiro - Brasil.

Uma das aplicações executadas é descrita a seguir. O sistema ilustra a lógica

envolvida no atendimento de uma carga prioritária. Cargas prioritárias são normalmente

atendidas por alimentadores de diferentes subestações, com o objetivo de existir sempre

um alimentador reserva caso haja alguma falha no alimentador que está sendo utilizado.

Existem quatro estados de funcionamento onde é necessário um intertravamento

da automação: 1 – Operação Remota pelo COD; 2 – Operação Local pela equipe de

manutenção; 3 – Situação de Potência (falha de tensão no circuito); 4 – Situação de

Proteção (problema no circuito da carga).

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A lógica presente no concentrador atenta ao fato de que os circuitos nunca

poderão ser ligados em paralelo, devendo um circuito estar desligado para que outro

possa energizar a carga. Do mesmo modo, tão logo qualquer falha seja corrigida, o

circuito deve voltar ao seu estado original.

Figura 11 – Sistema de Alimentação com Chaveamento Automático

Então, suponha que haja uma falha no alimentador 1. Os passos definidos seriam:

Identificação da falta pelo relé 1;

Identificação do tipo de falha pelo concentrador;

Abertura do disjuntor (NF) associado ao relé 1;

Se a falha permitir a alimentação da carga, o concentrador solicita o

fechamento do disjuntor (NA) associado ao relé 2 ;

Após o restabelecimento do alimentador 1, o sistema desfaz a manobra

realizada, voltando o alimentador 1 a suprir a carga prioritária.

B. Sistema Multiagente (SMA)

Em [18], se utiliza a técnica de sistema multiagente (SMA). O SMA é um sistema

composto por vários agentes inteligentes (hardware ou software) que interagem dentro

de um ambiente, conferindo uma estrutura de controle distribuído, capazes de agirem de

forma proativa a mudanças no ambiente, negociar com outros agentes, e tomar decisão

de forma autônoma para a solução de problemas. O SRA multiagente (SMRA) proposto

compõem-se de três agentes: Agente Dispositivo (AD), Agente Alimentador (AA) e

Agente de Subestação (AS).

A arquitetura do SMRA é apresentada na figura 12. Os agentes AS representam as

diferentes subestações em uma rede de distribuição. Os AA correspondem aos

alimentadores das respectivas subestações e finalmente os AD representam

equipamentos ou dispositivos (sensores) nos alimentadores.

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Figura 12 – Arquitetura do Sistema SMRA

AD ou AE: possuem a função de obter informações dos trechos a montante e a

jusante do local de instalação (corrente de carga, partida e atuação da função de

proteção, estado de abertura e fechamento de equipamentos) e transmiti-las aos agentes

AA e AS.

AA: Cada alimentador possui um agente AA associado a cada religador ou

disjuntor na saída dos alimentadores na subestação, gerenciando o carregamento dos

vários trechos do alimentador a partir das informações disponibilizadas pelos demais

agentes. Em condição de falta, o agente negocia com os outros agentes AA vizinhos a

restauração dos trechos desenergizados não defeituosos com base na análise das

informações disponibilizadas pelos agentes AD e AS, solicitando a este último a

quantidade de potência disponível.

AS: Os AS têm como objetivo analisar o carregamento dos transformadores da

subestação e em situação de recomposição, disponibilizar estas informações aos AA.

Processo de Recomposição

O processo de recomposição quando um dos religadores do alimentador realiza

seu ciclo de religamento interrompendo uma falta permanente. O relé responsável pelo

religador envia ao AD o registro de atuação do relé e de mudança de estado do

religador.

O AD envia ao AA do alimentador uma mensagem solicitando o isolamento do

trecho onde ocorreu a falta. O fluxograma seguinte ilustra os próximos passos tomados:

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Figura 13 – Fluxograma da recomposição

Cada operação acima é realizado por AD associados a relés, solicitados pelo AA

responsável. Por exemplo, para isolar um trecho defeituoso, os AA mandam o comando

para os AD da fronteira que enviam o comando aos AD associados aos relés e estes

comandam a abertura dos equipamentos de disjunção.

Após a análise e o tratamento da coordenação, o AA classifica os trechos por

critério de prioridade estabelecidos previamente. Em seguida o AA identifica os trechos

que estão desenergizados que não estão defeituosos, iniciando a negociação de

transferência de carga com os outros AA com os quais possui encontro (informando o

carregamento de cada trecho e solicitando o carregamento adicional).

Todas as propostas de recomposição são avaliadas pelo AA solicitante e a

proposta que tiver maior prioridade será realizada a transferência. Após a transferência

de um trecho, o algoritmo retorna à etapa de verificação de existência de outros trechos

desenergizados não defeituosos.

O algoritmo finaliza quando todos os trechos desenergizados e não defeituosos

forem restabelecidos ou quando as propostas de recomposição não atenderem às

condições definidas.

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Estudo de Caso

A rede de distribuição da figura 14 foi usada para aplicação do SMRA. Ela é

composta de três subestações, 69/13,8 kV de 33,2 MVA cada, e alimentadores em 13,8

kV, com topologia radial.

Figura 14 – Estudo de Caso do SMRA

São quatro alimentadores divididos em trechos (T1 – T7) por seus respectivos

religadores (preenchidos de preto). Os religadores em branco são chaves de encontros

de alimentadores, NA, permitindo a transferência de carga se necessário.

A tabela 1 apresenta os tipos de agentes e os elementos aos quais estão

associados.

TABELA 1 – AGENTES DO SISTEMA

A tabela 2 apresenta as correntes de carga e capacidade de corrente dos

condutores em cada trecho, informações utilizadas pelos AA para análise de

recomposição.

TABELA 2 – INFORMAÇÕES DO SISTEMA

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Esse estudo de caso apresentará a tomada de decisão da recomposição automática

em que nem todos os trechos desenergizado não defeituosos podem ser energizados

devido à violação de restrições de carregamento. Para tal, considere uma falta simulada

no trecho T3. São realizadas as seguintes operações:

Relé do religador R3 atua comandando a abertura do religador e

informando para o AD, que envia uma mensagem para o AA2 requisitando

o isolamento do curto em T3.

AA2 requisita os dados atualizados dois demais AD do alimentador,

analisa-os verificando se o sistema está coordenado e isola o trecho

defeituoso.

Os trechos são classificados pela prioridade de recomposição, previamente

estabelecido, e identificados quais estão desenergizados (T2, T4 e T5).

AA2 envia propostas aos agentes associados dos demais alimentadores

(AA1, AA3 e AA4).

Dentre estes três trechos, T5 é o prioritário. A decisão é baseada na

possibilidade de suprimento de energia por um alimentador da mesma

subestação de origem do trecho desenergizado. Assim AA3, que

alimentava o trecho T6 de 250 A, recebe também o trecho T5 de 150 A,

ficando com 200 A de disponibilidade.

Novamente AA2 verifica os trechos desenergizado (T2 e T4) e envia

pedidos de recomposição para AA1 e AA3. O trecho T2 apresenta um

maior número de clientes e, por isso, é prioritário. O alimentador AA1 não

possui capacidade suficiente para suprir os 200 A de carga de T2. Logo,

AA3 recebe o pedido e AA2 aceita a proposta.

Em uma nova verificação, T4 está desenergizado. AA2 envia um pedido

de recomposição para AA3, mas este não possui mais capacidade de

fornecer energia sem causar sobrecarga no alimentador, informando ao

AA2 que não será possível estabelecer a conexão. O algoritmo não realiza

nenhuma transferência nesse ciclo e encerra a recomposição. 81,25% da

carga é suprida até que o problema seja mitigado.

A configuração final da rede para este estudo de caso é apresentado na Figura 15.

Figura 15 – Configuração final da rede para o estudo de caso

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II. Localização de Distúrbios no Sistema de Potência utilizando

Sincrofasores

A localização de faltas é uma tarefa que tem impacto direto no nível de segurança

e economia na operação de Sistemas Elétricos de Potência. A sua eficiência está

associada à velocidade e exatidão na estimação do ponto de falta. Os métodos

tradicionais para localização de faltas são comumente agrupados em duas categorias, os

baseados em impedância e os baseados em ondas viajantes. O primeiro utiliza medições

de tensões e correntes de falta em cálculos de circuitos elétricos, enquanto o segundo se

vale do intervalo de tempo entre uma onda inicial e suas reflexões no ponto de falta

[14].

O atual sistema de aquisição de dados não permite o monitoramento do

comportamento dinâmico das perturbações e dos eventos que a compõem. Ele é baseado

no Sistema SCADA e no sistema de Gerenciamento de Energia (EMS) que são

processos cíclicos com taxas de atualização de 2 a 10 segundos, logo é proposto em [11]

a utilização de um sistema de medição fasorial sincronizada, ou Synchronized Phasor

Measurement Systems (SPMS), o qual, segundo [11], permite a obtenção de medidas

elétricas de tensão e corrente, com informações de magnitude e fase, obtidas em altas

taxas de amostragem e referenciadas na mesma base de tempo.

Um dos entraves dos sistemas de monitoramento sempre foi a distância entre os

pontos de medição, principalmente em um sistema de grande porte como o brasileiro, o

que acaba influenciando na sincronização temporal das medidas realizadas. A

disponibilização à sociedade civil dos sinais do Sistema de Posicionamento Global

(Global Positioning System – GPS) proporcionou uma nova estrutura de sincronização

de medidas elétricas, levando ao desenvolvimento dos SPMS, que constituem um dos

elementos base para a implementação das redes elétricas inteligentes [11].

Figura 16 – Estrutura básica de um SPMS

Um SPMS é basicamente constituído por Unidades de Medição Fasorial (Phasor

Measurement Unit – PMU), sistema de sincronização temporal, canais de comunicação

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e o Concentrador de Dados Fasoriais (Phasor Data Concetrator – PDC) [11], conforme

ilustrado na Figura 16.

A PMU é responsável pela medição das grandezas elétricas (tensões e correntes)

na forma de fasores sincronizados (sincronofasores) através de um sinal GPS. Já o PDC

recebe, organiza e distribui os dados de medição para as aplicações.

A figura 17 mostra uma imagem do site de fasores do SPMS do projeto MeFasee

BT, projeto de implementação de um SPMS instalado na rede de baixa tensão e que têm

como objetivo principal a pesquisa e difusão da tecnologia de medição sincronizada de

fasores no Brasil. Ele é composto por 14 PMUs instalados em universidades, com

PDCs instalados na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Figura 17 – Site de fasores do SPMS MedFasee BT

Detecção do Evento

Para detectar o instante exato em que ocorre o distúrbio é preciso que se tenha,

neste exato instante, as grandezas elétricas (módulo e fase da tensão e corrente) dos

PMUs que foram afetados pelo respectivo distúrbio e sua propagação no SIN. Como o

SPMS está instalado na rede de baixa tensão, apenas grandezas de tensão são

monitoradas.

O módulo das tensões é muito suscetível a mudanças de cargas, taps e outros

chaveamentos, o que inviabiliza a sua utilização como sinal de sinalização. Já o ângulo,

que é menos sensível a estes eventos, depende da escolha de uma referência, que pode

ser uma das barras do sistema elétrico. No caso de ocorrer um evento local, próxima a

esta barra, todos os ângulos serão afetados, gerando uma sinalização errada. Assim,

utiliza-se o sinal de frequência, que é derivado dos ângulos absolutos medidos pelas

PMUs [11]. Dois dos comportamentos mais observados da frequência como sinal de

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sinalização são as excursões lentas e os surtos, estes últimos indesejados, logo é

necessário filtrá-los. Para isto se utilizam três tipos de filtros.

Filtros de Média Móvel (FMM): Composto por dois filtros, um de atenuação de

ruídos e outro para atenuação dos eventos, sendo os sinais de saída a frequência filtrada

(sem ruídos) e a tendência de frequência (sem eventos). Comparando os dois sinais se

obtém um sinal de sinalização (veja a figura 18).

Figura 18 – Esquema de funcionamento de Filtro de Média Móvel

As janelas de amostragem foram definidas por [11]:

Filtro de Média Móvel e Taxa de Variação: Filtram-se os ruídos do sinal de

frequência como no processo anterior e a partir do sinal filtrado se obtém a taxa de

variação da frequência (TV), que será utilizada como sinal de sinalização. As figuras 19

e 20 mostram os sinais de taxa de variação de cada um dos PMUs na detecção de um

mesmo evento, porém utilizando janelas de amostragem diferentes.

Figura 19 – Taxa de variação dos PMUs com amostragem de 1 segundo

Page 21: Trabalho v2

Figura 20 – Taxa de variação dos PMUs com maior amostragem

Filtro de Kalman (FK): Tal filtro é utilizado para estimar a aceleração angular

mediante a observação do sinal de frequência, assim as variáveis de estado são formadas

pela aceleração angular, velocidade (frequência) e o deslocamento.

Na figura 21 são mostrados os sinais de sinalização para um mesmo distúrbio com

as três metodologias descritas de detecção.

Figura 21 – Detecção do distúrbio pelas três metodologias diferentes

Observa-se que apesar dos sinais serem próximos, principalmente com relação aos

Filtros de Média Móvel com Taxa de Variação e o Filtro de Kalman, é neste último que

os sinais dos surtos são mais atenuados, conforme visto se comparando as amplitudes

dos sinais de sinalização dos dois tipos de filtros.

Page 22: Trabalho v2

Localização e Identificação do Evento

Com o evento detectado o próximo passo é identificar o mesmo. Como

chaveamentos comuns e curtos-circuitos que não se propagam por todo o sistema são

detectados é necessário classificar os eventos. Existem basicamente duas classificações

[11]:

Surtos: ocorrem de maneira abrupta, ou seja, logo a frequência retorna ao

seu regime normal.

Sistêmicos: tem característica lenta, são classificados em perda de geração, caso

a frequência diminua, e interrupção de carga, caso a frequência

aumente.

Para a localização dos eventos são utilizados dois tipos de metodologias, a

triangulação e o método de Newton. Na triangulação, como tanto a localização

geográfica de cada PMU como o atraso de tempo em que cada uma delas é atingida pela

propagação do evento são conhecidos, é possível determinar onde o evento ocorreu pela

distancia entre (pelo menos) três PMUs e a velocidade e o tempo. A solução do

problema pelo Método de Newton é feita de forma iterativa, sendo necessário definir

condições iniciais e um critério de convergência.

Segundo os autores, tal sistema de sincrofasores têm se demonstrado uma

ferramenta de grande importância para a análise do sistema elétrico brasileiro. Como as

redes inteligentes tendem a ser altamente malhadas, a utilização deste tipo de sistema

pode se mostrar uma boa escolha na detecção, identificação e localização de distúrbios

por parte da distribuidora local, diminuindo tempos de manobra e manutenção, e

consequentemente, diminuindo gastos e tempos de blackouts.

III. Sistema de Múltiplos Agentes para Implementação de Proteção

Adaptativa em Microrredes

Uma definição é com respeito às microrredes ou microgrids, que pode ser

definido como um subsistema composto de cargas e de pequenas gerações dispersas e

que possui um ramal de conexão com a distribuidora local (Ponto de Conexão Comum -

PCC), utilizando a energia proveniente desta distribuidora em situações normais, porém

em caso de algum distúrbio ou situação de falha ou emergência, se desconecta da rede

da distribuidora e opera como um sistema ilhado, utilizando a geração distribuída.

As microrredes têm atraído substanciais interesses das empresas de energia,

porque a possibilidade de aumento da utilização de microgerações permite postergar

investimentos nas redes de distribuição. Além disso, a inserção de microgerações pode

trazer outras vantagens, como a melhoria na confiabilidade do fornecimento de energia,

Page 23: Trabalho v2

redução de perdas em linhas de transmissão e a utilização de fontes de energias

alternativas, como a fotovoltaica e eólica [8, 9]. A operação das microrredes traz muitos

desafios tecnológicos que ainda devem ser solucionados pelos engenheiros, como o

controle da tensão e da frequência, questões de estabilidade, gerenciamento de energia e

proteção [9].

Algumas destas microrredes utilizam de microgerações conhecidas como IIDG

(Inverter Interfaced Distributed Generator) que precisam de dispositivos de eletrônica

de potência para se conectar a rede. Como alguns estudos destacam que tais dispositivos

IIDGs não são capazes de gerar correntes de falta de mesma magnitude que os

geradores síncronos [8], é esta característica que pode representar um problema para as

atuais filosofias de proteção caso o sistema opere de forma isolada, pois os relés

convencionais são programados para atuarem com elevados valores de corrente de falta,

e não para detectar correntes de falta de baixa magnitude. Além disso, com a operação

isolada, parte da topologia do sistema é modificada, podendo gerar sérias consequências

para o sistema de proteção aplicado.

Dentro desta definição, foi proposto em [10] um algoritmo baseado em múltiplos

agentes para configuração da proteção adaptativa em microgrids. Segundo os autores, os

sistemas multiagente (SMA) são um dos ramos da inteligência artificial e são

constituídos por entidade denominadas Agentes, cada um com capacidades e

conhecimentos próprios, interagindo entre si trocando mensagens para a resolução de

problemas complexos. No trabalho proposto, existem três tipos de agentes em uma

estrutura hierárquica, como mostrado na figura 22.

Figura 22 – Estrutura hierárquica dos agentes do SMA proposto

O número dos agentes coordenadores e configuradores podem ser diferentes de

um, porém a cada execução do algoritmo somente um agente coordenador e um

configurador é executado, sendo que caso ocorra algum problema no hardware onde o

agente está, os outros agentes relés tomarão conhecimento do problema e elegerão outro

par de agentes coordenador e configurador para continuar o processo.

Page 24: Trabalho v2

A análise dos agentes se baseia em dois tipos, uma off-line e outra on-line,

descritos abaixo.

Análise off-line:

Nesta análise os agentes interagem entre si e modificam as configurações dos

relés de proteção ou dos outros dispositivos utilizados na eliminação de faltas. A figura

23 mostra como os agentes se comunicam nesta análise.

Figura 23 – Mensagens trocadas pelos agentes na análise off-line

Análise on-line:

Nesta análise os agentes interagem, detectam, localizam e isolam a falta através de

comandos de abertura direto dos agentes relés para os disjuntores. A figura 24 mostra as

mensagens trocadas pelos agentes nesta análise.

Figura 24 – Mensagens trocadas pelos agentes na análise on-line

Neste protocolo, um agente envia uma mensagem do tipo “Request” e recebe duas

mensagens como resposta, uma chamada “Agree”, que confirma o recebimento da

mensagem, e outra chamada “Inform”, indicando que o agente que recebeu a mensagem

executou um comportamento.

A figura 25 mostra um exemplo de troca de mensagens entre os agentes (um de

configuração, um coordenador e três agentes relés).

Page 25: Trabalho v2

Figura 25 – Mensagens trocadas entre os agentes

Neste exemplo da figura anterior, cada um dos Agentes Relés são sensibilizados

por uma falta e enviam uma mensagem “Request” (setas 1, 2 e 3) para o Agente

Coordenador, que por sua vez, devolve a cada um dos Agentes Relés uma mensagem

“Agree” (setas 4, 6 e 8) e uma mensagem “Inform” (setas 5, 7 e 9). O Agente

Coordenador, após processar as mensagens e executar seus comportamentos, envia uma

mensagem “Request” (seta 10) para o Agente Configurador, que por sua vez o retorna

com uma mensagem “Agree” (seta 11) e uma “Inform” (seta 12). Em seguida, assim

como ocorre com o Agente Coordenador, isto é, após processamento da mensagem e

execução de seus comportamentos, este agente envia uma mensagem “Request” (seta

13) para o Agente Coordenador e recebe deste uma mensagem “Agree” (seta 14) e uma

mensagem “Inform” (seta 15). Finalmente, o Agente Coordenador envia uma

mensagem “Request” (seta 16) para um ou vários agentes – neste caso, somente para o

Agente Relé 1 – comandando, por exemplo, a abertura de um disjuntor da rede (análise

on-line) ou mudança em seu grupo de ajuste (análise off-line), e novamente recebe deste

agente uma mensagem “Agree” (seta 17) e uma mensagem “Inform” (seta 18). O fluxo

de mensagens entre os agentes então se repete a partir da seta 19, onde o Agente Relé 2

recomeça o ciclo enviando uma mensagem “Request” ao Agente Coordenador [10].

Page 26: Trabalho v2

Os autores realizaram algumas simulações em um sistema baseado e um sistema

real, com quatro geradores hidráulicos (PCHs) e com a rede da concessionária

representada pelo gerador ideal conectado à barra 1, porém com algumas modificações

como inclusão de dois geradores eólicos de ímãs permanentes, substituição dos

transformadores delta-estrela (com o delta ao lado da rede) pela configuração estrela-

estrela, de forma a tornar possível a análise de falta monofásica quando a microrrede

estiver operando isolada. O sistema está representado na figura 26.

A tabela 3 mostra alguns dos resultados obtidos pelos autores.

TABELA 3 – RESULTADO DA SIMULAÇÃO

Segundo as conclusões dos autores, a implementação da técnica proposta por eles

garante seletividade da proteção na análise on-line, porém um melhor tempo na atuação

da proteção vai depender da velocidade do sistema de comunicação, e a análise off-line

torna o sistema mais robusto em caso de falhas de comunicação entre os agentes.

Outro ponto importante foi a adoção, pelos autores, de um registro que associa um

identificador a cada agente de uma plataforma aos serviços que cada um pode oferecer.

Assim, mesmo com a perda de um dos agentes, outro pode tomar seu lugar através do

identificador atribuído a este.

Para finalizar, um ponto de desvantagem do sistema é a difícil sensibilização dos

relés na análise com um dos geradores eólicos em falta, devido à limitação da

capacidade de fornecimento de corrente de curto-circuito pelos inversores.

Page 27: Trabalho v2

Figura 26 – Sistema para simulação

Page 28: Trabalho v2

IV. Proteção de Sobrecorrente com Ajuste de Configuração

Adaptativo

Outro grande desafio está relacionado à coordenação da proteção. Em sistemas

radiais, assim como a questão da seletividade, a coordenação de atuação dos

dispositivos já está previamente definida de acordo com o ponto no qual a falta ocorra,

ou seja, já estão definidos quais dispositivos de retaguarda atuarão em caso de falha dos

dispositivos à montante.

Um ponto importante de se notar é referente a duas vantagens, entre inúmeras

outras, dos relés digitais, sendo a sua capacidade de controle e comunicação através de

uma rede. Tais vantagens acabam conferindo ao engenheiro eletricista um amplo

número de possibilidades de realizar a coordenação do sistema de proteção.

Em [12] é proposto um sistema simples de configuração adaptativo dos ajustes

dos IEDs (Intelligent Electronic Device) para proteção de sobrecorrente através de uma

rede de comunicação composta por três camadas a fim de diminuir os tempos de

operação dos dispositivos de proteção e evitar a perda de coordenação por parte do

sistema de proteção.

A primeira camada, chamada de Camada de Operação, é responsável pela

monitoração da topologia e operação do sistema elétrico. Caso algum destes parâmetros

mude, esta primeira camada envia um sinal para uma segunda, chamada de Camada de

Subestação, informando o novo cenário elétrico. Com estes dados, esta segunda camada

utiliza de relações matemáticas para determinar as novas configurações dos relés. Tais

novas configurações são então enviadas aos dispositivos ligados à rede de comunicação.

A terceira camada é formada pelos IEDs que tenham, pelos menos, a capacidade

de troca de informações. Por último é também necessário a existência de uma central de

comando, frequentemente chamada de Controle de Operação Central (Operation Center

Control) [12]. Uma parte do sistema de distribuição de uma distribuidora brasileira foi

simulada com o uso de um RTDS® pelos autores da referência [12].

Figura 27 – Sistema e monitoramento para proteção adaptativa

Page 29: Trabalho v2

De início é necessário uma análise off-line, que irá definir todas as possibilidades

operacionais do sistema. A referência [12] se propõe a realizar um estudo de

coordenação para cada possibilidade pré-determinada de forma off-line e então tabelar

tais estudos e configurações.

Como ferramenta de monitoramento é sugerido o sistema SCADA. A figura 27

mostra um esquema de operação de um sistema adaptativo de mudança de

configurações.

Os autores também exaltam as vantagens da utilização do RTDS® nas simulações

digitais. A combinação de uma operação em tempo real e a precisão e flexibilidade dos

programas de simulação digital confere ao RTDS [12] uma grande capacidade de

avaliação de vários cenários.

Analisando os cenários de operação off-line e on-line, a figura 28 mostra um

fluxograma mais completo da utilização de uma proteção adaptativa.

Figura 28 – Fluxograma de operação adaptativa do sistema de proteção

Através dos estudos de caso em redes de sub-transmissão da Eletrobras utilizando

o RTDS®, a referência [12] indica um avanço no tempo de operação dos relés. Veja as

tabelas 4, 5 e 6.

Page 30: Trabalho v2

TABELA 4 – PERFORMACE DA PROTEÇÃO “TRADICIONAL”

TABELA 5 – PERFORMACE DA PROTEÇÃO ADPATATIVA NO CASO 2

TABELA 6 – PERFORMACE DA PROTEÇÃO ADPATATIVA NO CASO 3

A tabela 5 mostra uma redução de 10% no tempo de atuação do relé R1 e uma

redução menor de tempo no relé R4. No relé R2 o tempo de atuação observado foi o

mesmo. A tabela 6 mostra uma redução de 6,25% no tempo de atuação do relé R1 e

reduções menores de tempo nos relés R2 e R4. Informações das simulações para o caso 1

com a proteção adaptativa não foram informados pela referência [12].

O uso de uma proteção adaptativa pode proporcionar um maior nível de segurança

nos sistemas de proteção, uma vez que nas simulações realizadas os resultados foram

melhores se comparados à proteção de sobrecorrente “convencional”. Simulações com o

RTDS® e seus respectivos resultados mostraram que os ajustes adaptativos dos relés

são possíveis e que algoritmos simples, como o apresentado nesta referência são

completamente implementáveis em dispositivos digitais de processamento como um

DSP [12].

Page 31: Trabalho v2

V. Detecção de Ilhamento de Geração Distribuída

A conexão de geradores em redes de distribuição e subtransmissão permite o

aproveitamento de fontes dispersas de energia. Contudo, a instalação destes geradores

deve ser acompanhada de uma série de avaliações técnicas para garantir a operação

segura, confiável e eficiente de todo o sistema elétrico, sobretudo após a ocorrência de

curtos-circuitos ou contingências [19].

A operação ilhada de um determinado gerador distribuído ocorre em função da

abertura de dispositivos de proteção que resulte em interrupção da conexão com a

concessionária. Assim, caso a proteção do gerador não identifique o ilhamento e este

continue operando, um conjunto de cargas passa a ser alimentado somente pelo gerador

distribuído.

Segundo [20], as principais implicações da não detecção do ilhamento e, por

conseguinte da não desconexão dos geradores ilhados, são:

Segurança das equipes de manutenção, assim como dos consumidores em

geral, pode estar em risco devido a áreas que continuem energizadas sem o

conhecimento da concessionária;

A qualidade de energia fornecida para os consumidores na rede ilhada está

fora do controle da concessionária, embora ela ainda seja a responsável

legal por este item;

A coordenação do sistema de proteção da rede ilhada pode deixar de

operar satisfatoriamente devido à redução drástica dos níveis de curto-

circuito na rede ilhada;

O sistema ilhado pode apresentar um aterramento inadequado devido à

perda de conexão com a concessionária;

No instante de renergização da rede, o gerador pode estar dessincronizado,

provocando sérios danos ao mesmo e demais componentes do sistema.

Para a detecção de ilhamento podem ser utilizadas técnicas remotas ou locais.

As técnicas remotas podem ser baseadas em sistema SCADA, em PLCC (Power

Line Carrier Communication) ou em redes de comunicação, que interligam os

dispositivos de proteção. Neste caso, no momento da abertura do disjuntor que provoca

o ilhamento, um sinal é enviado ao disjuntor presente na barra do gerador distribuído,

desconectando-o do sistema. Este tipo de proteção eleva o custo da instalação, que

cresce com a complexidade e o número de geradores presentes na rede elétrica [19].

Já as técnicas locais, ou passivas, baseiam-se em medições de tensão e corrente

após a injeção proposital de distúrbios elétricos no sistema, apresentando maior custo-

benefício. Assim, a condição de ilhamento pode ser verificada a partir da análise da

resposta obtida frente a tais distúrbios. Comumente se utilizam relés de tensão e

frequência para estas funções, mas uma dificuldade associada ao ajuste destes é a

capacidade de discriminar entre variações resultantes de ilhamento e outros distúrbios

Page 32: Trabalho v2

do sistema, como tomada ou alíveio de significativos blocos de cargas ou partida de um

grande motor [19].

Algoritmos baseados em Redes Neurais Artificiais (RNAs) consistem uma

solução viável para este problema, pois possuem a capacidade de aprender através de

exemplo, reconhecendo, no sinal de tensão, propriedades específicas. O processo de

treinamento de uma RNA para este problema não é trivial, pois envolve fatores como a

definição da sua arquitetura, a forma de aquisição das amostras de tensão e a seleção de

um conjunto de treinamento representativo do problema abordado.

Em [19], os autores apresentam um algoritmo baseado exclusivamente no padrão

da forma de onda da tensão terminal do gerador síncrono distribuído. Segundo os

mesmos, a vantagem deste sob as demais técnicas apresentadas na literatura é o fato de

não necessitar de processamento adicional, tornando-o mais rápido. Também há a

possibilidade de se implementar o algoritmo em IEDs, podendo ser utilizado como

proteção principal, ou proteção de retaguarda, atuando no caso da comunicação com

outros dispositivos falhar. Aqui não demonstraremos as etapas do desenvolvimento do

algoritmo em questão. que pode ser encontrado em detalhes em [19].

Page 33: Trabalho v2

Referências

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[8] N. Jayawarna, N. Jenkins, M. Barnes, M. Lorentzou, S. Papthanassiou, and N. Hatziagyriou, "Safety

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[9] D. Ke, H. Xin, B. Daqiang, and F. Cunliang, "An adaptive protection method for the inverter

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[10] L. L. do Nascimento, J. G. Rolim, “Multi-agent System for Adaptative Protection in Microgrids”.

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[11] V. Zimmer, I. C. Decker, M. N. Agostini, “Disturbance Location in the Brazilian Electric Power

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Technologies – ISGT-LA, São Paulo, SP, Abril de 2013.

[12] F. C. Souza Jr, Benemar A. Souza, “Adaptative overcurrent adjustment settings: a case sduty using

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[13] R. V. Erven, “A evolução das Redes Inteligentes”. 6º Fórum Latino-Americano de Smart Grid. 26 a

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[15] C. W. Gelling, The Smart Grid – Enabling Energy Efficiency and Demand Response. Boca Raton,

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