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As Áreas Protegidas Um paradigma da conservação das Paisagens e da Biodiversidade

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As Áreas Protegidas

Um paradigma da conservação das

Paisagens e da Biodiversidade

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As Áreas Protegidas

Um paradigma da conservação das Paisagens e da Biodiversidade

João Azevedo

Nº 4414

Unidade Curricular: Métodos de Análise e Interpretação da Paisagem

Docentes: Professor Doutor António Bento Gonçalves e Professor Doutor António Vieira

Na capa - Diferentes modos de ver a paisagem:

A expressão cultural no território (esquerda) e a expressão cultural na arte (direita).

Quadro: Paisaxe. Luis Seoane (1910-79)

jjrazevedo
Typewriter
Ano Letivo 2012 / 2013
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ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................................................... 3

ÍNDICE DE QUADROS .................................................................................................................................................. 4

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 5

MOTIVAÇÕES E OBJETIVOS .......................................................................................................... 5

CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1 - PAISAGEM E TERRITÓRIO ................................................................................................................... 10

1.1. - SEMÂNTICA E ANÁLISE ETIMOLÓGICA DE PAISAGEM ....................................................... 16

1.2 – A VISÃO “GEOGRÁFICA” DA PAISAGEM ............................................................................. 25

1.3 – INTERDEPENDÊNCIA DE CONCEITOS .................................................................................. 32

1.4 – MULTIFUNCIONALIDADE DAS PAISAGENS ......................................................................... 45

CAPÍTULO 2 - AS ÁREAS PROTEGIDAS .................................................................................................................... 59

2.1. - CONCEITO E CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................... 60

2.2 – ESPAÇOS DE SUBJETIVIDADE E DE CONSERVAÇÃO ............................................................ 71

2.3. - ENQUADRAMENTO LEGAL E INSTITUCIONAL DAS ÁREAS PROTEGIDAS ............................ 81

CONCLUSÕES ........................................................................................................................................................... 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................................................. 96

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - A paisagem como quadro de conflitos. Fonte: Fernandes, 2004 ............................................................. 7

Figura 2 - Representação do conceito gráfico de paisagem apresentada por Steiner (2000) , frequentemente

designado por “the layer cake model”. ................................................................................................................... 10

Figura 3- Fresco “Alegoria do bom Governo” de Lorenzetti – 1338 Siena Itália. ................................................. 20

Figura 4 - Dream of Arcadia-Thomas Cole-1838 ................................................................................................... 23

Figura 5 - Representação (teórica) gráfica da ontologia de paisagem proposta por Lepczyk et al., 2008) ............ 32

Figura 6 - Esquematização da apreensão do conceito de Lugar. Adaptado de Norberg-Schulz (1980) ................. 38

Figura 7 - Interdependência dos conceitos geográficos. Elaboração própria ......................................................... 45

Figura 8 - Representação do sistema tripolar. Fonte (Torres, 2003: 44) ................................................................ 46

Figura 9 - Exemplo de uma paisagem multifuncional tal como ela é percebida- Mazarefes (V. Castelo). ............ 49

Figura 10 - A paisagem da figura 9 observada sob um ponto de vista vertical na sua estrutura e conteúdo. ......... 50

Figura 11 - Paisagens de memória - O cemitério "americano" em cima e o cemitério "alemão" em baixo. .......... 52

Figura 12- Concetualização do conceito de paisagem. Adaptado de Sanchiz (2012) ............................................ 53

Figura 13 - Investimentos anuais estimados na rede global de áreas protegidas. Fonte: Gutman e Davidson 2007

in Protected Planet Report 2012 ............................................................................................................................. 54

Figura 14- Integração da Convenção da Paisagem no planeamento territorial nacional: Cancela d'Abreu (2011) 58

Figura 15 - Desenvolvimento da criação de áreas protegidas a nível Mundial. Fonte: Brockington et al, 2005 ... 65

Figura 16 - Distribuição espacial das 177.547 áreas protegidas legalmente estabelecidas mundialmente. A azul,

áreas protegidas marinhas e a verde, áreas terrestres. Fonte: Bertzky (et al., 2012) .............................................. 66

Figura 17 - Comparação da tendência global no estado da biodiversidade em terra e mar (linhas vermelhas) e a

cobertura global de áreas protegidas (linhas azuis); Fonte: ScienceDaily, 2011 .................................................... 67

Figura 18 - Extensão total de AP’s designadas a nível nacional em cada uma das categorias de gestão da IUCN,

1950-90 ................................................................................................................................................................... 68

Figura 19 - Modelo de uma rede ecológica englobando áreas protegidas. Fonte Mackey et al., 2010, adaptado de

Bennett, 2004 .......................................................................................................................................................... 72

Figura 20 - Sítios da Rede Natura 2000. Fonte: Bertzky (et al., 2012) .................................................................. 83

Figura 21 - Rede Nacional de Áreas Protegidas. .................................................................................................... 85

Figura 22 - Criação de Áreas Protegidas (1970/2000) (Silva,2010). ...................................................................... 86

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Paradigma evolutivo da criação de áreas protegidas. Adaptado de Pagani, 2009 in Philips, 2003. ..... 63

Quadro 2 - Tipologia e descrição das áreas naturais. Fonte: UICN ....................................................................... 69

Quadro 3 - Matriz de objetivos de gestão e da área protegida categorias de gestão da IUCN. Fonte IUCN, 1994 76

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INTRODUÇÃO

O presente relatório insere-se no âmbito da unidade curricular de Métodos de Análise e Interpretação da

Paisagem, lecionada no 2º semestre do 1º ano curricular do Doutoramento em Geografia – Estudos da Paisagem,

onde se pretende com a persecução dos objetivos gerais da disciplina, nomeadamente:

Aprofundamento do conhecimento de métodos de interpretação da paisagem.

Desenvolvimento de práticas de análise espacial.

Aplicação de técnicas diversas de análise quantitativa e qualitativa.

Avaliação da repercussão da representação e manipulação de informação em Geografia.

Sob proposta dos docentes responsáveis pela disciplina, foi proposto então, a escolha de uma temática

relacionada com a especialização do discente, que congregasse as temáticas desenvolvidas nas aulas, daí a

escolha das áreas protegidas e a sua relação com a paisagem.

Motivações e Objetivos

A elaboração deste trabalho revelou-se desde o primeiro momento como um desafio criativo e racional, na

medida em que foi necessário ultrapassar barreiras de raciocínio e educar o pensamento pelo facto de idealizar o

trabalho pela sua estrutura final, quando pessoalmente recorremos preferencialmente à composição gradual de

acordo com o objetivado e material consolidado de pesquisa. O objetivo principal deste trabalho passa pela

análise da temática Paisagem no contexto da proteção territorial. Com isto tentarei destruturar o conceito de

paisagem, tal como sugere Merleau-Ponty (2002: 85), ao referir que para a sua compreensão “precisamos aqui de

nos privar de toda os significados já instituídos e voltar à situação de partida de um mundo não significante que é

sempre o do criador”, demonstrando a sua origem polissémica e caráter multifuncional e de que modo a mesma

se engrena nas políticas de conservação (da natureza) e como a mesma é percebida dentro dessa mesma

perspetiva.

Contextualização

No âmbito do curso de Doutoramento, como já referido anteriormente, decidimos por um tema integrante das

discussões sobre Paisagem, mas igualmente sobre ordenamento do território e sustentabilidade – áreas protegidas.

Ao analisarmos a realidade Portuguesa e Mundial, compreendemos que muito há ainda por fazer ao nível desta

temática, sobretudo porque, verificamos que estes espaços surgem (em muitos casos) como ilhas isoladas de

conservação, sem constituírem verdadeiramente pontos de partida para um verdadeiro desenvolvimento

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sustentável em que a gestão dos mesmos espaços choca com os valores e aspirações das populações que neles

habitam (Azevedo, 2012).

Em muitos casos, as áreas protegidas encerram em si esse mesmo conceito – área de proteção. Na maioria

promovidas pela administração central, acabam por se associarem a uma exploração dos seus recursos numa

perspetiva turística como meio rentabilizador dos investimentos efetuados, não havendo outras discussões sobre

as mais-valias que estes espaços encerram, e como tal, as possibilidades de rentabilização que não são

equacionadas.

Uma área protegida em si e de uma forma isolada, pouco valor de serviço de ecossistema possui, mas num

contexto global, inserida num contexto conexo e interativo de valorização dos seus capitais humanos, sociais e

ambientais, pode potenciar social e economicamente a(s) região(ões) onde se localiza(m). Num cenário mundial

de crise económica instalada, os valores ambientais são muitas vezes preteridos perante o alcance de

necessidades básicas de acordo com a hierarquia de necessidades de Maslow, ou como na perspetiva de Manfred

Max-Neef que argumenta que as necessidades humanas fundamentais não são hierárquicas, mas antes

ontologicamente universais e invariáveis em resultado da natureza da condição do ser humano, na medida em que

“a pobreza pode resultar de qualquer uma dessas necessidades que precisam ser frustradas, negados ou não

cumpridas” (Max-Neef, 1992). Ou seja, a primeira ambição humana é a satisfação das suas necessidades básicas

e só depois “vem o resto”.

Então é fundamental perante este cenário encararem-se as áreas protegidas, para lá do seu objetivo

conservacionista, como fonte de rendimentos quer para a administração central, quer para os investidores, quer

para as populações locais. Para irmos de encontro a esta premissa, necessitamos de pensar quais os serviços e/ou

produtos que são gerados pela atividade conservacionista. Entre outros, podemos designar os seguintes:

Conservação da biodiversidade genética, de espécies, e ecossistema, e os produtos resultantes de sua

domesticação, identificação de princípios ativos, manipulação genética, etc.

Proteção dos recursos hídricos

Proteção dos processos que garantem a reprodução e a produtividade de espécies de extração comercial e

de subsistência,

Manutenção dos ecossistemas em que ocorrem espécies de valor comercial

Manutenção da beleza cénica da paisagem, para atividades de turismo, ecoturismo, lazer, religião, e outras.

Sequestro de carbono e contribuição para a estabilidade do clima global.

Manutenção do clima regional e local. Contribuição para a sustentabilidade dos modos de vida, práticas e

conhecimentos tradicionais.

As áreas protegidas podem através do seu uso sustentável e de proteção integral prover esses produtos e serviços,

contribuindo assim para o desenvolvimento de uma economia com base conservacionista. Entretanto, o

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desenvolvimento nessa perspetiva envolve grandes desafios, porque por um lado é necessário a obtenção de

rendimentos a partir de atividades que normalmente são vistas como geradoras de despesas, mas também porque

pagar pelas atividades em si não é suficiente: elas necessitam obter remuneração e rendimento para as populações

do território em que as atividades conservacionistas são desenvolvidas, e com competitividade em relação ao

desenvolvimento com outras bases.

Maria da Graça Saraiva (1999) elaborou um esquema (figura 1) que traduz de uma forma clara e inequívoca as

tensões geradas a partir do que a autora designou de Ecocentrismo, demonstrando as atitudes pragmáticas e ético-

filosóficas centradas nos valores ecológicos da paisagem, e o Tecnocentrismo, que procura inversamente, numa

conceptualização mais materialista, confiar na tecnologia enquanto capaz de resolver os problemas e atenuar as

externalidades negativas de uma atividade económica.

A autora refere ainda que o quadro social da pós-modernidade é complexo estabelecendo-se na articulação entre

atores com diferentes posturas relativamente aos processos de desenvolvimento por um lado e à relação com o

meio ambiente por outro, na procura de consensos entre a preservação ou a conservação dos sistemas ecológicos

onde as atividades económicas se inserem.

Figura 1 - A paisagem como quadro de conflitos. Fonte: Fernandes, 2004

George Steiner num livro intitulado “Une certaine idée de l’Europe”, (Steiner, 2005) refere que a paisagem foi

um dos pilares da identidade cultural europeia. O surgimento simultâneo da paisagem na pintura, línguas e

literaturas de diferentes países da Europa, no século XVI, mostrou os laços estreitos que unem vários lugares,

através de um conjunto de iniciativas artísticas e de criação literária, e a influência de modelos e formas de pensar

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que eram comuns. Na medida em que se relacionada com o "país", a paisagem constitui pois a expressão de uma

identidade local, regional ou nacional, mas a imagem também oferece o país para além das fronteiras.

Para Fernandes (2004), a paisagem assume-se deste modo como uma referência, em que partindo da tensão entre

o Ecocentrismo e o Tecnocentrismo devemos interpretar os espaços geográficos contemporâneos, com base nas

diferenças de valores, que proporcionam o envolvimento dos diferentes atores que coexistem no espaço e no

tempo, onde se espelham estas diferenças e no âmbito da qual estas tensões se concretizam.

Nesta perspetiva, Carvalho e Fernandes (2003), defendem que a paisagem é um objeto fulcral na ciência

geográfica e desse modo deve ser entendida como um cenário dinâmico que traduz as conceções que animam

todos os cidadãos que consomem e contribuem para a organização de um determinado território enquanto agentes

de desenvolvimento.

É neste contexto que as áreas protegidas são encaradas como instrumentos de concretização territorial da ideia de

sustentabilidade, na medida em que propiciam a criação de novos territórios que traduzem outras organizações

administrativas e novas relações de poder e de apropriação dos recursos e dos espaços geográficos.

As formas atuais de se perceber o território são resultado de mudanças verificadas nos quadros sociais e nos

filtros culturais, daí que a crescente complexidade que as áreas protegidas tem vindo a assumir, também têm

correspondência no modo como territorialmente, se organizam. Nesse sentido, a criação de um território

classificado faz parte do jogo entre os espaços patrimoniais e os espaços-fluxo, estando a paisagem articulada

com a construção social e cultural do espaço.

A história da paisagem como objeto da geografia acompanha o debate epistemológico entre as múltiplas

disciplinas científicas que a constituem. Centrando-se na produção de territórios enquanto espaços concretos e

abstratos nos campos histórico, natural, ambiental, político e social, a paisagem desde que se assumiu como

conceito e se embrenhou na praxis filosófica da sua análise, foi alvo de apropriação pelas mais variadas ciências e

correntes de pensamento.

Porém e tal como referem Donadieu e Périord (2007), a Geografia foi a primeira ciência a explicar as paisagens

concretas. Obviamente, esta visão parte do pressuposto da construção de um conhecimento baseado em

observações descritivas fruto de viagens e explorações de territórios “inexplorados” por autores como Heródoto1,

Estrabão2 e Ptolomeu

3. Contudo, os primeiros estudos efetivamente relacionados com a paisagem (tanto artísticos

como científicos) são atribuídos a Humboldt (1769 – 1859), cuja influência das ciências naturais, trouxe enorme

contribuição a diferentes áreas do conhecimento, como a Geologia, a climatologia, oceanografia e biogeografia,

influenciando assim a sua forma da análise do espaço, sendo pois denominado como um dos "pais" da Geografia

moderna. Aliás é neste período (século XIX) que vários cientistas alemães, como Karl Ritter (1779 -1859) e

1 Século V a.C.

2 Entre os anos 63 a.C.-24 d.C.

3 Entre os anos 90-140 d.C.

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depois Friedrich Ratzel (1844 – 1904) (fundador da disciplina de ecologia) acabam por desenvolver as bases para

a antropogeografia e começam a interessar-se pelo estudo do território surgindo o termo paisagem associado à

sua análise morfológica, que viria a ser a base conceptual da geografia humana de Vidal de la Blache e da

geografia cultural. A visão destes teóricos acerca da paisagem passava pela exaltação das limitações do Homem

face ao meio, num tipo de determinismo natural, logo as paisagens e as sociedades que as habitam eram

analisadas e explicadas intimamente ligadas ao espaço físico e às condições geológicas e climáticas existentes

nesses espaços.

Porém, é com Otto Schlutter (1872 – 1959), que encontramos a utilização do termo ciência da paisagem

(landschaftkunde) e a noção de paisagem humanizada (kulturlandschaft) como expressão coerente da marca

visível das civilizações e das sociedades rurais (Donadieu e Périgord, 2007).

Para Sierra (2003), o primeiro tratado científico sobre a ciência da Paisagem foi elaborado por Siegfried Passarge

da década de 1930 com a obra Geografia da Paisagem, onde se passa a entender a paisagem como fruto da

transformação do espaço humanizado por uma determinada sociedade ao longo do tempo, ou seja, o espaço como

produto social e manifestação cultural.

Mas até ao período pós Segunda Guerra Mundial, não encontramos uma linha de pensamento científica acerca da

paisagem continuada no tempo, vivendo sobretudo de trabalhos esparsos de geógrafos ligados à geografia

cultural. Apesar da associação desta aos estudos da paisagem, é a partir dos anos 80 do século XX que fruto de

uma renovação nas formas conceptuais humanista e culturalista que aspetos subjetivos como espaço vivido,

símbolos, mitos, utopias, aspirações sociais e as identidades territoriais, passaram a ser considerados (Donadieu e

Périgord, 2007).

Contudo e como iremos compreender ao longo do presente trabalho, a forma de se analisar e compreender a

paisagem resultou em significados distintos sem aparentemente não haver uma preocupação na procura de um

significado consensual sobre o próprio conceito (Meinig, 1979, Farina e Hong, 2004). Para Meinig esta assunção

irá estar sempre presente na discussão científica pelo facto de a paisagem existir “não apenas à nossa frente, mas

também nas nossas mentes”, ou seja, assumindo que o conceito de paisagem está intimamente relacionado pela

cultura e experiência individual.

Gourou (1986) refere nesta perspetiva que a paisagem humanizada não se interpreta pelo que se vê diretamente,

mas sim «por fatores de civilização» que remontam a épocas históricas.

Assistimos atualmente a um período da história da humanidade, em que o ritmo da mudança, da veiculação da

informação e do surgimento de novos processos e equipamentos, assume uma celeridade nunca antes vista,

evidenciando-se cada vez mais, tal como indica Castells (1999), o crescimento dos espaços de fluxos em

detrimento dos espaços de lugares, numa mudança de paradigma do espaço-território, para o espaço-paisagem

(Benko e Lipietz, 1994),

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CAPÍTULO 1 - PAISAGEM E TERRITÓRIO

Paisagem é um conceito assumido e percebido por cada indivíduo diferenciadamente dependo da conjuntura

histórica, social e cultural onde se insere, logo, é acima de tudo um objeto humano, na medida em que enquanto

espécie, é a única que lhe atribui contexto e valor.

Não podemos assumir igualmente que é a única espécie que pode moldar a paisagem, pois em maior ou menor

grau, quer através de meios bióticos4, quer através de meios abióticos, a paisagem pode ser alterada.

Sendo comumente percebido individualmente, a compreensão do seu conceito conduz em muitos casos a

sobreposições com outros conceitos complementares, como de natureza, espaço, lugar ou território, na medida

em que se define a paisagem a partir da consideração de um espaço subjetivo, sentido e vivido, um espaço de

cada ser humano, em suma um espaço individual e individualizado (Bley, 1986).

Figura 2 - Representação do conceito gráfico de paisagem apresentada por Steiner (2000) , frequentemente designado por “the

layer cake model”.

A definição de natureza é visto como uma construção do saber humano racional e portanto não é um conceito natural

(Bottomore, 1990). Nesta perspetiva, Gonçalves (1989) considera que a sociedade, cria, desenvolve e consolida um

ideal de natureza, adaptando-o à sua própria realidade cultural e temporal, constituindo assim um dos pilares através do

qual os homens, tecem as suas relações sociais, nas suas dimensões materiais e espirituais e culturais.

4 Espécies animais e vegetais através da sua ação biológica, podem induzir profundas alterações no espaço e na paisagem, como por

exemplo, as migrações de mamíferos na procura de alimento e água, infestações como os gafanhotos que destroem o coberto vegetal na

sua passagem, ou ainda, a colonização de determinada espécie vegetal alóctone (como as acáceas) que entra em competição com as

espécies autóctones, alterando a morfologia vegetal.

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A natureza e a sociedade, assim como natureza e cultura não são realidades opostas, mas acima de tudo

interdependentes (Cardoso, 2002), constituindo a natureza uma teia de relações interconexa, onde a identificação

de padrões específicos como sendo “objetos”, depende principalmente do processo de conhecimento do

observador humano (Capra, 1996), sendo pois a sociedade, em cada momento, que confere um conteúdo ao

“Natural” em função dos ideais dominantes e dos interesses daquele num determinado período específico

(Henriques, 1999).

Horkheimer (2008) reconhece a mesma funcionalidade determinística à natureza quando refere que “mais do que

nunca [a natureza é] concebida como um simples instrumento do homem”, ou seja, a simbiose ecológica

existente entre o homem e a natureza remete-se para uma mera “relação instrumental” (Gorz, 2007: 28).

Perante este cenário e as interrogações que estes temas trazem ao debate ambiental surge a questão por que é que

os problemas do ambiente ocupam um lugar vital nas sociedades contemporâneas e como progressivamente se

têm tornado igualmente numa questão sociológica (Cardoso, 2002).

Para Suertergaray (2001), a conceção de uma ideia de natureza como algo externo ao ser humano baseada no

conjunto dos elementos base do planeta é um resultado herdado de Descartes, pressupondo a separação entre

natureza (transformando-a em objeto) e homem (transformado em sujeito conhecedor e dominador daquela), ou

por outras palavras, entre o material (res extensa) e o imaterial (res cogitans).

Os pressupostos de Descartes sustentaram a ótica mecanicista racionalista do pensamento ocidental, que ficou

bem vincado nas atuais matrizes paisagísticas fruto da relação desenvolvida entre as sociedades e a natureza,

sendo esta vista como uma fronteira de expansão natural da humanidade. Segundo Beaude (1990), o

“mecanicismo faz do mundo uma máquina que pode passar para as mãos do homem”. Descartes apontou o

caminho filosófico do progresso humano, materializado mais tarde com as Revoluções Agrícola e Industrial,

legitimando dessa forma, o papel de domínio e pertença que a humanidade exerceu sobre a natureza, como se

esta fosse algo estranho e externo à primeira, (Fernandes, 2004).

Se o homem é elemento integrante da natureza e se todos os ecossistemas do planeta foram já influenciados pela sua

ação, deve-se pois defender esquemas sustentáveis de relacionamento do binómio homem-natureza (Delgado-Mendez,

2008).

Nesta perspetiva encontramos atualmente uma tentativa de extração do “sujeito humano” da “coisa natural” num

processo de destruição do estado natural, e desconsideração dos saberes acumulados, em muitos casos, tradições

seculares de saber tradicional apesar da tentativa de justificação das intervenções “humanas” no sentido da

reposição desse mesmo estado (Arruda, 2000), dentro do contexto que Diegues (2000), refere como o “modelo

dominante de conservação”.

Este processo é denominado por Illich (1985) como a desnaturalização da natureza indutora de um crescente

desenraizamento do ser humano, “na qual a sociedade gera a própria destruição, na medida em que transforma o

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homem em matéria-prima, desintegrando-o, promovendo a degradação da natureza e a destruição dos laços

sociais” (Sampaio et al., 2011: 136).

Para Cancer (1999: 20), “a degradação antrópica é (...), é sem dúvida alguma, a principal responsável pelas

perdas de qualidade e diversidade que afetam amplos territórios do nosso planeta, com a consequente degradação

de um recurso natural e cultural de primeira importância, como é a paisagem, quer no seu todo, quer afetando

apenas um dos seus elementos constituintes”.

Daí que o Homem enquanto ser biológico é parte integrante da Natureza, e nessa perspetiva «preservacionista»

devemos analisá-lo e compreendê-lo, pois apesar de toda a evolução do pensamento científico, moral, cultural e

tecnológico ambos são indissociáveis; pois apesar de toda a sua capacidade de produção e exploração material e

de modelação da natureza, não o imbui de governabilidade nem de capacidade de domínio sobre aquela na

perspetiva de uma visão biocêntrica em oposição à perceção antropocêntrica dominante (Audibert, 2004).

Marx referia que “o homem é uma parte da natureza (Marx, 2001), sendo o trabalho (metabolismo ou interação

metabólica) a evidente negação dessa separação, demonstrando que esta é uma relação orgânica, dinâmica e

natural/social, indo de encontro ao preconizado por Edgar Morin (2000 [1975]), em que a natureza é uma

totalidade complexa ativa e ordenada enquanto o Homem se relaciona abertamente numa relação de

autonomia/dependência com essa totalidade, estando desse modo “ligado por laços de formação e de informação

à terra, ao ar, à água, às plantas, aos animais, ao fogo" (Branco, 1999: 4).

A mesma conceção é defendida por Moreira (1988) que entende a natureza no espaço geográfico como uma

estrutura de relações sob determinação do social, onde a sociedade é vista como sua expressão material visível,

através da socialização da natureza pelo trabalho. A natureza é assim uma expressão fenoménica do modo de

socialização, vista como uma “totalidade estruturada de formas espaciais”.

Este conceito expressa um espaço com diferentes escalas de compreensão territorialmente percebido, em que se

operam as relações sociedade-natureza, numa totalidade concretizada apenas à medida que é preenchida pelos

sujeitos individuais e coletivos (Gonçalves, 2000).

Correa (1995:7) afirma que “o espaço […] constitui-se no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si

e esses espaços são reflexo das escolhas de usos promovidos pela sociedade e seus grupos”, levando assim a um

debate ambiental centrado na evidência de que a dinâmica imposta pelo homem ao planeta não é sustentável no

espaço e no tempo, sendo pois imperioso a descoberta e desenvolvimento de modelos de sociedade que sejam

compatíveis com os limites naturais, imposto pela máxima de que “o consumo dos recursos naturais deve ser

equivalente à capacidade de renovação dos ecossistemas”, sendo este o limite da intervenção humana

(Milano,1998: 1).

Nesta linha de pensamento, Harvey (2000) refere que é importante o reconhecimento que não existe uma ideia

acerca do binómio espaço-tempo com um único sentido, destacando-se o facto de encontrarmos no espaço e no

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tempo a multiplicidade das suas qualidades objetivas que ambos podem exprimir e nesse contexto, o papel das

práticas humanas na sua construção.

Ainda no âmbito desta discussão são evidentes as responsabilidades reconhecidas nas diferentes sociedades no

agravamento dos problemas ambientais e as diferenças de perceções existentes a este nível, pois como refere

Soromenho-Marques (1998) a (longa) era da quase neutralidade axiológica entre os fatores culturais e as suas

raízes naturais terminou irremediavelmente, porque o ser humano perdeu respostas imediatas e biológicas face

aos problemas que tanto o meio social como o natural lhe colocaram.

Indiscutivelmente, as variantes históricas relacionam-se com o tipo de organização social que cada civilização

constituiu. Mas, independentemente do período histórico, sociedade e natureza são uma mesma realidade, sendo nesse

sentido importante a consideração da sustentabilidade na apropriação dos seus recursos na emergência de novos tipos

de relações sociais de modo a permitir a manutenção e variabilidade histórica de cada sociedade (Loureiro, 2000).

As relações estabelecidas assim entre sociedade e natureza, tornam-se fundamentais para a promoção da

solidariedade e da igualdade entre indivíduos, respeitando fronteiras e com elas as diferenças culturais dos povos

e dos territórios, abertos a novas desterritorializações (Haesbaert, 2004).

Deste modo, é o território que se assume como o elemento base na relação homem-natureza, na medida em que

não está unicamente dependente das características biogeofísicas, mas igualmente das relações sociais que

conduzem à representação da identidade sociocultural.

Neste contexto, Arocena (2002) indica que o homem desenvolve as suas atividades em espaços físicos bem

delimitados, permitindo-lhe a compreensão do sentimento de pertença de um espaço territorialmente formado

pelos efeitos das manifestações das suas transformações junto à natureza (Oliveira, 2004).

Torna-se pois evidente que a natureza não constitui sinónimo de conceitos como paisagem ou espaço, na medida

em que não apresentam o mesmo significado, isto apesar das evidências de variadas correlações. Daí que é

necessário uma compreensão da natureza numa perspetiva mais ampla e que evolui independentemente da

própria ação humana.

Perceber a paisagem como espaço vivido requer um conhecimento prévio, adquirido e consolidado das simbologias

expressas caracterizadora de determinado elemento espacial, na medida em que qualquer paisagem é antes de tudo um

elemento simbólico, porque é o produto da apropriação e transformação do ambiente e do espaço pelo Homem

(Teramussi, 2008) ao longo de um determinado período de tempo, tal como refere Bertrand (1972), a paisagem é uma

produção social que resulta numa combinação dinâmica, instável de elementos físicos, biológicos e antrópicos, que

dialeticamente, fazem desta um conjunto único e indissociável em evolução constante.

Descodificar os significados dos símbolos associados ao conceito de paisagem é pois, de extrema importância na

sua análise e interpretação, pelo que, antes de qualquer tentativa de compreensão das dimensões do conceito de

paisagem, importa a estruturação sinonímica dos conceitos referidos anteriormente.

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14

Para Meinig (1979) existem dez formas diferentes de interpretação de uma paisagem:

1. A paisagem como Natureza: Elevação do meio natural pela sua capacidade de criação e de regeneração

face às possibilidades de criação do ser humano.

2. A paisagem como Habitat: O meio natural é essencialmente visto como provedor de sustento, logo,

passível de ser domesticado e explorado.

3. A paisagem como Artefacto: O espaço como meio de apropriação cultural humana, reconhecendo

naquele a ação deste, afetados por processos de alteração global.

4. A paisagem como Sistema: O espaço é sentido como algo complexo imerso num imenso e intrincado

sistema de sistemas.

5. A paisagem como Problema: Visão do espaço como resultado da inabilidade do ser humano no

equilíbrio dos sistemas ambientais, relevando-se os danos ambientais produzidos e a forma como afeta,

ou virão a afetar as sociedades humanas;

6. A paisagem como Bem-transacionável: Paisagem como um recurso explorável e capitalizável com o

objetivo da obtenção de lucro;

7. A paisagem como Ideologia: A paisagem expressa na sua apropriação individual e coletiva, símbolos,

a filosofia e a expressão das relações sociais de governança e governabilidade.

8. A paisagem como História: A paisagem percebida como expressão cumulativa da passagem do tempo,

dos processos naturais e das intervenções de cada sociedade em cada período de tempo específico;

9. A paisagem como Lugar: A paisagem vista como parte de um grande e infinitamente variado mosaico

global;

10. A paisagem como Estética: A paisagem percebida nas suas nuances cénicas como elemento de

apropriação artística, prestando atenção à composição, cor, harmonia, textura, tensão ou a simetria dos seus

elementos.

É percetível assim através destas formas de ver a paisagem uma duplicidade geradora dos vários significados

pelo facto de a paisagem ser continuamente “composta não apenas por aquilo que está à frente dos nossos olhos,

mas também por aquilo que se esconde nas nossas mentes” (Meinig, 2002 [1976]): 35).

Invariavelmente, a imagem mental recriada nas mentes humanas quando o conceito de paisagem é abordado,

assume um enquadramento cénico intimamente estético, pois como observa Dufrenne (2004: 24), o estético é

algo derivado de um valor pré-estabelecido pelo homem: “o belo é um valor entre outros e abre caminho aos

outros”. Daí que para este autor, um valor não é apenas aquilo que é procurado, mas antes, o que é encontrado, ou

seja, “é próprio de um bem, de um objeto que responde a algumas de nossas tendências e satisfaz algumas de

nossas necessidades” (Ibidem: 24).

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15

Ferriolo (2002), refere ainda que a experiência estética é inseparável da vida, pois na procura da essência da

paisagem, independente da sua forma de representação, da imagem sentimental da natureza quer seja ideal ou

real, estamos perante uma realidade ética e estética, pois está ligada a uma ação, ao projeto do indivíduo inserido

no ambiente e na comunidade que o compreende.

Ainda segundo este autor, é na paisagem que se reflete a livre Acão criativa do Homem, assumindo-se uma

paisagem desse modo como produto da arte, de uma ação antrópica destinada a modificar a natureza em direção

ao útil e ao belo.

Saraiva (1999) sugere o mesmo que Ferriolo ao referir que o conceito de paisagem representa uma realidade

geográfica concreta, ecológica e estética complexa, em resultado da interação do espaço e do tempo, de fatores

biofísicos, sociais e culturais, possuindo desse modo uma origem pictórica, com um forte envolvimento dos

modos de perceção e de apreciação estética e emocional.

Nesta expressão simultânea dos contextos espacial e cénico no conceito de paisagem exprimindo

simultaneamente o contexto espacial e cénico, temos a considerar segundo Bernáldez (1981), a compreensão de

duas componentes nesta realidade – o criptosistema - sistema geográfico e ecológico, que corresponde ao

conjunto de elementos de um território ligados por relações de interdependência por um lado, e o fenosistema,

constituído pela componente percetual cénica, capaz de despertar respostas adaptativas, sentimentos, apreciação

estética e emoções, por outro5.

É neste sentido que dividimos o presente trabalho em tentar em primeiro lugar compreender a semântica e a

evolução etimológica do conceito e compreender a interdependência dos conceitos associados, pois o seu

entendimento, análise e conceção congrega os contributos dos mais variados autores e das mais variadas

epistemologias, sendo pois fundamental para a compreensão do espaço geográfico.

5 No capítulo 1.4, retomaremos estas definições e aprodundaremo-las.

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1.1. - Semântica e análise etimológica de Paisagem

Jackson (1986) refere que existem significados e dicotomias distintas para paisagem de acordo com o dialeto do país

ou região onde a palavra é utilizada. As suas definições sofreram variações ao longo do tempo, daí que só é possível a

sua efetiva compreensão pela avaliação do contexto histórico, geográfico e social desses mesmos conceitos.

Nesse sentido é facilmente percetível que estamos perante um conceito dinâmico, pela sua expressão espácio-

temporal e níveis de observação, tal como indica Name (2010) que alude ao facto da paisagem possuir tal como a

cultura elasticidade e ambiguidade, sendo desse modo ser impossível a sua apreensão de forma totalizante e

encarcerá-la numa única definição.

A dinâmica do conceito está segundo Matos (2010) no seu carácter polissémico, revelador de aspetos

multifuncionais que lhe são inerentes, sobretudo pelo facto de se considerar paisagem no momento em que é

inscrita dentro de determinada cultura e determinada época.

Vários autores defendem que antes do próprio reconhecimento do conceito de paisagem, existiam conceções do

mundo que encerravam os significados que hoje são dados à paisagem através da representação desse mundo,

estritamente relacionados com o sentimento de maravilha suscitado pela sua mera contemplação (Spirn, 1998,

Ferriolo, 2002, Maderuelo, 2005, Magalhães 2007).

Daí que para Meneses (2002: 29) paisagem se assuma como algo “extremamente amplo, cheio de veredas que se

multiplicam e alternativas que não se excluem”, destacando a polissemicidade da palavra “paisagem”, pelo facto

da mesma ser amplamente utilizada como termo com sentido comum, sem qualquer especificidade.

Spirn (1998) refere neste tipo de análise que “a linguagem da paisagem é a nossa linguagem nativa. A paisagem

foi a nossa primeira habitação; a espécie humana evoluiu entre plantas e animais, sob o céu, na terra, junto à

água. Todos carregamos essa herança no corpo e na mente. A espécie humana tocou, viu, ouviu, cheirou, provou,

viveu e moldou paisagens antes das espécies terem palavras para descrever o que fizeram. As paisagens foram os

primeiros textos humanos, lidos antes da invenção de outros sinais e símbolos”.

Encontramos referências simbólicas da paisagem praticamente desde que o Homem teve a necessidade de se

expressar por meio de símbolos (como as cenas de caça pintadas em cavernas desde o paleolítico), assumindo

especial relevo a escrita como meio veiculador dessa mensagem. Polette (1999) refere que a alusão mais antiga

encontrada sobre paisagem remonta ao ano 1000 A.C. registada no livro dos Salmos (48.2) onde se faz alusão ao:

“Seu santo monte, belo e sobranceiro, é a alegria de toda a terra; o monte de Sião, para os lados do norte, a cidade

do grande Rei.”. Estes não eram mais do que poemas líricos, onde a paisagem surge relacionada com a vista do

conjunto de Jerusalém, com os seus templos, castelos e palacetes do Rei Salomão, assumindo indubitavelmente

uma conotação visual e estética, adotada pela literatura e pelas artes (Meztger, 2001). Naveh e Lieberman (1983)

sugerem pois que o conceito de paisagem neste período tem sobretudo uma conotação de vista estética de

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paisagem que é usualmente referida no inglês a “cenário”, na medida em que paisagem – “noff” em Hebraico

surge relacionado provavelmente e segundo os mesmos autores com “yafe” – beleza.

Esta conceção estética surge igualmente expressa noutras culturas em espaços histórico-territoriais bem distintos.

Na China, com o desenvolvimento do taoísmo, encontramos várias premissas baseadas num tipo de representação

pictórica de elevada sensibilidade no primeiro tratado de paisagem – “Introdução à pintura de paisagem”, escrito

por Zong Bing (375-443) que sugere que a “paisagem, ao possuir uma forma material, tende para o espírito”, ou

seja, é percetível uma enraização cultural do conceito essencialmente na moral e na religião (Berque, 1994;

Maderuelo, 2005; Donadieu e Périgord, 2007; Matos, 2010).

Na Europa, o surgimento e disseminação do conceito de paisagem encontra-se na dualidade homem e natureza,

observando-se na literatura antes de se expressar na pintura, mas sempre associado a uma perceção pictórica

cénica do espaço físico, sobretudo na exaltação de espaços como jardins, espaços esses circunscritos às elites e

àqueles capazes da apropriação intelectual e subjetiva da própria expressão pictórica.

Etimologicamente, o conceito de paisagem na Europa resulta do desenvolvimento de duas raízes linguísticas

semanticamente bem diferenciadas (Assunto, 1973; Berque, 1994; Donadieu e Périgord, 2007, Jackson, 2003)

revelando de acordo com os hábitos linguísticos regionais uma construção gramatical diferente, dicotomicamente

enviesada entre o norte e o sul, mas correspondendo igualmente a formas diferenciadas de ver, entender e

representar o espaço.

Da sua análise é percetível significados ambíguos, revelando uma condição estática da observação de um espaço

individual e/ou coletivo, culturalmente bem definido, assim como a própria produção espacial e a sua

representação pelos mesmos sujeitos, inserindo-se desse modo numa perspetiva dinâmica e diacrónica na sua

conceptualização e significados (Name, 2010).

De acordo com Holzer (1999), encontramos na germânica landschaft6, marcadamente medieval (desde o século

VIII até ao Renascimento), a referência a uma associação entre determinado local e os seus habitantes, ou seja,

referindo-se a uma província ou região, com uma clara conotação morfológica, cultural e político-territorial. Nos

finais do século XV, a terra localizada no envolvimento de uma povoação designava-se por landschaft, um

significado que ainda hoje sobrevive em alguns lugares como por exemplo na Basileia (Maderuelo, 2005).

Segundo Name (2010) a evolução deste termo tem provavelmente origem em land schaffen, que significa “criar a

terra, produzir a terra”, acrescentando a esta análise Spirn (1988) que a alusão a terra significa simultaneamente

um lugar e as pessoas que o habitam. Conciliando este carácter com os termos Skaeb e schaffen que apresentam

um significado de moldar; com os sufixos –skab e –scahft, que igualmente significam associação ou sociedade,

tal como o schappen holandês (apesar de já não ser utilizada no discurso comum), transmite o sentido de moldar,

6Com derivações de landskab, em dinamarquês, de lanschap e landskip em holandês ou landscape em inglês derivado dos anteriores. O

termo holandês, apesar do seu significado ser idêntico ao alemão, associou-se às pinturas de paisagens realistas do início do século XVII,

relacionando-se então às novas técnicas de representação renascentistas. Na Europa Central originou as palavras krajina e krajobraz (em

checo e polaco – kraj), com um significado de país ou território

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onde esta ligação entre scape e schaft pode ser subentendida pelas noções de formatação e de organização como

constituição ou estabelecimento de uma ordem social designando espaços coletivos do ambiente (Polette, 1999).

Já para Hopkins (1994), o termo em inglês, é geralmente definido como «view of the land ou representation of

the land», aproximando-se do significado de carácter mais latino encontrado no Sul da Europa (a imagem do

espaço e o que ela representa). A semântica latina é visível no termo paysage, em francês7, original do radical

medieval pays, que significa simultaneamente “habitante” e “território”, designando tanto a representação

pictórica de um país, como o próprio país, mas também em paesaggio, em italiano; paisage em espanhol e

paisagem em português. Segundo Figueiró (1998), entre as línguas de raiz latina, independentemente do contexto

cultural, o conceito de paisagem derivada de Pagus surge fortemente ligado ao espaço enquanto objeto, ao

conjunto do território (Polette, 1999).

Maderuelo (2005) afirma que das línguas “latinas” é com o Italiano que surge a referência a um território e a

especificidade das suas vistas, através das palavras paese e por derivação paesetto e paesaggio, com o mesmo

sentido que terão as palavras francesas pays e paysage. Ainda derivando da raiz latina encontramos o termo

pagus que teria um significado de aldeia, distrito ou província, com uma clara conotação aos elementos da vida

rural (Jackson, 2003; Maderuelo, 2005). Pago, com a sua forma latina inalterada, enquanto palavra surge após o

século XII e que subsiste ainda na referência direta a uma terra ou herdade (Matos, 2010).

Inversamente Dantec (2003) refere que a palavra paisagem terá surgido pela primeira vez em francês, produzida a

partir do termo pays (campo), considerado como um espaço com uma paisagem intrínseca, apresentando

características naturais, sociais e culturais suficientemente homogéneas, para a existência e reconhecimento da

sua identidade (Magalhães, 2001), servindo de modelo a todas as línguas europeias, tal como sugere Tricart

(1979) que concebe paysage como uma palavra derivada de pays, possuidora de uma forte conotação territorial,

em tudo semelhante com o termo alemão de Landschaft (Pollete, 1999).

Ao termo pays surge depois a associação com o sufixo age, do latim agine, que significa a ação do Homem

(enquanto criador da paisagem) formando desse modo a palavra paysage, o que acaba por claramente exprimir a

ligação entre o Homem e o espaço por ele habitado (Janin, 1995).

Vários autores porém, referem que o termo landscape deriva do holandês landschap, em que land assume um

significado próximo do de terra, significado forma, não no sentido de estrutura mas antes de contorno, podendo

ser igualmente interpretado como aspeto ou modelo, ou seja percebida como a parte sólida da superfície terrestre,

terra trabalhada, lugar e parte constituinte de um espaço mais vasto intimamente relacionado com a ideia de

propriedade do solo (Jackson, 2003; Maderuelo 2005, Magalhães, 2007).

7 Surgindo associado às técnicas artísticas renascentistas

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Para Matos (2010) a sílaba land teve um curioso desenvolvimento, pois na Inglaterra8 evoluiu no sentido de terra

enquanto parte da superfície do solo, para na Alta Idade Média ser empregue como qualquer porção determinada

da superfície da terra. Aliás, land, era empregue em vários contextos e em várias escalas geográficas, como por

exemplo um pequeno terreno agricultado ou para designar um reino9, incluindo todos os espaços de fronteiras

reconhecidas (Calder, 1981; Jackson, 1986).

Relativamente à sílaba scape, é essencialmente a mesma palavra que shape, encontrando no inglês antigo ou no

anglo-saxão várias composições para designar os aspetos coletivos do ambiente. Por exemplo, housescape

significaria o que será um associado e um termo semelhante que ainda hoje é empregue – township – significa um

conjunto de terras (Matos, 2010).

Encontramos igualmente nos finais do século XV (mais precisamente em 1462) a primeira palavra com uma

conotação clara de paisagem, a flamenga lantscap, em três documentos distintos: um com uma componente

religiosa e dois com uma componente jurídica (Luginbuhl, 2008). Nestes últimos a associação da palavra

lantscap à germânica landschaft é evidente com um significado de paisagem reduzida a uma pequena região ou

condado organizado que se vê de um só olhar, fazendo alusão a um país abundante nos seus recursos.

Ou seja, existia neste período um reconhecimento do espaço natural como uma “entidade com legítimo estatuto

jurídico, testemunha a relação de comprometimento religioso entre o homem e a natureza” (Fernandes, 2004),

existindo registos documentais de processos onde a natureza era reconhecida e apresentada como mero sujeito jurídico,

a quem se atribui deveres e direitos, numa perspetiva pré-moderna, ou mesmo pré-humanística (Ferry, 1993).

Para Le Goff (1999: 93) este tipo de escritos é característico dos escritos políticos da Baixa Idade Média na

medida em que possuía uma componente educativa, sobretudo com a educação de futuros reis pela constante

reflexão a respeito do exercício da monarquia tendo-os transformado gradualmente num ofício de rei.

A expressão mais evidente desta coabitação surge-nos na composição “Alegoria do bom Governo” de Ambrogio

Lorenzetti (c. 1290 - c. 1348). Esta composição artística, apesar do contexto territorial, social e histórico, é vista

como uma expressão artística máxima do topos das virtudes e vícios do governante (Le Goff: 1999, 367),

pertença indubitável do ethos dos séculos XIII-XIV (movimento Quattocento), manifestando-se tanto ao nível da

literatura como nas artes gráficas, tendo sido considerada como a primeira paisagem real que se tentou pintar na

Europa (Duby: 1988, 108).

8 De acordo com a etimologia inglesa, paisagem (landscape) vem sendo concebida como relacionada à cultura humana desde o século V

d.C.

9 Essencialmente a Inglaterra ou a Escócia.

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Figura 3- Fresco “Alegoria do bom Governo” de Lorenzetti – 1338 Siena Itália.

Destacamos esta obra aqui pela interdependência expressa no contexto cénico entre território e paisagem que

iremos abordar no capítulo seguinte. Sem querermos discernir neste momento sobre essa questão, não podemos

no entanto de analisar esta obra de Lorenzetti como exemplo da mistura conceptual que estes dois termos

induzem no ser humano.

Compreendemos que a forma de análise do território foi expresso pelas formas do estilo então em voga

(Panofsky: 1991, 50), daí que ao observarmos atentamente as três partes que em cima reproduzimos

compreendemos claramente a preocupação do pintor em destacar o aspeto do espaço territorial dominado pelas

dualidades: encontramo-las na expressão do rural/urbano; do bem e do mal; do moral e do profano; do belo/feio,

enfim, ressaltando como principal conteúdo o facto do Bom governo se associar ao território composto por uma

Page 22: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

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paisagem ordenada, próspera, em que o Homem domina a natureza, através da sua capacidade técnica.

Inversamente, com o Mau governo, vemos um território envolto pelos males da sociedade (da época), resultando

numa paisagem degradada, devastada por pragas e desastres naturais.

É comumente aceite pela maior parte dos especialistas que, na Idade Média todas as imagem constituíam uma

forma de arte e geralmente possuía uma função educativa, pedagógica (não-estética) (Mâle, 2000 [1958],

Macedo, 2000), pois “a contemplação é a ação concreta e envolve a paisagem” (Ferriolo, 2002).

Baridon (1998), refere que todas as manifestações antigas e medievais dos artistas e escritores da Antiguidade e

da Idade Média, tal como os artistas e os escritores do Renascimento também representaram o campo e a

natureza, expressando igualmente uma evidente sensibilidade estética relativamente à paisagem, que de certa

forma, ainda hoje, é mencionado por vários autores ao se referirem à paisagem como “extensão de terreno

abarcada pelo campo de visão constituindo um quadro panorâmico” (Casteleiro 2001: 2717), ou seja,

“…landscape is (...) the appearance of the land” (Brabyn 2009: 301);

Duby (1988) refere ainda que as imagens na Idade Média, sobretudo aquelas pintadas destacando enquanto

enquadramento cénico o entardecer, para além da função pedagógica anteriormente referida, assumiam-se

igualmente como modo de afirmação do poder dando-lhe visibilidade, justificando-o (Duby e Laclotte: 1997: 16).

Daí que para Donadieu e Périgord (2007), o conceito de paisagem tenha desde sempre assumido duas

possibilidades: a da imagem artística e a do entendimento visível de um território na medida em que o conceito

parece conter desde o início, a noção de uma entidade resultante da interação entre o Homem e a Natureza.

Maderuelo (2005) refere que só é possível o conhecimento formal de objetos e fenómenos após a sua descrição,

observando neste aspeto que a pintura constitui-se desde sempre como uma escola do olhar. Ou seja, a ideia de

paisagem não se encontra, tanto ao nível do objeto que se contempla, mas antes com o modo de olhar de quem a

contempla, pela tomada de consciência da coisa em si e pela compreensão da sua complexidade.

A paisagem enquanto termo concreto surge desta forma com uma forte conotação com a pintura, pois através

dela é possível a forma de expressão mais elementar – a visual, onde numa época em que o conhecimento estava

agregado e disponível apenas a algumas elites, sobretudo ligadas ao poder eclesiástico, era possível passar a

informação da evidência do poder territorial exercido sobre o espaço, onde o enquadramento pictórico servia

igualmente como veículo para a apropriação da identidade desse mesmo território.

É neste sentido que Baridon (1998) refere-se a paisagem no período da alta idade Média percebida como um

“quadro representando um território (pays)”. Ou seja, a paisagem é algo interdependente do território definindo

este, através da apreensão visual fruto da sua composição artística, despertando nos observadores sentimentos

plenos de ordem estética (ibidem, 1998).

Ainda segundo o mesmo autor, a paisagem desde o período renascentista até aos primórdios do enraizamento das

doutrinas iluministas, é caraterizada “por uma profunda continuidade cultural” expressa nos mais variados

campos artísticos.

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O Renascimento modificou a conceção de paisagem. Este movimento resultou numa renovação artística e

científica esteve associada, entre os séculos XIV e XVI, à eclosão de novas estruturas mentais (Fernandes, 2004).

Com o novo protagonismo conquistado pela visão antropocêntrica, a humanidade vai-se colocar no centro do

“universo” passando a observar a natureza baseada numa perspetiva mais estética.

Em conformidade com a perspetiva estética, Roger (2007) apresenta-nos uma visão discordante sobre o

“nascimento conjunto da paisagem e da pintura”, referindo que “não foi a pintura que induziu à paisagem, mas

sim, esta pintura concreta a qual, inventando um novo espaço no Quatrocento, inscreveu nela, progressiva e

laboriosamente, essa paisagem concreta”, sendo que terá sido ainda na sua ótica, na Flandres e nos Países Baixos

que a pintura começou a construir a paisagem nesse período concebida sobretudo numa ótica estética.

No século XVIII com Iluminismo, o progresso das sociedades humanas passava pela exploração do substrato

natural. Para Guimarães (2001), esse domínio da natureza é simbolizado pelos jardins zoológicos (em grande

expansão nos séculos XVIII e XIX) e por outras formas de colecionismo de seres vivos que, para além de

testemunharem essa apropriação, ainda vangloriavam a primazia da espécie humana, numa versão prematura e

artificial de um espaço protegido.

O mundo começara a “encolher” durante este período, fruto da quebra de conceções espaciais derivadas das

mitologias icónicas, levadas a cabo sobretudo pela expansão portuguesa, dando “novos mundos, ao mundo”,

invadindo pois o imaginário humano, com composições exóticas e de espaços quase por explorar.

A paisagem, vai adquirindo pois uma crescente alienação sobretudo pela pintura, mas também na literatura, tomando

como exemplo os Lusíadas, onde a descrição de paisagens, sobretudo orientais, remetem para um imaginário estético

de espaços “efeminizados» que reclamam a sua apropriação pela cultura europeia “masculinizada” (Shohat e Starm,

1994), num “fazer literário [que] representa geografias e paisagens culturais de outras localidades, alheias à sua própria

realidade e contexto, de forma retórica, imaginária e simbólica” (Fonseca, 2008), numa visão da paisagem a que

Helgerson (1995) se refere como formas de nacionalismo da cultura ocidental.

Esta visão da paisagem cenário conduziu a um desenvolvimento de um “cultura de paisagem” (Baridon, 1998),

que no século XVIII viria a traduzir-se em formas de representação da natureza procurando a expressão in situ da

relação harmoniosa entre o sujeito (homem) e a natureza (objeto). Surgem assim os jardins paisagem, não numa

tentativa de uma produção de paisagem mas de uma veiculação de domínio da razão Descartiana sobre a matéria.

Este caráter de domínio poderá não ser estanho à própria classe gramatical da definição, na medida em que a Paisagem

enquanto definidora de determinado território, espaço ou lugar, constitui um substantivo feminino, contrariamente aos

outros conceitos que constituem substantivos masculinos. Num contexto cultural dominado pelo masculino, em que

segundo Cuddon (1998) a centralização do logos no poder simbólico do phallus remete para um binómio de

superposição dominante do masculino sobre o feminino, numa postura ideológica com uma organização sociocultural

(Kaplan, 1986), baseada na ideia do género como ordem política imposta pela força (MacKinnon, 1987).

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Desde a Renascença, e especialmente nos séculos XVII e XIX temos então uma aceção cénica do conceito da

paisagem neste período fortemente influenciada pelas artes, mas sobretudo por aqueles dedicados à produção

pictórica de paisagens (Magalhães, 2007) no qual a paisagem é experimentada como uma realidade total espacial-

visual (Naveh e Lieberman, 1983). Encontramos pois uma definição de paisagem essencialmente percetiva

relacionada com o enquadramento visual do espaço com uma clara conotação feminina dominada, contrapondo-

se ao poder divino criador e influenciador do espaço e do tempo. Daí serem os motivos pastoris (o cordeiro de

Deus; pastor de Homens…) numa apropriação da moral cristã, onde ambiente aparentemente naturalizado a

arcádia Grega constitui o principal móbile das criações artísticas.

Figura 4 - Dream of Arcadia-Thomas Cole-1838

Para Figueiró (1998), o racionalismo renascentista de Descartes que negou qualquer dimensão espiritual à

natureza, conduziu à substituição da perceção de uma paisagem idealizada por uma paisagem concreta, com

marcas deixadas na relação entre as sociedades e o meio e em consequência, nas atuais matrizes

paisagísticas, assente numa territorialidade secundarizada pela perspetiva de unidade inerente ao seu próprio

conceito. É neste mosaico de elementos bióticos e abióticos, passíveis de serem percebidos e apropriados pelos

sentidos num determinado momento e num determinado local que o conceito de paisagem se foi cimentando.

Com a revolução e consequente desenvolvimento industrial no século XVIII, criaram-se dois modelos

paisagísticos – o sublime e o pitoresco, tendo a paisagem adquirido o significado de representação da natureza

perdida do livro poético «Paraíso perdido» de John Milton10

(1667).

10 O poema descreve a história cristã da "queda do homem", através da tentação de Adão e Eva por Lúcifer e a sua expulsão do Jardim do

Éden.

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Neste contexto, Rousseau marcado por ideais humanistas advoga o mito do bom selvagem para quem: "a

bondade e a felicidade do indivíduo são mais essenciais que o desenvolvimento de seu talento. Colocando as

necessidades e os interesses do indivíduo acima dos da sociedade organizada, Rousseau inverteu a ordem

universal. Na sociedade ideal e natural, onde a natureza conserva sua simplicidade e inocência originais, todos os

indivíduos seriam educados juntos e participariam de interesses comuns." (Simpson, 2010).

Assistimos a um retrocesso da influência divina sobre o espaço e a prevalência da figura do Homem enquanto ser

emancipado que tal como na obra de Milton já se acha redimido pelo sacrifício do filho de Deus. Então, da

representação pictórica da Paisagem evoluiu-se no sentido da criação de Paisagens compostas por cenários

pitorescos, em que autores como Cézanne, Van Gogh, ou Corot dão ênfase às atividades humanas agregando nas

suas obras a harmonia das paisagens, a atividade rural e as transformações do espaço.

A Paisagem passa então assim a ser entendida, segundo Dantec (2003), “não como um dado geográfico ou um

“facto bruto”, mas como fenómeno intencional expressivo, a partir de um sítio mais ou menos modelado pela

técnica, de uma cultura ou de uma civilização”, como forma de legitimar os interesses e as práticas de

apropriação dos ‘novos’ espaços e a consequente depredação de recursos (Claval, 2004), tal como refere António

Campar de Almeida (2001), que para além da perspetiva científica, uma das abordagens humanas sobre a

paisagem foi a sua representação artística, sobretudo no período do Romantismo.

Ocorre assim uma redefinição da unidade intrínseca à paisagem, que passou do conjunto do espaço percebido

(fisionómico) e do espaço vivido (territorial), durante a Idade Média, para uma reformalização de todo o conceito

de paisagem, pela introdução do fator tempo, enquanto agente transformador na paisagem libertando-a da tela. A

paisagem torna-se o que o corpo alcança e não a apenas a sua representação (Batista, 2009).

A terrialidade imposta à paisagem pela perda do seu carácter fruto da criação divina, resulta na perda da unidade

do espaço, que após este período, o sucessivo desmembramento dos impérios acarreta um deslocamento da noção

de territorialidade para a paisagem cenográfica, como um objeto observado por um sujeito que lhe é exterior.

Para Dantec (2003) é neste contexto que se fundamenta a produção de paisagem, inicialmente associada à ideia

de um “ajardinamento”, A desagregação da unidade espacial, levou contudo à compreensão dos fatores que

compõem a compõe (clima, relevo, solos, fauna, flora, etc.), criando os pressupostos que estiveram na base dos

fundamentos da sensibilidade de movimentos, como os higienistas que de certa forma também marcaram a

construção de Paisagens11

.

Assim, é fundamental para o estudo, compreensão e ação sobre qualquer paisagem, o entendimento da forma,

ideias e conceitos que o Homem associa e como se relaciona com a Paisagem [Matos, 2010].

11 Como por exemplo a Cidade Linear de Soria y Mata (1844-1920) e a Cidade Jardim de Howard (1898).

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1.2 – A visão “geográfica” da Paisagem

A Paisagem sempre caminhou de mãos dadas com a Geografia, muito antes desta se constituir como uma ciência

etimologicamente bem definida e assentada, ocupando especial destaque como os conceitos de lugar, espaço,

território ou região. Mas foi contudo a partir da década de vinte do século passado que a paisagem assumiu

especial destaque nas pesquisas em geografia.

Pela sua carga altamente subjetiva, nem sempre nem sempre é facilmente assimilada pelas várias correntes de

pensamento que se desenvolveram durante sobretudo o último século. Daí que para Passos (1996), a paisagem

"responde à orientação da Geografia para o concreto, o visível, a observação do terreno, enfim, para a perceção

direta da realidade geográfica", que tem permitido ao geógrafo a compreensão global da natureza.

A paisagem é simultaneamente uma realidade física e a representação que culturalmente fazemos dela, a

fisionomia externa e visível de uma certa porção da superfície terrestre e da perceção individual e social que gera.

É ao mesmo tempo, uma interpretação geográfica tangível e intangível, significante e significado, o contido e

conteúdo, o facto e ficção (Nogué et al., 2008).

Foi na Alemanha que as primeiras ideias acerca da paisagem despontaram enquanto objeto científico (Passos,

2003), pois da sua interpretação efetuada quase exclusivamente pelas artes e fundamentalmente pela pintura, vão

perdendo relevância e sendo substituídas pela cartografia e pela fotografia documental.

Podemos referir que a aceção clara e inequívoca da palavra paisagem, foi introduzida na literatura geográfica em

1805 por A. Hommeyeren (die landschaft), que se refere a esta como a soma de todas as localidades observadas

de um ponto elevado, e que representa a associação de localidades situadas entre as montanhas, bosques e outras

partes significativas da Terra.

Porém, foi com Humboldt que a Paisagem assumiu definitivamente um lugar concreto na análise sistematizada

na geografia através da introdução da sua discussão como conceito científico ainda no século XIX. Tendo-a

inicialmente definindo-a como “a totalidade das características de uma região do planeta” (Naveh e Lieberman,

1994). Humboldt vai ainda mais longe ao declarar que para lá da proximidade e reciprocidade na relação que se

estabelece entre um determinado território e os habitantes que nele interagem, a transformação do território em

paisagem resulta do facto do ser humano apropriar-se do que o rodeia através da observação e sobre isso,

construir uma imagem e uma identidade.

Cancela d’Abreu (Abreu et al., 2004) refere por seu turno que “ainda durante o século XX, autores de escolas

diversas consideram a paisagem como parte da superfície terrestre que pode ser observada no seu conjunto pelo

observador, mas ao longo deste século foi ganhando importância o conceito que a paisagem não se resume e um

quadro visual”. Efetivamente o modo como a paisagem era entendida enquanto cenário foi perdendo

gradualmente importância passando ser analisada e percebida relativamente à perceção estética e sensorial e

simultaneamente enquanto realidade ecológica, social e cultural (Batista, 2009).

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Para Dufrenne (2004, p. 24): “o belo é um valor entre outros e abre caminho aos outros, (… [e]) responde a

algumas de nossas tendências e satisfaz algumas de nossas necessidades”, ou seja, um valor não é apenas o que é

procurado, mas o que é encontrado, constituindo desse modo a estética um valor pré-estabelecido derivado do

Homem (Fernandes, 2009), logo, com um carácter cultural derivado de determinada sociedade.

Os Geógrafos culturalistas baseiam as suas ideias nestes pressupostos, em que as Paisagens possuem um

significado cultural, por exemplo, o solo sagrado funerário em várias culturas, ou seja, a paisagem não é vista

unicamente apenas como objeto físico, mas também como "formas de conhecimento" (Tobin e Liebhold, 2006)

possuindo desse modo uma perspetiva antropocêntrica (Balée, 2006).

Vários teóricos das ciências sociais como Vida de La Blache, Demangeon, Durkheim, Mauss adotaram uma

visão neolamarckiana (Hoefle, 1998) em que partindo do pressuposto de que as espécies adquirem hábitos,

transmitidos por descendência também utilizavam modelos evolutivos para explicar a estrutura da sociedade

industrial europeia e o relacionamento entre as regiões do mundo (embora evitassem o determinismo ambiental

opondo-se ao darwinismo). O principal contributo desta corrente para a Paisagem foi a sua consideração como

expressão do género de vida e cultura como hábito e adaptação ao meio, pois a partir das noções de “adaptação

ao meio”, presente na obra de Lamarck, e de “hábitos adquiridos pelo homem” que se estruturam categorias

como a “consciência coletiva” e a “sociedade”, de Durkheim (2010) e o “género de vida” de Vidal de La Blache,

em substituição do termo “cultura”, praticamente ausente para os Funcionalistas.

Para Vida de La Blache (1954), cada género de vida possui uma localização específica no espaço com uma

consequente adaptação ao meio, correspondendo desse modo a uma paisagem-tipo. Contudo para La Blache a

paisagem é comumente confundida com o conceito de região, embora encontremos o mesmo presente

implicitamente nas noções de forma (resumo dos diversos elementos em conexão, ao mesmo tempo causa e efeito

uns dos outros) e principalmente de fisionomia (a expressão da singularidade de cada localização).

Sendo um determinado território constituinte do espaço e constituído por uma paisagem que o caracteriza, deverá

o Estado impor o seu poder sobre o território conduzindo a apropriação do espaço geográfico através da

consideração e conhecimento de todas as características naturais e humanas do seu território para alcançar um

elevado nível de desenvolvimento. Para La Blache o Homem é senhor do seu destino pelo que poderia interferir,

modificar a natureza e ultrapassar os obstáculos impostos pelas condições naturais.

La Blache e outros geógrafos criticaram Ratzel, na medida em que ao contrário do determinismo Vidaliano, o

determinismo ambiental defendia que era a natureza que determinava as condições sociais, económicas e

tecnológicas de uma sociedade. Ou seja, as relações estabelecidas entre homem e natureza são historicamente

incertas e sem uma causa que a determine, oferecendo esta às sociedades humanas um conjunto de possibilidades

de transformação das paisagens.

Deffontaine (1973) propõe um conceito de paisagem que vem no seguimento do anteriormente referido em que:

“a paisagem é uma porção do espaço percetível a um observador onde se inscreve uma combinação de fatos

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visíveis e de ações das quais, num dado momento, só percebemos o resultado global”. Para Deffontaine, o estudo

da paisagem, é o ponto de partida para a análise sistémica dos factos, assimilando-a a uma “unidade territorial”

fisionómica e qualitativamente. Troll (1950) refere que a paisagem é como uma combinação dinâmica dos

elementos humanos e físicos, o que confere uma fisionomia muito própria ao território.

De destacar ainda Passarge (1922), que utilizou pela primeira vez o conceito de “fisiologia da paisagem”, Tuxen

(1932), que integrou uma abordagem geossistémica; Budel (1966), que consolidou os estudos de geoecologia e

ordenamento ambiental do espaço através das relações climatogenéticas; Kalesnik (1958), que propôs uma

metodologia para o estudo integrado dos processos circulares da matéria, transformações rítmicas, zonalidade e

continuidade da evolução da paisagem.

As ideias de paisagem cultural são atribuídas a Carl Sauer que publica em 1925 "The Morphology of Landscape"

(A morfologia da paisagem) (Sauer, 1998 [1925]), onde menciona que existe um objetivo claro para cada ciência,

pois “toda a ciência pode ser encarada como fenomenologia” (ibid., p. 13) e “qualquer que seja a opinião que se

possa ter sobre lei natural, ou nomotética, geral, ou relação causal, uma definição de paisagem como única,

desorganizada ou não relacionada, não tem valor científico” (ibid., p. 25), ou seja, a paisagem é definida como

uma área de interação entre cultura humana e ambiente não antrópico.

Tomando como exemplo a botânica que está para plantas e a geologia para as rochas, então a geografia deveria ter

como único objeto a “área”12

. Para Sauer, a paisagem é composta por uma área distinta de formas, simultaneamente

naturais e culturais. Ele afirma que a paisagem possui um contexto subjetivo que extravasa a forma de compreensão

puramente pela ciência, definindo-se igualmente por qualidade estéticas, na medida em que “[não] é simplesmente

uma cena real vista por um observador. A paisagem geográfica é uma generalização derivada da observação de cenas

individuais [...] O geógrafo pode descrever a paisagem individual como um tipo ou provavelmente uma variante de um

tipo, mas ele tem sempre em mente o genérico e procede por comparação (ibid., p. 24).

A partir destes pressupostos, Sauer defende um sistema geral de paisagens, dividindo-as em dois tipos: as

paisagens naturais e as paisagens culturais. As primeiras seriam constituídas por espaços onde a ação humana é

algo residual ou inexistente, enquanto as segundas seriam constituídas por aquelas onde a presença humana

enquanto agente da paisagem natural, impõe marcas específicas na paisagem. Ou seja, para Sauer, independente

da ação humana sobre o ambiente, as paisagens obtinham um resultado histórico (Kenzer, 1985).

Sauer crítica o determinismo ambiental, muito popular no início do século XX, assumindo antes a corrente

culturalista, o facto de que uma dada cultura é capaz de impor na sociedade um determinado modo de

pensamento. É através daquela que se condiciona o comportamento psicológico do indivíduo, a sua maneira de

pensar, a forma como percebe aquilo que o rodeia e como extrai, acumula e organiza a informação daí proveniente.

12 Para Sauerou os conceitos de área e de paisagem eram sinónimos.

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A perceção da paisagem na ecologia histórica difere de outras disciplinas, como a ecologia de paisagem. Os

ecologistas de paisagem atribuem a destruição da biodiversidade à perturbação humana acreditando em eventos

não cíclicos dos humanos e desastres naturais como influências externas (Balée, 2006), ao passo que os

Ecologistas históricos reconhecem que as alterações na paisagem derivam de múltiplos fatores que contribuem

para que a mesma evolua num estado em constante mutação em que os distúrbios são parte integral da história da

paisagem (Barnes, 2000).

A Ecologia histórica substitui o conceito da paisagem pelo de ecossistema, na medida em que enquanto um

ecossistema é algo cíclico e estático tentando regressar ao estado de equilíbrio, uma paisagem resulta de uma evolução

histórica de distúrbios sucessivos ao longo do tempo, não retornando ao estado de equilíbrio (Balée, 2006).

Deste modo, podemos afirmar que o pensamento culturalista de Sauer faz parte do Difusionismo pela forma

estritamente geográfica de pensar a cultura, a partir do estudo das marcas da ação do homem sobre as paisagens

na medida em que via a cultura como algo separado do indivíduo, mas diretamente influenciando as suas ações

(Hoefle, 1998).

Daí que para Matos (2010) o culturalismo é uma forma de pensamento que invoca a prevalência do papel da

cultura na construção de uma sociedade. Entende que cultura não se circunscreve à prática sociológica mas a

partir dos modelos inspirados na natureza, a reconstrução de determinada realidade, logo e segundo Miguel Reale

(2001), cultura constitui “o conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, o homem constrói sobre

a natureza, quer para modificá-la, quer para modificar-se a si mesmo”. Esta definição induz uma ambiguidade na

paisagem na medida em que remete para o conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, o

homem constrói sobre a natureza, quer para modificá-la, quer para se modificar a si mesmo, naquilo a que se

convencionou como a crise de perceção que mostra como o homem se afastou da realidade ao se dividir da

natureza e se considerar maior do que ela própria, como algo externo a nela; utilizando-a como forma de poder

sobre os outros homens.

O racionalismo lógico-matemático da geografia quantitativa da década de 1960, ignora a ambiguidade inscrita na

paisagem, reconhecendo-a antes como manifestação mecanicista da vontade humana, daí que na geografia

radical, a paisagem era percebida e analisada como uma simples manifestação física da formação

socioeconómica.

A partida dos anos 70 do século passado, a revolução quantitativa veio a sucumbir diante da realidade evidente

das crises que a humanidade começava a enfrentar, surgindo em contraposição uma geografia radical que afetará

o conceito de paisagem, interpretando-a na sua plena subjetividade e considerando a cultura como o conjunto de

valores, tradição e arte.

A influência do pensamento marxista na Geografia significou uma rutura com as ideias positivistas da ciência

geográfica. O espaço geográfico passa a ser visto como produto da reprodução do modo capitalista de produção,

tal como refere David Harvey “A questão do espaço não pode ser não pode ser uma resposta filosófica para

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problemas filosóficos, mas uma resposta calcada na prática social” (Harvey, 2000). Estamos perante uma questão

que revela a distinção de uma sociedade em que o espaço expressa no visual de sua paisagem a presença de um

metabolismo do trabalho centrado no processo da produção do valor-de-uso ou por outro-lado em que o espaço

expressa a subversão desse metabolismo pela conversão do uso do valor-de-uso em meio de produção de valor-

de-troca (Moreira, 2004).

É inspirada nesta perspetiva que Tuan (1967) tendo como suporte a fenomenologia, refere que existem duas

formas de leitura dos conceitos geográficos sobre a paisagem: sobre os processos físicos que ocorrem na Terra, e

os processos das “humanidades” relacionado acerca da ação do homem como agente sobre a natureza. Este

segundo aspeto ganha especial relevo na análise da paisagem, na medida em que as marcas simbólicas impostas

na paisagem pelo homem, foram totalmente negligenciadas (Tuan, 1979).

Na geografia humanista, o conceito de cultura é gradualmente preterido pelos valores, crenças perceções e

preferências, acerca do espaço, analisando-se a paisagem a partir da sua interação com pequenos grupos

valorizando-se desse modo, as paisagens dos artistas da literatura, da pintura, da arquitetura e do design (Bunkse,

1978, Rees, 1978). Logo as paisagens “culturais” são vistas enquanto mero valor simbólico, artístico ou moral

(do sujeito coletivo) perdendo o seu aspeto material estrito (marcas do ser humano no espaço induzidas pela

cultura). Em termos de lógica espacial, o “lugar” ganha muito mais relevância relativamente à paisagem

propriamente dita, que acaba por constituir um conceito de menor importância na geografia humanista.

Benjamin (1985) e Adorno e Horkheimer (Duarte, 2002), vertiam visões diferentes da importância que, a cultura

assumia junto com as demais esferas da vida e nesse sentido exploravam o significado social subjacente da

produção cultural e da cultura de massa e as relações desta com a manutenção do status quo.

Lacoste (1977), vai pegar nestas ideias de cultura de massa e numa perspetiva marxista volta a dar relevo ao

conceito de paisagem, influenciando outros autores como Ronai (1977), Giblin (1978), Sautter (1979), Collot

(1986), Cohen (1987), que percebem a paisagem como espetáculo e como parte da cultura de massa, em filmes,

anúncios publicitários e cartazes turísticos (Foucher (1977), Janin (1977) e Collin-Delavaud (1977).

Estes autores referem de uma forma geral que este modo de ver a paisagem, resulta numa abstração que dificulta

o seu estudo objetivo, pois estamos perante uma “paisagem real”, mas antes, perante uma “paisagem-tipo”,

apesar das críticas que referem que a paisagem real esconde e dilui no espaço os conflitos do sistema capitalista

dando uma ilusão de harmonia.

Em 1990, Lacoste publica o livro Paysages politiques, promovendo uma discussão profunda acerca das origens

da paisagem. Retomando a evolução do conceito, refere que o conteúdo estético primado no renascimento

presente nas telas dos pintores desse período não promovia a paisagem “real”. Lacoste refere que o interesse pela

paisagem “real” só se formou nos finais do século XIX, com o surgimento da fotografia, ou seja, percebe-se que

a paisagem como objeto está condicionada à visão, à localização, às técnicas e ao modo de entender da perspetiva

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do observador. Lacoste sugere também que existe uma valorização desmedida e não admitida do sentido estético

da paisagem, que em muitas observações se encerra na mera noção do belo.

A relevância da cultura no saber geográfico e a sua influência na conceção do conceito de paisagem são

assumidas por Cosgrove em torno da definição de uma “geografia cultural radical”, inspirada no materialismo

histórico e calcada nas paisagens simbólicas e no conceito de formação socioeconómica (Cosgrove 1996 1998),

naquilo a que se veio a designar por nova geografia cultural.

Nesta corrente de pensamento, a forma de perceber e representar uma paisagem constitui necessariamente uma atitude

ideológica ligada a uma rede de interesses e a uma estratégia de dominação essencialmente ocidental. A paisagem

assume-se como uma abstração, não existindo per se na medida em que fazendo parte da “realidade”, possibilitada

variadas formas de produção, manipulação e contemplação num processo contínuo, permanentemente inacabado, sem

distinção entre a paisagem real daquela que seria mera representação individual.

Autores como Certeau (1990) e Lefebvre (1981), referem que a paisagem real e a paisagem representada

complementam-se e interagem entre si nas suas aceções ideológicas e culturais, que segundo Cosgrove (2000b),

são apropriadas por determinado(s) grupo(s) para a manutenção do seu poder/status/hegemonia (“paisagens da

cultura dominante”), pois, cada (sub)cultura possui paisagens correspondentes, mesmo que sejam simplesmente

paisagens imaginadas, de fantasia e inclusive extraterrestres(Cosgrove; Jackson, 2000 [1987], Daniels e

Cosgrove, 1987, Cosgrove, 2000a).

Então esta ideia de paisagem antes de tudo como elemento imaginado implica que a cultura seja um elemento

alienado e desse modo funcionando através do Homem numa constante reprodução das sociedades, apreendida

em momentos claros e particulares, cabendo ao cientista interpretá-los, impedindo desse modo uma análise crítica

imparcial (Geertz, 1973; Clifford e Marcus, 1986). Por isso não é possível uma neutralidade na leitura da

paisagem. O real exposto na dimensão do mundo é pleno de significações consolidadas por uma cultura

tendenciosa aos anseios de cada grupo social (Fernandes, 2011).

A paisagem dada a sua condição no espaço que é ao mesmo tempo produzido, contemplado, interpretado e

muitas vezes consumido depende da interação individual e coletiva para a sua existência. Telles (1994) atribui

especial ênfase à dimensão cultural na evolução da paisagem referindo que “a continuidade cultural e histórica

dos povos e o seu futuro tem por base uma paisagem e a sua constante valorização”. Daí que o mundo seja

constituído por um conjunto de paisagens que modificam de significado, de acordo com a escala temporal e

histórico-cultural da sociedade.

Berque (1994) tem uma definição de paisagem tão polissêmica embora mais materialista do que a de Cosgrove e

que parece sintetizar muitas das abordagens anteriores sobre a paisagem revendo-se nesta definição na medida em

que para este autor as paisagens e as culturas são marcas e matrizes de civilizações, ou seja, a paisagem, a partir da

materialidade de determinada civilização traduzida nas formas de perceção e apropriação do espaço, ou seja, a

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cultura apreendida por uma consciência, valorizada por uma experiência, julgada e eventualmente reproduzida por

uma estética e por uma moral, numa abstração que reside na interação complexa entre sujeito e objeto.

Nos últimos vinte anos, o conceito de paisagem tem sido abordado na Geografia nas suas vertentes da Geografia

humana, próxima da Geografia cultural e da Geografia Física, próxima da ecologia da paisagem. Este facto

demonstra o carácter polissémico do seu estudo, embora exista uma concordância no reconhecimento que apesar

da base morfológica do espaço, expressa no evoluir geológico e geomorfológico, o Homem, através do materialismo

histórico, incute características específicas de acordo com a identidade cultural de determinada sociedade.

Metzger (2001) sugere assim uma definição integradora de paisagem, pois considera-a como um mosaico heterogéneo

formado por unidades interativas, de acordo com um observador e numa determinada escala de observação. Esta

definição evidencia a escala e o nível biológico como dependentes do observador e do objeto de estudo, possibilitando

desse modo a integração da heterogeneidade espacial e do conceito de escala na análise Fernandes (2009).

Nessa perspetiva, Roger (2000) propõe a teoria da «artealisation», neologismo inspirado nas ideias de Montaigne

para explicar a invenção da palavra paisagem (Maderuelo, 2008). Para este autor, existem dois modos de

artealizar um território de modo a transformá-lo especificamente em paisagem. O primeiro consiste em inscrever

diretamente sobre o espaço natural o código artístico na materialidade do local, ou seja, artealiza-se in situ,

expressa na arte milenar dos jardins, o landscape gardening do século XVIII, e o Land art mais atualmente. O

outro modo resulta de uma artealização, in visu, trabalhando-se sobre o olhar coletivo, fornecendo modelos de

visão, esquemas de perceção e de fruição.

Segundo esta teoria, o conceito paisagem teria resultado de um processo de instauração do espaço territorial -

país como objeto de arte: país-age expressa então a construção de pintores e escritores que reconhecem o país

como objeto de contemplação e de espetáculo, tal como Bernaldez (1981) que tem em consideração apenas o

lado artístico da paisagem, nomeadamente: Pintura ou desenho que representa certa extensão de terreno e porção

de terreno considerado em seu aspeto artístico, com um significando intrínseco de leitura artística da natureza ou

do meio ambiente (Joseph, 1998).

Merleau-Ponty (2002) enfatiza o papel da pintura defendendo uma interação entre a arte e a representação pictórica do

mundo. Neste ponto de vista o pintor configura uma paisagem plena de subjetividade assumindo-se como o indivíduo

que visualiza a paisagem, percecionando e assimilando em primeiro lugar os objetos dispostos no espaço.

A paisagem nesta perspetiva afasta-se daquilo que é inerente à cultura, permitindo, desse modo, possibilidades

múltiplas e arranjos que permitem uma compreensão mais global e integradora da realidade, pois tal como refere

Fernandes (2011): “não há paisagem desprovida da verdade do olhar, ferindo sempre o real, que considera a

construção do espaço”.

Alguns autores como Berque vão ainda mais longe considerando que antes da existência da palavra paisagem,

não havia paisagem; é a palavra que cria a sensibilidade o que quer dizer que as sociedades não teriam

sensibilidade para a reconhecerem, percecionarem e produzirem paisagem (Berque, 1998).

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Da amálgama de perspetivas e visões cientificamente fundamentadas que ao longo das últimas décadas têm vindo

a proporcionar um entendimento formal e concreto acerca do valor e alcance do conceito de paisagem, não

podemos deixar de referir a assertividade do conceito avançado por Cacela d’Abreu (et al, 2004) quando se

referem que a “paisagem é um sistema dinâmico, onde os diferentes fatores naturais interagem e evoluem em

conjunto, determinando e sendo determinados pela estrutura global, o que resulta numa configuração particular,

nomeadamente de relevo, coberto vegetal, uso do solo e povoamento, que lhe confere uma certa unidade e à qual

corresponde um determinado carácter”, daí resultando uma “figuração da biosfera [furto] da ação complexa do

homem e todos os seres vivos – plantas e animais – em equilíbrio com os fatores físicos do ambiente” (Cabral

2001: 1294), formando um conjunto de interação e interdependência com as especificidades culturais de

determinada sociedade, num determinado tempo específico.

Deffontaines, numa abordagem científica e não científica do conceito de paisagem, refere que enquanto do ponto

de vista científico, a paisagem é vista como a relação entre todos os elementos que a compõem, no senso comum,

a paisagem é vista como algo estático, como a externalidade de elementos sociais e naturais representados num

quadro. Este conceito é expresso pela figura seguinte:

Figura 5 - Representação (teórica) gráfica da ontologia de paisagem proposta por Lepczyk et al., 2008)

1.3 – Interdependência de conceitos

Os modernistas tendo sempre presente a construção de um projeto social viam o espaço como algo a ser moldado

para esse fim, ao passo que nas formulações pós-modernas a ideia passa somente por ser sensível às tradições

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vernaculares, às histórias locais, aos desejos, às necessidades e às fantasias particulares, gerando apenas formas

especializadas (Harvey, 1999: 69).

Esta diferença de se perceber o espaço, referida por Harvey, sintetiza a dualidade que marcou as conceções teóricas e a

significância dos conceitos geográficos, nas mais variadas ciências que a eles vão beber, sobretudo na contraposição

entre os adeptos de uma visão difusionista daqueles que defendem de uma visão territorialista do espaço.

Na perspetiva difusionista o espaço é entendido como espaço social e os recursos como recursos mobilizáveis

pelos atores, que se transformam em fatores de desenvolvimento apenas e quando há capacidade de emergência

de protagonismos que permitem operacionalizá-los. [em oposição aos] territorialistas para quem está igualmente

em causa, uma noção de região que não é apenas uma partição tecnicamente justificada de um território nacional,

mas uma unidade de sentido definida pela existência de laços de pertença.

Daí que para Therkelsen (Therkelsen et al., 2004) os territórios possuem identidades com atributos endógenos

imbuídos de especificidades regionais funcionais, sociais e simbólicas, que através da sua dimensão constituem a

base processual construtiva da imagem e a marca desses espaços, consolidando e valorizando dessa forma a

identidade territorial, através da promoção identificação e envolvimento com os stakeholders e distinguindo-a

simultaneamente de territórios concorrentes.

Segundo Hakansson (Hakansson et al., 2003), o valor que um determinado território possui depende então do

modo como se combina nele um conjunto de recursos e os utiliza conjuntamente com outros. Deste modo, um

território, poderá então ser comparável a uma qualquer empresa ou organização, onde o valor dessa organização

irá depender da forma como os recursos são combinados e utilizados no seu interior. A rede de relações existente

numa região, será igualmente extremamente importante na perceção e no condicionamento dos atores que se

movimentam e atuam no território, tornando-se essa rede também um recurso da região.

Para Bathelt e Gluckler (2003: 121-122) as regiões são entidades socialmente construídas, dependentes de

condições e realidades, económicas, sociais, politicas e culturais sob as quais operam e interagem pessoas em

empresas e organizações. A globalização e a consolidação cada vez mais evidente de uma economia do

conhecimento, colocam desafios complexos para as regiões, que não conseguem controlar fluxos de variadas

ordens (nomeadamente, socioeconómicos, do conhecimento, etc.), configurações (espaciais) e intensidades

(fluxos de rede). Torna-se então necessário a compreensão do «rescailing» territorial, tal como refere Brenner

(2004) a diferenciação e hierarquização de escalas geográficas e da estruturação sócio-espacial do território.

Assim, com o desenvolvimento territorial surgem igualmente outras preocupações com as políticas mais

adequadas de promoção regional numa perspetiva em que as regiões (a partir das suas relações e conexões com

outras unidades territoriais) comportam-se como espaços ‘não limitados’ (unbounded) e porosos (Pike, 2007).

Haesbaert (2004) reconhece quatro amplas perspetivas, assim caraterizadas: (a) as conceções materialistas, nas

quais o território é entendido como um objeto material e, mesmo se concebendo a sua determinação por relações,

é visto como um produto definido, consolidado; (b) as conceções idealistas, que vêm o território a partir a partir

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da ação de sujeitos e comunidades; (c) as conceções que integram as diferentes dimensões do social e acolhem as

objetivações delineadas pelas abordagens materialistas e idealista; e incluída neste último grupo, (d) a conceção

relacional que compreende a articulação entre os processos sociais e o espaço material, nas quais o território é

entendido primordialmente como uma relação do que por facto consolidado.

O mesmo autor entende território como elemento de múltiplas formas e dimensões, numa dualidade concreta

indutiva e uma simbólica subjetiva, onde o espaço natural acaba por ser dominado e transformado “... sempre e ao

mesmo tempo, mas em diferentes graus de correspondência e intensidade, [em que] uma dimensão simbólica,

cultural, através de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais, como forma de ‘controlo simbólico’

sobre o espaço onde vivem e uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar: a apropriação e

ordenação do espaço como forma de domínio e disciplinarização dos indivíduos” (Haesbaert, 1997: 42).

Para Tertulian (2004: 7), “se a essência do homem se define com a totalidade das relações sociais, então a

realização e a libertação do género humano estão indissociavelmente ligados à transformação do mundo”, sendo

apenas possível compreender o sentido de adequação não das relações sociais na natureza através do

conhecimento das especificidades sociais nas no processo dialético histórico (classes, grupos sociais, etnia,

género, família, comunidade, região, Estado, relações de apropriação e produção, etc.).

Esta visão integrada do Homem no espaço é inspirada no preconizado por John Donne (1572-1631), quando

referia que “nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do

todo”13 , tal como é evidenciado por Jakob (2004) quando refere que é sempre um indivíduo que faz a

experiência da paisagem, emergindo esta em forma de experiência consciente de ordem estética de dentro de e

para um sujeito que reencontra a natureza desinteressadamente, sem conceito e sem referências anteriores, ou

seja, “uma paisagem é tanto o que se vê, como o que é sentido diferentemente pelos homens” Bruneau (1973).

Berque (2006) refere a importância da perceção e da emotividade na apreensão da paisagem, ao sugerir que uma

paisagem é inventada no tempo que dura uma emoção, “a partir de um espaço concreto, de uma porção de país,

as paisagens não existem sem o nosso olhar, elas dependem da nossa sensibilidade e da nossa cultura”.

Tizon (1996) relacionou alguns conceitos utilizados com o sentido de articulação emotiva: espaço social, espaço

de vida e espaço vivido, espaço imaginado, território do quotidiano. A estes se pode acrescentar lugar, espaço

geográfico e região. Contudo, a condição territorial, não se manifesta do mesmo modo no espaço ou num lugar,

porque dialeticamente, as diferentes formas que o espaço pode assumir podem estar presentes na mesma extensão

ou localização (Pereira et al., 2010), enquanto o lugar é o suporte da identidade cultural, pois “influencia, até

mesmo constrói, tanto subjetivamente como objetivamente, identidades culturais e sociais” (Bossé, 2004: 166).

13

No original: “No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by

the sea, Europe is the less...any man's death diminishes me, because I am involved in mankind... Perchance he for whom this bell tolls,

may be so ill, as that he knows not it tolls for him; and perchance I may think myself so much better than I am, as that they who are about

me...may have caused it to toll for me...and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.”

Page 36: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

35

Foi na construção destas identidades culturais e sociais que inicialmente se agregaram em torno de uma

uniformidade espacial as regiões formais; ou seja, áreas geográficas dotadas de relativa homogeneidade de

acordo com determinado atributo ou variável, abarcando as caraterísticas físicas, mas também os aspetos de

ordem económica política e social dentro de certos limites (Simões Lopes, 1995). Mais tarde, esta conceção das

regiões uniformes evoluiu no sentido de se considerar o funcionamento das regiões no sistema procurando-se as

regiões funcionais, tendo por base as relações de interdependência associadas à natureza e intensidade das

interações de ordem económica, que expressam uma dada territoriedade quando partilham de características

uniformes Richardson (1975).

Robert Sack (1986) refere neste sentido uma territorialidade que implica uma relativa inseparabilidade das dimensões

daquilo que é Humano e que derivam da função básica de comunicar, classificar e fortalecer o poder, presentes em

todas as sociedades, desde as primeiras civilizações, tendo induzido variadas formas de se perceber a paisagem.

A paisagem concebida assim impõe uma subjetividade na perceção, a que Merleau-Ponty (2002: 119), refere que

“jamais veríamos uma paisagem nova se não tivéssemos, com os nossos, olhos, o meio de surpreender, de

interrogar e de dar forma a configurações de espaço”, ou seja, todas as memórias coletivas desenvolvem-se num

quadro espacial, porque o que dá unidade ao espaço são as suas características e a natureza das relações de

interdependência que se geram (Simões Lopes, 1995).

Em termos etimológicos ambos os conceitos são semelhantes Espaço (do latim spătĭum) – Lugar ou extensão

mais ou menos delimitado; área geográfica; Lugar (do latim locālis) – sítio, local, povoação, localidade

(Dicionário da Língua Portuguesa, 2009) e apontam para o mesmo significado, mas na epistemologia geográfica

têm interpretações complementares.

Rullani (1997) compreende lugar como território e, ao mesmo tempo, um enraizamento/identidade e conexão,

redes entre lugar e outros lugares. O território e as territorialidades são fruto e condição de fluxos e enraizamento,

poder, remetendo para a relação tempo-espaço-território, envolvendo assim materialização espacial da sociedade

e a dinâmica da natureza exterior ao homem (Saquet, 2005).

Pois tal como refere Lacour (1996) é da conjugação de fatores resultantes da evolução e desenvolvimento das

sociedades humanas, nomeadamente: cultura, memória coletiva, regulações políticas e institucionais, que os

desempenhos dos territórios são explicados, como espaços de intermediação de trajetórias múltiplas, suportadas

em “múltiplos genes que permitirão ou não uma certa dinâmica, uma coesão, uma tomada de consciência e de

poder” (ibidem, 1996: 35).

Podemos referir que estes conceitos existem no território, não sendo este percebido pelo Homem sem a sua

apropriação de ambos os conceitos. Tuan (1983) refere que os significados de ambos os conceitos fundem-se

frequentemente, na medida em que ambos não podem ser compreendidos um sem o outro. Segundo o mesmo

autor, aquilo que começa como um espaço indiferenciado, transforma-se à medida que o definimos e o dotamos

Page 37: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

36

de valor e significado num lugar. Tuan define os lugares como “centros aos quais atribuímos valor e onde são

satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação” (ibidem: 4).

Para Zevi (2009) o espaço constitui a “instauração de uma espacialidade no mundo por um corpo polarizado por

suas tarefas” (Oliveira, 2002), ou seja entende-se na relação que se estabelece entre estes dois conceitos que o

lugar é o espaço ocupado, ou seja, habitado, uma vez que na sua definição surge a associação a povoação,

localidade e região.

Lefébvre (2008) entende o espaço geográfico como produção da sociedade, definindo quatro abordagens do

conceito de espaço:

Espaço como forma pura, (ligado a Platão, Aristóteles, Kant);

Espaço (social) como produto da sociedade (visão empirista de Durkheim e Vidal La Blache);

Espaço como instrumento político e ideológico, resultado da reprodução do trabalho pelo consumo (visão

de Castells);

Espaço socialmente produzido, apropriado e transformado pela sociedade. É a própria posição de

Lefébvre.

Já para Raffestin (1993), o espaço existe antes do território, na medida em que constitui o suporte e matéria-

prima da criação do território. Por outro lado, um território, não exprime um espaço, mas antes um elemento

construído pelos indivíduos e suas relações individuais e coletivas que o apropriam, expresso e organizado

segundo os seus objetivos e interesses, daí que o território possui sempre um enquadramento de um poder num

determinado contexto e escala espacial.

Para Correa (1982) é neste contexto, que o elemento humano existe, dotando o espaço de significado e valor em

função da presença do homem, na procura da satisfação das suas necessidades e desenvolvimento das suas

atividades, ou seja, o espaço é algo absoluto, relativo e relacional.

O espaço também assume uma dimensão espiritual, fruto da visão do homem sobre a natureza que o rodeava, de

atribuir a divindades a justificação para tudo aquilo que não conseguia explicar fisicamente. Eliade (2010) aborda

esta questão, indicando que o homem espiritual vê o espaço na dualidade de sagrado e profano. Uma visão do

território habitado, (o mundo conhecido), dividido entre o território sagrado (Cosmos), e o território profano (o

espaço indeterminado que cerca o primeiro).

Esta “luta” do homem pela apropriação do território é vista por Vidal de La Blache como um processo de

dualidade de forças em que o fator geográfico de primeira ordem (Homem) é ao mesmo tempo dominador e

dominado pela natureza. A ação do homem seria algo contingente, ou seja, ele escolheria onde, quando e como

agir, assumindo esta diversidade como sinónimo de adaptação e caráter, ou seja, o espaço de representação de

Lefébvre. Este autor destaca a este nível três tipos conceptuais de espaços sociais (Lefebvre, 2008):

Page 38: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

37

Espaço concebido, constituindo a base do poder dominante do modo de produção) e da ideologia (quem

planeia as formas de poder);

Espaço percebido, ligado às práticas espaciais e da experiência corpórea, (relação dialética entre a

produção e reprodução social com o espaço) e;

Espaço vivido. É o espaço de representação unificador da experiência e cultura, corpo e imaginário de

cada indivíduo.

A visão de espaço social modificado pelo homem também está presente em Raffestin (1993), segundo o qual é

pela apropriação do espaço (material) que o território é percebido e construído. Contudo, Espaço e Território não

são termos equivalentes, pois “(...) o espaço caracteriza-se, entre outras coisas, pela diferença de idade entre os

elementos que o formam” (Santos, 2006: 210), logo o território é formado a partir do Espaço e não o contrário,

possuindo este um caráter social e natural ao mesmo tempo (Santos, 2007).

Ao dotar o lugar de carácter, dando-lhe uma estrutura, formas e normas, interpretando-o para nele poder habitar o

homem colocava-se numa posição central no universo, num ato simbólico de repetição da organização do caos

pelos Deuses (Eliade, 2010).

Segundo Moreira (2006), o espaço é o resultado da profunda transformação relacional e histórica do ambiente

para adequá-lo às necessidades da aglomeração, e para transformá-lo em habitat e identidade da população e da

ação direta das atividades humanas. Daí que a ação do ser humano, ocorre num espaço que se revela na

paisagem, a qual dá forma à própria ação. A relação sinérgica resultado da dicotomia sociedade-natureza propicia

perceções próprias e vincadas das especificidades territoriais que resultam identidades paisagísticas associadas a

conteúdos cénicos naturais.

A relação sociedade-natureza desenvolve-se num meio progressivo e dinâmico, onde em cada momento histórico,

cada sociedade determina as caraterísticas do seu território que, por sua vez, o revela através da paisagem de um

determinado lugar.

Neste sentido, se um lugar pode ser definido como identidade, relacional e histórica, um espaço que não assuma

estas características definirá um não-lugar” (Augé 1994). Augé defende a hipótese que a pós-modernidade é

produtora de não-lugares, espaços de apropriação do ser humano, por si alterados, mas que ao mesmo tempo não

possuem a capacidade de serem considerados como elementos efetivos dos indivíduos e comunidades,

constituindo uma espécie de qualidade negativa do lugar, de uma ausência do lugar em si mesmo (Certeau,

1990), na emergência a que Harvey (Harvey et al., 1994) designou por “acumulação flexível”, a valorização do

efémero, do fugidio (Braga, 2007).

O não-lugar ou “um espaço sem lugar” na perspetiva da pós-modernidade (Featherstone, 1995), assume então um

caráter relacional, podendo conduzir à dissolução das identidades culturais, em que “quer na esfera coletiva quer

na individual se verifica uma crescente dificuldade e complexidade para a definição da (própria) identidade”

(Azevedo, 1992).

Page 39: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

38

Esta dissolução assume uma complexa definição ideológica, na medida em que as divisões do espaço são,

simultaneamente, produto e fator das divisões de uma determinada sociedade (Marcuse e Kempen, 2003), com

um enquadramento em tudo semelhante aos pressupostos da «ecologia do medo» referido por Mike Davis (1999),

induzindo um fracionamento multidimensional dos territórios, conectado com as forças que sobre ele atuam.

Este fator é de extrema importância já que o contexto de criação de áreas protegidas passa pela apropriação

desses espaços como algo intimamente associado com fortes ligações afetivas às comunidades locais, pois “a

partir do momento em que a modernidade é entendida como um fator de agressão à natureza, uma parte do

território é votada a funções de reparação” (Berlan-Darqué e Kalaora, 1991: 189).

A postura de conservação, quer das comunidades locais, quer de técnicos, visitantes, da opinião pública em geral,

só se efetiva (no caso por exemplo de uma área protegida) se assumir como um lugar definido como identidade,

relacional e histórica, tal como refere Augé: “O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem

relação, mas sim solidão e similitude” (Augé, 1994: 95).

A apropriação do conceito de lugar resulta pois da interação do Homem enquanto fator existencial no território

com o espaço onde se situa e a comunidade onde se insere, gerando-se valores culturais enquanto manifestação

do habitat social e natural, “de modo que, sem espaço, não há sociedade, pois o espaço é uma necessidade

incontestável do ser humano” (Machado e Saquet, 2011), tal como se pode verificar na figura 6:

Para Saquet (2005) independentemente da época, corrente e autor existe alguns aspetos centrais na definição e

modo de ver o território: as redes de circulação e comunicação (movimento); as relações de poder, dominação e

subordinação que se cristalizam no âmbito da economia, política, cultura e da natureza (movimento), e a

formação de identidades locais/enraizamento/ligação/lugar (movimento), que no seu conjunto determinam os

aspetos das atividades humanas passiveis de serem planeadas e ordenadas no território numa perspetiva de

alcance de um desenvolvimento sustentado.

Orientação

(Localização)

Espaço

Quadrimensional

Homem

Fator existencial

Lugar Manifestação do habitat

humano

Comunidade

Fator social

Identificação

Caráter

Perceção e simbolismo

Apropriação

Figura 6 - Esquematização da apreensão do conceito de Lugar. Adaptado de Norberg-Schulz (1980)

Page 40: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

39

O homem organizado em sociedade apropria-se do espaço gerando território e desse modo imprimindo

configurações na paisagem, sendo esta última, tal como refere Saquet (2003), uma manifestação da

processualidade histórica da formação de cada território.

O termo território deriva do latim territōrium, isto é, terri (Terra) e torium (pertencente a), sendo originalmente

utilizado para denominar as cidades-estado Gregas. O seu significado intrínseco remete para as questões de

espaço e para as relações de poder exercidas sobre este, independentemente da natureza, social, económica,

geográfica ou outra (Johnston e Araújo, 2002) e nessa perspetiva, entende-se que o valor endógeno de um

determinado território é resultado, da articulação do potencial isolado dos seus recursos conjugados com a

dinâmica de poderes e relacionamentos e dos fenómenos de rede, capazes de potenciarem o conhecimento

impulsionado pelos atores territoriais. De facto, o termo território surgiu com uma conotação dupla, ao mesmo

tempo material e simbólica, uma vez que etimologicamente surge próximo da já referida derivação latina terra-

territorium assim como da derivação terreo-territor (terror, aterrorizar), relacionado com dominação (jurídico-

política) da terra e com a gerar terror, medo – numa perspetiva de dominação (Haesbaert, 2004).

A corrente determinista tem uma visão do que é o território muito aproximada do referido no parágrafo anterior,

pois assume que o território “é sempre localizado no mesmo lugar do espaço fornecendo um suporte rígido para

as inconstantes aspirações dos homens, e quando eles esquecem que esse substrato os faz sentir a sua autoridade,

lembra-los através de terríveis advertências que a vida do Estado está enraizada na terra” (Ratzel, 1988: 202).

Ou seja, para Raztel o território não é mais do que o espaço apropriado e ocupado por um grupo social ou pelo

próprio Estado, constituindo a base de sustentação deste, pois o estado enquanto organização necessita desse

substrato enquanto condição para existir, pois é nele que ocorrem os recursos que sustentam as sociedades.

Os territórios para os deterministas são normalmente “senso lato” identificados como limites espaciais estáticos e

como fronteiras administrativas rígidas, indutora de uma visão inflexível geradora de políticas de gestão dirigidas

para os limites territoriais encarados desse modo, em que o meio é que condiciona os modelos de

desenvolvimento humano e os modelos espaciais de organização territorial.

Em oposição à corrente determinista encontramos a escola possibilista francesa com especial destaque para a

Geografia Cultural, onde a noção de território é secundarizado em detrimento dos conceitos de organização espacial e

de paisagem, desempenhando a Cultura (num contexto global de rápidas mudanças económico-sociais), um papel

condicionador do modo de apropriação do espaço geográfico e em consequência da criação de territórios.

Daí que a imagem que obtemos da realidade acaba por ser distorcida na medida em que se assume um território

que socialmente se desenvolve através de uma coesão social perfeita. Então, se o território, funcionar como

catalisador de um conjunto de interações necessárias ao crescimento económico e à mudança estrutural,

fundindo-se na diversidade e na unidade das relações intrínsecas com as sociedades, nas redes e suas

configurações, heterogeneidade e homogeneidade, desigualdades e diferenças, numa dinâmica relacional

agregadora resultando territórios de apropriação.

Page 41: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

40

Dematteis (1995) apresenta neste sentido uma abordagem relacional, assumindo também uma definição muito

semelhante à de Vázquez Barquero, na medida em que o território inclui elementos económicos, culturais,

políticos e naturais: ambiente, formas espaciais e relações entre sujeitos. Demonstra igualmente a conexão e

integração entre diferentes lugares, abordando transformações e permanências territoriais do desenvolvimento,

sem reduzir contudo o local a uma parte nem o global à soma de partes, mas antes interagindo, uma vez que que

os sistemas locais respondem de diferentes modos às forças globais.

Por isso e segundo Saquet (2003: 24) “um território não é construído e, ao nosso ver, não pode ser definido

apenas enquanto espaço apropriado política e culturalmente com a formação de identidade regional e

cultural/política. Ele é produzido, ao mesmo tempo, por relações económicas, nas quais as relações de poder

estão presentes num jogo contínuo de dominação e submissão, de controlo dos espaços económico, político e

cultural. O território é apropriado e construído socialmente, fruto do processo de territorialização”.

Para Correia (Correia et al., 2007) nesta forma de se perceber o território tem-se vindo a assistir atualmente a

uma introdução crescente e dinâmica de elementos relacionais na definição e caraterização de território que fez

emergir a proclamada “geografia relacional” (Storper, 1997; Dicken et al., 2001; Bathelt e Gluckler, 2003; Boggs

e Rantisi, 2003; Yeung, 2005). Esta dinâmica resulta naquilo que podemos designar por uma ecologia própria,

aproximada dos modelos de rede e com uma dimensão territorial espacial e temporalmente bem definida, assim

como o conhecimento gerado no território, que Bonnemaison (1999) denomina como território-portador.

Para este autor, as sociedades e os indivíduos são inerentes ao princípio de territorialização, pois expressam no

espaço e no tempo especificidades étnicas, culturais e sociais. Ou seja, só é possível a compreensão dos

territórios, dos lugares e da paisagem através do domínio cultural em que estão inseridos, daí existir uma

correspondência “entre os homens e os lugares”, entre “uma sociedade e sua paisagem […] carregada de

afetividade e [que] exprime uma relação cultural” (ibidem: 91).

Nesse sentido a natureza dinâmica e relacional que os lugares ocupam, de determinar os usos vocacionais do

território, assim como a sua posição competitiva, permite-lhes desempenhar um protagonismo estático no

desenvolvimento histórico das sociedades (Elizagarate, 2006).

Segundo Lefebvre “o uso [do território] reaparece em acentuado conflito com a troca no espaço, pois não implica um

movimento de “propriedade”, mas sim de “apropriação”. Quanto mais o espaço é funcionalizado, mais é dominado pelos

“agentes” que o manipulam tornando-o unifuncional, logo menos disponível se presta à apropriação (Lefebvre, 1986).

Esta apropriação resulta de um espaço-processo, ou seja, um espaço socialmente construído, na linha de

pensamento feita por autores como Raffestin (1993) sobre a distinção entre espaço e território. Nesse sentido o

espaço referido por Lefebvre é “um espaço-território” constituído através dos processos de apropriação (iniciado

pela apropriação da própria natureza) e dominação (mais característica da sociedade moderna), pois o que existe

na realidade não é mais do que uma conjugação de diferentes escalas geográficas ligadas em rede. De facto “os

Page 42: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

41

espaços cruzam-se com tantos outros espaços que se torna muito difícil dizer que eles estão verdadeiramente

concentrados numa única localização” (Amin e Thrift, 2005).

Esta relação que envolve apropriação, domínio, identidade, pertença e demarcação são caraterísticas

fundamentais do processo da conceção e desenvolvimento de determinado território Heidrich (2004). Desde que

a humanidade se foi sedentarizando em núcleos uniformes culturais de organização complexas, a ocupação do

espaço envolveu a manifestação de um princípio de territorialidade. O território é pois, uma produção a partir do

espaço que se inscreve num campo de poder.

Gomes (2008) alerta para o facto de que, nas referências ao espaço muitas vezes evidencia-se uma alusão com a

superfície, ou seja, ao espaço concreto. Daí que o autor sugira que devemos assumir antes uma referência de

“espacialidade”, pois abarca o conjunto de objetos e situações organizadas no espaço e o suporte onde se

distribuem os indivíduos e se executam as suas ações, de modo a se compreender o porquê do lugar, o porquê do

onde; o que de certa forma explicaria a localização e a distribuição dos elementos no espaço (Costa, 2009:112).

A apropriação do espaço-território referida por Lefebvre, utilizou a paisagem como veículo “publicitário” da

construção identitária sociocultural de determinada sociedade, sobretudo evidenciado no período Romântico, com

o crescimento de fortes aceções identitárias regionais. Fundamentalmente partindo de uma Europa colonialista, a

procura vincada das fronteiras físicas e políticas, era de suma importância para a imposição territorial dos

Estados-regiões, num contexto de supremacia face à disposição de recursos naturais.

Sposito (2003) refere a este respeito que "as “fronteiras e limites” do território estão relacionados com “os

objetos construídos sobre o território, (…) e com atividades de exploração e comercialização de recursos existentes,

estabelecimentos de novos usos e substituição dos anteriores”, ou seja, estamos perante aquilo que carateriza e

simboliza determinada paisagem, pelo menos a sua parte visível, concebida e moldada pela sociedade.

Deste modo, a paisagem assimila o território mas não constitui o mesmo território, sendo antes uma manifestação

da sua processualidade histórica (Machado e Saquet, 2011).

Podemos então afirmar que o território, imerso em relações de dominação abstrata e/ou de apropriação

sociedade-espaço, “desdobra-se ao longo de uma continuidade que vai da dominação político-económica mais

‘concreta’ e ‘funcional’ à apropriação mais subjetiva e/ou “cultural-simbólica” (Haesbaert, 2004), pois quem

“tem uma relação abstrata com o espaço, refere-se a uma multiplicidade de lugares, como realidades homogéneas

e permutáveis” (Teixeira Fernandes, 1992).

Desse modo, o território é ao mesmo tempo, funcional (a começar pelo território como recurso) e simbólico

(independentemente das diferentes combinações), pois somos capazes de exercer domínio sobre o espaço para

realizar “funções” assim como para produzir “significados”. Percebemos então o território como que um

continuum que nos rodeia, resultado da dinamização dos recursos endógenos interagindo com um conjunto de

agentes, naturais (clima, relevo, solos, etc.) e sociais (como por exemplo os aspetos culturais de uma sociedade).

Page 43: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

42

Para Sack (1986:6) o território (e a territorialização) enquanto “continuum” dentro de um processo de dominação

e/ou apropriação deverá ser trabalhado nas suas múltiplas manifestações – sobretudo, os tipos de poderes,

incorporados através dos agentes/sujeitos envolvidos, devendo-se distinguir os territórios de acordo com esses

mesmos players. O controlo social pelo espaço varia consoante a sociedade ou cultura, o grupo e, mesmo com o

próprio indivíduo. Controla-se assim uma “área geográfica”, ou seja, o “território”, de modo a se “atingir/afetar,

influenciar ou controlar pessoas, fenómenos e relacionamentos”.

Ainda segundo o mesmo autor, a territorialidade relaciona-se com as relações económicas e culturais (para além

de incorporar uma dimensão estritamente política), pois encontra-se intimamente ligada à forma como as pessoas

fazem uso da terra, como elas próprias se organizam no espaço e no tempo e como elas dão significado ao lugar”,

ou seja, “[...] a territorialidade, como um componente do poder, não é apenas um meio para criar e manter a

ordem, mas é uma estratégia para criar e manter grande parte do contexto geográfico através do qual nós

experimentamos o mundo e o dotamos de significado (Sack 1986:219).

Nesta perspetiva de dinamização dos recursos endógenos “as políticas atuais de desenvolvimento regional

assentam na valorização dos recursos territoriais e no estímulo aos sistemas territoriais de produção, em vez de se

procurar promover o desenvolvimento com base em fatores exógenos” é partilhada por Maillat (1996) e Reis

(1992: 80) que reforça ainda que abordagem territorialista, considera estes processos como “prenúncio de formas

complexas de relação dos homens com os territórios que podem ser vistas […] também como geradoras de

processos reticulares, isto é, de fenómenos locais de acumulação e adensamento, na base de processos

endógenos”, que dão origem a múltiplos territórios bem diferenciados entre si.

Haesbaert (2004) identifica “múltiplos territórios” através dos seguintes aspetos:

a) “Uniterritórios”, correspondendo a territorializações mais fechadas, impondo a correspondência entre poder

político e identidade cultural, ligadas ao fenómeno do territorialismo, como nos territórios defendidos por grupos

étnicos culturalmente homogéneos, não admitindo a pluralidade territorial de poderes e identidades;

b) Territorializações político-funcionais mais tradicionais, como a do Estado-nação que, mesmo admitindo

uma certa pluralidade não admite contudo a pluralidade de poderes;

c) Territorializações mais flexíveis, que admitem a sobreposição territorial (como nos espaços

multifuncionais nos centros das grandes cidades) ou concomitantemente (como na sobreposição

“encaixada” de territorialidades político-administrativas);

d) “Multiterritorialidade”, ou territorializações efetivamente múltiplas, construídas por grupos ou indivíduos que

constroem os seus territórios na conexão flexível de territórios multifuncionais e multi-identitários.

Nesse sentido, ao nível do desenvolvimento regional torna-se fundamental para o território atrair tanto novos

projetos empresariais, assim como os gerar internamente e de criar as condições de transformação das suas

próprias estruturas produtivas.

Page 44: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

43

Raffestin (1993), refere que os homens vivem o processo territorial e os seus efeitos através de um sistema de relações

que podem ser culturais, económicas, ou meramente simbólicas, participando desse modo na produção do território

através das relações de poder, gerando-se redes de territórios, que podem ser concretas, simbólicas ou imateriais

(Machado e Saquet, 2011).

Ou seja, na paisagem preservam-se “layers” de transformação, que testemunham a ação antrópica e natural

inscrita no tempo, sob os pontos de vista arqueológico, geológico, paleontológico e antropológico, daí que,

qualquer marca que o homem insira na paisagem significa uma transformação efetiva e intemporal, atribuindo

dessa forma novos significados e valores patrimoniais diferentes (Delphim, 2005).

Gatti (1990), expõe nesta perspetiva que os processos de territorialização apresentam características

indissociáveis entre si que podem ser analisados cronologicamente na sua ação, daí que para que uma ação

exercida sobre o espaço (indutora de transformações da paisagem) poder ser entendida enquanto processo de

transformação material do mesmo, tem que apresentar as seguintes caraterísticas:

1) Disseminação dos objetos de modo a suprimir as imposições do espaço;

2) Deverá apresentar sempre um aspeto simbólico: a transformação do espaço dá-se pela apropriação de

símbolos, como modo de orientação e perceção territorial;

3) Atribuição de valor dos serviços providos pelo meio natural.

Nesse sentido, a transformação do território, ou a territorialização é resultado e condição dos processos sociais que

interagem com a natureza exterior ao homem constituída por diferentes temporalidades e territorialidades, marcada pelo

movimento de reprodução de relações sociais e por uma complexidade cada vez maior nas forças produtivas (máquinas,

redes de circulação e comunicação...) que transformam qualquer espaço em território (Saquet, 2005).

Ainda de acordo com Gatti (1990) a territorialização é um processo onde o território assume duas perspetivas

complementares: o território como “construção política e social” e o território como “capital territorial” (Davoudi

et al., 2008), que se desenvolve de acordo com as seguintes etapas:

1) Denominação: primeira ação de apropriação, pela forma diferenciada que atribuímos a um território

relativamente a outros espaços, semelhantes ou não. Nesse cenário deve-se ter em consideração as

memórias, perceções, valores e relações que os indivíduos e as comunidades adquirem na interação com o

seu território, integrando e envolvendo o espectro mais alargado de atores sociais.

2) Delimitação: a segunda ação de apropriação, pela colocação de barreiras físicas ou mentais (políticas)

que através da identificação e o confronto com outros limites, assume enquanto ato de comunicação a

função de controlo simbólico com o exterior. Arnaldo Bagnasco, (1977) vê o território e o

desenvolvimento territorial como uma área, com caraterísticas económicas, políticas e culturais

específicas, onde se estabelecem conexões com outras áreas/territórios.

Page 45: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

44

A mesma perspetiva é partilhada por Turri (2002), que baseando-se na nas relações dialéticas entre

homem/cultura e natureza, também compreende o território como uma construção histórica, com

transformações sucessivas que nele se inscrevem existindo relações de continuidade com a situação

anterior e mudanças territoriais. O novo estabelece ruturas para com a ordem dominante, edificado sobre o

existente, transformando-o e cancelando-o. Segundo o autor são as forças da Economia, Política e Cultura,

que condicionam as mudanças territoriais.

3) Transformação material: é a ação efetiva indutora de mudanças no espaço e na paisagem pela mão do

Homem. Assim, o valor capital de um território resulta das dinâmicas geradas pela utilização combinada

dos recursos disponíveis, estando o valor da marca dependente da construção de dinâmicas de rede. Nesta

perspetiva, o efeito que a ação coletiva em virtude do esforço conjugado entre os atores territoriais permite

resultados superiores aos esforços das várias partes consideradas e onde cada participante consegue desse

modo um retorno superior ao que obteria individualmente (Correia, 2005: 74), onde a multidisciplinaridade

dos grupos territoriais são um fator crítico para a implementação de estratégias mercadológicas de sucesso

(Rainisto, 2003).

4) Comunicação: capacidade de se gerar conetividade entre territórios, gerando-se redes de relações

podendo ser materiais (concretas) ou imateriais (simbólicas). Redes de inter e intra-relações

organizacionais desenvolvem-se através do espaço geográfico ligando territórios dispersos. Deste modo as

economias territoriais refletem a forma como estão inseridas no espaço organizacional. “As networks

globais cortam as fronteiras nacionais e regionais de formas muito diferenciadas influenciadas por

barreiras regulatórias e condições sócio culturais criando estruturas que são descontínuos territoriais “(Coe

et al., 2004: 471). Malecki (2000: 341) refere ainda que “alguns territórios ou locais são capazes de criar e

atrair atividade económica porque conseguem fazer conexões com outros espaços.” Nesse sentido, a

componente relacional assume-se como fundamental dentro de um “package” territorial, sendo por isso

relevante para a sua atratividade a existência de atores que sejam capazes de desenvolver conexões entre e

com “networks” distantes (Burt, 1995), até porque os territórios “são mais do que orçamentos e negócios. Eles

abrangem pessoas, culturas, herança histórica, património físico e oportunidades” (Kotler et al., 2002: 2).

5) Estruturação: da ação através da infraestruturação do espaço de modo a servir a ação da(s) sociedade(s)

pertencente(s) a esse território. Segundo Gaio (Gaio et al, 2008: 5) conceptualiza-se essa orientação sob a

denominação genérica de Network Based Branding que se define como: “Uma abordagem que releva, no

processo de construção e gestão de uma marca territorial, uma perspetiva colaborativa e integradora dos

diferentes stakeholders territoriais, avocando que as suas dinâmicas de interação potenciam uma

otimização de processos e comportamentos valorizadores do posicionamento intencional de um território”.

Daí que a necessidade de valorização do território é destacada por Turnes (2004) como a uma condição

necessária para a promoção do desenvolvimento local, sob bases sustentáveis, e para a inversão do quadro de

Page 46: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

45

dificuldades que se abate sobre toda a região. Valorizar o local é gerar a consolidação dos objetivos dos atores do

território em torno da sua especificidade.

Ao longo deste capítulo, tentamos compreender a interdependência que os conceitos geográficos, sobretudo de Espaço,

território e lugar, assumem na compreensão e análise da paisagem, na medida em que, “o trânsito entre os conceitos de

paisagem, território e espaço, (…) é a essência epistemológica da geografia” (Moreira, 2007:109).

Da análise percebemos pois que a evolução da paisagem partindo da própria evolução natural do suporte

biogeofísico que a compõe14

, resulta de uma ação cronológica cultural sobre o espaço no chamado “processo de

territorialização” transformando-a materialmente e simbolicamente e conferindo-lhe as características de

território, sintetizado na figura seguinte:

Figura 7 - Interdependência dos conceitos geográficos. Elaboração própria

1.4 – Multifuncionalidade das Paisagens

Em capítulos anteriores abordamos a concetualização do conceito da paisagem e a sua evolução no pensamento

geográfico. Contudo, na transição da estrutura do presente trabalho, sugerimos o presente capítulo como ponto de

partida para a ligação da fenomenologia da paisagem à questão das áreas protegidas.

Nesse sentido importa a compreensão que as paisagens assumem na sua (multi)funcionalidade, na medida em

que, se as mesmas resultam, como vimos no capítulo anterior, de uma evolução natural e antrópica, material e

simbólica, é necessário levar em consideração os elementos geográficos, compostos por elementos abióticos,

bióticos e antrópicos (Rosolem e Archela, 2010), pois essa evolução terá forçosamente que se traduzir em

impactes sobre o espaço, onde o Homem retira serviços em seu próprio proveito. Ou seja, “a paisagem é

constituída por um conjunto de elementos que se articulam através de processos naturais e da utilização que deles

14 A referência que aqui fazemos de evolução de paisagem, assume apenas a sua dimensão natural e culturalmente materialista sobre o

espaço, propositadamente ignorando outros “tipos” de paisagem, como as paisagens virtuais onde se pode ou não assumir um trajeto

evolutivo.

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46

fazem os grupos humanos, apresentando uma determinada organização e estrutura espacial (Castro e Lopes,

2009: 4273), formando um conjunto em constante evolução (Bertrand e Bertrand, 2002).

Para estes autores, a paisagem resulta de uma combinação dinâmica, embora instável, composta por elementos

físicos, biológicos e antrópicos no qual reagem dialeticamente, num determinado ponto no espaço (Geossistema,

Território e Paisagem). Bertrand (1971, 1997, 1998) pretende assim apresentar uma tipologia dinâmica da

paisagem que represente a hierarquia dos seus elementos classificando em unidades superiores (zona, domínio e

região) e unidades inferiores (geossistema, geofácies e geótopo), que permita uma análise geográfica do

ambiente, através do território e da paisagem Ou seja, para Bertrand a paisagem constitui um instrumento

científico mas igualmente de diálogo, que permita a compreensão da diversidade ecológica e o modo de

organização social, de construção de identidade e representação do espaço, tal como sintetizado na figura

seguinte:

Figura 8 - Representação do sistema tripolar. Fonte (Torres, 2003: 44)

Segundo Haber (1990), a paisagem pode ser definida por meio de uma ordem de vários tipos de usos. Daí que

quando falamos em multifuncionalidade, a associação óbvia com que nos deparamos na análise da paisagem, é

que esta pode assumir várias funções ou usos, de acordo com as suas apetências ecológico-culturais.

Estas funções são constituídas por todos os “bens e serviços suportados por uma paisagem e que respondem às

necessidades, procuras e expectativas do Homem, no sentido lato, sendo por isso valorizadas pela sociedade.

Algumas têm um valor de mercado (produção agrícola, produção florestal), e correspondem a comodidades

(commodity). Outras são amenidades, que correspondem a bens e serviços públicos, para os quais não existe

mercado ou este não funciona satisfatoriamente (recreio, conservação da natureza, identidade, qualidade de vida,

preservação dos recursos ambientais” (Pinto-Correia, 2008).

Ou seja, a multifuncionalidade permite avaliar as funções suportadas pela paisagem e qual o grau de

conflitualidade ou complementaridade que essas funções possuem. Contudo, não podemos ignorar que os

fundamentos que estão na base do caráter multifuncional da paisagem, só fazem sentido de acordo com as suas

apetências ecológicas e culturais.

Page 48: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

47

Ecológico, na medida em que cada componente do espaço geográfico possui uma capacidade de carga de

absorção dos impactes resultantes da ação antrópica e plasticidade morfológica relativamente à modelação

imposta pela própria dinâmica natural e cultural, porque uma mesma paisagem não é vista da mesma forma por

dois sujeitos diferentes, ou seja, uma determinada sociedade regida por códigos de conduta político e morais,

perceciona, apropria e atribui um determinado valor ou condicionantes de uso a um espaço. Um recurso para uma

sociedade, só assume relevância, quando essa mesma sociedade o reconhece nas suas múltiplas capacidades

como um recurso para ser consumido. O valor e tipo de mensurabilidade que pode ser atribuído também vão

depender do grau de relevância atribuído a esse mesmo recurso.

Embora Cruz (2002), defenda que apesar das paisagens não mudarem de lugar, mudam de significado

frequentemente. Isto acontece porque não são apenas resultado da evolução histórica e cultural de determinada

sociedade (Corrêa e Rosendahl, 1998) ou da forma de apreensão de um indivíduo dos aspetos materiais ou

simbólicos do território, mas, também da apropriação coletiva vertida na significação dada por estruturas

políticas, económicas, culturais, sociais e ambientais, pois “expressa uma civilização, mas também (…) porque

participa dos esquemas de perceção, de conceção e de ação – ou seja, da cultura – que canalizam, em um certo

sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza…” (Berque, 2000).

A funcionalidade das paisagens pode ser vista na congregação de três categorias: tempo, espaço e valor.

Tempo, porque a paisagem evolui numa escala temporal, ditada pelos ritmos naturais (sucessão das estações,

clima, estados de tempo, eventos da ação geofísica do planeta, eventos cataclísmicos supraplanetários, etc.) e pela

forma percebida que cada sociedade de acordo com as suas especificidades culturais, induzem transformações

materiais e simbólicas na paisagem.

Espaço, porque a paisagem resulta como vimos de um “processo de territorialização”, logo em escalas espaciais

diferentes de acordo com a tipologia do lugar e do tipo de ação antrópica imposta sobre este, e Valor, porque na

atribuição da funcionalidade espacial, encontramos na paisagem os atributos de espaço “recurso”, (vinculado aos

sistemas de produção e aos respetivos agentes que participam na dinâmica de usufruição e de transformação);

espaço “cenário”, (congregação tipológica dos elementos bióticos, abióticos e antrópicos) e espaço

“ecossistema”, (enquanto suporte integrador dos serviços de ecossistema e disponibilidade de recursos

biofísicos).

Page 49: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

48

Os recursos oferecidos pela paisagem, agrupam-se segundo Domingues (2003) citado por Galvão e Vareta (2010)

igualmente em três tipologias:

1. Recursos histórico-culturais, sistema de objetos, (geralmente edificações e outros monumentos)

associados à matriz histórica do território.

2. Recursos ecológico-naturais, sistemas biofísicos constituídos sobretudo pela interligação no território

entre os sistemas hidrológicos, geomorfológicos, bioclimáticos e vegetais.

3. Recursos sociais e simbólicos, que assentam no valor, memória e identidade coletiva atribuído à

paisagem, que em muitos casos se traduz nos modos que as comunidades incorporam as práticas de uso

dos solos, assim como as formas de perceção e de afetividade com os seus quadros de vida.

A exploração da paisagem enquanto recurso é essencialmente consumida na sua vertente pictórica, como meio

inspirador de artistas e do quotidiano individual15

e como contexto em atividades essencialmente ligadas ao setor

turístico, daí que para Moss e Nickling (1980), a paisagem enquanto cenário, é um importante recurso,

considerado como renovável, não-renovável, natural e cultural.

Polette (1996), sugere que a paisagem congrega vários níveis hierárquicos que estão intimamente relacionados

com a sua escala de análise. Partindo da aceção que o grau de modificação da paisagem espraia-se num gradiente

desde a Paisagem “natural” num extremo sem qualquer vestígio e ação direta e/ou indireta antrópica até à

Paisagem Urbana, ou seja “totalmente” artificializada, Forman e Godron, (1986) sugerem a classificação em

quatro tipos de paisagem diferenciadas:

1. Paisagem Natural: Impactos inexistentes da ação antrópica, onde em variados casos as fronteiras entre

os seus elementos não são perfeitamente nítidas.

2. Paisagem Gerida: áreas relativamente naturalizadas, embora apresentando-se perturbações nas matrizes

em resultado da ações que visam a tirada de rentabilidade através do uso do solo, nomeadamente cultivo e

pastoreio.

3. Paisagem Cultivada: A modificação da matriz é muito evidente, pois encontramos a formação de vários

elementos lineares e poligonais como construções, estradas e canais.

4. Paisagem Suburbana: áreas urbanas ou rurais com manchas heterogéneas de áreas residenciais,

industriais, comerciais e naturais.

5. Paisagem Urbana: Uma grande matriz com uma densidade de construção muito elevada, onde o sistema

biológico é secundarizado em detrimento das necessidades humanas. Estamos perante uma matriz expressa

numa paisagem de redes, nós e manchas de dimensões mínimas e caraterísticas funcionais.

15 A este respeito Ryden (1993) considera a consideração da paisagem nas suas dimensões físicas, (elementos ambientais) e a sua relação;

nas suas dimensões artísticas, (aspecto da composição cénica), resulta na harmonia das formas com a mente, relativas ao impacto mental

que pode causar no quotidiano dos usufruidores.

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49

Petroni e Kenigsberg (1991) e Boullon (1994), têm uma perspetiva semelhante à apresentada por Forman e

Godron definindo apenas três tipos de paisagem de acordo com o espaço em que o observador se encontra,

embora considerem que a paisagem cultural é inerente à paisagem natural:

Paisagem natural: conjunto formado pelos carateres físicos observáveis de um lugar que não foi

ainda modificado pela ação humana;

Paisagem cultural: paisagem modificada pela presença imposta pelos objetos e estruturas

resultantes das atividades antrópicas e,

Paisagem urbana: conjunto de elementos plásticos naturais e artificiais que compõe os cenários dos

espaços urbanos (edifícios, ruas, praças, árvores, focos de luz, anúncios, semáforos, etc.).

Nestas tentativas de definir especificamente a paisagem em tipos diferenciados de fácil apreensão, percebemos

que a paisagem constitui um conjunto heterogéneo formado por frações quer das formas naturais quer das

artificiais; relativamente ao tamanho, volume, cor, utilidade, etc.. A paisagem é sempre heterogénea e

multifuncional, na medida em que a vida em sociedade supõe essa multiplicidade de funções (Santos, 2007).

Figura 9 - Exemplo de uma paisagem multifuncional tal como ela é percebida- Mazarefes (V. Castelo).

Partindo do exemplo da figura anterior, percebemos a referência à multifuncionalidade referida por Santos. Neste

exemplo concreto, podemos observar então um território que aparenta possuir uma prevalência importante de

espaços naturais (as linhas de água, zonas húmidas, espaços florestais) embora as marcas antrópicas são

igualmente relevantes, conferindo um conjunto de elementos gráficos lineares e poligonais expressos nas

construções rodoviárias, áreas industriais, espaços urbanos e na fragmentação provocada pelo minifúndio da

propriedade agrícola, tal como ela é percebida pelo observador.

Page 51: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

50

A verdade é que quanto mais complexa é a vida social, tanto mais o ser humano se distancia de um mundo

natural, remetendo-se a um mundo artificial, logo maior é a multifuncionalidade de uma paisagem na combinação

de objetos naturais (que não são obra do homem nem jamais foram tocados por ele) e de objetos produzidos

(testemunhos do trabalho humano suprageracional) 16

.

Zonneveld (1995) sintetizou os elementos principais que se conectam e interagem na paisagem referindo que são

percetíveis uma série de componentes naturais (constituindo a “base” para as atividades humanas e estão

subjugados a tais atividades) e componentes sociais existindo a Paisagem entre estes dois tipos de elementos

(natural e antrópico). A paisagem é assim criada, regulada, produzida e transformada de acordo com as funções

que as sociedades lhe atribuam, na medida em que as atividades humanas não poderiam existir sem os elementos

naturais e do mesmo modo, a paisagem não existiria sem estes dois elementos. A interação entre os diversos

componentes na paisagem gera então o seu caráter multifuncional.

Figura 10 - A paisagem da figura 9 observada sob um ponto de vista vertical na sua estrutura e conteúdo.

A figura 10 exemplifica o anteriormente referido por Zonneveld. Sendo o ponto vertical de visualização da figura

9, outras perspetivas nos são abertas da observação da sua estrutura e conteúdo, pois apesar da evidente

urbanização em “mancha de óleo” que ocupa quase todo o espaço identificado, deixamos de ter a perceção

imediata da prevalência dos elementos antrópicos. Aliás, se não fosse pelas vias de comunicação, a maior parte

das construções humanas, passariam despercebidas a esta escala. Torna-se também evidente que esta paisagem

foi “regulada, produzida e transformada” segundo a funcionalidade que as comunidades locais lhe atribuíram,

como por exemplo a agricultura (evidente nos terrenos agricultados), resultando num mosaico complexo com

16 Isto é, objetos sociais resultado da acumulação da atividade de várias gerações.

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51

várias manchas de ocupação do solo e de elementos lineares, com uma composição e configuração própria deste

lugar, daí reforçando o anteriormente disposto que essas atividades não poderiam existir sem o suporte natural do

espaço e da mesma forma, a paisagem resulta da conjunção e evolução destes dois elementos.

Alves (Alves et al., 2004: 155) refere que “as mudanças sociais levam a uma superposição de paisagens”. Nesse

sentido, os modos de interpretação das formas de transformação da paisagem no espaço e no tempo, passam pelo

reconhecimento das especificidades históricas que os fragmentos de idades diferentes representam juntamente

com a história que determinada sociedade registou num momento específico.

A paisagem é nesse sentido uma dimensão aparente da dinâmica territorial, na medida em enquanto síntese

concreta de cada especificidade territorial, sendo um conjunto de formas e objetos que expressam diferentes

tempos e territórios constitui uma peça fragmentada da realidade passível de ser apreendida a partir da

observação.

Apesar do significado do conceito de paisagem ter evoluído diferenciadamente ao longo do tempo, Naveh e

Lieberman (1994), referem que o conceito “visual-perceção” original e a conotação estética inerente, apesar de

serem utilizados por vários autores envolvidos na gestão da paisagem, continuam a ser considerados na arte e

literatura, essencialmente com uma maior conotação à perceção cénica-estética do que ligada a uma conceção

ecológica, ou seja, aquilo a que Arsénio (2011) designa como uma entidade autónoma, com existência própria e

independente da existência do observador. Para este autor a existência per se da paisagem resulta do facto dos

suportes físicos que a sustentam, materializados na superfície do lugar (a geosfera, hidrosfera e atmosfera), são o

resultado evolutivo da interação da referida superfície, daí que, antes da existência do ser humano sapiente e

consciente da paisagem, esta já estava expressa no espaço, independentemente das diferenças físicas e cénicas

existentes entre essas paisagens e as atuais.

Do ponto de vista da multifuncionalidade da paisagem, Arsénio (2011) reconhece que existe uma separação clara

entre o objeto e a sua apreciação estética, na medida em que o fenómeno da perceção constitui um processo

externo da paisagem, pelo que deve-se evitar considerar a paisagem de uma perspetiva unicamente cénica, ou

visual através da omissão de referências à forma como ela é percecionada.

Daí que Pires (2003: 144), reconheça que a paisagem é um elemento visual cujos componentes formam “ uma

série de cenários e ambientações que proporcionarão a identidade, o caráter e a singularidade [de cada lugar],

segundo a perceção e juízo de valores humanos”. Esses elementos geográficos alocados a um dado período

temporal bem definido, “mudam com a história e com a própria dinâmica da natureza” (Yázigi, 2002: 11)

É no processo de ocupação do espaço ao longo do tempo que ocorre a transformação da natureza, da paisagem e

a construção do território, através do estabelecimento de diversas dicotomias, nomeadamente a de homem -

natureza, natureza - história, objetividade- subjetividade e essência – aparência, dotando assim à paisagem um

caráter multifuncional. O tempo enquanto elemento dinâmico constitui pois um conjunto de sistemas de relações

Page 53: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

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que tem uma função na história das sociedades e no modo cada sujeito, individual e coletivamente percecionam

as suas experiências, através da memória.

Figura 11 - Paisagens de memória - O cemitério "americano" em cima e o cemitério "alemão" em baixo.

A multifuncionalidade da paisagem reflete-se igualmente então na sua componente histórica, pelo modo como

incute memórias traduzidas no modo como percebemos o tempo e o espaço. O exemplo da figura 11 reflete o

modo como a memória coletiva moldou uma paisagem e lhe atribui multifuncionalidade. Estes dois cemitérios na

costa da Normandia são testemunho de um contexto histórico específico, preservado na transformação espacial

do local (arrelvamento, ajardinamento, as construções evocativas, …) e na atribuição de novas funções: turísticas,

religiosas, institucionais.

Somos levados pelo olhar que institui aquele território como paisagem, numa paisagem com uma carga

simbólica, suscitando a investigação do universo cultural e histórico subjacente ao olhar do observador (Cosgrove

e Daniels, 2011), que lhe é oferecido diferentes formas de perceber o local: a eloquência eterna do vencedor

expressa no esforço glorificado daqueles que perderam a vida e a austeridade tímida e envergonhada dos

derrotados.

A paisagem simbólica relaciona-se assim com as práticas sociais quotidianas fruto da multifuncionalidade

imposta pelos atores sociais. Os contextos funcionais da paisagem são geradores de tensões entre as dimensões

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53

materiais e simbólicas a partir de um foco específico na forma, enquanto aspeto tangível de processos

socioespaciais (Carolino e Pinto-Correia, 2011), pondo a “ênfase na forma da mesma maneira que o conceito de

corpo enfatiza a forma e não o funcionamento de uma criatura viva. Se o corpo é a forma em que a criatura está

presente enquanto ser-no-mundo, então o mundo em que esse ser é apresenta-se sob a forma de paisagem”

(Ingold, 2011).

Milton Santos (1996), associa a paisagem à dimensão da perceção pelo facto de a perceção ser sempre um

processo seletivo de apreensão. Se existe uma única realidade, cada pessoa irá reconhecê-la de forma

diferenciada; nessa sentido, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. Daí que é fundamental

ultrapassar a ideia de paisagem como aspeto, para chegar ao seu significado.

Boullón (1994) refere que o conceito de paisagem não pode ser percebido como uma entidade cénica ou

ecológica mas como uma entidade política ou cultural. Neste sentido, Teresa Barata Salgueiro (1992: 23), sugere

que as paisagens “resultam da ação do homem sobre a natureza pois, […] o Homem é um consumidor da

natureza, e a transformação desta depende do tempo, da intensidade e da continuidade da ocupação humana, bem

como da tecnologia e da organização social de que a sociedade dispõe”. Na perspetiva desta autora a

multifuncionalidade da paisagem é sobretudo um processo cultural, sendo que as transformações induzidas

resultam daquele sobre a própria evolução natural.

Javier Maderuelo (2006) observa então que “a paisagem é uma construção, uma elaboração mental que os

homens realizam através dos fenómenos da cultura. A paisagem, entendida como fenómeno cultural, é uma

criação que varia de uma cultura para outra (…)”

Figura 12- Concetualização do conceito de paisagem. Adaptado de Sanchiz (2012)

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54

Não é por isso de todo estranho que a importância da manutenção das paisagens naturais e culturais é uma das

principais preocupações da União Europeia, que em 2000 publica a Convenção Europeia da Paisagem. Esta política

resulta de uma evolução da consciência ambiental, iniciada sobretudo com a conferência do Rio em 1992, que resultou

na criação em 1994 da Agência Europeia do Ambiente, que iria ter um papel determinante na persecução de uma

política europeia integrada acerca das áreas protegidas e da paisagem17

, culminada com a publicação dos Objetivos do

Milénio (reconhecimento dos serviços de ecossistema) e a convenção europeia da paisagem.

Obviamente, esta assumir da paisagem enquanto elemento autónomo que carece de proteção, visto pela

perspetiva das instâncias europeias, tem de ser encarado nas duas faces da mesma moeda que a política europeia

tem incutido na união.

Esta visão europocentrista da proteção da biodiversidade e da preservação dos valores ambientais e paisagísticos

visando um desenvolvimento social favorável às populações são ainda reminiscências dos ideais modernistas

românticos do século XIX, quando são criados grandes parques de proteção (como Yellowstone), na transposição

do modelo europeu de jardim da arcádia, aos territórios “selvagens” ainda por explorar. A “velha” Europa, nunca

perdeu o seu elã colonialista e de tentativa hegemónica sobre outros territórios, daí que, a questão das áreas

protegidas, sobre o cunho protecionista do Estado, é uma forma de controlo sobre a exploração de recursos.

Senão atentemos na figura 12, onde está expresso os investimentos anuais estimados na rede global de áreas

protegidas.

Figura 13 - Investimentos anuais estimados na rede global de áreas protegidas. Fonte: Gutman e Davidson 2007 in Protected

Planet Report 2012

17

De destacar nesta matéria o conjunto de textos jurídicos europeus, nomeadamente, a connvenção relativa à Conservação da Vida

Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa (Berna, 19 de Setembro de 1979), a Convenção para a Salvaguarda do Património

Arquitetónico (Granada, 3 de Outubro de 1985), a Convenção para a Proteção do Património Arqueológico (Valletta, 16 de Janeiro de

1992), a Convenção Quadro Europeia para a Cooperação Transfronteiriça entre Comunidades e Autoridades Territoriais (Madrid, 21 de

Maio de 1980) e os seus protocolos adicionais, a Carta Europeia da Autonomia Local (Estrasburgo, 15 de Outubro de 1985), a Convenção

Relativa à Proteção do Património Mundial Cultural e Natural (Paris, 16 de Novembro de 1972), e a Convenção sobre o Acesso à

Informação, Participação do Público no Processo de Tomada de Decisão e Acesso à Justiça em Matéria de Ambiente (Äarhus, 25 de Junho

de 1998)

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55

Podemos retirar duas interpretações deste gráfico: a primeira é que de facto, os países designados como

desenvolvidos (Europa e América do Norte fundamentalmente) possuem um rácio de investimento do dobro dos

valores investidos pelos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Isto pode estar relacionado com o

reconhecimento do valor dos serviços de ecossistema destas áreas, enquanto motor económico regional e local e

por outro, no investimento em atividades paralelas em resultado do usufruto desses serviços, enquanto motor de

economia de escala (ligada sobretudo a atividades de turismo e lazer). A segunda é que, os países designados

como desenvolvidos, apoiam o esforço de investimentos desses espaços nos países em desenvolvimento em igual

valor repartido, ou seja, uma forma de se exercer controlo sobre os modos de exploração dos recursos dessas

áreas e nesses países.

Quando analisamos o documento que está na origem da convenção da paisagem, percebemos desde logo a sua

maior limitação – uma Convenção, não sendo mais do que isso mesmo: uma declaração de intenções. Este facto

só vem demonstrar que apesar da evolução da consideração da paisagem como um recurso, a intensão não tem

“estatuto” para a formulação de uma Diretiva que obrigasse à sua transposição para as legislações nacionais18

.

Contudo, esse pormenor não nos é de todo estranho, pois tal como vimos nos capítulos anteriores, a paisagem

enquanto conceito polissémico, é entendido de formas diferenciadas por cada sujeito, logo por cada Estado, por

cada política. Se apesar da declaração Europeia do significado de paisagem, onde é definida como “parte do

território, tal como é apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da ação e da interação de fatores naturais

e ou humanos” (art 1º, alínea a). Na dimensão paisagística do território, apreende-se de imediato a interface entre

natureza e sociedade, mas sem uma unanimidade na sua epistemologia científica.

Na justificativa de base para a sua criação ressalta o agrupamento dos conceitos abordados em dois grandes

eixos: Cultura e identidade Europeia19

e Economia. No primeiro caso, encontramos as designações de

“património comum”, “importantes funções de interesse público, nos campos cultural, ecológico, ambiental e

social” “consolidação da identidade europeia” e “transformação das paisagens”, enquanto no segundo caso, as

designações de “necessidades sociais, atividades económicas e o ambiente”, “recurso favorável à atividade

económica”, e “recurso comum” (Preâmbulo do Decreto 4/2005). De referir que a aceção a ambiente surge

timidamente e de certa forma mascarado entre estes dois eixos, pois tanto significa ambiente social – qualidade

de vida das populações (Artigo 5º Dec. 4/2005), como ambiente “natural” – enquanto recurso mensurável

passível de exploração.

No artigo 5º alínea d) está patente a importância da transposição das intenções “nas políticas de ordenamento do

território e de urbanismo…”, embora esteja refém dos modos de atuação política de cada Estado membro. No

18 No Artigo 4º é sugerido que cada um dos Estado aplicará a Convenção, em especial os artigos 5.º e 6.º, de acordo com a sua própria

repartição de competências em conformidade com os seus princípios constitucionais e organização administrativa, em que cada uma das

partes deve harmonizar a implementação da Convenção de acordo com as suas próprias políticas.

19 De uma Europa que procura avidamente desde a criação do projeto europeu de união, o reconhecimento de uma identidade comum, no

seio de um continente clivado pela evolução histórica e cultural de cada um dos seus Estados.

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56

caso português, a Convenção Europeia da Paisagem, foi integrada de acordo com a alínea c) do artigo 197º da

constituição Portuguesa, através do Decreto n.º 4/2005 de 26 de Janeiro e muitos também, têm sido os estudos de

identificação e caraterização da paisagem do território nacional, embora destaquemos aqui o estudo de

identificação e caraterização da Paisagem em Portugal Continental de Cancela d`Abreu e outros (2004), onde a

paisagem é considerada como “um sistema dinâmico, onde os diferentes fatores naturais e culturais interagem e

evoluem em conjunto, determinando e sendo determinados pela estrutura global, o que resulta numa configuração

particular, nomeadamente de relevo, coberto vegetal, uso do solo e povoamento, que lhe confere uma certa

unidade e à qual corresponde um determinado caráter”.

Apesar da inclusão dos princípios da Convenção da Paisagem na legislação nacional, esta não tem força de lei,

sendo esse facto evidente na leitura do decreto 4 de 2005 que não é mais do que a simples alusão às intenções

expressas da convenção.

Para além da transposição para o decreto referido anterior, no quadro das ações de implementação previstas pela

Convenção foi criado, pelo Despacho n.º 12423/2012, de 14 de Setembro, o Prémio Nacional da Paisagem,

designadamente como prémio preparatório do Prémio da Paisagem do Conselho da Europa, cabendo à Direção-

Geral do Território (DGT) a sua organização.

Da leitura deste despacho do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território,

percebemos a ambiguidade condicionada pelo documento original da Convenção Europeia na medida em que o

documento nacional gravita em torno da subjetividade gerada pela dificuldade técnica da própria definição de

paisagem.

No caso específico do Despacho n.º 12423/2012, de 14 de Setembro é percetível que o conceito de paisagem

sugere um entendimento baseado na atividade económica20

, omitindo inclusive espaços geográficos, como os

urbanos, na medida em que se suporta nas alíneas b) e c) do n.º 2 do artigo 66.º da Constituição, para referir que a

promoção do ordenamento do território, visa a valorização da paisagem, através da classificação e proteção das

paisagens e sítios, de modo “a garantir a conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse

histórico ou artístico.”

De referir ainda que o júri não é constituído por qualquer geógrafo ou outra área científica que “pensa” a

paisagem, logo tornado também irredutor no âmbito da escolha, essencialmente vocacionado para as questões

estéticas (dado por exemplo pela presença de dois membros ligados à arquitetura).

Contudo, é percetível uma convergência de objetivos do Ordenamento do Território e da Convenção da Paisagem

à escala Local, porque a nível regional e local os territórios são diferenciadamente parte integrante de modelos

20 “… a preservação das paisagens e dos recursos naturais, estabelecendo o seu enlace com os objetivos do aumento da competitividade

nacional, do investimento nas produções vegetal e animal, agroindustrial e indústrias de base florestal e da aposta no desenvolvimento

rural.” (Despacho n.º 12422/2012: 32103).

Page 58: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

57

espacialmente funcionais e extensivos, numa “ (…) miríade de cadeias produtivas que cruzam o espaço global”

(Knox e Agnew, 1998: 17).

É pois nesta perspetiva que “o problema territorial consiste exatamente em saber como é que, por um lado, as

capacidades diferenciadoras criadas localmente podem vingar no espaço geonómico e de que modo é que, por

outro lado, as influências externas podem ser ancoradas localmente” (Reis, 1996, 17), na medida em que na

evolução e desenvolvimento territorial, os tipos de comportamentos dos atores locais, associam-se às condições

“materiais e simbólicas” que os enquadram nesse suporte físico, inerente aos processos de desenvolvimento

territorial (Reis, 1992).

Neste contexto, o território os indivíduos e as organizações são elementos absolutamente indissociáveis entre si,

estabelecendo dinâmicas de apropriação e ciclos de desenvolvimento, pois tal como refere Vázquez Barquero “O

território é um agente de transformação e não um mero suporte de recursos e atividades económicas, uma vez que

há interação entre as empresas e os demais atores, que se organizam para desenvolver a economia e a sociedade”

(Barquero, 2001: 39). Esta definição de território apesar de tudo induz uma ideia de espaço extremamente

conciso e funcional, sem ponderar que o território é produto do Homem da sua sociabilidade histórica e da ação

das suas atividades no espaço.

Daí que a função primordial do ordenamento do território consista independentemente do seu âmbito (nacional,

regional ou municipal), na compatibilização e organização dos interesses sectoriais com expressão territorial,

públicos e privados, através de soluções técnicas que otimizem a salvaguarda e a valorização dos recursos

territoriais disponíveis e do potencial territorial (DGOTDU, 2008).

No entanto, no ordenamento do território há que ter em conta a escala de análise, assim como a escala operativa

uma vez que, estando ligada ao desenvolvimento económico-social e ambiental da sociedade, constituí uma

política abrangente. A sua implementação visa estratégias que se apoiam em planos interdependentes, com

repercussões no processo de decisão. Pelo seu caráter horizontal, complementam-se com os objetivos da política

de proteção do ambiente, contribuindo para o incremento do nível de qualidade de vida das populações.

Daí que pensar na Paisagem como conceito transversal às políticas de ordenamento (ver figura 14) é uma forma

que pode inverter a lógica tecnocrática dos funcionalistas, com os resultados que conhecemos no território

nacional: Planos diretores municipais inadequados à realidade territorial, muitas vezes, colagens de planos de

outros concelhos; Zonamentos de espaços que contribuem para a desqualificação territorial; o “atropelamento”

dos pressupostos inerentes à conservação, etc.

Page 59: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

58

Figura 14- Integração da Convenção da Paisagem no planeamento territorial nacional: Cancela d'Abreu (2011)

Esta forma dentro da lógica modernista de ver o território é indutora da perda de multifuncionalidade e da própria

identidade territorial, pelo que a Paisagem necessita de uma lógica integradora sustentável. Histórica a

multifuncionalidade da paisagem, inerente ao seu próprio conceito, perdeu-se de certo modo com o movimento

moderno, pois induziu um sistema zonal na organização espacial.

A multifuncionalidade também se associa às práticas e aos conceitos de recreio da produção e de proteção. Basta

para isso atentar nas práticas e culturas de várias sociedades mais antigas - nas suas práticas agrícolas, a arte dos

jardins e a sensibilidade estética traduzida na organização do espaço e nas questões ecológicas que surgem a

partir dos finais do século XIX.

As áreas protegidas enquadram-se neste aceção – de paisagens multifuncionais enquanto espaços de

subjetividade e paradigma da conservação das paisagens e da biodiversidade, pelos usos decorrentes da

especialidade alocada à lógica funcional (conservação, turismo da natureza, novas formas de sustentabilidade nos

usos pré-existentes, diversidade de modelos territoriais). A subjetividade encontrámo-la no próprio ato de

conservar, nos planos de gestão e na atribuição de usos a territórios, de acordo não com uma lógica territorial

concreta, mas antes das conceções filosóficas da relação homem-natureza. Finalmente, relativamente ao facto de

constituírem um paradigma da conservação, não querendo aprofundar aqui pois será um tema tratado no capítulo

seguinte, mas a verdade é que nos últimos anos, tem-se observado um aumento das áreas protegidas em

contraponto com a perda da biodiversidade, o que nos remete para a reconsideração de toda a lógica inerente aos

modelos de gestão e ao próprio paradigma da responsabilidade da ação humana na proteção contrabalançado com

a responsabilidade da degradação ambiental.

Page 60: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

59

CAPÍTULO 2 - AS ÁREAS PROTEGIDAS

Quando Carl Troll (1966), avançou em 1939 com o conceito de “Ecologia da paisagem”, tendo-o descrito como

uma “entidade espacial e visual total” do espaço em que o ser humano vive, integrando geosfera, biosfera e

noosfera, deu particular ênfase à paisagem da perspetiva cultural. Numa visão de conservação integral dos

espaços naturais, tentou-se adaptar a teoria biogeográfica de ilhas para o planeamento de reservas naturais, numa

abordagem ecológica da paisagem, que enfatiza as paisagens naturais, bem como aplicação de conceitos para a

conservação da diversidade biológica e a exploração de recursos naturais.

Qualquer ação executada sobre o território é função deste e exprime nas soluções encontradas e no seu

desenvolvimento, a sua complexidade e diversidade, pois enquanto estrutura sistémica, gera um constante

processo evolutivo numa permanente ação/reação relativamente a todas as intervenções que nele ocorram. Nesse

sentido, as intervenções no território devem procurar gerar novos sistemas que sejam capazes de corresponder às

características ecológicas preexistentes e ao mesmo tempo, determinar novas situações e processos dinâmicos.

Os espaços naturais enquanto sistemas dinâmicos de elevada complexidade, reagem individualmente e

particularmente às diferentes ações ou alterações, tal como refere Figueiredo (2006), “a própria natureza não

obedece a decretos e as suas alterações continuam a verificar-se independentemente das normas criadas e

implementadas para a proteger”, sendo por isso de suma importância a previsão dessas mesmas reações

relativamente aos efeitos induzidos.

Para Ghimire (Ghimire et al, 2000), os conceitos de preservação, conservação ou proteção surgem associados a

valores e a manifestações de apropriação de territórios. A definição de área protegida senso lato, está pois

indubitavelmente associada à proteção da biodiversidade. O próprio conceito de biodiversidade não é de fácil

compreensão, pois podemos incluir nele o conjunto das diferentes formas de vida do planeta como um todo, ou

numa região específica em particular.

Daí que a discussão gerada em torno do desenvolvimento sustentável e das políticas de gestão sobre a natureza,

induziu um novo estatuto de proteção às áreas destinadas à conservação, como reservas de biodiversidade,

espécies de “bancos genéticos”, capazes de assegurarem geracionalmente a diversidade e a manutenção do seu

equilíbrio ecológico (Milano, 1998).

Do simpósio organizado pela World Commission on Protected Areas (WCPA) na Austrália (1997), dedicado ao

tema “Protected Areas in the 21st Century Symposium” surgiu a proposta de se avançar no sentido da

substituição do paradigma teórico e político das áreas protegidas até então, compreendidas como ilhas de

biodiversidade cercadas por paisagens antrópicas alteradas pelo novo paradigma bioregional, perspetivando a

criação e manutenção de redes de áreas protegidas integradas ao contexto regional onde se inserem, induzindo

Espaço

Page 61: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

60

assim uma mudança em direção às dinâmicas sociais no interior e no entorno das áreas consideradas prioritárias

para conservação (Westley et al., 1998; Pressey, 1998, Mackey et al., 2010).

Para Pagani (Pagani, 2009) reconhece-se cada vez mais a importância que as paisagens culturais e o valor do

conhecimento associado às práticas tradicionais dos usos dos solos têm para a conservação (Phillips, 2002;

Brown, 2004), manifestando-se essa ligação intrínseca entre a natureza e a cultura a partir de um mosaico

composto de espaços selvagens e modificados num modelo complexo na escala da paisagem, (Brown e Mitchell,

2005), o que permite determinar amplos gradientes entre zonas urbanas e naturais (Bradley, 1984 in Laven et al,

2005), não sendo pois de estranhar que no contexto do imaginário social, a ideia de área protegida surge

naturalmente associada ao conceito de parque, ou espaço delimitado e fechado (Fernandes, 2004).

2.1. - Conceito e contextualização

Para Fernandes (2004), as áreas protegidas, constituem novos territórios criados com modelos de gestão e de

organização próprios, assim como, apresentam novas formas e relações de poder e de apropriação dos recursos e

dos espaços geográficos assumindo-se tendencialmente como elementos patrimoniais (Humbert e Lefeuvre,

1992). Daí que, o modo como as intervenções se realiza sobre o território, devem ser efetuadas em função das

exigências socioeconómicas, estéticas e protecionistas, dirigidas para a manutenção, preservação e valorização da

funcionalidade, diversidade e capacidade dos sistemas naturais e dos ecossistemas como um todo.

Historicamente, as áreas protegidas evoluíram por entre vários conceitos operacionais de preservação e/ou

conservação ao sabor das correntes fenomenológicas dominantes. Estes espaços são essencialmente valorizadas

por aspetos tão díspares como a provisão de serviços de ecossistema fornecidos aos seres humanos (função

utilidade - valores culturais, espirituais, utilitários, etc.), e a significância biogeofísica (função ecossistémica).

Do latim protegere, possui um significado de como algo que é defendido, amparado, sendo na mesma linha a

definição de protegido como aquele ou aquilo que é alvo de proteção especial (Soares e Ferreira, 2000). Nesse

sentido, a criação destes espaços constitui uma estratégia, sob o pensamento positivista e até durkheimiano de

resguardar algumas áreas naturais da ação predatória do homem. Apesar da sua unânime necessidade de

existência face à perspetiva de perda de riqueza ecológica com influência direta na perda de riqueza natural e

cultural do ser humano, se as áreas protegidas têm efetivamente para a sociedade um valor crescente e apesar de

tudo estão em permanente risco de perda dos valores que motivaram a sua criação, então urge refletir sobre os

modelos de gestão e planeamento que atualmente são utilizados (Beresford e Phillips, 2000).

Nesse sentido, podemos definir as áreas protegidas, como uma superfície de terra ou mar especialmente

consagrada à proteção e preservação da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais

associados, e gerida através de meios legais ou outros meios eficazes, que são a base dos esforços da comunidade

global para conservar a diversidade biológica (UICN, 2003).

Page 62: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

61

A compreensão desta panóplia de conceitos induz muitas vezes a compreensão daquilo que é uma área

protegida. Não é pois de estranhar que à imagem destes territórios, surja associado o conceito de reserva,

derivação do termo latino reservare, significando aqui a ação de salvar. Esta conceção está muitas vezes

presente na gestão do território e na apropriação individual e coletiva dos espaços naturais, com uma clara

associação à praxis conservacionista constituindo-se em muitos casos como gerador de conflitualidades na

gestão destes espaços, na medida em que atores e instituições de âmbitos diferentes possuem perspetivas e

interesses (em muitos casos) antagónicos de difícil compatibilização.

Para Dudley (2009) as áreas protegidas caraterizam-se por englobarem os seguintes elementos relacionados

entre si:

Representatividade: abrangendo o maior número de amostras de especificidades ambientais de

uma dada região ou país.

Adequação: Através de uma representatividade de escala e uma gestão eficaz alcançar a

viabilidade dos processos ecossistémicos e das populações e/ou comunidades.

Coerência e consistência: contribuição positiva e diferenciadora da área protegida através da

aplicação de políticas e classificações, segundo categorias de gestão, relativamente ao

conjunto definido de objetivos de conservação e desenvolvimento sustentável.

Rentabilidade, eficiência e equidade: Análise de custo-benefício, envolvendo a equidade e a

eficácia na sua distribuição, de modo a gerar processos de desenvolvimento local junto das

comunidades afetadas (Davey, 1998).

Contudo nas áreas protegidas algumas questões relacionadas com o fator escala têm sido utilizadas na

conservação in situ, quer ao nível dos argumentos sobre a adequabilidade e função dimensional do espaço

(Durigan et al, 2006), grau e limite das intervenções humanas no território (Locke e Dearden, 2005), gestão

e planeamento holístico como um sistema (Davey, 1998) e escala temporal essencial para a implantação da

área e a sua monitorização (Bennet e Mulongoy, 2006).

As áreas protegidas podem assim assumir um papel fundamental na manutenção do equilíbrio ecossistémico

a nível mundial, num claro ganho para o aumento da qualidade de vida das populações, sendo que, na

perspetiva de se alcançar o desenvolvimento sustentável, o crescimento e implantação destes espaços podem

contribuir através da (Colchester, 2000):

Manutenção de processos ecológicos essenciais dependentes de efetivos ecossistemas naturais;

Preservação da diversidade de espécies e da variação genética;

Manutenção das capacidades produtivas dos ecossistemas;

Preservação das características socioculturais relevantes para a manutenção dos estilos de vida

tradicionais e bem-estar das comunidades locais;

Proteção dos habitats críticos para a sobrevivência de espécies sobretudo ameaçadas;

Page 63: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

62

Possibilidade de criação de oportunidades para o desenvolvimento das comunidades locais,

investigação científica, educação, capacitação, recreação, turismo e mitigação de ameaças de

forças naturais; e,

Fornecimento de bens e serviços ambientais.

Daí que no 3º Congresso Mundial de Parques, realizado em Bali em 1982 resultou uma declaração que

salientava a importância das áreas protegidas enquanto elementos fundamentais para a conservação de

biodiversidade, já que seriam capazes de assegurarem a manutenção de amostras representativas de

ambientes naturais, da diversidade de espécies e da sua variabilidade genética, para além da promoção da

pesquisa científica, educação ambiental, turismo e outras formas minimizadoras dos impactes resultantes das

ações antrópicas, juntamente com a manutenção de serviços ecossistémicos essenciais à qualidade de vida

do homem (Pagani, 2009).

Estes pontos de extrema importância para a diversidade ecológica e equilíbrio ambiental, ou os “hotspots”

conservacionistas desenvolvido por Myers21

, encontram-se um pouco por todo o planeta, como por exemplo

as florestas tropicais, ou os recifes de coral, assumindo-se como espaços de elevada variedade endémica

delimitados com condicionalismos às atividades humanas que aí se praticam (Mitermeier et al., 2008).

Porém, várias áreas protegidas são criadas sem um projeto estruturante suficientemente sólido que ao mesmo

tempo seja capaz de cumprir os objetivos de conservação e prover os meios financeiros necessários para sua

implantação, o que Dourojeanni (2002) designa por “parques de papel”.

Enquanto bens e produto da natureza, estes espaços constituem recursos sem uma mensurabilidade direta,

não sendo possível refletir a sua utilização no sistema geral de preços, na medida em que para o mercado

funcionar é necessário que a cada recurso seja atribuído um determinado preço.

Sem a correspondência entre "mercado" e custos, sempre que ocorrerem benefícios e/ou danos, os mesmos

não são compensados face à sua utilização nestes espaços, ou seja, aquilo a que podemos chamar de

fenómeno económico das externalidades. Este fenómeno, quando ocorre num sistema económico de mercado

não controlado, conduz inevitavelmente à multiplicação de conflitos, pois com a extinção das várias

atividades desenvolvidas, desapareceriam também populações, culturas e patrimónios em resultado de

processos de despovoamento.

Ao se analisarem as mudanças ao nível da conceção teórica e prática que ocorreram especificamente nas

áreas protegidas no modo de conservação in situ, é possível perceber que um novo paradigma tem vindo a

ganhar consistência e a ganhar maior influência ao nível na perceção futura destes espaços (Phillips, 2003),

tal como expresso no quadro seguinte:

21 Avançado inicialmente em 1988 num artigo científico, Myers identificou 10 hotspots sobretudo em florestas tropicais com taxas

elevadas de destruição de habitats. No ano seguinte a UICN adoptou o seu conceito tendo-se definido até hoje trinta e quatro hotspots. No

que concerne ao território Português, o mesmo está englobado na sua maior parte no 18º hotspot – A Bacia Mediterrânea

Page 64: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

63

Áreas protegidas No passado Atualmente

Objetivos Conservação da natureza em paisagens naturais

(Wilderness) valorizada como natureza selvagem

Proteção da vida selvagem

Atendimento aos turistas e visitantes

Inclui paisagens culturais e nesse sentido o restauro e a

reabilitação

Atendimento também à população local

Valorizada pela importância cultural da natureza selvagem

Governança Responsabilidade partia do Governo central Inclusão de vários atores na partilha da gestão

População local Representava uma ameaça

Planeamento e gestão contra sem considerar a

população e as suas opiniões

Gestão com, para e em alguns casos pela população, atendendo

às suas necessidades

Contexto Regional Planeamento isolado

Gestão como ―ilhas

Preocupação com a conservação

Implantadas como redes como parte de sistemas regionais,

nacionais e internacionais.

Perceção Paisagens Naturais e selvagens, somente como um

bem nacional

Consideradas também como um bem da comunidade local e

internacional

Prestadoras de serviços de ecossistemas

Técnicas de gestão Geridas dentro de pequenas escalas de tempo

Gestão tecnocrática que negligencia o contexto

social

Planeamento/gestão adaptativa de longo prazo

Gestão sociopolítica

Financiamento Direto da visitação e exploração Múltiplas fontes, parcerias e financiamentos

Habilitação para a

gestão

Cientistas e técnicos em recursos naturais Indivíduos com conhecimento local e multidisciplinar

Diagnóstico dos

problemas ambientais

Consumo excessivo dos recursos naturais,

Crescimentos populacional vs. Produção alimentar

(Malthus), Necessidade de conservação

Pobreza e superpopulação. Relações de poder, Iniquidade

norte-sul, Mudanças climáticas Desenvolvimento Sustentável

Quadro 1 - Paradigma evolutivo da criação de áreas protegidas. Adaptado de Pagani, 2009 in Philips, 2003.

Trannin (Trannin et al., 2006), reconhece o disposto por Philips (2003) ao sugerir que apesar de se

percecionar uma tendência para o aumento do número de áreas protegidas, a sua gestão ainda constitui um

grande desafio, sendo a deficitária difusão mediática da problemática e das necessidades das áreas

protegidas uma das maiores dificuldades quando se avança com uma política de conservação.

Todos os aspetos que envolvem a dinâmica das áreas protegidas são relevantes para a conservação, na

medida em que constituem mosaicos fragmentados com caraterísticas naturais muito próprias envoltas numa

matriz antrópica bem definida. Nesse sentido, a compreensão dessa dinâmica pode ser a chave para a

compreensão da evolução de cada fragmento do território, e dessa forma traçar estratégias ef icazes

possibilitando uma proteção mais efetiva (Tabarelli e Gascon, 2005).

A conceção de parque (protegido) 22

surgiu no século XIX23

sobretudo com o surgimento do movimento

conservacionista, onde conceitos como o de monumento natural de Alexander von Humboldt surgiram,

desenvolvendo-se a ideia de proteger como um santuário de paisagens ou valores naturais específicos

22 Parque é uma palavra que vem do latim parricus, significando cerrado. Daí que a concepção de parques e jardins que se popularizaram

sobretudo na Europa a partir de meados do século XIX com o movimento higienista, constituíam espaços perfeitamente delimitados

fisicamente por muros e cercas, com uma desconsideração clara entre as classes sociais desse período, sobrevalorizando sobretudo a

burguesia. 23 Na segunda metade do século XIX, foi publicada uma das primeiras obras ambientalistas: a “Walden or life in the woods” pelo

naturalista americano Henry Thoreau (1854), e que defendia que a natureza e seus componentes deveriam ser preservados, questionando a

ideia da separação entre o mundo natural e o homem pois ambos se encontram ao mesmo nível.

Page 65: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

64

(Carvalho, 2000). Este movimento levou à criação do Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos

em 1872 (Davenport e Rao, 2002), tendo aqui prevalecido contudo uma abordagem mais preservacionista24

.

Para os preservacionistas americanos, a natureza deveria ser mantida num estado o mais natural possível,

impedindo que ações negativas da humanidade interferissem com o território. Estes espaços de proteção

traduziram historicamente um fenómeno indubitável de materialização e apropriação territorial por parte de

algumas elites sociais com uma dinâmica associada aos processos de desenvolvimento difusionistas. , já

evidentes nos modelos urbanos ajardinados, dos jardins públicos de acesso restrito a modelos espaciais

maiores como a cidade-jardim de Howard.

Nesta perspetiva dicotómica entre povos e parques, que partindo do pressuposto de que a presença humana é sempre

nefasta para a natureza, toda e qualquer ação humana deveria ser impedida, levando a que se deixasse de se ter em

consideração os diferentes modos de vida das populações tradicionais locais que habitavam essas áreas, apesar da

suposta democratização do acesso para contemplação da paisagem e recreio (Runte, 1997)25

.

Estes espaços compostos por paisagens naturais contêm sobretudo o que podemos designar como amostras

representativas da biodiversidade, voltadas para um tipo de gestão de preservação e uso restrito dos

recursos26

. Contudo e apesar das suas caraterísticas, estes territórios não eram normalmente desprovidos da

presença humana. No caso de Yellowstone27

, por exemplo, os índios autóctones das tribos Crow, Blackfeet e

Shoshone-Bannock reivindicavam uma ocupação secular28

deste espaço quer em regime permanente (como

as primeiras), quer sazonalmente nos períodos da caça (como a última tribo) o que rapidamente levou a

confrontos de interesses diferentes no uso do território29

.

Porém, a conceção da imagem de parque ou área a proteger diferiu relativamente da Europa a esses novos

“mundos”. Isso acontecia porque a “velha” Europa, sofreu uma ocupação humana milenar, com intervenções

24 Para Pagani (2009) a abordagem preservacionista difere da abordagem conservacionista, na medida em que o segundo pressupõe a

possibilidade de gestão das espécies e do ambiente em geral, ao contrário do modelo preservacionista que se assume mais proteccionista.

Por exemplo, a gestão da reprodução de uma espécie ameaçada de extinção (conservação) pode permitir a recuperação da sua densidade

demográfica e distribuição geográfica a ponto de inverter a sua situação, ao passo que o simples isolamento (preservacionismo) poderia

levar igualmente ao seu desaparecimento).

25 Este modelo que podemos designar por Áreas de Protecção Integral difundiu-se mundialmente, estando na génese da criação de

parques (no sentido moderno) no Canadá (1885), na Nova Zelândia (1894), na Austrália e na África do Sul (ambos em 1898), send o

facilmente assimilado nestes países na medida em que viviam processos de expansão e colonização de novos te rritórios,

semelhantes ao que se passava nos Estados Unidos.

26 Segundo Pearce (Pearce et al., 1994) o modelo de gestão preservacionista, descreve a opção de não desenvolvimento de atividades

económicas nas áreas de proteção integral (Cabral e Souza, 2006).

27 Desde a criação do Parque de Yellowstone, que o modelo de áreas de protecção integral tem prevalecido na perspectiva preservacionista

de minimizar as acções durante face à natureza, baseando-se na teoria de ilhas biogeográficas (McArthur e WIilson, 2001).

28 Segundo Kempf estas tribos colonizaram aquela região, 800 anos antes do estabelecimento do parque (Kempf e Hoops, 1993)

29 Apesar de se afirmar que foram os nativos que abandoaram Yellowstone por sua livre e espontânea vontade, dados históricos

demonstram uma outra realidade, pois há registos de 300 mortes provocadas por confrontos entre as tribos locais e o Estado Americano

(Kempf e Hopps, 1993)

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65

em praticamente todo o seu território, deixando poucas áreas sem marcas evidentes de humanização

(Audibert, 2004).

No século XX30

, a criação de parques e reservas difundiu-se por vários países, marcada pela criação de redes

globais31

de espaços protegidos, tendo por base motivos tão díspares como a proteção cénica de paisagens

únicas, preservação biogenética da fauna e da flora, mas sobretudo para a conservação. Com a criação da

IUCN em 1948 foram dados os passos necessários a uma efetiva conservação da integridade e da diversidade

da natureza, tal como pode ser verificado pela figura 15, onde a partir da segunda metade do século,

assistimos a um crescimento exponencial quer no número de espaços, quer no total de áreas classificadas.

Figura 15 - Desenvolvimento da criação de áreas protegidas a nível Mundial. Fonte: Brockington et al, 2005

Contudo, apesar de muitas áreas protegidas terem cumprido o seu papel conservacionista preservando

algumas espécies à escala local, a verdade é que a promoção dessa estratégia para a perda de biodiversidade

como uma solução global, a defesa e de proteção de habitats específicos, ocorreram sem uma avaliação

adequada de sua eficácia potencial. Este fator assume implicações negativas se a longo prazo as estratégias

ligadas à criação e manutenção de áreas protegidas fracassarem, levando a uma quebra na opinião e apoio

que as populações e políticos têm tido relativamente à conservação da biodiversidade.

Contudo, estudos recentes32

indicam que a criação “maciça” de áreas protegidas não está a evitar a perda de

biodiversidade e que o cenário caminha para uma situação catastrófica até ao ano 2050. Apesar de

atualmente existirem aproximadamente 100 mil áreas protegidas a nível mundial, o que representa quase 20

milhões de km2

(17 milhões km2 em terra e 2 milhões de km

2 nos oceanos), a verdade é que essa perda de

biodiversidade tem vindo a aumentar. Os mesmos estudos indicam que apenas aproximadamente 6% das 100

mil áreas protegidas cumpre normas e regulamentos (5,8% em terra e 0,08% nos oceanos), o que vem provar

a nossa consideração destes territórios como espaços de subjetividade. Se por um lado, o princípio condutor

da classificação visando a proteção é baseado na regulamentação, por outro, existem muitos casos em que a

30 Sobretudo o verificado no último quarto do século, como se pode constatar pela análise da Figura 13

31 Como exemplo apontamos o Património Mundial da UNESNCO, os sítios (da Convenção) de Ramsar, as Reservas da Biosfera, os

biótopos Corine e a rede Natura 2000

32 Este é um dos resultados da pesquisa publicada na revista científica Marine Ecology Progress Series (2011)

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66

classificação não passa de uma estratégia de intensão, várias vezes com segundas intenções, sobretudo

político-financeiras em resultado da pressão dos países ditos desenvolvidos.

Figura 16 - Distribuição espacial das 177.547 áreas protegidas legalmente estabelecidas mundialmente. A azul, áreas protegidas

marinhas e a verde, áreas terrestres. Fonte: Bertzky (et al., 2012)

Há ainda a reter que muitos desses espaços não possuem formas de financiamentos nem infraestruturas

físicas e legais adequadas, independentemente da sua tipologia, tomando-se como exemplo que dos 17300

milhões de Euros orçamentados para a operacionalização destas áreas, verifica-se que apenas 1/6 desse valor

é efetivamente utilizado33

, somando ainda o facto do tamanho e a conexão das áreas protegidas não serem

adequadas, pois cerca de 60% das áreas nos territórios terrestres, assim como 30% das áreas nos oceanos

possuem uma superfície inferior a 1 km2.

A verdade é que verificamos que apesar da implantação de áreas protegidas ter vindo a aumentar em área agregada

e em quantidade de espaços instituídos um pouco por todo o mundo, o sucesso e a capacidade de manutenção da

biodiversidade tem vindo a diminuir. As razões para esta situação poderão estar relacionadas com:

Apoio nacional insipiente - os variados benefícios retirados da instituição de áreas protegidas raramente são

percebidos e apreciados pela sociedade em geral e pelo poder político, porque estes espaços não raras vezes

são vistos mais como lugares de recreação, do que propriamente meios para o alcance do bem-estar e do

próprio desenvolvimento social resultando num défice de alocação de recursos de gestão humanos e

financeiros (Lusigi, 1992, O’Connor, 1994; Anholt, 2007).

Prioridade de políticas setoriais – em que muitas vezes instituições, departamentos e ministérios que têm

sobre sua alçada a gestão destes espaços entram em conflitos com outras agências governamentais, e como

normalmente as primeiras tendem a assumir uma posição de fragilidade institucional na estrutura

governamental, são mais vulneráveis relativamente às estratégias políticas e a eventuais cortes orçamentais

no campo ambiental, pois muitas das áreas protegidas são financiadas por recursos financeiros provindos de

33 (ibidem)

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67

orçamentos estatais, estando dependentes das prioridades políticas (McNeely, 1995, Vainer, 2001, Otte et al.,

2007);

Estratégia de gestão - ainda existe a consideração de que as prioridades na gestão de áreas protegidas devem

incidir essencialmente nos aspetos ecológicos, em detrimento dos aspetos políticos e socioeconómicos; resultando

numa visão redutora, marcadamente preservacionista, na tentativa de a isolar do meio em que ela se insere (Lanna,

1995; Zube, 1995; Freemuth, 1991; Sanderson et al., 2002); e,

Conflitos com as comunidades locais – residentes e usufruidoras nestes espaços, na medida em que a base

da estratégia de proteção, necessita a adoção de medidas restritivas que geralmente entram em choque com o

uso dos recursos existentes por parte das populações (Wells et al., 1992; Allen, 1998; Tisen e Bennett, 2000

Acserald, 2005).

Figura 17 - Comparação da tendência global no estado da biodiversidade em terra e mar (linhas vermelhas) e a cobertura global

de áreas protegidas (linhas azuis); Fonte: ScienceDaily, 2011

Na tentativa de se alterar a situação expressa na figura anterior, surgiu no simpósio organizado pela World

Commission on Protected Areas (WCPA) na Austrália (1997), dedicado ao tema ― Protected Areas in the 21st

Century Symposium, a proposta de se avançar no sentido da substituição do paradigma teórico e político das áreas

protegidas pelo novo paradigma bio regional, perspetivando a criação e manutenção de redes de áreas protegidas

integradas ao contexto regional onde se inserem, induzindo assim uma mudança em direção às dinâmicas sociais no

interior e no entorno das áreas consideradas prioritárias para conservação (Westley et al, 1998; Pressey, 1998).

Apesar de vários autores34

defenderem a necessidade da criação de áreas de proteção integral para a conservação da

biodiversidade, a realidade atual demonstra que essa estratégia não garante a sobrevivência de várias espécies, nem

a otimização dos serviços de ecossistema que os territórios podem desempenhar, não sendo pois totalmente eficazes

34 Ver por exemplo McNeely, 1993, McArthur e WIilson, 2001; Mittermeier et al., 2003; Linhares, 2003)

Page 69: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

68

na persecução de uma política de conservação (Masera et al., 2000; Chape et al., 2005; Hayes, 2006; Machado et

al., 2006, Figueiredo, 2006; Joppa et al., 2008).

A IUCN (1994) propôs então uma definição de área protegida que fosse aplicável a todas as propostas de

proteção até aí existentes: Uma superfície de terra ou mar especificamente consagrada para a proteção e

manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados, e gerida através

de meios jurídicos ou outros meios eficazes (Thomas e Middleton, 2003).

Contudo, esta definição reconhecia igualmente que se conseguiriam resultados mais eficazes a nível da gestão em

alguns lugares, se se tivessem em consideração as tradições e as leis ou os sistemas de propriedade instituídos nos

costumes, do que apenas perante sistemas de regulamentação formais (Phillips, 2002), conseguindo-se reduzir

igualmente as ameaças colocadas a estes territórios (Dudley et al., 1999; Barrow e Fabricius 2002), tendo levado a

que em 2007 se tenha avançado com uma nova proposta de definição de área protegida: «Um espaço geográfico

claramente definido, reconhecido, dedicado e gerido mediante meios legais ou outros tipos de meios eficazes para

se alcançar a conservação a longo prazo da natureza e dos seus serviços ecossistémicos e valores culturais

associados» (Dudley, 2008).

Embora existam várias tipologias de áreas protegidas, criadas com objetivos diferentes e designadas segundo

princípios análogos em diferentes países, a IUCN desenvolveu um sistema de classificação para áreas protegidas

baseada nos objetivos da sua gestão, em que se reconhece que enquanto algumas áreas protegidas (por ex.:, aquelas

incluídas nas categorias I e II) são protegidas de forma mais rigorosa das atividades humanas, outras (por ex.:, as

incluídas nas categorias V e VI) permitem certas formas de intervenção, como o uso sustentável de recursos naturais35

.

Figura 18 - Extensão total de AP’s designadas a nível nacional em cada uma das categorias de gestão da IUCN, 1950-9036

35 Segundo o documento de 2003 das Nações Unidas relativo à Lista de Áreas Protegidas, a extensão da superfície terrestre coberta

por áreas protegidas alcança actualmente os17,1 milhões de km2 (11,5% da superfície terrestre), enquanto as reservas marinhas

correspondem a 1,7 milhões de km2 adicionais, ou seja, menos de 0,5% dos oceanos do planeta (Chape et al. 2003). A lista de 2003

é a última existente, pois o próximo o congresso só se irá realizar em 2014, onde se irá proceder à actualização dos dados a nível

mundial. Para mais informações aceder ao site: http://www.iucn.org/about/work/programmes/pa/pa_event/wcpa_wpc/

36 Fonte: http://www.protectedplanet.net/#2_14_-6_0

Page 70: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

69

A UICN caracteriza as áreas protegidas de acordo com a tabela seguinte:

Tipologia Descrição

I.a. Reserva Natural Estrita/ Áreas estritamente protegidas para a biodiversidade assim como, de interesse

geológico e geomorfológico, onde os impactos gerados pela visitação e uso

humano, são rigorosamente controlados e limitados para assegurar a proteção

dos valores de conservação. Essas áreas podem servir como áreas de referência

indispensáveis para a investigação e monitorização científica

I.b. Área Natural Selvagem São geralmente grandes áreas não modificadas ou ligeiramente modificadas,

mantendo o seu caráter natural e influência com permanente presença humana,

sendo protegidas e geridas de modo a preservar a sua condição natural.

II. Parque Nacional: Áreas protegidas cujo manejo

é voltado principalmente para a conservação do

ecossistema e recreação.

São grandes áreas naturais para proteger em larga escala os processos

ecológicos, juntamente com o complemento das espécies e ecossistemas

caraterísticos da região, que também fornecem uma base ambiental e

culturalmente compatíveis, espirituais, científicos e educacionais.

III. Monumento Natural: Áreas protegidas cuja

gestão visa principalmente a conservação de

características específicas.

São áreas reservadas para proteger um monumento natural específico, que pode

ser um acidente geográfico, formação geológica, ou até mesmo um recurso

biológico, como um antigo bosque. São geralmente áreas muito pequenas e

muitas vezes têm um valor elevado para os visitantes.

IV. Áreas de gestão de habitat/espécies: áreas

protegidas cuja manutenção visa principalmente a

conservação através da gestão ativa.

Áreas que priorizam a proteção de determinadas espécies ou habitats. Muitas

áreas protegidas desta categoria necessitam regular, intervenções ativas para

atender às necessidades de determinadas espécies ou para manter os habitats,

(embora essa não seja uma exigência da categoria).

V. Paisagem terrestre e marinha protegidas: áreas

protegidas cuja gestão visa principalmente a

conservação da paisagem terrestre/marinha e

recreação.

Áreas onde a interação entre as pessoas e a natureza ao longo do tempo

produziu uma área de carácter distinto, com um valor significativo, ecológico,

biológico, paisagístico e cultural, onde a salvaguarda da integridade desta

interação é fundamental para proteger e manter a área e a sua associação de

conservação da natureza.

VI. Área Protegida cuja gestão visa principalmente

a utilização sustentável dos ecossistemas naturais.

A conservação dos ecossistemas e habitats associados, juntamente com os

valores culturais e tradicionais dos sistemas de gestão dos recursos naturais.

São geralmente grandes áreas, com a maioria do espaço ainda em condições

naturais, onde uma parte está sob a gestão sustentável dos recursos naturais e

uma pequena parte se encontra num nível de uso dos recursos naturais

compatíveis com a conservação da natureza.

Quadro 2 - Tipologia e descrição das áreas naturais. Fonte: UICN

Em Portugal, a tradição institucional da criação de espaços protegidos é muito antiga. Vários foram os documentos

de ordem régia no sentido da classificação de áreas no território nacional, embora nem sempre com as “melhores

intenções”37

.

Porém é nos finais do século XX que é criado em Portugal uma “consciência ambiental” e se dão os passos para

uma organização e institucionalização das áreas protegidas. Com o primeiro Congresso Internacional para a

Proteção da Natureza realizado em Paris, em 1909 para proteger a fauna de África - Convenção para a Preservação

de Animais, Pássaros e Peixes em África, em Londres no ano 1900 – apesar da patente tradição colonialista

europeia na forma de ocupação territorial, lançou as raízes para posteriormente se criarem os primeiros Parques -

37 Muitos dos espaços criados, serviam sobretudo os interesses reais ou de alguma da nobreza, quer no territoria nacional, quer nos

território ultramarinos, no sentido da restrição de atividades, como a caça, o desmatamento e a exploração de outros recursos naturais.

Muitos dos espaços sob a alçada direta do poder real designavam-se por Montarias Reais, circunscrições administrativas para proteção de

florestas e animais silvestres, congéneres dss atuais áreas protegidas.

Page 71: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

70

que Portugal também viria a subscrever (Flores, 1937 in Schmidt, 2008). Mais foi apenas após a década de 70 do

século XX, com os ideais do modernismo38

, que as questões ambientais ganharam uma expressão verdadeiramente

mundial.

Em 197139

é subscrita internacionalmente a Convenção de Ramsar assente essencialmente nas zonas húmidas com

interesse internacional para as aves aquáticas. Portugal aderiu um pouco mais tarde 1980, materializada numa outra

rede de lugares protegidos, regulada pelo Decreto-Lei 101/80, de 9 de Outubro, contribuindo com doze lugares40

classificados e 661 km2

Portugal aderiu neste período (1979) ainda à Convenção de Berna, sobre a Conservação da Vida Selvagem e dos

Habitats Naturais ratificada através do Decreto-Lei nº 95/81, de 23 de Julho e regulamentada pelo Decreto-Lei nº

316/89, 22 de Setembro. Em 1981 adere igualmente à rede global criada ao abrigo do projeto Man and Biosphere

(criado em 1970), no âmbito do qual classificou, nesse ano, o Paul do Boquilobo como Reserva da Biosfera.

O mesmo ocorreu relativamente com o Projeto Europeu Biótopos Corine41

, estabelecido em 198542

, que assumiu o

objetivo da conservação do património natural e efetuar, para esse fim, uma compilação de informações e dados sobre

uma rede de lugares, das suas componentes físicas e biológicas mais importantes com vista ao seu melhor

conhecimento e correspondente proteção e conservação do valor ambiental do território na Comunidade Europeia43

.

Portugal é subscritor de outros convénios e diplomas regentes de espaços classificados como a Rede Europeia das

Reservas Biogenéticas44

, Convenções das Alterações Climáticas e da Desertificação e espaços abrangidos pelo

Diploma Europeu para Paisagens, Reservas e Monumentos Protegidos, como a Reserva Natural das Ilhas

Selvagens, estatuto que distingue as áreas protegidos de interesse relevante.

38 A legislação da década de 70 do século XX expressa esse movimento ao dar especial relevância a critérios como o valor estético e a

representatividade cultural enquanto fatores determinantes para a classificação de espaços protegidos. A própria Constituição da República

Portuguesa de 1976 no artigo 66º, refere que é responsabilidade do Estado, “no quadro de um desenvolvimento sustentável”, criar e

desenvolver “reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a

conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou artístico”.

39 Este conjunto de iniciativas teve eco em Portugal, pois neste ano foi criado o Parque nacional da Peneda-Gerês através do Decreto-Lei

nº 187/71, de 8 de Maio

40 Com uma distribuição litoral, os lugares situam-se em estuários e outras formas litorais, como as Rias de Alvor e Formosa e as Lagoas

de Sancha, Albufeira e St. André. Nesta listagem, inscrita em três fases (2 em 1980, 8 em 1996 e 2 em 2001), encontramos ainda algumas

áreas palustres, como os pauis de Tornada, Madriz, Taipal e Arzila.

41 Em inglês: Coordination of Information on the Environment)

42 Através da resolução do Conselho 85/338/CEE, de 27 de Junho.

43 Para que um determinado local seja incluído num inventário do Projecto Biótopo, necessita ser reconhecido como sítio de valor biológico,

ecológico, geológico, geomorfológico ou paisagístico.

44 Criado pelo Conselho da Europa em 1966 é constituída por um conjunto de áreas que visam garantir o equilíbrio, a diversidade genética

e a representatividade dos diferentes tipos de habitats e ecossistemas, existeindo em Portugal, dez áreas designadas como Reservas

Biogenéticas (ICN, 1998).

Page 72: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

71

Em 1992 No âmbito da Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) Portugal

assinou a Convenção sobre a Diversidade Biológica45

, que viria a resultar na Estratégia Nacional de Conservação da

Natureza e da Biodiversidade46

.

No seguimento das premissas desta convenção, pretendeu-se em 1995 com o Plano Nacional da Política do

Ambiente, que vem no seguimento da Lei de Bases do Ambiente47

, o estabelecimento de um Sistema Nacional de

Áreas Protegidas como um dos eixos prioritários, na “proteção do património natural e seminatural mais relevante

do território” (MARN, 1995: 50), embora estas áreas vinham já desde a década de 70 do século XX48

a serem

enquadradas através da Lei dos Parques Nacionais e Outro Tipo de Reservas e se determinado a sua tipologia de

classificação através do Decreto-Lei nº 19/93, de 23 de Janeiro. É neste Decreto-Lei que se definem os diferentes

estatutos de proteção, propondo a classificação em 4 tipos de áreas protegidas, três deles de âmbito nacional (parque

nacional, parque natural e reserva natural) e outro de interesse regional ou local (área de paisagem protegida),

traduzindo, desde logo, áreas com diferentes enquadramentos geográficos.

2.2 – Espaços de subjetividade e de conservação

Somos uma espécie da natureza que se constitui enquanto tal e constitui os indivíduos que a ela pertencem

pelo constante metabolismo com o exterior, o que nos transforma em “seres naturais ativos”, atividade vital

que garante a existência dos indivíduos e da sociedade (Foster, 2005).

Para Brandon (Brandon et al,. 1998), os usos sustentáveis dos recursos naturais devem ser incentivados e

implementados com base na criação de parques e reservas e em corredores que componham redes de

Unidades de Conservação, tendo contudo em consideração políticas rígidas conservacionistas, onde se

consiga controlar a ação humana sobre os processos naturais, visando preferencialmente a sua conservação e

não o bem-estar social dos povos que nelas habitam.

Esta premissa vai assim ao encontro à linha de pensamento desenvolvida pelos adeptos do modelo de

conservação em mosaico (Garay et al., 2001; Huston, 1994; Roughgarden, et al., 1989), onde áreas

estritamente protegidas são interligadas por espaços de uso controlado, como florestas nacionais, reservas ou

projetos agroflorestais (Janzen, 1994; Olmos, 2002).

45 Através do Decreto-Lei nº21/93, de 29 de Junho 46 Através da resolução do Conselho de Ministros nº 152/2001, de 11 de Outubro. 47 Lei n.º 11/87 de 7 de Abril (alterada pela Lei n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro). Juntamente com a manutenção das áreas protegidas de

âmbito nacional, veio consagrar no sistema jurídico nacional os conceitos de área protegida de âmbito regional e local. Estes textos legais

conferem à realidade portuguesa de áreas “naturais” há muito humanizadas uma relativa “conceção europeia de parque natural”

48 Lei nº 9/70, de 19 de Junho e Decreto-Lei n° 613/76, de 27 de Julho

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72

Figura 19 - Modelo de uma rede ecológica englobando áreas protegidas. Fonte Mackey et al., 2010, adaptado de Bennett, 2004

É comumente aceite que a proteção e a conservação dos ecossistemas e espaços naturais é um dos mecanismos

mais efetivos para reduzir a perda da biodiversidade, constituindo as áreas protegidas o seu principal instrumento

político. O processo que envolve a seleção, implantação e gestão destas áreas suporta-se normalmente em

critérios ecológicos e económicos, não constituindo uma garantia de sucesso com os resultados da conservação.

A escolha e a instituição de determinada área protegida provoca sempre uma crise, e a sua administração “faz

parte do domínio das instituições e da prática política” (Morsello, 2001: 140).

A maioria dos problemas que afetam as áreas protegidas resulta do facto de existir uma perceção da paisagem

natural vincadamente biológica, esquecendo-se que esta não é apenas constituída por elementos naturais e

materiais, mas também pelas pessoas, as suas atividades, relações, cultura, instituições, ou seja, o resultado de um

processo de construção social, um sistema de valores, conhecimentos e comportamentos. A biodiversidade é

também assim, um produto social, sendo a organização social promotora de mudança através dos conflitos em

torno do uso de recursos naturais, na medida em que a “natureza pode ser componente de uma paisagem, mas

nunca a representa por si só (Moreto, 2008).

Apesar do caráter protecionista e conservacionista das áreas protegidas é percetível que ao nível dos seus

objetivos específicos existem algumas lacunas que importam considerar, nomeadamente:

A consideração dos aspetos biogeofísicos alvo das estratégias de conservação, não são passíveis de

limitações geográficas rígidas, assumindo um caráter finito, na medida em que a natureza é antes

de mais um continuum, não se reconhecendo limites ou fronteiras.

Muitas das próprias estratégias de conservação baseiam-se em pressupostos generalistas, métodos

e técnicas que não são propriamente adaptáveis à realidade do próprio espaço a proteger, limitando

geograficamente estes territórios como ilhas contextualmente isoladas nas políticas abrangentes de

ordenamento do território,

Muitas das áreas protegidas são espaços em que as comunidades locais continuam a desenvolver as

suas atividades que juntamente com a disponibilidade oferecida pelas caraterísticas biogeofísicas

na exploração dos seus recursos, sentem a pressão contínua e cada vez maior do desenvolvimento

Page 74: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

73

dessas atividades, que de um modo direto e/ou indireto, são introduzidas pressões ambientais na

perigosidade de se ultrapassar a capacidade de carga ecossistémica induzindo em vários casos o

empobrecimento dos sistemas bióticos e abióticos aí presentes.

Os conflitos sociais gerados entre as populações locais e exploradores de recursos/proprietários

induzem resistências aos processos de gestão desenvolvidos para estes espaços, que o caráter

excessivamente regulador e normativo, fundamentalmente conservacionista não consegue resolver.

Enquanto espaços com o objetivo primário de conservação, envolvem investimentos de caráter

público, privados ou mistos, de operacionalização e manutenção, seguindo modelos de gestão que

visam a viabilidade económica destes territórios. Contudo verifica-se que a sustentabilidade desses

modelos é diminuta face à precariedade dos recursos disponíveis e sem a perspetiva imediata de

retorno financeiro, agudizada pela dificuldade de se encontrarem novas fontes de financiamento

que suportem a imprevisibilidade evolutiva destas áreas.

São pois as formas de regulação de âmbito local e regional que constituem um fator determinante na trajetória de

desenvolvimento desses territórios (Fermisson, 2005). Nesse sentido, autores como Milano (1998) defendem um

modelo muito claro com base nestas questões, indicando que a necessidade de se “guardar e proteger amostras

significativas dos mais diversos ecossistemas contra a ocupação irracional”, num estreito relacionamento com os

usos pouco eficientes dos recursos naturais, e com o uso “artificial” do território.

Para Humbert e Lefeuvre (1992) estes espaços estão indissociavelmente associados a um legado genético da

biodiversidade dos territórios e dos aspetos socioculturais das sociedades que neles interagem “pelas gerações

que nos precederam e que devemos transmitir intacta às gerações futuras” (ibidem: 287).

Nesse sentido, podemos indicar duas formas de tentativa de preservação da biodiversidade: a proteção de

indivíduos de uma determinada espécie animal, ou vegetal, promovendo meios legais e ativos que impeçam a sua

captura e comercialização e ainda a proteção do habitat dessas mesmas espécies49

, ou a proteção de determinado

ecossistema suporte de uma várias espécies. Embora sejam meios complementares de proteção, o segundo

modelo assume-se como o mais importante, na medida em que, a destruição de habitats é uma das principais

ameaças à diversidade biológica (Garcia, 2006).

As áreas protegidas estão intimamente conotadas com os parques naturais porque culturalmente a sociedade

convencionou que determinadas áreas fossem protegidas na forma de unidades de conservação. Neste sentido, a

natureza é entendida como uma construção cultural, uma vez que a sua existência está depende dos processos

sociais e culturais que assim as determinam (Moreto, 2008).

As áreas protegidas, embora sem o sentido atual de conservação da natureza, têm ligações com o passado humano de

variadas formas e objetivos em diversas culturas e civilizações (Barborak, 2007; Pagani, 2009). Na China, na dinastia

49 Como por exemplo a Convenção sobre o comércio Internacional de espécies ameaçadas de flora e fauna (CITES)

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74

Chow (1122-255 a.C.) havia uma recomendação imperial para a conservação de florestas, que se estendeu a dinastias

seguintes, sobretudo com ações de reflorestamento de áreas desmatadas e a criação de estações experimentais e as leis

de proteção de áreas húmidas escritas durante o reinado da dinastia Tchen no século VI a.C.

Também é possível encontrarem-se referências à proteção da natureza noutras civilizações. Na Grécia no século

IV a.C. Platão chamava a atenção para a importância das florestas como reguladores do ciclo da água e protetoras

dos solos contra a erosão. Em Roma eram proclamados inimigos do Estado aqueles que abatiam

indiscriminadamente as florestas da Macedónia, ou ainda em meados do século V a.C. (450 a.C.) a Lei das XII

Tábuas (Lex Duodecim Tabularum ou simplesmente Duodecim Tabulae), continha pressupostos de prevenção da

devastação das florestas.

Outros exemplos ainda e sobretudo visando a proteção dos recursos animais, como por exemplo as reservas de

caça das culturas pré-agrárias do médio Oriente, ou o decreto de proteção aos animais terrestres, peixes e

florestas, decretado pelo imperador hindu Asoka, no Século III a.C. eram exemplos concretos dessas

preocupações (Mackinnon, 1987).

Esta estratégia a que podemos de referir como clássica de conservação tem como característica a simplicidade,

porém constatamos que a realidade é muito mais complexa. Este modelo tradicional (na perspetiva de gestão e da

conservação numa perspetiva restritamente biogeofísica) não consegue mais hoje assumir-se como o modelo

único de proteção da natureza, na medida em que, recusa-se a reconhecer e enfrentar o facto de que as

dificuldades do poder público na gestão, regulamentação e fiscalização desses espaços são problemas intrínsecos

ao próprio modelo. Recusam-se da mesma forma a reconhecer o atual papel e o potencial que as populações

locais podem assumir na conservação e proteção de espaços de conservação.

Na possibilidade das populações rejeitarem a criação de uma área protegida não significa necessariamente uma

rejeição ao ato de conservação de base: significa acima de tudo uma rejeição a um modelo de conservação

concebido por pessoas "de fora", baseado em valores e necessidades que não correspondem forçosamente aos

valores e necessidades da comunidade que obedecem a uma lógica estranha à cultura local. Um modelo de

conservação, exclusivo, que não lhes permite ter de alguma forma e em nenhum tipo de nível o controlo sobre

recursos (dos quais em vários casos são dependentes) sem oferecer (quase) nada em troca.

Nesta perspetiva, a gestão de áreas protegidas ganha novos significados, na medida em que esta assume-se como uma

das estratégias principais para a proteção da biodiversidade mas também para o desenvolvimento social, indo ao

encontro do princípio de distribuição de benefícios decorrentes do próprio processo conservacionista da natureza.

Contudo no caso português (ao contrário de muitos outros países) a grande maioria dos terrenos são de

propriedade privada, e geridos em função dos interesses dos seus proprietários sob uma perspetiva e lógica

privada, o que levanta um problema ao nível da gestão dessas áreas na medida em que o interesse coletivo tende a

ser preterido relativamente aos interesses privados.

Page 76: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

75

Porém não existe qualquer tipo de indicador que demonstre que pelo facto de a propriedade ser de caráter público seja

uma garantia maior para os próprios interesses públicos. Cabe aqui então compreender qual a origem dos recursos para

gerir as áreas de conservação. Se existir um determinado valor de mercado para os valores de conservação, os

beneficiários desse mesmo valor tenderão a mantê-lo. Na base da posse privada dos terrenos e colocando-se o cenário

de não haver um valor de mercado que seja suficientemente atrativo, a gestão da conservação deverá assentar em dois

pilares: o da regulamentação/repressão, e o da negociação/contratualização (Feio et al, 2009).

No primeiro caso a gestão passiva da conservação (não matar exemplares de uma determinada espécie vegetal ou

animal), assume-se como a mais eficaz, enquanto no segundo caso, será mais eficaz quando a conservação exige

uma ação específica e permanente de modo a se manter uma determinada caraterística ou processo evolutivo.

Ao nível dos custos, o valor de gestão de uma área para conservação é inversamente proporcional à sua área total,

na medida em que se consegue uma gestão territorial menos intensiva quando estamos perante grandes áreas.

Este é um aspeto fulcral na comparação de modelos de gestão de áreas protegidas baseadas em sistemas naturais

em equilíbrio, ou sistemas naturais com intervenções humanas corretivas, em que, não existe uma necessidade de

gestão intensa devido à baixa produtividade primária.

Globalmente, as áreas protegidas oferecem um largo espetro de sistemas de gestão, indo daqueles que excluem

toda a intervenção humana, àqueles que permitem a exploração sustentável de recursos (IUCN, 1994). Por outro

lado, as abordagens de criação e gestão em todas as categorias formais de áreas protegidas estão a evoluir para

modelos de maior responsabilidade social, que incluem as aspirações e necessidades das populações locais

(Phillips, 2003), enquanto o envolvimento dessas comunidades na gestão das áreas protegidas tem vindo a ser

incentivado ativamente em vários países (Western et al., 1994).

Estas áreas podem fornecer uma extensa gama de bens e serviços para as populações que nelas habitam, que

delas usufruem e para a sociedade como um todo. Desde serviços de provisão, que inclui os serviços

fornecedores de produtos naturais com valor de uso direto para as comunidades rurais, (como por exemplo,

alimentos, água potável, madeira e plantas medicinais), serviços reguladores (benefícios provenientes de serviços

de ecossistema, tais como regulação climática, proteção de bacias, proteção costeira, purificação da água,

sequestro de carbono e polinização); serviços culturais (valores religiosos, turismo, educação e herança cultural);

e serviços de suporte (formação de solos, ciclo de nutrientes e produção primária).

Parte da subjetividade destes espaços resulta da compatibilidade dos usos com os objetivos de gestão de uma

determinada área protegida. Por exemplo, a educação é um uso direto dos recursos da área protegida; no entanto, a

simples aceção de exploração, contraria o princípio subjacente de preservação. Contudo, o ato de educar é de suma

importância para a implementação de uma consciência individual e coletiva para a importância destes espaços.

No entanto observa-se que os benefícios locais são maiores nas categorias com maior número, correspondendo a

áreas protegidas de maior âmbito e dimensão (Quadro 3).

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76

Objetivos de Gestão Categorias de gestão da IUCN

Ia Ib II III IV V VI

Investigação Científica P A S S S S A

Proteção da vida selvagem S P S A A - S

Preservação de espécies e diversidade genética P S P P P S P

Manutenção dos serviços ambientais S P P - P S P

Proteção de recursos naturais e culturais específicos - - S P A P A

Turismo e recreio - S P P A P A

Educação - S S S A

Utilização sustentável de recursos de ecossistemas naturais - A A - S S P

Manutenção dos atributos culturais e tradicionais - - - - - P S

Chave: P – Objetivo primário; S - Objetivo secundário; A – Objetivo potencialmente aplicável

Quadro 3 - Matriz de objetivos de gestão e da área protegida categorias de gestão da IUCN. Fonte IUCN, 1994

A consciência e compreensão dos bens e serviços que uma área protegida pode proporcionar são importantes para a

adoção do modelo de gestão que melhor se adeque à sua realidade. É desse modo de elevada utilidade, a consideração

do conjunto de usos e benefícios proporcionados e a tipologia da sua natureza em termos públicos, privados ou um

misto de ambos.

Convém aqui ainda considerar na perspetiva das ações de conservação, que ou quais fundamentos se apresentam como

válidos para se avançar com uma estratégia de conservação. Que valor (físico, humano, cultural, natural ou construído)

deve ser considerado? Que cenário, que contexto “merece” um estatuto de proteção em detrimento de outro? Que

espacialidade deve ser considerada em detrimento de uma escala geográfica contínua territorial?

A verdade é que a natureza e os seus sistemas ecológicos não são imutáveis em nenhuma escala temporal, aliás, nada

no universo o é! A evolução é contínua na procura do estabelecimento de relações estáveis desde a escala mais

elementar – átomo, até aos gigantes complexos de gestação de novas galáxias. Se considerarmos que quando

perscrutamos o céu noturno e observamos a miríade de estrelas e constelações, estamos na verdade a ter um mero

vislumbre do passado, de algo que aparenta que está a acontecer no momento, como poderemos considerar que

determinado sistema ambiental deve ser preservado, em que condições, e que características deverão ser priorizadas?

Não podemos esperar que uma determinada área a conservar se mantenha como uma foto polaroide tirada no

momento e mantida infinitamente. Aliás a própria aceção de conservação levanta uma questão ética, na medida em

que, qual o direito que o ser humano tem em impedir a evolução de determinado ecossistema, enquanto ele é um

elemento igualmente em constante evolução?

Se o caminhar para a entropia dos sistemas é uma realidade, então qual a pertinência da preservação? E depois, mesmo

em sistemas em que a estratégia conservacionista justifica-se (mais como reparo de males provocados pela ação

humana), qual o cenário a proteger? O atual, o de há 25 anos, um século? Conseguiremos com a criação de uma área

protegida o de preservar um determinado ecossistema no seu equilíbrio “ótimo”? De se manter uma determinada

paisagem? E qual seria esse equilíbrio? Estarão as estratégias de conservação e os objetivos das áreas protegidas

adequados à sua verdadeira escala temporal?

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77

Estas são perguntas tão sem resposta, no contexto de gestão territorial. A verdade é que o espaço geográfico, as

paisagens e os ecossistemas não são imutáveis e são fruto da evolução natural e da cultura humana. As áreas

protegidas são pois dentro desta perspetiva, estruturas territoriais condicionadas no espaço e no tempo embebidas

dentro da sua própria subjetividade concetual.

Virgínia Wolf (1979) referia que "… o passado é bonito, porque nunca se percebe uma emoção no momento. Ele se

expande mais tarde, e, portanto, não temos emoções completas sobre o presente, apenas sobre o passado", sendo este o

fator primordial que suporta as estratégias de conservação: a perceção de um tempo imutável de condições ótimas com

as quais os grupos humanos se identificam e percebem como parte integrantes de ambientes naturais sem a intervenção

nefasta do homem (Davey, 1998).

O estabelecimento de áreas protegidas não é fácil de justificar aos diversos públicos-alvo, na medida em que, embora

sejam de fácil quantificação ao nível dos custos de implantação e operacionalização, o mesmo não acontece na sua

medição relativamente aos benefícios diretos e sobretudo indiretos, pois embora envolvam uma certa forma de

benefício social, são acima de tudo de natureza mais difusa. O resultado desta forma de se analisar a pertinência de

criação destes espaços, não agrega muitos apoios, levando a que o Estado não priorize em muitos casos a proteção da

natureza (Dixon e Sherman, 1991).

Perante as múltiplas funcionalidades que nelas se encerram, qual o envolvimento que as sociedades humanas

desenvolvem com as áreas protegidas? Espaços claramente identificados na sua génese e apropriação territorial secular

resultam em muitos casos das conflitualidades fruto das limitações que as áreas protegidas colocam aos usos dos

recursos, dados ou pretendidos, pelas populações locais que maior contato com esses territórios desenvolve.

Nesta perspetiva, vemos a gestão de áreas protegidas como um processo dinâmico onde é possível o desenvolvimento,

implementação e coordenação de uma estratégia de ordenamento de recursos naturais, socioculturais e institucionais

apontando à conservação e utilização múltipla sustentável destes espaços geográficos.

É pois neste contexto que se devem encarar as áreas protegidas enquanto espaços geográficos moldados pelo quadro

de apropriações e de conflitos entre diferentes atores de desenvolvimento que interagem em torno destes territórios. A

própria adjetivação “protegida” assume aqui uma conotação subjetiva, sendo então essencial a compatibilização das

atividades das comunidades locais com as ações de conservação do meio natural, sendo assim pois importante que essa

mesma população participe no processo de ordenamento desses espaços.

A subjetividade está igualmente patente ao nível da legislação nacional. As áreas protegidas, assim como a Paisagem,

para além de uma panóplia grande de documentos que as enquadram ao nível do ambiente, como a Lei de bases do

ambiente (Lei n.º 11/87 de 7 de Abril (alterada pela Lei n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro)), a Lei de Bases da Política de

Ordenamento do Território e Urbanismo - Lei 48/98, de 11 de Agosto, estão enquadradas pelo Decreto-Lei n.º 19/93,

de 23 de Janeiro (que institui legalmente a - Rede Nacional de Áreas Protegidas) e o Decreto-Lei n.º142 de 24 de

Julho (que estabelece o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade).

Page 79: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

78

Na Lei 48/98, pode ler-se que a paisagem é um elemento importante na qualidade de vida das populações e que

constitui um fator essencial do bem-estar individual e social, pelo que a sua proteção, gestão e ordenamento faz parte

dos direitos e dos deveres não apenas dos Estados mas também de cada cidadão, mas sem avançar com uma definição

do que se entende por paisagem.

Contudo e no caso da Paisagem, apenas na Lei de bases do ambiente é que encontramos uma definição clara para

paisagem. No artigo 5º - «Conceitos e definições» o legislador assume que “Paisagem é a unidade geográfica,

ecológica e estética resultante da ação do homem e da reação da Natureza, sendo primitiva quando a ação daquele é

mínima e natural quando a ação humana é determinante, sem deixar de se verificar o equilíbrio biológico, a

estabilidade física e a dinâmica ecológica”. Ou seja, estamos perante um conceito ambíguo na medida em que se

mistura o caráter de escala, natural e cultural para o mesmo conceito. Também se determina que não existem paisagens

naturais no sentido de serem intocadas e sem qualquer ação do Homem, pois na definição de primitiva, assume-se

como sendo o fator de escala mínimo qualquer influência da ação humana, mesmo que indireta.

Como referimos a paisagem neste documento é vista como fazendo parte dos componentes ambientais humanos,

numa clara aceção a um caráter cultural, pois no 3º parágrafo do artigo 17º surge concetualmente separada do

património natural e construído (para além da poluição???) enquanto componente. Porém, nos artigos 18º e 19º

acabamos por inequivocamente compreender que, a paisagem assume claramente uma componente estética e

visual e as ações de proteção, passam pela minimização de potenciais impactes induzidos pela ação antrópica50

.

Por outro lado, é assumida uma tipologia dividida entre paisagens naturais e artificiais, rurais e urbanas. No

primeiro caso, numa componente estética e no segundo caso, numa componente natural e cultural.

Ao nível das áreas protegidas, a definição de paisagem é claramente esquecida. Paisagem, surge um pouco como

que “envergonhadamente” ao longo dos diplomas legais, o que induz um aumento de subjetividade e

ambiguidade na análise do conceito e na concetualização dessa componente na classificação desses espaços.

Senão vejamos: No decreto-lei 19/93 no seu artigo 1º - Princípios gerais “a conservação da natureza, a proteção

dos espaços naturais e das paisagens (...) constituem objetivos de interesse público”51

; daí que “Devem ser

classificadas como áreas protegidas (…) a paisagem (… [que]) apresentem, pela sua raridade, valor ecológico ou

paisagístico (…) em ordem a promover a gestão racional dos recursos naturais, a valorização do património

natural e construído”52

.

Acima de tudo, encontramos aqui a paisagem visto como um recurso a valorizar, mas também a explorar,

sobretudo na sua componente estética. Este aspeto surge no artigo 3º na «definição dos objetivos da classificação

de áreas protegidas» onde se é referido que “a proteção e a valorização das paisagens que, pela sua diversidade e

50 “A proteção e valorização das paisagens que, caraterizadas pelas atividades seculares do homem, pela sua diversidade, concentração e

harmonia e pelo sistema sócio-cultural que criaram, se revelam importantes para a manutenção da pluralidade paisagística e cultural (artº

19);

51 1º Parágrafo. 52 2º Parágrafo.

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79

harmonia, apresentem interesses cénicos e estéticos dignos de proteção”53

, mas o que são as paisagens? o que se

entende por sua diversidade e harmonia? Estamos perante um conceito subjetivo que o legislador evita definir.

A utilização de paisagem como fazendo parte da definição destes espaços, continua a ser utilizada ao longo do

mesmo documento. No artigo 5 na definição de Parque Nacional (1º parágrafo) entende-se que este é “uma área

composta por paisagens naturais e humanizadas”. Mas qual é a distinção de paisagens naturais e humanizadas?

Se o próprio artigo define que são áreas pouco alteradas ou com ecossistemas inalterados (não querendo dizer

com isto que não haja ação humana) a distinção anterior não faz sentido. No artigo 7º na definição de parque

natural, a paisagem surge divida em três tipos: paisagem natural, seminaturais e humanizadas, embora no 2º

parágrafo se destaque a exigência de manutenção e valorização das caraterísticas das paisagens seminaturais.

Mais uma vez, não existe qualquer definição para estes conceitos, o que demonstra que estamos perante critérios

subjetivos. As mesmas definições surgem depois no artigo 9º - «Paisagem protegida», embora com a sugestão

que a paisagem é vista aqui com um valor estético ou natural. Ou seja, para o legislador, a estética da paisagem,

equivale ao seu conteúdo natural, não assumindo que a componente estética é um atributo da perceção humana e

não uma qualidade física do espaço.

No Decreto-Lei n.º142 de 24 de Julho a subjetividade patente nos documentos anteriores continua patente. No

seu artigo 3º «Definições», o Património natural é visto como “…o conjunto dos valores naturais com

reconhecido interesse natural ou paisagístico, nomeadamente do ponto de vista científico, da conservação e

estético”54

. Para além da omissão nas definições daquilo que se entende por paisagem, esta surge indiretamente

conotada sobretudo com um sentido estético. Por exemplo na alínea i) referente à definição de «Geossítio»,

sugere-se que é uma “a área de ocorrência de elementos geológicos com reconhecido valor científico, educativo,

estético e cultural”, ou seja, embora a palavra paisagem não esteja claramente identificada na definição, é

incutida pela sugestão à componente “estética e cultural” da área referida.

Aliás, a alínea n) do artigo 3º sugere que natureza e paisagem possuem os mesmos valores, daí que “… Devem ser

classificadas como áreas protegidas, (…) pela sua raridade, valor científico, ecológico, social ou cénico…” (Artº 10º).

Porém a paisagem, tal como na Lei de bases do ambiente, apesar de não se perceber claramente em quê que

consiste, é algo a valorizar no contexto da manutenção da biodiversidade, tal como disposto no artigo 12º

referente aos «Objetivos da classificação», onde se refere que “a classificação de uma área protegida visa

conceder -lhe um estatuto legal de proteção adequado à manutenção da biodiversidade e dos serviços dos

ecossistemas e do património geológico, bem como à valorização da paisagem”.

A partir desta referência explícita à palavra paisagem, a mesma surge depois ao longo do documento. Assim, no

artigo 14.º referente à «Classificação de áreas protegidas de âmbito nacional – elementos da proposta de

classificação» estas áreas necessitam para a sua classificação a “Caracterização da área sob os aspetos

53

No ponto g) do artigo 3º 54 Alínea n).

Page 81: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

80

geológicos, geográficos, biofísicos, paisagísticos e socioeconómicos”55

. Coloca-se aqui a questão, caraterizar os

aspetos paisagísticos. Mas quais e de que forma, uma vez que a legislação é ambígua a este nível? Mais uma vez,

estamos perante um aspeto subjetivo do conceito de paisagem e este pormenor continua ao nível da classificação

de áreas. No artigo 16, na classificação de «Parque Nacional», este é entendido como “uma área que contenha

maioritariamente amostras representativas de regiões naturais caraterísticas, de paisagens naturais e

humanizadas, de elementos de biodiversidade e de geossítios, com valor científico, ecológico ou educativo”56

.

Na classificação de Parque Natural (artigo 17) e Reserva Natural (artigo 18) não há qualquer referência direta ou

indireta a paisagem. Para este enquadramento já não é necessário? Já na classificação de Monumento Natural

(artigo 20)57

“entende-se por monumento natural uma ocorrência natural… em termos ecológicos, estéticos,

científicos e culturais…”, mais uma vez, encontramos a paisagem, associada às questões estéticas e culturais.

A única referência clara com uma tentativa de definição de paisagem, encontramo-lo no artigo 19 relativo à

classificação de Paisagem protegida. Aqui, “Entende-se por «paisagem protegida» uma área que contenha

paisagens resultantes da interação harmoniosa do ser humano e da natureza, e que evidenciem grande valor

estético, ecológico ou cultural.”58

Ou seja, o legislador enquadra a paisagem apenas na sua componente cultural

”realçando a identidade local (parágrafo 2), considerando que os aspetos naturais fazem parte da ação humana ao

fazer referência que “a conservação dos elementos da biodiversidade [deverão ocorrer] num contexto da

valorização da paisagem” (alínea a)), e que a “manutenção ou recuperação dos padrões da paisagem e dos

processos ecológicos que lhe estão subjacentes, promovendo as práticas tradicionais de uso do solo, os métodos

de construção e as manifestações sociais e culturais” (alínea b)). Neste contexto, a paisagem é vista ainda como

um recurso ao se referir que se deverá fomentar as “iniciativas que beneficiem a geração de benefícios para as

comunidades locais, a partir de produtos ou da prestação de serviços” (alínea c)).

Fica assim demonstrado que a paisagem é um conceito subjetivo, que nem mesmo a legislação, pela sua carga

analítica consegue suprimir, porque resulta da combinação de alguns aspetos:

Desconhecimento da sua epistemologia

Desconhecimento da sua semântica

Confusão conceptual e analítica, e

Atribuição de caraterísticas sem uma base científica

55 Alínea g).

56 Parágrafo 1.

57 Parágrafo 1.

58 Parágrafo 1.

Page 82: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

81

2.3. - Enquadramento legal e institucional das áreas protegidas

Embora como vimos, desde há muitos séculos que se têm constituído instrumentos e modelos de conservação, sendo a

expansão do número de áreas protegidas considerado um passo vital enquanto estratégia para a conservação dos

recursos naturais, contudo, apenas em 1982 depois do III Congresso Mundial de Parques, realizado em Bali é que o

conceito de área protegida enquanto espaço territorial formalmente criado com o intuito de proteção é que foi

verdadeiramente adotado.

É reconhecido pelos estados que a sustentabilidade dos seus territórios passa pela adoção de medidas técnico-

legislativas e políticas conducentes a um desenvolvimento social duradouro e que não ponha em causa a

disponibilidade dos seus próprios recursos e dos recursos partilhados com outros estados periféricos.

Em muitos casos, estas orientações não passam de intenções de interesses, sem qualquer aplicabilidade real na escala

territorial nacional. O primeiro aspeto adotado passa pela disposição legislativa das propostas consideradas. Não é pois de

estranhar a diversidade de princípios de direitos, normas, decretos e outras figuras legais um pouco por todos os países.

Em Portugal, o direito a um desenvolvimento ambientalmente sustentado configura-se inequivocamente na Constituição

da República Portuguesa que consagra o “direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente sustentado”,

assim como o “dever de [o Estado de] o defender”, […] no quadro de um desenvolvimento sustentável (Artº 66)”.

Porém a legislação nacional não se fica por aqui e disponibiliza um conjunto maior legislativo transversal a várias

temáticas relacionadas com o ambiente, o desenvolvimento sustentável e a participação pública59.

A este nível de

referir a Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 11/87 de 7 de Abril60

) onde se define o suporte da política nacional ao nível

do ambiente nos termos indicados pela Constituição, onde vem claramente patente o princípio da participação

enumerado, nos artigos 40.º a 48.º, os principais direitos e deveres que os cidadãos têm em matéria de ambiente.

No entanto a nossa legislação reflete as disposições em termos de legislação em matéria do ambiente por parte da

União Europeia, que continuamente verte políticas61

, programas e normas para transposição das legislações dos

estados membros, numa clara preocupação com a procura de conciliação do desenvolvimento sustentável e o

crescimento económico, indo ao encontro de uma política inclusiva dos territórios periféricos.

Encontramos neste contexto a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS 2015) e o respetivo Plano

de Implementação (PIENDS)62

, elaborado de forma compatível com os princípios da Estratégia Europeia de

59 Entre um conjunto vasto de programas e indicadores, destacamos a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), Avaliação de Impacte

Ambiental (AIA), Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (SIDS), Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável

(ENDS 2015)

60 Pelo facto de esta Lei ter já 24 anos e remeter para uma realidade um pouco diferente da actualidade, em Fevereiro de 2011 foi aprovado

em conselho de ministros a revisão à lei de 1987, com a substituição e a clarificação de novos conceitos e princípios, com referências a

“ameaças às componentes ambientais” e conceitos como alterações climáticas, abuso de recursos e perda de biodiversidade.

61 Como já foi referido no capítulo 4.1., considera-se que foi com a Convenção de Aarhus que o modelo de governação territorial baseado

numa crescente participação pública se iniciou efectivamente na União Europeia, destacando-se as Directivas 2003/4/CE e 2003/35/CE,

relativas ao acesso à informação e a participação pública em matéria de ambiente.

62 Foram aprovados pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 109/2007, de 20 de Agosto.

Page 83: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

82

Desenvolvimento Sustentável (EEDS), o que constitui um instrumento de orientação política da estratégia de

desenvolvimento nacional.

As áreas protegidas possuem igualmente um enquadramento legislativo nacional e europeu. Relativamente à sua

gestão, enquadram-se em instrumentos de planeamento territorial, designadamente os Planos Especiais de

Ordenamento do Território (PEOT’s), destacando-se aqui os Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas (POAP).

Estes Planos definem63

“ (...) a política de salvaguarda e conservação que se pretende instituir, dispondo

designadamente, sobre os usos do solo, e condições de alteração dos mesmos, hierarquizando de acordo com os

valores do património natural em causa.”

De acordo com a normativa legislativa Portuguesa, os PEOT’s sobrepõem-se a todos os outros planos em vigor na área

abrangida pelos mesmos, prevalecendo ainda sobre os instrumentos de Gestão Territorial (IGT’s) de âmbito local

(nomeadamente os Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território – PIOT’s e Planos Municipais de

ordenamento do território – PMOT’s), contudo, pela horizontalidade das políticas de ordenamento do território, os

PEOT’s deverão ser elaborados em articulação com os PMOT’s, (se existentes), assim como com os instrumentos de

Gestão Territorial (de âmbito nacional, como por exemplo o Programa Nacional de Políticas de Ordenamento do

Território – PNPOT; Plano Setorial de Intervenção Territorial - PSIT’s e de âmbito regional plano Regional de

Ordenamento do Território – PROT’s).

A nível comunitário temos a destacar sobretudo todo um conjunto de orientações estratégicas transpostas para a

legislação nacional, nomeadamente a Diretiva Aves (Diretiva n.º 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de Abril, relativa à

conservação das aves selvagens) e a Diretiva Habitats (Diretiva n.º 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de Maio, relativa à

preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens).

Estes dois diplomas foram transpostos para a legislação nacional através do Decreto-Lei n.º 49/200564

e a Rede Natura

200065

, que resulta da adoção pelos Estados-membros da União Europeia de legislação para a proteção de habitats e

espécies mais ameaçados da Europa, mantendo ou restaurando habitats naturais de importância comunitária,

constituindo assim a Rede Europeia de espécies e espaços naturais protegidos para conservar a biodiversidade

europeia, incluindo habitats em declínio e espaços notáveis que representam habitats caraterísticos das diferentes

regiões biogeográficas europeias.

63 De acordo com o estipulado no Decreto-Lei nº. 19/93 de 11 de Janeiro

64 Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, que procedeu à transposição para a ordem jurídica interna das directivas

aves e habitats.

65 A Rede Natura 2000 não implica a inclusão restrita de áreas protegidas.

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83

Figura 20 - Sítios da Rede Natura 2000. Fonte: Bertzky (et al., 2012)

Esta criação de uma rede de áreas com estatuto especial de uso constituiu um importante passo ao nível da defesa do

ambiente enquanto imperativo das políticas europeias. A Rede Natura 2000 é constituída por um conjunto de sítios

classificados, integrando Zonas Especiais de Conservação (ZEC) e Zonas de Proteção Especial (ZPE)66

.

As questões referentes às áreas protegidas em Portugal, no sentido em que as entendemos hoje, são bastante recentes.

A criação de espaços formalmente protegidos, regeu-se pelos mesmos princípios conservacionistas da criação de áreas

protegidas nos países ocidentais, que ainda hoje domina ainda grande parte das áreas portuguesas (Figueiredo, 2006).

A primeira referência existente data de 1948, mencionando pela primeira vez a criação de Parques Naturais. No

entanto, os verdadeiros alicerces para uma política de proteção da natureza só seriam criados pela Lei n.º 9/70, de 19

de Junho, a Lei dos Parques Nacionais e Outro Tipo de Reservas, onde se preconizava a promoção e “a defesa de áreas

onde o meio natural deva ser reconstituído ou preservado contra a degradação provocada pelo Homem" e "o uso

racional e a defesa de todos os recursos naturais, em todo o território, de modo a possibilitar a sua fruição pelas

gerações futuras", continuado depois na Lei de Bases do Ambiente, no DL 613/76 – relativo à Rede Nacional de Áreas

Protegidas. Estes objetivos deveriam ser atingidos pela criação de Parques Nacionais e Reserva (Silva, 2010).

No seguimento desta política é criada, em 1971, a primeira Área Protegida – o Parque Nacional da Peneda-Gerês – o

único com este estatuto existente até então no território nacional; só após 1974 as questões ligadas ao Ambiente e à

Conservação da Natureza ganharam um novo impulso com a criação da Secretaria de Estado do Ambiente. Assim,

através da publicação do Decreto-Lei n.º 613/76, definiu-se a classificação das Áreas Protegidas com a introdução do

conceito de Parque Natural, que já existia em vários países europeus. Outro momento muito importante para as Áreas

Protegidas surgiu com a publicação da Lei n.º 11/87 – a Lei de Bases do Ambiente – que referia a importância da

regulamentação e implementação de uma rede nacional de áreas protegidas, definindo os estatutos nacionais, regionais

e locais que as mesmas deveriam ter, muito embora esta ideia só viesse a ser concretizada seis anos depois, com o

Decreto-Lei n.º 19/93 de 23 de Janeiro que, finalmente, criou a Rede Nacional de Áreas Protegidas.

66 Classificadas ao abrigo do Diretiva Aves.

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84

Como referido, com este Decreto-Lei, foi efetivamente estabelecida a criação da Rede Nacional de Áreas Protegidas,

que entre outros objetivos visava a preservação e recuperação de espécies e habitats com caraterísticas peculiares ou

em vias de extinção; a promoção da investigação científica relacionada com esses valores naturais; a proteção e

valorização das paisagens com interesse cénico e estético, tendo sempre presente a perspetiva de promoção do

desenvolvimento sustentado das regiões onde se inseriam. Também era pretensão deste documento legislativo a

valorização da interação das componentes naturais e humanas, e das atividades culturais e económicas tradicionais, de

modo a promover a melhoria da qualidade de vida das populações, num quadro de proteção e gestão racional do

património natural.

Em 2006 o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB67

) teve a iniciativa de efetivar na prática

o preconizado pelo Decreto-Lei 19/93, elaborando o Programa Nacional de Visitação de Comunicação na Rede

Nacional de Áreas Protegidas, que tinha como principal objetivo o disposto na opção 3 da Estratégia Nacional da

Conservação da Natureza e da Biodiversidade: Promover a valorização das Áreas Protegidas e assegurar a

conservação do seu património natural, cultural e social.

Com o desenvolvimento desse programa pretendia-se melhorar as condições de visitalidade de forma integrada e

sustentada para recreio e sensibilização ambiental, aperfeiçoando, simultaneamente, o modelo de atendimento dos

visitantes, numa perspetiva de turismo da natureza e ecoturismo. Nesse sentido efetuaram-se estudos para a aquisição de

conhecimentos sobre os segmentos alvo e o seu valor comercial numa ótica de possíveis negócios que existissem nesse

domínio, de modo a se enquadrar as condições de visitalidade numa lógica de rede sustentável, face à procura existente.

Foi elaborado um programa temporal de execução que previa um conjunto de intervenções a serem desenvolvidas até

ao ano de 2011. No entanto no limiar temporal avançado no referido estudo, verifica-se que dos atos ficaram apenas

algumas intenções, na medida em que, não é possível “sentir” ou aferir sobre uma real Rede de áreas protegidas em

Portugal. O ICNB através do seu website disponibiliza um conjunto de informações sobre as áreas protegidas68

,

apresentando variada informação sobre cada espaço, contudo, fica a sensação que a suposta Rede Nacional de áreas

protegidas resume-se apenas a dois aspetos: à gestão por parte do ICNB e ao plano de comunicação. Verificamos que

embora a gestão destes espaços seja da competência primária do ICNB, existe uma falta de ligação clara com outras

entidades, sobretudo a nível regional e local.

Atualmente o processo de criação de áreas protegidas é regulado pelo Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de Julho,

podendo ser proposto pela autoridade nacional (ICNB) ou por quaisquer entidades públicas e/ou privadas, sendo que a

apreciação técnica é da responsabilidade do ICNB, enquanto a tutela decide sobre a sua classificação. No caso das

áreas protegidas com um enquadramento de âmbito regional ou local a classificação pode ser promovida por

municípios ou associações de municípios, de acordo com as condições e aos termos previstos no artigo 15.º do

Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de Julho.

67 Na altura ainda Instituto da Conservação da Natureza (ICN) 68 http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/Homepage.htm

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85

Este documento69

deu igualmente um importante passo na inclusão de todos os agentes na participação do processo de

um território contínuo e conectado em rede com outros espaços geográficos, prevendo a possibilidade de criação de

áreas protegidas de estatuto privado, a pedido do respetivo proprietário70.

.

Existem em Portugal mais de quarenta espaços ou áreas protegidas divididos por: parque nacional, parques e reservas

naturais, paisagens protegidas e monumentos naturais71

, territórios estes onde indubitavelmente a questão da

conservação e da preservação dos sítios é de suma importância e prioridade (figura 21).

Figura 21 - Rede Nacional de Áreas Protegidas.

69 Completado ainda pela Portaria n.º 1181/2009 (D.R. n.º 194, Série I de 2009-10-07) - MAOTDR que estabelece o processo de

candidatura e reconhecimento de áreas protegidas privadas. 70 O processo de candidatura, a enviar ao ICNB, está regulado pela Portaria n.º 1181/2009, de 7 de Outubro, envolvendo o preenchimento

de um Formulário, disponível através do site do mesmo organismo. 71 As tipologias existentes com excepção de «Parque Nacional» as áreas protegidas de âmbito regional ou local podem adoptar qualquer

das tipologias anteriormente referidas, devendo as mesmas ser acompanhadas da designação «regional», quando esteja envolvido mais do

que um município ou «local», quando abranja geograficamente apenas uma autarquia. As áreas protegidas de âmbito nacional e as áreas de

paisagem protegidas pertencem automaticamente à Rede Nacional de Áreas Protegidas; no caso das áreas protegidas de âmbito regional ou

local a integração ou exclusão na rede nacional está dependendente da avaliação da autoridade nacional.

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86

Em Portugal, a criação de áreas protegidas seguiu de perto a tendência mundial, já que uma boa parte das mesmas

surgiu a partir da segunda metade dos anos 70 – entre 1975 e 1984 foram criadas 29 áreas protegidas (Silva, 2010).

Figura 22 - Criação de Áreas Protegidas (1970/2000) (Silva,2010).

Este facto deveu-se sobretudo à nova dinâmica imprimida neste setor após 1974, cabendo-lhe a responsabilidade da

criação de grande parte das Áreas Protegidas nacionais mais importantes (Silva, 2010).

Portugal ao nível da institucionalização de lugares classificados e protegidos, vinculou-se a outros contextos

internacionais, como a Convenção do Património Mundial, à qual aderiu em 1980. Três anos mais tarde, a UNESCO

integrou os primeiros sítios portugueses na lista de Património Mundial. Até 2003 primeiro foram classificadas os

principais monumentos patrimoniais nacionais, como a Torre de Belém, apresentando Portugal 12 lugares

classificados como Património Mundial, 11 como Património Cultural, e apenas 1, a Laurissilva da Madeira, integrado

no grupo de Património Natural e só mais tarde se foram consideradas s paisagens mais integradas como Sintra, o

centro histórico do Porto, o Vale do Douro ou o centro histórico de Guimarães. Na verdade, a variação do conceito de

património a que temos assistido, partiu da consideração do lugar restrito, às visões paisagísticas mais integradas.

No entanto, a Rede Nacional de Áreas Protegidas depara-se com problemas de funcionamento que impedem a

concretização de grande parte dos seus objetivos: a falta de meios financeiros, a de recursos humanos para

implementar políticas, fiscalizar e vigiar com eficácia as Áreas Protegidas. Um outro problema é a ausência de Planos

de Ordenamento destas áreas. Embora a legislação preveja e obrigue à sua existência, o não cumprimento dos prazos

para a sua execução tem revelado um constante desrespeito pela lei por parte de todos os responsáveis envolvidos. Este

facto tem sido corresponsável por muitos dos problemas com que as Áreas Protegidas se deparam, vendo-se obrigadas

a uma gestão casuística, discricionária, sem estratégia e de curto prazo (Silva, 2010).

Parte do financiamento destas áreas em Portugal está muito associada ao desenvolvimento de atividades de recreio e

lazer aliadas às perspetivas de proteção e conservação. Este facto não é de todo estranho aos modelos de gestão

preconizados, na medida em que desde a primeira legislação (a Lei 9/70 de 19 de Junho) relativa à proteção da

natureza esteve presente. De facto, este documento menciona a importância da proteção e conservação de

determinadas áreas do país para o desenvolvimento de atividades de recreio e lazer.

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87

Tal como refere Barbosa (2005: 108), “o turismo é uma força económica das mais importantes do mundo. Nele

ocorrem fenómenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais a oferta e a procura encontram-se.

Os resultados do movimento financeiro decorrentes do turismo são por demais expressivos e justificam que esta

atividade será incluída na programação da política económica de todos os países, regiões e municípios”, na medida em

que exerce um efeito multiplicador nos diversos setores de atividades que diretamente e indiretamente interagem e se

desenvolvem juntamente com estes espaços.

O mesmo autor refere ainda que se bem planeado e adaptado à realidade e às necessidades de um espaço natural em

concreto, o turismo pode ajudar a manter e de certa forma inclusive melhorar um determinado espaço natural de várias

formas, nomeadamente:

Preservação - O turismo pode justificar o pagamento pela preservação e manutenção de parques naturais,

recreações ao ar livre como atracões que de outra forma, podem ser deterioradas ecologicamente.

Preservação de locais históricos e arqueológicos - O turismo permite ajudar a pagar pela manutenção de locais

históricos e arqueológicos (como atrações para turistas) que, de outra forma, podem até mesmo desaparecer.

Melhorias na qualidade ambiental - O turismo funciona como incentivo para manter o meio ambiente

agradável como um todo através do controle do ar, da água, da poluição sonora, e de resíduos sólidos urbanos

e industriais. Também, pode incentivar a melhoria da estética ambiental por meio de programas de

paisagismo, designs adequados de construções e melhor manutenção.

Melhoria de infraestruturas – Sobretudo de caráter local como as acessibilidades, sistemas de águas e

saneamentos, telecomunicações e outras, o que poderá trazer benefícios económicos e ambientais.

Melhorias no meio ambiente - Embora este seja um benefício mais subjetivo, o desenvolvimento de

instalações turísticas bem projetadas pode promover melhorias em paisagens naturais ou urbanas,

promovendo uma qualidade cénica da paisagem.

Alternativa de preservação para regiões periféricas em processos de estagnação económica e social,

auxiliando na fixação de populações mais jovens permitindo-lhes ter acesso a mais recursos de financeiros.

Valorização dos aspetos socioculturais locais - a atividade turística pode atuar como um importante fator de

valorização de hábitos e costumes relativos ao quotidiano do núcleo recetor frente ao processo de

globalização, uma vez que este aspeto é fundamental para caraterizar a diferença entre locais e/ou regiões.

Estas premissas, têm feito parte da estratégia nacional de turismo da natureza7273

, tal como é sugerido pela

Direção Geral do Ambiente (2000: 144), as áreas protegidas, são “consideradas como um conjunto valioso e

72 O programa Nacional de Turismo de Natureza resultou da Resolução do Conselho de Ministros nº 112/98, de 25 de Agosto. Dentro dos

objetivos variados expressos por este plano, pretendia-se no fundo, o desenvolvimento de uma atividade turística sustentável nos espaços

integrados na Rede Nacional de Áreas Protegidas. 73

No programa considera-se de que “os espaços naturais surgem cada vez mais, no contexto internacional e nacional, como destinos

turísticos em que a existência de valores naturais e culturais constituem atributos indissociáveis do turismo de natureza. As áreas

protegidas são, deste modo, locais privilegiados como novos destinos, em resposta ao surgimento de outros tipos de procura, propondo a

prática de actividades ligadas ao recreio, ao lazer e ao contacto com a natureza e às culturas locais, cujo equilíbrio, traduzido nas suas

Page 89: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

88

diversificado do património natural, têm-se tornado num destino turístico de crescente procura, aumentando

assim, cada vez mais o seu número de visitantes, atraídos não só pelo enorme potencial paisagístico e de

qualidade ambiental como também pela riqueza histórico-cultural que estas áreas encerram”.

Em Portugal assim como um pouco por todo o mundo, as áreas protegidas têm sido alvo de uma crescente

procura, ligadas essencialmente ao turismo da natureza e com estas tendências, tem-se desenvolvido um conjunto

alto de atividades económicas, que visam dar resposta à crescente apetência pelo turista por valores como os

geomonumentos e as paisagens ainda muito marcadas pelos ritmos naturais, apesar de serem paisagens

modificadas ou mesmo construídas pelo homem.

Em 2006 o ICNB (na altura ainda Instituto da Conservação da Natureza (ICN)) teve a iniciativa de efetivar na

prática o preconizado pelo Dec. Lei 19/93, elaborando o Programa Nacional de Visitação de Comunicação na

Rede Nacional de Áreas Protegidas, que tinha como principal objetivo o disposto na opção 3 da Estratégia

Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade: - Promover a valorização das Áreas Protegidas e

assegurar a conservação do seu património natural, cultural e social.

Com o desenvolvimento desse programa pretendia-se melhorar as condições de visitabilidade de forma integrada

e sustentada para recreio e sensibilização ambiental, aperfeiçoando, simultaneamente, o modelo de atendimento

dos visitantes, numa perspetiva de turismo da natureza e ecoturismo. Nesse sentido efetuaram-se estudos para a

aquisição de conhecimentos sobre os segmentos alvo e o seu valor comercial numa ótica de possíveis negócios

que existissem nesse domínio, de modo a se enquadrar as condições de visitabilidade numa lógica de rede

sustentável, face à procura existente.

Foi elaborado um programa temporal de execução que previa um conjunto de intervenções a serem desenvolvidas até

ao ano de 2011. No entanto no limiar temporal avançado no referido estudo, verifica-se que dos atos ficaram apenas

algumas intenções, na medida em que, não é possível “sentir” ou aferir sobre uma real Rede de áreas protegidas em

Portugal. O ICNB através do seu site disponibiliza um conjunto de informações sobre as áreas protegidas

(http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/Homepage.htm) apresentando variada informação sobre cada espaço,

contudo, fica a sensação que a suposta Rede Nacional de áreas protegidas resume-se apenas a dois aspetos: à gestão

por parte do ICNB e ao plano de comunicação. Verificamos que embora a gestão destes espaços seja da competência

primária do ICNB, existe uma falta de ligação clara com outras entidades, sobretudo a nível regional e local.

Existem atualmente em Portugal trinta espaços ou áreas protegidas, territórios estes onde indubitavelmente a

questão da conservação e da preservação dos sítios é de suma importância e prioridade, contudo, e perante o

contexto internacional de crise financeira, com a consequente falta de recursos financeiros que suportem

efetivamente uma política conservacionista, consideramos ser cada vez mais importante que o poder político

reinvente a forma de gestão destes espaços, através da sua valorização e de uma real e correta exploração dos

paisagens, conferem e transmitem um sentido e a noção de «único» e de «identidade de espaço», que vão rareando um pouco por todo o

nosso território”.

Page 90: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

89

recursos naturais, de modo a gerar valor acrescentado, minimizando ao mesmo tempo custos de

operacionalização e, na medida do possível, tornando estas áreas autossuficientes financeiramente.

No aspeto económico o turismo é pois capaz de aumentar as receitas estatais, através da criação de impostos

diretos e indiretos, maximização do recebimento de divisas, gerar ocupação e rendimentos para a população local

e redistribuir equitativamente esses mesmos rendimentos. Perante esta perspetiva as áreas protegidas em Portugal

foram assumindo de uma forma crescente uma função de espaços atrativos para as atividades turísticas, tendo

conduzido à produção de legislação específica para regulação do Turismo de Natureza.

Em seguida, expomos cronologicamente a legislação e outros documentos relacionados direta e indiretamente

com as áreas protegidas em Portugal:

Lei n.º 9/70 D.R. n.º 141, Série I de 1970-06-19.

Atribui ao Governo a incumbência de promover a proteção da Natureza e dos seus recursos em todo o

território, de modo especial pela criação de parques nacionais e de outros tipos de reservas

Decreto-Lei n.º 430/80 D.R. n.º 227, Série I de 1980-10-01.

Cria a Reserva Natural do Estuário do Sado

Decreto Regulamentar n.º 3/86 - D.R. n.º 6, Série I de 1986-01-08.

Estabelece a orgânica do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza

(SNPRCN), criado pelo Decreto-Lei n.º 49/83, de 31 de Janeiro

Decreto-Lei n.º 241/88 D.R. n.º 155, Série I de 1988-07-07.

Cria a Área de Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Decreto-Lei n.º 121/89 D.R. n.º 87, Série I de 1989-04-14.

Cria o Parque Natural da Serra de São Mamede

Decreto-Lei n.º 19/93, D.R. n.º 19, Série I-A, de 1993-01-23

Estabelece a Rede Nacional de Áreas Protegidas.

Decreto Regulamentar n.º 26/95 D.R. n.º 219, Série I-B de 1995-09-21.

Cria o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Decreto Regulamentar n.º 28/95 D.R. n.º 267, Série I-B de 1995-11-18.

Cria o Parque Natural do Vale do Guadiana

Decreto Regulamentar n.º 33/95 D.R. n.º 284, Série I-B de 1995-12-11.

Aprova o Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Decreto-Lei n.º 227/98, D.R. n.º 163, Série I-A, de 1998-07-17

Alteração ao Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de janeiro.

Decreto Regulamentar n.º 9/99 D.R. n.º 137, Série I-B de 1999-06-15. Altera o Decreto

Regulamentar n.º 33/95, de 11 de Dezembro

Aprova o Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina)

Decreto Regulamentar n.º 10/2000 D.R. n.º 193, Série I-B de 2000-08-22.

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Cria a Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha

Resolução do Conselho de Ministros n.º 173/2001 D.R. n.º 299, Série I-B de 2001-12-28.

Determina a revisão do PO - Plano de Ordenamento do PNSACV - Parque Natural do Sudoeste

Alentejano e Costa Vicentina

Decreto Regulamentar n.º 4/2004 D.R. n.º 75, Série I-B de 2004-03-29. Altera o Decreto

Regulamentar n.º 10/2000, de 22 de Agosto,

Cria a Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha

Decreto Regulamentar n.º 20/2004 D.R. n.º 118, Série I-B de 2004-05-20.

Estabelece a reclassificação do Parque Natural da Serra de São Mamede

Resolução do Conselho de Ministros n.º 150/2006 D.R. n.º 214, Série I de 2006-11-07.

Determina a elaboração do Plano de Ordenamento da Reserva Natural do Estuário do Sado

Resolução do Conselho de Ministros n.º 117/2007 D.R. n.º 162, Série I de 2007-08-23.

Aprova o Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha

Decreto-Lei n.º 142/2008, D.R. n.º 142, de 2008-07-24

Estabelece o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade e revoga os Decretos-Lei

n.º 264/79, de 1 de agosto e 19/93, de 23 de janeiro.

Decreto-lei n.º 166, Série I de 2008-08-22.

Aprova o Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional e revoga o Decreto-Lei n.º 93/90, de 19 de

Março.

Declaração de Retificação n.º 53-A/2008, D.R. n.º 183, Série I, Suplemento, de 2008-09-22

Retifica o Decreto-Lei n.º142/2008, de 24 de julho, que estabelece o regime jurídico da conservação da

natureza e da biodiversidade.

Resolução do Conselho de Ministros n.º 102/96, D.R. n.º 156, Série I-B, de 1996-07-08

Integração de políticas setoriais nas áreas protegidas.

Portaria n.º 1181/2009, D.R. n.º 194, Série I, de 2009-10-07

Estabelece o processo de candidatura e reconhecimento de áreas protegidas privadas.

Despacho n.º 22142/2009, D.R. n.º 193, Série II, de 2009-10-06

Determina ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, I. P. (ICNB), que averigue dos

termos em que pode ser criada uma área protegida privada, na costa alentejana, conforme previsto no

regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade.

Aviso n.º 16052/2010, D.R. n.º 155, Série II, de 2010-08-11

Classificação do açude da Agolada e do açude do Monte da Barca como áreas protegidas de âmbito

local.

Aviso n.º 20948/2010, D.R. n.º 204, Série II, de 2010-10-20

Discussão pública da reclassificação dos sítios classificados: do Monte de São Bartolomeu (ou de São

Brás); da gruta do Zambujal; da Granja dos Serrões; de Negrais; e dos Montes de Santa Olaia e

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91

Ferrestelo na tipologia de «monumento natural» e da Reserva Botânica do Cambarinho na tipologia de

«reserva natural».

Aviso n.º 26026/2010, D.R. n.º 240, Série II, de 2010-12-14

Criação de Área Protegida Privada - Faia Brava.

Classificação segundo o Decreto-lei 14/2008)

Parque nacional

Parque natural

Reserva natural

Monumento natural

Paisagem protegida

«Sítio de interesse biológico»

Parque nacional

Refere-se a paisagens naturais ou humanizadas, locais geomorfológicos ou habitats de espécies com interesse

ecológico, científico e educacional encontrando-se pouco alterada pelo homem, constituindo amostras de regiões

naturais características com ecossistemas pouco alterados. É equivalente ao nível II (National Park) da classificação da

IUCN. Existe apenas um parque nacional em Portugal, o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Parque natural

Área caraterizada composta por paisagens naturais, seminaturais e/ou humanizadas, de interesse nacional,

apresentando amostras de um bioma ou região natural, sendo exemplo de articulação da atividade humana com os

princípios de proteção natural. Em Portugal existem 14 Parques Naturais:

Alvão

Arrábida

Douro Internacional

Montesinho

Ria Formosa

Serra da Estrela

Serra de São Mamede

Serras de Aire e Candeeiros

Sintra-Cascais

Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Tejo Internacional

Vale do Guadiana

Litoral Norte

Madeira

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92

Reserva natural

Área destinada à proteção integral biológica de habitats da flora e fauna.

Lagoas de Santo André e da Sancha

Berlengas

Dunas de São Jacinto

Estuário do Sado

Estuário do Tejo

Paul de Arzila

Paul do Boquilobo

Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António

Serra da Malcata

Ilhas Desertas

Ilhas Selvagens

Parcial do Garajau

Rocha do Navio

Monumento natural

Ocorrência natural contendo um ou mais aspetos que, pela sua singularidade, raridade ou representatividade em termos

ecológicos, estéticos, científicos e culturais exigem a sua conservação e a manutenção da sua integridade.

Pegadas de Dinossáurio de Ourém - Torres Novas

Carenque

Pedreira do Avelino

Portas de Ródão

Cabo Mondego

Pedra da Mua - Parque Natural da Arrábida

Lagosteiros - Parque Natural da Arrábida

Paisagem protegida

Área com paisagens naturais, seminaturais e humanizadas, de interesse regional ou local, resultantes da interação

harmoniosa do homem e da Natureza que evidencia grande valor estético ou natural.

Arriba Fóssil da Costa de Caparica

Litoral de Esposende

Serra do Açor

Corno do Bico

Lagoas de Bertiandos e São Pedro dos Arcos

Albufeira do Azibo

Serra de Montejunto

Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo

Page 94: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

93

Sítio de interesse biológico

Corresponde a uma área protegida de estatuto privado. Alguns dos sítios de interesse biológico:

Monte de São Bartolomeu

Açudes de Monte da Barca e Agolada

Centro Histórico de Coruche

Rocha da Pena e Fonte Benémola

Gruta do Zambujal

Granja dos Serrões e Negrais

Montes de Santa Olaia e Ferrestelo

Outras áreas protegidas

Refúgio Ornitológico do Monte Novo do Roncão

Reserva Botânica de Cambarinho

Page 95: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

94

CONCLUSÕES

A Terra encontra-se num momento crítico ao nível da conservação da natureza e da biodiversidade, com a

crescente ameaça de desaparecimento de um número cada vez maior de espécies. Esta situação resulta de

diversos fatores, nomeadamente, a degradação de habitats únicos condenando-a à consequente perda de

biodiversidade.

Existe pois a convicção crescente que reservar extensões de terra com o intuito de conservação da biodiversidade

e uso sustentável de recursos, deve ser conciliado a um nível local com os meios de subsistência, oportunidades e

capacidade de ação das populações locais. Nesse sentido, “as áreas protegidas não devem ser concebidas como

ilhas de conservação isoladas do contexto social, cultural e económico no qual estão inseridas” (Recomendação

5.29, V Congresso Mundial de Parques da IUCN). A não ser que se tornem mais relevantes para as estratégias

nacionais de desenvolvimento e para os direitos e necessidades da população local, muitas áreas protegidas

ficarão cada vez mais ameaçadas (Dudley et al. 1999; Barrow e Fabricius 2002).

As áreas protegidas são pois territórios que refletem um equilíbrio entre a paisagem e as atividades desenvolvidas

pelo Homem e no fundo, é da manutenção deste equilíbrio que dependem atividades económicas importantes,

constituindo pois um paradigma da conservação das Paisagens e da Biodiversidade.

Contudo e apesar de a paisagem surgir como elemento estruturante dos espaços protegidos refletido no contexto

jurídico que as enquadra no território nacional, verificamos que em si mesma constitui um conceito pleno de

subjetividade, levando inclusive à omissão consciente da sua concetualização na legislação nacional.

Apontamos essencialmente quatro fatores que no nosso entender estão na origem da subjetividade do conceito de

paisagem: o desconhecimento semântico e epistemológico, a confusão conceptual e analítica, e atribuição de

caraterísticas sem uma base científica.

No primeiro caso, vimos que o conceito de paisagem é abstrato e polissémico, sendo alvo de diversas análises

dependo da origem científica e corrente de pensamento. Da mesma forma, são várias as áreas científicas que

reclamam como sua a conceção do conceito e ação sobre a paisagem. Não havendo certezas inequívocas quanto à

origem do conceito, deambulando entre a arte e o meio jurídico, a verdade, é que estamos perante um conceito

que evoluiu e foi enriquecido ao sabor de cada corrente de pensamento e de movimentos intelectuais, que lhe

conferiram uma importância tal, tendo hoje, invertido o plano de consideração da organização espaço-tempo. Se

antes ouvíamos falar, de região, território e lugar, hoje o conceito considerado é o de paisagem, que acaba por

englobar todas as estruturas do espaço e da sua dialética com o tempo.

Ao invés de avançarmos com algumas definições teóricas dos mais “afamados” autores que no contexto

científico constituem as referências máximas e por isso imperiosos na sua consideração, consideramos que faria

Page 96: Trabalho_João_Azevedo_Métodos_de_análise_e_interpretação_da_paisagem

95

mais sentido, diluir o próprio conceito de acordo com a análise estabelecida e nesse seguimento considerar uma

multiplicidade de definições e análises de autores de várias especialidades técnicas e científicas.

Uma vez que como conceito gera alguma confusão, é utilizado nos mais variados contextos e realidades, quase

que o banalizando no quotidiano. A paisagem é de tal forma assumida como um dado concreto, que temos

tendência a assumi-la como inerente a nós própria, logo dispensável de qualquer análise ou consideração. A

paisagem é de facto inerente ao indivíduo e nesse sentido percebido e apropriada de modos diferentes,

dependendo do contexto do lugar, da sociedade, cultura e época histórica. Independentemente das técnicas

(subjetivas) utilizadas para cientificamente para universalizar a interpretação da paisagem, a verdade é que é na

própria universalidade e individualidade do ser humano que a paisagem faz algum sentido e nela lhe atribuímos

um sentido estético, afetivo e multifuncional.

As áreas protegidas são espaços que aos olhos tecno-jurídicos e culturais deverão ser um meio de proteção da

biodiversidade. Com a tomada de consciência dos problemas ambientais e do alcance que a ação humana,

traduzida em impactes profundos sobre o espaço natural, pode provocar na própria continuidade da espécie,

surgiu igualmente a perceção do remorsum, da “mordida da consciência” em que partindo do princípio de

causalidade, onde todo o efeito tem uma causa, o ser humano advoga para si o destino igual a muitas espécies

animais e vegetais – a extinção. Daí a ideia partilhada de criação de espaços que funcionam como que santuários

livres da ação humana, como que constituindo uma foto que enquadra um determinado momento, livre de

qualquer evolução natural e histórica.

A paisagem não é imutável, as áreas protegidas neste contexto também não. Daí a aceção que estes espaços,

através dos usos, da sua multifuncionalidade e no fundo da inerência da sua própria evolução, constituem um

verdadeiro paradigma da conservação para a biodiversidade e para a própria paisagem.

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