29
Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado em FGV/MCT “O estado atual e o papel futuro da ciência e tecnologia no Brasil” nov 1993

Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Trajetórias das políticas de C&T no BrasilAula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90*

Baseado em FGV/MCT “O estado atual e o papel futuro da ciência e tecnologia no Brasil” nov 1993

Page 2: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Problemas e sugestões de políticas• Tecnologia e ciência aplicada• Ciência básica e educação• Cooperação internacional• Disseminação da informação e do conhecimento• Reforma institucional• Projetos dirigidos

Page 3: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Tecnologia e ciência aplicada• Constatação do gap entre ciência/pesquisa básica e

tecnologia/setor produtivo• Constatação do gap entre participação pública e privada no

financiamento e execução de C&T• Órgãos governamentais atuando em áreas que requerem P&D –

Necessidade de racionalização de recursos e interação com equipes especializadas de universidades e Ips

• Programas de pesquisa em áreas aplicadas (eletrônica, novos materiais, bioquímica etc) só devem ser instituídos em parceria – execução e financiamento - com o setor produtivo.

Page 4: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Ciência básica e educação• Apoio à ciência básica (“desinteressada” – que não responde a

demandas práticas de curto prazo). A informação gerada neste estágio é por natureza pública

• Ameaça de sucateamento da capacitação já instalada por falta de recursos – necessidade de preservação

• Ensino técnico e de formação profissional – bons livros textos. Necessidade de valorização e de maior envolvimento das universidades.

Page 5: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Cooperação internacional• Necessidade de aumento do fluxo de estudantes com

excelente desempenho acadêmico para e de universidades estrangeiras

• Necessidade de aumento do fluxo internacional de cientistas (pós-doutoramento)

• Defesa do uso de instrumentos de política tecnológica e industrial (protecionismo versus competitividade) como incentivos fiscais, proteção tarifária, legislação sobre patentes, políticas de compras governamentais e projetos em parceria com o setor produtivo privado.

Page 6: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Disseminação da informação e do conhecimento• Necessidade de aperfeiçoamento dos mecanismos de

transferência de tecnologia, disseminação de informações e melhoria da qualidade

• Fortalecimento do IBICT – Instituto brasileiro de informação tecnológica e do CNPq

• Necessidade de investimentos para a melhoria das bases de dados nacionais e das demais informações necessárias ao pesquisador.

Page 7: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Reforma institucional• MCT devendo ater-se a seu papel de formulação e avaliação de

políticas• Necessidade de reavaliação do sistema então vigente de

instituições federais para o financiamento à C&T (gestão do FNDCT)• Agências de financiamento devendo ser organizadas como

empresas públicas, livres de formalismos e entraves burocráticos e supervisionadas por conselhos representativos da comunidade científica, governo e setor produtivo.

• Instituições de execução de P&D devendo ser administradas de forma autônoma, não sob a tutela da máquina governamental

• Necessidade de avaliação por pares, inclusive internacionais.

Page 8: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Projetos dirigidos• Em cooperação com o setor produtivo e em áreas estratégicas• Identificação de áreas de pesquisa que mereceriam ser

desativadas ou reduzidas• Identificação daquelas com fragilidades e lacunas que

precisam de apoio para ser superadas.

Page 9: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Brasil: maior sistema de C&T da AL• 15 mil cientistas e pesquisadores ativos no país• Mil programas de pós-graduação• Maior número de artigos publicados em periódicos

internacionais na AL• Universidades e IPs destacados em pesquisa: USP, UFRJ,

Unicamp, Paulista de Medicina, INPE, INPA, INT, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, CETEM, Laboratório Nacional de Astrofísica, Museu Paraense Emílio Goeldi, Laboratório Nacional da Luz Sincroton, Embrapa, Fundação Oswaldo Cruz, centros de pesquisa de empresas estatais como Petrobrás, Eletrobrás, Telebrás e Embraer.

Page 10: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Institutos estaduais e privados• São Paulo: Instituto Biológico, Instituto Agronômico, Instituto

Butantan, Instituto de Pesquisas Tecnológicas• Centros de pesquisa privados ligados a empresas como

Aracruz Celulose, Itautec, Aços Villares, Metal Leve, Elebra e outras

Page 11: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Dispêndio nacional em C&T como porcentagem do PIB

Ano %PIB

1980 0,43

1981 0,74

1982 0,85

1983 0,67

1984 0,64

1985 0,75

1986 0,84

1987 0,83

1988 0,80

1989 0,71

1990 0,72

Page 12: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Gastos em C&T• Entre 1981 e 1989 o Brasil gastou de 2 a 3 bilhões de dólares

por ano com atividades em C&T• A participação das estatais nesse dispêndio foi de 10% e do

setor privado de 0,6%.

Page 13: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

O desenvolvimento do SNDCT• Embora algumas instituições ligadas à ciência e à tecnologia

(Instituto Oswaldo Cruz, Instituto de Pesquisas Tecnológicas) datem ainda do século XIX, os principais pilares do SNDCT foram construídos durante o governo militar (1968-70)

• Primeiro plano governamental com referência explícita a C&T: Programa Estratégico de Desenvolvimento – PED – 1968-70

• I, II e III Planos Básicos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PBDCTs (de 1970 a 1985)

Page 14: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Decreto-Lei nº 719, de 31.07.1969

Cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o § 1º do artigo 2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, decreta:Art. 1º Fica criado o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), com a finalidade de dar apoio financeiro aos programas e projetos prioritários de desenvolvimento científico e tecnológico, notadamente para implantação do Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.§ 1º A assistência financeira do FNDCT será prestada, preferencialmente, através de repasse a outros fundos e entidades incumbidos de sua canalização para iniciativas específicas, e poderá destinar-se ao financiamento de despesas correntes ou de capital.§ 2º O regulamento do FNDCT, a ser expedido por Decreto do Poder Executivo, disciplinará o mecanismo e condições de financiamento de programas e projetos.

Page 15: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Principais iniciativas do período do regime militar• Reforma universitária de 1968, que adotou o sistema

norteamericano de pós-graduação, a organização das universidades em departamentos e o sistema de créditos

• Vinculação da área de C&T ao governo federal, possibilitando maior fluxo de recursos

• Criação da Finep (dentro do Ministerio Planejamento)• Instalação de importantes centros de P&D, como a COPPE-RJ

e a Unicamp• Início de vários programas de pesquisa militar, como o

espacial e o nuclear

Page 16: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Principais iniciativas do período do regime militar• O acordo Brasil-Alemanha de cooperação em energia nuclear

para desenvolver capacitação em construção de reatores nucleares baseados em combustíveis processados no país

• A implementação da política de reserva de mercado para a indústria de computadores, telecomunicações e microeletrônica

• Estabelecimento de centros de P&D nas principais empresas estatais

• Fortalecimento e expansão da EMBRAPA• Consolidação da avaliação por pares nas principais agências

financiadoras: CNPq, Capes e Fapesp.

Page 17: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Alcances e limitações das políticas de C&T• Os laços entre o Sistema de C&T e o setor produtivo

permaneceram tênues• Ausência de demanda por tecnologias avançadas• Modernização da agricultura para a exportação, com o

concurso dos avanços tecnológicos (introdução de novas variedades, controle de pragas, fixação biológica de nitrogênio...)

• Avanços nos setores ligados a grandes empresas estatais: telecomunicações, energia, química, equipamentos militares, indústria de informática, com a tentativa de vincular a pesquisa a uma indústria emergente de computadores para o mercado interno (Tigre, 93 e Lucena, 93)

• Instituições de pesquisa estaduais criadas no período operam com dificuldade e não são adequadamente avaliadas.

Page 18: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Entre os anos 80 e 90• SNDCT entra em grande instabilidade – burocratização e

incerteza quanto a suas dotações orçamentárias• Os recursos para C&T crescem de 80 a 83, declinam em 83-84,

sobem novamente no período do plano Cruzado e caem quando a inflação volta a subir, atingindo o nível mais baixo em 1991-92.

Page 19: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Os anos 90 – A busca da competitividade• Gradual eliminação da reserva de mercado• Redução gradual do FNDCT• Transformação da Finep numa agência quase que

exclusivamente voltada para o financiamento da tecnologia industrial

• Estímulo à criação de parques tecnológicos nas imediações das principais universidades

• Congelamento ou redução dos grandes projetos de P&D governamentais (nuclear e de aviação militar)

Page 20: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Sistema Nacional de C&T• Coordenação: MCT (criado em 1985)• Coordenação e Fomento: CNPq, Finep (MCT) e Capes (ME)• Secretarias estaduais de C&T• Agências estaduais de apoio à pesquisa (Fapesp a maior e

mais antiga – 1% do orçamento estadual)• Entidades de execução: universidades e Ips públicos e

privados

Page 21: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Entidades complementares• Rede de sociedades profissionais e científicas que publica

cerca de 400 revistas, organiza conferências e articula a defesa de seus interesses

Page 22: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Informações complementaresEmpresas que mais investem em P&D no mundo:

• Toyota• Roche• Microsoft• Volkswagen• Pfizer• Novartis• Nokia• Johnson e Johnson• Sanafi-Aventis• Samsung Eletronics

Page 23: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Informações complementaresSetores que mais investem em P&D no mundo (em

U$mil ):

Farmacêutico e biotecnologia 210Hardware 189Automotivo 176Software e serviços 78Eletroeletrônicos 76Indústria química 48Aeroespacial e defesa 41Indústria do lazer 38Engenharia industrial 34Indústria em geral 32

Fonte: Site Geoconceição

Page 24: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Algumas características do desenvolvimento científico e tecnológico de fins do século XX

• Desenvolvimento de uma ciência nacional muito incipiente, restrita a áreas aplicadas como agricultura, recursos naturais e ciências da terra

• Esvaziamento do FNDCT, com consequentes prejuízos ao sistema de execução de C&T

• Na década de 90, reativação do FNDCT com a injeção de recursos dos Fundos Setoriais

Page 25: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Algumas características do desenvolvimento científico e tecnológico de fins do século XX• Elitismo em tecnologia e educação:

• Ênfase nas universidades (poucas) e abandono da educação básica, secundária, técnica e superior de massas

• Pesquisa ag rícola nas mãos de poucas instituições e voltada à agricultura de exportação, capital intensivas

• Tentativa de desenvolvimento de capacitação interna em informática concentrada na proteção da indústria de equipamentos e não na difusão das novas tecnologias e competências pela sociedade.

Page 26: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Mudanças do papel da C&T no mercado internacional

• Maior proximidade da indústria e do mercado• Aumento das preocupações com propriedade intelectual• Maior ênfase à pesquisa aplicada• Aceleração do ritmo das inovações tecnológicas• Exigência de maior flexibilidade das empresas para a

adoção das inovações (e para operar em ambiente de aceleração)

• Crescente internacionalização das indústrias e mercados• Redefinição das linhas de produção• Novas associações e fusões

Page 27: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Mudanças do papel da C&T no mercado internacional

• Mobilidade internacional de pesquisadores• Redução do aparato militar das grandes

potências com o fim da Guerra Fria, quebrando a tradicional associação entre P&D militar, pesquisa básica acadêmica e tecnologia industrial.

Page 28: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Mudanças na natureza das atividades de C&T

• Mudança na percepção da dinâmica de C&T – substituição do modelo linear por outras combinações

• Limites mais tênues entre pesquisa básica e aplicada

• Importância crescente do conhecimento tácito e das inovações incrementais

• Aumento da importância das ciências sociais• Difusão do campo de estudos CTS

Page 29: Trajetórias das políticas de C&T no Brasil Aula 3 – Ciência e Tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global – décadas de 80 e 90* Baseado

Mudanças na natureza das atividades de C&T

• Difusão da percepção do risco dos avanços científicos pela sociedade

• Novos padrões de cooperação cientifica internacional: projetos Genoma, cooperativos europeus como Eureka (nas áreas de medicina, biotecnologia, comunicações, energia, meio ambiente, tecnologias de informação, laser, robótica, automação da produção e transportes).

• Difusão dos estudos de avaliação tecnológica e impactos ambientais das inovações.