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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSO EM ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO
JOÃO EVANGELISTA DA COSTA
TRAJETOS NO LABIRINTO:
História de vida dos portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões
sanguíneas na cidade de Natal/RN
Natal-RN
2013
1
JOÃO EVANGELISTA DA COSTA
TRAJETOS NO LABIRINTO:
História de vida dos portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões
sanguíneas na cidade de Natal/RN
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de mestre.
Área de Concentração: Enfermagem na atenção a saúde.
Linha de Pesquisa: Enfermagem na Saúde Mental e Coletiva Orientadora: Professora Drª. Clélia Albino Simpson
Natal-RN 2013
2
TRAJETOS NO LABIRINTO:
História de vida dos portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões
sanguíneas na cidade de Natal/RN
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do
Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre.
Aprovada em: 18 de fevereiro de 2013, pela banca examinadora.
PRESIDENTE DA BANCA:
Professora Drª Clélia Albino Simpson (Departamento de Enfermagem/UFRN)
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________
Profª Drª Clélia Albino Simpson (Orientadora)
Departamento de enfermagem – UFRN
__________________________________________________
Profª Drª Maria Teresa Cícero Laganá (Avaliadora interna)
Departamento de enfermagem – UFRN
__________________________________________________ Prof Dr Francisco Arnoldo de Miranda (Avaliador interno)
Departamento de enfermagem – UFRN
__________________________________________________ Profª Drª Francisca Lucélia Ribeiro de Farias (Avaliadora externa)
Curso de enfermagem – UNIFOR
__________________________________________________
Profª Dr ª Lenilde Duarte de Sá (Avaliadora externa)
Departamento de enfermagem – UFPB
3
DEDICATÓRIA
A DEUS, por nos ter dado o dom da vida! A
meus PAIS que, na simplicidade da vida,
lutaram para deixar a herança da seiva da
Sabedoria aos seus filhos e filhas.
4
AGRADECIMENTOS
Ao ser supremo, Deus!
Que com seu imenso poder e espiritualidade me deu condições de realizar
mais este sonho. Uma qualificação a mais para me tornar um ser humano e um
profissional cada dia melhor, para que possa ter uma vida digna e dar orgulho à
minha família. Deus! Muito obrigado!
Aos meus pais e irmãos!
Pela importância da família na minha vida. Ao meu, pai Joaquim Bento da
Costa, e minha mãe, Maria Firmino do Vale, os quais, mesmo com pouca instrução,
mas com visão até onde a vista não alcançava, no futuro longínquo, nos orientaram
para que, superando as intempéries da vida, vencêssemos! Exemplo de pessoas
honestas e trabalhadoras. Muito obrigado pela confiança, compreensão e paciência
comigo. E também aos meus sete irmãos: Zé, Tico, Sueli, Tonho, João, Tuta e
Tuzinha (nomes que chamamos na intimidade da família) e em especial a Tuta (Drª
Maria Suely da Costa), pois sempre que precisava, tirava minhas dúvidas.
Aos “gigantes” que encontrei na vida!
À minha orientadora, a quem com muito orgulho posso chamar de amiga,
Profª Drª Clélia de Albino Simpson. Agradeço-lhe muito a paciência, compreensão e
ajuda incondicional para a conclusão dessa etapa tão importante da minha vida, pois
sei que, ao seu lado, colheremos belos frutos.
Ao Prof Dr Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, que, pelo carinho e
atenção para comigo, o considero como meu coorientador, pois sempre que precisei
ajudou-me.
À Profª Drª Ana Elza de Oliveira Mendonça, que tanto me incentivou, confiou
e dedicou uma parte do seu tempo comigo, minha maior incentivadora para que eu
fizesse o mestrado. Fico-lhe muito agradecido!
5
A minha colega de turma, Ana Michele de Farias Cabral, que com tanta
afinidade, sempre colaborou. Obrigado!
Ao meu amigo e companheiro, Dr Wellington Medeiros de Araújo, que, com
tantas contribuições valiosas, muito me ajudou neste trabalho. Muito obrigado!
Aos professores
Aos professores do programa de pós-graduação do Departamento de
enfermagem, pelos ensinamentos e colaboração, muitas vezes incompreensíveis
para mim em algumas abordagens, mas inesquecíveis!
Às professoras Drª Francisca Lucélia Ribeiro de Farias, Drª Maria Teresa
Cícero Laganá e a Drª Lenilde Duarte de Sá por terem concedido a honrosa
presença, aceitando o convite para participar da banca examinadora.
Aos funcionários
Aos funcionários e colaboradores do Departamento de enfermagem, pois
são também responsáveis por parte da ciência produzida nesta instituição.
Aos meus colegas e amigos do Hospital Universitário Onofre Lopes e do
HEMOVIDA, pelo incentivo e torcida nesta caminhada.
Aos usuários de saúde
Os colaboradores de codinome, Srª Fevereiro (in memoriam), Sr Abril (in
memoriam), Srª Maio, Sr Novembro (in memoriam) e Srª Dezembro, pela relevante
contribuição, sem a qual não seria possível a realização deste trabalho. Agradeço
também aos seus familiares que, sabendo da importância da pesquisa, sempre nos
receberam de braços abertos.
6
COSTA, João Evangelista da. Trajetos no labirinto: História de vida dos
portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões sanguíneas na
cidade de Natal/RN. 2013. 152f Dissertação (Mestrado) – Departamento de Enfermagem,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2013.
RESUMO
O estudo “Trajetos no Labirinto: história de vida de portadores de doenças oncológicas em uso de transfusão sanguínea na cidade de Natal” tem a hemoterapia como procedimento primordial para se repensar a relação entre usuários de saúde oncológicos e os desdobramentos decorrentes. A hemoterapia busca suprir carências orgânicas através da hemotransfusão, que adquire função vital aos portadores de câncer por poder restabelecer o funcionamento do organismo através do aumento de componentes sanguíneos. O impacto sobre a transfusão afeta emocional e fisicamente a vida desses usuários. Objetivando refletir acerca desse impacto, o presente estudo procurou, através das narrativas de vida, resgatar suas vivências desde o diagnóstico da doença até os instantes de uso da transfusão sanguínea. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, em que a abordagem qualitativa utiliza o referencial teórico-metodológico da história oral de vida para analisar uma colônia formada por cinco usuários de saúde com diagnóstico de câncer, com realização mínima de três transfusões sanguíneas, no ambulatório do Núcleo de Hematologia e Hemoterapia - UFRN, na cidade de Natal-RN. A rede, por sua vez, foi composta por colaboradores de ambos os sexos, sem limite de idade, que concordaram voluntariamente em participar do estudo. A coleta de dados, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, da Liga Norte Riograndense Contra o Câncer, sob parecer 001/001/2012, ocorreu por meio de entrevistas semi-estruturadas, gravadas individualmente, em contexto domiciliar, local previamente escolhido pelos colaboradores. O procedimento metodológico se deu com a transcrição das entrevistas e suas transcriações, e a análise dos relatos por meio da análise de conteúdo temático. Na orientação de leitura e interpretação dos relatos dos colaboradores, discutiu-se três categorias de análise: o impacto no psicológico REVER ; o impacto na socialização e no grupo de pertença; o impacto do ambiente e da transfusão sanguínea no tratamento. Com base nas narrativas das histórias de vida dos colaboradores, conclui-se que as vivências e os sentimentos, a esperança e a tristeza, a dor e a fé, mesmo em face de uma doença como o câncer, trazem muito de ensinamento e aprendizagem ao profissional da saúde que deposita na humanização e na hemoterapia formas de restabelecer quadros clínicos críticos.
Descritores: Enfermagem Oncológica; Pesquisa Qualitativa; Hemoterapia.
7
COSTA, João Evangelista da. Paths in the maze: lifestory of patients with
oncological diseases into use of blood-transfusions in Natal / RN. 2013. 152f Thesis
(MA) - Department of Nursing, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2013.
ABSTRACT
The studies “paths in the maze: life story of individuals with oncological diseases into
use of blood transfusion in Natal” has the hemotherapy as a primordial procedure to
review the relationship between users of oncological health and the due
ramifications. The hemotherapy looks for supply the organic needs through blood
transfusion, which acquires vital function to the ones that have cancer, because it
might reestablish the functionality of the organism throughout the raising of blood
components. The impact over the transfusion affects emotionally and physically the
users life. Aiming to reflect on these impacts, this study tried, through narratives of
lives, rescue their experience since their knowledge of the disease until the time of
blood transfusion using. It’s about an exploratory-descriptive study, where the
qualitative approach uses the theoretical-methodological reference of the oral life
history to analyze a colony consisting of five users of health diagnosed with cancer,
with achievement of at least three blood transfusions, the clinic Núcleo de
Hematologia e Hemoterapia - UFRN, in Natal-RN. The network, in turn, was
composed by employees of both sexes, regardless of age, who voluntarily agreed to
participate in the study. The data collection, with approval of the Ethics Committee in
Research, Liga Norte Riograndense Contra o Cancer, on the number 001/001/2012,
occurred through semi-structured interviews, recorded individually in the home
context that was previously chosen by employees. The methodological procedure
occurred with the transcription of the interviews and their transcreations, and analysis
of reports by thematic content analysis. At the reading orientation and interpretation
of the employees’ stories, were discussed three categories of analysis: the impact on
psychological REVIEW; impact on socialization and group membership, the
environment and the impact of blood transfusion on treatment. Based on the
narrative of the life histories of employees, we conclude that the experiences and
feelings, hope and sorrow, pain and faith, even when facing a disease like cancer,
bring lots of teaching and learning to health professional that deposits humanization
health and reinstate hemotherapy forms of clinical critical.
Descriptors: Oncology Nursing; Qualitative Research; Hemotherapy.
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ABO – Sistema Sanguíneo
A.C – Antes de Cristo
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
CH – Concentrado de Hemácias
COFEN - Conselho Federal de Enfermagem
CP - Concentrado de Plaquetas
DEVH – Doença do Enxerto Contra Hospedeiro
GM - Gabinete do Ministro
Hb - hemoglobina
INCA - Instituto Nacional do Câncer
LNRCC - Liga Norte Riograndense Contra o Câncer
MS – Ministério da Saúde
NHH – Núcleo de Hematologia e hemoterapia
NEHO - Núcleo de Estudos em História Oral
OMS - Organização Mundial de Saúde
O2 - Oxigênio
PFC – Plasma Fresco Congelado
PNHAH - Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
RT – Reação Transfusional
RN – Rio Grande do Norte
ST – Sangue Total
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TRALI - Lesão pulmonar Aguda Associada à transfusão
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
USP – Universidade de São Paulo
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Classificação das reações transfusionais .............................................28
Quadro 2- Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes
estimados para 2012, no Brasil, por sexo, exceto pele não
melanoma....................................................................................................32
Quadro 3- Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes
estimados para 2012, na Região Nordeste, por sexo, exceto pele não
melanoma....................................................................................................32
Quadro 4- Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidência por
100 mil habitantes no Rio grande do Norte e Natal .....................................33
Quadro 5- Etapas da entrevista ......... ....................................................................49
Quadro 6- Dados pessoais dos colaboradores, segundo estado civil, idade,
escolaridade e religião ..............................................................................59
Quadro 7- Dados socioeconômicos dos colaboradores, segundo naturalidade, renda
familiar e religião ......................................................................................60
10
SUMÁRIO
1 REFLEXÕES INICIAIS: UMA JORNADA AO PASSO DE TESEU..........................12
2 ADENTRANDO O LABIRINTO: UM BREVE HISTÓRICO DA HEMOTERAPIA E
DA ONCOLOGIA......................................................................................................22
2.1 Indicações dos hemocomponentes..........................................................................25
2.2 Aspectos clínicos e imunológicos da transfusão e a assistência de
enfermagem...............................................................................................................27
2.3 Aspectos históricos e estimativas das doenças oncológicas....................................30
2.4 Transfusões sanguíneas em Oncologia e a assistência de Enfermagem.................37
3 ORIENTAÇÕES DO PERCURSO: OS FIOS E REDES DO MÉTODO....................41
3.1 A pesquisa e suas direções conceituais...................................................................42
3.2 A História Oral...........................................................................................................44
3.2.1 História Oral de Vida...............................................................................................45
3.3 Direcionamentos metodológicos................................................................................45
3.4 Fundamentos operacionais.......................................................................................48
3.4.1 Coleta dos dados – a Entrevista.............................................................................48
3.4.2 Etapas da Entrevista..............................................................................................49
3.5 Análise dos Dados....................................................................................................54
3.6 Considerações Éticas................................................................................................55
3.7 Cenário do estudo.....................................................................................................56
4 SOBRE MONSTROS E HERÓIS: analisando as narrativas de vida....................58
4.1 Passos da Análise.....................................................................................................58
4.2 Dados Pessoais dos Colaboradores........................................................................59
4.3 Prólogo às Entrevistas...............................................................................................61
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................92
5.1 ANEXAÇÃO DOS ARTIGOS....................................................................................92
5.1.1 ARTIGO 1 – O enfermeiro e o contexto em reações transfusionais................93
5.1.2 ARTIGO 2 – História oral de vida de usuários de saúde oncológicos em uso
de hemotransfusão ............................................................................................102
6. REFLEXÕES FINAIS: LUMIAR PÓS-LABIRINTO .................................................118
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
ANEXOS
11
REFLEXÕES INICIAIS...
12
1 REFLEXÕES INICIAIS: UMA JORNADA AO PASSO DE TESEU
Há um mito na Grécia antiga que relata a existência de um herói, Teseu,
que, para sobreviver a uma árdua tarefa a ele imposta, conta com a ajuda de um
simples novelo de lã. Atravessar o labirinto e destruir um terrível monstro, o
Minotauro, metade homem, metade touro, é a tarefa imposta a este herói que, ao fim
da aventura, tanto derrota a temível criatura, como percorre as trilhas nebulosas do
lugar amaldiçoado. É através da distribuição dos fios pelos caminhos seguidos que o
bravo e esperto homem consegue chegar ao seu destino final (BULFINCH, 2006).
O mito de Teseu aparece aqui não para se falar de mitologia pela
mitologia, mas para mostrar que os desafios, por mais difíceis e insuperáveis que
pareçam, podem ser confrontados e vencidos. E isso serve de lição para a reflexão
que o estudo aqui proposto busca fazer. Pois, mergulhados no temível labirinto que
o câncer, como enfermidade, tem proposto ao ser humano, parece-nos difícil, se não
impossível, chegar ao outro lado do tortuoso caminho que a doença, tal qual um
grande Minotauro, tem deixado como herança a quem se “atreve” a seguir na busca
por vencê-la.
No contexto da saúde, muitos são os profissionais que se engajam na
luta. Nesse sentido, distanciando-se do mito e ao mesmo recorrendo a este em
relações metafóricas, colocamos em evidência o papel que a enfermagem tem
desempenhado no enfrentamento do câncer.
Nosso interesse pela enfermagem já vem de muito antes e, com o passar
o tempo, vem se concretizando como forma de entender e “enfrentar” as
adversidades que o labirinto maior, a vida, impõe a cada um de nós. Como
enfermeiro, trabalhando na assistência direta aos usuários de saúde, tornou-se
necessário um conhecimento mais aprofundado no sentido de atender diversas
áreas de assistência. Depois, passando a atuar em uma unidade hemoterápica, foi
preciso um aperfeiçoamento específico nesta área, uma vez que, lidando com a
administração dos hemocomponentes, no início, não tínhamos o entendimento de
como funcionava aquela terapia e tampouco detínhamos argumentos científicos para
13
explicar e tirar as dúvidas dos usuários com relação ao que envolvia sangue e seus
constituintes.
No exercício da profissão, observávamos que a administração dos
hemocomponentes era feita como um medicamento comum, constatando-se,
também, que o usuário não era esclarecido quanto ao que estava sendo feito acerca
do procedimento transfusional com seus benefícios e os possíveis riscos. O Manual
Técnico de Hemovigilância do Ministério da Saúde (BRASIL, 2007), nessa
perspectiva, reafirma que as transfusões envolvem riscos sanitários com a
ocorrência potencial de incidentes transfusionais, sejam eles imediatos ou tardios, e
que estes riscos deverão ser esclarecidos para o usuário de saúde.
Nos momentos de dúvidas, procurávamos esclarecê-las com a equipe de
trabalho, no entanto, poucos profissionais tinham o conhecimento aprofundado do
assunto. Não era raro ficarmos sem respostas às questões que nos afligiam. Uma
das preocupações, por exemplo, dava-se com relação aos esclarecimentos que o
enfermeiro deveria repassar aos usuários de saúde que se submetiam a transfusões
sanguíneas, no sentido de esclarecer quais os riscos e benefícios que este
procedimento (transfusão) poderia acarretar.
No exercício da profissão, as preocupações aumentavam diante de uma
reação à transfusão. Éramos orientados a parar o procedimento transfusional e
chamar o médico para avaliar o usuário, embora o Ministério da Saúde (MS) exija
que, na administração de sangue e de hemocomponentes, os profissionais de
saúde, envolvidos nesta terapêutica, tenham o conhecimento de técnicas corretas e
a capacidade de identificação de potenciais eventos adversos (BRASIL, 2007).
Além disso, existe o Programa de Hemovigilância que tem como objetivo
o direcionamento de ações que ampliem e aprimorem a segurança nas transfusões
sanguíneas, com particular ênfase para os incidentes transfusionais, área
estratégica de atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do
Ministério da Saúde. A incorporação das ações de Hemovigilância no Sistema Único
de Saúde (SUS), no Brasil, traduz-se como um processo importante dentro da
qualificação da medicina transfusional (BRASIL, 2007).
Conforme Fidlarczyk e Ferreira (2008), a partir da década de 1990, os
profissionais de enfermagem que atuavam na área passaram a discutir e
14
problematizar a atuação da enfermagem com usuários de saúde que apresentavam
distúrbios hematológicos, e o cuidado que deveria ser prestado ao doador e ao
receptor em todo ciclo do sangue. No Brasil, estudos específicos em hematologia e
hemoterapia, nos moldes de residência, para enfermeiros, têm início com o curso de
pós-graduação em nível latu sensu, no Rio de Janeiro, no ano de 2002. Portanto,
nota-se o quanto nova é esta discussão que pode trazer muito de amadurecimento
para o enfermeiro da área.
Uma vez atuando com processos hemoterápicos, sentimo-nos atraídos e,
cada vez mais, convidados a procurar fundamentação científica nesta área. No
exercício diário, quanto mais obtínhamos conhecimento, mais aumentavam a
preocupação e o cuidado com o modo de utilização do sangue e suas aplicações, os
cuidados necessários com o doador e o receptor e as possibilidades de avanço
tecnológico. Passamos a procurar entender e observar os riscos do uso da
hemoterapia, suas reações durante a transfusão e os relatos dos usuários ao narrar
o que sentiam durante e após a infusão dos hemocomponentes. Após pesquisa da
literatura referente à hemoterapia foi possibilitado constatar, inclusive, a falta de
critérios na indicação dos hemocomponentes.
A partir dos conhecimentos adquiridos, da observação e da prática
cotidiana, com efeito, ampliaram-se cada vez mais as condições para orientar os
colegas de trabalho e os usuários sobre procedimentos de hemotransfusões, dando
ênfase aos critérios e ressaltando sobre prováveis alterações durante este
procedimento. A orientação era no sentido de terem o cuidado de não deixar que os
usuários desta terapêutica tivessem receio a ponto de recusar o tratamento, o que
atrasaria o processo e prejudicaria a sua própria saúde. A compreensão era que, em
algumas situações clínicas, a transfusão pode auxiliar na melhora rápida de uma
grave condição, ou representar a única maneira de salvar uma vida. No trecho a
seguir, destacado por Kübler-Ross (2004, p. 23), percebe-se a confiança e a reação
positiva do usuário em face do processo transfusional:
Então, numa certa manhã, vários médicos amontoaram-se à volta da
minha cama murmurando sobre a necessidade de uma transfusão de
sangue. Bem cedo, no dia seguinte, meu pai irrompeu por aquele
meu quarto desesperadamente vazio e desanimador, parecendo-me
15
muito grande e heroico. Comunicou-me que eu iria receber um pouco
do seu "bom sangue cigano". E, de uma hora para outra, foi como se
o quarto se iluminasse. Ficamos deitados em macas vizinhas e
espetaram tubos em nossos braços. O aparelho de sucção-
circulação-bombeamento era movido à manivela e parecia um
moedor de café. Papai e eu olhávamos para os tubos vermelhos.
Cada vez que a manivela era acionada, o sangue era sugado do tubo
de papai e entrava no meu.
Ilustrando e corroborando com o registro citado acima, a imagem a seguir
retrata uma transfusão sanguínea de meados do século XIX, realizada braço a
braço, do doador diretamente ao receptor. Vale lembrar que nesse período não se
tinha o conhecimento sobre anticoagulantes para conservação do sangue fora do
organismo.
Imagem da internet. Disponível em: http://cmclarkana.blogspot.com.br/2010/09/blood-transfusion-introduction-blood.html
16
Retomando a metáfora do labirinto e o que o envolvia, devemos lembrar
que, para a jornada de Teseu obter sucesso, foi importante a ajuda de Ariadne, linda
jovem apaixonada pelo herói, também filha do poderoso Minos. Nesse sentido,
pode-se dizer que os grandes avanços da medicina e de outras áreas da saúde, em
conjunto, estão contribuindo para que as instituições de saúde se tornem serviços
com mais qualidade, principalmente pelo uso da tecnologia.
No campo da hemoterapia não tem sido diferente, pois tem ocorrido um
crescente aparato tecnológico, com as unidades hemoterápicas utilizando-se dos
mais sofisticados métodos sorológicos e as mais modernas máquinas automatizadas
para separação das células sanguíneas, oferecendo-se, uma melhor qualidade aos
produtos produzidos e diminuindo significativamente alguns eventos indesejados na
transfusão.
Com isso, percebe-se a importância da contribuição que as tecnologias
têm na facilitação do processo de melhorias à qualidade de vida dos usuários. Mas
uma vez recorrendo ao mito de Teseu, devemos lembrar que as tecnologias, como
um novelo de lã ou um elmo, apresentam-se como poderosas ferramentas no
enfrentamento ao temido e ao desconhecido. No entanto, não se pode esquecer
que, além da ajuda da inovação tecnológica, é a vontade de assegurar ao humano
uma posição de conforto e confiança que nos deve mover, igualmente para Teseu
vencer o desafio do labirinto e do grande Touro era condição necessária para a
salvação de seu povo, os atenienses.
No mundo atual, quem se coloca como trabalhador da saúde deve, pois,
perceber o outro em sua dor, o que exige uma luta constante na busca de conhecer
as mais profundas angústias do usuário para poder lhe oferecer o conforto e a
segurança que anseia. Cabe, então, perceber a dor do outro, seja de que natureza
for, no sentido apontado por Thernstrom (2011, p. 22):
‘A dor como doença’, que discute a situação atual do tratamento e da
pesquisa da dor; ‘A dor como narrativa’, que acompanha a
experiência de pacientes que fazem tratamento para a dor e mostra
como a dor altera a vida e é alterada por ela; e finalmente, ‘A dor
como percepção’, que une os aspectos variados e paradoxais da dor
17
ao entendimento contemporâneo do funcionamento da dor no
cérebro.
Sendo assim, é através de uma assistência individualizada, respeitando
as preocupações, os medos, os sofrimentos e as esperanças de cada um, tal qual
um Teseu, o enfermeiro deve destinar sua assistência e meta, de modo que, ao sair
das trilhas do labirinto, o desconhecimento, será capaz de perceber a importância e
a preciosidade da vida que reside naqueles que, no enfermeiro, depositam suas
esperanças.
É válido ressaltar que a motivação para enfrentar a pesquisa e a jornada
de estudo em função deste trabalho veio, portanto, a partir dessas constatações, da
vivência diária e da assistência direta aos usuários de saúde, principalmente dos
portadores de doença oncológica que utilizam com bastante rigor a transfusão
sanguínea em seus tratamentos. Soma-se a isto o estímulo em querer entender
questões específicas com intuito de melhorar a assistência prestada, pois em muitos
momentos notavam-se aflições e angústias, algumas vezes verbalizadas, outras
não, dos enfermos.
No perfil dos usuários de saúde é comum identificar-se a insegurança ou
relutância em comunicar abertamente suas dúvidas e as preocupações diante da
aplicação da hemoterapia, procedimento que, para muitos, tende a ser percebido
como algo, no mínimo, estranho, podendo até mesmo ser assustador. Muitas dessas
preocupações e dúvidas só são materializadas quando os usuários já têm uma
“cumplicidade” maior com o enfermeiro que o assiste. Desse modo, segundo Kaliks,
Holtz e Giglio (2012), como o tratamento oncológico pode perdurar por um longo
período, é de extrema importância que, quando possível, o mesmo enfermeiro possa
cuidar de um determinado usuário de saúde. Tal orientação pode ser estendida
também à hemoterapia, pois, fazendo parte do processo terapêutico, a aproximação
e a convivência tendem a gerar um quadro de confiança e afetividade entre as
partes.
Contudo, é preciso considerar que não é apenas a convivência sombria
que faz o Teseu/enfermeiro ganhar experiência e vencer as trilhas do perigo; é,
antes, cada momento vivenciado na cadência do mistério que o caminho lhe
18
proporciona que o torna mais atento, mais cuidadoso e capaz de dizer o que viveu.
Por isso, pensar o usuário de saúde oncológico em momento de “delicadezas de
labirinto”, é adentrar em suas experiências de vida, seus momentos de perigo,
ouvindo-o e procurando entender suas lições. Afinal, percorrer sob as curvas e
paredes desconhecidas de um labirinto, como o câncer, é ter muito a dizer, é ter
muito a narrar.
Em respeito à tradição de narrar, igualmente como fez Teseu ao
descortinar as sombras daquela região, percebemos que, no período do tratamento
do doente oncológico, quando várias possibilidades terapêuticas vinham se
efetuando, a necessidade de contar se fazia notória. Os usuários não queriam ficar
calados e desolados em sua dor, como se, ao falar, pudessem libertar-se do medo e
das aflições que a doença proporcionava. As narrativas das histórias de vida destes
usuários passaram, portanto, a nos interessar por poderem afastar, mesmo que
temporariamente, as fantasias sobre a doença; também por se assemelharem a
relatos de histórias “mágicas”, reveladoras de aventuras que, se não parecidas com
as do herói grego, pelo menos tendiam a ser tão intensas quanto elas.
Com efeito, o recurso da História oral passou ocupar, então, lugar
primordial na interpretação daquelas vidas e nas lições deixadas, por ser uma
técnica e método moderno muito usado para elaboração de registros, documentos,
arquivamento e estudos referentes às experiências vividas nos âmbitos sociais e
grupais. A História oral é, ainda, uma ferramenta fundamental para se apreender as
percepções do passado no presente da subjetividade dos indivíduos, que se
encontra em constante construção, sendo conhecida como uma história viva
(MEIHY, 2011).
Fundamentando ainda mais, na certeza da escolha da metodologia certa,
tivemos o privilégio de participar da “Oficina de História Oral: desafios e propostas
para um novo tempo na pesquisa em enfermagem”, com o Professor Dr. José Carlos
Sebe Bom Meihy, coordenador do Núcleo de Estudos em História Oral (NEHO-
USP), realizada no departamento de enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Esta oficina foi idealizada e organizada, pelo então
mestrando, na época, Fernando de Souza Silva. Aproveitando a oportunidade, na
ocasião tiramos dúvidas, ouvimos sugestões e incrementamos ainda mais nosso
19
projeto de pesquisa. O professor Bom Meihy proporcionou viajar em suas histórias,
colaborando na certeza que o labirinto a trilhar para este estudo já estava seguindo
o rumo certo.
De “mãos dadas” ao método da História oral, procuramos, diante do
contexto de justificativas e motivações, buscar repostas ao questionamento de como
as transfusões sanguíneas interferem no cotidiano desses usuários de saúde com
câncer. Interessou-nos investigar a relação da hemoterapia em portadores de câncer
e suas histórias de vida. Por meio de entrevistas, os colaboradores, aparentemente
desprovidos de quaisquer receios, nos receberam e contaram as suas experiências
de vida. Trabalho este agora sintetizado nesta dissertação cujo corpus está
distribuído em três capítulos.
No primeiro capítulo, discute-se a respeito do percurso histórico entre a
hemoterapia e a oncologia, no sentido de compreender melhor o processo que
envolve estas duas áreas tão difundidas na assistência ao usuário de saúde. Para
tanto, percorremos brevemente os períodos históricos da hemoterapia, seus
princípios, suas descobertas e evoluções para entendê-la melhor nos dias atuais,
perpassando o processo que a envolve de desenvolvimento no Brasil e no mundo.
Desse modo, espera-se conhecer rotinas e práticas transfusionais com o
envolvimento e atuação do enfermeiro na área. Procurou-se ainda entender a
oncologia através dos aspectos históricos, seu perfil epidemiológico e as
preocupações que envolvem todos os profissionais da saúde, principalmente o
enfermeiro, nos processos de prevenção e tratamento do câncer, que na maioria dos
casos são longos e causam muito sofrimento.
No segundo capítulo, têm-se a metodologia utilizada para fundamentar o
estudo proposto, estabelecendo as direções conceituais da pesquisa, as etapas da
coleta de dados e, por fim, a descrição dos fundamentos teóricos, temáticos e
operacionais, como as etapas da entrevista e o método de análise dos dados.
Discute-se ainda sobre as considerações éticas e o cenário do estudo.
O terceiro capítulo compõe-se dos passos da análise. Neste, é registrada
a identificação dos colaboradores, através de quadros sinópticos que contém
informações dos dados pessoais e do perfil socioeconômico, possibilitando um maior
entendimento acerca do contexto histórico, familiar e suas experiências de vida. Em
20
seguida, encontram-se as narrativas dos colaboradores, destacando-se o tom vital
de cada uma. Nesses textos, transcritos integralmente, houve a preservação da
originalidade das falas.
No quarto e último capítulo, dois artigos compõem os resultados e as
discussões do que levantado como hipótese da pesquisa. No primeiro artigo discute-
se sobre o papel do enfermeiro e o contexto em reações transfusionais. Nesse
estudo tem como objetivo refletir e inserir o enfermeiro nos contextos imediato,
específico, geral e no metacontexto das reações transfusionais. No segundo
delineiam-se as categorias de análises e a análise propriamente dita, e tem como
objetivo analisar narrativas dos usuários de saúde com câncer em uso de transfusão
sanguínea, avaliando o impacto causado pela doença e pela transfusão na vida dos
colaboradores do estudo.
Encerrando o percurso textual, não como conclusão, uma vez saber-se
que o desenvolvimento da melhoria na qualidade de vida constitui-se como processo
perene, mas como sugestão final, propõem-se certas reflexões que possam ajudar
no entendimento da complexa jornada das histórias de vida de cada colaborador.
Nestas reflexões, procurou-se pensar, como o trabalho em sua íntegra já indica,
acerca do impacto da hemoterapia no tratamento dos usuários de saúde com
câncer, resgatando suas histórias de vida, suas vivências desde o diagnóstico da
doença até o uso das transfusões sanguíneas, de modo que se possa contribuir
na/para assistência e na/para prática do enfermeiro, tendo como finalidade contribuir
para um tratamento mais adequado a estes usuários de saúde.
21
CAMINHANDO...
22
2 ADENTRANDO O LABIRINTO: UM BREVE HISTÓRICO DA HEMOTERAPIA E
DA ONCOLOGIA
O sangue vem sendo utilizado pelo homem há muito tempo e de várias
formas como banhos e beberagens. Era considerado um elemento mítico em todas
as culturas que atribuíam a ele grandes poderes. Fidlarczyk e Ferreira (2008)
relatam que, na história da humanidade, o sangue sempre foi um elemento
conceituado como vida, fazendo parte do patrimônio do inconsciente coletivo do
humano, tendo em vista a grande variedade de mitos e símbolos presentes em
todas as culturas. A ele foram atribuídos misteriosos poderes e altas missões, desde
os tempos remotos, quando o sacerdócio, a magia e a medicina caminhavam
atreladas a uma mesma atividade. Acreditava-se que a força da alma estava
relacionada à quantidade do sangue e que podia evitar a morte, melhorar as
condições da saúde e restituir a mocidade aos velhos e a razão aos loucos.
No período pré-histórico, há relatos de transfusões sanguíneas na Grécia
Antiga e no Império Romano, mas estas transfusões eram meramente
especulativas. Na verdade, a maioria das transfusões consistia na ingestão de
sangue de inimigos derrotados em batalha e de animais. Esta prática tinha como
objetivo adquirir força e bravura e foi difundida por muitos anos nestas sociedades.
Em outra prática, não muito distante, médicos recomendavam a ingestão de sangue
pelos tuberculosos para que se revigorassem e se recuperassem mais rapidamente
(AMORIM FILHO, 2007).
A hemoterapia está dividida em dois grandes períodos: o empírico, em
que se transfundia sangue sem conhecimento adequado para esta prática, e o
científico, que se dá com a descoberta dos grupos sangüíneos do sistema “ABO” por
Karl Landsteiner, médico e biólogo austríaco (FIDLARCZYK; FERREIRA, 2008).
Com a descoberta da circulação sanguínea, pelo médico inglês William
Harvey (1578-1657), foi possível descrever o processo de movimento do sangue,
caracterizando, em consequência, o papel central atribuído ao coração. Fidlarczyk e
Ferreira (2008) relatam que esta descoberta possibilitou, entre outros avanços, a
injeção intravenosa cogitando infundir, não apenas medicamento, mas também
sangue na veia dos usuários. A primeira infusão endovenosa é datada de meados
23
do século XVI, quando, quase sempre, eram utilizados sangue de animais para
humanos.
A primeira transfusão de sangue foi atribuída a Jean Denis, em 1667. Há
relato de que esse pesquisador utilizou sangue de vitela para acalmar e curar um
usuário com delírio frenético, vindo a apresentar quadro compatível com reação
hemolítica. Devido à grande incidência de acidentes transfusionais e o elevado
número de mortes, em 1673, as transfusões foram proibidas na França, o que foi
seguido por diversos governos europeus. Esta proibição, que durou 150 anos, veio
configurar a primeira crise da medicina transfusional (MAGANHA; REZENDE, 2008).
Segundo Junqueira, Rosenblit e Hamerschlak (2007), no Brasil, o início
da hemoterapia não foi muito diferente do resto do mundo. Existem relatos de tese
de doutorado apresentada à faculdade de medicina do Rio de janeiro, em 27 de
setembro de 1879, de autoria de José Marcondes, filho do Barão de Taubaté,
rejeitada por ser muito polêmica. Este mesmo estudo foi sustentado na Faculdade
de Medicina da Bahia, em 30 de dezembro do mesmo ano, descrevendo, com
riquezas de detalhes, experiências empíricas de reação hemolítica, na qual se
discutia se a melhor transfusão seria a de animal para o homem ou entre humanos.
As transfusões eram feitas de forma “aleatória”, não se tinha
conhecimento adequado para esta prática, a exemplo de se identificar os tipos
sanguíneos. Fase esta caracterizada de período empírico da hemoterapia, que vai
das suas origens, ou do período pré-histórico, até o século XX, inícios dos anos de
1900. Neste período, os questionamentos eram vários e pretendia-se determinar
qual seria o sangue mais adequado para transfundir. Mais tarde, embora vencido o
obstáculo da incompatibilidade “ABO”, não se foi capaz ainda, por si só, de tornar a
transfusão um recurso otimizado quanto ao acesso. Não havia como conservar o
sangue fora do corpo humano sem que ele coagulasse, sendo necessário um corpo
de doadores, que ficava de plantão para ser recrutado quando necessário
(JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2007).
Com a descoberta do anticoagulante, houve um grande avanço na
história da hemoterapia com fundação de bancos de sangue. Em Londres, no ano
de 1921, foi fundado o primeiro banco de sangue e o segundo em Moscou em 1926.
Porém, muito tempo se passou para utilização do anticoagulante. Apenas na guerra
24
civil espanhola, em 1939, houve a estocagem de sangue para posterior transfusão,
exemplo seguido pela Suíça e Inglaterra (AMORIM FILHO, 2007).
No Brasil, há registros de serviços de transfusão de sangue desde o início
do século XX. Na década de 1940, existiam vários serviços transfusionais. Em 1942,
foi inaugurado o primeiro banco de sangue no Instituto Fernandes Figueira no Rio de
Janeiro com objetivo de atender ao esforço de guerra, mandando plasma humano
para hospitais da frente de batalha (COVAS, 2009).
Para se adquirir o sangue, em qualquer período, sempre se fez
necessário o doador. No Brasil, essa prática de início era remunerada, sendo
recrutadas pessoas de qualquer perfil, mesmo sem condições físicas e de saúde
apropriadas. No intuito de serem recompensados, doavam sangue os mendigos e
presidiários, ao contrário dos países da Europa em que a doação de sangue sempre
fora não remunerada (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2007).
No Brasil, atualmente, apenas 1,8% da população é doadora voluntária de
sangue. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que esse número
corresponda a um percentual de 3 a 5% dos habitantes, para que os serviços de
hemoterapia venham a manter um estoque suficiente para suas demandas. Existem
muitos tabus e medos em uma grande parte da sociedade, principalmente entre
pessoas com perfil para ser um provável doador de sangue, que precisam ser
esclarecidos e desmistificados. (BRASIL, 2011).
De acordo com a Portaria 1353, de 13 de junho de 2011, do MS, para ser
um doador de sangue o indivíduo pode ser de ambos os sexos, com idade entre 18
(dezoito) anos completos e 67 (sessenta e sete) anos, 11(onze) meses e 29 (vinte e
nove) dias; podendo ser aceitos candidatos com idade de 16 (dezesseis) e 17
(dezessete) anos, desde que com o consentimento formal do responsável legal, para
cada doação; ter peso mínimo de 50 kg e que esteja em boas condições de saúde.
Esta mesma portaria determina que a doação de sangue deva ser voluntária,
anônima, altruísta e não remunerada, direta ou indiretamente (BRASIL, 2011).
Os doadores de sangue dividem-se em três categorias: os espontâneos,
motivados pelo sentimento de solidariedade, os verdadeiros altruístas; aqueles que
doam por solicitação de um amigo ou parente que necessita de sangue, chamados
de doadores de reposição; e os doadores específicos, chamados de dirigidos ou
25
personalizados, são aqueles que doam para um receptor específico (AMORIM
FILHO, 2007).
A atuação do Enfermeiro em Hemoterapia é normatizada pela Resolução
do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 306/06, que assegura a qualidade
da assistência prestada em todo o processo hemoterápico. Compete a este
profissional planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os procedimentos
hemoterápicos nas Unidades de Saúde, visando a assegurar a qualidade do sangue,
dos hemocomponentes e dos hemoderivados e assistindo de maneira integral os
doadores, receptores e seus familiares, em respeito ao Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem e as normas vigentes (COFEN, 2006).
Para a adequada garantia do processo transfusional, o profissional
enfermeiro dispõe da Portaria Nº 1353, de 13 de junho de 2011, o Regulamento
Técnico, e a Resolução nº 57, de 16 de dezembro de 2010, como Regulamento
Sanitário. Estes instrumentos têm como objetivo regular a atividade hemoterápica
em todo território nacional, de acordo com os princípios e diretrizes da Política
Nacional de Sangue seus Componentes e Procedimentos Transfusionais, incluindo
a captação, proteção ao doador e ao receptor, coleta, processamento, estocagem e
distribuição destes componentes, originados do sangue humano venoso e arterial,
para diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças (BRASIL, 2010; 2011).
2.1 Indicações dos hemocomponentes
As histórias dos substitutos para o sangue confundem-se com a da
medicina transfusional, uma vez que outras substâncias foram infundidas na
circulação humana com o mesmo propósito, como leite, água de coco e sangue de
animais. Algumas soluções provaram ser desastrosas, com complicações imediatas,
como a resultante da infusão intravenosa de solução de hemoglobina (Hb) livre
humana. Mesmo com o avanço tecnológico, ainda não foi possível produzir em
laboratório um componente que substitua o sangue e que realize sua função sem
efeitos colaterais (NOVARETTI, 2007).
Os componentes terapêuticos, produzidos a partir do sangue humano,
possibilitam sua utilização em numerosas situações clínicas e cirúrgicas, nas quais,
26
muitas vezes, o seu papel é determinante na manutenção da vida e na resposta
terapêutica. As transfusões com componentes sanguíneos, contudo, não estão
isentas de riscos, cabendo ao médico, por ser o profissional responsável pela
solicitação e transfusão, considerar a real necessidade de sua utilização, avaliando
os riscos e benefícios ao usuário de saúde (FRAIJI, 2007).
No processo hemoterápico, cinco são as opções de utilização do sangue
e de seus hemocomponentes:
A primeira indicação é o Sangue Total (ST), coletado de um único doador,
mas indicado em situação restrita, sendo mais utilizado como matéria prima nos
serviços de hemoterapia para preparo em seus hemocomponentes. Seu uso está
indicado em sangramento ativo, com perda de mais de 25% do seu volume
sanguíneo e que necessite simultaneamente de expansão de volume e melhoria na
capacidade de carrear Oxigênio (O2), sendo também indicado em exosanguíneo-
transfusão (BRASIL, 2008).
A segunda é o Concentrado de Hemácias (CH), que também é um
componente eritrocitário, indicado no tratamento de anemias normovolêmicas e nas
anemias por perda de sangue de evolução aguda, que necessite de restaurar a
massa eritrocitária e a capacidade de transporte de O2. A indicação terapêutica do
CH é de reduzir ou evitar a hipóxia tecidual, impedindo danos irreparáveis aos
tecidos ou órgãos. Sendo assim, as necessidades transfusionais de cada usuário de
saúde devem ser baseadas no seu estado clínico e não só nos níveis
hematimétricos (FRAIJI, 2007; BRASIL, 2008; NEVES, 2010).
O Plasma Fresco Congelado (PFC) é a terceira opção. É o único dos
componentes sanguíneo que tem uma dupla função na hemoterapia, podendo ser
usado para transfusão ou como matéria prima essencial para a indústria de
hemoderivados. Preparado pelo método de separação por centrifugação e
congelado no máximo até oito horas após coleta do ST, é indicado em usuários de
saúde com sangramento acompanhado de deficiências múltiplas dos fatores de
coagulação. Também está indicado nas deficiências congênitas de fatores de
coagulação, tais como dos fatores V, X e XI, para os quais não haja concentrados
específicos disponíveis (AMORIM FILHO, 2007; BRASIL, 2008; NEVES, 2010).
27
A quarta opção é o Concentrado de Plaquetas (CP), indicado para o
tratamento de sangramento decorrente de trombocitopenia (usualmente abaixo de
50.000/mL) ou de plaquetas funcionalmente anormais (trombocitopatias). É indicado
também em cirurgias, ou antes, de procedimentos invasivos em usuários com
contagem de plaquetas menor de 50.000/mL. Transfusões profiláticas podem ser
indicadas em usuários com contagem de plaquetas inferior de 05 a 10.000/ml,
associadas à hipoplasia medular decorrente de quimioterapia, invasão tumoral ou
aplasia primária (BRASIL, 2008; NEVES, 2010).
A quinta e última é o Crioprecipitado, hemocomponente concentrado com
algumas proteínas plasmáticas. Está indicado para tratar situações em que é
necessária a reposição de fibrinogênio, como nas afibrinogenemias e
disfibrinogenemias congênitas, hipofibriginonemias adquiridas e nas raras
deficiências congênitas do Fator XIII, podendo ser também usado em sangramentos
nas transfusões maciças e uremias (ANTUNES, 2007; BRASIL, 2008; NEVES,
2010).
Em qualquer uma das modalidades do uso dos hemocomponentes, o
enfermeiro deverá atentar para o estado clínico de cada usuário de saúde, pois é de
fundamental importância para o restabelecimento e recuperação do doente.
2.2 Aspectos clínicos e imunológicos da transfusão e a assistência de enfermagem
A transfusão acarreta benefícios aos usuários e é um procedimento
irreversível, mas pode ter riscos. Entre estes, estão às Reações Transfusionais (RT),
definidas como qualquer intercorrências que ocorra como consequência da
transfusão de componentes sanguíneos, durante ou após a sua administração.
Observa-se, porém, que a maior parte dessas reações pode ser evitada ou
prevenida. Neste contexto, adquire destaque a atuação da enfermagem por
encontra-se na assistência direta ao usuário em transfusão, e, especificamente, o
enfermeiro que deve ter o conhecimento tanto dos benefícios, como dos prováveis
riscos que a transfusão venha acarretar (HARMENING, 2006; BRASIL,2007; GUIA...
2010).
28
A maioria dos usuários de saúde, com doença oncológica, necessita
frequentemente de transfusão de algum tipo de hemocomponente. Apesar do
avanço tecnológico e todo cuidado envolvido no processamento do sangue e dos
seus hemocomponentes, é válido ressaltar que as transfusões não estão
completamente isentas de riscos. Embora a transfusão seja uma forma de terapia
segura e efetiva, existem riscos de efeitos adversos. As RT representam parte
desses efeitos adversos e podem ser classificadas em agudas ou tardias,
imunológicas e não imunológicas (SMELTZER; BARE, 2006; LUDWIG; ZILLY,
2007).
Para Harmening (2006) e Neves (2010), as reações transfusionais
imediatas são aquelas que ocorrem durante a transfusão ou até vinte e quatro horas
após seu término, enquanto que as tardias são aquelas que ocorrem vinte quatro
horas após a realização da transfusão e pode delongar dias e até meses para se
manifestar. As reações transfusionais imunológicas são aquelas mediada pelo
sistema imunológico, já as RT não-imunológicas não têm associação com causas
imunológicas.
No quadro abaixo, estão elencadas as reações transfusionais de acordo
como cada uma se apresenta.
Reações Transfusionais Imediatas Tardias
Imunológicas
Febril não-hemolítica Hemolítica Alérgica TRALI
Aloimune Hemolítica Refratariedade a CP DEVH (GVHD) Imunomodulação Púrpura pós-transfusão
Não-Imunológica
Hemolítica Séptica Circulatória Metabólica Embólica Hipotérmica
Infecciosa Bacteriana Viral Parasitológica Sobrecarga de ferro
Quadro - 1. Classificação das reações transfusionais. Fonte: (FIDLARCZYK; FERREIRA, 2008).
29
Algumas das RT não podem ser evitadas, porém os benefícios deste
procedimento devem superar os riscos. As RT dependem também do tipo do
hemocomponente utilizado. Existem sinais e sintomas inespecíficos para cada tipo
de RT e que pode determiná-las, mas é necessária a investigação laboratorial e o
seguimento clínico do usuário.
Entre os sinais e sintomas mais frequentes na RT estão o mal-estar,
tremores, calafrios com ou sem febre, febre com elevação de 1ºC na temperatura
corporal, dor no local da infusão, no tórax, no abdômen ou nos flancos; alterações
agudas da pressão arterial, podendo apresentar hipertensão como hipotensão,
sudorese, palidez cutânea, mialgia, taquicardia, taquipnéia, cianose, náuseas,
vômitos, entre outros sintomas. (BRASIL, 2008; GUIA... 2010).
Quando na presença dos sinais e sintomas das RT, o enfermeiro deverá
intervir o quanto antes, estabelecendo prioridades nas providências como meio e
forma de minimizar os danos e desconfortos propiciados pela reação. As ações
terapêuticas devem ser adotadas especificadamente para cada reação e sua
sintomatologia, objetivando a melhora do quadro clínico da intercorrência,
minimizando os riscos e proporcionando conforto físico e emocional.
A atuação da enfermagem diante de uma reação transfusional, segundo
Fidlarczyk e Ferreira (2008), é suspender a transfusão, manter o acesso venoso, e
concomitantemente, solicitar avaliação médica, enquanto adota as seguintes
medidas: manter o usuário confortável e aquecê-lo; checar as identificações com
finalidade de detectar possíveis não-conformidades; verificar e comparar os sinais
vitais com os verificados anteriores à transfusão; administrar medicamentos
prescritos; preencher ficha de notificação de reação transfusional; comunicar ao
serviço de hemoterapia; e fazer o registro no relatório de enfermagem.
Usuários de saúde oncológicos, principalmente em tratamento
quimioterápicos, utilizam muito as transfusões sanguíneas durante este tratamento,
sendo comum, neste período, a baixa dos níveis de hemácias e plaquetas, fazendo
com que utilizem os hemocomponentes por várias vezes. O uso constante destes
componentes aumenta a probabilidade das possíveis efeitos indesejados, como as
reações transfusionais. Por conseguinte passaremos a uma abordagem mais
detalhada acerca do tema.
30
2.3 Aspectos históricos e estimativas das doenças oncológicas
A palavra grega Karkinos, que significa caranguejo, apareceu pela
primeira vez na literatura médica por volta de 400 A.C., para designar o câncer. Os
vasos sanguíneos do tumor, inchados à sua volta, fez Hipócrates pensar num
caranguejo enterrado na areia com as patas abertas em círculo. Outra palavra grega
está também ligada ao câncer, onkos, palavra da qual oncologia originou seu nome.
Este termo era utilizado para denominar tumores e massas espalhadas pelo corpo
(MUKHERJEE, 2012).
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2011), câncer é o nome
dado a um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento
desordenado (maligno) de células. O que determina a formação de tumores é a
divisão rápida e muito agressiva e incontrolável dessas células, podendo se espalhar
por todo o corpo (metástase – metástasis, palavra grega significando
“deslocamento”, “mudança de lugar”), formando tumores em outros locais. As
causas do câncer são variadas, podendo ser externas e internas ao organismo. As
causas externas referem-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes, enquanto
que as causas internas são, na maior parte, geneticamente pré-determinadas, e
estão vinculadas à capacidade do organismo de se defender dessas agressões
(SMELTZER; BARE, 2006).
Seguindo tendência mundial, houve mudanças no perfil epidemiológico
das enfermidades que acometem a população brasileira, a partir dos anos 1960, as
doenças infecciosas e parasitárias deixaram de ser a principal causa de morte,
sendo substituídas pelas doenças do aparelho circulatório e pelas neoplasias. Isto
se dá pela progressiva ascensão da incidência e da mortalidade por doenças
crônico-degenerativas, conhecida como transição epidemiológica. O câncer é uma
doença de genes vulneráveis à mutação, especialmente durante o longo período da
vida humana. Fatores como envelhecimento da população, o intenso processo de
urbanização e das ações de promoção e recuperação da saúde, e uma exposição
maior dos indivíduos a fatores de risco cancerígenos contribuíram para este
crescimento (INCA, 2011).
31
O câncer tornou-se, nos dias atuais, um problema grave e de saúde
pública para o mundo desenvolvido e também para nações em desenvolvimento.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 10 milhões de novos casos de câncer
são diagnosticados a cada ano. Previsões apontam que se a tendência de aumento
for mantida, em 2020 serão 15 milhões de novos casos anuais. Uma vez que tem
aumentado sua prevalência dentro das doenças crônicas não transmissíveis,
necessitando de grandes investimentos e ônus para os países (SAWADA, 2009;
INCA, 2011).
O problema do câncer no Brasil ganha relevância pelo perfil
epidemiológico que essa doença vem apresentando. As estimativas apontam que,
para o ano de 2011, haverá ocorrências de 489.270 casos novos de câncer, e as
estimativas para o ano de 2012 serão válidas também para o ano de 2013 com a
ocorrência de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer. Os tipos mais
incidentes serão os cânceres de pele não melanoma, de próstata, pulmão, cólon,
reto e estômago para o sexo masculino e os cânceres de pele não melanoma,
mama, colo do útero, cólon e reto e glândula tireoide para o sexo feminino. Estas
informações são geradas a partir dos Registros de Câncer de Base Populacional –
RCBP (INCA 2011).
O câncer é a terceira causa de morte na população brasileira, após as
doenças cardiovasculares e causas externas. Há uma marcante heterogeneidade na
mortalidade, por câncer, entre as regiões geográficas brasileiras. Essas diferenças
estão relacionadas, principalmente, ao desenvolvimento econômico, a dieta, ao
tabagismo, as exposições ambientais e ocupacionais que, de alguma forma, estão
correlacionadas também às desigualdades sociais. As consequências poderão ser
devastadoras nos aspectos social e econômico. O câncer pode se tornar uma
grande barreira para o desenvolvimento socioeconômico de países em
desenvolvimento como o Brasil. (FELIX, 2011; INCA 2011).
Alguns tipos de cânceres estão relacionados ao nível econômico do
indivíduo. Existem taxas de incidência elevadas de tumores geralmente associados
à pobreza como o câncer do colo do útero, pênis, estômago e o da cavidade oral.
Esta distribuição certamente resulta de exposição distinta a fatores ambientais
relacionados ao processo de industrialização, como agentes químicos, físicos e
32
biológicos, e das condições de vida, que variam de intensidade em função das
desigualdades sociais (BRASIL, 2006).
O quadro abaixo dispõe da distribuição proporcional dos dez tipos de
câncer mais incidentes estimados para 2012, no Brasil, por sexo, exceto pele não
melanoma. Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10:
Quadro – 2. Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes no Brasil. Fonte: INCA, 2011.
Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes
estimados para 2012, na Região Nordeste, por sexo, exceto pele não melanoma.
Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10:
Quadro - 3. Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2012,
na Região Nordeste. Fonte: INCA, 2011.
33
Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidência por 100 mil
habitantes no Rio grande do Norte e Natal, e de número de casos novos de câncer,
segundo sexo e localização primária. Números arredondados para 10 ou múltiplos
de 10. Estão descritas no quadro abaixo:
Quadro - 4. Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidência por 100 mil habitantes no Rio grande do Norte e Natal. Fonte: INCA, 2011.
34
O INCA é o órgão auxiliar do Ministério da Saúde, vinculado à Secretaria
de Atenção à Saúde, que auxilia no desenvolvimento e coordenação das ações
integradas para a prevenção e o controle do câncer no Brasil. Este órgão presta
assistência direta e gratuita aos usuários de saúde com câncer como parte dos
serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde. É atualmente a instituição de
referência em oncologia no Brasil e desenvolve ações, campanhas e programas em
âmbito nacional em atendimento à Política Nacional de Atenção Oncológica do
Ministério da Saúde. Dentre as atividades desenvolvidas estão a prevenção e o
diagnóstico precoce do câncer, formação de profissionais
especializados, desenvolvimento de pesquisa e informação epidemiológica. Todas
estas atividades têm como objetivo reduzir a incidência e a mortalidade por câncer
no Brasil (INCA, 2011).
Smeltzer e Bare (2006) afirmam que o câncer pode surgir em qualquer
parte do corpo, mas alguns órgãos são mais afetados do que outros. Entre os mais
afetados estão pulmão, mama, colo do útero, próstata, cólon e reto (intestino
grosso), pele, estômago, esôfago, medula óssea (leucemias) e cavidade oral (boca).
Cada órgão, por sua vez, pode ser afetado por tipos diferenciados de tumor, menos
ou mais agressivos.
Com o avanço da medicina e com o aparato tecnológico, ficou mais
rápido e fácil diagnosticar o câncer, podendo-se iniciar o quanto antes o tratamento.
Diversas terapias no tratamento dessa doença podem ser utilizadas e que a equipe
de saúde, o usuário e sua família devem ter uma compreensão clara das opções e
metas do tratamento (SMELTZER; BARE, 2006).
Kaliks, holtz e Giglio (2012) afirmam que quem determina a escolha do
tratamento são as características do tumor, sua extensão (estadiamento), as
condições físicas do usuário, como também as condições social, psicológica e
geográfica. O médico avalia tais condições e escolhe o melhor tratamento para cada
pessoa, como também a modalidade terapêutica.
Existem atualmente vários métodos terapêuticos para o tratamento do
câncer como as ressecções cirúrgicas, radioterapia, quimioterapia, bioterapia e a
hormonoterapia, sendo a cirurgia, na maioria dos casos, o tratamento inicial e de
escolha para vários tipos de cânceres. Embora muitos desses tratamentos sejam
35
efetivos na remoção e no ataque as células malignas, sabe-se que algumas dessas
intervenções também afetam células de tecidos saudáveis, desencadeando uma
serie de efeitos deletérios que podem levar a debilitações agudas e crônicas em
função da citotoxicidade (SAWADA, 2009; SEIXAS, 2010).
Segundo Silva (2010), o câncer ainda é uma doença repleta de estigmas
com alterações da percepção do doente sobre si mesmo. As reações dos usuários
frente à doença, ao tratamento e à reabilitação dependem de características
individuais, tais como: história de vida, contexto social e cultural, espiritualidade e
opção sexual. Esta doença ainda é percebida como incurável, perigosa e horrível,
por provocar a morte após longo sofrimento, tanto nos doentes como para os seus
familiares. O profissional enfermeiro, responsável pelos cuidados ao doente, deve
buscar um equilíbrio aceitável entre as vantagens e desvantagens do tratamento.
Tão importante quanto o tratamento é atentar para os efeitos indesejados causados
aos usuários, para tentar minimizá-lo.
O tratamento quimioterápico é uma das modalidades de maior escolha
para produzir a cura, controle e paliação. Neste tratamento, são usadas substâncias
citotóxicas administradas principalmente por via sistêmica (endovenosa), podendo
ser classificadas de acordo com sua finalidade como: quimioterapia adjuvante,
quimioterapia neoadjuvante, quimioterapia primária, quimioterapia paliativa,
monoquimioterapia e poliquimioterapia. O tratamento quimioterápico é bem tolerado
pelos usuários e os efeitos colaterais moderados quando são bem controlados com
dosagens controladas e apropriadas dos fármacos (SAWADA, 2009).
Os quimioterápicos, contudo, não atuam exclusivamente sobre as células
tumorais. As estruturas normais que se renovam constantemente, como a medula
óssea, os pelos e a mucosa do tubo digestório são também atingidas pela ação
destes medicamentos. Os efeitos terapêuticos e tóxicos dos quimioterápicos
dependem do tempo de exposição destes na concentração plasmática. A toxicidade
é variável para os diversos tecidos e depende do tipo do medicamento utilizado.
Para um entendimento melhor dos efeitos da quimioterapia, vejamos a
metáfora usada por Sontag (2007, p. 82) quando fala deste tratamento:
36
O conhecimento do câncer apoia noções de tratamento muito
diferentes e confessadamente brutais. (Eis uma expressão chistosa
bem comum em hospitais de câncer, ouvida tanto dos médicos como
dos pacientes: ‘O tratamento é pior do que a doença.’) Está fora de
questão mimar o paciente. Como se considera que o corpo do
paciente está sob ataque (‘invasão’), o único tratamento é o contra-
ataque.
É válido ressaltar que nem todos os quimioterápicos ocasionam efeitos
indesejáveis, tais como supressão da medula óssea, imunossupressão, alopécia,
toxicidade renal, cardiotixicidade, toxicidade pulmonar, neurotoxicidade, lesão
gonadal, esterilidade e alterações gastrintestinais como náuseas, vômitos e diarréia.
A mielossupressão com granulocitopenia, plaquetopenia e anemia são efeitos
tóxicos e imediatos dos quimioterápicos, podendo ocorrer de 7 a 21 dias após a
aplicação deste tipo de medicamento, muitas vezes, vindo a ser necessária a
transfusão sanguínea (SAWADA, 2009; INCA, 2011).
O Ministério da Saúde, considerando a importância epidemiológica do
câncer no Brasil e sua magnitude social, os riscos, a diversidade, os custos, as
condições de acesso da população brasileira aos serviços de saúde e a necessidade
de implementar o processo de regulação, avaliação e controle da atenção
oncológica, com vistas a qualificar a gestão pública, resolve instituir a portaria de
número 2.439/GM, em 08 de Dezembro de 2005. Esta portaria estabelece a política
nacional de atenção oncológica pautada na promoção, prevenção, diagnóstico,
tratamento, reabilitação e cuidados paliativos, a serem implantadas em todas as
unidades federativas, respeitadas as competências das três esferas de gestão
(Brasil, 2005).
No Rio Grande do Norte, dispõe-se de um centro de referência, a Liga
Norte Riograndense Contra o Câncer (LNRCC), um centro de alta complexidade em
oncologia, que dispõe de todas as especialidades médicas e multidisciplinares e de
tratamentos e equipamentos necessários à atenção oncológica.
37
2.4 Transfusões sanguíneas em oncologia e a assistência de enfermagem
O tratamento quimioterápico apresenta alterações também nas células
normais do indivíduo com câncer, podendo causar, na maioria das vezes, alopécia,
erosões no trato gastrointestinal como mucosite e aftas, e também diminuição das
células do sangue. A toxicidade da quimioterapia tem função de atingir as células
tumorais, mas atingem também outras células, isto ocorre porque estas células
apresentam, como as células tumorais, divisões rápidas, causando prejuízos aos
indivíduos.
No caso de afetar a produção das células sanguínea, quando da
diminuição da produção de leucócitos (leucopenia), de plaquetas (plaquetopenia) e
de eritrócitos (anemia), acrescem os riscos das infecções e de sangramentos,
aumentando ainda mais a anemia. Este processo além de afetar a qualidade de
vida, provoca a diminuição da disposição de realização das atividades diárias, e
pode causar cefaléia, desânimo, dispnéia, perda da libido e fadiga, sendo necessária
a reposição dos componentes sanguíneos através da transfusão (Fidlarczyk, 2008;
COVAS, 2009).
Diante disso, Covas (2009) recomenda que na decisão terapêutica se
deva considerar o tipo de anemia, se crônica ou aguda, sua intensidade, o quadro
clínico do usuário e suas comorbidades. Pode-se com isso optar ou não pela
transfusão sanguínea. No caso da plaquetopenia, recomenda-se transfusão
profilática, o que pode diminuir hemorragias e evitar outras complicações.
Para Fidlarczyk e Ferreira (2008), a transfusão consiste na infusão de
sangue total ou de um hemocomponente de um doador a um receptor, tendo como
finalidade suprir as necessidades orgânicas de transporte de oxigênio ou ainda para
os distúrbios de coagulação. Compactuando dessa ideia, Harmening (2006) diz que
cada usuário deve ter seu próprio plano individualizado, avaliando seu estado clínico
e a necessidade ou não do uso do componente. A transfusão adquire função vital,
uma vez que em portadores de câncer nos quais são muito comuns perdas
sanguíneas há um aumento da destruição dos glóbulos vermelhos e na diminuição
de sua produção.
38
Para Covas (2009), a anemia é uma ocorrência comum em usuários com
câncer e contribui para o aumento da sintomatologia e a piora da qualidade de vida,
necessitando geralmente de transfusões sanguíneas. Há também o risco de
sangramento nestes usuários de saúde durante o tratamento quimioterápico, pois o
sangramento está relacionado com a gravidade da plaquetopenia, necessitando
constantemente de transfusão de plaquetas.
O enfermeiro que participa desta terapêutica tem que entender do
processo de cuidar destes usuários. Para Mohallem e Rodrigues (2007, p.188), o
processo de cuidar é a forma como se dá o cuidado:
É uma interação entre aquele que cuida e aquele que é cuidado, em
que o primeiro tem papel ativo, pois desenvolve ações e
comportamentos de cuidar, e o segundo atua passivamente – e, por
sua situação, pode contribuir no cuidado se desempenhar papel
menos passivo.
Estes mesmos autores (2007) afirmam que um dos maiores desafios dos
profissionais de saúde é o cuidar do ser humano na sua totalidade, cabendo-lhes
cumprir ações preferenciais em relação a sua dor a ao seu sofrimento, em todas as
dimensões física, psíquica, social e espiritual.
Usuários de saúde oncológicos exigem uma assistência de enfermagem
diferenciada, pois além do câncer, carregam o estigma desta doença, como também
a incerteza do prognóstico, perturbações psicológicas como dúvidas e incertezas e,
atrelado a tudo isso o medo da morte. Mas também carregam consigo a vontade de
viver.
Esta assistência se refere às ações que o profissional dispensa aos
usuários. Essas ações englobam os cuidados físicos e terapêuticos, correspondendo
às atividades técnicas da assistência de enfermagem, como higiene, conforto,
administração de medicamentos, entre vários outras atividades. Mas também
executam ações de área bastante significativa como manutenção do equilíbrio
emocional destes usuários, fazendo parte de ações de aspecto humano e de relação
entre o enfermeiro e o usuário de saúde, pois a enfermagem é a profissão que
participa junto com o doente desde o diagnóstico, perpassando por todas as fases
39
do tratamento até, muitas vezes, pela sua finitude (MOHALLEM; RODRIGUES,
2007).
Sendo assim, a enfermagem deve envolver a assistência ao doente, a
sua família ou aqueles que dão o apoio emocional, afetivo, econômico e social. Os
profissionais devem incentivar a participação destes no tratamento, orientando-os
quando da necessidade da harmonia e tranquilidade do ambiente, seja ele hospitalar
ou residencial (MOHALLEM, RODRIGUES, 2007).
40
PERCURSO METODOLÓGICO...
41
3 ORIENTAÇÕES DO PERCURSO: OS FIOS E REDES DO MÉTODO
No passado, toda história se transmitia de uma geração para outra
principalmente pela tradição oral, como na narrativa de Teseu. A dinâmica dos mitos
e os causos cotidianos ganhavam forma e voz nas performances de contadores de
histórias que teimavam em preservar a memória e a integridade de uma vida
construída. Com os avanços industriais e tecnológicos, na contemporaneidade,
utilizamos os mais variados aparelhos e ferramentas como recursos para o registro
das experiências vividas nas narrativas. Estes aparatos tecnológicos contribuíram
para melhoria das pesquisas que visam fazer o registro dessas experiências, a
história oral de vida. Refletindo acerca da memória, Thompson (2002, p. 45)
constata que:
O uso difundido da expressão “história oral” é novo, tanto quanto o
gravador; e tem implicações radicais para o futuro. Isto não significa
que ela não tenha um passado. Na verdade, a história oral é tão
antiga quanto a própria história. Ela foi a primeira espécie de história.
Meihy (2011, p. 92), por sua vez, discute a respeito da história oral:
É afirmação corrente que a história oral é tão antiga como a própria
História, mas isso é vago. Fala-se mesmo que toda História antes de
ser escrita passou por etapas narrativas ou outras manifestações da
oralidade aferida há século. O pilar dessa afirmação é a certeza de
que tanto a Bíblia como outros livros sagrados, bem como as
mitologias fundamentais da cultura ocidental e mesmo os poemas
seminais da aventura humana – como a Ilíada e Odisseia – têm
origem na oralidade. A lenta metamorfose da História não nega os
registros de tradições narrativas que precede a escrita e a
sistematização de seu código como solução hegemônica.
42
3.1 A pesquisa e suas direções conceituais
Diante destas afirmações, procurou-se pensar na pesquisa em
conformidade com seus conceitos epistemológicos. Recorrendo a Polit (2004), viu-
se que essa estudiosa a define como “a investigação sistemática que usa métodos
para responder às questões ou resolver problemas”. Esta mesma autora afirma que
a pesquisa também tem como meta final o desenvolvimento, com intuito de redefinir
e expandir um corpo de conhecimento.
No caso da pesquisa em enfermagem, observou-se que, historicamente,
tem contribuído e procurado conhecimentos com descobertas para ajudar na vida
cotidiana dos indivíduos. A enfermagem tem crescido de modo empenhado em
pesquisas que beneficiam a profissão, e que venham a contribuir para sua melhoria
na prática da assistência prestada aos usuários de saúde. McEwen (2009) assinala
que, até pouco tempo, a enfermagem tinha dificuldades em ser reconhecida como
profissão, era vista só como ocupação, pois as atividades desenvolvidas pelos
enfermeiros têm semelhanças com as realizadas pelas esposas e mães nos
ambientes domésticos. Por “demorarem” a identificar e organizar o conhecimento
profissional, muitas vezes os profissionais da enfermagem têm sido vistos como
subservientes à medicina. O que não desmerece a atenção histórica e o saldo com
que a enfermagem tem dado sua contribuição à história das ciências da saúde.
A autora afirma ainda que a enfermagem tem bastantes das
características de uma profissão:
A enfermagem tem um compromisso social de prestar atendimento
de saúde aos pacientes nas diferentes etapas do continuum saúde-
doença. Existe uma base de conhecimento em crescimento, a
autoridade sobre o ensino, o serviço altruísta, um código de ética e
as exigências de registro para a prática (MCEWEN, 2009, p. 28).
Diante de resultados positivos de trabalhos de enfermagem realizados por
cientistas, teóricos e estudiosos da área, a enfermagem foi reconhecida como uma
profissão emergente e como disciplina acadêmica. O aumento do conhecimento na
enfermagem reflete a interface entre a ciência e pesquisa, ligados na epistemiologia,
43
ontologia, e metodologia, com o grande objetivo de melhorar a práticas dos
profissionais enfermeiros (McEwen, 2009).
Tendo como meta primordial o cuidar do outro, a enfermagem segue sua
trilha, o que se pode observar com as constantes mudanças nos rumos do processo
que essa área tem tomado em vários campos do saber. O cuidar passa a ser
constituído através dos saberes científicos e convencionais que,
epistemologicamente, estão enraizados nas múltiplas formas de conhecimento e
apresentam características das diversas ciências, como as biológicas, sociais e
comportamentais (MCEWEN, 2009).
Portanto, com intuito de adquirir conhecimentos que venham
fundamentar e orientar na práxis da enfermagem, a presente pesquisa traz para
discussão a atuação do enfermeiro em situações pouco usuais, como o
desempenho do profissional nos cuidados de portadores de doenças oncológicas
em uso de transfusões sanguíneas.
Para o alcance do objetivo do estudo, fizemos uso da pesquisa
exploratória e descritiva, com uma abordagem qualitativa atrelada a um enfoque da
história oral de vida.
Para Gil (2009), a pesquisa exploratória oferece uma maior familiaridade
com o problema, levantando informações acerca de um determinado objeto com
finalidade de torná-lo mais explícito, objetivando o aprimoramento de ideias ou
descobrir intuições. Leite (2012, p. 54) complementa dizendo que “a pesquisa
exploratória é a que explora algo novo, que frequentemente não é considerada ainda
ciência, mas que serve de base à ciência”.
A pesquisa descritiva para Gil (2009) e Leite (2012) tem como objetivo
descrever e explicar as características de determinada população ou fenômeno,
podendo também estabelecer relações entre variáveis.
Polit (2004) descreve que a pesquisa com abordagem qualitativa lida com
aspectos da complexidade humana explorando-a diretamente, enfatizando a
compreensão da experiência humana como é vivida, analisando materiais narrativos
e subjetivos.
A história oral foi utilizada como referencial metodológico por ser um
recurso necessário à condição do problema levantado pela pesquisa; também, por
44
ser ferramenta e ponto de discussão atual, destinado a colher testemunhos e
experiências para elaboração de documentos, sendo capaz de demonstrar visões de
mundo das pessoas e dos grupos envolvidos (MEIHY, 2011).
3.2 A História Oral
A história oral é um recurso moderno, usado para elaboração de registro
de apreensão dos princípios da subjetividade, deixando-se entrever um sentido
maior do coletivo. Representa um processo sistematizado e planejado
antecipadamente por um projeto, possibilitando realizar análises dos contextos
social e individual, que deverão ser integrados e ao mesmo tempo interdependentes.
Deste modo torna-se uma forma alternativa para estudar a sociedade através de
uma documentação feita com uso de entrevistas gravadas eletronicamente, e a
posteriori, fazendo a transposição do oral para o escrito (MEIHY, 2011).
Para Thompson (2002, p.44), “A história oral é um história construída em
torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu
campo de ação”. Corroborando com Thompson (2002), Meihy (2011) descreve a
história oral como uma história viva no tempo presente, mas radicadas do passado,
em que seu valor social, individual, cultural e de memória estão inacabados, ou em
construção. A história oral não é apenas um ato ou procedimento isolado, mas a
soma articulada, planejada, de alguns modos pensados como um conjunto.
No Brasil, como em outras partes do mundo, a história oral teve um
avanço significativo em todos os níveis. Ela apresenta-se como solução coeva,
crescente e preparada para influenciar no comportamento cultural e no
entendimento dos comportamentos e sensibilidade humana. Sua utilidade está na
apreensão, no registro e em trabalho analítico sobre experiências de indivíduos e
grupos que se dispõem ou são convidados a deixar registradas suas experiências de
vidas em documentos escritos (MEIHY, 2011).
Para esta pesquisa, os indivíduos selecionados foram definidos como
colaboradores, sendo suas participações espontâneas, pois, responderam através
de um roteiro de pesquisa às questões norteadoras do trabalho. Nos estudos de
história oral, destaca-se o compromisso do pesquisador que elabora e executa o
45
projeto com os entrevistados, não se caracterizando uma relação simplesmente de
cumplicidade e ou afinidade irrestrita, mas principalmente na construção de uma
relação em que o entrevistador contempla as visões de mundo dos entrevistados,
defendendo suas ideologias opostas e contrastantes, o que tende a ser muito
enriquecedor para a pesquisa (MEIHY, 2011).
3.2.1 História Oral de Vida
Dentre os gêneros narrativos da história oral, escolhemos para este
trabalho a história oral de vida. Trata-se de narrativa com aspiração de alongado
curso, daí o nome “vida”, que aborda sobre aspectos seguidos das experiências de
pessoas. Neste gênero, as narrativas são decorrentes da memória, dos ajustes,
contornos, derivações, impressões e até mesmo das contradições naturais das falas.
Isso abre para a essência subjetiva deste gênero (MEIHY, 2011).
Ainda para Meihy (2011), a história oral de vida tem o intuito de valorizar a
memória dos indivíduos, por meio da liberdade, requerida em lembrar e narrar os
relatos de suas experiências. Em história oral não se procura a verdade, mas a
versão sobre a moral existencial, não interessando a ordem cronológica dos fatos,
mas a valorização da subjetividade dos detalhes.
Para Alberti (2007), uma das principais vantagens da história oral resulta
justamente do fascínio do que foi vivido. A experiência histórica narrada deixa o
passado mais concreto, tornando sedutora sua divulgação para conhecimento. A
história oral, quando bem aproveitada, tem um elevado potencial de ensinamento do
passado, através da experiência do outro.
3.3 Direcionamentos metodológicos
Meihy (2011) enfatiza que o tema em história oral deve sintetizar o
significado da pesquisa, tem que ter uma relevância social, mas também deve
assinalar para a possibilidade de políticas públicas. O tema que nos instigou para
esta pesquisa contribuiu para o alcance dos objetivos propostos, pois evidencia a
46
comunidade de destino, a colônia a ser estudada e o gênero da história oral
escolhido.
Comunidade de destino pode ser definida como grupos de pessoas que
têm traços comuns, marcantes de um comportamento amplo que os caracteriza.
Estas pessoas passam a ter afinidades, por ter destinos comuns, distinguidas pela
repercussão dos fatos na vida comunitária (MEIHY, 2011).
A colônia é uma parte da primeira divisão da comunidade de destino,
ainda que em blocos extensos. Esse bloco tem que guardar as características
peculiares que justifiquem a fração menor e que mantenha uma forte ligação com o
grande grupo. O conceito de colônia se liga unicamente ao fundamento da
identidade cultural do grupo, formado pelos elementos vastos que marcam a
identidade geral dos segmentos dispostos à análise. Essas divisões têm como
objetivo a organização e condução do processo, tornando-o viável (MEIHY, 2011).
Para esse estudo, a colônia foi formada por usuários de saúde com
diagnóstico de câncer e em uso de transfusão sanguínea, realizada no ambulatório
do Núcleo de Hematologia e Hemoterapia (NHH), localizado na cidade do Natal/RN.
Dentro da colônia é possível identificar uma unidade ainda menor que
possui feições singulares, a rede. Entendendo que tais conceitos obedecem a uma
hierarquia, logo a rede pode ser caracterizada como a parcela menor da
comunidade de destino. A rede funciona como uma subdivisão da colônia que indica
como as entrevistas devem se articular. Precisa-se ter uma atenção especial na
escolha da rede, pois é neste momento que se inicia o trabalho prático.
A rede tem origem sempre no ponto zero. Meihy (2002) sugere que se
defina uma entrevista que deve ser conhecida como ponto zero, e daí retirar as
perguntas específicas que favorecem a continuidade das demais. A cada entrevista
o colaborador deve indicar alguém para compor a rede. A vantagem dessa tática é
que por ela se monta a rede de acordo com o argumento dos entrevistados,
fortalecendo a razão do grupo. Sendo assim, o ponto zero de nosso estudo foi o
primeiro colaborador a ser entrevistado e que aceitou participar, voluntariamente,
desta pesquisa.
Na gênese deste trabalho, o interesse estava em formar a rede com doze
indivíduos portadores de doenças oncológicas, submetidos, ao menos, a três
47
transfusões sanguíneas. A definição desse número de participantes levava à
condição de se estar trabalhando com um quantitativo significativo para representar
as narrativas das histórias de vida dos participantes.
A coleta dos dados dos colaboradores foi realizada através de
informações contidas na ficha de atendimento ambulatorial no NHH. Para facilitar a
seleção, fez-se uma planilha no Microsoft Word com todos os prováveis
colaboradores e seus respectivos dados para manter contato posterior. A ficha era
composta por informações como nome, endereço, diagnóstico, telefone e conduta
(prescrição médica). No entanto, muitas delas não estavam preenchidas
integralmente, o que dificultou, em alguns casos, o trabalho de seleção daqueles
que fariam parte efetivamente do corpus da pesquisa.
Após o preenchimento da planilha, com os dados dos prováveis
colaboradores, foram escolhidas cores para identificar cada um deles, facilitando o
trabalho de seleção. Houve limitações relacionadas a ausência de informações,
como a falta de um número de telefone para contato, imprecisões no endereço e,
principalmente, ausência de um diagnóstico ou, pelo menos, uma hipótese
diagnóstica da doença. Essas informações, principalmente em relação ao
diagnóstico, eram de suma importância ao andamento do trabalho, pois só
participariam da pesquisa usuários de saúde oncológicos.
Durante a definição dos participantes da pesquisa, ao entrar em contato
com eles e, mesmo antes de explicar o objetivo do contato ou da entrevista,
recebíamos a notícia de que alguns tinham ido a óbito. Consequentemente,
chegamos ao término do tempo previsto no cronograma de pesquisa com cinco
colaboradores, sendo esse o número com que constituímos a rede. Os
colaboradores incluídos sentiram-se livres para aceitar o convite e, com disposição e
voluntarismo, resolveram participar da pesquisa. Tal informação é relevante, uma
vez saber-se que a participação nesse tipo de estudo deve ser feita sob uma
condição ética e metodológica a qual os colaboradores estejam com as faculdades
mentais resguardadas e preservadas, para que não ocorram distorções que
prejudiquem a integridade de suas recordações. Portanto, daqueles doze
colaboradores da amostra intencional inicial, o estudo foi realizado com cinco deles,
uma vez que a definição dos sujeitos que vivenciavam o diagnóstico do câncer em
48
uso de transfusão sanguínea foi realizada durante o processo de busca do objeto de
estudo no campo de pesquisa. E, por último, completadas as articulações das cinco
narrativas, o passo seguinte se deu com a análise e interpretação dos dados, em
função dos objetivos elencados.
3.4 Fundamentos operacionais
3.4.1 Coleta dos dados – a Entrevista
A entrevista é uma conversação realizada face a face entre duas
pessoas, de forma metódica, que vem proporcionar ao entrevistador as informações
necessárias de maneira verbal. Na entrevista, cria-se uma relação de interação entre
o pesquisador e o pesquisado e, quando há um clima de estímulo e de aceitação
recíproca, as informações tendem a fluir de forma notável e autêntica. Esta prática é
a ação que fundamenta a história oral. Os resultados obtidos das entrevistas devem
ser produzidos com morosidade e com exagerada atenção, não sendo possível, sem
isso, a realização da cooperação, uma vez que não se aplica a medição (LAKATOS,
MARCONI, 2010; MEIHY, 2011; LEITE, 2012).
Para Thompson (2002), um bom entrevistador necessita de habilidades,
tendendo a cada um desenvolver seu próprio método que lhe dê bons resultados.
Um bom entrevistador tem que ter interesse e respeito pelos outros, ser flexivo nas
relações, demonstrar compreensão e simpatia nas opiniões dos entrevistados, e, o
mais importante, ter a disposição para falar pouco e escutar mais. Concordando
ainda com Thompson, é possível que a maioria das pessoas aprende a fazer uma
boa entrevista tomando tais princípios como meta.
Para Polit (2004) e Leite (2012), o método de coleta de dados através da
entrevista é muito utilizado em todas as tradições de pesquisas qualitativas, devido à
capacidade dos seres humanos em se comunicar verbalmente. Esta técnica
possibilita que o entrevistado/colaborador expresse suas experiências de vida à
vontade, exteriorizando sentimentos que outras maneiras não permitem expressar,
dando oportunidades únicas de registrar ações e gestos, entre outras expressões
não verbais, dos entrevistados. Para Meihy (2011), estas expressões são
49
conhecidas como performances, contribuindo para que a entrevista não seja tão
somente considerada no que foi gravado em palavras.
Neste estudo, foi utilizada a entrevista não-estruturada por considerar que
esta técnica possibilita ao entrevistador uma maior flexibilidade e liberdade de
desenvolver situações em qualquer direção que considere mais adequado;
possibilita ainda iniciar a entrevista com alguma questão geral, permitindo, que o
colaborador narre sua história de forma natural, tendendo que a entrevista se
apresente em forma de conversação (POLIT, 2004; LEITE, 2012). A seguir,
delinearemos as etapas e as prerrogativas metodológicas das entrevistas realizadas.
3.4.2 Etapas da Entrevista
A entrevista, em história oral, possui três etapas: a pré-entrevista, a
entrevista e a pós-entrevista.
Quadro – 5. Etapas da entrevista – Esquema elaborado pelo pesquisador.
Etapa para preparação da entrevista
Orientações e informações
Tom vital
Transcrição
Transcriação
Conferência
50
A pré-entrevista consiste na etapa de preparação para o encontro em que
se realizou a gravação. Neste momento, foram preparados os colaboradores para
serem entrevistados. Neste encontro inicial, os colaboradores conheceram os
objetivos do projeto e o grande valor de sua participação para a concretização do
estudo; foram informados de como se deu a escolha do seu nome; explicamos ainda
sobre a gravação das suas falas e da não utilização sem seu prévio consentimento,
ressaltamos do que compõe a entrevista, e de acordo com a disponibilidade e
preferência dos mesmos, foram agendados a data, o horário e o local das
entrevistas (MEIHY, 2011).
A etapa seguinte, denominada entrevista propriamente dita, ocorreu no
local escolhido pelos colaboradores, suas residências, uma vez que se sentiram
mais à vontade. Assim, suas memórias fluíram naturalmente, embora fossem
observados e registrados os ruídos externos. Um dos critérios básicos foi o cuidado
em manter um equilíbrio regular de tempo para as entrevistas. Antes do início de
cada entrevista, era lido novamente, para cada um dos colaboradores, o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme apêndice A, que os mesmos, e
de acordo, autorizaram sua participação na pesquisa. Uma cópia do referido termo
fora disponibilizada para cada colaborador (MEIHY, 2011).
Antes das entrevistas, os colaboradores foram orientados quanto ao
princípio da eticidade e da legalidade que envolvia aquele trabalho, sendo
informados que a pesquisa poderia oferecer riscos mínimos ou certos desconfortos,
não envolvendo experimentos de qualquer natureza. Foram esclarecidos de que,
devidamente comprovados danos resultantes da pesquisa, o colaborador seria
indenizado pelos pesquisadores. Finalmente, foi dito ainda que, a qualquer
momento, poderiam desistir da pesquisa sem quaisquer prejuízos ou penalidades,
aproveitando para enfatizar a respeito da garantia de confidencialidade e privacidade
das informações e imagens, e que o material produzido seria guardado em
segurança.
A entrevista, enquanto gênero que privilegia a oralidade, deverá ter seu
registro feito, de acordo com Meihy (2011) e Thompson (2002), como fonte de
conhecimento, resgatando a memória individual, para melhor reflexão dos aspectos
sociais envolvidos.
51
Para iniciar as entrevistas, foram gravadas informações como o nome do
projeto, a identidade do entrevistador, a data, o local e a hora da entrevista. Em todo
processo que envolvia a organização do trabalho, procuramos criar um ambiente
favorável de respeitos, ético e profissional, como orienta Meihy (2011).
Primando pela confidencialidade e a proteção da identidade do
colaborador, e evitando sua exposição, solicitamos que cada um escolhesse um
nome fictício. Para esses nomes foram sugeridos meses do ano e cada um
apontaria o que melhor lhe representasse.
Para o direcionamento das questões norteadoras da entrevista com os
colaboradores, foram indicadas duas proposições: a primeira, pedir que falassem de
sua vida depois da doença; a segunda, que discorressem sobre as mudanças que
ocorreram na sua vida após as transfusões sanguíneas.
As questões norteadoras para entrevista, em história oral, são formuladas
em grandes blocos, porém direcionadas para que as lembranças fluam
naturalmente, levando os colaboradores aos acontecimentos que eles entendem
serem os mais relevantes para suas narrativas. Em alguns momentos, em que
ocorriam pequenos desvios das narrativas desses indivíduos, procurávamos
redirecionar, quando necessário, as falas em pauta evitando que se afastassem do
objetivo da pesquisa. Houve também breves intervenções, uma vez que alguns
colaboradores foram sucintos demais ou mesmo deixavam de narrar acontecimentos
relevantes de suas vidas (facilmente contextualizáveis como pressupostos ou
subentendidos).
Conforme previsto, o tempo para cada entrevista ocorreu com duração
em torno de uma hora, permitindo variações de poucos minutos em cada caso.
Houve uma grande preocupação para que a entrevista não se estendesse a ponto
do colaborador ficar incomodado, seja por desconforto, por alguma necessidade ou
dor, ou por qualquer outro motivo. No acompanhamento às entrevistas, foi utilizado o
caderno de campo, como orienta Meihy (2011), o qual funcionou como um diário.
Nele, foram documentados os roteiros práticos das pesquisas, dados de como esta
ocorreu, as experiências e sensações apreendidas, eventualidades ocorridas em
todo percurso do estudo.
52
As narrativas tiveram seus registros feitos por meio de equipamento
eletrônico, tipo Mp4. No início, os colaboradores demonstraram não muito à vontade
com a presença do gravador, mas pouco tempo depois do início da gravação,
sentiram-se bem com a presença do dispositivo eletrônico, não interferindo no
resultado esperado. Ao concluir as entrevistas, agradecemos a cada colaborador
pela relevante participação no estudo, pela sua doação e por compartilhar as suas
lembranças. Também agradecemos pela atenção, receptividade e contribuição
significativa para o desenvolvimento do trabalho.
Os nomes dos colaboradores foram omitidos, garantindo o anonimato.
Para isso, antes da entrevista, solicitamos que cada um escolhesse o nome de um
mês para que o representasse, conforme dito. A utilização dos meses do ano como
codinome deveu-se ao fato de, alguma forma, representar a cronologia da vida, pois
todos nós usamos como referência dias, meses, anos para relacionar os principais
eventos ocorridos na história cotidiana de cada pessoa.
A terceira etapa ou pós-entrevista, como o nome indica, aconteceu após a
realização das entrevistas. Nessa fase, como sugere Meihy (2011), mantivemos
contato com os colaboradores, agradecendo pela valiosa participação, objetivando
estabelecer a continuação do processo. Em pesquisas de história oral, tende-se a se
estabelecer uma relação de respeito entre colaborador e entrevistador, resultando
numa intensa condição de retorno aos primeiros, seja em agradecimento pela
participação, seja para discutir os resultados da pesquisa.
Em seguida às gravações, realizamos a transcrição que, segundo Meihy
(2011), é o processo de elaboração de um texto a partir das narrativas orais. Neste
momento, foram registradas as falas conforme foram gravadas, sem qualquer
modificação, com passagens completas dos diálogos, observando os sons como
captados, incluindo barulhos externos às entrevistas. Depois disso, foi feita a
textualização, fase de retirada das perguntas, dos erros gramaticais, de pronúncias e
os ruídos, para manter o texto claro e de fácil leitura, mas tendo sempre o cuidado
de manter o sentido original da narrativa.
Nesta fase, foi escolhida a frase que serviu de tema por introduzir a leitura
da entrevista, o tom vital que, conforme Meihy (2011), funciona como um norte, um
53
direcionamento auxiliando a organização e o critério de percepção dos leitores das
entrevistas, podendo também servir como guia na recepção do trabalho.
Após a escolha do tom vital, passamos para outra etapa, a transcriação.
De acordo com Meihy (2011, p. 110), transcriação “é a elaboração de um texto
recriado em sua plenitude. Com isso, afirma-se que há interferência do autor no
texto; ele é refeito várias vezes e deve obedecer a certos combinados com o
colaborador”. É nesse momento em que as anotações do caderno de campo e os
aspectos da vivência com os colaboradores são incorporados ao texto, no intuito de
recriar a atmosfera das entrevistas.
A transcriação é uma tarefa assumida pelo pesquisador, pois se trata da
transformação final do oral para o texto escrito, recriando uma performance da
entrevista, tentando trazer as sensações provocadas pelo contato com o leitor,
atentando-se para o compromisso, de que, é mais importante a ideia à palavra, pois
a ideia poderia não ser percebida, caso tivéssemos transcrito as palavras sem fazer
a sua transcriação. Por isso, é muito importante o consentimento do entrevistado à
sua narrativa, o qual deve saber qual ordem deve ser dada para ela.
O passo seguinte, como procedimento final, se deu com a conferência do
documento produzido. Meihy (2011, p. 111) diz que esse momento é “Um dos mais
complexos e importantes recursos oferecidos pela história oral. Essa é uma etapa de
finalização de todo o processo de interação com o colaborador”. É neste instante
que há a conferência do texto, verificando e corrigindo possíveis erros e enganos,
legitimando e validando o trabalho. Este processo possibilita que o documento seja
utilizado e divulgado através de produções científicas. Após a conferência dos
dados, os colaboradores assinaram a carta de cessão, conforme apêndice c,
autorizando, sem restrições, o uso do material.
As gravações e os textos provenientes das entrevistas, armazenados em
mídia digital do tipo Compact Disc (CD) e junto com o TCLE e a carta de seção,
foram identificados com os codinomes dos colaboradores e guardados na sala da
pós-graduação do Departamento de Enfermagem da UFRN, os quais ficarão
disponíveis por um período de cinco anos. O acesso a estas informações é exclusivo
dos autores do estudo.
54
3.5 Análise dos dados
Para a análise das narrativas das histórias de vidas dos colaboradores, foi
utilizada a técnica de análise de conteúdo temática. Segundo Franco (2008), esta é
uma técnica muito antiga, que teve como foco a interpretação dos textos bíblicos,
pois, tentando definir os símbolos, sinais e mensagem de Deus, este procedimento
marcou a primeira tentativa de responder a pergunta “o que essa mensagem
significa?”, possibilitando compreender e interpretar as metáforas e as parábolas da
escritura sagrada.
Para Bardin (2011), a análise de conteúdo é o conjunto de técnicas de
análise das comunicações, que utilizam procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição, identificando o conteúdo das mensagens com finalidade de inferir, ou
seja, deduzir de maneira lógica os conhecimentos relativos às condições de produzir
e receber tais mensagens. Na aplicabilidade da análise de conteúdo, deve-se ter
como ponto de partida a organização. As diferentes fases organizam-se em torno de
três polos, conforme Bardin (2011): 1. A pré-análise; 2. A exploração do material; e,
por último 3. O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.
A pré-análise é a fase de organização propriamente dita. Aí se iniciam as
buscas, tornando-as operacionais. Esse período corresponde à sistematização e
intuições das ideias. Nessa etapa foram realizadas leituras do material coletado e
preparado para análise, reconhecendo e identificando os pontos convergentes e
significativos do texto que relacionava ao tema. Para tanto, os registros das
gravações foram transcritas na íntegra e autorizadas pelos colaboradores.
Na etapa seguinte, deu-se a exploração do material, que corresponde à
transformação dos dados em conteúdos temáticos por meio da codificação dos
textos narrados, determinando as temáticas a serem discutidas. Foram realizadas as
catalogações das falas, isolando-as, codificando e recortando os trechos ou
segmentos dos discursos que passaram a ser bem mais especificados, organizando
em categorias as palavras-chave que indicaram o significado central dos conceitos
surgidos nas narrativas (BARDIN, 2011).
Segundo Bardin (2011), os resultados devem ser tratados a partir de
inferências e interpretações que permitirão torná-los significativos e válidos, através
55
da presença e frequência dos núcleos de sentido, que determinarão o caráter do
discurso, ou os temas que denotarão os valores e relação aos modelos de
comportamento.
3.6 Considerações éticas
Na realização desta pesquisa foram apreciados os pressupostos da
Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde do MS
que dispõe sobre pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL, 1996). Para
Bento (2011), a ética deve guiar o caminho do pesquisador, pois ela é capaz de
sugerir o equilíbrio entre a pessoa e a natureza, a tecnologia e a vida humana, pois
todo ser humano é inviolável em sua dignidade e desfruta de igual direito na
sociedade e, em nome desta sociedade e da ciência, o pesquisador tem o dever de
respeitar e impedir que o sujeito de pesquisa venha a sofrer qualquer prejuízo.
Com efeito, toda pesquisa deve atender as exigências éticas e científicas,
fundamentada no consentimento livre e esclarecido do colaborador, que deverá ser
tratado com respeito em sua autonomia e defendido em sua vulnerabilidade
(BRASIL, 1996).
Assim, submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Liga
Norteriograndense Contra o Câncer (LNRCC), localizado na Rua Dr. Mário Negócio,
2267, bairro das Quintas em Natal-RN, a pesquisa aqui apresentada foi aprovada
com parecer substanciado por número: 001/001/2012 (Anexo A).
Somente após aprovação do CEP é que iniciamos a abordagem aos
colaboradores e, na ocasião, explicamos sobre a natureza da pesquisa, seus
objetivos, benefícios previstos, potenciais riscos, o incômodo que poderia vir a
ocorrer e também o caráter científico do estudo, bem como a relevância de suas
participações. Ao concordarem espontaneamente em participar, no momento do
início das entrevistas, os colaboradores assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), conforme apêndice A, autorizando sua participação voluntária
na pesquisa.
Os colaboradores assinaram também a carta de cessão, conforme
apêndice C, após realização da conferência do material produzido. A autorização
56
comtempla as gravações e os textos escritos, não havendo nenhuma restrição ao
seu uso pelos autores da pesquisa.
3.7 Cenário do estudo
O cenário escolhido para o estudo foi o Núcleo de Hematologia e
Hemoterapia (NHH), que faz parte do complexo hospitalar da UFRN, e tem uma
longa experiência na área da hematologia e hemoterapia laboratorial e clínica, sendo
também campo de estudo para alunos da área da saúde.
O NHH faz tanto atendimento aos usuários de saúde externos, como aos
internos dos hospitais do complexo universitário da cidade de Natal, oferecendo
serviços como consultas médicas especializadas, exames laboratoriais específicos,
bem como transfusões ambulatórias de hemocomponentes. São realizados em torno
de dezesseis (16) transfusões ambulatoriais, 22 consulta ao hematologista, 10 (dez)
mielogramas e 55 (cinquenta e cinco) exames de hemograma por mês.
Na vivência cotidiana e na observação desta unidade, é visível a
importância do sangue e dos processos a ele inter-relacionados. Afinal, o sangue,
como elemento terapêutico, tem sua utilização, cada vez mais estendida a várias
possibilidades de restabelecimentos de alguma deficiência causada por uma
doença. Harmening (2006) diz que os componentes sanguíneos são considerados
medicamentos devido a seu uso no tratamento de doenças, podendo, inclusive, em
alguns casos, incidir efeitos adversos.
A seleção do NHH para realização da pesquisa se deu por ser uma
instituição de referência, em Natal e no Rio Grande do Norte, nas áreas de
hematologia e hemoterapia, duas áreas específicas da saúde, e também por se
caracterizar em um adequado campo para a pesquisa e a extensão. Além disso, o
NHH comprovou ser um local de boa receptividade por parte da diretoria e dos
funcionários, não observado aí nenhum tipo de entrave que viesse prejudicar o
andamento do trabalho.
57
ANALISANDO AS NARRATIVAS...
58
4 SOBRE MONSTROS E HERÓIS: ANALISANDO AS NARRATIVAS DE VIDA
Estabelecendo analogias com o mito de Teseu, podemos imaginar que
cada colaborador é um herói da sua própria história e que, diante do labirinto da
vida, enfrenta o seu Minotauro (o câncer). Que dependendo da sua bravura, com a
ajuda do seu novelo de lã (fé e esperança) e sua espada (o tratamento), enfrentam
os desafios impostos a cada dia, na luta para vencer, ou não, esta árdua batalha.
4.1 Passos da análise
O corpus a seguir se constitui na análise das histórias de vida narradas
pelos colaboradores deste estudo. Para efeitos didáticos, este capítulo foi
organizamos em três momentos, descrito a seguir:
No primeiro momento, tem-se a identificação dos colaboradores através
de quadros sinópticos, contendo as informações que nos proporcionaram uma
ampla visão do contexto em que vivem. Estes quadros contêm informações como:
gênero, estado civil, idade, escolaridade, profissão, naturalidade, renda familiar e
religião. Possibilitando traçar um perfil socioeconômico da colônia, possibilitando um
maior entendimento acerca do contexto histórico familiar, das experiências e
trajetórias de vidas relatadas pelos colaboradores.
No segundo momento, estão descritos os registros do diário de campo, as
expressões registradas durante as entrevistas, como a impressão do entrevistador
sobre o entrevistado no momento da coleta dos dados. Em seguida, têm-se as
informações técnicas pertinentes às entrevistas, tais como o local, o dia e horário
das mesmas. Optamos por destacar o tom vital identificado em cada narrativa,
apresentando os textos descritos na íntegra, conforme a originalidade das falas.
No terceiro momento, tem-se a análise de conteúdo, após minuciosas e
sucessivas leituras das narrativas de cada colaborador que nos possibilitaram a
identificação das categorias de análises das respectivas falas.
59
4.2 Dados Pessoais dos Colaboradores
O quadro a seguir apresenta os dados pessoais dos colaboradores,
segundo estado civil, idade, escolaridade e religião.
GÊNERO/ NOME FICTÍCIO
ESTADO CIVIL
IDADE ESCOLARIDADE PROFISSÃO
Sra Fevereiro Viúva 72 Fundamental
incompleto
Aposentada
Sr Abril Casado 58 Ensino médio completo
Aposentado
Sra Maio Casada 61 Sem estudos Aposentada
Sr Novembro Casado 71 Fundamental
incompleto
Aposentado
Sra Dezembro Casada 58 Fundamental
incompleto
Aposentada
Quadro 6 - Dados pessoais dos colaboradores, segundo estado civil, idade, escolaridade e religião.
60
O quadro seguinte apresenta os dados socioeconômicos dos
colaboradores, segundo naturalidade, renda familiar e religião.
NOME FICTÍCIO
NATURALIDADE
RENDA FAMILIAR
RELIGIÃO
Sra Fevereiro
Natal/RN
01 salário mínimo
Católica
Sr Abril
Natal/RN
3,5 salários mínimos
Evangélica
Sra Maio Serrinha/RN 01 salário mínimo Católica
Sr Novembro João Câmara/RN 02 salários mínimos Católica
Sra Dezembro Natal/RN 01 salário mínimo Católica
Quadro 7: Dados socioeconômicos dos colaboradores, segundo naturalidade, renda familiar e religião.
61
4.3 Prólogo às Entrevistas
As narrativas que se seguem são histórias de vida, produto das
entrevistas realizadas entre os colaboradores com alguma doença oncológica, que
se submeteram à transfusão sanguínea. As memórias individuais foram registradas
por equipamento eletrônico. Memórias estas que expressaram, não somente os
sofrimentos, diante de uma doença tão estigmatizada e temida como o câncer, mas
também seus sentimentos mais íntimos, lembranças mais remotas e até mesmo,
fatos antes nunca revelados.
Estas lembranças, partes da história de vida de cada um desses
colaboradores, não são constituídas apenas de memórias tristes e dolorosas, mas
como um relato/desabafo permeado de fé, medo, confiança, desesperança, certezas
e incertezas, deixando-os na esperança de conseguir vencer mais uma fase triste
das suas vidas, narrar sua história de vida após um câncer.
Os colaboradores apresentavam diagnósticos diferentes, com exceção
dos masculinos, que tinham o mesmo tipo de câncer. O Senhor Abril estava
acometido por um câncer de próstata e com metástase óssea. O câncer da Senhora
Fevereiro era de útero, mesmo após histerectomia, apareceram metástases em
outros órgãos internos. A Senhora Maio, acometida por um Mieloma Múltiplo,
realizou transplante autólogo (o doador é o próprio receptor) de medula óssea. O
Senhor Novembro acometido pelo câncer de próstata, também apresentava
metástases por vários órgãos. Enquanto que a Senhora Dezembro tinha um câncer
de ovário.
O local escolhido para as entrevistas, a residência de cada colaborador,
foi sugestão dos mesmos, considerando que o ambiente do lar representava um
lugar seguro e confortável, favorecendo melhor o fluxo de suas lembranças, mesmo
aquelas não muito desejadas em serem retomadas à realidade, por provocarem
angústia e dor. Ao mesmo tempo, recuperar algumas memórias representava ser um
conforto, uma vez que estas emergiam em face de outro contexto, em função disso
algumas lembranças puderam ser retomadas e vistas de outra forma.
As entrevistas aconteceram em ordem aleatória, conforme os contatos
com os colaboradores. Após realizar a pré-entrevista, agendava-se a data provável
62
para a entrevista. Como cada colaborador escolhia seu codinome, de acordo com
sua afinidade com os nomes dos meses do ano, as entrevistas não foram realizadas
em ordem cronológica dos meses, mas para este trabalho foram postas seguindo a
ordem dos meses no calendário.
A primeira entrevista aconteceu com o colaborador de codinome Senhor
Abril e foi a mais longa de todas. Ele, o Senhor Abril, ainda estava um pouco
debilitado, pois fazia poucos dias que recebera alta hospitalar. No entanto, o próprio
colaborador insistiu em narrar sua história de vida naquele dia. Para nossa surpresa,
em momento algum, ele se cansou ou solicitou que a entrevista fosse interrompida.
Parecia que tinha a necessidade de relatar com certa urgência suas lembranças,
pois, segundo ele, estas poderiam ajudar a outros usuários de saúde. Após um mês
da entrevista, Senhor Abril veio a óbito, em sua residência.
Retomaremos mais adiante, considerando a ordem cronológica dos
meses, a exposição a respeito da trajetória de vida do Senhor Abril.
63
TRAJETÓRIA DE VIDA DOS COLABORADORES
1. Senhora Fevereiro
O mês de fevereiro vem da palavra Februmm que significa purificar. Neste mês acontecia um ritual de purificação romano para ter os pecados perdoados. DUNCAN (1999).
És um senhor tão bonito Quanto a cara do meu filho Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido Tempo tempo tempo tempo...
VELOSO (1981).
Identificada pelo pseudônimo de Senhora Fevereiro, a colaboradora
em foco tem setenta e dois anos, mãe de um único filho, com quem morou nos
primeiros momentos da doença; vivia atualmente sob os cuidados de uma das
suas irmãs. Católica, assumia, na lânguida voz que perpassava a entrevista, a
tristeza da alma (e do corpo), sem, contudo, perder a fé e a força nos
conselhos religiosos herdados ao longo de uma vida de trabalho e sofrimentos.
A entrevista foi realizada no dia 10 de abril de 2012, tendo início às
14 horas e 30 minutos, na sala da residência da irmã da colaboradora.
Apreensiva de início, Senhora Fevereiro aos poucos foi deixando a palavra e a
memória invadirem sua fala, resultando em um relato comovente, atravessado
por angústias, receios e lágrimas, não deixando, contudo, faltar uma pontinha
de esperança que o tratamento da doença venha a promover.
Ainda quero viver mais se Ele permitir. Tenho fé em Deus que
eu vou ficar boa, se Deus quiser. Eu me sentia bem, eu tomava sangue e
não sentia nada não, do sangue, não.
Eu sentia uma dor, assim
de um lado, nas costelas e eu tive
(A gente pode dizer gripado?)...
uma gripe muito grande. Dessa
gripe foi que começou tudo...
Começou a minha vida [de
convivência com a doença]... mas
Deus tem me protegido, enquanto
64
eu tava doente. Dessa doença,
tenho melhoras que Deus me deu.
Estou nas mãos de Deus, que
Jesus é quem me fortalece. Que
Jesus, o que ele fizer comigo está
bem feito.
Já faz uns cinco anos
que estou doente. De lá pra cá,
mudou, eu melhorei mais, estou
bem melhor, um dia melhor, um dia
a mais. Tive quase boa, andando
pra todo canto. Agora é que não
estou andando mais como eu
andava, agora tenho dificuldade de
andar, de ver, olhar para o povo. A
minha vista tá muito ruim com essas
quimio que tomo, é o tratamento. Eu
acho muito ruim, mas eu tomei
sangue, o sangue me fortaleceu me
deu saúde, me deu paz, amor pra
eu tá vivendo mais uns dias.
Eu trabalhava, trabalhava
na feira. Deixei de trabalhar, meu
marido morreu aí eu deixei de
trabalhar. Mais eu trabalhava de
sexta até o domingo à tarde. Saía
de madrugada pra feira e levava
chuva, passava o dia no meio do
sol, na barraca. Por aí começou, eu
chegava enfadada, lavava louça e ia
me deitar e dormia até no outro dia
até às seis horas. Mas eu acho que
não foi isso que ofendeu não,
ofende é a gente viver sem
trabalhar. Pelo trabalho não, porque
a gente tem que trabalhar. A gente
quanto mais trabalha mais tem
força, tem resistência.
Tenho só um filho. Mora
lá na casinha que eu morava. Eu
vim morar com minha irmã porque
ele separou da mulher e vivia só, e
eu vim pra cá onde tá ela (a irmã) e
aqui eu fiquei. Tenho setenta e dois
anos. Minha saúde vive assim; tô
esperando as providências de Deus.
Que Ele me dê forças, que eu ainda
viva do jeito que Ele quiser: me
obedecer ou obedecer a ele. Que
ele me permita que eu viva mais, ou
ele me tire desse lugar pra longe.
Ainda quero viver mais se
Ele permitir. Tenho fé em Deus que
eu vou ficar boa, se Deus quiser. Eu
me sentia bem, eu tomava sangue e
não sentia nada não, do sangue,
não. Tomei muito sangue, muito,
muito mesmo. Tanto tomei no banco
de sangue como tomei internada.
Eu nem sei dizer. O povo diz que a
gente não deve tomar sangue, mas
a gente tomando, sangue dá vida a
gente também. Eu soltava muito
sangue pelo nariz. Soltava e era
muito, passei um mês e pouco
soltando sangue pelo nariz. Saía
65
daqui e eu pensava que não
chegava, não vinha mais pra casa.
Disseram (os médicos)
que era essa doença mesmo, era o
câncer, e eu sabia. Eu fui cirurgiada,
mas ficaram no tratamento comigo e
desde desse tempo, aí melhorei.
Passei bem um ano sem
tratamento, aí depois me deu uma
crise, aí eu voltei e fiquei tomando
(quimioterápicos) até hoje.
Quando soube da doença
não senti nada não. Eu fiquei assim
como uma pessoa que parece que
não estava nem no mundo. Eu não
liguei não! É tudo como Deus quer,
não é? Tenho paciência, graças a
Deus! Se eu não tivesse paciência
as coisas eram de outro jeito. Eu
sinto dor aqui no pé da barriga, sinto
dor nas pernas, sinto é um bocado
de coisa. Às vezes dá uma dor e
passa, fico esmorecida, os braços
esmorecidos. Tudinho, mas depois
vai melhorando, vai passando mais.
É, será o que Deus
quiser, ou muito ou pouco tempo.
Eu tinha muito medo de morrer,
antes da doença, mas agora! Antes
da doença, eu já vivia assim, o povo
me achando magra, com os olhos
fundos, lá dentro, os olhos. Meus
olhos estavam diferentes. Eu disse
ai meu Jesus! Aí eu fiquei nervosa,
fiquei nervosa.
É..., achava bom porque
eu tava melhorando, mas eu
gostava mais é de estar em casa do
que estar em hospitais. Era
atendida direitinho, todos atendiam.
A gente era bem atendida. Ninguém
nunca dizia nada que eu não
gostasse. Há! Furada eu era muito.
Furada que meus braços não tinha
nem mais veia para pegar e sair o
sangue. Para tirar o sangue e fazer
exames. Sei que era tudo roxo,
meus braços.
Ele (o filho) vem sempre
aqui. Tem dia que ele vem todo dia.
Tem dias que passa um pouco de
dias sem vir. É carinhoso, passa um
pedacinho e vai-se embora, que ele
também fica triste de me ver doente.
Elas cuidam bem (as irmãs). Sou a
mais velha de todas.
Eu estou triste mesmo.
Porque a gente fica triste. Porque
fica doente muito tempo, tem que
ficar boa, não é? A gente se sente
triste. O médico disse que eu só
estava vivendo por causa desses
tratamentos. Será que os
médicos..., só Jesus é quem sabe.
Eu tenho fé em Deus que eu fico
boa. Eu tenho fé também nos
66
medicamentos, que tem vez que eu
tô muito doente, eu tomo e melhoro
mais.
Estava bem fraquinha,
pensava que não tinha nem sangue
no meu sangue, em cima de mim. O
meu sangue saiu todinho. Depois
que tomei, melhorei e não sinto
nada depois que tomo o sangue.
Disseram que podia ter alergia,
essas coisas, mas eu nunca tive
alergia não. Quem falou foi a
enfermeira que aplicou o sangue. O
médico nunca disse nada não. Não
tinha medo de tomar sangue. Eu
não tenho medo, tanto faz a gente
ter medo como num ter, é a mesma
coisa, se tiver medo é a mesma
coisa, se não tiver é a mesma coisa
também!
Depois da doença minha
vida mudou. Quando eu andava, era
sempre melhor, sempre. Eu vejo o
povo conversar, vejo o povo ter
alegria, mas eu mesma, para mim
tanto faz como tanto fez. Perdi a
alegria. É eu queria é tá com saúde,
porque a saúde vale tudo. Estou me
alimentando. Dia tenho vontade de
comer uma coisa eu como, dia que
não tenho vontade de comer eu não
como. Eu almoço, eu tomo suco,
como o que eu quiser comer. Mas
tem dias que não tenho vontade de
comer nada. Eu digo o que quero
comer, eu quero isso assim, assim
elas fazem.
Fui muito bem atendida nos
hospitais. Fui internada no Hospital
Walfredo e no Hospital da Polícia,
só nesses dois hospitais. E às
vezes fui ao pronto socorro e só.
Não quero mais dizer nada, estou
cansada, já estou cansada.
Depois da doença minha
vida mudou. Quando eu andava, era
saúde vale tudo. Estou me
alimentando. Dia tenho vontade de
comer uma coisa eu como, dia que
não tenho vontade de comer eu não
como. Eu almoço, eu tomo suco,
como o que eu quiser comer. Mas
tem dias que não tenho vontade de
comer nada. Eu digo o que quero
comer, eu quero isso assim, assim
elas fazem.
Fui muito bem atendida
nos hospitais. Fui internada no
Hospital Walfredo e no Hospital da
Polícia, só nesses dois hospitais. E
às vezes fui ao pronto socorro e só.
Não quero mais dizer nada, estou
cansada, já estou cansada.
67
2. SENHOR ABRIL
O significado para abril tem duas versões. Uma delas é que o nome do mês vem de aperire que significa abrir, que lembraria o desabrochar das flores na primavera. Na outra o nome vem de aprilis, uma comemoração feita para a deusa vênus.
Compositor de destinos Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo... VELOSO (1981).
DUNCAN (1999).
Identificado pelo pseudônimo de Senhor Abril, o colaborador em foco
tem cinquenta e oito anos de idade, casado, pai de um casal de filhos e avô de
quatro netos. Após descoberta e agravamento da doença deixou de trabalhar.
É evangélico e assume postura firme durante toda entrevista. Em alguns
breves momentos revela, através do seu semblante, a tristeza causada pela
doença.
A entrevista, realizada no dia 30 de março de 2012, teve início às
14horas e 55 minutos. Já debilitado fisicamente pela doença, Senhor Abril nos
recebeu no quarto de sua residência, permanecendo sentado na cama o tempo
todo. Aparentando tranquilidade e firmeza em sua fala, narrou sua trajetória de
vida após o diagnóstico de um câncer de próstata, já sem possibilidades
terapêuticas. A entrevista foi interrompida por um breve momento, pela sua
esposa, para administração de um medicamento e para lhe oferecer um
lanche. Senhor Abril, sem perder a fé que dizia ter em Deus e muito crível nos
avanços da medicina, agarrava-se na esperança de vencer a doença.
Agora uma coisa que eu nunca perco é a esperança de vencer.
É o câncer? É! Tem solução? Não! Não tem ainda não, mas vamos ter,
então vamos procurar ela. Vamos procurar onde está a raiz dele para
gente matar ela. Então a gente tem que ter fé, se tiver fé você consegue,
agora se você não tiver fé, você não vai curar nunca!
A minha doença surgiu
assim inesperadamente. Eu estava
em uma reunião, na cidade do
interior, e senti uma dor, uma
68
fisgada na coluna e essa dor ela foi
crescendo. Tomei um analgésico e
em seguida fui ao médico para
saber o que estava acontecendo e
daí surgiu uma bateria de exames
para descobrir o que era, até chegar
à conclusão que era um CA
(câncer). Mas tudo começou por
uma simples dor que ninguém sabia
de onde vinha, foi feita uma
pesquisa muito grande, inclusive por
vários médicos oncologistas do
Hospital Walfredo Gurgel.
Fizeram exames e não
chegavam à conclusão porque o
meu CA, na ressonância, era da cor
da pele, então na hora de fazer a
leitura, não chegava a ler. Eu passei
a sofrer mais de um ano com dores
constantemente sem chegar a uma
conclusão. O resultado do PSA não
batia com o resultado da
ressonância. Isso faz sete anos.
De lá para cá, eu passei
a me tratar. Passei a tomar a
medicação e ir constantemente aos
médicos. Houve inclusive um
probleminha que trocaram de
médicos lá, briga de donos de
clínicas, me trocaram de médicos,
mas fiquei no tratamento normal na
oncologia. Nesse tratamento o único
diagnóstico que deram, até hoje, foi
um CA de próstata, somente. Até
minha medicação é uma só,
baseada no pamidronato, eu tomo e
faço quimioterapia de quatro em
quatro meses ou de cinco em cinco
meses, quando precisa mesmo.
Muita coisa mudou na
minha vida. Primeiramente a gente
tinha uma vida estabilizada, eu tinha
uma empresa, era uma
microempresa, mais já estava
enraizada, já tinha catorze
escritórios filiais nos interiores e por
causa da doença ela foi acabando.
Fui obrigado a acabar com tudo,
porque não tinha condições de me
manter no trabalho e cuidar da
doença, porque ela estava se
alastrando muito e tava me afetando
cada dia mais, é como tá agora,
piorou a situação e ficou um pouco
mais crítica. A doença se alastrou
de modo inesperadamente, porque
um oncologista dizia uma coisa, o
outro dizia outra, o outro dizia outra.
Até hoje a conclusão que chegaram
é que eu tenho que tomar só
pamidronato e a quimioterapia.
Não fiz cirurgia, porque
quando surgiu a doença ela já
surgiu com metástase. Eu passei
mais ou menos um ano e quatro
meses correndo para descobrir o
69
problema, para chegar a uma
conclusão, mas ninguém chegava a
uma conclusão, e a doença já
estava nos ossos. Já tinha
metástase óssea, então foi quando
passaram a diagnosticar mesmo a
doença. Passei a tomar
pamidronato, que só faz fortalecer
os ossos, e outra medicação normal
como a gente toma, esses
paliativos.
Não tive outro problema
nenhum, até hoje só foi
diagnosticado o CA. Inclusive,
nesse período, nos últimos cinco
anos, eu tinha uma vida normal,
mesmo doente, tinha uma vida
normal. Eu andava, brincava,
tomava banho de praia e bebia.
Porque o médico dizia que não tinha
problema nenhum, não afeta em
nada, a medicação que você está
tomando é uma coisa, não tem nada
a ver com o CA.
Agora nesses últimos
dois anos foi que afetou mais e eu
passei a ter mais problemas de
saúde, ter mais dificuldades, como
agora estou tendo de andar, não
estou andando ainda dentro de
casa, passei a ter dificuldade no
meu trabalho e até para escrever.
Eu sou uma pessoa que escrevo
muito rápido, eu tenho um raciocínio
muito rápido e passei a ter certa
dificuldade.
A gente estava levando
uma vida familiar muito boa. Graças
a Deus a gente como pobre tinha
uma vida bem saudável. Os finais
de semana eu ia à praia com a
família, com os filhos e netos. Tinha
uma vida bem saudável, bem
confortável mesmo, mas nos últimos
dois anos afetou muito, tudo. Eu
passei a ter... Quem tinha um
salário bom, na verdade eu tinha um
salário muito bom, passei a
praticamente zero. Porque eu tenho
um salário hoje, como aposentado,
em torno de dois mil reais, mas em
compensação, quando a empresa
estava funcionando, eu tirava em
torno de vinte mil. A diferença é
muito grande, aí você baixa de vinte
para dois, é muita coisa, afeta muita
coisa, então afetou minha empresa,
que eu tinha escritórios em catorze
cidades e já tava pra abrir mais em
oito cidades, tive que perder o
pique. A empresa era uma
promotora de crédito.
A saúde a cada dia que
passa tá ficando mais deficitária. E
eu acho que daqui para frente a
solução é só esperar que Deus
69
69
69
69
70
ilumine ou..., que venha o pior, que
espero que não. Porque eu tenho
muita fé. Tenho cinquenta e oito
anos de idade, acredito ainda que
tenho muita vida pela frente. Não
sou uma pessoa mal esclarecida,
sou uma pessoa que, qualquer
assunto que puxar, eu estou bem na
fita pra conversar, então a gente
pensa ainda que tem muita coisa
pela frente.
Eu, até dois mil e sete,
dois mil e oito, dava muitas
palestras nos interiores, dava
palestra pra pegar esse pessoal que
estava fazendo o segundo grau,
para profissionalizá-los. Eu ia para
Santa Cruz, Campo Redondo,
Currais Novos, Pau dos Ferros. Era
um modo de uma terapia que eu
tava fazendo para mim e para os
outros também. Porque eu estava
ajudando alguém a se
profissionalizar, tudo era trabalho
que a gente fazia gratuitamente,
mas a saúde passou a afetar essas
atividades.
Segundo uma pesquisa
que vi, eu acho que é na Arábia
Saudita, de um menino com dez ou
onze anos de idade, pesquisando
disse que dentro de dez anos ele
daria a cura do câncer. Isso já tem
uns cinco anos ou seis anos, e esse
menino hoje é médico, já faz
cirurgia e um bocado de coisa, um
menino ainda, ainda é menor de
idade. Então eu ainda acredito que
o câncer possa vir a ter uma cura
rápida, porque a evolução da
medicina hoje é muito grande.
Então possa ser que amanhã ou
depois a gente encontre uma
solução e vá viver uma vida mais
confortável. Então eu acredito nisso
muito ainda.
Tenho um casal de filhos
e quatro netos. Sempre morei aqui.
Quando eu casei, preferi procurar
um lugarzinho, por mais fraco que
fosse, mas só queria morar no que
fosse meu. Aí vim morar no que é
meu. Passei um tempo trabalhando,
assim, mas só dava para viver. O
dinheiro não dava para sobrar nada
só dava pra viver. Mas depois
fomos evoluindo mais um
pouquinho, aí foi melhorando a
situação financeira. Só que veio a
minha moleza, como diz o ditado. A
situação financeira tava ficando
ótima, cada dia que passava ficava
melhor.
A gente já tinha em torno
de vinte e cinco empregados, além
dos empregados, estava
71
estabelecido já na região do Seridó,
aonde a gente já tinha uma renda
boa. Infelizmente a saúde veio e
derrubou tudo. Infelizmente
derrubou. Agora uma coisa que eu
nunca perco é a esperança de
vencer. É o câncer? É! Tem
solução? Não! Não tem ainda não,
mas vamos ter, então vamos
procurar ela. Vamos procurar onde
está a raiz dele para gente matar
ela. Então a gente tem que ter fé, se
tiver fé você consegue, agora se
você não tiver fé, você não vai curar
nunca!
Porque uma doutora, vou
até reservar o nome porque achei
até questão de ética profissional.
Achei horrível o que ela fez comigo,
lá no Hospital do Coração, ela
chegou para mim e disse que..., eu
perguntei, como estava minha
situação de saúde? Ela disse que
eu já tinha superado tudo, o que
tinha de dar já deu! Então eu achei
aquilo muito ridículo, baixei a
cabeça, saí e cheguei em frente do
Hospital do Coração, comecei a
chorar! Achei aquilo, o que ela fez,
antiprofissional. Não dei resposta
nenhuma a ela, não era por aí a
situação. Uma médica que está
numa equipe de um médico famoso,
que é um cara hoje consagrado na
oncologia, e vir com uma expressão
dessas. Só fiz trocar de médico.
Estou hoje com outro
médico oncologista, acho ele um
grande médico. Infelizmente a
medicina hoje no Rio Grande do
Norte tá daquele jeito. Tem dez
clientes aqui para você e tem mil
para outro, tudo na mesma
categoria. Acho que dava para
dividir, acho que daria para
trabalhar melhor e não estar
acontecendo isso, porque, ele que
me perdoe, não é cabível um
médico atender até duas, três horas
da manhã os seus pacientes. Eu
acho muito deselegante ver
pessoas doentes em cima de uma
cama, e é isso que tá acontecendo.
Infelizmente eu não tive
uma oportunidade de dizer ao
médico pessoalmente, mas na hora
que tiver uma oportunidade eu digo,
eu não tenho papas na língua. Não
tem esse negócio comigo, acho
muito antiético o que ele faz. Uma
pessoa ficar até duas, três horas da
manhã, enrolada em um cobertor,
esperando para ser atendido por um
médico. Eu acho isso
antiprofissional na medicina, mas
72
infelizmente ninguém pode fazer
nada.
No hospital da polícia
militar, na verdade eu tava assim,
grogue. Eu não estava dizendo
coisa com coisa, eu me perdi
mesmo. Tinha hora que eu sabia o
que estava dizendo, tinha hora que
eu não sabia. Mas o atendimento no
polícia militar foi muito bom. A
medicação toda correta, o pessoal
atendendo no horário certo, não
deixando passar o horário da
medicação, muito corretos eles.
Quando eu ia tomar o
sangue eles explicavam. Inclusive
no banco de sangue, aqui da UFRN,
muito bom! O pessoal muito
profissional. Quando eu estive lá,
eles me aconselharam a tomar duas
bolsas de sangue num dia e duas
no outro. Antes disso, eles fizeram
um preparatório psicológico comigo,
conversaram muito, fizeram um
preparatório para saber como eu
estava e como é que fui atendido, e
o que é que eu estava precisando.
Se eu estava bem para receber
aquela medicação. Eles fizeram um
preparatório muito bom e, inclusive,
eles me deixaram em uma situação
muito privilegiada para o
atendimento. Porque não senti
dificuldade nenhuma, nem
dificuldade de falar com eles.
Às vezes você chega
para um profissional da saúde, ou
outro profissional qualquer, e eles
falam um palavreado que você tem
até certa dificuldade de entender, e
eles não! Eles deixaram a gente
bem à vontade. Inclusive teve um
médico hematologista que
conversou comigo, ele falou muito
aberto, não teve dificuldade. Ás
vezes a gente fala cientificamente e
o outro não sabe nem o que está
dizendo.
O meu médico passou
quatro bolsas de sangue, eles
fizeram uma bateria de perguntas,
para saber se eu ia ter alguma
reação do sangue, alguma coisa,
mas eu não tive, foi tudo bem. Eles
me prepararam mesmo para poder
tomar o sangue, eu achei aquilo
muito confortável. Já no Hospital
dos Pescadores eles colocaram o
sangue, mas lá foi diferente,
disseram estar precisando tomar
sangue e pronto. Botou o sangue e
depois me transferiram para o
Hospital da Polícia Militar. Não teve
muito preparo não, porque foi tudo
no vexame.
73
Eu estava cansado e me
sentindo muito fraco e meu médico
não queria passar o sangue de jeito
nenhum para mim. Ele achou que
não era hora e terminou dizendo:
“vá lá e tome esse sangue aqui”. Ele
só passa o sangue quando
realmente está precisando. Minhas
plaquetas estavam só em dez mil, já
estava em numa situação meio..., é
por isso que ainda não me levanto,
não ando, porque as minhas
plaquetas não voltaram ao normal,
elas ontem estavam quarenta e três
mil, mas o limite dela é para dar
cento e poucos mil, quer dizer, eu
não tenho sustância. Eu tenho
forças nas pernas, tenho força em
tudo, mas eu não fico em pé.
Tomei sangue no banco
de sangue da universidade, o que
me fortaleceu um pouco, mas só
que eu estava em uma situação que
era tomando sangue e o sangue
sumindo. Tinha mais este detalhe
aí, era o sangue sumindo. Tomei a
primeira vez quatro bolsas de
sangue, com uma semana não tinha
mais. Aí tomei, acho que, catorze
plaquetas, foi como eu vim melhorar
um pouco, mas acho que ainda
estou com problemas de plaquetas.
Tenho uma cirurgia pronta para
fazer e ainda não fiz porque minhas
plaquetas não estão boas. O limite
delas tem que ser cento e quarenta
e um mil. Com oitenta, noventa mil o
médico não faz. Então estou
impossibilitado de fazer a cirurgia
por casa disso. Seria a cirurgia
como fosse uma castração
(orquiectomia). Ele, o médico, acha
que, se castrasse, a doença
regredia!
Tá tudo pronto, toda
documentação, mas o médico já
disse que essa cirurgia sangra
muito, é uma cirurgia rápida, mas
sangra muito. Então eu não posso
estar com cento e dez mil
plaquetas, ele só quer fazer com
cento e quarenta mil. Acredito que
agora meu médico deve ter
acertado a medicação, eu acredito.
Porque ele pesquisa muito, uma das
vantagens dele é porque ele
pesquisa. Eu acredito porque meus
braços estão voltando ao normal,
tão ficando brancos novamente.
Hoje estive no Hospital
do Coração, pela manhã fui tomar a
medicação. Meu médico tinha
pedido para reservar uma
medicação para mim. Essas
surpresas da medicina. Eu estava
pesquisando sobre a cultura popular
74
e sobre o uso da babosa. Eu tenho
medo desse lado da medicina
popular, eu não acredito muito nela,
não adianta dizer que vai tomar chá
de não sei de que, tomar babosa,
sem a gente ter uma pesquisa certa.
Eu não acredito muito nela, então
eu prefiro continuar pesquisando
com os meus médicos até chegar a
uma solução. Eu acredito muito na
medicina brasileira. Eu acho que a
evolução da medicina tá muito boa,
sei que já estou com a idade muito
avançada, cinquenta e oito anos,
mas se tivesse um pouco mais novo
eu acreditaria que venceria o
câncer. Eu tenho muita fé, eu sou
um homem de muita fé.
Estou me sentindo muito
bem! A única coisa que me
preocupa é que não posso me
levantar ainda. Meu médico disse
ontem que é porque eu estava
muito fraco, mas vou voltar ao
normal. Fora disso, estou bem!
As minhas plaquetas
estavam caindo toda hora. Então
aquilo (a transfusão) foi muito
importante, o médico deixou para
última hora mesmo. Tudo foi feito
para só aplicar o sangue na hora
exata mesmo. Tem certas coisas na
medicina que você aprende sozinho
com seu médico. Você aprende a
ler sua receita, a manusear sua
medicação certinha. Então o que é
que você precisa? Precisa de
medicação tal, então vou tomar
minha medicação correta!
Eu faço muitas pesquisas
sobre doenças. Eu acho que tá mais
avançado nas pesquisas da
internet. Acredito que a gente pode
pesquisar mais, como acredito que
vocês estão fazendo um trabalho
muito bom. E vocês podem contar
comigo. Estudei outra coisa
completamente diferente, eu sou
securitário, mas a gente vai
aprender também com os médicos.
Eu acho que a medicina tá evoluída.
Agora eu acho o que a
gente precisa muito hoje é
pesquisar mais, e ter uma certa
paciência com esse pessoal
avexadinho. Tem um bocado de
gente avexadinha, passa a
medicação e vai embora. Eu
cheguei ao hospital me acabando
de dor. Quando dá dor nesse osso
(fêmur esquerdo) que irradia essa
perna aqui. O médico perguntou se
eu já tinha tomado dolantina, e eu
disse que não. Aplicou uma
dolantina, dez minutos depois
estava sem dor. Passaram-se uns
75
dez dias, o mesmo médico, um cara
bem novo, bacana pra caramba,
perguntou: “Está com dor de novo?”
perguntou: “Está com dor
de novo?
Tome outra dolantina”. Aí quando
eu tomei à segunda dolantina foi
que eu fui olhar para que é quer
servia. Foi quando eu disse a ele,
“não amigo, eu não vou tomar a
terceira não! “Porque pode virar um
vício”. Isso aí tem que pesquisar se
não tem outra medicação para
tomar. Então eu não aceitei tomar a
terceira, quer dizer, eu sou
consciente do que faço.
O que eu teria só mais a
esclarecer é que eu acho
importantíssimo esse tipo de
pesquisa de vocês. Eu acho muito
importante. Eu acho que isso ajuda
tanto ao estudo de vocês como
ajuda até a nós mesmos, a gente
vai ficando esclarecido. Eu acho
que vocês vão ter mais alguma
coisa para perguntar, vocês vão ter
mais alguma coisa para pesquisar
sobre esse assunto e eu vou estar
sempre à disposição de vocês!
Pesquisa de vocês. Eu
acho muito importante. Eu acho que
isso ajuda tanto ao estudo de vocês
como ajuda até a nós mesmos, a
gente vai ficando esclarecido. Eu
acho que vocês vão ter mais
alguma coisa para perguntar, vocês
vão ter mais alguma coisa para
pesquisar sobre esse assunto e eu
vou estar sempre à disposição de
vocês!
76
3. SENHORA MAIO
O mês de maio é uma homenagem a duas deusas, Maia e Flora, que acreditavam serem responsáveis pela primavera e o crescimentos das flores. DUNCAN (1999).
Por seres tão inventivo E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo És um dos deuses mais lindos Tempo tempo tempo tempo...
VELOSO (1981).
A colaboradora com pseudônimo de Senhora Maio tem sessenta e
um anos de idade, é casada e mãe de quatro filhos. Em sua simplicidade, falou
da vida após a descoberta da doença, sempre demonstrando descontração e
bom humor. Serena, Senhora Maio relatou seu sofrimento desde o início da
descoberta da doença, até o desconforto gerado pelo tratamento. Como é uma
pessoa de muito fé, deixa transparecer, durante sua fala, uma reiterada
insistência na esperança de ficar boa e encarar firmemente todo sofrimento
acarretado pelo câncer.
A entrevista se deu na sua residência na cidade de Serrinha, no
interior do Rio Grande do Norte, no dia 24 de junho de 2012, com início às 9
horas. Em alguns momentos, em meio a seus comentários, mesmo dizendo do
sofrimento, não deixava de esboçar um ameno sorriso. Dizia que seu medo
maior não era da morte, e sim do sofrimento, tanto fisico como psicológico que
essa doença trazia.
Sempre tive fé, toda vida tive esperança que eu ia ficar bem.
Portanto estou aqui. Eu sempre tive muita fé, muita fé mesmo de ficar
bem, principalmente na hora do transplante, que é muito doloroso.
Isso tudo interferiu muito
na minha vida, porque a gente
fica..., não tem mais a
resposabilidade de dona de casa,
tem que entregar as obrigações aos
outros. Aí muda muito. Quando
soube da doença não fiquei muito
chocada não. A gente se emociona
porque, um choque desse, todo
mundo fica..., chorei, mas depois
fiquei tranquila porque eu falei: se
eu me aperrear não vai dar jeito!
Então fiquei mais calma. Lá fiz o
tratamento e tudo mais. Tive
77
esperança. O doutor disse que eu
tinha muita chance de ficar bem.
Então aceitei tudo, tudo normal.
O médico explicou
tudinho, o que era a doença, como
era, como ia ser o tratamento, que
eram seis dias de internações, e do
enjôo que eu ia sentir. Tudo o que
eu ia passar, ele explicou tudo.
Fiquei internada seis
vezes. Seis meses foram de
quimioterapia, mas no correr da
quimioterapia fiquei internada com
as defesas baixas, fiquei internada
mais duas vezes. O atendimento lá
no Hospital Luiz Antonio era muito
bom. Os médicos muito bons, as
enfermeiras também, eram muito
legais todos, nunca tive nenhum
aborrecimento.
Quando foi para fazer...,
não sei mais nem quantas
quimioterapias tinha feito. Eu fui
para uma consulta, lá o médico
disse quando viu os exames: “a
senhora vai fazer uma transfusão de
sangue”. Pela primeira vez. Ah! Mas
eu fiquei bem agitada, aperreada.
Resolvi ligar pra minha filha, findei
ligando para minha sobrinha. Foi
bem assim, uma agitação..., a
primeira vez, não sabia, nunca tinha
feito transfusão de sangue. Aí fiquei
muito preocupada. Ah! nem estava
Fábio, nem estava Cláudia, eu
estava com minha outra filha que
mora no Rio de Janeiro. Depois
Fábio chegou e a gente foi lá para o
banco de sangue (Núcleo de
Hemoterapia e Hematologia –
NHH).
Quando chegou lá, a
menina fez a ficha, aí eu falei, fiz
mesmo como menino sambudo:
“Ah, mas eu estou com fome!” Já
era tarde, já era mais de uma hora
da tarde. Aí ela disse: “Ah! A
senhora tá com fome? A gente vai
fazer um lanchinho para a senhora”.
Ela fez a ficha e me disse que eu só
iria ser atendida no dia seguinte.
“Ah! então tá certo, não precisa de
lanche não, vou para casa”. Aí foi
aquele susto, pois nunca tinha feito
transfusão de sangue. Daí por
diante não tive mais medo. Mas
durante a quimioterapia só fiz
transfusão de sangue lá (NHH), não
sei, mas parece que foram só duas
vezes.
No outro dia fui atendida.
Quando cheguei lá já estava tudo
pronto. Pois tem que ver também o
tipo do sangue. Aí estava tudo bem,
graças a Deus, fui muito bem
atendida. Só não explicaram sobre
78
o sangue, não houve nenhuma
explicação, essas explicações eles
nunca deram, só disseram que
precisava e pronto. Nunca tive
reação nenhuma, nem das
plaquetas e nem do sangue nem de
nada, mas graças a Deus não tive
nada.
Eu sou dona de casa
mesmo, munca trabalhei fora não,
só no lar. Só em casa mesmo e
cuidando dos filhos, que são quatro.
Hoje não estou boa, mas estou
muito bem. Ainda estou em
tratamento. Todos os meses vou
para o médico fazer exames. Até
porque nas tomografias, agora,
ainda apresentou um nodulozinho
no pescoço e outro na parte do
estômago, mas o médico disse que
não é nada assustador, porque é
muito pequenininho, pois estava
maior na outra tomografia que fiz,
mas nessa agora ele diminuiu
muito. O médico acha que não é da
doença, porque se fosse ele estava
aumentando. Aí então a gente vai
ver como é que vai ficar.
Quando fui tomar sangue
foi porque as taxas estavam baixas.
Na quimioterapia a gente fica muito
fraca. Até porque a gente não se
alimenta bem. O enjôo não deixa,
não é? O enjôo não deixa a gente
se alimentar, a gente chega em
casa muito fraca, cansada. Fraca
mesmo. Fica doente, muito doente,
a quimioterapia deixa a gente muito
doente. Até porque é uma
medicação muito forte. Então a
gente fica doente com muito enjoo,
não pode se alimentar. A minha
menina levava às vezes alguma
coisinha, um suco de laranja, que é
difícil ter nos hospitais, uma
coisinha diferente para ver se eu
comia. Quando ela levava alguma
coisa diferente, até que eu comia.
Eu confiava no sangue, já
que foi o médico quem passou.
Depois que tomei o sangue fiquei
bem. Com poucos dias fui para a
quimioterapia e já estava tudo bem.
Sempre tive fé, toda vida
tive esperança que eu ia ficar bem.
Portanto estou aqui. Eu sempre tive
muita fé, muita fé mesmo de ficar
bem, principalmente na hora do
transplante, que é muito doloroso.
Mas eu sempre tinha uma
esperança de ficar boa. E estou
aqui, graças a Deus.
Meus filhos foram muito
dedicados. Foi tanto que uma vez
as defesas tavam muito baixas e eu
tinha que ficar internada, foi outra
79
vez que me desesperei. Eu falei:
“Ah! doutor não vou ficar não! Se eu
ficar aqui vou ficar mais doente”.
Fabinho e Vanuza falaram para eu
ter calma. Não podia ficar, se
ficasse iria ficar mais doente do que
eu já estava. Aí o médico falou: “não
tem jeito, vai ter que ficar”. Aí veio
outro médico, Dr. James que é o
meu médico, ele avaliou meus
exames e falou: “não, ela vai tomar
a medicação em casa, porque estou
vendo que a família dela é muito
dedicada. Então ela vai tomar a
medicação em casa.” Aí eu vim pra
casa bem tranquila. Em casa a
gente se sente melhor. No hospital
a gente está sendo cuidada, mas
nunca é que nem em casa.
Da morte, nunca tive
medo, até porque a gente tem
certeza. Não tem para onde correr.
Nunca tive não! Medo de morrer
não. Eu tenho medo mais é do
sofrimento que a gente vai ter que
passar, como ficar doente por muito
tempo. Eu tenho mais medo disso,
do sofrimento. O sofrimento que é
mais doloroso, mas eu já passei e
está tudo bem.
Nunca tive nenhuma
reação não, sobre o sangue não. Só
tive uma reção uma vez no Hospital
Luiz Antonio. Eu me internei, a
última vez, após a última
quimioterapia. Após oito dias a
defesa baixou, tive que ficar
internada. Colocaram um soro com
remédio para febre, depois
colocaram outro soro e disseram
que era uma vitamina, que eu
estava fraca. Depois coloraram
outro, já era tarde, quase umas dez
da noite, aí tive uma reação muito
forte, acho que foi da medicação
que colocaram. Começou aquele
frio, a minha menina estava comigo,
mandei ela desligar o ar, pois tava
muito frio. Eu comecei a tremer, deu
uma tremedeira, os lábios
começaram a adormecer. Fiquei
muito doente mesmo, as
enfermeiras vieram e retiraram todo
aquele acesso que estava e
colocaram outra medicação. Foi
passando, mas estava muito
cansada.
Aquela noite eu achei
que ia morrer, mas quando a
enfermeira colocou outra
medicação, melhorei. Aí também ela
não explicou se foi da medicação ou
o que foi. Sei que a gente até hoje
está para saber o que aconteceu.
Sempre fui muito bem atendida.
Toda vez que eu ia lá era bem
80
atendida toda Toda vez que eu ia lá,
atendida. Do meio para o fim já
estava acostumada. Quando eu
chegava, era uma farra que elas
faziam. Elas ficavam todas
contentes. Todos os meses eu ia e
já estava bem conhecida lá. Nunca
tive nenhum tipo de aborrecimento.
Até os médicos quando chegavam,
eles perguntavam se eu tinha
alguma queixa de alguém, se tinha
sido tratada mal. Respondia que
não tenho nenhuma queixa de
nenhuma enfermeira. Toda vez ele
pergunta se eu tinha alguma queixa,
mas não tinha.
eles perguntavam se eu tinha
alguma queixa de alguém, se tinha
sido tratada mal. Respondia que
não tenho nenhuma queixa de
nenhuma enfermeira. Toda vez ele
pergunta se eu tinha alguma queixa,
mas não tinha.
81
4. SENHOR NOVEMBRO
O mês de novembro tem seu nome originado do número correspondente a sua posição no calendário romano. Novembro vem do latim novem, que significa nove. Inicialmente, o ano era dividido apenas em 10 meses e começava no mês de março. Depois é que lhe foram acrescentados os meses de janeiro e fevereiro.
Que sejas ainda mais vivo No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo Ouve bem o que te digo Tempo
tempo tempo tempo... VELOSO (1981).
DUNCAN (1999).
Senhor Novembro, pseudônimo escolhido por ser o mês de seu
aniversário, de setenta e um anos de idade, mora em residência própria com
sua esposa. Pai de oito filhos, e avô de seis netos, reside no bairro de Felipe
Camarão, zona leste da cidade de Natal. Católico, mostra ter muita fé. A
confiança nesta fé fez de seu relato uma lição de esperança frente à
enfermidade. O corpo já debilitado pelo câncer, exibindo reações de tristeza,
deixava transparecer o desejo pela cura com auxílio da medicina e da sua fé,
na esperança de que dias melhores viriam.
Realizada no dia 15 de junho de 2012, com início às 9 horas 55
minutos, a entrevista aconteceu no quarto da residência do colaborador, onde
este se encontrava deitado em uma rede, que permaneceu durante toda
entrevista. Muito debilitado, Senhor Novembro relembra, com certa dificuldade,
sua trajetória de vida após diagnóstico da doença. No início, relata sobre o
problema cardíaco que, para ele, foi após este que descobriu o câncer. A
emoção transborda quando relata sobre a falta de condições de realizar seus
afazeres diários, necessitando constantemente de outras pessoas. Uma
passagem de destaque na entrevista ocorre quando fala da sua fé, pois
demonstra a esperança de ficar bom ou pelo menos diminuir o sofrimento
causado pela dor física, muitas vezes insuportável. Apesar da ocorrência de
alguns ruídos durante a entrevista gerando certa descontração, o objetivo
esperado pela entrevista não foi afetado.
82
Tenho muita fé. Fé em Deus que fico bom. Se Deus quiser. É
porque agora eu só posso pedir muita fé a Deus, né? Eu só posso pedir
muita fé a Ele. Muita vontade de ficar bom eu tenho, por isso, eu tenho
que ter fé, se não, não voga nada.
Eu caminhava todo dia lá
para o parque, o parque da cidade,
lá embaixo. Quando eu não ia pela
manhã eu ia à tarde. Foi quando eu
comecei a sentir aquelas coisas
ruins aqui, querendo travar meus
queixos assim, me apertando o
fôlego. Não sei como. Aí começou.
Tinham semanas e até meses que
não sentia nada, mas tinha mês que
aqui e acolá eu sentia. Até de noite
mesmo, quando eu ia dormir, eu
sentia. Quando eu me deitava que,
dormia um sono, acordava
chamando a mulher para fazer um
chá, pois não estava aguentando, e
me levantava. Ela ia e fazia o chá,
eu tomava, mas não passava.
Isso começou no mês de
outubro de dois mil e nove. Aí eu
fiquei aqui em casa, por aqui. Fui
fazer uma cobertura lá atrás com
meu genro, chegando para noite já.
Eu arranquei acolá uns canos, cavei
os buracos, quando terminei foi só
pra o que deu, foi só terminar...
Quando terminei, aí atacou a dor,
corri para o hospital, até hoje estou
aqui, assim, desse jeito. A dor era
aqui, aqui no peito. Daqui da
garganta, descendo aqui pras
costas.
Fui ao médico, quando
cheguei lá, ele disse que era
coração. Cheguei quase infartado
lá. Não cheguei infartado não, mas
cheguei quase. É que quando a
pessoa chega infartada vai direto
para a UTI, né? Mas eu não fui.
Fiquei por ali..., a médica me
examinou.
Esse problema (câncer
da próstata), essa doença de agora,
já foi outro, veio depois que fiz uma
operação no coração e que já tinha
melhorado. Fui para o Walfredo
(Hospital Walfredo Gurgel). Passei
dois meses lá, ou melhor, faltaram
dois dias para dois meses. Aí me
operei (do coração) e vim para
casa, passei uma porção de tempo
aqui, quando foi agora, no ano
atrasado (2010), antes do carnaval,
aí me atacou.
Eu senti quase a mesma
coisa. Aquele negócio travando aqui
83
meus queixos e me atacando o
fôlego. Aí deu uma dor nesse braço
(esquerdo), que até hoje aparece,
Ave Maria! É doído, e agora é o
outro, o outro que era o bom agora
parece que está doendo mais do
que esse. E fiquei por ali, eu sei que
chamaram o SAMU. O SAMU me
levou lá, para o Pescador (Hospital
dos Pescadores), de lá fui para o
Onofre (Hospital Universitário
Onofre Lopes). Dizem que cheguei
lá no Onofre quase atacado,
infartado. Sei que fui para UTI logo,
assim que cheguei lá entrei direto.
Ao chegar fiz um cateterismo, que
indicou uma veia entupida, a
mamária. Falaram em fazer uma
cirurgia. Não lembro o nome agora.
Mas graças a Deus não careceu
fazer. Aí passaram remédio e eu
comecei a tomar e fazer exames.
Fazia exame quase todo dia. E
fiquei doente até hoje, estou do jeito
que você está vendo.
Na próstata também eu
não sinto quase nada. Estou
fazendo os exames, esse tal de
PSA para levar para o médico. Eu
tomei essas três injeções agora
(quimioterapia) para ver como ficou,
depois das injeções. Vamos ver o
que ele vai dizer. Sinto dor no corpo
todo. Só não na próstata, na
próstata eu não sinto nada, é como
eu estou dizendo a você, eu não
sinto nada. É difícil, mas às vezes
eu vou urinar e dar aquele
ardozinho, mas é pouco. Não é
negócio de dor de fazer medo não.
Esta doença interferiu em
muita coisa na minha vida. Eu deixei
de fazer minhas coisas, não faço
mais nada e não tem quem faça. Se
tiver alguma coisa pra fazer tem que
pedir a meus filhos. Pedir a um e a
outro. Quando eu estava bom eu
fazia tudo e não pedia a ninguém...
Interferiu em muita coisa. Fazia
muitas coisas dentro de casa, varria
a casa e ajudava a mulher. Fazia
muita coisa, muito trabalho aqui
dentro de casa eu fazia. Hoje não
posso! Eu não posso quase nem
pegar em nada, é tudo doído, as
mãos doídas que faz medo, Ave
Maria!
Tenho setenta e um
anos. Tenho oito filhos e seis netos.
Estou aposentado. Aposentei-me
em novembro de 2009. Eu
trabalhava, aqui e acolá montando
móveis. Minha profissão é montar
móveis. Eu trabalhava na Casa
Porcino. Trabalhei só vinte e quatro
anos lá. Aí eu saí, me aposentei,
84
porque não estava aguentando
trabalhar mais, estava com uma dor
na coluna também. Adoeci da
coluna e quase fico aleijado, passei
uma porção de tempo aqui quase
andando pelas mãos do povo, ia
daqui para ali e não aguentava ficar
em pé, nem sentado e nem
andando. Tinha que me sentar,
andava daqui para ali, me sentava,
aí saía, quando passava a dor ia de
novo. Aqui nos quartos (região
lombossacral), ainda hoje dói
demais, Ave Maria! Tá aqui que tá
medonho atrás de doer.
Hoje não estou muito
bem de saúde, de jeito nenhum.
Sinto muita dor, procuro um jeito de
andar, de viver, pois é uma coisa
muito difícil. Quase não posso andar
direito aqui dentro de casa. Passo a
vida todinha aqui, deitado nesta
rede. É dor que não é brincadeira,
só você vendo.
Todos eles lá me
atenderam muito direitinho (no
hospital), muito bem, bem mesmo.
Nunca nenhum chegou com falta de
respeito para mim, nem com
ignorância, nem com nada. Todos
eles trabalharam excelentemente.
Quando fui tomar sangue, tava
sentindo falta de sangue mesmo. O
corpo estava naquele desânimo,
aquela coisa ruim e não tinha
sangue. Mas nunca explicaram
nada sobre o sangue não, não
falaram nada. Eu só tomei sangue
no banco de sangue (Núcleo de
Hematologia e Hemoterapia).
Depois que eu tomei me senti
melhor, fiquei bem, bem mesmo.
Vim arriar agora, como estou
dizendo a você, mas depois que
tomei o sangue foi só para
melhorar. Assim como eu doei para
outras pessoas, me doaram
também. Eu achei muito bom.
Quando foi agora, depois
que vim sentir esse problema,
depois dessas injeções que me
deram, para saber desse negócio
da próstata, foi aí que piorei. Eu
sinto que foi, mas já a mulher disse
que é por causa do remédio, eu não
sei.
A minha religião é a
católica, e minha fé em Deus, que
tenho, e muita, muita mesmo. O
povo só vive aqui atrás de me botar
para crente, mas eu não, não tenho
vontade. Pode ser que eu vá, mas
não tenho vontade. Pois é, só vivem
aqui a procura de me entregar a
Jesus, mas não sei por qual motivo.
Porque se a gente quando nasce já
85
é de Jesus, porque você vai se
entrega agora. Qual é o Jesus que
você vai se entregar? Qual é? Onde
é que tem outro? De onde foi que
veio esse outro? Eu pergunto a
eles, eles não sabem responder.
Pergunto! Eu pergunto que Jesus é
o deles? Por que o meu não é igual
ao deles? Por que eles me chamam
para me entregar ao Jesus deles,
por certo é outro, diferente. Eu
nunca vi e não quero ver.
Tenho muita fé. Fé em
Deus que fico bom. Se Deus quiser.
É porque agora eu só posso pedir
muita fé a Deus, né? Eu só posso
pedir muita fé a Ele. Muita vontade
de ficar bom eu tenho, por isso, eu
tenho que ter fé, se não, não voga
nada. Não tenho medo de morrer,
sabe por quê? A gente tem certeza
dessa viagem que temos de fazer.
Para que ter medo de morrer, não
tenho não. No dia em que Ele quiser
me tirar estou aqui, pronto. Vou
esperar para frente, vamos para
frente para ver o que vai acontecer,
né? Até aqui vai bem, graças a
Deus. Não vai melhor por causa
dessas dores, mas se Deus quiser,
Ele vai tirar essa dor de cima de
mim, se Deus quiser. Tenho fé Nele.
86
5. Senhora Dezembro
O mês de dezembro tem seu nome originado do número correspondente a sua posição no calendário romano. Derivação de um nome latino, decem, que quer dizer dez. Inicialmente, o ano era dividido apenas em 10 meses e começava no mês de março. Depois é que lhe foram acrescentados os meses de janeiro e fevereiro.
Peço-te o prazer legítimo E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo... VELOSO (1981).
DUNCAN (1999).
Senhora Dezembro, de cinquenta e oito anos, reside em casa própria.
Mãe de quatro filhos vive com seu esposo no bairro de Cidade Nova, zona leste
da cidade de Natal. É uma legionária das filhas de Maria, grupo de louvor dentro
da Igreja Católica. Portadora de uma fé fervorosa, externa em seu depoimento
uma lição de otimismo e esperança. Cheia de entusiasmo, apesar do corpo
enfraquecido pelo câncer, deixava transparecer reações de quem quer, com
auxílio da ciência médica, a cura e a certeza de dias melhores.
Realizada no dia 18 de abril de 2012, com início às 9hora e 45minutos,
a entrevista aconteceu na sala de jantar da residência da colaborada. Durante a
entrevista, alguns ruídos provocaram pequenas pausas, chegando a gerar certa
descontração sem, contudo, interferir no objetivo almejado da entrevista.
Serena e firme em seus relatos, Senhora Dezembro mantém um quadro
da “Santa Ceia” exposto no centro da sala, local onde se deu a entrevista, marco
de sua devoção e fé. Durante a entrevista se faz notar os risos permeados pela
fala e a memória que, mesmo enviesadas pela dor das cirurgias e dos
procedimentos hemoterápicos, não sucumbe à angústia ou à depressão, tão
recorrentes em portadores de câncer.
A vida, por mais ruim que seja é melhor que morrer..., eu acho a
minha uma maravilha! Tenho fé que vou vencer, se Deus quiser!
No início eu sentia muita
dor no pé da barriga, umas três vezes
deram dores fortes. Então eu tive que
fazer primeiro uma ultrassonografia.
Os médicos diagnosticaram logo que
era um mioma, e disseram que
estava grande e que estava
sangrando no momento em que eles
estavam fazendo a ultra. Após esse
exame, eu fui fazer outros pra
cirurgia, achando que era mesmo só
o mioma.
O médico me chamou,
conversou direitinho, explicou
tudinho, como é que tinha dado e o
que tinha que fazer. Eu disse tudo
bem! Se eu tenho que fazer, vamos
fazer.
Então, quando eu fui fazer
a cirurgia, que estava marcada para o
dia dezenove de outubro de dois mil e
dez, não deu certo! Ia ser por vídeo,
quando ele furou o umbigo, ele disse
que o aparelho não conseguia chegar
ao útero, era como se tivesse uma
pele dura, interrompendo. Ele não
conseguiu, interrompeu a cirurgia e
disse que não iria mais fazer, porque
não ia dar certo, poderia ser que
tivessem outros exames para fazer
antes de tentar a cirurgia outra vez.
Pediu uma biópsia e uma
ressonância.
Fui fazer os exames. Fiz
todos, inclusive os de sangue que
acusaram o CA 125. Acusou que
estava com câncer. Tive que fazer
todos os exames novamente para
começar a quimioterapia, para
diminuir (o tumor). Se não diminuísse,
teria que fazer a cirurgia, como de
fato eu fiz. No dia dezenove de
novembro, comecei a fazer a
quimioterapia. O médico passou oito
sessões. Fiz as oito sessões e parei.
Fiz novamente a ressonância para
ver como é que estava, e se já podia
fazer a cirurgia.
Fiz a cirurgia no dia
dezessete de agosto. Ontem fez oito
meses. Antes de fazer tudo isso, da
tentativa da primeira cirurgia, fiquei
muito anêmica, minha barriga
cresceu. Eu sei que foi juntando tudo
aquilo, parecia até um “caroção” só
no meio da barriga. Eu brincava, até
as meninas diziam, mesmo doente a
mulher manga dela mesma. Eu disse,
eu vou fazer o que, vou chorar?
Tenho mais que pedir a Deus
87
conforto para minha cirurgia dar
certo. Lá mesmo no hospital eu
pensava: “minha nossa!” Parecia
aquele lubim, aqueles touros bem
grandes que tinham aqueles lubinzão,
aquela coisa bem brande assim.
Graças a Deus, depois disso saiu
muito líquido, assim disse o médico,
depois de retirar o líquido e dar um
ponto no umbigo. O líquido foi
diminuindo. Quando cheguei em
casa, no outro dia, já estava bem
menor minha barriga. Com oito dias
minha filha veio tirar o ponto, onde
ele (o médico) tinha furado. Ela tirou
aqui mesmo em casa. À noite ainda
teve muita secreção, na região do
umbigo.
Mas antes disso eu já tinha
tomado sangue. Eu tomei a primeira
vez lá no Hemonorte, para começar a
quimioterapia. Depois do sangue que
tomei, melhorei bastante. Porque, ave
Maria! Era uma fraqueza tão grande,
não tinha condições de fazer nada.
Eu me sentava aqui na mesa para
descascar uma verdura, meus braços
pareciam que estavam assim caídos,
desistia, deixava e ia deitar. Mas
depois que tomei o sangue, fui
melhorando e de repente foi outra
vida.
Na minha vida mudou
muita coisa, ah, mudou sim! No
tratamento foi uma bênção. Porque
graças a Deus todos os dias foram só
progredindo. Só que, nos intervalos
das quimioterapias tive que tomar
sangue novamente, porque já estava
muito baixo (nível sanguíneo), todo
mês tenho que fazer exame pra ver
como é que está. Estava baixo de
novo, tive que tomar. O médico
passou (sangue) de novo, foi da vez
que eu tomei lá perto do Hospital
Onofre Lopes (Núcleo de
Hematologia e Hemoterapia). Tomei
duas bolsinhas, só que não lembro as
datas. Mas eu sei que tomei três
vezes. Tomei no Hemonorte para
começar, tomei lá perto do Onofre e a
terceira vez foi lá no Hospital Natal
Center.
Tenho cinquenta e oito
anos e sou do lar. No início da
doença não tinha condições de fazer
nada, fiquei muito fraca, mas depois
continuei nas mesmas coisas, graças
a Deus agora eu faço tudo. Tenho
quatro filhos que me apoiaram. Todo
88
mundo me apoiou, minha mãe, meus
irmãos e amigos. Minha casa era
cheia direto, de dia e de noite era
gente aqui em casa, graças a Deus!
Foi uma maravilha.
Depois que eu tomo o
sangue, eu não tenho reações, eles
explicaram que poderia ter. Tive da
quimioterapia que, de início, dava
uma coceirinha nas mãos. Tem gente
que diz que tem vômito e outras
coisas. Graças a Deus esse problema
eu não tenho. Sempre confiei e em
nenhuma vez desconfiei de nada não,
graças a Deus, foi só avançando para
o melhor.
Hoje estou bem, o
problema é só a pressão. Assim
mesmo, no dia em que eu vou fazer a
quimioterapia, chego lá e às vezes
está normal e às vezes está baixa um
pouquinho, porque é alta. Eu penso,
engraçado, quando eu chego lá, está
normal, às vezes tá baixa um pouco.
Eu não entendo, as meninas “diz” que
é porque eu fico nervosa. Eu não fico
nervosa para nada, graças a Deus.
Eu vou para o médico sozinha, se for
preciso. Eu já fiz uma cirurgia de
varizes, na cidade do interior, e fui
sozinha. Não sabia aonde era.
Peguei o ônibus na rodoviária e fui
embora. Porque tem gente que, por
qualquer coisinha, morre de medo de
médico.
Graças a Deus, todos são
maravilhosos. Internei-me três vezes
no Hospital Onofre Lopes para fazer
a cirurgia. O médico disse que ligaria
para mim quando tivesse alguma
vaga na UTI. Um dia, eu estava
tomando café, aí ligaram. Eu disse,
minha Nossa Senhora! Eu só
pensava que iria no outro dia. Assim
mesmo fui embora, sentindo-me feliz
da vida, porque iria fazer minha
cirurgia. Quando chegou lá, passei a
segunda e a terça-feira. Estava certo
que iria fazer na quarta-feira, mas na
quarta me deram alta pra vir pra
casa, pois não tinha vaga na UTI. Eu
disse, Misericórdia! Lá vem eu de
volta. Assim mesmo fui três vezes
para conseguir, para chegar o dia da
cirurgia. Tudo tem que ser no dia e na
hora que Deus quer.
Da primeira vez eu só
pensava em fazer essa cirurgia e ficar
boa, mas era só minha vontade, não
era a de Deus. Porque se fosse a de
89
Deus, tinha dado tudo certo desde o
início. Na minha fé, cada dia eu
caminho para melhorar, para
aumentar (a fé) cada vez mais,
porque sem Deus a gente não é
nada. Eu acredito que estou ficando
boa. Vou fazer esta última
ressonância para começar
novamente a quimioterapia.
Fui a outra médica, a
mesma que eu já tinha ido antes, foi
ela quem olhou os exames e disse
que tinha ficado um caroço pequeno
por trás da bexiga. Ela disse que
pode desmanchar com a
quimioterapia, mas se não
desmanchar vou ter que fazer
novamente (outra cirurgia) porque
essa doença a gente sabe como é.
Mas não tem problema nenhum! Eu
faço duzentas vezes se precisar, eu
quero é ficar boa!
Fui mostrar os exames a
outro médico, ele disse a mesma
coisa, mas eu falei, “não dizem que o
senhor vê tudo que tem dentro da
gente”. Ele achou graça e disse que
nem sempre era assim, porque tem
uns (nódulos) que na hora da cirurgia
é muito difícil de ver. Ficou esse que
ele não viu. Eu estava tão feliz
achando que tinha retirado tudo, que
não tinha mais nada. Se não fosse a
ciência avançada, os médicos para
nos atender, nos curar, abaixo de
Deus, o que seria?
Sou católica, graças a
Deus. Sou legionária, da legião de
Maria. As meninas vêm aqui e
perguntam quando é que vou voltar.
Eu digo, quando a mãezinha do céu
disser que eu volte, eu volto. Até
agora ela não disse para mim. Faz
um bocado de dias que não vou à
igreja. A vida depois da cirurgia
melhorou muito, Graças a Deus! Não
inchou mais.
Tem mais uma sessão de
quimioterapia no mês que vem. O
médico passou oito. Já fiz sete, essa
é a oitava. Vou fazer os exames para
ver se vai continuar ou se vou parar.
Eles lá são quem sabem.
Faz pouco tempo que
tomei sangue, não lembro a data. Eu
acho que quando tomei eram só as
taxas baixas. Às vezes eu sinto um
pouquinho de fraqueza. No início
parecia que tinha um besouro no meu
ouvido, que ficava zunindo. A
90
fraqueza era tão grande, que eu
ficava assim, mas depois que eu
tomei (o sangue) a primeira vez
melhorei, a segunda vez também, e a
terceira vez eram só as taxas que
estavam baixas. Não estava mais
com tanta fraqueza. Mas nunca senti
nada depois de tomar o sangue,
graças a Deus, só melhoras.
Os enfermeiros, graças a
Deus, são muito meus amigos, digo,
amigos da minha filha que trabalha lá.
Quando eu chego é só alegria. Faço
amizade com todo mundo, fiz no
Hospital Onofre Lopes, no banco de
sangue e em todos os lugares. Eu
não fico me importando porque fulano
faz isso ou aquilo. Eu trato bem todo
mundo, porque eu gosto também de
ser bem tratada.
Eu só tive um momentinho
triste nesses três internamentos. Eu
falei “meu Deus, eu não vou mais não
me internar”, minhas meninas
disseram: “você vai sim! Que
conversa é essa que não vai?” Foi só
isso, mas de ficar triste, pensar em
morrer, nunca! A vida, por mais ruim
que seja é melhor que morrer..., eu
acho a minha uma maravilha! Tenho
é que vou vencer, se Deus quiser!
91
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atendendo às exigências regimentais do programa de pós-
graduação os resultados, obtidos através da pesquisa, são discutidos através
de artigos.
5.1 ANEXAÇÃO DOS ARTIGOS
ARTIGO 1 :
“O enfermeiro e o contexto em reações transfusionais”.
Revista: Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online (ANEXO B)
(Qualis Capes em Enfermagem 2012: B2).
ARTIGO 2:
“Analise de história oral de vida de usuários de saúde oncológicos em uso de
hemotransfusão”
Revista: Revista Eletrônica de Enfermagem (ANEXO C)
(Qualis Capes em Enfermagem 2012: B1)
92
6.1.1 ARTIGO 1 – O enfermeiro e o contexto em reações transfusionais
The nurse and the context in transfusion reactions
La enfermera y el contexto en las reacciones transfusionales
João Evangelista da Costa1
Ana Michele de Farias Cabral2
Clélia Albino Simpson3
1 Enfermeiro, Mestrando do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da
UFRN. E-mail: [email protected]. Endereço: Av. Aeroporto dois de Julho, 345, Bairro: Emaús, Parnamirim/RN. CEP: 59149-316. Tel. (84) 88576624. 2 Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da
UFRN. E-mail: [email protected]. 3 Enfermeira, Doutora, Professora do Programa de Pós- Graduação do Departamento de
Enfermagem da UFRN. E-mail: [email protected].
93
RESUMO: O avanço tecnológico e o cuidado envolvido no processamento do sangue e dos seus hemocomponentes não isentam a hemoterapia de riscos, como ocorre nas reações transfusionais. O enfermeiro deverá observar alterações que possam ocorrer durante as transfusões e ser capaz de intervir, dando segurança aos usuários. Diante desse quadro, procuramos entender qual o papel do enfermeiro perante o usuário de saúde frente às reações transfusionais. Para responder à questão, optou-se pela inserção contextual como forma metodológica para analisar a atuação do enfermeiro nas reações transfusionais. Para este estudo, foi realizada a pesquisa por meio da revisão narrativa da literatura entre os meses de julho a agosto de 2011. Os resultados obtidos foram analisados e agrupados em diferentes situações da temática, tendo como referencial teórico Hinds, Chaves e Cypress. O estudo permitiu que a reflexão ajudasse a compreender a transfusão e suas prováveis reações nas quatro camadas contextuais. Palavras-chave: Enfermagem; Hemoterapia; Segurança Transfusional.
ABSTRACT: The technological advances and the care involved in blood and its components processing do not exempt hemotherapy from risks, as it occurs in transfusion reactions. The nurse should observe changes that may occur during transfusions and be able to intervene, giving security to users. On this situation, we try to understand the role of the nurse facing the user of health treatments in the context of transfusion reactions. To answer this question, we decided for the contextual insertion as methodology to analyze the performance of nurses in transfusion reactions. For this study, the research was performed through narrative review of the literature between the months of July and August in 2011. The obtained results were analyzed and grouped in different theme situations, with the theoretical reference being Hinds, Chaves and Cypress. The study allowed the reflection to help to understand transfusion and its probable reactions in four contextual layers. Keywords: Nursing, Hematology, Transfusion Safety.
RESUMEN: Los avances tecnológicos y el cuidado que participan en el procesamiento de la sangre y sus componentes no eximen a sus hemoterapia del riesgo, como en las reacciones transfusionales. La enfermera debe estar atento a los cambios que pueden ocurrir durante las transfusiones y ser capaces de intervenir, dar seguridad a los usuarios. Ante esta situación, tratamos de entender el papel de la enfermera a la salud del usuario en la frente de las reacciones transfusionales. Para responder a esta pregunta, se optó por introducir la metodología contextual como una forma de analizar el desempeño de las enfermeras en las reacciones transfusionales. Para este estudio, la investigación se realizó por medio de la revisión narrativa de la literatura entre los meses de julio y agosto de 2011. Los resultados fueron analizados y agrupados en diferentes situaciones de la materia, como la teoría de Hinds, Chaves y Cypress. El estudio permitió ayudar a la reflexión para entender sus reacciones a las transfusiones probable en cuatro capas contextual. Palabras clave: Enfermería, Hematología, seguridad de las transfusiones.
94
Introdução
O enfermeiro, como profissional de saúde, tem acompanhado o desenvolvimento
da hemoterapia, considerada como uma nova área para a enfermagem, atrelado ao avanço
da tecnologia e inovação. Atua tanto na captação dos doadores de sangue como no
atendimento destes nas unidades hemoterápicas no processo de doação. Este profissional,
na sua prática diária, atende aos usuários de saúde em todo o procedimento da transfusão
dos hemocomponentes, primando pela excelência desta prática1.
Reconhece-se que o critério de excelência requer alguns fatores relacionados ao
contexto, os quais são merecedores de atenção, pois ele encerra, em certa medida, um
agir responsável mediado pela compreensão do ambiente e das relações humanas que aí
ocorrem. Assim, propõe-se uma breve revisão contextual da atuação do enfermeiro na
prática transfusional, fazendo-se necessária uma busca por informações evidenciadas na
literatura pertinente que dê suporte teórico e legal aos profissionais.
O sangue e seus componentes são utilizados em usuários de saúde que necessitam
desta terapêutica para sua reabilitação. Mesmo com o avanço tecnológico e todo o cuidado
envolvido no processamento do sangue e dos seus hemocomponentes que, mesmo eficazes,
não a isenta de certos riscos. As reações transfusionais representam parte desses riscos2.
Ao administrar um hemocomponente o enfermeiro deverá observar algumas
alterações que possam ocorrer durante este procedimento. Refere-se as reações
transfusionais (RT), que podem ser imediatas, ou seja, aquelas que ocorrem durante a
transfusão ou até 24h após; a mediata que ocorre 24h após a transfusão, podendo demorar
dias ou meses para se manifestar3. Existem várias reações provenientes da administração
do sangue e seus componentes, recomendando-se que o enfermeiro tenha o conhecimento
necessário para esta intercorrência, pois alguns dos sinais e sintomas são de grande valia
para determinar o tipo de reação transfusional e a tomada de decisão para a conduta
terapêutica.
Observa-se no cotidiano que alguns enfermeiros não dão a devida importância
para este procedimento transfusional e seus riscos. Destaca-se, que não sendo bem
conduzida pode ter consequências drásticas para o usuário, levando-o, inclusive, à morte.
Diante dessas considerações, indaga-se: qual o papel da enfermagem diante do
usuário de saúde frente às reações transfusionais? Para responder à questão, optou-se pela
inserção contextual, como uma forma metodológica para analisar a atuação do enfermeiro
na área da hemoterapia com foco nas reações transfusionais.
95
Metodologia
Este estudo foi realizado por meio da revisão narrativa da literatura, que é uma
revisão que sintetiza e resume em termos narrativos, um corpo da literatura de pesquisa4.
Realizou-se a busca entre os meses de julho a agosto de 2011, e tem na fonte bibliográfica
seu aporte teórico. Intentou-se, averiguar, em espaços como os dados das unidades
hemoterápicas ou hospitais que comportem a hemoterapia como atividade de seus quadros
funcionais, a viabilidade da teoria.
Utilizou-se para este estudo as publicações impressas em livros e dissertações,
acrescido da busca de pesquisas online registradas nas bases de dados disponíveis na
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), englobando a Scientific Eletronic Library Online
(SCIELO) e a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). A
busca foi realizada através dos descritores indexadores para “enfermagem” e “contexto”;
e como descritores não indexados “reações transfusionais”. Consultou-se as resoluções
vigentes do Ministério da Saúde (MS) e do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN),
relacionadas ao tema.
Os resultados obtidos foram analisados e agrupados em diferentes situações da
temática através do referencial teórico de Hinds, Chaves e Cypress5. Esse referencial
utiliza as perspectivas de análise em quatro níveis contextuais, também chamadas de
camadas, que se inter-relacionam e, assim denominados: o contexto imediato, o
específico, o geral e o metacontexto. Esta articulação favorece a compreensão do
fenômeno da atuação do enfermeiro em reações transfusionais.
O contexto imediato focaliza o presente imediato, o fenômeno em si, e busca
respostas sobre sua ocorrência4. No contexto específico destacam-se o passado imediato,
os aspectos concretos relacionados ao fenômeno6. Para o contexto geral a subjetividade e
cultura influenciam diretamente a compreensão do fenômeno. E, o metacontexto diz
respeito aos elementos normorreguladores e políticos que condizem o fenômeno
estudado5.
Perspectivas e problemas da Transfusão - contexto imediato
No contexto imediato, ressalta-se a grande importância da atividade de
enfermagem, no que diz respeito a transfusão dos hemocomponentes considerada como
fonte de vida. E, como tal, envolve uma série de problemas, perspectivas e entendimento
em sua atuação contextual. Para isso, é necessária a compreensão do contexto que
envolve essa atividade para que os resultados daí provenientes, a manutenção da própria
vida, sejam os mais satisfatórios. A atuação efetiva do enfermeiro, assim, é primordial
para a minimização de prováveis riscos aí ocorrentes, sendo portanto, o contexto imediato.
96
Sabe-se que a transfusão é a transferência de sangue total ou de um
hemocomponente (de um doador) de acordo com as características de cada usuário de
saúde (receptor), e tem como finalidade prover as necessidades orgânicas de transporte de
oxigênio ou corrigir distúrbios da coagulação2. A utilização dos hemocomponentes
apresenta uma boa resposta terapêutica, mas não é completamente isenta de riscos. O
receptor pode apresentar vários sinais e sintomas, tais como: febre, calafrios, dor no local
da infusão, no tórax, no abdome ou nos flancos, hipotensão ou hipertensão arterial,
dispnéia, tosse, taquicardia, prurido, urticária, vômito, hemoglobinúria entre outros2.
Compete ao enfermeiro identificar o mais precocemente possível os sinais e
sintomas de uma reação transfusional, para evitar um dano maior ao receptor. Para isto,
antes da transfusão, um profissional da enfermagem deverá realizar todo procedimento
padrão de identificação do usuário de saúde através de, um breve exame físico, da
verificação dos sinais vitais e da confirmação da prescrição médica. Esta atividade poderá
ser realizada por um técnico em enfermagem habilitado com a supervisão do enfermeiro.
Durante o período de transfusão, o receptor deverá permanecer em rigorosa
observação, particularmente, nos primeiros dez minutos iniciais da transfusão que o
profissional deverá permanecer ao seu lado, observando possíveis reações6,7. Em caso da
identificação de um ou mais sinais e sintomas de uma reação transfusional, o enfermeiro
deverá ser capaz de, pelo menos, tomar as medidas cabíveis para cada um dos tipos de
reações.
Reação Transfusional - contexto específico
A transfusão acarreta benefícios e é um procedimento irreversível, mas podem
ocorrer riscos. Entre estes, estão as reações transfusionais que, na maior parte em que
ocorrem, por ser um evento indesejado, podem ser evitadas ou prevenidas. Chama-se a
atenção para o fato de que a enfermagem encontra-se na assistência direta ao usuário
transfundido, exigindo, dessa forma, que o enfermeiro tenha o conhecimento tanto dos
benefícios como dos prováveis riscos que a transfusão venha a acarretar.
As reações transfusionais classificam-se em imunológicas e não imunológicas, as
primeiras, são aquelas mediadas pelo sistema imunológico e, as segundas, são aquelas sem
associação com causas relacionadas às defesas do organismo. As reações são categorizadas
como agudas ou tardias, conforme sua relação com o momento em que ocorreu a
transfusão. Sabendo da rapidez do início dos sinais e sintomas e do mecanismo de ação,
podem-se avaliar mais adequadamente os riscos atuais e futuros, para a tomada de
medidas terapêuticas preventivas apropriadas8.
97
Portanto, na presença dos sinais e sintomas das reações, o enfermeiro deverá
intervir, neste que constitui o contexto imediato de uma transfusão. Nesse contexto, a
ação deve ser imediata, pois, o quanto antes, exige tomadas de decisões, estabelecendo
prioridades nas providências como meio e forma de minimizar os danos e desconforto
propiciados pela reação. Destaca-se que ações terapêuticas são adotadas
especificadamente para cada reação e sua sintomatologia. Objetiva-se, a melhora do
quadro clínico da intercorrência, minimizando os riscos e proporcionando conforto físico e
emocional, após as ações realizadas de acordo com os sinais e sintomas da reação
transfusional.
Neste contexto, a atuação da enfermagem diz respeito a suspensão da transfusão,
mantendo o acesso venoso, e concomitantemente, solicitar avaliação médica, enquanto
adota as seguintes medidas: manter o usuário confortável, aquecê-lo, checar as
identificações com finalidade de detectar possíveis não-conformidades, verificar e
comparar os sinais vitais com os verificados anteriores à transfusão, administrar
medicamentos prescritos, preencher ficha de notificação de reação transfusional,
comunicar ao serviço de hemoterapia e registrar no relatório de enfermagem2.
Num contexto específico, pode-se afirmar que a transfusão terapêutica de sangue
e seus componentes é utilizada em diversas situações clínicas e cirúrgicas. Em ambas as
ocasiões, tem como objetivo uma resposta terapêutica à manutenção da vida. Apesar de
eficaz, a decisão terapêutica de indicar uma transfusão sanguínea deve estar baseada na
relação entre os benefícios e os riscos, devendo cada usuário de saúde ter seu plano
individualizado9.
Esse contexto se caracteriza pela presença simultânea de um “passado imediato e
os aspectos relevantes da presente situação4. Existem vários riscos potenciais quando um
usuário é submetido a uma transfusão sanguínea, como as contaminações virais e
bacterianas e as reações que podem ser a reação hemolítica grave, complicações do
sistema imunológico do usuário, falhas e ou não-conformidades durante a execução do
processo, entre outros. Por isso, há necessidade de se conhecer as “circunstâncias”
adversas a ela relacionadas e a sua prevalência, a fim de facilitar a introdução de medidas
corretivas e preventivas que contribuam para aumentar a segurança transfusional6,7,8.
Neste contexto da transfusão e do plano terapêutico individual para cada usuário,
o enfermeiro poderá atuar diretamente no processo da transfusão bem como na
monitoração de alguma reação adversa proveniente deste procedimento10. Para isso, deve
estar atento, por exemplo, às manifestações de humor do usuário e de si mesmo, ao
ambiente em sua quantidade de barulho, ventilação e iluminação etc.
98
Papel do Enfermeiro na hemoterapia – contexto global
No contexto geral, o enfermeiro passou a se destacar atuando nas unidades
hemoterápicas, no atendimento ao doador e ao receptor do sangue. Nesse sentido, houve
um avanço para a enfermagem na área da hemoterapia no Brasil, iniciada na de 1990,
quando os enfermeiros que atuavam na área de hematologia e hemoterapia passaram a
discutir, em eventos científicos, o cuidado que o enfermeiro deveria prestar ao doador e
ao receptor em todo o ciclo do sangue2. Muitas de suas crenças anteriores passaram a
incorporar novas ideias e os procedimentos foram, com isso, cada vez se aperfeiçoando.
Para a prática do enfermeiro nas unidades hemoterápicas públicas e privadas,
houve a necessidade de uma legislação específica. Em março de 1997 o Conselho Federal
de Enfermagem (COFEN) publicou a Resolução 200, que dispõe sobre a atuação do
enfermeiro em hemoterapia e em transplante de medula óssea. Esta resolução foi
atualizada e revogada pela Resolução 306/2006, que se encontra em vigor1,11. Outro
importante marco para a enfermagem hemoterápica diz respeito à criação do curso de
Especialização nos Moldes de Residência de Enfermagem em Hematologia e Hemoterapia,
em 20021.
O enfermeiro participa na unidade hemoterápica da captação dos doadores de
sangue, fazendo a seleção destes através da triagem clínica, o gerenciamento da equipe de
enfermagem que executa a triagem hematológica, a coleta do sangue do doador, o
fracionamento e distribuição dos hemocomponentes a serem transfundidos11,12.
Diante dessas mudanças, a saúde vai ganhando novos contornos e as crenças
pessoais tem, inevitavelmente, “aderido” às conquistas que a área incorpora. Tanto
enfermeiro, quanto usuário vão “absorvendo” as informações e conquistas que o contexto,
de ordem geral, vai trazendo com o aprimoramento das pesquisas e os estudos específicos.
Saúde como um bem coletivo – metacontexto
Numa perspectiva da camada metacontextual, reforça-se o desenvolvimento da
hemoterapia. Portanto, é consensual, tanto da parte da enfermagem quanto dos usuários,
que a saúde é um bem coletivo e, por isso, tem suas responsabilidades de ação preventiva
e de inserção coletiva na melhoria do bem estar de todos.
Na história da hemoterapia, avanços sobre crenças de uso do sangue e sua
sintomatologia levaram as discussões a um âmbito em que poucas culturas não aderiram ao
uso de hemocomponentes. Tais conquistas, mesmo centradas no passado, revelam que o
presente e, consequentemente, o futuro, tem procurado o controle das condições de
enfermidade e superado crenças que, de certo modo, geravam certos entraves ao
conhecimento da área12.
99
O sangue passa a ser utilizado de forma terapêutica em meados do século XX.
Nessa época, a transfusão era realizada por um aparelho que passava o sangue do doador
diretamente para o organismo do receptor. Avanças na área da hemoterapia foram bem
significantes, podemos citar a descoberta dos anticoagulantes, que permitiram iniciar o
processo de armazenamento e estocagem do sangue, garantindo sua preservação in vitro.
Outro avanço importante foi a utilização de bolsas plásticas par fracionamento do sangue,
podendo de um único doador ser produzido vários hemocomponentes beneficiando mais de
um usuários de saúde13. Na contemporaneidade a hemoterapia difundida em todo o mundo
com atuação de forma interdisciplinar, reunindo médicos, enfermeiros, bioquímicos e
assistentes sociais entre outros profissionais da área da saúde.
Considerações Finais
Na área da hemoterapia, como uma área relativamente nova para a enfermagem,
traduzida pelas transfusões de sangue e componentes, acrescida dos seus benefícios e
riscos, pode-se observar uma série de questões e problemas envolvendo a atuação do
enfermeiro em sua relação com o usuário de saúde.
Portanto, procurou-se, no presente estudo, analisar a atuação desse profissional
na área da hemoterapia, tendo como foco as reações transfusionais em seu contexto. Para
isso, a abordagem teórica fundamentada foi buscada nos quatro níveis contextuais
propostos pelo método teórico de Hinds, Chaves e Cypress. Como o contexto justifica a
explicitação das ações e procedimentos, o que se verifica, aqui, é a necessária intervenção
do enfermeiro, bem como o domínio teórico das camadas que constituem tal contexto
(contexto imediato, específico, geral e o metacontexto) para, de posse desse
conhecimento, ser capaz de intervir de modo mais adequado em sua vivência e contato
com o usuário e demais pessoas envolvidas no processo.
Como desafio, procurou-se refletir, a partir da pesquisa bibliográfica, nos
encaminhamentos práticos por ora legados. O que se espera é que a reflexão presente
possa contribuir para a enfermagem hemoterápica, ajudando a compreender a transfusão
com as prováveis reações das camadas contextuais que, aqui verificadas para fins didáticos
e para um melhor entendimento de seu funcionamento, foram elencadas separadamente,
sabendo-se, entretanto, que fazem parte de um conjunto uno e indissociável e são
compostas entre si.
Referências
1. Silva MA, Torres GV, Melo GSM, Costa IKF, Tiburcio MP, Farias TYA. Conhecimento
acerca do processo transfusional da equipe de enfermagem da UTI de um hospital
100
universitário. Cienc Cuid Saude. [periódico on line]. 2009 [citado 15 2011]; 8(4):571-8.
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ed. Rio de Janeiro (RJ): Medbook; 2008. 3. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner &
Suddarth:Tratado de enfermagem médico cirúrgico. 10. ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara
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enfermagem. 5.ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2004. 5. Hinds PS, Chaves DE, Cypress SM.
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Federal do Rio Grande do Norte; 2008. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
Vigilância Sanitária/ Portaria Nº 1.353 de 13 de Junho de 2011. Dispões sobre os
procedimentos hemoterápicos. [on line] Brasília: Ministério da Saúde; 2011 [citado 24 Jul
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Schöninger N, Duro CLM. Atuação do enfermeiro em serviço de hemoterapia. Cienc Cuid
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File/11239/6082. 13. Pereima RSMR, Reibnitz KS, Martini JG, Nitschke RG. Doação de
sangue: solidariedade mecânica versus solidariedade orgânica. Rev Bras Enferm, [periódico
on line]. 2010 mar/abr [citado 22 jul 2011]; 63(2): 322-7. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?Script=sciarttext&pid=S0034-716720100002000 24.
101
5.1.2 Artigo 2 –História oral de vida de usuários de saúde oncológicos em uso
de hemotransfusão
Oral history of life of users of health care in oncology use of blood transfusion
Historia oral de vida de los usuarios de los servicios de salud en oncología uso
de la transfusión de sangre
João Evangelista da Costa1
Clélia Albino Simpson2
RESUMO:
O objetivo deste estudo é analisar narrativas de usuários de saúde com câncer em uso
de hemotransfusão, utilizando como metodologia a história oral de vida e análise de
conteúdo. Foram selecionados trechos das narrativas de cinco colaboradores e
identificadas, através de associação e definição de elementos comuns, três categorias de
análise: a primeira, o impacto no psicológico; a segunda, o impacto na socialização e a
terceira o impacto no ambiente do tratamento, surgidos em decorrência do uso da
transfusão sanguínea. Estas categorias buscam visualizar a relação entre o enfermo e si
mesmo e entre o enfermo e suas relações com o outro e com o mundo no qual interfere
e se faz modificar. Por fim, a análise direciona o enfermeiro para o entendimento da sua
prática, através do ponto de vista dos colaboradores, fazendo com que contribuam para
uma melhoria da assistência prestada.
Descritores: Enfermagem, Hemoterapia, História Oral de vida, Análise de Conteúdo.
ABSTRACT
The objective of this study is to analyze the narratives of users of health with the use of
blood transfusion in cancer using oral history as a methodology of life and content
analysis of. We selected excerpts from the narratives of five employees and identified
through association and definition of common elements, three categories of analysis:
first, the psychological impact, the impact on the second and third socialization
environmental impact of treatment encountered in due to the use of blood transfusion.
These categories seek to visualize the relationship between the patient and himself,
among the sick and their relationships with each other and with the world in which
_____________________________ Enfermeiro, Mestrando do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da UFRN. E-mail: [email protected]. Endereço: Av. Aeroporto dois de Julho, 345, Bairro: Emaús, Parnamirim/RN. CEP: 59149-316. Tel. (84) 88576624. 2 Enfermeira, Doutora, Professora do Programa de Pós- Graduação do Departamento de Enfermagem da UFRN. E-mail: [email protected].
102
interfere and modify it. Finally, the analysis directs the nurse to the understanding of
their practice, through the point of view of employees, making that contribute to
improved care.
Descriptors: Nursing, Hematology, Oral History of Life, Content Analysis.
RESUMEN
El objetivo de este estudio es analizar las narrativas de los usuarios de la salud con el
uso de la transfusión de sangre en el cáncer utilizando la historia oral como una
metodología de vida y el análisis de contenido. Se seleccionaron fragmentos de los
relatos de cinco empleados y se identificaron a través de la asociación y la definición de
los elementos comunes, tres categorías de análisis: en primer lugar, el impacto
psicológico, el impacto sobre el impacto de la socialización segundo y tercer ambiental
del tratamiento se encuentran en debido a la utilización de la transfusión de sangre.
Estas categorías tratar de visualizar la relación entre el paciente y él mismo, entre los
enfermos y sus relaciones con los demás y con el mundo en el que interferir y
modificarlo. Finalmente, el análisis dirige la enfermera a la comprensión de su práctica, a
través del punto de vista de los empleados, haciendo que contribuyen a la mejora de la
atención.
Descriptores: Enfermería, Hematología, Historia Oral de Vida, Análisis de Contenido.
INTRODUÇÃO
Seguindo tendência mundial, houve mudanças no perfil epidemiológico das
enfermidades que acometem a população brasileira. A partir dos anos 1960, as doenças
infecciosas e parasitárias deixaram de ser a principal causa de morte, sendo substituídas
pelas doenças do aparelho circulatório e pelas neoplasias. Nesse último caso, o câncer se
destaca por ser uma doença de genes vulneráveis à mutação, especialmente durante o
longo período da vida humana. Fatores como envelhecimento da população, o intenso
processo de urbanização e das ações de promoção e recuperação da saúde, e uma
exposição maior dos indivíduos a fatores de risco cancerígenos contribuíram para este
crescimento(1).
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA)(1), câncer é o nome dado a um
conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado
(maligno) de células. O que determina a formação de tumores é a divisão rápida e muito
agressiva e incontrolável dessas células, podendo se espalhar por todo o corpo
(metástase – metástasis, palavra grega significando “deslocamento”, “mudança de
lugar”), formando tumores em outros locais. As causas do câncer são variadas, podendo
ser externas e internas ao organismo. As causas externas referem-se ao meio ambiente
e aos hábitos ou costumes, enquanto que as causas internas são, na maior parte,
103
geneticamente pré-determinadas, e estão vinculadas à capacidade do organismo de se
defender dessas agressões(2).
Existem atualmente vários métodos terapêuticos para o tratamento do câncer como
as ressecções cirúrgicas, radioterapia, quimioterapia, bioterapia e a hormonoterapia,
sendo a cirurgia, na maioria dos casos, o tratamento inicial e de escolha para vários tipos
de cânceres. O tratamento quimioterápico também é uma das modalidades de escolha
para produzir a cura, controle e paliação. Neste tratamento, são usadas substâncias
citotóxicas administradas principalmente por via sistêmica (endovenosa). Os
quimioterápicos, contudo, não atuam exclusivamente sobre as células tumorais. As
estruturas normais que se renovam constantemente, como a medula óssea, os pelos e a
mucosa do tubo digestório são também atingidas pela ação destes medicamentos. Os
efeitos terapêuticos e tóxicos dos quimioterápicos dependem do tempo de exposição
destes na concentração plasmática. A toxicidade é variável para os diversos tecidos e
depende do tipo do medicamento usado(3-4).
Por isto a anemia é uma ocorrência comum em usuários com câncer e contribui
para o aumento da sintomatologia e a piora da qualidade de vida, necessitando
geralmente de transfusões sanguíneas. Há também o risco de sangramento durante o
tratamento quimioterápico, pois o sangramento está relacionado com a gravidade da
plaquetopenia, necessitando constantemente de transfusão de plaquetas(5). A transfusão
adquire função vital, é um procedimento complexo que pode trazer benefícios, mas
também pode trazer riscos. O sangue, por ser um produto biológico carregado
intrinsecamente de vários riscos, em transfusão, pode provocar complicações, a exemplo
das reações adversas que podem ocorrer durante ou após o processo, e com severidade
pode variar de reações leves a reações fatais(6).
O enfermeiro que participa desta terapêutica tem que ter o entendimento de todo
processo que envolve a transfusão e conhecer tanto dos benefícios, como dos prováveis
riscos que ela venha acarretar, evitando alguns riscos desnecessários(6-7).
Imbuído da responsabilidade e do tratamento de muitos desses usuários, o
enfermeiro procura ouvir e aprender com suas histórias, com suas “lições” de vida. Nesse
sentido, procurou-se, para o presente estudo, através da história oral de vida, entender
como esses portadores de câncer enfrentam uma doença tão estigmatizada e que causa
muito sofrimento e, em decorrência deste diagnóstico e do seu tratamento, como foi
percebido e internalizado o uso da hemoterapia como suporte terapêutico.
Portanto, pode-se destacar na presente pesquisa o objetivo de analisar narrativas
dos usuários de saúde com câncer em uso de transfusão sanguínea, avaliando o impacto
causado pela doença e pela transfusão na vida dos colaboradores. Desse modo, espera-
se divulgar não apenas resultados à área da saúde, mas, e principalmente, revelar o
104
traço de humanidade por trás dessas pessoas em um momento tão delicado e incisivo na
definição de suas vidas.
MÉTODOS
Este estudo consiste de uma pesquisa exploratória-descritiva com dados
prospectivos e abordagem qualitativa. Foi utilizada como método a história oral de vida,
por ser um campo multidisciplinar e oferecer apreensão de princípios da subjetividade
humana que, através da narrativa de vida, deixam entrever suas experiências e seus
significados(8). Para a interpretação das narrativas dos colaboradores, a técnica de
análise de conteúdo temático(9) serviu como ponto de partida.
Neste estudo foi utilizada a entrevista não-estruturada para coleta das narrativas,
por considerar que esta técnica possibilita ao entrevistador uma maior flexibilidade e
liberdade de desenvolver situações em qualquer direção que considere mais adequado e
em seguida realizada a transcrição, a transcriação e a conferência pelos colaboradores,
que assinaram a carta de cessão, autorizando, sem restrições, o uso do material.
Quanto ao alcance do objetivo proposto, discutiram-se trechos das entrevistas de
cinco colaboradores que fazem parte da pesquisa “Trajetos no Labirinto: História de vida
dos portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões sanguíneas na cidade de
Natal/RN”, estudo em andamento, do mestrando João Evangelista da Costa, do Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN).
Nos trechos investigados, os nomes dos colaboradores foram substituídos por
codinomes, mantendo-se o anonimato, preservando suas identidades, segundo as
normas de ética da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Os
codinomes, ou pseudônimos aplicados tiveram nomes de meses do ano, por
comportarem, simbolicamente, em seus significados, a ação do tempo sobre o ser
humano. Das falas coletadas, procurou-se fazer recortes das narrativas que remetessem
a aspectos da relação entre a doença e os impactos a ela relacionados, como também no
uso da hemoterapia.
O trabalho tem parecer do comitê de ética da Liga Norte Riograndense contra o
câncer, sob número 001/001/2012. Os colaboradores assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As entrevistas tiveram um direcionamento
através da formulação das “perguntas de corte”, elemento fundamental e comum pelo
qual devem passar todos os entrevistados.
Na análise dos dados, o trabalho deteve-se na interpretação das falas dos
colaboradores, valorizando o significado da narrativa implícita. Para tanto, foi trabalhada
a categorização com base no material narrado, agrupando-se elementos, ideias ou
expressões.
105
RESULTADOS:
Com base na cuidadosa leitura das narrativas das histórias orais dos colaboradores,
após receberem o diagnóstico do câncer e de como passaram a fazer uso de
hemocomponentes no seu tratamento, passou-se a direcionar o objetivo no sentido de
delinear categorias de análise para interpretação das narrativas. Conhecendo as
especificidades, com a identificação do tom vital e da decodificação dos dados, as
narrativas orais de vida passaram a compor o quadro das questões mais específicas das
necessidades e encaminhamentos que o contexto da pesquisa visava “descortinar”.
Nesse caminho, tais histórias permitiram identificar o tom vital das falas. O tom
vital “funciona como um farol a guiar a recepção do trabalho”(8). Uma vez identificado,
ele forneceu pistas e subsídios para a construção das categorias de análises, apontando,
em seus desdobramentos, as palavras e situações que melhor podem representar uma
essência e o sentido daquelas narrativas.
Uma vez identificado o tom vital das narrativas em questão, procede com a
organização dos dados coletados, transformados em conteúdos temáticos(9), através da
codificação das entrevistas, descrevendo as falas, recortando e isolando os trechos dos
relatos que estavam mais caracterizados.
Na orientação à discussão e análises que seguem quanto aos procedimentos de
identificação dos casos, foram indicados, através de associação e definição de elementos
comuns, três categorias de análise.
A primeira se refere ao impacto no psicológico, que se norteia pela constatação dos
sentimentos, da fé e da vontade de viver, envolvendo, aí, o diagnóstico e a dor como
sofrimento em decorrência das fases da doença. Essa categoria de análise pode ser
definida pela presença de elementos ligados à subjetividade e à individualidade, com
seus valores internos e modo particular do sujeito se relacionar, primeiro consigo e
depois com o outro. Aí aparecem os sentimentos que se encontram fortemente
imbricados na condição humana e nas relações que mantêm com o mundo e com meio
em que se vive.
Com o aparecimento de uma doença grave, como o câncer, o enfermo se mostra
psicologicamente vulnerável. É neste período que se pode notar um afloramento de
sentimentos como a religiosidade e a fé. Para muitos doentes, é através da dor que este
sentimento é testado. E o câncer, por ser uma doença devastadora, e que causa muita
dor e sofrimento, deixa emergir sentimentos os mais diversos que, em várias nuances,
procuram conforto e alento.
Como o câncer, outras doenças graves como o HIV/AIDS, tuberculose, hanseníase,
entre outras, afetam psicologicamente seus portadores. Um exemplo disso está no
relato de história oral de vida do Senhor Hortêncio, um ex-doente de hanseníase, que
conta sua experiência no livro “Amor à vida não me faltou: trajetória de vida de um ex-
106
doente de hanseníse”(10), onde ele narra toda perturbação mental e os transtornos que a
doença causou.
O câncer não é uma doença simples, podendo ser definida como “assassina”, um
inimigo demoníaco e letal(11). É uma doença de superprodução e de crescimento de
células malignas, é expansionista, invadindo os tecidos e estabelecendo colônias,
causando asfixia com a quantidade de células em excesso(12).
Diante destas pormenorizações tão perturbadoras sobre o câncer, aqueles que têm
esta doença, supondo e imaginando as agruras pelas quais irão passar, agarram-se a
todas as possibilidades possíveis, como forma de diminuir os sofrimentos, atrelando a
isso sentimentos como a crença e o apego em uma realidade não apenas material, mas
extrassensorial, com a crença em um Ser supremo e justo.
A segunda categoria de análise aponta para o impacto na socialização, revelando as
mudanças nas amizades e no grupo de pertença. Nesta categoria, procura-se também,
dissociado do psicológico, envolver as perspectivas do trabalho, suas variações em torno
das atividades desenvolvidas cotidianamente. Vale lembrar que o psicológico e as
atividades sociais caminham juntos, não funcionam como etapas estanques. Contudo, o
que interessa para fins didáticos à análise aqui posta é que, ao abrirmos essa divisão,
procuramos dar relevância aos estados mentais e emocionais, chamando atenção para a
aproximação entre a subjetividade e sua relação com o mundo exterior mais próximo.
A família de um portador de uma doença grave, como o câncer, desempenha um
papel predominante, e o cuidado e a atenção fazem grandes diferenças no tratamento.
Quando o enfermo é obrigado a ficar acamado ou a diminuir suas funções ou até mesmo
ficar hospitalizado, isso pode causar mudanças radicais na organização da vida familiar,
principalmente no que concerne aos papeis antes delimitados no lar. Quando o doente é
um dos chefes da família, o que fica responsável pela casa terá de se adaptar a nova
realidade. Se este for o esposo, a inversão dos papeis fica mais difícil de ser aceita, pois
aí concorrem valores pessoais, culturais e históricos muito marcantes para cada
indivíduo. A mudança de papeis tende, assim, a ser mais um elemento de mudanças e
sofrimentos no contexto inserido, levando homem ou mulher a terem que se adaptar às
novas rotinas, o que geralmente produz muito transtorno(13).
A terceira e última categoria aqui sugerida, o impacto do ambiente no tratamento
e da transfusão sanguínea, indica a recepção do doente no local em que está sendo
cuidado, bem como revela ações e procedimentos dos especialistas da área da saúde no
zelo ou indiferença com esses usuários. Procura ainda expandir seu alvo para o contato
dos usuários com os processos surgidos em decorrência do uso da transfusão sanguínea,
revelando a conformação ou a revolta em face do vivido.
Vale lembrar que tais categorias, antes de se excluírem, corroboram com a criação
de um quadro em que o conjunto deve ser capaz de proporcionar um olhar mais
107
humano, crítico e criterioso acerca do portador de doenças graves. Cabe recordar, ainda
que “Doenças de longa duração que persistem mais tarde na vida cobram um preço
emocional e têm um impacto na capacidade de trabalhar, na vida social e nas atividades
recreativas”(14).
Isso posto, é justamente a partir deste “preço emocional” e seus impactos que se
registram, a seguir, as categorias com as quais buscou-se visualizar um pouco da relação
entre enfermo e si mesmo, entre enfermo e suas relações com o outro e com o mundo
no qual interfere e se faz modificar.
Após o delineamento das categorias de análise, segue a análise propriamente dita.
Nesta etapa “os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos
(‘falantes’) e válidos”(9). Tratar, neste caso, significa codificar, transformar o texto em
unidades, delineando e transformando segundo regras precisas.
DISCUSSÕES
Impacto no Psicológico. Abalada a estreita ligação com a subjetividade, o doente
passa a ver o mundo, nesta perspectiva, como lugar de tormenta, de provação e de
desafios que precisam ser vencidos. Fragilizado, portanto, busca alguma forma de
conforto.
Mesmo diante desse quadro de melancolia, muitas vezes beirando a depressão, o
que pode ser observado, em vários relatos aqui transcritos, é a presença em uma fé que,
em face de tanto sofrimento, dor e angústia, é expressa de modo intenso, depositando
em Deus o motivo da esperança e da crença de melhorias na enfermidade, com alívio das
dores e até mesmo a cura da doença. Assim, vejamos algumas passagens dos trechos de
falas dos colaboradores:
A saúde a cada dia que passa tá ficando mais deficitária. E eu acho que daqui para
frente a solução é só esperar que Deus ilumine ou..., que venha o pior, que espero que
não. Porque eu tenho muita fé. Tenho cinquenta e oito anos de idade, acredito ainda que
tenho muita vida pela frente. (Senhor Abril).
Sempre tive fé, toda vida tive esperança que eu ia ficar bem. Portanto estou aqui.
Eu sempre tive muita fé, muita fé mesmo de ficar bem, principalmente na hora do
transplante, que é muito doloroso. Mas eu sempre tinha uma esperança de ficar boa. E
estou aqui, graças a Deus. (Senhora Maio).
Cabe ressaltar, conforme transcrito, certa reiteração acerca da crença em fatos
positivos, todos eles vindos em decorrência do sentimento religioso provocado pela fé.
Pois, como se sabe, uma vez diagnosticada uma doença tão exprobrada quanto o câncer,
o doente é acometido de sentimento de desesperança e de associação com a morte,
fazendo com que esse enfermo passe por estágios de visão negativa com a vida, ao se
defrontar com uma notícia tão trágica.
108
Por isso, passam a utilizar diversos mecanismos de defesa e luta, em situações de
extrema dificuldade psicológica e também física. Afloram, assim, nesse caminho,
sentimentos diversos, podendo o portador do câncer aceitar ou não a doença. Estes
mecanismos são estágios denominados de “comportamentais ou psíquicos” que incluem
a negação, raiva/revolta, barganha, depressão e aceitação. Tais fases podem ocorrer
nesta ordem apresentada, mas isso não é obrigatoriamente necessário; como as reações
que indicam cada uma delas, podendo coexistir em um mesmo momento, tendo
durações variáveis, quando uma substituirá a outra ou se encontrará, às vezes, lado a
lado. Em todos estes momentos, a esperança é a única coisa que geralmente persiste(13).
Nos segmentos de relatos abaixo citados, podem ser visualizadas as fases
comportamentais ou psíquicas mencionadas. Vejamos:
Eu estou triste mesmo. Porque a gente fica triste. Porque fica doente muito tempo,
tem que ficar boa, não é? A gente se sente triste. O médico disse que eu só estava
vivendo por causa desses tratamentos. Será que os médicos..., só Jesus é quem sabe. Eu
tenho fé em Deus que eu fico boa. Eu tenho fé também nos medicamentos, que tem vez
que eu tô muito doente, eu tomo e melhoro mais. (Senhora Fevereiro).
Pela voz da Senhora Fevereiro pode ser observada certa ênfase na tristeza: “Eu
estou triste mesmo”, ou “A gente se sente triste”. Estatísticas mostram que em torno de
58% dos usuários de saúde com câncer apresentam depressão, e que algumas condições
clínicas como dor não controlada, alterações metabólicas e alguns medicamentos usados
podem estar associados a este quadro psicológico(15).
Senhor Abril, sabendo desde o início o seu diagnóstico, sem grandes possibilidades
terapêuticas, passou por todos os estágios mencionados, da negação à depressão,
chegando agora ao estágio que tem na aceitação sua maior contribuição. Vejamos um
trecho da sua fala que evidencia isso:
Nesse tratamento o único diagnóstico que deram, até hoje, foi um CA de próstata,
somente. Até minha medicação é uma só, baseada no pamidronato, eu tomo e faço
quimioterapia de quatro em quatro meses ou de cinco em cinco meses, quando precisa
mesmo. [...] Agora uma coisa que eu nunca perco é a esperança de vencer. É o câncer?
É! Tem solução? Não! Não tem ainda não, mas vamos ter, então vamos procurar ela.
(Senhor Abril).
Nesse quinto e último estágio, persiste a esperança, traço que desde o início
promove mecanismos de luta e de resistência em não se entregar à doença. A
possibilidade de cura e a coragem em acreditar na criação de novos produtos
impulsionam o doente de câncer a ter esperança. Desse modo, o enfermo procura, na
confiança interna ou fora de si, mecanismos que deem força e coragem no desafio da
cura. Condição percebida no discurso marcado pela assimilação de respostas benéficas e
positivas no enfrentamento ao câncer.
109
Quando soube da donça não fiquei muito chocada não. A gente se emociona
porque, um choque desse, todo mundo fica..., chorei, mas depois fiquei tranquila porque
eu falei: se eu me aperrear não vai dar jeito! Então fiquei mais calma. Lá fiz o
tratamento e tudo mais. Tive esperança. O doutor disse que eu tinha muita chance de
ficar bem. Então aceitei tudo, tudo normal. (Senhora Maio).
No relato da Senhora Maio, enfaticamente positivo, é possível perceber uma
insistência por afirmações à vida, quando do diagnóstico da doença. Mesmo enfrentando
todo o desconforto em se saber gravemente enferma, consegue chegar e atingir estágios
de aceitação em que a garra e a fé perpassam sua crença na relação vida e morte.
Na fala do Senhor Novembro, posta a seguir, o incômodo pelas reações da
enfermidade se fazem notar mais nitidamente, provocando uma posição mais enfática
para com a crença:
Sinto dor no corpo todo. Só não na próstata, na próstata eu não sinto nada, é
como eu estou dizendo a você, eu não sinto nada. É difícil, mas às vezes eu vou urinar e
dá aquele ardozinho, mas é pouco. Não é negócio de dor de fazer medo não. Tenho
muita fé. Fé em Deus que fico bom. Se Deus quiser. [...] É porque agora eu só posso
pedir muita fé a Deus, né? Eu só posso pedir muita fé a Ele (Senhor Novembro).
É possível de se observar processo semelhante de assimilação do impacto
psicológico em sua vivência no caso da Senhora Dezembro, vejamos o trecho:
Fui fazer os exames. Fiz todos, inclusive os de sangue que acusaram o CA 125.
Acusou que estava com câncer. Tive que fazer todos os exames novamente para
começar a quimioterapia, para diminuir (o tumor). Se não diminuísse, teria que fazer a
cirurgia, como de fato eu fiz. No dia dezenove de novembro, comecei a fazer a
quimioterapia. O médico passou oito sessões. Fiz as oito sessões e parei. Fiz novamente
a ressonância para ver como é que estava, e se já podia fazer a cirurgia. [...] ficar triste,
pensar em morrer, nunca! A vida, por mais ruim que seja é melhor que morrer...,
(Senhora Dezembro).
Contudo, o tom psicológico de como lida com os fatos denota um maior
fortalecimento pessoal, que a deixa mais confiante no tratamento, encarando a doença
como mais uma etapa a ser vencida. Chama atenção, em seu relato, o modo de
aceitação, o que provavelmente tende a superar outros estágios da doença, revelando
que o fortalecimento psíquico está intimamente ligado à crença, que a deixa em
vantagem em relação a outros doentes, preparando-a para enfrentar problemas
decorrentes, como o aumento do sofrimento e da dor. Nessa perspectiva, a aceitação e a
superação tendem a criar formas de enfrentamento mais resistentes à doença(13). A dor
faz parte da vida do ser humano e tem função protetora à integridade física ou funcional
do homem, mas pode proporcionar sofrimento desnecessário, nocivo ao estado físico
quanto emocional do indivíduo(16).
110
O relevo que se estabelece à dor surge na iminência de, ante uma doença crônica
como o câncer, se figurar como um elemento constante na vida destes usuários de
saúde. Isto pode ser observado nas passagens descritas abaixo:
Sinto muita dor, procuro um jeito de andar, de viver, pois é uma coisa muito difícil.
Quase não posso andar direito aqui dentro de casa. Passo a vida todinha aqui, deitado
nesta rede. É dor que não é brincadeira, só você vendo. (Senhor Novembro).
Impacto na socialização. Os transtornos advindos com a nova realidade e as
preocupações com o ente querido vêm acrescidos do aumento de responsabilidades e de
trabalho, juntando a tudo isso, muitas vezes, a busca pelo isolamento e a solidão. A
esperada ajuda de parentes e amigos pode, nesse sentido, aliviar um pouco o sofrimento
causado por esta fase tão difícil. Observam-se nos relatos abaixo o tratamento e o
cuidado dispensados pelos familiares diante do doente:
Ele (o filho) vem sempre aqui. Tem dia que ele vem todo dia. Tem dias que passa
um pouco de dias sem vir. É carinhoso, passa um pedacinho e vai-se embora, que ele
também fica triste de me ver doente. Elas cuidam bem (as irmãs). Sou a mais velha de
todas. [...] Depois da doença minha vida mudou. Quando eu andava, era sempre melhor,
sempre. Eu vejo o povo conversar, vejo o povo ter alegria, mas eu mesma, para mim
tanto faz como tanto fez. Perdi a alegria... (Senhora Fevereiro).
Os sintomas frequentemente vivenciados por estes usuários de saúde, como a
fadiga, dor, dispneia, alterações cognitivas, perda de apetite, caquexia, náusea e
depressão, podem ser apontados. Estes sintomas, além de debilitar os doentes, também
afetam seus familiares, podendo interferir no relacionamento entre eles e também nas
atividades diárias e no trabalho(17).
Dos sintomas citados a fadiga é um dos mais relatados pelos portadores de câncer,
havendo divergência na definição deste sintoma. No entanto, é consensual que esses
sintomas estejam envolvidos por aspectos físicos e psíquicos, “podendo ser considerado
uma síndrome”(17). A fadiga é a sensação de cansaço extremo devido à combinação de
sintomas físicos e mentais. Praticamente universal nos estágios finais da doença(1). Este
sintoma restringe de forma significante as atividades diárias e reduz a disposição para o
trabalho(17), não sendo diferente para os colaboradores, o que fica bem evidenciado nos
relatos abaixo:
Isso tudo interferiu muito na minha vida, porque a gente fica..., não tem mais a
resposabilidade de dona de casa, tem que entregar as obrigações aos outros. Aí muda
muito. (Senhora Maio).
Esta doença interferiu em muita coisa na minha vida. Eu deixei de fazer minhas
coisas, não faço mais nada e não tem quem faça. Se tiver alguma coisa pra fazer tem
que pedir a meus filhos. Pedir a um e a outro. Quando eu estava bom eu fazia tudo e não
pedia a ninguém. (Senhor Novembro).
111
Impacto do Ambiente no Tratamento e da Transfusão Sanguínea. Estas categorias
estão definidas pelo impacto que o local do tratamento contribuiu/determinou na terapia,
e o impacto causado pelas transfusões sanguíneas no tratamento destes colaboradores.
Entende-se que o principal local para o diagnóstico da doença, e onde se inicia a
terapêutica, é o hospital; as residências dos usuários de saúde devem ser a extensão
dele. O hospital “É parte integrante de uma organização médica e social, cuja função
básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e
preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se
também em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em
saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e
orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente”(18).
Contudo, o hospital é visto, muitas vezes, pela sociedade, como um ambiente de
muito sofrimento, tanto pelas condições da assistência prestada como também pelo
próprio estado de vulnerabilidade e de dor em que se encontra a maioria dos usuários de
saúde. Mas hoje, com o desenvolvimento da medicina e da enfermagem, o hospital está
assumindo uma nova “feição”, superando, aos poucos, a distinção que existia entre o
atendimento curativo e o preventivo.
No hospital que se vê mais claramente a vulnerabilidade do ser humano. Neste
ambiente nosocomial que o usuário de saúde busca forças para lutar contra sua
enfermidade, e até mesmo como vencer a morte. A internação é tida como uma
experiência desagradável para quem a vivencia. Muitos desses usuários têm consciência
do que possa vir a acontecer: não conseguir ficar curado da doença e morrer no hospital.
Além de todos estes problemas citados, os usuários ainda passam a conviver com
profissionais de saúde e seus vocabulários científicos, aparentando que a sua doença
consiste ser maior do que ela significa na realidade. No período de internamento, na
maioria das vezes, a atenção maior da equipe se direciona para o diagnóstico e pouco
dirigida para o indivíduo doente. Isto faz com que a individualidade de cada pessoa seja
silenciada, e, uma vez não exposta, tendem a não ser percebidos os medos, a
insegurança, as preocupações, as necessidades e as angústias, que podem levar o
indivíduo pensar até mesmo no seu próprio fim(19).
No entanto, mesmo em face dos dados do Ministério da Saúde e diante de tanto
receio que causa o hospital na vida do usuário, observa-se nos relatos abaixo uma
conformação no tratamento recebido no local onde foram internados:
Fui muito bem atendida nos hospitais. Fui internada no Hospital Walfredo e no
Hospital da Polícia, só nesses dois hospitais. E às vezes fui ao pronto socorro e só.
(Senhora Fevereiro).
Mas o atendimento no hospital polícia militar foi muito bom. A medicação toda
correta, o pessoal atendendo no horário certo, não deixando passar o horário da
112
medicação, muito corretos eles. Quando eu ia tomar o sangue eles explicavam. Inclusive
no banco de sangue, aqui da UFRN, muito bom! O pessoal muito profissional. (Senhor
Abril).
A eficácia técnico-científica e a racionalidade administrativa nos serviços de saúde,
quando não acompanhadas de princípios e valores como a solidariedade, o respeito e a
ética na relação entre profissionais e usuários, não são suficientes para a conquista de
uma assistência humanizada. Para isso, é necessário estar bem definido na consciência
dos profissionais de saúde o que vem a ser humanização(20).
O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH - pontua
que a humanização: “é entendida como o valor, na medida em que resgata o respeito à
vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes
em todo relacionamento humano. Esse valor é definido em função de seu caráter
complementar aos aspectos técnico-científicos que privilegiam a objetividade, a
generalidade, a causalidade e a especialização do saber”(20).
A razão de existência de um hospital é cuidar da saúde da comunidade, que esta
assistência seja integral, e que o trabalho de todos os profissionais tenha um só objetivo,
cuidar da saúde e da vida das pessoas(20). É, pois, dentro dos diversos tratamentos
proporcionados pelos hospitais que a hemoterapia ocupa seu espaço, agindo no processo
terapêutico na utilização do sangue e seus componentes como tratamento.
Como procedimento comum a todos os colaboradores, a hemoterapia foi utilizada
como tratamento à reabilitação de um quadro clínico surgido em decorrência do
agravamento do câncer. Em função disso, no relato adiante, procura-se evidenciar que
as orientações sobre a transfusão, seus riscos e benefícios foram explicados, com
reservas, aos usuários:
Quando eu ia tomar o sangue eles explicavam. Inclusive no banco de sangue, aqui
da UFRN, muito bom! O pessoal muito profissional. Quando eu estive lá, eles me
aconselharam a tomar duas bolsas de sangue num dia e duas no outro. Antes disso, eles
fizeram um preparatório psicológico comigo, conversaram muito, fizeram um
preparatório para saber como eu estava e como é que fui atendido, e o que é que eu
estava precisando. Se eu estava bem para receber aquela medicação. Eles fizeram um
preparatório muito bom e, inclusive, eles me deixaram em uma situação muito
privilegiada para o atendimento. Porque não senti dificuldade nenhuma, nem dificuldade
de falar com eles. (Senhor Abril).
De acordo com o relato do Senhor Abril, as explicações sobre a transfusão foram
dadas. Contudo, pode-se perceber que, para ele, um bom atendimento consiste no afeto
e na atenção dedicados, como se nota nos trechos a seguir:
Quando fui tomar sangue, tava sentindo falta de sangue mesmo. O corpo estava
naquele desânimo, aquela coisa ruim e não tinha sangue. Mas nunca explicaram nada
113
sobre o sangue não, não falaram nada. Eu só tomei sangue no banco de sangue (Núcleo
de Hematologia e Hemoterapia). Depois que eu tomei me senti melhor, fiquei bem, bem
mesmo. (Senhor Novembro).
CONCLUSÃO
Nas últimas décadas, houve uma melhora no prognóstico do usuário de saúde com
câncer, com uma maior sobrevida destes. Isso motivou estudos para a melhora da
assistência e da qualidade de vida, diminuindo o estresse psicológico e físico associado
ao tratamento do câncer. O tratamento oncológico é complexo, longo e envolve tanto o
usuário de saúde e seus familiares como a equipe que o assiste, podendo gerar
diferentes fontes de estresse. O enfermeiro, enquanto profissional de saúde que passa a
maior parte com estes doentes, deve estar atento e perceber, procurando minimizar o
estresse aí decorrente. Para isso, deve ter conhecimento de como agir ou atuar para
evitar, ou ao menos amenizar, este tipo de problema que, na maioria das vezes, tende a
prejudicar o tratamento(15).
Observando as narrativas de alguns colaboradores pode-se concluir que a partir dos
relatos vivenciados, fica claro que a dor aparece como transtorno principal, podendo
causar problemas na vida dos indivíduos, evidenciando os vários tipos de impactos
mencionados. Por isso, o profissional de saúde deve ter o entendimento de que a dor
também deve ser vista como um processo subjetivo, a ninguém cabendo avaliar a
dimensão da dor do outro, podendo apenas realizar inferências. Isso porque um quadro
de dor e sofrimento jamais poderá ser transmitido em sua plenitude para outro indivíduo.
Doenças crônicas, além de debilitar e causar restrições ao corpo, afetam o
comportamento pessoal e subjetivo dessas pessoas, provocando impacto no modo de ser
e de perceber a vida, refazendo sua ordem subjetiva, psicológica. Ao mesmo tempo,
refaz a rede de relacionamentos destes usuários, acarretando, assim, o impacto na
socialização, nas amizades e no grupo de pertença. Mesmo que este usuário possa
receber visitas e cuidados dos familiares e pessoas de seu convívio, por medo de
contágio ou por não saberem lidar com a situação, é comum afastarem-se dele, num
momento em que todo o apoio é fundamental.
Mesmo diante de todo sofrimento causado pela doença e muitas vezes pela
assistência deficitária, há um sentimento de conformação para com a assistência, seja
ela prestada pelo médico ou pelos profissionais da enfermagem. Nessa conformação,
nota-se que o afeto dispensado aos usuários corresponde à visão que têm do processo
de assistência. “Ser bem atendido” equivale, nesse sentido, ao modo de serem
recepcionados, de terem explicações sobre medicamentos e procedimentos a que estão
sendo submetidos. Principalmente, deve-se destacar a forma carinhosa e sem
“cerimônias” com que são recebidos e conduzidos nestes espaços. Nesse caso, em função
114
de fatores como a fragilidade provocada pela doença e do não conhecimento específico
na área médica, o processo de assistência tende a ser resumido e até mesmo
simplificado.
Planejamentos particularizados e aspectos relacionados ao complexo mecanismo de
funcionamento de um hospital passam, portanto, de modo despercebido pelo leigo, como
um dado comum em se tratando da relação paciente-médico. No entanto, o afeto
dispensado e a assistência individualizada tendem a humanizar o processo, não apenas
mascarando-o, mas conduzindo-o a uma posição crítica e próxima do que de fato é
almejado por todos.
Isto também serve para o processo transfusional com sua complexidade,
principalmente em decorrência de complicações que possam se desenvolver. E isto, na
maioria das vezes, não é explicado, talvez por receio da reação do usuário ou até mesmo
de possível desconhecimento. Ou ainda, é plausível considerar que a ausência de
explicações mais específicas ao usuário pode ser resultante do temor em distanciar o
doador e o receptor do processo estabelecido, uma vez que a transfusão é um processo
passível de ser recusado.
Cabe ao enfermeiro direcionar sua assistência no sentido de evitar e minimizar as
complicações provenientes da hemotransfusão, tendo o conhecimento na área para
detectar, de imediato, as complicações quando elas se desenvolverem, assistindo o
transfundido prontamente com medidas efetivas no controle de qualquer intercorrência.
A orientação ao usuário, a respeito de uma provável reação, tende a criar uma
constância positiva na assistência prestada, pois, um usuário bem informado pode, no
início de qualquer intercorrência, comunicar algum problema de imediato, evitando
maiores gravidades e estresse de uma equipe para com a equipe que o assiste.
A enfermagem evoluiu de maneira lenta e gradual. Essa afirmação se deve ao fato
de acompanharem o desenvolvimento da hemoterapia atrelado à tecnologia, atendendo
aos usuários de saúde em todas as fases do processo hemoterápico. Por isso, ressaltam
que ainda é uma área restrita e que necessita de um aperfeiçoamento, principalmente no
processo transfusional(21).
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117
116
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...
117
6. REFLEXÕES FINAIS: LUMIAR PÓS-LABIRINTO
Ao procurarmos, portanto, estabelecer uma relação entre o mito de Teseu
e usando a mitologia para fazer analogias, buscamos mostrar os desafios e as
dificuldades enfrentadas pelos colaboradores, no percurso do “labirinto”, e na
tentativa, como o herói grego, de vencer o “Minotauro”. Enfim, através deste estudo
e do olhar lançado ao mito, arriscamos mostrar a difícil batalha que um portador de
câncer (um herói em construção), em uso da hemoterapia, passa na tentativa de
cura, ou de pelo menos de conviver em “harmonia” com uma doença (um monstro?)
tão devastadora.
Fundamentados na história oral de vida, procuramos descrever a dor e a
dificuldade que os colaboradores tiveram, e alguns continuam tendo, para tentar
expressar suas vicissitudes mais profundas, seus medos e, muitas vezes o pavor
encontrado nos pesadelos tidos pela proximidade da morte. Pela história oral e as
chances que ela oportuniza, pela técnica e métodos aplicados, notamos o
crescimento não apenas deles, que falavam e deixavam a vida fluir, mas o
crescimento do pesquisador que aprende em cada ato de vida ali exposto e
registrado.
Despidos de intenções, aqueles homens e mulheres que se
pronunciavam e relatavam, além de seus temores e perspectivas, toda uma
trajetória de vida experimentada. Pura experiência, como afirma o estudioso Walter
Benjamin, ao retratar a figura do narrador como homem a quem ainda propõe
experiências em um mundo desumanizado. Por não “medirem” esforços ao
exteriorizar seus sentimentos e sofrimentos, tanto físicos como psicológicos, os
colaboradores dão uma prova viva da relevante tarefa de viver, procurando, entre
trilhas, percalços e labirintos, uma saída.
Isto tudo serve e fica como lição para a reflexão que o estudo aqui buscou
fazer. Pois, mergulhados na temível estrada que o câncer, como martírio e
enfermidade, tem desafiado o ser humano, parece-nos difícil chegar ao outro lado do
tortuoso caminho que a doença tem deixado como herança a quem se “atreve” a
seguir na busca por vencê-la.
Pela história oral de vida chegamos às narrativas dos colaboradores.
Essas narrativas estão repletas das experiências de vida em suas verdades,
118
sofrimentos, esperanças e medos. Estão também permeadas de desejo e vontade
de viver. Observa-se aí o quanto de sofrimento o câncer causou, os prejuízos, e
como os tratamentos, exames, dietas, entre outros problemas, limitaram as vidas de
cada um. Tais limitações interferiram de maneira severa na forma de viver e conviver
dessas pessoas com seu grupo de pertença, havendo, inclusive, interferência
enorme também no trabalho, seja ele realizado em empresas, ou mesmo nos
simples afazeres domésticos, deixando-os, muitas vezes, impossibilitados de realizá-
los e com a sensação de inutilidade que pode refletir no tratamento contra a doença.
Sobretudo, o tratamento muitas vezes não foi devidamente compreendido
ou até mesmo mal explicado, como ocorreu, neste caso, com a hemoterapia.
Percebeu-se a falta de orientações do enfermeiro aos usuários de saúde com
relação às explicações adequadas para esta terapêutica, deixando-os muitas vezes,
sem os devidos esclarecimentos, pois sabemos que as transfusões sanguíneas
trazem benefícios, mas podem também trazer prejuízo, como as reações
transfusionais que podem levá-los a óbito. Será que essa falta de orientação dos
procedimentos transfusionais aos usuários de saúde ocorre pela falta de
conhecimento do enfermeiro, ou por ele não dar a devida importância à
hemoterapia? Questionamentos como este poderão ser respondidos em futuras
pesquisas.
As histórias dos colaboradores estão repletas de relatos da vivência e de
experiência, revelando um intenso impacto emocional, ocorrido quando descobriram
que estavam, cada um a seu modo e tempo, com uma doença com consequências
drásticas. Embora tenham usado diversos mecanismos de defesa e luta como a
negação, raiva/revolta, barganha, depressão e aceitação, tiveram que se readequar
e readaptar a uma forma de viver que equilibrasse a dor e a falta de esperança.
Trabalhos científicos comprovam, e a mídia diariamente noticia o
surgimento de curas em indivíduos com câncer. No entanto, a maioria dos
colaboradores do presente estudo não teve a chance de poder usufruir do que está
por vir.
O fato é que muitas pessoas, não importa de que credo ou classe social,
qual gênero ou cor, em decorrência desta doença tem vindo a óbito, deixando em
todos nós a sensação de impotência diante de todo sofrimento e luta por que
passam, tanto para os doentes como os seus familiares. Isso nos faz repensar
119
nossa prática, como profissional de saúde, e a conduta diante destes doentes e de
nós mesmos.
E, sabendo que o enfermeiro é o profissional da área da saúde que está
diuturnamente na assistência aos usuários, esteja ele com câncer ou outra doença,
mas, que necessita de transfusão sanguínea, deverá ser orientado quando aos
benefícios e os riscos, pois só assim conseguiremos fazer com que esta terapia não
seja “banalizada”, e que se consiga realizar uma assistência humanizada.
Essas reflexões não representam o fim das discussões, mas podemos
pensá-las como o início para outras, sobre as complicações, medos e os sofrimentos
impostos pelo doente com câncer em uso de hemocomponentes. Por enquanto, tais
reflexões apenas apontam e provocam para outros estudos que, diante das
narrativas dos colaboradores, clamam por mudanças na gestão, na assistência de
enfermagem e na saúde pública do Brasil.
120
REFERÊNCIAS
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KALIKS, Rafael; HOLTZ, Luciana; GIGLIO, Auro Del. Paciente com câncer: Um guia para quem acabou de receber o diagnóstico. Barueri, SP. Minha editora, 2012.
KOENIG, Harold George. Medicina, religião e saúde: o encontro da ciência e da espiritualidade. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.
KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 9. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
KÜBLER-ROSS, E. A Roda da vida: Memórias do viver e do Morrer. 2. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Mariana de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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LEITE, Francisco Tarcísio. Metodologia científica: métodos e técnicas de pesquisa: monografias, dissertações, teses e livros. 3. ed. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2012.
LUDWIG Luana; ZILLY Adriana. Reações transfusionais ligadas ao sistema ABO. Ed. NewsLab . PR – 2007. [online]. Disponível em: <http://www.newslab.com.br/ed_anteriores/84/art01/art01.pdf > Acesso em: 15 jun. 2011.
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MCEWEN, Melanie; WILLS, Evelyn M.; Bases teóricas para enfermagem. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
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MOTA, Dálete Delalibera Corrêa de Faria; PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos. Fadiga em pacientes com câncer avançado: conceito, avaliação e intervenção.
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SILVA, Camila Bento; ALBUQUERQUE, Verônica; Leite, Jonas. Qualidade de Vida em Pacientes Portadoras de Neoplasia Mamária Submetidas a Tratamentos Quimioterápicos. Rev. Bras. de Cancerologia [online]. 2010, vol. 56, n.2, p. 227-236. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_56/v02/pdf/08_artigo_qualidade_vida_portadoras_neoplasia_mamaria.pdf > Acesso em: 03 de Nov. 2011. Às 11h.
SMELTZER, Suzanne C.; BARE, Brenda G. Brunner & Suddarth:Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgico. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
SONTAG, Susan. Doença como metáfora, AIDS e suas metáforas. Tradução Rubens Figueiredo/Paulo Henriques Brito. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
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TERAPÊUTICA TRANSFUSIONAL: Manual para médicos. 7. ed. 2002. Versão traduzida do manual AABB, Associação Americana dos Bancos de Sangue.
THERNSTROM, Melanie. As crônicas da dor: tratamento, mitos, mistérios, testemunhos e a ciência do sofrimento. Tradução Maria Beatriz de Medina. Rio de janeiro: Objetiva, 2011.
THOMPSON, P.; A voz do passado: História oral. Rio de Janeiro: 3. ed. Paz e Terra 2002.
VELOSO, Caetano. Caetano Veloso: Literatura Comparada. Seleção de textos, notas, estudos biográficos, histórico e crítico e exercícios por Paulo Elias Allane Franchetti e Antônio Alcyr Bernardes Pécora. São Paulo: Abril Educação. 1981.
NOVARETTI, Marcia Cristina Z.. Importância dos carreadores de oxigênio livre de células. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. [online]. 2007, vol.29, n.4, p. 394-405. ISSN 1516-8484. [online]. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v29n4/a14v29n4.pdf> acesso em: 20 de Out. 2011. Às 02h.
127
APÊNDICES
128
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado (a) Sr. (a) Este é um convite para você participar da pesquisa intitulada “Trajetória de vida dos portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões sanguíneas” que é coordenada pela Profr
a. Dr
a.
Clélia Albino Simpson, professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFRN, em colaboração com João Evangelista da Costa, mestrando desta universidade. Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento,
retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Essa pesquisa tem como objetivo: Refletir e narrar sobre o impacto da transfusão de sangue em usuários de saúde oncológicos através da história oral de vida, no município de Natal, estado do Rio Grande do Norte. O estudo justifica-se pelo interesse dos pesquisadores em resgatar sentimentos/comportamentos, expectativas de portadores de doenças oncológicas como forma de resgatar sua própria história.
Caso decida aceitar o convite, você será submetido (a) ao(s) seguintes procedimentos: escolha da pessoa, as pessoas ou grupos a serem entrevistados. Para se ter um bom desenvolvimento da História Oral, é indispensável a existência de um projeto que oriente o andamento do trabalho. durante o tratamento da textualização. A última fase é a transcriação, que se compromete a ser um texto recriado em sua plenitude. Conferência é o memento em que, depois de trabalhado o texto, quando se supõe que está em sua versão final A presente pesquisa oferece riscos mínimos ou desconforto ao participante e não envolve experimento de qualquer natureza tampouco utilizará medicamentos em seus participantes. Em caso de dano devidamente comprovados resultantes desta pesquisa, o colaborador será devidamente indenizado pelos pesquisadores. No entanto, na ocorrência, em qualquer momento, de algum dano causado pela pesquisa ao mesmo seja ele de origem, física ou moral, o participante terá direito a indenização. Os benefícios ao participante serão da ordem de promoção do conhecimento acerca das transfusões sanguíneas e as estratégias para seu enfrentamento. Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum momento. Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será ressarcido, caso solicite. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar, direta e respectivamente ao pesquisador: Pesquisador responsável: Drª Clélia Albino Simpson. Endereço: Rua Girassol, 200; Residencial Viver; Jardim Planalto; Parnamirim – RN Fone: (84) 36451647. E-mail: [email protected] Duvidas éticas: Comitê de Ética em Pesquisa: End. Rua Dr. Mário Negócio, 2267. Bairros das Quintas. CEP: 59040-000, Natal/RN.Telefone (84) 4009-5494. E-mail: [email protected] Home-page: http://ligacontraocancer.com.br/comite-de-etica-e-pesquisa
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa intitulada “Trajetória de vida dos portadores de doenças oncológicas em uso de transfusões sanguíneas na cidade de Natal/RN” __________________________________ _____________________________
Pesquisador (Assinatura) Participante da Pesquisa (Assinatura)
Natal/RN, ______ de________________ de ________
Impressão Digital
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APÊNDICE B– INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
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ENTREVISTA
Ficha técnica do colaborador do estudo
Nome:_________________________________________________________
Nome fictício:___________________________________________________
Naturalidade: ___________________________________________________
Idade: ___ anos Gênero: ( ) M ( ) F
Escolaridade: ( ) Sem estudos ( ) Fundamental incompleto ( ) Fundamental
completo ( ) Médio incompleto ( ) Médio completo ( ) Superior incompleto ( )
Superior completo ( ) Outros: ____________
Estado Civil: ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Viúvo (a) ( ) Divorciado(a) ( )
Outros: _________________________
Profissão: ______________________________________________________
Renda Familiar (Salário mínimo de R$510,00 – Atualizado pela Medida Provisória nº
474/2009, de 24.12.2009):
( ) até 1 salário mínimo ( ) de 1 a 2 salários mínimos ( ) de 2 a 5 salários mínimos
( ) acima de 5 salários mínimos
Religião:_______________________________________________________
Local da entrevista: ______________________________________________
Data da entrevista:__/__/____ Hora: ____________
Questões de corte
5. Fale de sua vida depois da doença.
6. Fale sobre as mudanças que ocorreram na sua vida após as transfusões
sanguíneas.
130
APÊNDICE C – CARTA DE CESSÃO
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CARTA DE CESSÃO
Natal, ___/___/_____. Prezado (a) Pesquisador (a) Eu,_______________________________________________________, de estado
civil_______________________ e, portador (a) do RG n°: ____________________,
Órgão Expedidor _____________________, declaro para os devidos fins que
participei, de forma voluntária, como colaborador (a), da pesquisa intitulada
TRAJETÓRIA DE VIDA DOS PORTADORES DE DOENÇAS ONCOLÓGICAS EM
USO DE TRANSFUSÕES SANGUÍNEAS NA CIDADE DE NATAL/RN, bem como
também declaro que cedo os direitos de minhas fotos, cartas, documentos e
entrevista, concedida no dia ___/___/_____, para que a Professora Doutora Clélia
Albino Simpson, vinculada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e
responsável pela pesquisa, possa usá-la integralmente ou em partes, sem restrições
de prazos e limites de citações, desde a presente data. Da mesma forma, autorizo o
uso de terceiros para ouvi-la e usar citações, ficando vinculado o controle à
responsável pela pesquisa, que tem sua guarda.
Abdicando de direitos meus e de meus descendentes, subscrevo a presente, que
terá minha firma reconhecida em cartório.
______________________________________
Assinatura do colaborador
Impressão Digital
131
APÊNDICE D – CARTA DE ANUÊNCIA
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CARTA DE ANUÊNCIA
TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA: TRAJETÓRIA DE VIDA DOS
PORTADORES DE DOENÇAS ONCOLÓGICAS EM USO DE TRANSFUSÕES
SANGUÍNEAS NA CIDADE DE NATAL/RN.
LOCAL DE PESQUISA: NÚCLEO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA - UFRN
RESPONSÁVEL: PROFA. DRA. CLÉLIA ALBINO SIMPSON.
COLABORADOR: JOÃO EVANGELISTA DA COSTA
CONHECENDO O PROPÓSITO DESTA PESQUISA, SEUS OBJETIVOS E
METODOLOGIA, DECLARO QUE:
AUTORIZO A COLETA DE DADOS: SIM ( ) NÃO ( )
QUANTO À DIVULGAÇÃO: AUTORIZO MENÇÃO DO NOME DESTA
INSTITUIÇÃO NO RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO: SIM ( ) NÃO ( )
QUANTO AO RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO: REQUER A APRESENTAÇÃO
DOS RESULTADOS: SIM ( ) NÃO ( )
COMENTÁRIO(S):
___________________________________________________________________
__________________________________________________________________
NATAL, RN: _____/_____/_____.
_________________________________________________
DIRETORIA GERA
132
ANEXOS
133
ANEXO A - PROTOCOLO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
134
135
ANEXO B - NORMAS DA REVISTA ELETRÔNICA CUIDADO É FUNFAMENTAL http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/information/authors
Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental
Online DOI: 10.9789/2175-AP5361
ATUALIZADO EM AGOSTO DE 2012
Diretrizes para Autores:
A Revista de Pesquisa: Cuidado é fundamental On Line [RPCFO]
foi transferida para o formato eletrônico (SEER) em maio de 2009, sem fins
lucrativos. Atualmente é editada pelo Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem (PPGENF)- Mestrado e Doutorado em Enfermagem, da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [UNIRIO], com
periodicidade trimestral, compondo-se de um volume por ano com quatro
números. Está classificada no QUALIS/CAPES como B2.
Quando da submissão dos manuscritos, em METADADOS DA
SUBMISSÃO devem constar todos os AUTORES que por ventura estejam
mencionados como << AUTOR >> no corpo do texto. O encaminhamento do
manuscrito, anexos e o preenchimento de todos os dados, são de inteira
responsabilidade do autor que está submetendo o manuscrito e não do Editor.
Todos os manuscritos são previamente apreciados pelo Editor no que se
refere à adequação às Normas da RPCFO de FORMATAÇÃO e ESTRUTURA e, se
considerados adequados, serão encaminhados para os consultores Ad hoc, de
reconhecida competência na temática abordada. Em caso de desacordo, será
enviado para uma segunda avaliação. No caso da identificação de conflito de
interesse por parte dos consultores, será encaminhado para outro consultor.
O manuscrito que NÃO cumprir tais Normas, por
INCOMPLETUDE ou INADEQUAÇÃO, SERÁ SUMARIAMENTE DEVOLVIDO antes
mesmo de ser submetidos à avaliação PELO CONSULTOR. Portanto, solicitamos
atenção na das normas para submissão de manuscritos. Caso não seja atendida a
solicitação ajustes no prazo de 3 (três) dias, o mesmo será ARQUIVADO e se
136
houver interesse ainda em publicá-lo, deverá ser submetido novamente, onde será
iniciado novo processo de julgamento por pares.
O processo de avaliação utiliza o sistema Doubleblind peer review,
preservando a identidade dos autores e consultores, com emprego de formulário da
RPCFO. O prazo de devolução para os pareceres é, no máximo, 28 dias, quando for
aceita a realização da avaliação pelos avaliadores. Caso contrário, será enviado
para outros consultores. Em persistindo a não aceitação, dois membros do Conselho
Editorial avaliarão o artigo.
Os pareceres dos avaliadores serão disponibilizados online para o autor
responsável pela submissão que terá o prazo de 10 (dez) dias para atender as
solicitações. Caso contrário, o manuscrito será ARQUIVADO após envio de
comunicado para todos os autores por entendermos que não houve interesse em
atender a solicitação para ajustes de acordo com as avaliações realizadas. Porém,
se houver interesse ainda em publicá-lo, o artigo deverá ser submetido novamente,
onde será iniciado novo processo de julgamento por pares.
Preparo dos manuscritos:
QUANTO À REDAÇÃO - os manuscritos devem ser redigidos de maneira objetiva,
mantendo linguagem adequada ao estudo, bem como ressaltando a terminologia
científica condizente.
QUANTO À AUTORIA - o conceito de autoria está respaldado na contribuição
substancial de cada uma das pessoas listadas como autores, no que se refere,
sobretudo, à concepção e planejamento do projeto de pesquisa, obtenção ou análise
e interpretação dos dados, redação e revisão crítica.
MÁXIMO DE 06 AUTORES por artigo enviado.
QUANTO À FORMATAÇÃO - os manuscritos devem ser produzidos em editor de
texto word 7.0 (ou versão inferior) com:
a) 25 páginas (máximo), excluindo-se: página de rosto, resumo, abstract, resumen
(todos com descritores), agradecimentos e referências (Estilo Vancouver), digitadas
em uma só face, em papel tamanho Ofício (21,59cm/35,56cm).
b) Fonte Trebuchet MS, justificado, tamanho 11, espaço 1,5 linha em todo o texto
(há exceções para tabelas e citações).
137
c) Páginas numeradas no ângulo superior direito a partir da página de identificação.
d) Margens laterais, superiores e inferiores de 3,0 cm cada.
e) Os resumos devem ser apresentados em português, inglês e espanhol, com 150
palavras no máximo. Deve-se iniciar e sequenciar em tópicos os seguintes termos:
OBJETIVO, MÉTODOS, RESULTADOS, CONCLUSÃO, DESCRITORES seguido do
sinal de : . Usar letra maiúscula apenas na primeira letra de cada palavra. Não usar
os termos: Palavras-chave, Keywords e Palabras-llave. Usar: DESCRITORES,
DESCRIPTORS e DESCRIPTORES, respectivamente. Ressalta-se que os itens
observados se adequarão à natureza do estudo qualitativo, quando for pertinente.
f) Não deverá ser utilizada nenhuma forma de destaque no texto (sublinhado,
negrito, marcas d'água), exceto para títulos e subtítulos. Nos subtítulos NÃO USAR
numeração nem no final o sinal de:. O texto deve ser escrito abaixo.
g) Utilizar apenas itálico em palavras ou expressões que realmente necessitem ser
enfatizadas no texto.
h) Os títulos e subtítulos devem ser identificados por negrito e letra maiúscula.
i) Não usar rodapé ou cabeçalhos.
j) As referências devem ser numeradas e normalizadas de acordo com o Estilo
Vancouver. Não usar o termo << BIBLIOGRÁFICAS >>
l) Recomenda-se o uso de parágrafos de 1,5 cm para as referências.
QUANTO À ESTRUTURA
a) Página de rosto - título do manuscrito que deve ser centralizado e em maiúscula
com negrito; versão do título nos idiomas inglês e espanhol. Na versão em que o
manuscrito seja em espanhol ou francês, deverá ser apresentado no idioma inglês,
inclusive. Abaixo do título, justificado: 1) Tipo de auxílio e nome da agência
financiadora, se convier; 2) Se elaborado a partir de tese, dissertação ou
monografia: título, ano e instituição onde foi apresentada.
b) Resumos - devem ser apresentados em português, inglês e espanhol, com 150
palavras no máximo. Deve-se iniciar e sequenciar em tópicos os seguintes termos:
OBJETIVO, MÉTODOS, RESULTADOS, CONCLUSÃO, DESCRITORES seguido do
sinal de : . Usar letra maiúscula apenas na primeira letra de cada palavra. Na versão
em que o manuscrito for escrito em Espanhol ou Francês, apresentar o abstract; na
versão em que for em Inglês, o resumen. DESCRITORES - indicar de três a cinco
138
termos que identifiquem o tema, limitando-se aos descritores recomendados nos
Descritores em Ciências da Saúde [DeCS], traduzido do Medical Subject of Health -
MeSH, e apresentado gratuitamente pela BIREME na forma trilingüe, na página
URL: http://decs.bvs.br. TESE E DISSERTAÇÃO - enviar o resumo, abstract e
resumen.
c) Texto - os textos de manuscritos Pesquisa, Pesquisa de Iniciação científica,
Ensaios e de revisão devem apresentar: 1) INTRODUÇÃO; 2) OBJETIVO; 3)
MÉTODOS; 4) RESULTADOS; 5) DISCUSSÃO; 6) CONCLUSÃO; 7)
AGRADECIMENTOS (opcional); 8) REFERÊNCIAS (Estilo Vancouver).
As demais categorias terão estrutura textual livre, porém as REFERÊNCIAS são
obrigatórias. Os textos de manuscritos Pesquisa, Página de Iniciação Científica,
Ensaio e de revisão devem conter as seguintes seções:
1) INTRODUÇÃO - deve ser breve, definir claramente o problema estudado,
destacando sua importância e as lacunas do conhecimento, fornecendo referências
estritamente pertinentes. Apresentar os objetivos da pesquisa.
2) MÉTODOS - devem descrever o tipo de estudo, a população, a amostra, os
critérios de seleção da amostra, o instrumento de coleta de dados, os procedimentos
para a coleta e análise dos dados. Necessariamente devem explicitar o cumprimento
dos princípios de pesquisa envolvendo seres humanos ou animais, bem como o
nome do Comitê de Ética em Pesquisa no qual o projeto de pesquisa foi aprovado
com o respectivo número de protocolo. Para os autores brasileiros, a Resolução
196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP, deve ser
considerada; para os estrangeiros, se adotaram a Declaração de Helsinki, disponível
na página URL: http://www.wma.net.
3) RESULTADOS - devem descrever os resultados encontrados sem incluir
interpretações ou comparações e o texto deve complementar e não repetir o que
está descrito em tabelas e figuras.
a) TABELAS - devem ser elaboradas para reprodução direta, em preto e branco,
inseridas no texto, com a primeira letra da legenda em maiúscula descrita na parte
superior, numeradas consecutivamente com algarismos arábicos na ordem em que
139
foram citadas no texto, conteúdo em fonte 10 com a primeira letra em maiúscula,
apresentadas em tamanho máximo de 14 x 21 cm (padrão da revista) e
comprimento não deve exceder 55 linhas, incluindo título. Se usar dados de outra
fonte, publicada ou não, obter permissão e indicar a fonte por completo. Não usar
linhas horizontais ou verticais internas. Empregar em cada coluna um título curto ou
abreviado. Colocar material explicativo em notas abaixo da tabela, não no título.
Explicar em notas todas as abreviaturas não padronizadas usadas em cada tabela.
b) ILUSTRAÇÕES - fotografias, desenhos, gráficos e quadros são considerados
Figuras, as quais devem ser elaboradas para reprodução de acordo com o formato
da RPCFO, em preto e branco, inseridos no texto, com a primeira letra da legenda
em maiúscula descrita na parte inferior e sem grifo, numeradas consecutivamente
com algarismos arábicos na ordem em que foram citadas no texto.
c) CITAÇÕES - No texto, utilizar o sistema numérico de citação, no qual somente os
números-índices das referências, na forma sobrescrita, são indicados no texto. Nas
citações diretas até três linhas incluí-las no texto, entre aspas (sem itálico) e
referência correspondente conforme exemplo: 13:4 (autor e página); com mais de
três linhas, usar o recuo de 4 cm, letra tamanho 11 e parágrafo simples (sem aspas
e sem itálico), seguindo a indicação de autor e data.
d) DEPOIMENTOS - na transliteração de comentários ou de respostas, seguir as
mesmas regras das citações, porém em itálico, com o código que representar cada
depoente entre parênteses. Exemplo: Acho que não faz sentido avaliar este trabalho
de modo que não comprometa a idoneidade dos autores assim como a identificação
de cada um. (Davidson).
4) DISCUSSÃO - deve conter comparação dos resultados com a literatura, as
limitações da pesquisa e a interpretação dos autores, enfatizando os aspectos novos
e importantes do estudo.
5) CONCLUSÃO - relacionar as conclusões com os objetivos do trabalho, evitando
assertivas não apoiadas pelos achados e incluindo recomendações, quando
pertinentes.
140
6) AGRADECIMENTOS - devem ser breves e objetivos, somente a pessoas ou
instituições que contribuíram significativamente para o estudo.
7) REFERÊNCIAS
A RPCFO adota os "Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a
Revistas Biomédicas", publicado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas
Médicas - Estilo Vancouver, disponível no site: http://www.icmje.org ou
http://www.bu.ufsc.br/ccsm/vancouver.html (versão traduzida em português).
Os títulos de periódicos devem ser referidos abreviados, de acordo com o
Index Medicus: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=journals .
Para abreviatura dos títulos de periódicos nacionais e latino-americanos,
consultar o site: http://portal.revistas.bvs.br eliminando os pontos da abreviatura,
com exceção do último ponto para separar do ano.
As referências devem ser numeradas e normalizadas de acordo com o
Estilo Vancouver.
Na lista de referências, as referências devem ser numeradas
consecutivamente, conforme a ordem que forem mencionadas pela primeira vez no
texto.
Referencia-se o(s) autor(e)s pelo sobrenome, apenas a letra inicial é em
maiúscula, seguida do(s) nome(s) abreviado(s) e sem o ponto.
Quando o documento possui de um até seis autores, citar todos os
autores, separados por vírgula; quando possui mais de seis autores, citar todos os
seis primeiros autores seguidos da expressão latina "et al".
Com relação a abreviatura dos meses dos periódicos - em inglês e
alemão, abrevia-se os meses iniciando por maiúsculas; em português, espanhol,
francês e italiano, em minúsculas. Ambos serão sem ponto como recomenda o Estilo
Vancouver.
Exemplos:
1. Halpern SD, Ubel PA, Caplan AL. Solid-organ transplantation in HIV-infected patients. N Engl J Med. 2002 Jul 25;347(4):284-7.
2. Rose ME, Huerbin MB, Melick J, Marion DW, Palmer AM, Schiding JK, et al. Regulation of interstitial excitatory amino acid concentrations after cortical contusion injury. Brain Res. 2002;935(1-2):40-6
141
3. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical microbiology. 4ª ed. St. Louis: Mosby; 2002.
4. Meltzer PS, Kallioniemi A, Trent JM. Chromosome alterations in human solid tumors. In: Vogelstein B, Kinzler KW, editores. The genetic basis of human cancer. New York: McGraw-Hill; 2002. p. 93-113.
5. Borkowski MM. Infant sleep and feeding: a telephone survey of Hispanic Americans [dissertação]. Mount Pleasant (MI): Central Michigan University; 2002.
6. Tannouri AJR, Silveira PG. Campanha de prevenção do AVC: doença carotídea extracerebral na população da grande Florianópolis [trabalho de conclusão de curso]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Medicina. Departamento de Clínica Médica, 2005.
7. Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [periódico na Internet]. 2002 Jun [acesso em 2002 Aug. 12];102(6):[aproximadamente 3 p.]. Disponível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm
8. Cancer-Pain.org [homepage na Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01 [atualizada em 2002 May 16; acesso em 2002 Jul. 9]. Disponível em: http://www.cancer-pain.org/.
OUTROS
Livros como um todo: Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo (SP): Atlas; 2002.
Livros traduzidos: Nightingale F. Notas de enfermagem: o que é e o que não é. Tradução de Amália Correa de Carvalho. São Paulo (SP): Cortez; 1989.
Livros com organizador, coordenador, editor ou compilador: Figueiredo NMA, Viana DL, coordenadoras. Tratado prático de enfermagem. São Caetano do Sul (SP): Yendis; 2006.
Capítulo de livro: Moreira A. Movimentos de profissionalização da enfermagem. In: Oguisso T, organizadora. Trajetória histórica e legal da enfermagem. 1ª. São Paulo (SP): Manole; 2005.
Teses, dissertações e monografias acadêmicas:
1. Melo ECP. Infarto agudo do miocárdio no Município do Rio de Janeiro: qualidade dos dados, sobrevida e distribuição espacial [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública; 2004.
2. Porto F. A cartografia de luta das enfermeiras obstetras na maternidade Leila Diniz (1996-1998): do soldado ao batom [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Programa de Pós-graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; 2001.
142
3. Alessandra CM. O enfermeiro diante do corpo do cliente em fase terminal: o cuidado que transcende o real e o concreto [monografia] Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, UNIRIO; 2005.
Trabalhos de congressos e de seminários: anais, livros de resumos:
1. Amorim WM, Barreira IA. As circunstâncias do processo de reconfiguração da Escola Profissional da Assistência a Psicopatas do Distrito Federal. In Anais do 2º Colóquio Latino-americano de História de Enfermagem; 2005 set 12-15; Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Rio de Janeiro (RJ): EEAN; 2005. p 148-53.
Artigo padrão publicado em periódico impresso:
1. Moreira MC, Carvalho V. Manifestações de ansiedade de clientes durante tratamento quimioterápico: indicativo para o planejamento do cuidado de enfermagem. R. pesq.: cuidado é fundamental 2005 jan/dez; 9 (1/2): 7-16.
Artigo publicado em periódico de meio eletrônico:
1. Cabral IEC. Cuidando y educando para la cidadania: modelo sociopolitico. Freire Online - A journal of the Paulo Freire Institue/UCLA [periódico on line] 2003 jul; [citado 10 set 2003]; 1(2): [aprox. 3 telas]. Disponível em http://wwwpaulofreireinstitute.org/freireonline/volume1/1cabral2.html
Artigo consultado em indexadores ou bibliotecas eletrônicas:
1. Carvalho V. Sobre constructos epistemológicos nas ciências: uma contribuição para a enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [on line] 2003 jul/ago; [citado 22 dez 2003]; 11(4): [aprox. 8 telas]. Disponível em http://www.scielo.br.
Artigo no prelo (com confirmação para publicação):
1. Brum AKR, Tocantins FR, Silva TJES. O enfermeiro como instrumento de ação no cuidar do idoso. Rev. Latino-Am. Enfermagem. No prelo 2004.
Artigo em periódico de divulgação comercial (revista e jornal):
1. Transgênicos: os grãos que assustam. Veja (São Paulo) 2003 out 29; 36 (43): 95-113.
Resumo, editorial e resenha publicados em periódicos:
1. Porto IS. Requisitos uniformes para manuscritos na Escola Anna Nery Revista de Enfermagem: por que, para que e como [editorial]. Esc Anna Nery Rev. Enferm 2003 dez; 3(7): 309-10.
Instituição como autor:
1. Center for Disease Control. Protection against viral hepatitis. Recomendations of the immunization. Practices Advisory Committee. MMWR 1990; 39(RR-21): 1-27.
143
Trabalhos em CD-ROM:
1. Motta MCS, Marin HF, Zeitone RC. Exame físico em consulta de enfermagem de puericultura. [CD-ROM]. Rio de Janeiro (RJ): NCE / EEAN / Central de Eventos; 2001.
Página da Web:
1. Mascagni PMA. Adolescência e diabetes. São Paulo (SP): ABC da saúde; 2003. [citado 18 ago 2005]. Disponível em: URL: http://www.abcdasaude.com.br/DM/adolesc.htm.
Verbete de dicionário:
1. Ferreira ABH. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro (RJ); Nova Fronteira; 1986. Cuidado; p. 507.
Relatório técnico e científico:
1. Associação Brasileira de Enfermagem. Seção Rio de Janeiro. Relatório Financeiro 2000. Rio de Janeiro (RJ); 2000.
2. Paes FRC, Nogueira ARR, Dias DS. Protótipo de sistemas de informação: um estudo sobre a tecnologia utilizada. Rio de Janeiro (RJ): IBM/Centro Científico; 1998. Relatório técnico nº CCR-60. Ata de reunião:
1. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto. Ata da reunião ordinária nº 7 do Núcleo de Pesquisa e Experimentação em Enfermagem Fundamental, do Departamento de Enfermagem Fundamental para tratar reunião ordinária para a implantação do Laboratório de Pesquisa em História da Enfermagem. Rio de Janeiro (RJ); 2000 set.
Documentos jurídicos (leis, atos normativos, portarias e resoluções):
1. Senado Federal (BR). Constituição: República Federativa do Brasil: 1988. Brasília (DF): Centro Gráfico: 1988. Decreto lei nº 2268, de 30 de junho de 1997. Regulamenta a lei nº 9434 sobre doação de órgãos no Brasil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília (DF) 1997 jul; 123 (99): 6110.
2. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos: Resolução nº 196/96. Brasília (DF); 1996. [citado em 17 jun 2000]. Disponível em: URL: http://www.ufrgs.br/hcpa/gppg/res19696.htm.
Erratas: os pedidos de correção deverão ser encaminhados em prazo máximo de 30 dias após a publicação da edição.
144
ANEXO C – NORMAS DA REVISTA ELETRÔNICA DE ENFERMAGEM http://www.fen.ufg.br/revista/pre-textuais/normas.htm
Todos Atual Instruções Submissão
Instruções para publicação de manuscritos
POLÍTICA EDITORIAL
A Revista Eletrônica de Enfermagem (REE), disponível no site http://www.fen.ufg.br/revista/, é um periódico de acesso aberto, gratuito e trimestral, destinado à divulgação arbitrada da produção científica na área de Ciências da Saúde com ênfase em Enfermagem.
São aceitos manuscritos originais e inéditos, destinados exclusivamente à REE, que contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica da área da Saúde, da Enfermagem e de áreas correlatas.
A REE publica artigos em português, inglês ou espanhol, destinados à divulgação de resultados de pesquisas originais, artigos de revisão sistemática, revisão integrativa e editorial.
As opiniões e conceitos emitidos pelos autores são de exclusiva responsabilidade dos mesmos, não refletindo, necessariamente, a opinião da Comissão de Editoração e do Conselho Editorial da Revista.
PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Os manuscritos são analisados em uma primeira etapa, pela Comissão Editorial, que leva em consideração a observância do atendimento das normas editoriais, coerência interna do texto, pertinência do conteúdo do manuscrito à linha editorial do periódico e contribuição para a inovação do conhecimento na área.
Uma vez aprovados na etapa preliminar, os manuscritos são encaminhados para apreciação do seu conteúdo. Para tanto, utiliza-se o modelo peer review, de forma a garantir o sigilo sobre a identidade dos consultores e dos autores. A análise do texto é feita com base no instrumento de avaliação da Revista. Os pareceres encaminhados pelos consultores são analisados pela Comissão Editorial que atenta para o cumprimento das normas de publicação, conteúdo e pertinência. Após todo esse processo, os manuscritos são enviados aos autores com indicação de aceitação, reformulação ou recusa.
145
Em caso de reformulação, cabe à Comissão Editorial o acompanhamento das alterações. As pesquisas provenientes do Brasil que envolvem seres humanos devem, obrigatoriamente, explicitar no corpo do trabalho o atendimento das regras da Resolução CNS 196/96, indicando número de aprovação emitido por Comitê de Ética, devidamente reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Não serão admitidos acréscimos ou alterações após o envio para composição editorial e fechamento do número.
PROCESSO DE SUBMISSÃO
Os manuscritos devem ser submetidos à REE exclusivamente pelo Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas, disponível no endereço: http://revistas.ufg.br/index.php/fen/author/submit/1, que emitirá um protocolo numérico de identificação.
No momento da submissão o autor precisa anexar no sistema: Arquivo do manuscrito no formato.doc; Formulário de submissão para cada um dos autores (conforme modelo) Aprovação do comitê de ética em pesquisa (autores brasileiros) ou
declaração informando que a pesquisa não envolveu seres humanos. Para autores de outros países os procedimentos no texto são os mesmos, porém devem atender as orientações do país de origem para o desenvolvimento de investigações com seres humanos (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm).
Os formulários individuais, aprovação do comitê de ética ou declaração devem ser digitalizados em formato JPG ou PDF, com tamanho máximo de um megabyte (1 MB) para cada arquivo, e enviados para o sistema de submissão como “Documentos suplementares” (passo 4 do processo de submissão).
No recebimento do manuscrito é feita a conferência do texto e da documentação. Havendo pendências serão solicitadas correções. O não atendimento dessas correções implica no cancelamento imediato da submissão.
CATEGORIA DOS ARTIGOS
Artigos Originais: são trabalhos resultantes de pesquisa original, de natureza quantitativa ou qualitativa, que agregam inovações e avanços na produção do conhecimento científico. Máximo de 15 laudas.
Artigos de Revisão: serão aceitas apenas revisões sistemáticas ou revisões integrativas de literatura que sejam fundamentadas em referencial metodológico adequado ao objeto de estudo e alcance pretendidos, organizadas por procedimentos rigorosos e detalhados na condução da pesquisa. Máximo de 15 laudas.
Editorial: destina-se à publicação da opinião oficial da revista sobre temas relevantes da área de Enfermagem e Saúde.
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ESTRUTURA DO ARTIGO
Os manuscritos devem ser estruturados de forma convencional, contemplando os seguintes itens: introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão. O conteúdo do texto deve expressar contribuições do estudo para o avanço do conhecimento na área da enfermagem.
Introdução: texto breve que apresente de forma clara e objetiva o problema estudado, fundamentado em referencial teórico pertinente e atualizado. Deve ser enfatizada a relevância da pesquisa em razão de lacunas do conhecimento identificadas, e a sua justificativa. Ao final, devem-se apresentar os objetivos da pesquisa.
Métodos: definir tipo de estudo, local e período em que a pesquisa foi realizada. Apresentar fonte de dados, delimitando, no caso da população estudada, os critérios para inclusão e exclusão e seleção do número de sujeitos. Detalhar procedimentos de coleta e fundamentos da análise de dados, incluindo o conteúdo dos instrumentos de coleta de dados. Pesquisas realizadas no Brasil devem explicitar cuidados éticos, informando aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para pesquisas com seres humanos e número de aprovação da pesquisa em comitê de ética em pesquisa. Autores estrangeiros devem informar os procedimentos adotados no país de origem da pesquisa.
Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem incluir interpretações ou comentários pessoais. Resultados expressos em tabelas e figuras são encorajados, mas deve-se evitar a repetição das informações em forma de texto.
Discussão: deve ser concebida a partir dos dados e resultados obtidos, enfatizando as inovações decorrentes da investigação e evitando a repetição de informações apresentadas em seções anteriores (introdução, método e resultados). Todos os resultados devem ser discutidos, tendo como apoio em referencial teórico estritamente pertinente, atualizado e que permita identificar concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas.
Conclusão: texto articulado a partir dos objetivos do estudo, fundamentado nas evidências encontradas com a investigação. Deve mostrar claramente o alcance do estudo por meio de conclusões gerais que possam ser detalhadas e fundamentadas ao longo do item. Se pertinente podem ser apresentadas limitações identificadas e lacunas decorrentes da realização da investigação. Generalizações, quando pertinentes, são incentivadas.
FORMATAÇÃO DO MANUSCRITO Formato .doc; Papel tamanho A4; Margens de 2,5 cm; Letra tipo Verdana, tamanho 10; Espaçamento 1,5 entre linhas em todo o texto; Parágrafos alinhados em 1,0 cm.
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INSTRUÇÕES PARA O PREPARO DOS MANUSCRITOS
Título: deve ser apresentado em alinhamento justificado, em negrito, conciso, informativo, com até 15 palavras. Use maiúscula somente na primeira letra do título que deve ser apresentado nas versões da língua portuguesa, inglesa e espanhola. Não utilizar abreviações no título e no resumo. A sequência de apresentação dos mesmos deve ser iniciada pelo idioma em que o artigo estiver escrito.
Autoria:
Os autores devem ser identificados após o título, por ordem de autoria (se houver mais de um), com credencial na sequência do nome. Devem constar as seguintes informações: nome completo, formação universitária, titulação, instituição de origem e e-mail – preferencialmente, institucional.
A autoria dos manuscritos deve expressar a contribuição de cada uma das pessoas listadas como autor no que se refere à concepção e planejamento do projeto de pesquisa, obtenção ou análise e interpretação dos dados, redação e revisão crítica.
Resumo: deve ser apresentado na primeira página do trabalho, com no máximo 150 palavras, nas versões em português, inglês (abstract) e espanhol (resumen), em sequência do titulo.
Descritores: ao final do resumo devem ser apontados de 3 (três) a 5 (cinco) descritores que servirão para indexação dos trabalhos. Para tanto os autores devem utilizar os “Descritores em Ciências da Saúde” da Biblioteca Virtual em Saúde (http://decs.bvs.br/), usando o descritor exato.
Siglas e abreviações: para o uso de siglas e abreviações, os termos por extenso, correspondentes devem preceder sua primeira utilização no texto, com exceção de unidades de medidas padronizadas.
Notas de rodapé: devem ser indicadas por asteriscos, iniciadas a cada página e restritas ao mínimo indispensável.
Ilustrações: são permitidas, no máximo, seis tabelas ou figuras que devem estar inseridas no corpo do texto logo após terem sido mencionadas pela primeira vez. Os títulos de tabelas e figuras devem conter informações precisas, indicando local do estudo e ano a que se referem os dados. As ilustrações e seus títulos devem estar centralizados e sem recuo, não ultrapassando o tamanho de uma folha A4.
Citações: para citações “ipsis literis” de referências devem-se usar aspas na sequência do texto. As citações de falas/depoimentos dos sujeitos da pesquisa devem ser apresentadas em letra tamanho 10, em estilo itálico e na sequência do texto.
Referências: Não ultrapassar 25 referências, exceto para artigos de revisão. Devem
representar e sustentar o estado da arte sobre o tema, ser atualizadas e procedentes, preferencialmente, de periódicos qualificados.
148
Deve-se evitar o uso de dissertações, teses, livros, documentos oficiais e resumos em anais de eventos. A exatidão das informações nas referências é de responsabilidade dos autores.
Quando são enviadas fora das normas , acarretam em atraso o processo de avaliação do manuscrito.
No texto devem ser numeradas consecutivamente, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez, identificadas por números arábicos sobrescritos entre parênteses, sem espaços da última palavra para o parêntese, sem menção aos autores.
Ao fazer a citação sequencial de autores, separe-a por um traço ex. (1-3); quando intercalados utilize vírgula ex. (2,6,11).
As regras de referência da REE têm como base as normas adotadas pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no ICMJE - Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (http://www.icmje.org/index.html).
Agradecimentos e Financiamentos: agradecimentos e/ou indicação das fontes de apoio da pesquisa, devem ser informados ao final do artigo. EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS Artigos em periódicos Estrutura: Autores. Titulo do artigo. Titulo do periódico. Ano de publicação;Volume(Número):Páginas. Observações: 1. Após o ano de publicação, não usar espaços. 2. Usar os títulos abreviados oficiais dos periódicos. Para abreviatura de periódicos consultar: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=journals&Cmd=DetailsSearch&Term=currentlyindexed[All]. 3. Ao listar artigos com mais de seis autores, usar a expressão et al após o sexto autor. Artigo em periódico científico
Artigo Padrão Esperidião E, Munari DB. Holismo só na teoria: a trama dos sentimentos do graduando de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP. 2004;38(3):332-40. Ramos Filho AOA, Castro TWN, Rêgo MAV, Alves FO, Almeida LC, Sousa MV, et al. Fatores preditivos de recidiva do carcinoma mamário. Revista Brasileira de Cancerologia. 2002;48(4):499-503.
Volume com suplemento Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and safety of frovatriptan with short- and long-term use for treatment of migraine and in comparison with sumatriptan. Headache. 2002;42 Suppl 2:S93-9.
149
Número com suplemento Glauser TA. Integrating clinical trial data into clinical practice. Neurology. 2002;58(12 Suppl 7):S6-12.
Número sem volume Banit DM, Kaufer H, Hartford JM. Intraoperative frozen section analysis in revision total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2002;(401):230-8.
Sem volume ou número Outreach: bringing HIV-positive individuals into care. HRSA Careaction. 2002:1-6
Artigo em uma língua diferente do português, inglês e espanhol Hirayama T, Kobayashi T, Fujita T, Fujino O. [A case of severe mental retardation with blepharophimosis, ptosis, microphthalmia, microcephalus, hypogonadism and short stature-the difference from Ohdo blepharophimosis syndrome]. No To Hattatsu. 2004;36(3):253-7. Japanese.
Artigo sem dados do autor 21st century heart solution may have a sting in the tail. BMJ. 2002;325(7357):184.
Artigo em periódico eletrônico Santana RF, Santos I. Transcender com a natureza: a espiritualidade para os idosos. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2005 [cited 2006 jan 12];7(2):148-58. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/revista7_2/original_02.htm.
Artigo aceito para publicação Santana FR, Nakatani AYK, Freitas RAMM, Souza ACS, Bachion MM. Integralidade do cuidado: concepções e práticas de docentes de graduação em enfermagem do estado de Goiás. Ciênc. saúde coletiva. In press 2009. Livros:
Com único autor Demo P. Autoajuda: uma sociologia da ingenuidade como condição humana. 1st ed. Petrópolis: Vozes; 2005.
Organizador, editor, compilador como autor Brigth MA, editor. Holistic nursing and healing. Philadelphia: FA Davis Company; 2002.
Capítulo de livro Medeiros M, Munari DB, Bezerra ALQ, Alves MA. Pesquisa qualitativa em saúde: implicações éticas. In: Ghilhem D, Zicker F, editors. Ética na pesquisa em saúde: avanços e desafios. Brasília: Letras Livres UnB; 2007. p. 99-118.
Instituição como autor Secretaria Executiva, Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS): princípios e conquista. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2000. 44 p.
150
Livro com tradutor Stein E. Anorectal and colon diseases: textbook and color atlas of proctology. 1st Engl. ed. Burgdorf WH, translator. Berlin: Springer; c2003. 522 p.
Livro disponível na Internet Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos; Ministério da Saúde. Por que pesquisa em saúde? Série B. Textos Básicos de Saúde. Série Pesquisa para Saúde: Textos para Tomada de Decisão [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2007 [cited 2009 Mar 09]. Available from: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pq_pesquisa_em_saude.pdf. Monografia, dissertação e tese
Monografia Tonon FL, Silva JMC. O processo de enfermagem e a teoria do autocuidado de Orem no atendimento ao paciente submetido à cirurgia de próstata: implementação de um plano de cuidados individualizado no preparo para a alta hospitalar [monography]. São Carlos: Departamento de Enfermagem/UFSCar; 2005.
Dissertação Coelho MA. Planejamento e execução de atividades de enfermagem em hospital de rede pública de assistência, em Goiânia/GO [dissertation]. Goiânia: Faculdade de Enfermagem/UFG; 2007. 119 p.
Tese Souza ACS. Risco biológico e biossegurança no cotidiano de enfermeiros e auxiliares de enfermagem [thesis]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem/USP; 2001. 65 p. Trabalhos em eventos científicos
Anais/Proceedings de conferência Munari DB, Medeiros M, Bezerra ALQ, Rosso, CFW. The group facilitating interpersonal competence development: a brazilian experience of mental health teaching. In: Proceedings of the 16th International Congress of Group Psychotherapy [CD-ROM]; 2006 jul 17-21; São Paulo, Brasil. p. 135-6. Rice AS, Farquhar-Smith WP, Bridges D, Brooks JW. Canabinoids and pain. In: Dostorovsky JO, Carr DB, Koltzenburg M, editors. Proceedings of the 10th World Congress on Pain; 2002 Aug 17-22; San Diego, CA. Seattle (WA): IASP Press; c2003. p. 437-68.
Anais/Proceedings de conferência disponível na Internet Centa ML, Oberhofer PR, Chammas J. A comunicação entre a puérpera e o profissional de saúde. In: Anais do 8º Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem [Internet]; 2002 Maio 02-03; São Paulo, Brasil. 2002 [cited 2008 dec 31]. Available from: http://www.proceedings.scielo.br/pdf/sibracen/n8v1/v1a060.pdf.
Trabalho apresentado em evento científico Robazzi MLCC, Carvalho EC, Marziale MHP. Nursing care and attention for children victims of occupational accident. Conference and Exhibition Guide of the 3rd International Conference of the Global Network of WHO Collaborating Centers for Nursing & Midwifery; 2000 July 25-28; Manchester; UK. Geneva: WHO; 2000.
151
Outras publicações
Jornais Souza H, Pereira JLP. O orçamento da criança. Folha de São Paulo. 1995 maio 02; Opinião: 1º Caderno.
Artigo de jornal na internet Deus J. Pacto visa o fortalecimento do SUS em todo estado de Mato Grosso. Diário de Cuiabá [Internet]. 2006 Apr 25 [cited 2009 feb 16]. Saúde. Available from: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=251738.
Leis/portarias/resoluções Lei N. 8.842 de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União (Brasília). 1994 Jan 05.
Leis/portarias/resoluções, disponível na Internet: Resolução CNE/CES Nº 3, de 7 de novembro de 2001 (BR). Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. [cited 2012 jun 30]. Available from: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994 (BR). Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União [Internet]. 05 jan 1994 [cited 2012 jun 30]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm.
Base de dados online Shah PS, Aliwalas LI, Shah V. Breastfeeding or breast milk for procedural pain in neonates. 2006 Jul 19 [cited 2009 mar 02]. In: The Cochrane Database of Systematic Reviews [Internet]. Hoboken (NJ): John Wiley & Sons, Ltd. c1999 – . Available from: http://www.mrw.interscience.wiley.com/cochrane/clsysrev/articles/CD004950/frame.html Record No.: CD004950.
Texto de uma página da Internet Carvalho G. Pactos do SUS – 2005 – Comentários Preliminares [Internet]. Campinas: Instituto de Direito Sanitário Aplicado; 2005 Nov 15 [cited 2009 mar 11]. Available from: http://www.idisa.org.br/site/artigos/visualiza_conteudo1.php?id=1638
Homepage da Internet Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [Internet]. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (BR) [cited 2009 feb 27]. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Síntese de Indicadores 2005. Available from: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2005/default.shtm DATASUS [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde (BR) [cited 2006 oct 20]. Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Available from: http://w3.datasus.gov.br/datasus/datasus.php.
152