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RAI – Revista de Administração e Inovação ISSN: 1809-2039 DOI: 10.5773/rai.v10i2.612 Organização: Comitê Científico Interinstitucional Editor Científico: Milton de Abreu Campanario Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS Revisão: Gramatical, normativa e de Formatação TRAJETÓRIA DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA DA CIA. IGUAÇU DE CAFÉ SOLÚVEL Rafael Kuramoto Gonzalez Doutorando em Administração da Fundação Getúlio Vargas FGV Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV [email protected] (Brasil) Sieglinde Kindl da Cunha Doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Professor da Universidade Federal do Paraná UFPR [email protected] (Brasil) RESUMO Este artigo tem como tema a trajetória da capacidade tecnológica da Cia. Iguaçu de Café Solúvel no período entre 1967 e 2009. Para atingir o objetivo do trabalho, propõe-se uma discussão teórica sobre as teorias de capacidade tecnológica. Após análise das diversas teorias, foi considerado mais adequado utilizar o Modelo de Capacidades Tecnológicas em Empresas de Economias Emergentes, construído por Figueiredo (2004). A operacionalização do artigo ocorreu com base em um modelo para análise e caracterização de estágios e funções tecnológicas da empresa. No artigo, propõe-se um estudo de caso qualitativo com o objetivo de descrever o fenômeno da capacitação tecnológica. A Iguaçu conseguiu atingir, na função Produto, Processo, Equipamento e Investimento, o nível intermediário superior. E, na função P&D, o nível extra-básico. Foi possível determinar, com a análise das mudanças de nível e ultrapassagem de fronteira tecnológica, quatro grandes ondas de evolução, e, com base nos dados da trajetória tecnológica da Iguaçu, a existência de dois nós tecnológicos. Pode-se concluir que, para empresas do setor de café solúvel conquistarem, atingirem e permanecerem em mercados internacionais competitivos, devem concentrar esforços na acumulação de diversas competências organizacionais, alianças e capacidades tecnológicas. Palavras-chave: Capacidade Tecnológica; Inovação. This is an Open Access article under the CC BY license (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0).

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RAI – Revista de Administração e Inovação ISSN: 1809-2039 DOI: 10.5773/rai.v10i2.612 Organização: Comitê Científico Interinstitucional Editor Científico: Milton de Abreu Campanario Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS Revisão: Gramatical, normativa e de Formatação

TRAJETÓRIA DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA DA CIA. IGUAÇU DE CAFÉ SOLÚVEL

Rafael Kuramoto Gonzalez Doutorando em Administração da Fundação Getúlio Vargas – FGV Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV [email protected] (Brasil)

Sieglinde Kindl da Cunha Doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Professor da Universidade Federal do Paraná – UFPR [email protected] (Brasil)

RESUMO

Este artigo tem como tema a trajetória da capacidade tecnológica da Cia. Iguaçu de Café Solúvel no período entre 1967 e 2009. Para atingir o objetivo do trabalho, propõe-se uma discussão teórica sobre as teorias de capacidade tecnológica. Após análise das diversas teorias, foi considerado mais adequado utilizar o Modelo de Capacidades Tecnológicas em Empresas de Economias Emergentes, construído por Figueiredo (2004). A operacionalização do artigo ocorreu com base em um modelo para análise e caracterização de estágios e funções tecnológicas da empresa. No artigo, propõe-se um estudo de caso qualitativo com o objetivo de descrever o fenômeno da capacitação tecnológica. A Iguaçu conseguiu atingir, na função Produto, Processo, Equipamento e Investimento, o nível intermediário superior. E, na função P&D, o nível extra-básico. Foi possível determinar, com a análise das mudanças de nível e ultrapassagem de fronteira tecnológica, quatro grandes ondas de evolução, e, com base nos dados da trajetória tecnológica da Iguaçu, a existência de dois nós tecnológicos. Pode-se concluir que, para empresas do setor de café solúvel conquistarem, atingirem e permanecerem em mercados internacionais competitivos, devem concentrar esforços na acumulação de diversas competências organizacionais, alianças e capacidades tecnológicas.

Palavras-chave: Capacidade Tecnológica; Inovação.

This is an Open Access article under the CC BY license (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0).

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Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 10, n.2, p. 04-28, abr./jun. 2013.

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1 INTRODUÇÃO

Os estudos sobre o papel da mudança tecnológica no desenvolvimento industrial e econômico

de países e empresas ganharam impulso no final dos anos 70, com o trabalho de Jorge Katz. Essa

abordagem, que contemplava raízes econômicas e de gestão, ficou conhecida como

“neoschumpeteriana” ou evolucionista. O papel da capacidade tecnológica é visto como fonte da

assimetria no desenvolvimento industrial e crescimento econômico de países, setores e empresas. Estes

estudos neoschumpeterianos rejeitam o caráter de variável exógena da tecnologia e abraçam seu

caráter tácito e intrínseco (Figueiredo, 2005).

Os autores deste trabalho reconhecem que há inúmeras contribuições teóricas e analíticas na

literatura internacional sobre inovação e estratégia que analisam o papel do conhecimento para a

gestão de vantagens competitivas das empresas. Porém, em concordância com Bell e Figueiredo

(2012), entende-se que esta literatura tem como foco de análise organizações industriais que operam

próximo ou na própria fronteira tecnológica internacional, ou seja, são empresas que já detêm

conhecimentos e capacidades necessários para gerar e orquestrar atividades inovativas em nível

internacional. Essa literatura é adequada para o entendimento e análise de como essas firmas exploram

e aumentam suas capacidades de inovação com o objetivo de elevar o grau de sofisticação da fronteira

tecnológica internacional (Bell & Figueiredo, 2012).

Desta forma, há uma perspectiva diferente neste estudo, segundo a qual empresas de mercados

emergentes, ou empresas latecomers, necessitam de um ângulo de análise diferenciado. A literatura

internacional sobre “capacidade” (ex.: Leonard-Barton, 1995; Prahalad & Hamel, 1990; Teece, Pisano

& Shuen, 1990; e outros) não é suficiente para explicar, primeiramente, o processo de como empresas

latecomers construíram a priori suas capacidades tecnológicas, para, então, engajar esforços em

atividades inovativas (Bell & Figueiredo, 2012; Bell & Pavitt, 1993, 1995; Kim, 1997a, 1997b).

Diante deste contexto, vários pesquisadores iniciaram estudos no campo das capacidades

tecnológicas para explicar o abismo entre empresas (Dosi, 1985; Nelson & Winter, 1982; Teece et al.,

1990; Teece & Pisano, 1994). Estes estudos inspiraram um grupo de pesquisadores com o anseio de

responder questões concernentes aos esforços de acumulação de capacidades tecnológicas em

empresas de economias emergentes (Katz, 1987; Lall, 1984). Nos meados dos anos 90, novos estudos

foram feitos com o adequado nível de profundidade, detalhamento e cobertura de longo prazo para

tratar da mensuração do estágio inovativo de setores e empresas.

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O objetivo geral desta pesquisa é analisar a trajetória de acumulação de capacidades

tecnológicas da Cia. Iguaçu de Café Solúvel. Os objetivos específicos são: (a) identificar a evolução da

capacidade tecnológica da empresa; (b) identificar as implicações da trajetória de acumulação de

capacidade tecnológica da empresa.

Para a realização dos objetivos propostos pela pesquisa, o artigo está dividido em quatro partes.

Na seção que se segue à introdução, é realizada uma discussão sobre as teorias de capacidade

tecnológica. No segundo bloco é apresentado o Modelo Descritivo de Capacidade Tecnológica de

Empresas do Setor de Café Solúvel construído para a pesquisa e a metodologia. Na terceira parte são

apresentadas as análises dos dados para que, na quarta e última seção, seja finalizado o artigo com a

sua conclusão.

2 REVISÃO TEÓRICO-EMPÍRICA

Nesta seção serão discutidos os conceitos utilizados pela literatura para explicar o fenômeno da

capacidade tecnológica. Também serão apresentados alguns modelos teóricos explicativos sobre

capacidade tecnológica que ajudaram na construção do modelo descritivo utilizado no artigo.

2.1 Teoria Evolucionária

A importância das teorias evolucionárias ou neoschumpeterianas dá-se em virtude da limitação

das teorias com abordagem tradicional, clássica ou neoclássica, segundo as quais as atividades

tecnológicas ocorrem sob uma hipótese simplificada, com base na premissa de que todas as opções

tecnológicas estão livremente disponíveis e conhecidas por todos, e as escolhas têm por objetivo a

otimização da utilização de recursos financeiros, humanos e físicos e a tecnologia é absorvida e

utilizada sem esforços e custos posteriores (Lall & Teuball, 1998).

A contribuição teórica proposta por Nelson e Winter (1982) diverge destes pressupostos

tradicionais, reconhecendo a tecnologia como endógena, resultado de um processo acumulativo de

aprendizagem, o que a caracteriza como tácita e idiossincrática, ou seja, não pode ser facilmente

codificada em fórmulas ou instruções, não pode ser facilmente ensinada, transferida ou imitada;

portanto, tecnologias iguais são empregadas com amplos níveis de desigualdade em termos de

eficiência técnica por diferentes agentes.

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Enquanto as teorias neoclássicas assumem uma separação entre a inovação e a difusão, e não

levam em conta os problemas de assimilação e adaptação de tecnologias adquiridas externamente, a

abordagem não convencional enfatiza o papel central dos esforços tecnológicos locais no domínio de

novas tecnologias, adaptando-as a condições locais, aperfeiçoando-as, difundindo-as dentro da

economia, explorando-as por meio do crescimento de exportações de produtos e diferenciação, ou

exportando as próprias tecnologias (Lall, 1994). Lall e Teuball (1998) afirmam que as empresas

operam com conhecimento imperfeito e precisam de tempo e esforços próprios para aprender a usar

tecnologias de forma eficiente e conduzir esforços tecnológicos.

De acordo com Nelson e Winter (1982), a inovação é um processo que se desenvolve ao longo

de uma trajetória, intimamente relacionada com as competências/capacidades/habilidades das

organizações. As escolhas tecnológicas realizadas anteriormente, os conhecimentos e habilidades

acumulados e a adaptação ao ambiente de atuação resultam no comportamento futuro da empresa.

2.2 Conceitos de Capacidade Tecnológica

Enquanto as organizações da fronteira tecnológica já desenvolveram suas capacidades

tecnológicas inovadoras, as empresas em processo de catching up ou em mercados de recente

industrialização precisam se empenhar num processo gradativo de acumulação de capacidades

tecnológicas para aproximar-se das fronteiras tecnológicas. Neste raciocínio, Bell, Scott-Kemmis &

Satyarakwit (1982) apontaram que, para a organização em processo de industrialização, que no início

opera suas atividades de forma pouca competitiva mundialmente (também conhecida como “infância

industrial”), a acumulação de capacidades tecnológicas é ponto chave para alcançar a competitividade

no mercado mundial (ou a “maturidade industrial”). E a aceleração da velocidade de acumulação de

capacidade tecnológica é o meio pelo qual as organizações conseguem realizar o processo de catching

up tecnológico, se aproximar ou alcançar a fronteira tecnológica (Figueiredo, 2000).

As definições, conceitos e classificações de “capacidades tecnológicas” já foram comentados

por Costa (2003) como vastas e heterogêneas. A primeira definição do conceito de “capacitação” foi

desenvolvida pela corrente dos recursos, segundo a qual Penrose (1959) trata as empresas como um

conjunto de recursos. O autor introduz o conceito de “base tecnológica”, que descreve o conjunto de

capacitações e de ativos que constituem o núcleo dos conhecimentos e habilidades que a empresa

domina e sobre os quais ela se desenvolve, ela é mais que uma unidade administrativa, é também um

conjunto de recursos produtivos. A empresa é constituída de recursos físicos ou tangíveis (ex.:

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instalações, equipamentos, estoques de insumos, estoques de produtos prontos, entre outros) e de

recursos humanos ou intangíveis (Penrose, 1959).

Outra definição para “capacidade tecnológica” é encontrada na década de 70 em Katz (1976),

que considera a capacidade tecnológica uma “atividade inventiva” ou um esforço criativo sistemático

necessário às melhorias da capacidade produtiva da empresa ou para obter novos conhecimentos em

nível de produção. Já Dahlman e Westphal (1982) formularam o conceito de “domínio tecnológico”,

concretizado por meio do “esforço tecnológico” em assimilar, adaptar e/ou criar novas tecnologias,

que podemos considerar uma definição análoga à “capacidade tecnológica” de Bell et. al. (1984) e

Scott-Kemmis (1988). Para estes a capacidade tecnológica inclui as aptidões e os conhecimentos

incorporados nos trabalhadores, nas instalações e nos sistemas organizacionais, visando produzir

mudanças tanto na produção, quanto nas técnicas utilizadas. Numa tentativa posterior, com a intenção

de aprimorar o conceito de “capacidade tecnológica”, Westphal, Kim & Dahlman (1984, p. 5) define-o

como a “aptidão para usar efetivamente o conhecimento tecnológico”.

Seguindo essa linha de pensamento da natureza intrínseca da tecnologia, Lall (1992) considera

que a capacidade tecnológica de uma empresa é de natureza intrínseca – ou seja, requer um esforço

deliberado interno à organização – e difere de uma para a outra, o que torna o conhecimento

tecnológico algo não completamente partilhado, transferido ou imitado entre as empresas. Esse

processo de transferência envolve, obrigatoriamente, a aprendizagem endógena dos conhecimentos

tecnológicos, que a princípio, em grande parte, não estão claramente definidos e disponíveis. Tal

conhecimento tem caráter estratégico e é dificilmente partilhado, transferido ou imitado entre as

organizações. Lall (1982) considera a capacidade tecnológica um “esforço tecnológico interno” para

dominar novas tecnologias, adaptando-as às condições locais, aperfeiçoando-as e até mesmo

exportando-as. Essa conceituação dá a noção de que a capacidade tecnológica é um conjunto de

conhecimentos, aptidões e experiências tecnológicas acumuladas por meio de esforços tecnológicos

endógenos, que podem ser conduzidos de forma explícita ou deliberada (Costa, 2003).

Neste artigo, considera-se como mais apropriada a definição de Bell e Pavitt (1993), segundo a

qual capacidade tecnológica são os recursos necessários para gerar e gerenciar a mudança tecnológica,

incluindo habilidades, conhecimentos e experiências, estruturas institucionais e as redes de ligações.

Os recursos necessários para gerir esta mudança tecnológica estão alocados nos indivíduos e sistemas

organizacionais (Bell & Pavitt, 1993, 1995). Bell e Pavitt (1993) diferenciam a “capacidade de

produção” e a “capacidade inovadora”, considerando capacidade de produção como as capacidades de

rotina, que são as habilidades para as atividades operacionais e de produção de bens e serviços com

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determinado nível de eficiência, usando um aglomerado de dimensões: habilidades, equipamentos,

especificações de produtos e de produção, sistemas e métodos organizacionais. No outro espectro, a

capacidade inovadora refere-se à incorporação de recursos adicionais e distintos para gerar e gerenciar

a mudança tecnológica.

2.3 Modelos de Capacidade Tecnológica

De acordo com Costa (2003), a relação entre esforços, capacidades e mudanças técnicas

seguindo uma trajetória cumulativa traz implícita a noção de uma sequência evolucionista de

acumulação, incorporada em muitas classificações e tipologias encontrada na literatura. Nestas

classificações, a empresa acumula gradativamente conhecimentos, experiências e aptidões que lhe

permitem evoluir da mera operação de determinada tecnologia, para sua busca, aquisição, absorção,

adaptação, melhoramento, modificações substanciais, até atingir um nível de aprendizado que lhe

permita realizar mudanças inéditas na fronteira internacional da tecnologia. Portanto, nesta seção serão

apresentados os modelos de capacidade tecnológica formulados por Lall (1992), Bell (1997), e

Figueiredo (2001).

2.1.1 Modelo de Lall

Para realizar uma avaliação do grau de complexidade das capacidades tecnológicas acumuladas

das organizações, Lall (1992) desenvolveu um modelo com três graus de complexidade segundo a

formalidade e propósito dos esforços tecnológicos, considerando dimensões de investimento, produção

e relacionamento com a economia:

Nível Básico – capacidades acumuladas por meio das rotinas básicas da atividade de

produção, isto é, mecanismos by-doing. A capacitação é necessária para as empresas se manterem em

funcionamento.

Nível Intermediário – capacidades construídas por meio de atividades ou esforços

conduzidos em base mais deliberada. Essa capacitação habilita as empresas a aprimorarem a execução

de melhoria da tecnologia em uso. Ela consiste na capacidade de encontrar soluções cujo desempenho

deve ser superior.

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Nível Avançado – capacidades que representam um nível superior, no qual a empresa

deverá não somente fazer melhor, mas, principalmente, fazer diferente, evoluir ou criar novas

tecnologias.

No modelo de Lall é possível distinguir capacidade operacional e capacidade inovativa. A

capacidade operacional é considerada sinônima da expressão “know-how”, que indica que os

conhecimentos e experiências são acumulados para usar tecnologias transferidas por outras

empresas/setores/mercados, adquiridas por esforços by-doing – constitui uma capacidade tecnológica

de menor nível agregado de complexidade. Já a capacidade inovativa é entendida como os

conhecimentos, experiências e capacidades de entender os princípios da tecnologia, podendo ser

considerada um sinônimo da expressão “know-why” – seu nível de complexidade é maior (Lall, 2000).

2.1.2 Modelo de Bell

No modelo desenvolvido por Bell (1997 como citado em Figueiredo, 2004), o desenvolvimento

da capacidade tecnológica das empresas dá-se num processo de acumulação ao longo dos anos em uma

trajetória gradual de aquisição de novas capacidades tecnológicas. O autor divide seu modelo em

quatro níveis de capacidade tecnológica de empresas de economias emergentes (de acordo com a

figura 1):

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Figura 1 – Modelo de Bell

Fonte: Bell (1997 como citado em Figueiredo, 2004).

2.1.3 Modelo de Figueiredo

De acordo com Figueiredo (2003, 2004, 2005), os estudos sobre capacidade tecnológica

ganharam uma abordagem mais ampla na década de 90, o que levou à perspectiva de quatro dimensões

sobre tal conceito: sistema físico, sistema organizacional, mentes dos indivíduos e produtos &

serviços.

Depois de identificadas as dimensões da capacidade tecnológica, Figueiredo (2003) construiu

um modelo que permite identificar e medir a capacidade tecnológica com base em atividades que a

empresa é capaz de realizar ao longo de sua existência. O modelo distingue dois tipos: capacidades

rotineiras – compreende a habilidade de usar ou operar determinada tecnologia – e capacidade

inovadora – adaptar ou desenvolver novos processos de produção, sistemas organizacionais, produtos,

equipamentos e projetos de engenharia, ou seja, gerar e gerir a inovação tecnológica.

Quadro 1- Modelo descritivo de Figueiredo

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Fonte: Figueiredo (2004).

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De acordo com Figueiredo (2003), o modelo é explicado da seguinte forma: as colunas

representam as capacidades tecnológicas por função, e as linhas, os níveis de dificuldade. Essas

categorias são medidas pelas atividades que expressam os níveis de capacidades ou, em outras

palavras, o tipo de atividade que a empresa é capaz de realizar por si mesma em diferentes intervalos

de tempo. O modelo divide-se em sete níveis de capacidade para cinco funções tecnológicas (ver

quadro 1).

Em Figueiredo (2003, 2004, 2005), é discutido o mérito dessa abordagem não convencional de

análise da capacidade tecnológica em comparação com os indicadores convencionais de análise e

mensuração de P&D e patentes. São apontados a irrelevância de indicadores com atividades de P&D,

patentes internacionais, laboratórios de P&D formalmente estruturados e a abordagem estática de

análise.

Ressalte-se que o modelo não pressupõe uma sequência de evolução linear ou que as

capacidades sejam construídas ao mesmo tempo e na mesma velocidade para as diferentes funções

tecnológicas (Figueiredo, 2004).

3 METODOLOGIA

Para a classificação dos métodos de pesquisa, Creswell (2007) define como estratégia de estudo

os métodos de pesquisa quantitativo, qualitativo e misto. O estudo qualitativo é considerado uma

pesquisa soft por evitar números e lidar com interpretações das realidades sociais (Bauer & Gaskell,

2002). De acordo com Alves-Mazzotti e Gewansnajder (1999), os estudos qualitativos possuem três

características: (a) visão holística, que parte do princípio de que a apreensão do significado de um

comportamento ou evento só é possível com a compreensão das inter-relações que emergem de um

dado contexto; (b) abordagem indutiva, por meio da qual o pesquisador parte de observações mais

livres, deixando que dimensões e categorias de interesse aflorem progressivamente durante os

processos de coleta de análise; e (c) investigação naturalística, na qual a intervenção do pesquisador no

contexto observado é reduzida ao mínimo. As pesquisas qualitativas se referem ao significado, à

definição, ao modelo que caracteriza alguma coisa, buscam, portanto, “o que” e não “o quanto”

(Cooper & Schindler, 2003).

O propósito de um estudo ou pesquisa pode ser o de descrever um fenômeno social (descritivo),

o de explorar um assunto inédito (exploratório) ou de explicar por que algo acontece (explanatório); e

mesmo tendo múltiplos propósitos, em tais pesquisas geralmente um acaba predominando sobre os

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outros (Collis & Hussey, 2005; Neuman, 1997). O trabalho aqui desenvolvido caracteriza-se como

descritivo, uma vez que o acúmulo de capacidade tecnológico já foi abordado em outros estudos.

A escolha pelo método de estudo de caso foi identificado como o mais adequado ao propósito

desta pesquisa. Para Yin (2005, p. 32), estudo de caso é “uma investigação empírica que investiga um

fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o

fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.

Seguindo essa linha de pesquisa, Cooper e Schindler (2003, p. 604) definem a seleção de casos

por julgamento como um “tipo de amostragem proposital na qual o pesquisador arbitrariamente

seleciona elementos para atender a alguns critérios”, e, também, que é preciso dar a devida atenção à

acessibilidade de informações para a escolha dos elementos estudados, ou seja, a amostragem por

conveniência é uma seleção dada pela facilidade de acesso pelo pesquisador. Desse modo, os critérios

de seleção do caso foram: intencionalidade, não probabilística e acessibilidade.

De acordo com Godoy (2006), as técnicas mais utilizadas são entrevistas em profundidade,

observação e análise de documentos. A entrevista, de acordo com Godoy (2006), é considerada

pertinente para investigações em que o assunto pesquisado é complexo, pouco explorado ou

confidencial e delicado. Para a execução deste estudo, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas,

tipo que, de acordo com Laville e Dionne (1999, p. 188), significa uma “série de perguntas abertas,

feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de

esclarecimento”.

Dos dados coletados foi feita análise de conteúdo, que, de acordo com Cooper e Schindler

(2003), constitui-se uma ferramenta flexível, utilizada para trabalhar com o conteúdo semântico de

uma comunicação. Foi criado um roteiro de entrevista para a execução das entrevistas na empresa e em

virtude das dificuldades inerentes ao questionamento direto sobre a trajetória de acumulação de

capacidades tecnológicas na empresa.

O roteiro de entrevista foi aplicado em um grupo de cinco pessoas que representavam a

“memória organizacional” da Cia. Iguaçu de Café Solúvel. As entrevistas ocorreram no dia

12/02/2010. Os entrevistados representam vários setores e diversas hierarquias dentro da empresa.

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3.1 Modelo Descritivo

Quadro 2 - Modelo descritivo de capacidades tecnológicas de empresas do setor de café solúvel

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Produto Processo Equipamentos Investimentos P&D(1) Básico Produção de Café Solúvel em

Pó com especificações amplamente aceitas e com possível fornecimento para mercados internacionais preparado pelo processo Spray Drying

Coordenação de Rotina na Fábrica e Absorção da Capacidade Produtiva da Fábrica

Instalação de Equipamentos para Produção Básica de Café Solúvel Spray e Liofilizado.

Decisão sobre localização da fábrica e dos escritórios, realizando estudos de viabilidade técnico-econômica. Decisão de compra de Maquinário de Qualidade Mundial.

Capacidade de instalação de tecnologias e absorção de transferência de tecnologias. Desenvolvimento de projetos em conjunto. Necessidade de assistência técnica terceirizada. Melhoria de tecnologias instaladas

(2) Renovado Produção de Café Solúvel Liofilizado com especificações simples e com fornecimento para mercados internacionais preparado pelo processo Freeze Drying

Coordenação Aprimorada da Fábrica. Implantação inicial de ferramentas de qualidade básicas. Uso pioneiro de Sistemas Informatizados e de Sistemas de Integração.

Instalação de Equipamentos para Produção Aprimorada de Café Solúvel Spray e Extrato. Perfuração de Poço Artesiano para atendimento da Fábrica.

Decisão sobre participação de Capital Estrangeiro, criando sinergias para ampliação produtiva e comercial

Primeiras iniciativas de P&D próprias. Capacidade de criação e implantação de novas tecnologias. Concepção de órgão especializado em novas tecnologias e prestação de assistência técnica.

(3) Extra básico Produção de diversos tipos de Café Solúvel com especificações moderadas e com ampla aceitação em mercados internacionais com a Marca da Cia Iguaçu.

Pequenas Adaptações e Intermitentes em Processos Produtivos da Fábrica. Consolidação da implantação de ferramentas de qualidade básicas e implantação de novas técnicas organizacionais como o JIT, Kanban, TQM e outros.

Instalação de Equipamento para Produção Aprimorada de Café Solúvel Liofilizado. Manutenção Técnica de equipamentos autônoma.

Decisão sobre investimentos em melhorias do ativo existente e na criação de novos ativos, ampliando capacidade produtiva, sistema de produção e portfólio de produtos

Formalização de Departamento de P&D própria. Concepção de projetos em Célula de Produção Piloto, Laboratório Químicos e Laboratório de Design.

(4) Pré-intermediário Produção de Óleo e Extrato de Café com especificações complexas e com aceitação em mercados internacionais preparado pelo processo de Crioconcentração

Ampliação sistemática da capacidade produtiva.Uso de ferramentas para promover a Segurança no Trabalho e de Preservação do Meio Ambiente.

Instalação de Equipamentos para Produção Complexa de Café Solúvel Spray e Óleo. Realização de Manutenção Preventiva. Perfuração de Poço artesiano de grande profundidade.

Decisão de investimentos em Empresas horizontais e verticais do Setor, ampliando mercado de atuação horizontal e cobertura de setores correlatos de importância estratégica

Formalização de Departamento de Pesquisa Aplicada capacitada para entregar estudos, projetos, produtos, processos e soluções inovadoras referência em seu Segmento Industrial Nacionalmente.

(5) Intermediário Produção de Café Solúvel Aglomerado com especificações muito rígidas e penetração em vários mercados internacionais preparado pelo processo de concentração a frio do extrato de café líquido

Aprimoramento contínuo de processo. Desenho de Sistemas automatizados estáticos. Implantação de Sistemas de Integração em toda a fábrica. Obtenção de Certificações ISO.

Instalação de Equipamentos para Produção Complexa de Café Aglomerado e para Produção de Nível Mundial em sua cadeia produtiva.

Decisão de âmbito internacional com a instalação de escritórios em mercados internacionais chave.

Formalização de Departamento de Pesquisa Aplicada capacitada para entregar estudos, projetos, produtos, processos e soluções inovadoras referência em todos os Setores Produtivos Nacionalmente

(6) Intermediário Superior

Produção de diversos tipos de Café Solúvel com especificações de alto padrão e desenvolvidas de acordo com as especificações solicitadas pelo cliente internacional. Obtenção de novos produtos através de P&D.

Consolidação do Sistema operacional total. Engajamento em melhorias contínuas inovadoras em processos através de P&D. Obtenção de Certificações de Mercados Internacionais.

Instalação de Equipamentos para Produção de Nível Mundial de Café Solúvel Liofilizado e de Eficiência Ecológica Superior.

Decisão de âmbito internacional com a instalação de unidades produtoras em mercados internacionais chave.

Formalização de Departamento de Pesquisa Aplicada capacitada para entregar estudos, projetos, produtos, processos e soluções inovadoras referência em seu Segmento Industrial Internacionalmente

(7) Avançado Produção de diversos tipos de Café Solúvel com especificações de Nível e Reconhecimento Mundial. Obtenção de novos produtos através de P&D de classe mundial.

Sistema de Produção de classe mundial. Referência em desenho e desenvolvimento de novos processos baseados em P&D de classe mundial.

Instalação de Parque Fabril de Nível Mundial. Desenvolvimento de projetos de P&D para novos equipamentos e componentes. Prestação de assistência técnica para outras empresas.

Decisão de transferência de capital e produção para mercados globais, procurando explorar vantagens competitivas de países e regiões

Formalização de Departamento de Pesquisa Aplicada capacitada para entregar estudos, projetos, produtos, processos e soluções inovadoras referência em todos os Setores Produtivos Internacionalmente

Níveis de Capacidade Tecnológica

Rotineiro

Inovativo

Função Tecnológica

Fonte: Elaborado pelos Autores.

3.2 Evolução da Capacidade Tecnológica da Iguaçu

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Nesta seção será descrita a trajetória de acumulação de capacidades tecnológicas da empresa

Cia. Iguaçu de Café Solúvel. A descrição será feita de acordo com a estrutura indicada no quadro 2 –

Modelo Descritivo de Capacidades Tecnológicas de Empresas do Setor de Café Solúvel.

Na função Produto, as capacidades inovativas iniciam a partir do sexto nível, ou seja, do nível

intermediário superior. O motivo de optar por esta fronteira tecnológica é a “commoditização” dos

demais produtos de café solúvel, observando-se que somente empresas capazes de realizar estudos

para especificar seus produtos de acordo com o interesse de cada cliente internacional podem ser

consideradas realmente inovadoras.

Para a função Processo, as capacidades inovativas iniciam a partir do quinto nível, ou seja, do

nível intermediário. A razão por apontar que empresas deste nível são consideradas inovadoras deve-se

ao fato de que buscam obter certificações de qualidade e certificações internacionais para garantir a

clientes internacionais a procedência de seus produtos e poder se destacar no mercado internacional.

As demais ferramentas e ações de qualidade são somente o apoio para que a empresa possa criar esse

diferencial competitivo.

Para a função Equipamento, as capacidades inovativas iniciam a partir do quinto nível, ou seja,

do nível intermediário. Consideram-se empresas inovativas nesta função quando elas têm um parque

fabril equipado com maquinário que possibilite a produção de todas as variações de café solúvel

encontradas no mercado nacional e internacional e várias seções do seu processo produtivo que

estejam equipadas com máquinas de nível mundial.

Para a função Investimento, as capacidades inovativas iniciam a partir do quarto nível, ou seja,

do nível pré-intermediário. Toda empresa, seja ela de qualquer ramo, que tenha capacidade de tomar

decisões de expansão de seus negócios de forma horizontal e vertical com relação ao seu setor pode ser

considerada inovadora. Tal empresa busca abrir sua capacidade de visão estratégica, focando em ações

de cobertura de mercado, expansão de participação via setores correlatos, fortalecimento da marca e

ações para estreitar suas relações com clientes.

Para a função P&D, as capacidades inovativas iniciam a partir do terceiro nível, ou seja, do

nível extra-básico. São consideradas empresas inovativas aquelas que alocam recursos e esforços para

possuir um departamento de P&D formalizado.

A Iguaçu conseguiu atingir, nas funções Produto, Processo, Equipamento e Investimento, o

nível intermediário superior, e, na função P&D, o nível extra-básico.

No quadro 3 (Principais eventos de acumulação de capacidade tecnológica da Iguaçu), busca-se

apresentar de forma sintética os principais eventos que marcam a trajetória de acumulação de

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capacidade tecnológica nas diferentes funções (Produto, Processo, Equipamento, Investimento e

P&D). Com os eventos relacionados no quadro, foi possível determinar como e em qual velocidade a

Iguaçu realizou seu processo de desenvolvimento tecnológico.

Quadro 3 – Principais eventos de acumulação de capacidade tecnológica da Iguaçu

Função Tecnológica Ano Principais eventos

Produto

1970 Produção de café tipo spray drying e freeze drying. 1971 Criação da marca Amigo. 1974 Interrupção da produção de café tipo freeze drying. 1979 Produção de extrato de café. 1985 Segundo início de produção de café tipo freeze drying em joint venture com

a Macsol. 1986 Produção de extrato líquido de café. 1994 Produção de café aglomerado. 2000 Criação de marcas globais para diversos países.

Processo

1974 Intercâmbio de técnicas de produção e melhoria industrial com a Marubeni (empresa japonesa).

1985 Intercâmbio de tecnologia para desenvolvimento de um novo processo de extração de café com uma empresa alemã.

1985-1990

Criação de programas internos de qualidade como o CCQ (Círculos de Controle de Qualidade), PAIS (Programa de Aproveitamento de Ideias), Administração participativa e implementação do TQC (Controle de Qualidade Total).

1990-1995

Implementação de programas de qualidade como 5S, JIT, Kanban, Operação Etiqueta Vermelha, TPM (Manutenção da Produtividade Total), Plano Quinquenal e kaizens.

1994 Intercâmbio de tecnologias de processo com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo), JICA (Japan International Cooperation Agency).

2001-2009

Certificação ISO 9000 (Gestão de Procedimentos), ISO 14000 (Gestão Ambiental), OHSAS 18001 (Segurança e Saúde), Selo Kosher, Selo Halal, Selo Fair Trade e certificação BRC.

Equipamento

1974 Instalação da Torre Spray e de Liofilização. 1976-1980

Instalação da segunda Torre Spray, Centrífuga Alfa Laval, Linha de Extração III, Torrador Got Hot e Stripper.

1982-1986

Fundação da Iguaçumec e aquisição da Macsol.

1986 Instalação dos crioconcentradores Grenco I e Grenco II. 1991- 1997

Instalação da Torre Spray III – Morinaga, Aglomerador Lyons Tetley, torrador Leogap, Blending Stations.

2005-2010

Inauguração do torrador Lilla, da linha de extração IV, de novo Liofilizador e da caldeira ecológica H. BREMER.

Investimento

1980 Participação no capital pela Marubeni-Colorado. 1981 Criação da Iguaçufértil e Iguaçumec. 1984 Compra da Café Paes. 1986 Joint venture com a Coca-Cola e criação da Macsol.

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1997 Controle acionário da Panfoods Co. Limited. 2002-2003

Aquisição da Autômatos Industrial S.A. e Inauguração da fábrica na Romênia e na Espanha.

P&D 1980 Criação da Planta Piloto. 1996 Criação do Departamento de Embalagens. 1998 Criação do Laboratório de Pesquisa.

Fonte: Elaborado pelos Autores.

No tempo despendido pela Iguaçu para deixar de ser uma empresa de capacidades rotineiras e

se tornar uma empresa de capacidades inovativas, não houve um marco ou padrão. O estudo mostrou

que cada função teve a sua trajetória (gráfico 1).

Gráfico 1 – Velocidade da trajetória de capacidade tecnológica da Iguaçu (em anos)

9 7 3 8 6 10

12 13 4 4 3 7

8 7 4 8 14 2

5 4 5 16 5 8

14 15 14

Produto

Processo

Equipamento

Investimento

P&D

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 7

Fonte: Elaborado pelos Autores.

A função Produto foi uma das que tiveram sua fronteira tecnológica ultrapassada mais tarde.

Foram necessários 33 anos para que a Iguaçu atingisse o nível intermediário superior. Em 1974,

apenas sete anos após a sua fundação, a empresa teve o episódio mais dramático de sua história: o

incêndio do liofilizador. Somente em 1986, doze anos após o grande incêndio, a empresa volta a

produzir o café solúvel liofilizado com a joint venture entre a Iguaçu-Marubeni e a Coca-Cola. Foram

necessários ainda catorze anos para que a empresa pudesse oferecer soluções especializadas em café

solúvel a seus clientes.

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A função Processo foi outra capacidade tecnológica que demorou 33 anos para que tivesse a

fronteira tecnológica ultrapassada. Diferente da função Produto, que teve um incidente histórico, essa

função teve sua evolução arrastada porque até o ano de 1999 a empresa não tinha investido num

sistema de gerenciamento corporativo eficaz nem se organizado de tal forma que pudesse, até então,

ser considerada capacitada para receber alguma certificação de qualidade, seja ela de processos,

ambiental, de riscos ou de alimentos. A empresa passa a dar atenção a essas questões após sua

completa inserção em mercados internacionais.

Já a função Equipamentos levou 27 anos para a superação da fronteira tecnológica. Assim

como houve prejuízo à função Produto pelo incêndio de 1974, também essa função teve sequelas em

virtude do acontecimento. A empresa só passou a contar com maquinário capaz de produzir café

liofilizado doze anos após o incêndio e levou mais oito anos para equipar-se de forma adequada e

possibilitar a produção de todos os tipos de café solúvel. Esse fato aconteceu depois de a empresa

perceber que o produto oriundo da Torre Spray III era de maior qualidade e os clientes não estavam

dispostos a pagar mais por um produto spray dried. A solução encontrada foi incorporar o processo de

aglomeração ao portfólio da empresa, disponibilizar esse produto para o mercado interno e externo e

equipar processos produtivos de apoio com máquinas de nível mundial para garantir a qualidade.

É possível perceber que a função Investimento, de acordo com o gráfico 10, teve o momento de

passagem do nível rotineiro para o nível inovativo como o mais precoce da trajetória da Iguaçu. A

empresa levou catorze anos para que a fronteira tecnológica fosse superada. Isso ocorreu devido à

visão estratégica e de futuro dos gestores da empresa. Desde 1981, a empresa já realizava

investimentos tanto em empresas de setores horizontais (Colorado, Iguaçu Comercial, Macsol,

Panfoods, Francafé, ACC e Produção na Romênia), como em setores verticais de importância

estratégica (Cafegassu, Compag, Iguaçumec e Autômatos).

A última função tecnológica, a de P&D, levou 29 anos para ultrapassar a fronteira tecnológica.

Desde 1980 a empresa já tinha iniciado algumas atividades de P&D internas como a planta piloto, mas

somente em 1996 veio a estabelecer uma célula formalizada de Pesquisa e Desenvolvimento. Esse

departamento é peça fundamental para que a empresa mantenha um relacionamento com clientes

nacionais e internacionais e para o desenvolvimento de novos produtos, designs, especificações e

exames. Isso demonstra que, apenas quando a empresa alcançou um envolvimento ativo com seus

clientes, passou a alocar recursos para o desenvolvimento compartilhado de produtos que atingissem as

expectativas dos clientes.

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Ao analisar a trajetória de acumulação de capacidade tecnológica da função Produto, pode-se

observar que, além de apresentar maior oscilação, com períodos de aceleração e desaceleração,

evolução e regressão, teve, entre 1992 e 2002, a maior taxa de crescimento.

Gráfico 2 – Evolução funcional da Iguaçu (em anos)

Fonte: Elaborado pelos autores.

A trajetória da função Tecnológica de Processo, excluindo a Função P&D, foi a que teve a taxa

de crescimento de sua evolução tecnológica mais lenta. De acordo com o gráfico 2, esta função só

alcançou as demais funções entre 2002 e 2007.

Ao observar a função Equipamento, vê-se que a sua trajetória de acumulação também foi

bastante oscilatória, já que intercalou momentos de taxas de crescimento altas e baixas. O período com

a maior taxa de crescimento nesta função foi de 1982 a 1992.

A função Investimento teve, em sua evolução a partir de 1976, a maior taxa de crescimento

entre todas. O período de maior representatividade da evolução desta função aconteceu entre a

Fundação da Empresa e 1978.

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A função P&D demonstra claramente que sua evolução não conseguiu acompanhar a das

demais funções. O período mais marcante para esta função ocorre em meados dos anos 80, entre 1983

e 1987, quando a sua trajetória perde fôlego e se afasta das demais.

4 CONCLUSÃO

O tema deste artigo refere-se à discussão da trajetória de acúmulo de capacidades tecnológicas

da Cia. Iguaçu de Café Solúvel. Para tratar do tema, foi necessário realizar uma pesquisa sobre o

processo histórico da empresa estudada, bem como efetuar um levantamento dos marcos tecnológicos

da empresa com o objetivo de construir um modelo descritivo de capacidades tecnológicas deste setor

e identificar a evolução da capacidade tecnológica da empresa.

Neste trabalho, esforços foram direcionados na construção de uma taxonomia descritiva e

analítica sobre capacidade tecnológica, o que irá apontar um caminho para que empresas da indústria

de café solúvel tracem suas estratégias de capacitação tecnológica, catching up tecnológico e uma

forma de analisar a concorrência local e internacional. Com este estudo, empresas do setor poderão

indicar seu posicionamento atual e traçar sua trajetória de acumulação de capacidades tecnológicas

para entender as implicações tecnológicas. Neste artigo não se teve como objetivo indicar caminhos

para que as empresas incrementem suas capacidades, corrijam falhas ou redefinam trajetórias, mas,

sim, tracem um diagnóstico do segmento em que estão inseridas. A empresa, uma vez com essa

ferramenta, pode querer ou não tomar decisões para mudar ou incrementar sua trajetória.

Cabe ressaltar que a metodologia de pesquisa, as teorias e o modelo descritivo foram

construídos considerando-se aspectos e particularidades exclusivamente do setor de café solúvel, com

foco em aspectos relevantes para esse setor da indústria. A formação do modelo descritivo e seus

indicadores de desenvolvimento permitiram realizar uma análise objetiva e mais precisa quanto às

capacidades, além de possibilitar uma comparação, em futuros trabalhos, entre empresas deste setor.

Com os dados apresentados na seção “Evolução da Capacidade Tecnológica” e o modelo

descritivo construído para as empresas do setor de café solúvel apresentado no quadro 2, foi possível

traçar a trajetória da capacidade tecnológica da Iguaçu para as cinco funções estudadas. Pode-se

concluir que o desenvolvimento tecnológico da Iguaçu aconteceu de forma distinta, ou seja, a

acumulação de capacidades tecnológicas na empresa teve modos e velocidades desiguais entre as cinco

funções estudadas. Isso não indica que a empresa tenha tido alguma anomalia ou enfrentado alguma

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grande dificuldade por causa da assimetria da trajetória tecnológica, somente que sua estratégia focou

esforços na acumulação de determinadas capacidades em diferentes períodos de sua história.

A empresa demonstrou engajamento para melhoria incremental de todas as funções

tecnológicas. De acordo com os dados obtidos, observou-se que a empresa, em toda a sua trajetória,

tratou as funções Produto, Processo, Equipamento e Investimento com atenção parecida. No início de

sua história, a empresa concentrou esforços na capacitação tecnológica nas funções Investimento e

Equipamento justamente para poder criar uma base para que as funções Produto e Processo pudessem

ser focadas. Com a sofisticação de seus clientes e mercados, a empresa, naturalmente, buscou a

melhoria de seus Produtos e Processos. Nos anos mais recentes, a empresa conseguiu alinhar seus

esforços nessas quatro funções e pôde finalmente focar em sua capacidade tecnológica de P&D.

Os dados indicam que todas as funções são ligadas umas às outras de forma bastante íntima e

com repercussões diretas e indiretas na melhoria ou na inibição do desenvolvimento das demais. De

forma bastante óbvia, a função Produto sempre dependeu diretamente da função Equipamento ou a

função Equipamento depende diretamente e indiretamente da função Investimento. Portanto, podemos

confirmar que uma função pode desempenhar um papel catalisador na melhora conjunta de todas as

demais funções da empresa.

Pode-se concluir que, para conquistar, atingir e permanecer em mercados nacionais e

internacionais competitivos, empresas do setor de café solúvel devem engajar esforços para a

acumulação de diversas competências organizacionais, alianças e capacidades tecnológicas. Ou seja, se

a empresa busca a aceleração pela conquista de mercados internacionais e manutenção da sua

competitividade em mercados globais, deve realizar esforços em prol da qualificação técnica e

gerencial de seu corpo de funcionários e de sua malha organizacional.

Outra forma apresentada para a melhoria contínua das capacidades tecnológicas e do

relacionamento com o mercado internacional são as alianças para desenvolvimento de P&D e de

socialização do conhecimento de mercados estrangeiros. A Iguaçu fez isso de forma exemplar,

encontrando parceiros no exterior que a capacitaram a encontrar novos produtos, processos,

equipamentos, clientes e mercados. O fato de a empresa estar mergulhada num universo consumidor

mais amplo, a obriga a ter uma maior capacidade de recepção das necessidades e exigências, o que lhe

permite uma absorção mais eficiente de conhecimentos técnicos e mercadológicos.

Com base no estudo realizado é possível determinar algumas sugestões de pesquisa sobre a

evolução da capacidade tecnológica de empresas:

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pesquisar outros casos, de forma qualitativa ou quantitativa, com o objetivo de verificar se

o mesmo fenômeno ocorre de forma similar. Esses novos casos podem ser em organizações do setor de

café solúvel, setores correlatos e outros setores industriais, sendo possível a generalização dos

resultados alcançados;

desenvolvimento de estudos em empresas do setor de café solúvel instaladas em outros

países do mundo, para analisar se o fenômeno ocorre com empresas não brasileiras;

estudo de aprofundamento com outras perspectivas, interpretações e teorias para análise

dos resultados, já que o trabalho realizado não engloba todas as considerações possíveis;

estudos de casos comparativos entre empresas do setor de café solúvel com a mesma

estrutura analítica, a fim de determinar as diferenças do processo de evolução da capacidade

tecnológica para identificar os diferentes desempenhos e trajetórias;

estudos de casos comparativos entre empresas do setor de café solúvel com a mesma

estrutura analítica, a fim de determinar a distância tecnológica entre as empresas;

aprofundamento do estudo realizado, a fim de determinar as razões pelas quais a empresa

não teve sucesso na evolução completa de sua capacitação tecnológica nas diferentes funções

tecnológicas propostas, e, também, tendo por objetivo entender os fatores que possam levar à

aceleração da taxa de acumulação de capacidades tecnológicas.

REFERÊNCIAS

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TECHNOLOGICAL CAPABILITY TRAJECTORY OF CIA. IGUAÇU DE CAFÉ SOLÚVEL

ABSTRACT This article features the history of the technological capacity of Cia Iguacu de Café Solúvel in the period between 1967 and 2009. To achieve the goal of this work, the paper proposes a theoretical discussion about the theories of technological capability. After consideration of various theories, we considered the use of Model Capabilities Technology Companies in Emerging Economies built by Figueiredo (2004) as the most suitable. To perform the operation of the article, a model was built to analyze and characterize the stages and technological functions of the company. The article presents a qualitative case study aimed to describe the phenomenon of Technological Capability. Iguaçu has achieved in the function PRODUCT, PROCESS, EQUIPMENT and INVESTMENT the level Upper Intermediate. In the function the company achieved the level Extra Basic. By analyzing the changes of level and passing the technological frontier, it was possible to determine four major waves of evolution and based on data from the technological trajectory of Iguaçu, it is possible to determine the existence of two Technological knots. It can be concluded that for companies in the coffee industry, attain and remain competitive in international markets, the company should engage on the combined efforts of several organizational skills, alliances and technological capabilities. Key-words: Technological Capability; Inovation.

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Data do recebimento do artigo: 11/09/2012

Data do aceite de publicação: 25/03/2013