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 I.S.P.A. – INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA Departamento de Formação Permanente 1º Curso avançado DESENVOLVIMENTO TRANSPESSOAL Consciência e Espiritualidade Outubro de 2010 – Abril de 2011 TRANSCENDENDO A HISTÓRIA PESSOAL: PERCURSOS DO TRAUMA PARA A «CURA» Maria da Conceição Costa Nobre de Abranches 1

Transcendendo a história pessoal

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I.S.P.A. – INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADADepartamento de Formação Permanente1º Curso avançado

DESENVOLVIMENTO TRANSPESSOALConsciência e Espiritualidade

Outubro de 2010 – Abril de 2011

TRANSCENDENDO A HISTÓRIA PESSOAL: PERCURSOS DO TRAUMA PARAA «CURA»

Maria da Conceição Costa Nobre de Abranches

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Introdução

O texto que se segue pretende ser a minha resposta «pessoal» a um desafio duplo.

Ele constrói-se, por um lado, em torno da proposta lançada pelo Mestre João da Fonseca,coordenador do curso, para que entregássemos um trabalho final cuja 1ª parte consistirianum «diário de bordo», no qual relataríamos o desenrolar dos sucessivos módulos, e a 2ª nodesenvolvimento dum tema à escolha, de entre os expostos ao longo da formação,

enquanto, por outro lado, representa a minha vivência, pretérita e actual, do que é otranspessoal e da maneira como esta formação se veio entrelaçar com temas que, pelaminha própria experiência, já me eram sobremaneira caros.

Assim, a 1ª parte deste trabalho será um registo das minhas impressões dos diferentesmódulos, impressões essas que não sei se terão alguma coisa de objectivo, dada a

intensidade com que vivi todo o curso.

 Na 2ª parte, recuperarei o tema de um dos módulos – a psicossíntese – e tentarei abordar,muito brevemente, a problemática da adicção e da recuperação na perspectiva da

 psicossíntese, enquanto teoria inserida no amplo «movimento» transpessoal.

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I- Transcendendo a história pessoal: 

- Diário de bordo -  (ou deveria dizer antes, de transbordo?)

9 de Outubro de 2010Enquadramento e compreensão do transpessoal, pelo Prof. Dr. Vítor Rodrigues

Módulo de informação sobre o que é o transpessoal e a forma como a psicologiatranspessoal se insere na história e na dinâmica da psicologia, em sentido amplo.

Antes de mais: O transpessoal pressupõe a existência da alma, ou eu superior, ou  self ; aespiritualidade é física e mentalmente saudável: dá resiliência (pois dá, vou eu pensandocom os meus botões. Penso no meu «programa» espiritual de doze passos, que aprendi nasreuniões, nas conversas com companheiros e na «literatura», penso nos tempos mais

difíceis que passei, que me fizeram recitar mentalmente o 3º passo vezes sem conta:«decidimos entregar a nossa vontade e as nossas vidas aos cuidados de Deus, na forma emque O concebíamos» e penso que fui sempre conseguindo manter-me em recuperação econtinuar em frente).

É um módulo com muita informação, um primeiro contacto que me está a agradar muito;nem dou pela passagem do tempo.

O credo ocidental, que não tive tempo de copiar, mas que sei que é baseado exclusivamentenas premissas do ego, versus a oração de S. Francisco de Assis, toda ela sobre a superaçãodo ego, que está tintim-por-tintim na contra-capa do livro do Wayne Dyer que por acaso ounão trouxe comigo.

As práticas transformativas. A vontade e a consciência (tudo o que ganhei em recuperação, penso eu outra vez. A consciência que (quase) não tive até perto dos 50 anos e depois dissoo exercício diário da vontade a que a minha nova condição de abstinente, só isso paracomeçar, me tem vindo a obrigar. Mais o exercício, também ele diário, da vontade de viver,de recuperar a vida e de a reconstruir).

O professor fala do livro «Consciência cósmica», de Maurice Bucke. Acho que é a«Cosmic consciousness» que comprei na rua há 4 ou 5 anos e ainda não tive não, não é

tempo, mas coragem de ler na íntegra.Características da consciência cósmica:

- Sentimento de unidade com todas as coisas (já o vislumbrei, ou já o tive mesmo, antes edurante a escrita dos meus raros poemas. E mesmo sem eles, muitas vezes em silêncio, àsvezes com música, às vezes quando me lembro de imagens da minha infância solitária,onde conheci o terror e o maravilhamento. Essa é a verdadeira razão por que estou aqui,hoje)

- Vivência da inefabilidade e consequente dificuldade em relatar a experiência

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- Carácter noético, com forte senso de realidade (o «despertar». Às vezes depois do zazenno dojo da Morais Soares era tudo tão real, tão inacreditavelmente real e presente, que

 parecia que eu tinha entrado noutra vida, antes desta que conheço – muitas vezes tive osentimento de reentrar em «estados de graça» da infância -, depois desta que conheço ou,

quem sabe, paralela a esta que conheço)

-Transcendência do espaço-tempo

- Sentido do sagrado em relação ao que está a acontecer (as três últimas estão intimamenteligadas naquelas experiências depois do zazen)

- Desaparecimento do medo da morte perante a vivência da eternidade da vida.

Copiei tudo isto dos meus apontamentos, porque me parece fundamental e porque sinto afelicidade do re-conhecimento, porque já vivi estas realidades, não permanentemente, claro

(ai!, a impermanência de tudo!), mas já as senti, já as experimentei nos meus sentidos e naminha mente, juntos noutra coisa que não sei o que é mas que está para lá dos sentidos:trans-não sei bem o quê, senti-me tentada a escrever trans-sensorial (porque começa nossentidos mas vai muito além deles), mas porque não chamar-lhe o devido nome?:transpessoal, sim.

Praticámos depois sobre um exemplo que consistia em começar por procurar um momentono passado de ternura por um ser vivo. Fechei os olhos e lembrei-me do meu amor desempre pelas árvores. De me sentir muito próxima delas, num amor vibrante como seivaem circulação dentro e fora de mim, e lembrei-me de o ter sentido numa tarde em que vinhaa descer pela estrada (eu moro no cimo dum planalto) e passei por um conjunto de arbustosque tinham florido há pouco tempo e parece que se chamam «grinaldas de noiva», pelomenos foi o que uma amiga me disse

- explorar o momento sensorialmente, ir para dentro para sentir o sentimento, associá-lo aum «coração interno luminoso», dar-lhe uma cor e respirá-la, intensificar e expandir – Começou por ser um arbusto muito verde salpicado de flores brancas. O verde alastrou etornou-se imenso e depois, dentro do verde, foi o branco das flores que se concentrou numcoração intenso de luz branca. Respirei a luz branca, intensifiquei-a e expandi-a, luz, luz,luz, é tudo o que existe à minha volta.

Expansão – isto é tudo sobre expansão. Isto: o curso. O transpessoal.

23 de Outubro de 2010Potencialidades e fenómenos da consciência, pelo Prof. Dr. Mário Simões

Outra vez muita informação. Exposição muito articulada, mas ao mesmo tempo densa eexigente.

A consciência é a totalidade da nossa vida psíquica.

O método científico, seus sucessos e vicissitudes e outras formas de conhecimento: A

  poesia (a metáfora), a experiência pessoal de cada um, a intuição (Jung), a arte, a

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experiência subjectiva (e eu penso que todas estas formas me são bem familiares, muitomais do que o método científico, embora ele também tenha algo que me fascina. Mas não,não sou nada científica. Sou toda de metáforas, de analogias).

O estudo da consciência

Os dados que adquirimos podem ser subjectivos e objectivos; há sempre um certo grau deimprevisibilidade.

Ok. Aqui impõe-se-me uma interrupção. Não me faz sentido nenhum tentar fazer umrelatório bem comportado, mais de seis meses depois de as coisas terem «acontecido». Oque é que foi, de facto, o mais importante para mim?

- O entusiasmo contagiante do prof. Mário Simões, claro, os seus imensos saber eexperiência e a simultânea acessibilidade e proximidade de nós. E o milagre da

comunicação verdadeiramente eficaz (real e feita com convicção).

E o que retenho do que foi dito?

- Permanecem em aberto a questão e o debate: a nossa vida psíquica é uma secreção docérebro ou, antes, uma instância que utiliza o cérebro? – ver «O Livro da consciência», doAntónio Damásio, mas o Prof. sublinha que o futuro do conhecimento humano está nasabedoria da incerteza (faz-me lembrar o «viver um dia de cada vez» e o «só por hoje» de

 N.A.).

- A decisão certa é fruto da conjugação da sensação com a emoção, com a razão e com aintuição, que é um destilado das outras três e consiste em saber antes de saber (donde que,infiro eu, o saber, a sabedoria, o conhecimento não podem depender exclusivamente do

 paradigma lógico-racional. Nem da instância que lhe corresponde em termos pessoais: aconsciência ordinária, «egóica», como lhe chama o Eckart Tolle, associada à «bolha»(universo, plano, não sei como lhe chamar) da personalidade. Tudo aqui aponta para atranscendência: da razão ordinária, da lógica, do hemisfério esquerdo, como dizia a MariaFlávia, e da personalidade. Daí, trans-pessoal. A alma?

- Os EMC, enquanto meios terapêuticos e de investigação: a sua teorização rompe comvários paradigmas. A sincronicidade é a «coincidência» que vem de fora e faz sentido

(acrescento eu o que dei comigo a pensar: quanto mais integrada a consciência, mais asincronicidade existe, mais o fora e o dentro são equivalentes).

13 de Novembro de 2010Espiritualidade e tradições místicas, pelo Dr. Pedro Veiguinha

História do movimento transpessoal: dos nomes referidos em relação à «3ª força em psicologia» chamou-me a atenção o nome de Vítor Frankl, fundador da logoterapia, dequem li num dos livros do Wayne Dyer (espero não estar a fazer confusão, acho que não)que esteve num campo de concentração nazi e chegava a ver beleza numa cabeça de peixe a

 boiar numa mistela aquosa que passava por sopa.

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Também o nome de Charles Tart me fez uma ressonância especial: «estudo dos novosestados de consciência, induzidos por drogas e meditação» e recuo, recuo, recuo até aosmeus 17 anos (que foram há precisamente 40) e às minhas experiências com drogas: amarijuana, a maconha e a única que tive com LSD porque, apesar de fantástica (embora

não tenha sido lá muito agradável ver a cara do Índio a derreter-se e a escorrer), tive medode repetir.

Acho que acabei por conhecer diferentes tipos de EMC, precisamente porque foraminduzidos por experiências de tipos muito diferentes: as drogas ilegais do fim daadolescência, as drogas legais durante quase 30 anos e depois, e agora, o programa de doze

 passos, o zazen, a escrita, a minha experiência pessoal em recuperação.

(Leio dos apontamentos: pessoas com a experiência de estados alterados de consciênciaintroduziram mudanças significativas nas suas vidas e concordo em absoluto: eu estavanum estado tão lastimável quando cheguei a N.A. e a minha experiência foi tão forte que

não pude limitar-me a introduzir mudanças. Fui eu própria que tive de mudar.)

O Dr. Pedro Veiguinha apresentou muitos slides e deu muita informação. Mas é com perplexidade que me dou conta de que os assuntos que trouxe não coincidem com o temaque estava programado. O que me parece é que ele falou da transição do pessoal para otranspessoal, tanto na história da psicologia como na experiência dos indivíduos.

Foi interessante o Dr. Pedro Veiguinha ter falado das «emoções no sistema da psicologia budista», do «trabalho de transmutação» e da meditação. São temas muito reais para mim. No fim, referiu a «inteligência espiritual»: é onde eu gostava de chegar.

27 de Outubro de 2010Psicossíntese de Roberto Assagioli, pela Dr.ª Eugénia de Oliveira

O «diagrama do ovo»: Constituição Bio-Psico-Espiritual do ser humano. Só isto resume o«programa» e a «agenda» da psicossíntese.

 Não vou deter-me aqui sobre o conteúdo deste módulo, dado que foi o que eu escolhi paraapresentar na 2ª parte deste trabalho. Faço apenas questão de referir a extrema clareza erigor com que o módulo foi organizado e exposto. Brilhante.

Mas refiro aqui os exercícios que fizemos. O primeiro foi sobre as subpersonalidades, amultiplicidade psicológica que existe em cada um de nós e habita no inconsciente médio eganha forma nos papéis que assumimos. A personalidade é a soma de todos os conteúdos

 bio-psíquicos; as subpersonalidades podem ser pessoais e transpessoais.

De acordo com as instruções da Dr.ª Eugénia, visualizo um deserto, com cumes demontanhas a recortarem-se no céu em pano de fundo. Ao longe surge um autocarro, que seaproxima cada vez mais. É um autocarro vermelho, com uma faixa amarela horizontal e émuito brilhante.

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Dele saem três mulheres. A primeira terá à volta de 50 anos e é francesa, ou alemã. É umatípica mulher emancipada, culta e refinada da Europa ocidental – elegante, distinta e commuito «charme». Chama-se Clara.

A seguir vem uma índia norte-americana. Não se consegue perceber a idade, não é nemmuito jovem nem muito velha. É como se já tivesse bastante idade mas fosse também, dealguma maneira, bastante jovem. É silenciosa, sorridente e pacífica. Não sei o nome dela.Acho que é uma mulher muito sábia, uma mistura de criança e de anciã.

Por fim surge uma mulher bastante nova, que não tem mais de 30 anos, vestida devermelho. É muito sexy e exuberante, e muito alegre. Não sei como vim a sabê-lo, mas seique é bailarina de strip-tease. Chama-se Eva.

Quando estava a escrever a descrição das três subpersonalidades, dei-me conta de que podia perfeitamente «colar» cada uma destas três mulheres a uma determinada mulher 

 presente na sala; no caso de uma delas, até o nome coincide. E interrogo-me sobre a origemdestas «subpersonalidades»: são minhas, ou foram-me induzidas pelas mulheres «reais»?mas também o que eu vejo nessas mulheres reais não será condicionado pela minha própriavivência interior, de aspectos de mim própria? Não serão elas, ou melhor, o que eu vejonelas, reflexo(s) de mim própria? Como um sistema circular, ou de vasos comunicantes.

 Não posso deixar de falar da questão da vontade, que pode ser receptiva e activa, e de comoestes dois aspectos jogam um jogo constante ou dançam uma dança contínua, o que me fazlembrar a oração da serenidade da minha irmandade de anónimos: «Concede-me, Senhor,serenidade para aceitar as coisas que eu não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras». A sabedoria deve ser aGraça, penso eu.

Mesmo antes do fim, fizemos mais um exercício, a que a Dr.ª Eugénia chamou «meditaçãoreceptiva».

Tratava-se de receber a qualidade de que mais precisamos.

Ao princípio não correu nada bem. Tentei, sem resultado, impor-me à consciência váriasqualidades diferentes sucessivamente: energia, força, animação (era do que eu estava asentir falta, depois de chegar ao fim do módulo e, apesar de ter gostado muito,estar a sentir-

me cansada). Mas não pegava, não era real. Parei e deixei-me ficar em silêncio. Diante dosmeus olhos fechados surgiu-me o símbolo astrológico do sol, um círculo com uma pinta nomeio e depois, suavemente, o par de palavras amor-confiança.

Até a totalidade perfeitamente redonda do sol tem uma pinta negra no meio. Até o maisabsoluto da vida não é perfeito, e mesmo assim preciso de amar. E de confiar.

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11 de Dezembro de 2010Terapias «ditas» regressivas, pelo Mestre Mário Resende

A terapia regressiva é uma psicoterapia de orientação transpessoal porque recorre a EMC,

 porque considera a pluralidade do Homem, incluindo a sua dimensão espiritual e nãoapenas a física, emocional e mental, e porque permite vivências do domínio do pessoal e dotranspessoal – é a definição de abertura dos meus apontamentos deste dia, o que deixa à

 partida o assunto bem claro e arrumado.

É muito bom o Mário Resende não ter pudor de falar da «dimensão espiritual». Sinto-me«em casa», porque vai ao encontro dos autores de divulgação, não científica, masmetafísica e espiritual, que estão mais ou menos «na berra» (pelo menos nos EstadosUnidos vendem que se fartam) e de que eu, apesar de tudo (faz-me impressão o facto deeles serem praticamente milionários, mas admito que pode ser um problema meu) gosto.Penso no Deepak Chopra e, sobretudo, no Wayne Dyer, que fala muito do Espírito e que eu

leio e volto a ler, porque também é um prazer, o homem escreve mesmo bem – e queacredito que me ajudou a ser uma pessoa melhor ou, pelo menos, a lidar melhor comigo ecom as minhas complicações e, claro, com os outros.

Então, diz o Mário, o Espírito manifesta-se no «saber sem saber» (sabemos o que é justo, oque está certo, o que devemos fazer) e isso para mim é uma Verdade, daquelas com Vgrande, porque as coisas melhores que eu soube na minha vida foi assim: porque sim,

 porque está certo, custe o que custar, doa a quem doer. Tive gravíssimos problemas foiquando me fechei a essa Verdade e deixei que o medo e concomitante racionalização lheocupassem o lugar.

- «O Espírito é uma voz que nos chama – diz o Prof. – mas às vezes é difícil perceber avoz, porque há outras ‘vozes’ que nos chamam, as dos desejos, dos medos e das fantasias.»Pois é. Eu às vezes chego a ter uma multidão de vozes dentro de mim, o que depois acaba

 por ser divertido quando relaciono com o meu tema astrológico e o (pouco) que sei deastrologia cármica. Sol em peixes, lua em touro. Absoluto/infinito (à partida e, se calhar,aparentemente) em oposição à terra e aos prazeres (mas garanto que não é tão banal como

 parece!, é uma grande complicação). E ainda o ascendente em leão, o que significa que para chegar ao amor universal e fusional, ao absoluto, tenho de seguir a via da afirmaçãoda individualidade e da auto-expressão! Mas o que vale é que o regente do ascendente é osol (leão) e deve ser por isso que me vou conseguindo «safar».

Sobre terapias «ditas» regressivas, o que eu tenho a dizer é que acho muito bem as aspas, porque fiz uma que me deixou com as maiores dúvidas. Nem foi uma terapia, foi só umasessão, uma «regressão». Eu não senti nada, não vivi nada, foi como se estivesse a ver umfilme que depois tinha de contar, o que me levou, e leva a questionar se o que se passou nãofoi apenas uma emergência, no meu «campo de consciência», de conteúdos psíquicos,memórias de eventos vistos, lidos, ouvidos, misturados com a minha imaginação bastantefértil e uma certa tendência para «construir» narrativas. Ou símbolos daquilo que vivo,exterior e interiormente.

Antes de passar à prática, o Mestre Mário referiu que o método de indução contemporâneo,

que ele vai utilizar aqui, é muito diferente do clássico e tem contribuições diversas: da

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terapia psico-corporal, da programação neuro-linguística e do  focusing . A terapia propriamente dita desenrola-se em 3 fases: vivência – catarse – integração. Não sei se eledisse, mas eu acho que a integração deve ser a que leva mais tempo. Integrar é difícil:longo e trabalhoso. Mas as duas primeiras fases parece-me que foram detectáveis nas duas

experiências que foram feitas aqui, cada uma com uma das colegas do curso.Impressionaram-me fortemente pela sua intensidade e amplitude e pelo sentimento de«vivência total e integral» (as aspas são porque não sei bem como dizer) que metransmitiram.

8 de Janeiro de 2011Psicanálise do sonho acordado, pela Prof. Dr.ª Maria Bjorn

Faltei de manhã: ando há imenso tempo, há anos, a querer deixar de fumar sem conseguir,com paragens de duas ou três semanas no máximo e sucessivas recaídas. Acho que é assimtão difícil por causa da minha «personalidade adictiva» (não sei até que ponto isso é real),

ou do meu passado de adicção «activa». Em desespero de causa – com os adesivos e as pastilhas de nicotina não estava a resultar – comecei a ler «O método simples para deixar de fumar». O método consiste em continuar a fumar enquanto se lê o livro e parar quandose chega ao fim. Como entretanto não consegui chegar ao fim, tirei a manhã de hoje para ofazer. Saí de casa à hora a que sairia se fosse para o ISPA, mas fui para a Brasileira.Quando lá cheguei vi que afinal já não se pode fumar lá dentro (o que eu antecipava comdeleite) e tive de ir para a esplanada. Não estava muito frio, mas estava vento e às vezeschovia. Estava um toldo, tipo chapéu de sol, por cima da mesa, o que me protegia dosaguaceiros. Eu estava completamente sozinha na esplanada e quando chovia havia algumacoisa de quase épico, o que me agradava bastante.

Depois almocei, lá fumei o meu «último» cigarro (que não o foi, entretanto já fumei oúltimo, mas não foi aquele) e fui para o módulo da tarde.

Quando cheguei, o módulo já tinha começado. A parte teórica já tinha sido dada e agora àtarde era só trabalho prático.

Depois da indução, vi-me numa floresta a caminho duma cabana: uma cabana idílica numaclareira da floresta, como as imagens dos livros infantis. Quando lá cheguei, fui recebida

 pelos habitantes, um casal de meia-idade que me acolheu muito bem – e eu senti-me muito bem, como se tivesse verdadeiramente acabado de chegar a casa. Estava a anoitecer e eles

disseram-me que podia lá passar a noite, e eu fiquei. No dia seguinte ia retomar a minhaviagem, mas naquela noite dormi um sono tranquilo e reparador. Aquele homem e aquelamulher foram, por uma noite, os pais, que, ao contrário dos meus pais verdadeiros, meacolheram e me deram um espaço-tempo de repouso e de pertença.

Cheguei pacificada ao fim deste sábado.

22 de Janeiro de 2011Abordagens psicocorporais, pelo Dr. Thomas Riepenhausen

Devo confessar que este módulo me passou um bocado ao lado. Fui só à tarde outra vez.

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O que retive, porque anotei no meu diário, foram as referências a Wilhelm Reich, o «pai»da psicocorporal, com quem andei toda entusiasmada quando tinha 20 e poucos anos: «Afunção do orgasmo». «Escuta, Zé Ninguém!». Uma máquina, uma coisa que eu na alturaachei muito maluca mas fascinante ao mesmo tempo: o acumulador de orgone, não tenho a

certeza, peço desculpa que se calhar a memória está a atraiçoar-me.

Estou apreensiva: dois módulos seguidos a faltar metade do dia, tenho de ter atenção àsfaltas para não exceder o limite.

Ando cansada.

5 de Fevereiro de 2011Respiração holotrópica de Stan Grof , pela Dr.ª Fernanda Reboredo

Hoje sinto-me outra vez em forma e o módulo promete ser bastante dinâmico eexperimental.

Fazemos as apresentações: cada um diz quem é, o que faz, etc. (ou seja, aquilo que lheapetece dizer). Quando chega a minha vez, dou por mim a pegar nas palavras da Prof., queminutos antes tinha falado dos «ousados» que tinham experimentado drogas psicadélicas,nomeadamente o LSD, e a dizer que eu fui um desses ousados. Relatei brevemente a minhaexperiência do LSD com 17 anos. Agora acho que fui mais que ousada, fui louca, segui naextremidade do «air du temps» porque era muito nova e não sabia praticamente nada, mas

 já havia também muita raiva e muita dor: e foram os hippies, as noitadas, o álcool e asdrogas, sexo nem tanto. Foi, claro, a única – primeira e última – vez de LSD, sem qualquer 

 base de apoio: só entre nós, em casa dum casal alguns anos mais velho, e os casos deconhecidos que vi ficarem no mínimo desequilibrados, não sei nem posso saber a que

 prazo: imediato, como eu vi, médio, longo? a mim, felizmente, acho que não aconteceunada. O meu episódio com o LSD acontece, creio eu, ainda fora da minha adicção(ironicamente talvez, a minha «droga de escolha» viria a ser legal).

A páginas tantas, a Prof. referiu que Grof e a mulher, que era alcóolica, desenvolveram umimportante trabalho na recuperação do alcoolismo e dependências químicas. E eu aquiarrebitei a orelha: isto era uma óptima ideia para o meu trabalho. Escrevi no caderno: Ideia

 para o trabalho: recuperação da adicção através do transpessoal.

 No intervalo do café estive a falar com a Prof. e a contar-lhe um pouco da minha história. Étalvez estranho, mas aqui, com estas pessoas, não me sinto desconfortável a falar do meu

 passado. À tarde tivemos a prática da respiração holotrópica, feita ao som de música que a Prof.trouxe. Fomos induzidos a visualizar uma canoa a seguir por um rio e a reparar naquilo queestava no fundo da canoa. Eu vi o chão da canoa juncado de grandes flores vermelhas, quetransbordavam da canoa como a alegria, como o júbilo, flores de pétalas sedosas de umvermelho brilhante que sinto acariciarem-me os pés nus. É maravilhoso.

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Depois começo a sentir a música no corpo, à medida que vou fazendo a respiração, emboracom bastante contenção (tento não respirar com muita força, tenho consciência, talvezmedo, da minha tendência para os exageros). Sinto energia a percorrer-me o corpo todo ecomeço a acompanhar o compasso da música com os braços e as mãos. De súbito sou um

condor a voar nos altos céus por cima das montanhas. Ocorre-me parar com tudo, a energia,os movimentos, para não dar nas vistas, mas não consigo: isto é mais forte do que «eu»,que neste momento não sei bem quem sou nem onde estou, se calhar «isto» é que sou eu.Sou o meu corpo que se move, mas sou também a música, o céu e o cume das montanhas,mas acima de tudo sou o condor.

Agora, batuque de tambores, e começo a bater o ritmo com as mãos no chão, com força. Osom das minhas mãos ouve-se distintamente, é um som claro, nítido e sincopado, é um somdemasiado alto para ser feito por mim, e penso: pára, que espectáculo que estás a dar. Masnão consigo parar, porque agora sou um feiticeiro que bate no tambor o ritmo dum ritualsagrado. E isso é muito mais forte do que «eu».

Depois, a música leva-me para o topo duma montanha. Aqui, sou um xamã, um feiticeiroda naufragada Atlântida, e reúno tudo em mim, todo o mundo, todo o passado, presente efuturo, por muito conhecimento, muito serviço e muito amor.

Choro, as lágrimas correm-me pela cara, é muita emoção para poder ser contida, é muitatristeza e muita alegria, é pura emoção libertada e libertadora.

Abro os olhos e está tudo no sítio sem estar. A sala é a sala de sempre, embora esteja todadesarrumada, eu e os meus colegas também estamos desarrumados, mas vou reconhecendo-os um a um, deitados ou sentados no chão ou numa ou outra cadeira.

Podia sentir-me constrangida, penso, depois da minha «cena» toda, mas não sinto. Eles sãoos meus companheiros e este é um espaço sagrado.

19 de Fevereiro de 2011Constelações familiares de Bert Hollinger, pelo Prof. Dr. Joaquim Marujo

Hoje não vou. Vai-se falar da família, do pai, da mãe, e eu depois não consigo conter-me.Bem vi como foi no último dia. Muito já eu me expus – falei da experiência com o LSD econtei à Prof. Fernanda o meu passado de adicção.

 Não vou lá hoje dizer que o meu pai abusou sexualmente de mim até eu ter 12 anos,quando me nasceu um sobrinho que no fundo sei que era, e é, meu irmão. E que eu fui aotribunal e menti, não sei para quê: para defender o meu pai, a minha mãe, ou aquilo que

 para mim era todo o mundo – a minha família, a minha vida – ou sei lá o quê, nuncaconsegui saber inteiramente.

 Não, hoje não vou.

Fiquei todo o dia em casa a fumar cigarros e a deixar passar o tempo.

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5 de Março de 2011Souldrama, pela Dra.ª Manuela Maciel

O souldrama é recente: tem dez ou onze anos. Representa a evolução duma inteligência

mais racional para outra mais espiritual, que passa pelas emoções e pela inteligênciaemocional – a que emana do chakra do coração.

1º exercício: O que eu gostaria de ter recebido e não recebi.

Da mãe, força (apoio) e ternura.Do pai, amor e cuidado.

A Prof. disse um coisa muito interessante: aquilo que gostávamos de ter recebido e nãorecebemos representa a missão da nossa alma e o sentido da nossa vida, e é o que tendemosa dar em abundância depois de, claro, fazermos todo um trabalho, pelo coração, de

aceitação – e até de gratidão – pelos pais que tivemos. («Esta» anda-me atravessada hámuitos anos. Um pai abusador e uma mãe cúmplice (porque não fez nem disse nada)?Talvez um dia consiga, mas por enquanto – e com 5 anos de recuperação da adicção activa

 – ainda não consigo sentir qualquer gratidão por eles. Também não sinto ódio. Apenas umagrande perplexidade e uma pena, uma mágoa ainda. Mas aceitar acho que aceito, que jáaceitei.)

Mas isto que temos tendência para dar em abundância, temos, também de aprender areceber (eu acho que ainda não sei receber inteiramente o que vem das pessoas. Tenhomedo de ficar lá presa, como fiquei durante tantos anos).

Em resposta à proposta de exercício que a Prof. fez seguidamente – «o que fazíamos aos 5anos para termos a atenção da mãe» - escrevi isto:

«Aos 5 anos, para ter a atenção da minha mãe, que sabia que não ia ter, fechava-me emmim própria e chorava sozinha. Isto tornou-se um mecanismo de defesa do meu egodurante quase 30 anos. É isto que me afasta da minha essência e do caminho da minhaalma.»e depois, já nem me lembro bem como nem porquê, acabei por falar do abuso do meu pai.

Foi algo que não consegui conter nem calar. Falei porque confiei na «terapeuta» (quase

todos os professores foram aqui também terapeutas, pelo menos para mim), em mim e nosmeus colegas. E correu bem. Não aconteceu nada.

A Isabel fez um exercício em que precisava de alguém para fazer de Deus e escolheu-me.

Aos 12 anos fiz de Diabo numa peça de teatro, no liceu.

Foram os meus únicos papéis no teatro até hoje.

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19 de Março de 2011Educação inclusiva, pela Dr.ª Dalila Paulo

Um novo paradigma, sintetista, propõe-se substituir o velho paradigma de fragmentação do

indivíduo, que é um processo de destruição da ecologia pessoal.

Funções psicológicas de Jung: sensação – sentimento – razão - intuição irradiam do Ser. Aeducação inclusiva engloba-as todas.

Exercício: Escrever 4 textos, cada um centrado numa destas funções, construídos em tornodas mesmas 10 palavras previamente escolhidas aleatoriamente (adorei! Parecia que estavanum curso na escrever escrever. Tão feliz que eu me senti).

Formas de desenvolver a intuição: Sonho lúcido. Meditação.

Este módulo foi diferente: muito suave, talvez um pouco vago e indefinido. Talvez por isso, soube-me muito bem. A Maria Flávia diria que foi neptuniano. Não gostei mais doque dos outros, mas gostei de maneira muito diferente – foi quase só estar.

16 de Abril de 2011Música multidimensional, pela Dr.ª Jacotte Chollet

Um turbilhão de palavras e de sons – não pretendo ser objectiva, é como eu me sinto hoje.A música multidimensional é um processo de «letting go» e eu vou deixar-me ir.

E aconteceu isto:

«Uma clareira numa floresta (reparo que já é a minha 2ª clareira num floresta) tropical.Manchas de sol nos troncos e nas folhas das árvores. Silêncio e luz.

Começo a sair de dentro de um ovo, lenta e docemente. Saio completamente para a luz e para o verde-claro das folhas das árvores.Estou envolta em luz e só há luz branca diante de mim. e um calor tépido.Tudo verde: verde claro, verde tenro, verde de luz.»

 Não sabia que tinha um lugar tão pacífico e luminoso «dentro» de mim, nem que podia

aceder tão facilmente a ele.

Que bom. Eu sempre amei profundamente a música. E o silêncio, ou melhor, a música dasárvores.

30 de Abril de 2011Fenomenologia da morte e da passagem, pelo Mestre João da Fonseca

E chegámos ao último dia. Lá à frente, o João da Fonseca, sóbrio e aparentementeimperturbável, fala da morte.

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A morte, o meu único grande medo. Medo de que seja «o fim de tudo», como escrevi no papelinho que juntei aos papelinhos dos outros e o João recolheu e leu, um a um.(agora que já li The Primal wound para a 2ª parte do trabalho, acho que descobri que o meugrande medo é o não-ser, porque fui exposta a ele de forma violenta e prolongada).

Sim, é o fim do ego, claro que é. Só não consigo imaginar que «forma» assumimos depoisda morte. Ah, o Eckart Tolle e a não-forma! A desidentificação das formas, atranscendência das formas. Mas tem de haver uma forma qualquer, não tem? Se calhar nãonecessariamente – e aqui paro. Paro sempre quando chego à metafísica. Só sei usar palavras

 para tentar dizer o que sinto diante de tudo, para tentar traduzir essa música e partilhá-la.Será a morte a derradeira partilha? Sei que o ego se dissolve na partilha e fica uma coisa-outra no lugar. Um sentimento vivo e vibrante a que não sei dar nome. Será que é o amor?Lá estou eu a divagar.

Quando cheguei de manhã, já os colegas estavam a falar uns dos outros. Depois percebique cada um dizia o seu nome, à vez, e depois ficava «na berlinda»: os colegas que tinham

alguma coisa a dizer dessa pessoa, diziam. Deixei passar algumas pessoas sem dizer nada arespeito delas, porque não sabia o que dizer, porque não me era confortável falar delas.Entre elas, o Paulo, de quem nunca consegui aproximar-me e que também nunca seaproximou de mim e eu pressenti que foi por sermos parecidos que tivemos todo este

 pudor: ele também teve uma experiência-limite, de quase-morte. Sinto que temos algo emcomum que é estranho e diferente de todos os outros, e que é de algum modo um interdito.Ou é a minha imaginação a trabalhar.

Quando chegou a minha vez, disseram-me coisas muito simpáticas e elogiosas, pelas quaisestou grata e que foi agradável ouvir. Mas o que me «bateu» foi o que disse a Maria João,que eu sou um pássaro dentro da gaiola a precisar de se libertar.

Logo a seguir veio o exercício: tenho 5 minutos para fazer o que ainda não fiz,

e depois de me ocorrer uma multidão de coisas, todas elas acessórias, impôs-se-me o que aJoão disse:

Libertar-me

E depois à questão: tenho uma vida pela frente, o que é que eu ainda posso fazer?,respondi:Escrever – estudar - viajar – trabalhar - (e por fim)- amar - servir (estes dois últimos eu

estava relutante em escrever porque pensei que podia ser «piroso»),e percebi que me liberto através destas coisas e doutras de que não me lembrei, e que esseé um bom e vasto programa para o resto da minha vida.

Depois foi o jantar, a amizade e os risos. Ao jantar a Margarida ofereceu uma flor a cadaum.

Sinto uma imensa gratidão por este curso, pelo que aprendi, pelo mundo de coisas que percebi que ainda não sei, pelos amigos que ganhei e por ter chegado aqui com eles

O fim deste curso não é o fim de nada, mas é seguramente o princípio de muitas coisas. Ou

seja: Até sempre.

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II. percursos do trauma para a «cura»

a)- A Psicossíntese

A Psicossíntese é «uma abordagem psicológica de carácter integral», em que «o núcleoespiritual se serve da vontade e por ela de todas as funções biopsicológicas emfunção da expressão do potencial humano, ao mesmo tempo misterioso econtagiante, de forma a dar à psicossíntese um carácter humanista, transpessoal euniversal» (do guião do conteúdo).

De forma mais resumida, pode também dizer-se que a psicossíntese se refere à expressãoespontânea da vida, processo que ocorre naturalmente em cada pessoa; é uma teoria, masmais do que isso: nas próprias palavras do seu fundador, Roberto Assagioli, é uma«entidade» e representa «o nascimento de uma nova identidade» ou seja, também de novasformas de viver. Os seus princípios teóricos têm aplicação sobretudo nos campos da terapiae da educação.

A constituição bio-psico-espiritual do ser humano: o «diagrama do ovo»São sete os sectores que representam a totalidade da nossa vivência, (utilizo textualmente arespectiva parte do «guião do conteúdo» que foi distribuído aos participantes, embora nãona íntegra) a saber:

1) Inconsciente InferiorÉ o sector que contém complexos reprimidos, feridas, traumas e memórias esquecidas donosso passado psicológico pessoal. Representa a nossa parte instintiva mais primitiva,

muito embora importante e por vezes expressando grandes faculdades psíquicas. Tendo emconsideração que um inconsciente reprimido é, por definição, inacessível à consciência, asua existência tem de ser inferida; esta inferência decorre de momentos em que conteúdosde grande intensidade emergem ao nível da consciência, e que até então desconhecíamos.

2) Inconsciente MédioO inconsciente médio é formado por elementos psicológicos semelhantes aos que existemna nossa consciência e de fácil acesso. É nesta região que as nossas experiências sãoassimiladas, ou seja, é nesta área que integramos experiências, aprendizagens, capacidades,guiados por padrões do inconsciente colectivo e em relação com o nosso meio ambiente.

Para além de armazenar uma série de elementos fora da consciência, o inconsciente médio  permite ainda que possam ser sintetizados em novos e mais complexos modos deexpressão. Trata-se de um sector no qual os conteúdos, embora inconscientes, estãodisponíveis para a expressão consciente normal.

3) Inconsciente SuperiorO inconsciente superior, ou supraconsciente, representa as nossas maiores potencialidadesque esperam por se manifestar, mas que muitas vezes repelimos e reprimimos.

Tal como o inconsciente inferior, esta área é, por definição, inacessível à consciência e asua existência tem de ser inferida, o que acontece em momentos em que conteúdos desse

nível afectam a consciência. Desta região recebemos as nossas maiores intuições e

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inspirações – artísticas, filosóficas ou científicas -, imperativos éticos, motivaçõeshumanitárias e actos heróicos. É a fonte do amor altruísta, da genialidade, dos estados decontemplação, iluminação e êxtase. Neste domínio estão latentes as funções psíquicas maiselevadas e as energias espirituais.

Lugar das experiências de pico ou de topo.

4) Campo da ConsciênciaDesigna a parte da nossa personalidade de que estamos directamente conscientes: contém ofluxo incessante de sensações, imagens, pensamentos, sentimentos, desejos e impulsos que

 podemos observar, analisar e julgar.

5) Eu PessoalO eu é o domínio da personalidade consciente, distinta mas não separada dos nossosconteúdos de experiência, uma característica a que podemos chamar transcendente-

imanente.

O eu pessoal tem a função da consciência e da vontade pessoal.

É o ponto de consciência pura, muitas vezes confundido com a personalidade consciente,mas muito diferente dela; podemos dizer que a consciência tem níveis de percepçãodiferentes e não se identifica com eles, seja a nível pessoal, seja a nível transpessoal.

Além de ser receptivo, o eu também é dinâmico: tem a capacidade de afectar os conteúdosda consciência e pode fazê-lo, escolhendo focá-la, expandi-la ou contraí-la (a vontade

 pessoal).

O eu pessoal é um reflexo do eu transpessoal, que nos dá o sentido de centragem eidentidade. É experienciado ao nível da individualidade, a partir de onde podemos aprender a regular e a dirigir os vários elementos da personalidade.

A consciência do eu pessoal é um pré-requisito para a saúde psicológica.

6) Eu TranspessoalÉ uma fonte profunda de sabedoria e orientação, uma fonte que opera para além docontrolo da personalidade consciente.

O eu transpessoal, embora retenha um sentido de individualidade, vive ao nível dauniversalidade, no domínio onde os planos e as preocupações humanas são diluídos pelavisão maior do todo.

De entre os elementos do diagrama (do ovo), o eu pessoal tem a mais profunda e directarelação com o eu transpessoal. O eu pessoal não é uma diferenciação ou um aspecto do eutranspessoal, mas um seu reflexo directo. O eu pessoal, porquanto expressão da nossaidentidade, não é uma entidade independente. A sua existência deriva do eu mais profundo,do eu transpessoal. E no entanto, ele é uma realidade.

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 No entanto não existem dois eus. Trata-se de uma realidade vivida a níveis diferentes.Tanto o eu pessoal como o eu transpessoal são distintos, mas inseparáveis dos conteúdos daconsciência. São experiências da nossa identidade a níveis diferentes.

A realização do eu transpessoal é a marca da realização espiritual.

7) Inconsciente ColectivoUm domínio que rodeia e é subjacente ao inconsciente pessoal e que representa propensõese capacidades para formas particulares de experiência e acção comuns a todos nós. É afonte mais profunda do nosso potencial humano partilhado.

Domínio dos processos de osmose psicológica, que acontecem a todo o momento, comoutros seres humanos e com o ambiente psíquico geral.

As subpersonalidades

São subsistemas autónomos da personalidade, cada um composto por vários elementos da personalidade – capacidades, valores, atitudes, visões da vida – que se organizam num todooperacional e através dos quais funcionamos em diferentes situações – donde que a

 personalidade é a soma de todos os conteúdos biopsíquicos e portanto diferente do cento deconsciência.

O trabalho de integração das subpersonalidades pressupõe o seu reconhecimento, aceitaçãoe valorização. Essa integração poderá conduzir à emergência duma síntese, na qual o todo émaior do que a soma das partes; não existe uma fusão, mas uma unidade funcional. Assubpersonalidades não desaparecem, mas, ao serem integradas, deixam de ser tão notórias,

 pois passam a operar no âmbito do inconsciente médio como recursos, sem que tenham deocupar o centro de consciência.

Tomadas de consciência:Identificação, desidentificação, auto-identificação (esta última é a tomada de consciência denós mesmos a níveis do eu pessoal e transpessoal, enquanto centros de consciência e devontade)

A vontade no âmbito das funções psicológicasDe todas as funções psicológicas, a vontade é a mais central. É através dela que se dão astomadas de consciência.

Integração e síntese – a auto-realizaçãoA auto-realização representa um crescimento psicológico, um despertar e a manifestação de

 potencialidades latentes: éticas, estéticas, religiosas. Pode ser alcançada a diferentes níveise não tem de incluir forçosamente o nível espiritual.

A consciência e a vontade permitem a integração de toda a personalidade, de todos osníveis – é como se o campo de consciência se expandisse.

Quanto maior a integração, maior a auto-realização; no entanto a auto-realização nãosignifica sempre uma integração da personalidade. Dado o carácter transcendente-imanente

do eu transpessoal, podemos experienciar a qualquer altura da nossa vida e em qualquer 

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nível de experiência o eu transpessoal, sem que isso signifique integração. Uma pessoa pode ter experiências espirituais genuínas sem que tenha uma personalidade integrada, ouseja, sem que tenha desenvolvido uma personalidade organizada e harmoniosa. Destemodo, despertar espiritual e realização espiritual são experiências diferentes da consciência

do eu transpessoal. Ambos incluem vários tipos de percepção dos conteúdos doinconsciente superior, quer pela sua descida até ao campo de consciência (podendo ser chamado de inspiração), quer através da ascensão da consciência a níveis do inconscientesuperior (através da meditação, música, oração, etc.), sendo neste caso aquilo a que Maslowchamou de experiências de pico.

A síntese traduz a auto-relização como experiência do centro de consciência a nível pessoale transpessoal.

Estes foram os conceitos que extraí do guião entregue, porque me parecem fundamentais para as alíneas que se seguem, designadamente os conceitos de inconsciente inferior, médio

e superior; de eu pessoal e eu transpessoal e da sua íntima relação; das subpersonalidades pela sua relação com o conceito de «personalidade de sobrevivência»; a questão da auto-realização, integração e síntese, bem como a noção de «despertar espiritual», que meconduzirá a um inevitável questionamento perto do final deste trabalho.

 b) A adicção à luz da psicossíntese: do «trauma inicial» à (esperança de) auto-realizaçãoPara abordar esta questão, recorri à leitura do livro de John Firman e Ann Gila, The Primal 

wound – a transpersonal view of trauma, addiction and growth (ed. State University of  New York Press, 1997).Dada a exiguidade do espaço, apenas posso fazer uma abordagem muito sucinta e quaseesquemática da questão da adicção e da «recuperação» da adicção, em torno de algunsconceitos-chave.

O «trauma inicial»Assim, e segundo os autores, a adicção seria, na sua génese, uma reacção a umaexperiência ou série de experiências – o «trauma inicial» – de tal modo sentida comointolerável e ameaçadora, que constituiria em si mesma uma ameaça de não-ser, ou seja, detotal aniquilação do sujeito, perante a qual ele se terá sentido completamente indefeso eimpotente. O trauma inicial surge das falhas nas funções empáticas dos «outrossignificativos» (o pai, a mãe ou outro cuidador), ou seja, dos «centros unificadores

externos», aqueles que nos garantem o sentido da vida e do mundo. E em resposta a estaameaça de não-ser, a personalidade divide-se em dois sectores, um positivo e outronegativo.

O inconsciente inferior e o inconsciente superiorAs adicções expressam o trauma inicial: cada adicção parece basear-se numa dinâmicadestrutiva entre aqueles dois sectores, o positivo e o negativo, que mais não são do que oinconsciente inferior e o inconsciente superior, como se envolvesse uma síntese dolorosado positivo e do negativo em luta constante entre si (quando eu tomava uma dose decomprimidos, queria, por um lado, esquecer tudo e fugir de tudo (inconsciente inferior);mas queria também, ao mesmo tempo, e desesperadamente, ser «normal» - o que apenas

equivalia a sentir-me «normal» - para estar próxima dos outros, ser por eles aceite e estar 

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em relação com eles (inconsciente superior). De facto, nas adicções está sempre presenteesta dualidade de qualidades do inconsciente inferior (impotência, vazio, falta de valor) ede procura de qualidades positivas e transpessoais (força, ligação, auto-estima, amor). O

 processo adictivo é muitas vezes, e quase só, um ciclo contínuo entre experiências positivas

e negativas: o sentimento inicial de conforto por actuar a adicção; a culpa, a vergonha e oremorso; depois, mais actuar para obter conforto; e por aí fora – porque até o ciclo dolorosoentre positivo e negativo é preferível ao não-ser.

A personalidade de sobrevivênciaO trauma inicial constitui uma ruptura na ligação eu pessoal-eu transpessoal. O centrounificador não responde ao eu-pessoal essencial do sujeito, mas pelo contrário encara a

 pessoa como um objecto a ser usado para os seus próprios fins. É uma mensagem muito poderosa para o centro do nosso ser: se queremos evitar a aniquilação e o não-ser, o melhor é tornarmo-nos naquilo que nos é exigido. Assim, em vez de expressarmos quemverdadeiramente somos no nosso meio, escondemos a nossa verdadeira natureza e tornamo-

nos naquilo que o meio precisa que sejamos. Ou seja, trocamos a nossa personalidadeautêntica por uma personalidade de sobrevivência, que pode tomar o lugar da primeiradurante uma vida inteira – ou até que o ciclo positivo-negativo (inconsciente superior-inconsciente inferior) seja finalmente quebrado.

Adiccão e recuperação. A desidentificaçãoA recuperação da adicção baseia-se, muito simplesmente, na recuperação da ligação entre oeu pessoal e o eu transpessoal que constitui, como tentarei mostrar um pouco mais à frente,a tarefa primeira e central do movimento de recuperação.Contudo o trabalho não pode ficar por aqui: é necessária também uma desidentificação coma personalidade de sobrevivência e a (re)construção duma personalidade autêntica sobre osdestroços deixados pelo processo adictivo, o que representa uma tarefa que irá

 provavelmente ocupar o resto da vida.Mas, por alguns exemplos que conheço e pela minha própria experiência, tenho razões

 para acreditar que, uma vez restabelecida aquela ligação e substituída gradualmente a personalidade de sobrevivência por uma personalidade autêntica, quase tudo é possível: atéa auto-realização e a realização espiritual.

c) O movimento de recuperação: pontos em comum com a psicossínteseO movimento de recuperação, vulgarmente conhecido por «grupos de doze passos» ou«grupos de auto-ajuda», merece uma referência directa na introdução de The Primal 

wound . Segundo os autores, são dois os seus aspectos positivos fundamentais:- A detecção da personalidade compulsiva, de sobrevivência, e progressivadesidentificação;- A centralidade da espiritualidade na vida humana,com o que obviamente concordo, mas de que tentarei dar aqui alguns detalhes.

A base: o programa de doze passosO 1º passo – Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que tínhamos

 perdido o controle das nossas vidas,é uma admissão de impotência perante o ciclo positivo-negativo que domina o processoadictivo e , ao mesmo tempo, a admissão da derrota do eu pessoal. Ele tem de se render, o

que só acontecerá um pouco adiante;

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 No 2º. passo – Viemos a acreditar que um poder Superior a nós mesmos nos poderiarestituir a sanidade,é introduzida a fé numa dimensão até aqui desconhecida, a da trans-pessoalidade (o nosso

 poder em actuar a adicção parecia ser o único existente no mundo. No nosso mundo era-o,

até podia destruir-nos totalmente)e o 3º passo – Decidimos entregar a nossa vontade e a nossa vida aos cuidados de Deus, naforma em que o concebíamos,consagra finalmente uma rendição – a do eu pessoal ao eu transpessoal, como já Jungreferia, embora em termos de rendição do ego ao Self . É a expressão de uma verdadefundamental, a de que o espírito humano está dependente de uma comunhão empáticacom um poder espiritual superior (e no caso do adicto, só ela pode colmatar a falha

 presente no trauma inicial).

Esta «comunhão empática» assume diferentes formas na estrutura de um grupo de doze passos - o serviço (um dos vários cargos existentes que um membro pode ocupar para que

seja assegurado o normal funcionamento do grupo), a partilha da experiência, aidentificação com as experiências partilhadas pelos outros membros – permitindo aomesmo tempo a desidentificação da personalidade de sobrevivência e, claro, a ligação doeu pessoal ao eu transpessoal, pela progressiva identificação com este.

Limitações dos grupos de recuperação. «Recuperação» ou «cura»?A estrutura e princípios espirituais do movimento de recuperação parecem perfeitos, etalvez o sejam, mas têm falhas e limitações, porventura causadas e introduzidas pelas

 pessoas que o compõem – que não são perfeitas e demoram muito tempo a livrar-se da  personalidade de sobrevivência. Penso que uma das principais limitações reside precisamente aí: dificilmente a reestruturação total da personalidade do adicto, que serianecessária para se poder falar de cura, poderá acontecer no seio duma entidade colectiva,

 porque exige um trabalho-outro – grande parte dos adictos em recuperação faz também psicoterapia (que, por seu lado, se não for transpessoal tem também óbvias limitações!,como eu própria sei).

  No movimento de recuperação é muitas vezes referido, por exemplo, o «despertar espiritual», mas, pela minha experiência própria e de outros, muitas vezes ele não éacompanhado por uma integração da personalidade.

Por outro lado, é um facto comum que muitos adictos a substâncias químicas desenvolvem,

depois de estarem em recuperação, outras adições: ao sexo, às compras, à comida, aosrelacionamentos românticos, etc., de que por vezes têm bastante dificuldade em recuperar.

Contudo e independentemente disso, a questão permanece em aberto. No movimento derecuperação é praticamente interdito falar de cura, só faz sentido falar de recuperação – ede facto isso obriga-nos, pelo menos, a continuar a pertencer e a manter-nos abstinentes. Naverdade, não é raro que alguém, com mais de uma década de abstinência, acabe por recair se se deixar ficar «sozinho».

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Conclusão

Todo este trabalho teve aspectos muito pessoais e penso que cheguei a penitenciar-me por isso. Como me penitenciei pelas revelações que fui fazendo sobre a minha vida pessoal aolongo dos módulos do curso.

Porque isso não se faz – não se conta a nossa vida a estranhos. Mas em recuperação aprendia confiar em «estranhos»- as pequenas multidões de estranhos que fui conhecendo - e

 percebi que só pela confiança os estranhos deixam de o ser e se transformam em amigos. Eo ambiente foi sempre muito bom, seja feita honra aos professores e a todos os meuscolegas.

Seja como for, vim a aprender no próprio curso que pessoal e transpessoal andam de mãosdadas e não se separam nunca e, seja como for, foram a minha história e vida pessoais queme trouxeram ao curso, de desenvolvimento transpessoal.

Como tive oportunidade de referir na última aula, não podia ter gostado mais e não podiaestar mais grata. Depois do final do curso, algumas coisas aconteceram na minha vida:coincidências e mudanças. Uma espécie de epilogo provisório, claro, e feliz.

E deixei mesmo de fumar, embora, como ouço às vezes numa reunião, «isto seja só por hoje». É que assim ganhamos mais espaço no inconsciente médio, conquistado às pressõesdo inconsciente inferior e às idealizações do inconsciente superior.

 

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