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5/27/2018 Transformaes Da Forma Urbana de Mooca
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Transformaes da forma urbana no distrito da Mooca1 *; **; ***
Resumo Este trabalho apresenta um processo emprico de anlise morfolgica de um setor urbano.
atribuda ateno especial transformao de sua forma ao longo do tempo. Foi escolhido um setor bemdelimitado como exemplo da identificao do processo de mudana. No entanto, trabalha-se com uma
situao que pode ser tpica do setor escolhido, mas sabidamente se repete em outros locais da cidade eem outras cidades. Isto porque a transformao da forma urbana aparece como reflexo de modificaesna estrutura social, econmica e cultural da cidade. Para ser objeto deste trabalho foi selecionada uma
rea que os cidados de So Paulo chamam de Bairro da Mooca. Depois, dentro da Mooca delimitou-se um trecho menor, coincidindo com o que a diviso administrativa da cidade denomina subdistrito
Hipdromo. Como parte da anlise morfolgica, discute-se a situao atual da implantao acelerada degrandes condomnios de carter monofuncional. As transformaes urbanas so registradas pelo texto e
ilustradas por desenhos esquemticos e fotos.
Palavras-chave Morfologia urbana. Novo urbanismo. Arquitetura da cidade
Title Changes in the Urban Form of the Neighborhood of MoocaAbstractThis paper presents an empirical process of morphological analysis of an urban section. Specialattention is paid to changes in its form through time. A very well defined section has been selected as an
example of identification in the changing process. Nonetheless, we deal with a situation that might betypical of the selected section, but is wisely repeated in other section of ours and other towns. This is due
to the fact that changes in the urban form occur as a reflection of changes in the social, economic andcultural structure of a town. The target of this paper was an area the citizens of So Paulo call Bairro
da Mooca. Then, inside Mooca, a smaller area as determined, coinciding with what the administrativedivision of the city calls subdistrito Hipdromo. As a part of the morphologic analysis, we discuss the
present quick implantation of large mono-functional condominiums. The text registers the urban changes,and they are illustrated by drawings and photos
Keywords Urban morphology. New city planning. City architecture.
Data de recebimento: 12/12/2007.Data de aceitao: 20/12/2007.* Doutor pela FAU-USP em 1987, professor dos cursos degraduao e de Ps-Graduao da FAU-USP e da USJT, coordena oGrupo de Pesquisa (GP) Arquitetura Urbana da USJT.E-mail: [email protected]** Doutora em Histria da Arquitetura e do Urbanismo pela FAU-USP (2005), participa de pesquisa na FAU-USP.*** Formado em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro UniversitrioBelas-Artes (1998), aluno do curso de Mestrado em Arquitetura eUrbanismo da USJT, participa do GP Arquitetura Urbana da USJT.
No distrito da Mooca pode-se observar a transfor-
mao do tecido urbano de um tipo de ocupao
tradicional, em que as residncias convivem com
as indstrias, para uma situao em que os terrenos
deixados por estas so ocupados por grandes con-
juntos residenciais. Atualmente este tipo de trans-formao deve ser estudado devido ao boom
imobilirio que se acelera no apenas na Mooca,
mas em diversos bairros da cidade. Neste texto
vamos mostrar como se transforma o espao, sob
o aspecto fsico. A Mooca foi o local de estudo
escolhido devido sua importncia na cidade de
So Paulo e ao compromisso da Universidade So
Judas Tadeu, da qual faz parte a nossa escola deArquitetura, com a vizinhana ao seu redor. Fomos
impulsionados do ponto de vista acadmico pela
necessidade de compreender como se estruturam
os lotes e as edificaes que formam as quadras, e
qual o impacto das alteraes de uso do espao nas
transformaes que esto ocorrendo em funo
da nova explorao imobiliria.
O presente estudo poder servir para subsidiar
uma posterior indicao de padres de espaos
para a formulao de diretrizes de ocupao do solopelo poder pblico.
O distrito da Mooca, nossa primeira rea de
estudo, localiza-se na Regio Administrativa da
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14 et al.Distrito da Mooca
Mooca, e para a seleo desta rea foi necessrio,
primeiramente:
Identificar o setor em que esto ocorrendo
as maiores modificaes na forma urbanapreexistente,
Investigar como ocorrem as mudanas da
ocupao do espao fsico devido a modifi-
caes de uso impostas pela nova realidade, Identificar os tipos de espao resultantes da
alterao da predominncia de uso indus-
trial para residencial, comercial e de servios.
Portanto, identificar e analisar as novas relaes
que se estabelecem entre rua, quadra, lote e edifcio.A Mooca foi um importante local de passagem
para pessoas e mercadorias em direo ao litoral sul
do estado. Hoje se tornou um distrito central da
cidade de So Paulo, cuja populao atinge 10 mi-
lhes de pessoas, e centro de uma rea metropo-
litana de 18 milhes de habitantes. Em So Paulo,
desde 1960, alm da Mooca, outros locais j pas-
saram ou vm passando por transformaes fsicas
semelhantes. Isto devido intensa mudana dos
padres de acessibilidade, relacionada s transfor-
maes do uso do solo e aos valores da terra.
Segundo a diviso administrativa da cidade, a
Regio Administrativa da Subprefeitura da Mooca
compreende seis distritos: Mooca, Belm, gua
Rasa, Tatuap, Brs e Pari. Dentro do distrito da
Mooca, elegemos o subdistrito Hipdromo como
setor especfico de estudo devido clareza e diver-
sidade de tipos fsicos associados dimenso dos
lotes e ao padro de uso e ocupao do solo, o quepermite revelar a histria do local para alm dos
limites de sua situao atual. Portanto, um lugar
estimulante para o estudo das relaes entre a rua,
a quadra, o lote e o edifcio. Na Figura 1 pode-se
observar a dimenso da rea abrangida pela Admi-
nistrao Regional da Mooca em relao subdi-
viso regional que leva seu nome. Decidimos
utilizar a nomenclatura oficial que se refere ao
distrito da Mooca, no lugar de Bairro da Mooca,
modo pelo qual tradicionalmente as pessoas se refe-rem ao lugar, para acompanhar a nomenclatura
oficial em que comparece a palavra Mooca em
diversas situaes. O termo distrito, em linguagem
internacionalmente reconhecida, aplicado a seto-
res bem delimitados que se formam em torno do
espao destinado atividade principal que deu
origem aglomerao humana em seu entorno.
Por exemplo, o distrito da universidade, o distritodo aeroporto, o distrito da represa ou o distrito do
hipdromo. Por esta classificao o distrito Mooca
corresponde ao Bairro da Mooca, como popular-
mente chamado (Lynch, 1960). Vamos ainda fazer
mais um recorte, dentro do distrito da Mooca, que
nos levar a estudar o subdistrito Hipdromo
(Macedo, 2002). O Hipdromo, se fosse para usar
a classificao internacional, seria reconhecido
como distrito Hipdromo situado no bairro da
Mooca. Esta questo de nomenclatura relevantedevido literatura internacional sobre morfologia
urbana, para que se entenda a que os autores real-
mente se referem. Um caso interessante a tradu-
o para a lngua portuguesa do livro A imagem da
cidade,de Kevin Lynch (1990), em que a traduo
dedistrictfoi feita como bairro, o que certamen-
te confunde o leitor mais habituado com o vocabu-
lrio especfico da morfologia urbana.
O subdistrito Hipdromo, somado ao subdis-
trito Mooca e ao subdistrito Parque da Mooca,
Figura 1. Regio Administrativa da Mooca.
Fonte: Ilustrao dos autores sobre o mapa da cidade.
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encerra o polgono que define o distrito da Mooca
na Regio Administrativa da Mooca. Esta regio,
com a caracterstica original da predominncia de
indstrias, partilhada por moradias e edificaes
complementares para servios, tem seu lado resi-dencial acentuado pela construo de mais habi-
taes entre 1940 e 1950. Nesta dcada foram
entregues os primeiros edifcios dos conjuntos cuja
construo foi promovida pelo Instituto de Apo-
sentadoria e Previdncia dos Industririos (IPAI)
e o dos Empregados em Transportes e Carga (IA-
PETC), situados entre as ruas da Mooca, Fernando
Falco, Cassandoca e Itaqueri, para os taxistas, e entre
as ruas dos Trilhos, Tobias Barreto, Donatrios e Cas-
sandoca, para os industririos, ambos compostospor blocos de residncias unifamiliares e toda a
infra-estrutura viria e de equipamentos institucio-
nais. Este clima contaminou toda a regio, levando
empreiteiros particulares a construir conjuntos de
residncias ao longo de ruas inteiras, bem como
vilas de acesso ao interior das quadras, ladeados por
depsitos e galpes industriais de pequeno, mdio
e grande porte, possibilitando a moradia prxima
ao local de trabalho, sonho de todo morador das
regies metropolitanas de alta densidade. Numa
prxima etapa de desenvolvimento urbano as inds-
trias comeam lentamente a esvaziar seus galpes
e depsitos, dando lugar aos primeiros empreendi-
mentos residenciais verticais da rea, concentrados
entre as ruas Sapucaia, Tobias Barreto e Cassando-
ca, o que pode ser observado na foto area que
delimita o subdistrito Hipdromo (Figura 2).
Na rea de estudo ocorrem transformaes
assim observadas:
o sistema virio original foi rasgado pelos
corredores que ligam o bairro ao Centro da
cidade, s marginais e s zonas Leste e Oes-
te, bem como ao corredor nortesul; as grandes glebas antes ocupadas por inds-
trias so transformadas em condomnios
residenciais, em sua maioria de carter mo-
nofuncional, ou seja, apenas edifcios resi-
denciais, que no prevem a instalao dereas destinadas ao comrcio e prestao
de servios (muito menos, destinam espaos
para fins institucionais, como ensino, sade,
cultura); lotes pequenos, originalmente ocupados por
residncias, depsitos de mercadorias, servi-
os complementares s indstrias e servios
destinados aos moradores, so reincorpo-
rados e neles tambm construdo o mesmo
tipo de condomnios residenciais.
Na Figura 3 ressaltam-se as reas recentemente
ocupadas por grandes empreendimentos residen-
ciais.
Figura 2. Subdistrito Hipdromo.
Fonte: Base aerofotogrametria voo ES 11061 linha 14 foto 6379.
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16 et al.Distrito da Mooca
Os empreendedores imobilirios em relao ao
projeto urbano e de arquitetura tendem repetio
exagerada de padres que deram certo, com ino-
vaes apenas superficiais no invlucro da cons-
truo. No que inexista a inovao tipolgica,ela existe, porm lenta, dada falta de iniciativa
em arriscar, por parte dos empreendedores. Na
verdade, o grande construtor aquele que melhor
compreende e fornece respostas ao mercado, as
quais so absorvidas imediatamente pela socieda-
de. Estabeleceu-se nas grandes cidades uma supre-
macia do agente imobilirio em relao ao
arquiteto. Os escritrios de projeto que trabalham
para os empreendedores, por razes diversas, cuja
interessante discusso foge do escopo deste traba-lho, proclamam que ficam de mos atadas no s
quanto configurao das edificaes, mas tambm
quanto ao estilo que lhes imposto pelos empre-
endedores que os contratam2. O ponto de vista que
adotamos sobre esta questo que, se, por um lado,
h o esforo do empreendedor, que por estar inves-
tindo seu dinheiro no pode errar e assim se torna
um conservador, do outro, no h vozes da comu-
nidade para discutir esta questo. As formulaes
que apresentamos neste artigo partem do ponto
de vista acadmico, profissional, e do cidado
preocupado com o destino dos espaos de sua
cidade.
Nossa experincia referenciada no planeja-
mento urbano centralizado, organizado por leis dezoneamento inspiradas nos princpios de higiene
das edificaes e de separao das atividades das
pessoas ditados em 1935 pela Carta de Atenas3.
No s em So Paulo que se observa o efeito da
falta de urbanidade que estas regras impem ao
desenho das cidades, isto tem sido discutido j h
algum tempo nos EUA e na Europa4. interessante
que apenas iniciados nos assuntos de arquitetura
e urbanismo alimentem esta discusso sobre ques-
tes que remetem reviso do urbanismo moderno,uma vez que profissionais de outras reas tm feito
apelos veementes para estimul-la, sempre que h
oportunidade. Apontamos para as respostas do
jornalista Gilberto Dimenstein em uma entrevista
a Associao Brasileira de Escritrios de Arquitetu-
ra, que diz: [...] So Paulo uma terra de ningum.
S em uma cidade sem tica urbana pode acontecer
de um prdio de altssimo padro desconsiderar
totalmente a existncia de uma praa degradada em
frente. Os espaos pblicos no existem, o cidado
Figura 3. Subdistrito Hipdromo: Principal localizao dos
conjuntos residenciais.
Fonte: Croqui de Adilson C. Macedo, 2007.
O croqui mostra a implantao dosconjuntos de habitao social e dosnovos condomnios de classe mdiaao longo das vias de circulaoprincipal da regio.
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vive dentro do carro, da casa, do escritrio. A ci-
dade tem que se integrar e ensinar por seus espaos,
que devem interagir com o cidado, que a passa a
se sentir responsvel por seu ambiente [...]. Con-
clui dizendo que os arquitetos poderiam mostraraos gestores pblicos exemplos de cidades que
apresentem espaos integrados com a vida pblica
(Asbea, 2007).
Em So Paulo, dado o alto custo da terra, a fr-
mula do sucesso est nos projetos que aproveitam
o mximo do potencial construtivo do lote, gerando
uma construo vertical que possa deixar a maior
rea livre de terreno possvel. Neste aspecto, veri-
ficam-se ndices de projeo abaixo do permitido
pela legislao urbanstica. Para a venda destesempreendimentos, o marketing baseado na ofer-
ta de grandes espaos livres, reas verdes e seguras,
de uso privativo dos moradores. Para a cidade isto
tem o efeito benfico de contribuir para a melhoria
da relao entre reas construdas e espaos livres.
Por outro lado, tm o efeito extremamente preju-
dicial de desvalorizar ainda mais o espao pblico,
caracterstica de nossa desarticulada classe mdia.
Defendem apenas os espaos privados, de seu
condomnio, cuja rea, se no engloba toda a quadra,somada a um ou dois condomnios, e uma ou outra
pequena construo que restou, ocupam toda a
quadra, como mostra as configuraes de quadra
na Figura 4.
Estamos caminhando para um tipo de cidade com
muros altos, guaritas e portais de acesso grandio-
sos que controlam a segurana (necessria, sem
dvida) de grupos familiares restritos. Construo
humana para estar em um livro futuro sobre a cida-
de real que So Paulo, descrito por um observadorque no precisa ser to perspicaz quanto o viajante
Marco Plo, em Cidades invisveis,de Italo Calvino.
Esta caracterstica, que h duas dcadas seria privi-
lgio dos conjuntos de classe mdia e alta, hoje se
faz presente tambm nos condomnios destinados
Figura 4. As transformaes da quadra.
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18 et al.Distrito da Mooca
populao de renda menor. O conjunto do IAPI,
lindeiro Avenida Cassandoca, no subdistrito Hip-
dromo, nosso setor de observao, antes totalmen-
te aberto, permeado pelo traado virio e recortado
por vielas de pedestres, hoje est completamentesegmentado, as quadras foram cercadas e cada con-
junto de blocos tornou-se um condomnio inde-
pendente. As reas comuns, para serem preservadas,
tiveram que ser muradas ou cercadas, restringindo-
se seu uso apenas aos moradores do conjunto. Isto
caracteriza a necessidade de organizar a comuni-
dade em ncleos de administrao simplificada,
alm de ser inevitvel tomar medidas de seguran-
a. Tal fato aponta-nos a possibilidade de um dia
vermos surgir o sentido de organizao da comu-nidade em torno de 15.000 a 20.000 pessoas que
representem um grupo fortalecido para outros n-
veis de reivindicao (Lynch, 1981).
As modificaes da quadra interferindo no te-
cido urbano tradicional, conforme os desenhos da
Figura 4, aconteceram a partir de 1950 em diferen-
tes bairros da cidade de So Paulo, chegando a pa-
tamares de ocupao do solo de alta densidade, at
maiores que os atuais, uma vez que a legislao
urbanstica vigente era mais permissiva.
No entanto, observamos uma diferena: os em-
preendimentos eram erguidos em lotes menores,
permitindo uma srie de acessos consecutivos nas
quadras e possibilitando a chegada do pedestre s
caladas, o que estimula muito os percursos a p,
principalmente se os moradores tiverem a cerca de
800 metros de seus prdios oferta de comrcio de
convenincia e servios de primeira necessidade
(Campos Filho
, 2003).Complementando este quadro, observa-se que
desde o incio do sculo XX a Mooca considerada
um bairro industrial, entremeado por habitaes,
com alguma rea verde, e equipamentos culturais e
sociais suficientes para suprir as necessidades da
poca.
O aumento da demanda por comrcio e servios
se fez sentir no distrito, tendo crescido muito, na
medida em que a populao residente aumentou.
Da mesma forma cresceu o comrcio de ampli-tude regional, localizado quase sempre nas princi-
pais vias de ligao.
As transformaes acarretaram:
sobrecarga no sistema virio original do
bairro; sobrecarga na j deficitria oferta de espaos
para comrcio, servios e instituies; isolamento das moradias e supresso de uma
dinmica urbana complexa composta pelas
atividades variadas de ocupao e moradia
no bairro (Santos, 1988); transformao na identidade do bairro,
diferenciado na composio das diversida-
des regionais na cidade de So Paulo.
No subdistrito Hipdromo os novos projetos
tm ocupado os espaos deixados pelas indstrias,
e, em conseqncia, os maiores empreendimentosesto voltados para as vias principais. Como existem
pequenos prdios ocupados no trreo por atividades
de comrcio, em geral com residncias no pavi-
mento superior, as vias principais que poderiam
organizar-se por um padro de comrcio em linha
esto ficando interrompidas pelos extensos muros
dos condomnios. Em vias locais, com predomi-
nncia de residncias unifamiliares j se faz bem
visvel a dualidade com os muros dos condomnios
(Figuras 5 e 6 e Figuras 7 e 8). Em um artigo de-
dicado aos 450 anos da cidade de So Paulo, o
jornalista Tim Teixeira discute a situao das trans-
formaes atuais: [] s na Rua Cassandoca so
trs grandes empreendimentos. A Tricury, por
exemplo, ergue o Spazio Vivere, com trs torres e
204 apartamentos. A Setin comprou uma rea de
31,6 mil m2, para construir 324 unidades, em seis
edifcios. A Cyrela faz um empreendimento maior
ainda: num terreno de 47,4 mil m2
, constri novetorres, com um total de 564 apartamentos. O em-
preendimento ter lago artificial, pista de Cooper,
cascata e at um anfiteatro entre os mais de 50 itens
de lazer. Na Rua Marina Crespi a Tecnisa levanta
quatro torres de 22 andares, com 340 unidades,
enquanto a Schahin lana o empreendimento Stu-
pendo, na Rua Borges de Figueiredo, espao antes
ocupado pela Mquinas Piratininga: trs edifcios,
204 apartamentos (Teixeira, 2007).
Essa preocupao do jornalista, que como oarquiteto est envolvido no dia-a-dia dos problemas
da cidade, demonstra a importncia de discutir-se
a questo das mudanas na forma da cidade.
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As observaes do que ocorre no Hipdromo,
da mesma maneira que em outros locais da cidade,
permitem a seguinte afirmao: no h inovao nos
projetos, todos aprovados pela legislao urbans-
tica em vigor at 20055. Pela lgica do empreende-
dor, no h por que alterar o projeto que d certo.
No entanto, em parcelas que atingem s vezes mais
que 6 hectares, com pelo menos uma lateral para
uma via principal, no seria possvel tentar-se uma
ocupao de uso misto? Dar abertura para o espa-
o urbano, respeitados os requisitos de segurana
impostos pela megacidade? Edifcios de uso misto,
alinhados com a rua ou com o recuo frontal im-
posto pela legislao j foram muito utilizados em
So Paulo. Nem preciso citar as cidades europias.
Outra questo relativa posio que assumimos
sobre a urgncia de repensar-se a forma da cidade
a de que existe um enorme estoque de reas boas
para construo de residncias e seus complemen-
tos em So Paulo. Por isso necessrio reconside-
rar a adoo de taxas de ocupao relativamente
altas utilizando construes baixas. Mesmo entre
os planejadores comum empregar-se a palavra
verticalizar, pensando em torres circundadas por
reas verdes, e quase nunca adensar, o que concer-
ne a permitir em princpio abertura para uma
volumetria mais variada das construes. Nas Figu-
ras 9 e 10 procura-se ilustrar diferentes tipos de
ocupao do espao. A Figura 9 mostra a ocupao
de uma quadra inteira por prdios que respeitam um
Coeficiente de Aproveitamento (CA) igual a 2,5 e
uma Taxa de Ocupao (TO) igual a 0,15. A Figura
10 mostra a mesma quadra com prdios com o
mesmo CA igual a 2,5 e a TO igual a 0,45. Esta
variao demonstra a possibilidade de repensarem-
se alternativas de projeto que j foram utilizadas
Figura 5. O desenvolvimento por partes: exemplo de uma rua com
residncias sem recuos.
Fonte: Fotos de Paulo Gonalves, 2007.
Figura 6. O desenvolvimento por partes: exemplo de uma rua com
lotes residenciais e industriais.
Fonte: Fotos de Paulo Gonalves, 2007.
Figura 7. O desenvolvimento por grandes empreendedores: muros
de garagem ocupando o alinhamento das antigas residenciais.
Fonte: Fotos de Paulo Gonalves, 2007.
Figura 8. O desenvolvimento por grandes empreendedores: os
novos condomnios e o conjunto do Instituto de Aposentadoria e
Penso dos Industririos.
Fonte: Fotos de Paulo Gonalves, 2007.
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20 et al.Distrito da Mooca
em nosso passado recente e so comuns em outros
lugares do mundo.
Conclumos afirmando a questo central de ser
urgente em So Paulo a integrao dos critrios de
planejamento com aqueles de desenho da cidade.
Repensar a cidade no apenas por manchas em que
se atribui um zoneamento conservador ou com a
modificao oriunda da presso exercida pelo
empreendedor imobilirio. Presso esta em que
comparecem os interesses de mercado mais ime-
diatos. Repensar o desenho da cidade no sentido
que se pretende neste texto, e em relao ao qual
sero encaminhadas nossas pesquisas mais deta-
lhadas sobre o assunto, inclui fundamentalmente
o trabalho do arquiteto, ao lado da comunidade
envolvida em cada parte da cidade e do poltico
local; o empreendedor imobilirio, ao lado do
especialista em mercado e do construtor, e o tc-
nico do poder municipal responsvel pela poltica
pblica, legislao e fiscalizao. De forma resu-
mida, poderia dizer-se que a fora para a modifi-
cao prospectiva no sentido da boa forma da
cidade estaria centrada na interao de trs grupos:
o arquiteto consultor/comunidade/poltico local,o empreendedor/agente imobilirio/construtor
e os representantes do poder municipal.
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Fonte: Croqui de Adilson C. Macedo, 2007.
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Notas
1Este texto baseado no trabalho apresentado, com o
ttulo de Street, Parcel, Block and Building: Moocas
Urban Form Transformed, no International Seminar
on Urban Form (ISUF), realizado em Ouro Preto, em
agosto de 2007.
2O arquiteto Jorge Abussamra tem estudado e
documentado essas questes para sua dissertao de
mestrado, na USJT, sob a orientao do professor
Adilson C. Macedo.
3Manifesto oriundo do IV Congresso Internacional de
Arquitetura Moderna (Ciam), 1933, que prev aseparao funcional das atividades humanas e foi
responsvel por uma linha de planejamento urbano
macro-regional que influenciou o crescimento das
cidades principalmente nas dcadas de 60 e 70.
4Nos EUA, Jonathan Barnett afirma que enquanto o
town meeting ainda existe em muitas localidades, nossas
grandes cidades tm crescido de maneira muito distante
desta forma de democracia. As pessoas raramente tm
idia da importncia de como e quando as decises so
tomadas, e menos ainda de quanto estas decises os
influenciam, mesmo quando so de consenso imediato
(Barnett, 1974). Na Europa, Bernardo Secchi,
analisando a perda de prestgio do urbanismo desde
1960, afirma que j na prxima dcada muitos
urbanistas deixaram seu envolvimento com indicadores
matemticos e voltaram a percorrer a cidade,
procurando uma vivncia concreta dos lugares e das
pessoas (Secchi, 2006).
5Referncia ao Plano Diretor Estratgico da cidade de
So Paulo, 2005.
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