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TRANSGREDINDO AS FRONTEIRAS: EM DIREÇÃO A UMA
HERMENÊUTICA TRANSFORMATIVA DA GRAVITAÇÃO
QUÂNTICA
Alan D. Sokal
Departamento de Física
Universidade de Nova Iorque
4 Washington Place
New York, NY 10003 USA
Telephone: (212) 998-7729
Fax: (212) 995-4016
28 de Novembro de 1994
revisado em 13 de Maio de 1995
Este artigo foi publicado na Social Text #46/47, pp. 217-252
(primavera/verão 1996)
Informação Biográfica: O autor é Professor de Física na
Universidade de Nova Iorque. Lecionou muitas vezes na Europa e na
América Latina, incluindo a Università di Roma "La Sapienza" e,
durante o governo Sandinista, na Universidad Nacional Autónoma de
Nicaragua. Ele é co-autor, com Roberto Fernández e Jürg Fröhlich,
de Random Walks, Critical Phenomena, e Triviality in Quantum Field
Theory (Springer, 1992).
Transgredir fronteiras disciplinares... [é] um empreendimento
subversivo, uma vez que pode vir a violar os santuários de maneiras
de percepção já aceitas. Entre as fronteiras mais fortificadas estão
aquelas entre as ciências naturais e as humanidades.
— Valerie Greenberg, Transgressive Readings (1990, 1)
A batalha pela transformação de ideologia em ciência crítica...
prossegue alicerçada na idéia de que a crítica de todas as
pressuposições da ciência e da ideologia deve ser o único princípio
absoluto da ciência.
— Stanley Aronowitz, Science as Power (1988b, 339)
Existem muitos cientistas naturais, especialmente físicos, que
continuam a rejeitar a noção de que as disciplinas relacionadas com
as críticas social e cultural podem ter algo a contribuir, exceto talvez
perifericamente, com a sua pesquisa. São ainda menos receptivos à
idéia de que a própria base de sua visão de mundo deve ser revisada
ou reconstruída à luz de tal crítica. Em vez disso, se apegam ao
dogma imposto pela longa hegemonia pós-iluminista sobre a ótica
intelectual Ocidental, que pode ser resumida em poucas palavras da
seguinte maneira: que existe um mundo externo, cujas propriedades
são independentes de qualquer ser humano e mesmo da humanidade
como um todo; que estas propriedades estão codificadas em leis
físicas "eternas"; e que seres humanos podem obter um
conhecimento confiável - embora imperfeito e provisório - destas leis
seguindo os procedimentos "objetivos" e as restrições
epistemológicas prescritas pelo (assim chamado) método científico.
Porém, profundas mudanças conceituais na ciência do século XX
corroeram esta metafísica Cartesiana-Newtoniana 1; estudos de
revisão da história e da filosofia da ciência puseram mais dúvidas
quanto à sua credibilidade 2; e, mais recentemente, críticas
feministas e pós-estruturalistas desmistificaram o conteúdo real da
corrente prevalecente da prática científica Ocidental, revelando a
ideologia de dominação escondida por detrás da fachada de
"objetividade".3 Se tornou então cada vez mais claro que a
"realidade" física, não menos do que a "realidade" social, é no fundo
uma construção social e lingüística; que o "conhecimento" científico,
longe de ser objetivo, reflete e codifica ideologias dominantes e
relações de poder da cultura que o produziu; que as reivindicações
de verdade científicas são intrinsecamente carregados de teoria e
auto-referenciais; e consequentemente, que o discurso da
comunidade científica, apesar de todo seu inegável valor, não pode
afirmar um status epistemológico privilegiado com respeito a
narrativas não-hegemônicas emanadas de comunidades dissidentes e
marginalizadas. Estes temas podem ser encontrados, exceto por
algumas diferenças de ênfase, na análise de Aronowitz sobre a
estrutura cultural que produziu a mecânica quântica 4; na discussão
de discursos opostos na ciência pós-quântica de Ross 5; nas exegeses
de codificação sexual na mecânica de fluidos de Irigaray and Hayles
6; e na compreensiva crítica de ideologia sexual subjacente às
ciências naturais em geral e em particular à física 7.
Meu objetivo aqui será levar estas análises profundas um passo
adiante, levando em conta desenvolvimentos recentes na gravidade
quântica: o ramo emergente da física no qual a mecânica quântica de
Heisenberg e a relatividade de Einstein são sintetizadas e superadas
a um só tempo. Na gravidade quântica, como veremos, a variedade
de espaço-tempo deixa de existir como realidade física objetiva; a
geometria se torna relacional e contextual; e as categorias
conceituais de base da antiga ciência - entre elas, a própria
existência - se tornam problemáticas e relativizadas. Esta revolução
conceitual, mostrarei, tem profundas implicações no conteúdo de
uma futura ciência pós-moderna e liberatória.
O método que utilizarei será como segue: primeiro irei revisar
brevemente algumas das questões filosóficas e ideológicas
levantadas pela mecânica quântica e pela relatividade geral clássica.
A seguir, traçarei as linhas gerais da emergente teoria da gravidade
quântica e discutirei algumas das questões conceituais levantadas
por esta teoria. Finalmente, irei comentar as implicações políticas
destes desenvolvimentos científicos. Deve ser enfatizado que este
artigo é necessariamente incompleto e preliminar; não pretendo
responder a todas as questões que levantar. Meu objetivo é, de fato,
chamar a atenção dos leitores a estes desenvolvimentos importantes
na ciência física, e delinear da melhor maneira que puder suas
implicações filosóficas e políticas. Me esforcei por manter a
matemática a um mínimo; mas tomei o cuidado de prover referências
onde leitores interessados podem encontrar todos os detalhes
necessários.
Mecânica Quântica: Incerteza, Complementaridade,
Descontinuidade e Interconexão
Não é minha intenção entrar aqui no debate extensivo a respeito dos
fundamentos conceituais da mecânica quântica.9 é suficiente dizer
que qualquer um que tenha estudado seriamente as equações da
mecânica quântica irá concordar com o resumo ponderado (perdão
pelo jogo de palavras) de seu célebre princípio da incerteza:
Não podemos mais falar do comportamento da partícula
independentemente do processo de observação. Como conseqüência
final, as leis naturais formuladas matematicamente na teoria
quântica não lidam mais com as partículas elementares em si, mas
com nosso conhecimento a seu respeito. Nem é mais possível
responder se estas partículas existem ou não no espaço e no tempo
objetivamente...
Quando falamos da imagem da natureza na ciência exata de nossa
época, não nos referimos a uma imagem da natureza mas uma
imagem de nossas relações com a natureza... A ciência não mais
encara a natureza como um observador objetivo, mas vê a si própria
como parte desta interação entre o homem [sic] e a natureza. O
método científico de análise, explicação e classificação se tornou
consciente de suas limitações, que surgem do fato de que, pela sua
intervenção, a ciência altera e reformula o objeto de investigação.
Em outras palavras, método e objeto não podem mais ser
separados.9 10
Nessa mesma linha, Niels Bohr escreveu:
Uma realidade independente no sentido físico comum não pode...
nem ser atribuído aos fenômenos nem ao meio de observação. 11
Stanley Aronowitz esboçou de forma convincente sua visão de mundo
em relação à crise da hegemonia liberal na Europa Central nos anos
anteriores e subsequentes à Primeira Guerra Mundial.12 13
Um segundo aspecto importante da mecânica quântica é seu
princípio de complementaridade ou dialeticismo. A luz é uma
partícula ou uma onda? A complementaridade "é a compreensão de
que os comportamentos de partícula e de onda são mutuamente
excludentes, e apesar disso necessários para uma descrição
completa de todos os fenômenos." 14 De maneira mais geral,
Heisenberg escreve:
Os diferentes quadros intuitivos que usamos para descrever sistemas
atômicos, apesar de totalmente adequados para determinados
experimentos, são ainda assim mutuamente excludentes. Portanto,
por exemplo, o átomo de Bohr pode ser descrito como um sistema
planetário em pequena escala, tendo um núcleo atômico central em
torno do qual elétrons externos orbitam. Para outros experimentos,
entretanto, pode ser mais conveniente imaginar que o núcleo
atômico é circundado por um sistema de ondas estacionárias cuja
freqüência é característica da radiação emanada pelo átomo.
Finalmente, podemos considerar o átomo quimicamente... Cada
imagem é legítima quando usada no lugar certo, mas as diferentes
imagens são contraditórias e portanto as chamamos mutuamente
complementares.15
E Bohr novamente:
Uma elucidação completa de um mesmo e só objeto pode requerer
diversos pontos de vista que desafiem uma única descrição. Na
verdade, estritamente falando, a análise consciente de qualquer
conceito se situa numa relação de exclusão com sua aplicação
imediata.16
Este presságio da epistemologia pós-moderna não é, de forma
alguma, coincidência. As conexões profundas entre
complementaridade e desconstrução foram recentemente elucidadas
por Froula 17 e Honner 18, e, em profundidade, por Plotnitsky.19 20
21
Um terceiro aspecto da física quântica é a descontinuidade ou
ruptura: como explicou Bohr,
[a] essência [da teoria quântica] pode ser expressa no assim
chamado postulado quântico, que atribui a qualquer processo físico
uma descontinuidade - ou individualidade - essencial, completamente
estranha às teorias clássicas e simbolizada pelo quantum de ação de
Planck.22
Meio século depois, a expressão "salto quântico" entrou de tal forma
no nosso vocabulário do dia-a-dia que provavelmente a usamos sem
qualquer consciência de suas origens na teoria física.
Finalmente, o teorema de Bell 23 e suas recentes geralizações 24
mostram que um ato de observação aqui e agora pode afetar não
somente o objeto sendo observado - como disse Heisenberg - mas
também um objeto arbitrariamente distante (digamos, na galáxia de
Andrômeda). Este fenômeno - que Einstein chamou
"fantasmagórico"- impões uma reavaliação radical dos conceitos
mecanicistas tradicionais de espaço, objeto e causalidade 25, e
sugere um ponto de vista alternativo no qual o universo é
caracterizado por interconexão e holismo: o que o físico David Bohm
chamou "ordem implícita".26 Interpretações Nova Era destas idéias
da física quântica freqüentemente levaram a especulações extremas
injustificadas, mas a solidez deste argumento é inegável.27 Nas
palavras de Bohr, "a descoberta de Planck do quantum elementar de
ação... revelou uma característica de holismo inerente na física
atômica, indo muito além da idéia antiquada da divisibilidade
limitada da matéria." 28
Hermenêutica da Relatividade Geral Clássica
No ponto de vista mecanicista Newtoniano, espaço e tempo são
distintos e absolutos.29 Na teoria especial da relatividade de
Einstein (1905), a distinção entre o espaço e o tempo se dissolve:
existe apenas uma nova unidade, o espaço-tempo quadridimensional,
e a percepção do observador de "espaço" e "tempo" depende do seu
estado de movimento.30 Nas famosas palavras de Hermann
Minkowski (1908):
Daqui para a frente o espaço em si, e o tempo em si, estão
condenados a desvanecer em meras sombras, e somente um tipo de
união entre os dois irá preservar uma realidade independente.31
Todavia, a geometria básica do espaço-tempo Minkowskiano
permanece absoluta.32
É na teoria da relatividade geral de Einstein (1915) que ocorre o
rompimento conceitual radical: a geometria do espaço-tempo se
torna contingente e dinâmica, codificando em si mesma o campo
gravitacional. Matematicamente, Einstein rompe com a tradição que
remonta a Euclides (e que é infligida a estudantes de segundo grau
até hoje!), e emprega em seu lugar a geometria não-euclidiana
desenvolvida por Riemann. As equações de Einstein são fortemente
não-lineares, motivo pelo qual os matemáticos de formação
tradicional as acham tão difíceis de resolver.33 A teoria gravitacional
de Newton corresponde a um grosseiro (e conceitualmente errôneo)
truncamento das equações de Einstein nas quais a não-linearidade é
simplesmente ignorada. A relatividade geral de Einstein, portanto,
inclui todos os supostos sucessos da teoria de Newton, e ainda vai
além de Newton para predizer fenômenos radicalmente novos que
surgem diretamente da não-linearidade: o desvio da luz das estrelas
pelo sol, a precessão do periélio de Mercúrio, e o colapso
gravitacional de estrelas para buracos negros.
A relatividade geral é tão estranha que algumas de suas
conseqüências - deduzidas por uma matemática impecável, e
progressivamente confirmadas pela observação astrofísica - soam
como ficção científica. Buracos negros são agora bem conhecidos, e
buracos de minhoca estão começando a ganhar espaço. Talvez
menos familiar seja a construção de Gödel de um espaço-tempo de
Einstein admitindo curvas fechadas do tipo tempo: ou seja, um
universo no qual se é possível viajar para o próprio passado! 34
Desta maneira, a relatividade geral nos impõe noções radicalmente
novas e contra-intuitivas de espaço, tempo e causalidade 35 36 37
38; portanto, não é surpreendente seu profundo impacto não
somente nas ciências naturais mas também na filosofia, na crítica
literária, e nas ciências humanas. Por exemplo, em um famoso
simpósio três décadas atrás com o tema Les Langages Critiques et
les Sciences de l?Homme, Jean Hyppolite levantou uma questão
incisiva sobre a teoria da estrutura e do sinal no discurso científico
de Jacques Derrida:
Quando considero, por exemplo, a estrutura de certas construções
algébricas [ensembles], onde está o centro? Será o centro o
conhecimento das regras gerais que, após uma modelagem, nos
permite entender a interação dos elementos? Ou será o centro cersos
elementos que gozam de um privilégio particular dentro do
ensemble? ... Com Einstein, por exemplo, vemos o fim de um tipo de
privilégio da evidência empírica. E nesta conexão vemos uma
constante aparecer, uma constante que é uma combinação de
espaço-tempo, que não pertence a quaisquer dos experimentadores
que vivem a experiência, mas que, de alguma forma, domina toda a
construção; e esta noção da constante - será isso o centro?39
A resposta perspicaz de Derrida atingiu o coração da relatividade
geral clássica:
A constante de Einstein não é uma constante, não é um centro. é o
próprio conceito de variabilidade - é, afinal, o conceito do jogo. Em
outras palavras, não é o conceito de alguma coisa - de um centro a
partir do qual um observador poderia controlar o campo - mas o
próprio conceito do jogo...40
Em termos matemáticos, a observação de Derrida está relacionada à
invariância da equação de campo de Einstein sob
difeomorfismos espaço-tempo não-lineares (auto-aplicações da
variedade de espaço-tempo que são infinitamente diferenciáveis mas
não necessariamente analíticas). O ponto chave é que este grupo de
invariância "atua transitivamente": isto significa que qualquer ponto
do espaço-tempo, se existir, pode ser transformado em qualquer
outro. Desta forma o grupo de invariância de infinitas dimensões
erode a distinção entre observador e observado; o de Euclides e o
G de Newton, antes supostos constantes e universais, são agora
percebidos em sua inelutável historicidade; e o observador suposto
observador se torna fatalmente descentralizado, desconectado de
qualquer vínculo epistêmico com um ponto do espaço-tempo que não
pode ser mais definido somente pela geometria.
Gravidade Quântica: Corda, Entrelaçamento ou Campo
Morfogenético?
Entretanto, esta interpretação, enquanto adequada dentro da
relatividade geral clássica, se torna incompleta dentro da visão pós-
moderna emergente da gravidade quântica. Quando até mesmo o
campo gravitacional - geometria personificada - se torna um
operador não-comutativo (e portanto não-linear), como é possível
sustentar a interpretação clássica de como uma entidade
geométrica? Não somente o observador, mas o próprio conceito da
geometria, se torna relacional e contextual.
A síntese da teoria quântica e da relatividade geral é portanto o
principal problema não resolvido da física teórica 41; ninguém hoje
em dia pode predizer com confiança qual será a linguagem e a
ontologia, muito menos o conceito, desta síntese, quando e se ela
chegar. é, entretanto, útil examinar historicamente as metáforas e
imagens que os físicos teóricos têm empregado em suas tentativas
de entender a gravidade quântica.
As primeiras tentativas - datando do início dos anos 1960 - de
visualizar a geometria na escala de Planck (cerca de
centímetros) a retrata como uma "espuma de espaço-tempo": bolhas
de curvatura de espaço-tempo, compartilhando uma topologia de
interconexões complexa e em constante transformação. 42 Mas os
físicos não foram capazes de levar adiante esta abordagem, talvez
devido ao desenvolvimento inadequado à época da topologia e da
teoria das variedades (ver abaixo).
Nos anos 70 os físicos tentaram uma abordagem ainda mais
convencional: simplificar as equações de Einstein com a alegação de
que elas são quase lineares, e então aplicar os métodos padrão da
teoria quântica de campos para as então simplificadas equações. Mas
também este método falhou: viu-se que a relatividade geral de
Einstein é, em linguagem técnica, "perturbativamente não-
renormalizável".43 Isso significa que as fortes não-linearidades da
relatividade geral de Einstein são intrínsecas à teoria; qualquer
tentativa de assumir que as não-linearidades são fracas é
simplesmente auto-contraditória. (Isto não é surpreendente: a
aproximação quase-linear destrói os aspectos mais característicos da
relatividade geral, tais como os buracos negros).
Nos anos 80 uma abordagem bastante diferente, conhecida como
teoria das cordas, se tornou popular: aqui os constituintes
fundamentais da matéria não são partículas puntuais, mas
minúsculas (da escala de Planck) cordas, fechadas e abertas. 44
Nesta teoria, a variedade de espaço-tempo não existe como uma
realidade física objetiva; o espaço-tempo é um conceito derivado,
uma aproximação válida somente em grandes escalas de
comprimento (onde "grande" significa "muito maior do que
centímetros"!). Durante algum tempo muitos entusiastas da teoria
das cordas pensaram estar se aproximando de uma Teoria do Tudo -
a modéstia não é uma de suas virtudes - e alguns ainda pensam
assim. Mas as dificuldades matemáticas na teoria das cordas são
terríveis, e não está nem um pouco claro se eles serão resolvidos
num futuro próximo.
Mais recentemente, um pequeno grupo de físicos retornou às não-
linearidades completas da relatividade geral de Einstein, e - usando
um novo simbolismo inventado por Abhay Ashtekar - tentaram
visualizar a estrutura da correspondente teoria quântica. 45 A
imagem que obtiveram é intrigante: Como na teoria das cordas, a
variedade de espaço-tempo é somente uma aproximação válida a
grandes distâncias, não uma realidade objetiva. A pequenas (escala
de Planck) distâncias, a geometria do espaço-tempo é um
entrelaçamento: uma complexa interconexão de fios.
Finalmente, uma proposta excitante tem tomado forma nos últimos
anos nas mãos de uma colaboração interdisciplinar de matemáticos,
astrofísicos e biólogos: é a teoria do campo morfogenético. 46 Desde
meados dos anos 1980, têm-se acumulado evidências de que este
campo, primeiramente conceitualizado por biólogos evolucionistas
47, está de fato intimamente ligado ao campo gravitacional quântico
48: (a) permeia todo o espaço; (b) interage com toda matéria e
energia, não importando se a matéria/energia é carregada
magneticamente ou não; e, mais significativamente, (c) é aquilo que
chamamos, matematicamente, um "tensor simétrico de segunda
ordem". Todas essas três propriedades são características da
gravidade; e foi provado há alguns anos que a única teoria não-linear
auto-consistente de um tensor simétrico de segunda ordem é, pelo
menos a baixas energias, precisamente a relatividade geral de
Einstein. 49 Sendo assim, se a evidência para (a), (b) e (c) se
mantêm, podemos inferir que o campo morfogenético é o equivalente
quântico do campo gravitacional de Einstein. Até recentemente esta
teoria foi ignorada, ou mesmo desprezada, pela classe dirigente dos
físicos de altas energias, que tradicionalmente se ressente com a
invasão dos biólogos (para não dizer humanistas) em seu
"território".50 Entretanto, alguns físicos teóricos começaram
recentemente a dar alguma atenção a esta teoria, e existem boas
possibilidades de progresso no futuro próximo.51
Ainda é muito cedo para dizer se a teoria das cordas, entrelaçamento
do espaço-tempo ou campo morfogenético serão confirmados no
laboratório: os experimentos não são fáceis de realizar. Mas é
intrigante que todas as três teorias tenham características
conceituais similares: forte não-linearidade, espaço-tempo subjetivo,
fluxo inexorável, e uma ênfase na topologia da interconectividade.
Topologia Diferencial e Homologia
Desconhecida para a maior parte dos não-especialistas, a física
teórica experimentou uma transformação significativa - embora não
ainda uma verdadeira mudança Kuhniana de paradigma - nos anos
1970 e 80: as ferramentas tradicionais da física matemática (análise
real e complexa), que lidam com a variedade de espaço-tempo
apenas localmente, foram suplementadas por métodos topológicos
(mais precisamente, métodos da topologia diferencial 52) que levam
em conta a estrutura global (holística) do universo. Esta tendência
foi observada nas análises de anomalias em teorias de calibre 53; na
teoria das transições de fase mediadas por vórtices 54; e nas teorias
de cordas e supercordas.55 Numerosos livros e artigos de revisão
sobre "topologia para físicos" foram publicados durante estes anos.
56
Aproximadamente na mesma época, nas ciências sociais e
psicológicas, Jacques Lacan apontou o papel chave representado
pela topologia diferencial:
Este diagrama [a fita de Möbius] pode ser considerada a base de
uma espécie de inscrição essencial na origem, no nó que constitui o
sujeito. Isto vai muito além do que você pode pensar no início,
porque você pode procurar pelo tipo de superfície capaz de receber
tais inscrições. Você pode talvez ver que a esfera, aquele velho
símbolo para a totalidade, é inapropriado. Um toro, uma garrafa de
Klein, uma superfície cross-cut, são capazes de receber tal corte. E
esta diversidade é muito importante, pois explica muitas coisas sobre
a estrutura da doença mental. Se for possível simbolizar o sujeito por
este corte fundamental, da mesma maneira pode-se mostrar que um
corte em um toro corresponde ao sujeito neurótico, e em uma
superfície de corte cruzado a outro tipo de doença mental.57 58
Como Althusser corretamente comentou, "Lacan dá finalmente ao
pensamento de Freud os conceitos científicos dos quais necessita".59
Mais recentemente, a topologie du sujet de Lacan foi aplicada com
resultados frutíferos à crítica cinematográfica 60 e à psicanálise da
AIDS 61 Em termos matemáticos, Lacan está demonstrando aqui que
o primeiro grupo de homologia 62 da esfera é trivial, enquanto os
das outras superfícies são profundos; e esta homologia está ligada à
conectividade ou desconectividade da superfície após um ou mais
cortes.63 Além disso, como Lacan suspeitou, existe uma conexão
íntima entre a estrutura externa do mundo físico e sua representação
psicológica interna como teoria dos nós: esta hipótese foi
recentemente confirmada pela derivação de Witten dos invariantes
dos nós (em particular o polinômio de Jones 64) a partir da teoria
quântica de campos de Chern-Simons.65
Estruturas topológicas análogas surgem na gravidade quântica, mas
devido ao fato de as variedades envolvidas serem muitidimensionais
em lugar de bidimensionais, grupos de homologia superiores
cumprem também um papel. Estas variedades muitidimensionais não
são mais possíveis de visualizar em um espaço Cartesiano
tridimensional: por exemplo, o espaço projetivo , que surge da 3-
esfera ordinária pela identificação dos antípodas, iria necessitar um
espaço Euclidiano de imersão de dimensão pelo menos igual a 5. 66
Entretanto, os grupos superiores de homologia podem ser
percebidos, pelo menos aproximadamente, por meio de uma lógica
adequada multidimensional (não-linear).67 68
Teoria das Variedades: Conjuntos e Fronteiras
Luce Irigaray, em seu famoso artigo "O Sujeito da Ciência é
Sexuado?", ressaltou que
as ciências matemáticas, na teoria dos conjuntos [théorie des
ensembles], dizem respeito a espaços abertos e fechados... Dizem
muito pouco respeito à questão dos parcialmente abertos, a
conjuntos que não são claramente delineados [ensembles flous], a
qualquer análise do problema das fronteiras [bords]...69
Em 1982, quando o ensaio de Irigaray apareceu, foi uma crítica
incisiva: a topologia diferencial tem tradicionalmente privilegiado o
estudo daquelas que são conhecidas tecnicamente como "variedades
sem fronteiras". Entretanto, na década passada, sob o ímpeto da
crítica feminista, alguns matemáticos têm dado renovada atenção à
teoria das "variedades com fronteiras" [do francês variétés à
bord].70 Talvez não por coincidência, são precisamente estas
variedades que surgem na nova física da teorias de campos
conformes, supercordas e gravidade quântica.
Na teoria das cordas, a amplitude quântica para a interação de n
cordas fechadas ou abertas é representada por uma integral
funcional (basicamente, uma soma) sobre campos pertencentes a
uma variedade bidimensional com fronteira.71 Na gravidade
quântica, podemos esperar que uma representação similar será
mantida, exceto que a variedade bidimensional com fronteira será
substituída por uma multidimensional. Infelizmente, a
multidimensionalidade vai de encontro com o pensamento
matemático linear convencional, e apesar de uma recente abertura
de atitudes (notavelmente associadas com o estudo de fenômenos
não lineares muitidimensionais na teoria do caos), a teoria das
variedades multidimensionais com fronteiras permanece um tanto
subdesenvolvida. Contudo, o trabalho de físicos na abordagem
integral funcional da gravidade quântica prossegue velozmente 72, e
provavelmente este trabalho estimulará a atenção dos
matemáticos.73
Como Irigaray antecipou, uma importante questão em todas estas
teorias é: Pode a fronteira ser transgredida (cruzada), e, nesse caso,
o que acontece? Tecnicamente isso é conhecido como o problema
das "condições de fronteira". Em um nível puramente matemático, o
aspecto mais saliente das condições de fronteira é a grande
diversidade de possibilidades: por exemplo, "c. f. livre" (nenhum
obstáculo para cruzar), "c. f. reflexiva" (reflexão especular como em
um espelho), "c. f. periódica" (reentrada em outra parte da
variedade), e "c. f. anti-periódica" (reentrada com rotação de ). A
questão colocada pelos físicos é: De todas estas condições de
fronteira concebíveis, quais realmente ocorrem na representação da
gravidade quântica? Ou talvez, todas elas ocorrem simultaneamente
e pé de igualdade, como sugerido pelo princípio de
complementaridade? 74
Neste ponto meu resumo dos desenvolvimentos da física deve parar,
pela simples razão de que as respostas a estas questões - se
realmente elas tiverem respostas unívocas - não são ainda
conhecidas. No resto deste ensaio, proponho tomar como ponto de
partida aqueles pontos da teoria da gravidade quântica que são
relativamente bem estabelecidos (pelo menos pelos padrões da
ciência convencional), e tentar traçar suas implicações filosóficas e
políticas.
Transgredindo as Fronteiras: Em Direção a uma Ciência
Liberatória
Ao longo das últimas duas décadas tem tido lugar extensiva
discussão entre críticos teóricos em relação às características da
cultura moderna contra a pós-moderna; e em anos recentes estes
diálogos começaram a devotar atenção detalhada aos problemas
específicos propostos pelas ciências naturais. 75 Em particular,
Madsen e Madsen deram recentemente um resumo muito claro das
características da ciência moderna versus pós-moderna. Eles
postulam dois critérios para uma ciência pós-moderna:
Um critério simples para que uma ciência se qualifique como pós-
moderna é estar livre de qualquer dependência do conceito de
verdade objetiva. Por este critério, por exemplo, a interpretação da
complementaridade da física quântica por Niels Bohr e a escola de
Copenhagem é vista como pós-moderna.76
Claramente, a gravidade quântica é, nesse sentido, uma ciência pós-
moderna arquetípica. Em segundo lugar:
O outro conceito que pode ser tomado como fundamental para a
ciência pos-moderna é o da essencialidade. Teorias científicas pós-
modernas são construídas a partir daqueles elementos teóricos que
são essenciais para a consistência e utilidade da teoria. 77
Assim, quantidades ou objetos que são em princípio inobserváveis -
tais como pontos no espaço-tempo, posições exatas de partículas, ou
quarks e glúons - não devem ser introduzidos na teoria. 78 Enquanto
muito da física moderna é excluído por este critério, a gravidade
quântica novamente se qualifica: na passagem da relatividade geral
clássica para a teoria quantizada, pontos do espaço-tempo (e na
verdade a própria variedade de espaço-tempo) desapareceram da
teoria.
Entretanto, estes critérios, apesar de admiráveis, são insuficientes
para uma ciência pós-moderna liberatória: eles liberam os seres
humanos da tirania da "verdade absoluta" e da "realidade objetiva",
mas não necessariamente da tirania de outros seres humanos. Nas
palavras de Andrew Ross, precisamos de uma ciência "que será
publicamente responsável e de algum serviço para interesses
progressistas."79 De um ponto de vista feminista, Kelly Oliver dá um
argumento similar:
... para ser revolucionária, uma teoria feminista não pode alegar
descrever o que existe, ou "fatos naturais". Em lugar disso, teorias
feministas devem ser ferramentas políticas, estratégias para
prevalecer sobre a opressão em situações concretas específicas. O
objetivo, portanto, da teoria feminista, deve ser desenvolver teorias
estratégicas - não teorias verdadeiras, nem teorias falsas, mas
teorias estratégicas. 80
Como, então, isso deve ser feito?
No que se segue, gostaria de discutir as linhas gerais de uma ciência
pós-moderna liberatória em dois níveis: primeiro, com respeito a
temas e atitudes gerais; e segundo, com respeito a metas e
estratégias políticas.
Uma característica da ciência pós-moderna emergente é sua ênfase
na não-linearidade e na descontinuidade: isto é evidente, por
exemplo, na teoria do caos e na teoria das transições de fase bem
como na gravidade quântica. 81 Ao mesmo tempo, pensadores
feministas ressaltaram a necessidade de uma análise adequada da
fluidez, em particular na fluidez turbulenta. 82 Estes dois temas não
são tão contraditórios como pode parecer de imediato: a turbulência
está conectada a forte não-linearidade, e a suavidade/fluidez está às
vezes associada com a descontinuidade (por exemplo, na teoria das
catástrofes 83); portanto uma síntese não está de forma alguma fora
de questão.
Em segundo lugar, as ciências pós-modernas descontroem e
transcendem as distinções metafísicas cartesianas entre humanidade
e natureza, observador e observado, Sujeito e Objeto. Já a mecânica
quântica, no começo do século, destruiu a ingênua fé newtoniana em
um mundo objetivo e pré-linguístico de objetos materiais "estando
por aí "; não poderíamos mais perguntar, como colocou Heisenberg,
se "existem partículas objetivamente no espaço e no tempo". Mas a
formulação de Heisenberg ainda pressupõe a existência objetiva de
espaço e do tempo como a arena neutra e não-problemática na qual
partículas-ondas interagem (apesar de indeterministicamente); e é
precisamente esta suposta arena que a gravidade quântica
problematiza. Assim como a mecânica quântica nos informa que a
posição e o momento de uma partícula são trazidos à existência
apenas pelo ato da observação, assim a gravidade quântica nos
informa que o espaço e o tempo são eles próprios contextuais, sendo
seu significado definido somente relativamente ao modo de
observação. 84
Em terceiro lugar, as ciências pós-modernas destroem as categorias
e hierarquias ontológicas estáticas características da ciência
moderna. Em lugar do atomismo e do reducionismo, as novas
ciências enfatizam a rede dinâmica de relações entre o todo e uma
parte; em lugar de essências individuais fixas (por exemplo, as
partículas newtonianas), elas conceitualizam interações e fluxos (por
exemplo, campos quânticos). De forma intrigante, estas
características homólogas surgem em numerosas áreas da ciência
aparentemente diversas, da mecânica quântica à teoria do caos e à
biofísica de sistemas auto-organizados. Desta forma, as ciências pós-
modernas parecem estar convergindo a um novo paradigma
epistemológico, que pode ser denominado perspectiva ecológica,
comumente conhecido como "reconhecimento da interdependência
fundamental de todos os fenômenos e a imersão de indivíduos e
sociedades nos padrões cíclicos da natureza."85
Um quarto aspecto da ciência pós-moderna é sua ênfase auto-
consciente no simbolismo e na representação. Como ressalta Robert
Markley, as ciências pós-modernas estão cada vez mais
transgredindo fronteiras disciplinares, assumindo características que
tinham até então sido campo das humanidades:
A física quântica, a teoria do bootstrap hadrônico, a teoria dos
números complexos, e a teoria do caos compartilham o pressuposto
básico de que a realidade não pode ser descrita em termos lineares,
que equações não lineares - e insolúveis - são a única forma possível
de descrever uma realidade complexa, caótica e não-determinística.
Estas teorias pós-modernas são - de forma significativa - todas
metacríticas, no sentido de que se apresentam como metáforas em
vez de descrições "acuradas" da realidade. Em termos que são mais
familiares a teóricos literários do que a físicos teóricos, poderíamos
dizer que estas tentativas por parte dos cientistas de desenvolver
novas estratégias de descrição representam notas em direção a uma
teoria das teorias, de como a representação - matemática,
experimental e verbal - é inerentemente complexa e problematizante,
não uma solução mas parte da semiótica da investigação do
universo.86 87
De um diferente ponto de partida, Aronowitz sugere da mesma forma
que uma ciência liberatória pode surgir do compartilhamento
interdisciplinar de epistemologias:
... objetos naturais são também socialmente construídos. Não é uma
questão de se estes objetos naturais, ou, para ser mais preciso, os
objetos de conhecimento científico natural, existem
independentemente do ato de saber. Esta questão é respondida
assumindo-se um tempo "real" por oposição à pressuposição, comum
entre neokantianos, de que o tempo tem sempre um referente, que a
temporalidade é portanto uma categoria relativa, e não
incondicionada. Certamente, a Terra evoluiu muito antes da vida na
Terra. A questão é se objetos de conhecimento científico natural são
constituídos fora do campo social. Se isto é possível, podemos
assumir que a ciência ou a arte podem desenvolver procedimentos
que efetivamente neutralizam os efeitos que emanam dos meios
pelos quais produzimos conhecimento/arte. Arte performática pode
ser uma tentativa.88
Finalmente, a ciência pós-moderna proporciona uma refutação
poderosa ao autoritarismo e ao elitismo inerentes à ciência
tradicional, bem como uma base empírica para uma abordagem
democrática do trabalho científico. Pois, como observou Bohr, "uma
elucidação completa de um e só objeto pode requerer diversos
pontos de vista que desafiam uma descrição única" - este é muito
simplesmente um fato sobre o mundo, embora os auto-proclamados
empiricistas da ciência moderna prefiram esquecê-lo. Em tal
situação, como pode um clero secular auto-perpetuante de
"cientistas" credenciados pretender manter um monopólio da
produção de conhecimento científico? (Permita-me enfatizar que não
sou de forma alguma contrário ao treinamento científico
especializado; faço objeção apenas quando uma casta elitista
pretende impor seu cânone de "alta ciência", com o objetivo de
excluir a priori formas alternativas de produção científica por não-
membros.89)
O conteúdo e a metodologia da ciência pós-moderna fornecem
portanto suporte intelectual poderoso para o projeto político
progressista, entendido em seu sentido mais amplo: a transgressão
das fronteiras, a quebra de barreiras, a democratização radical de
todos os aspectos da vida social, econômica, política e cultural.90
Reciprocamente, uma parte deste projeto deve envolver a contrução
de uma ciência nova e verdadeiramente progressista que possa
servir às necessidades de tal sociedade democratizada futura. Como
observa Markley, parece haver duas escolhas mais ou menos
mutualmente excludentes disponíveis para a comunidade científica:
De um lado, cientistas politicamente progressistas podem tentar
recuperar práticas existentes para valores morais que defendem,
argumentando que seus inimigos reacionários estão desfigurando a
natureza e que eles, o contra-movimento, têm acesso à verdade.
[Mas] o estado da biosfera - poluição do ar, poluição da água,
desaparecimento de florestas tropicais, milhares de espécies à beira
da extinção, grandes àreas de terra exploradas muito além de sua
capacidade de produção, usinas nucleares, armas nucleares,
clareiras onde outrora haviam florestas, fome, desnutrição, pântanos
desaparecendo, pastagens inexistentes, e uma torrente de doenças
ambientais - sugere que o sonho realista do progresso científico, de
recapturar em vez de revolucionar metodologias e técnicas
existentes, é, na pior das hipótestes, irrelevante para uma luta
política que deseja algo mais do que uma nova apresentação do
socialismo de estado.91
A alternativa é uma profunda reconcepção da ciência, bem como da
política:
[O] movimento dialógico em direção a redefinição de sistemas, de
ver o mundo não somente como um todo ecológico mas como um
conjunto de sistemas concorrentes - um mundo mantido coeso pelas
tensões entre vários interesses naturais e humanos - oferece a
possibilidade de redefinir o que é a ciência e o que ela faz, de
reestruturar esquemas determinísticos de educação científica em
favor de diálogos em progresso sobre como intervir em nosso
ambiente. 92
Desnecessário dizer que a ciência pós-moderna favorece
inequivocamente a última abordagem, mais profunda.
Além de redefinir o conteúdo da ciência, é imperativo reestruturar e
redefinir os espaços institucionais nos quais o trabalho científico tem
lugar - universidades, laboratórios do governo, e corporações - e
reconceber o sistema de recompensas que leva os cientistas a se
tornarem, freqüentemente contra seus próprios e melhores intintos,
os capangas dos capitalistas e dos militares. Como observou
Aronowitz, "Um terço dos 11000 estudantes de doutorado em física
nos Estados Unidos estão somente no subcampo da física do estado
sólido, e todos eles poderão encontrar trabalho neste subcampo."93
Em contraste, existem poucos empregos disponíveis tanto para a
gravidade quântica como para a física ambiental.
Mas tudo isso é somente um primeiro passo: o objetivo fundamental
de qualquer movimento emancipatório deve ser desmistificar e
democratizar a produção do conhecimento científico, quebrar as
barreiras artificiais que separam "cientistas" do "público".
Realisticamente, esta tarefa deve começar com a geração mais
jovem, através de uma profunda reforma do sistema educacional.94
O ensino de ciências e da matemática deve ser libertado de suas
características autoritárias e elitistas 95, e o conteúdo destas áreas,
enriquecidas, incorporando-se os discernimentos das críticas
feministas 96, homossexuais97, multiculturais 98 e ecológicas 99.
Finalmente, o conteúdo de qualquer ciência é profundamente
condicionado pela linguagem na qual seus discursos são formulados;
e a ciência física ocidental dominante tem sido, desde Galileu,
formulada na linguagem da matemática.100 101 Mas a matemática
de quem? A questão é fundamental, pois, como observou Aronowitz,
"nem a lógica, nem a matemática escapam da ?contaminação? do
social."102 E como pensadores feministas repetidamente
mencionaram, na presente cultura esta contaminação é
avassaladoramente capitalista, patriarcal e militarista: "a
matemática é retratada como uma mulher cuja natureza deseja ser a
Outra conquistada." 103 104 Portanto, uma ciência liberatória não
pode ser completa sem uma profunda revisão do cânone da
matemática.105 Ainda não existe tal ciência emancipatória, e
podemos somente especular sobre seu eventual conteúdo. Podemos
ver algumas dicas na lógica multidimensional e não-linear da teoria
dos sistemas vagos 106; mas esta abordagem ainda é profundamente
marcada por suas origens na crise das relações do capitalismo
tardio.107 A teoria das catástrofes 108, com sua ênfase dialética na
continuidade/descontinuidade e metamorfose/desdobramento, irá
indubitavelmente representar um papel importante na matemática
futura; mas muito trabalho teórico precisa ainda ser feito antes que
esta abordagem possa tornar-se uma ferramenta concreta de
utilização política progressista.109 Finalmente, a teoria do caos - que
provê nosso entendimento mais profundo do onipresente e
misterioso fenômeno da não-linearidade - será central para toda a
matemática futura. Porém, estas imagens da futura matemática
podem ser apenas um traço vago, pois, ao longo destes três novos
ramos na árvore da ciência, surgirão novos troncos e ramos -
estruturas teóricas inteiramente novas - dos quais nós, com nossos
atuais antolhos ideológicos, não podemos sequer conceber.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a Giacomo Caracciolo, Lucía Fernández-
Santoro, Lia Gutiérrez e Elizabeth Meiklejohn por discussões
divertidas que contribuíram enormemente para este artigo. Não é
preciso dizer que estas pessoas não devem ser consideradas como
em total concordância com os pontos de vista científicos e políticos
expressos aqui, nem são responsáveis por quaisquer erros ou
obscuridades que, inadvertidamente, possam estar presentes.
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Notas
1...Heisenberg (1958), Bohr (1963).
2...Kuhn (1970), Feyerabend (1975), Latour (1987), Aronowitz
(1988b), Bloor (1991).
3...Merchant (1980), Keller (1985), Harding (1986,1991), Haraway
(1989,1991), Best (1991).
4...Aronowitz (1988b, especialmente caps. 9 e 12).
5...Ross (1991, introdução e cap. 1).
6...Irigaray (1985), Hayles (1992).
7...Harding (1986, especialmente caps. 2 e 10); Harding (1991,
especialmente cap. 4).
8...Para uma amostra de pontos de vista, ver Jammer (1974), Bell
(1987), Albert (1992), Dürr, Goldstein and Zanghí (1992), Weinberg
(1992, cap. IV), Coleman (1993), diary Maudlin (1994), Bricmont
(1994).
9...Heisenberg (1958, 15, 28-29), grifos do original. Ver também
Overstreet (1980), Craige (1982), Hayles (1984), Greenberg (1990),
Booker (1990) e Porter (1990) para exemplos de fertilização cruzada
de idéias entre teoria quântica relativística e crítica literária.
10...Infelizmente, o princípio de incerteza de Heisenberg tem sido
freqüentemente mal interpretado por filósofos amadores. Como
Gilles Deleuze e Félix Guattari (1994, 129-130) lucidamente
observaram, na física quântica, o demônio de Heisenberg não
expressa a impossibilidade de medir tanto a velocidade quanto a
posição de uma partícula, sob pretexto de uma interferência
subjetiva da medida com o que é medido, mas mede exatamente um
estado objetivo de fatos que deixa a posição respectiva de duas de
suas partículas fora do campo de sua realização, o número de
variáveis independentes sendo reduzido e os valores das
coordenadas tendo a mesma probabilidade. ...O perspectivismo ou
relativismo científico jamais é relativo a um sujeito: não constitui
uma relatividade da verdade mas, ao contrário, uma verdade do
relativo, ou seja, de variáveis cujos casos ele ordena de acordo com
os valores que extrai deles no seu sistema de coordenadas...
11...Bohr (1928), citado em Pais (1991, 314).
12...Aronowitz (1988b, 251-256).
13...Ver também Porush (1989) para uma fascinante narrativa de
como um segundo grupo de cientistas e engenheiros - cibernéticos -
planejaram, com sucesso considerável, subverter as implicações mais
revolucionárias da física quântica. A principal limitação da crítica de
Porush é que esta permanece apenas em um plano cultural e
filosófico; suas conclusões seriam incomensuravelmente reforçadas
por uma análise de fatores econômicos e políticos. (Por exemplo,
Porush deixa de mencionar que o engenheiro-cibernético Claude
Shannon trabalhou para o então monopólio de telefonia AT&T.) Uma
análise cuidadosa mostraria, penso eu, que a vitória da cibernética
sobre a física quântica nos anos 40 e 50 pode ser explicada em
grande parte pela centralidade da cibernética no movimento
capitalista vigente pela automação da produção industrial,
comparada com a relevância industrial marginal da mecânica
quântica.
14...Pais (1991, 23). Aronowitz (1981, 28) notous que a dualidade
onda-partícula torna o "desejo de totalidade na ciência moderna"
severamente problemático:
As diferenças dentro da física entre as teorias ondulatória e
corpuscular da matéria, o princípio da indeterminação descoberto
por Heisenberg, a teoria da relatividade de Einstein, são todas
acomodações à impossibilidade de se chegar a uma teoria de campo
unificado, no qual a "anomalia" da diferença para uma teoria que
presume identidade pode ser resolvida sem desafiar das
pressuposições da ciência em si.
Para mais desenvolvimentos destas idéias, ver Aronowitz (1988a,
524-525, 533).
15...Heisenberg (1958, 40-41).
16...Bohr (1934), citado em Jammer (1974, 102). A análise de Bohr
do princípio da complementaridade também o conduz a um
panorama social que foi, para seu tempo e lugar, notavelmente
progressista. Considere o seguinte trecho de um ensaio de 1938
(Bohr 1958, 30):
Talvez eu deva aqui relembrá-lo da extensão na qual, em certas
sociedades, os papéis dos homens e das mulheres se invertem, não
somente em relação aos deveres domésticos e sociais, mas também
no que se refere ao comportamento e à mentalidade. Mesmo em
muitos de nós, em tal situação, talvez relutássemos de imediato ao
admitir a possibilidade de que seja um total capricho do destino que
as pessoas em questão tenham sua cultura específica e não a nossa,
e nós não a deles em lugar da nóssa própria, é claro que até mesmo a
mais leve suspeita a esse respeito implica uma traição da
complacência nacional inerente a qualquer cultura humana centrada
em si mesma.
17...Froula (1985).
18...Honner (1994).
19...Plotnitsky (1994). Este trabalho impressionante também explica
as conexões íntimas com a prova de Gödel da incompleteza dos
sistemas formais e com a construção de Skolem de modelos não
padronizados da aritmética, assim como com a economia geral de
Bataille. Para mais discussões da física de Bataille, ver Hochroth
(1995).
20...Numerosos outros exemplos podem ser citados. Por exemplo,
Barbara Johnson (1989, 12) não faz referência específica à física
quântica, mas sua descrição da desconstrução é uma revisão
assustadoramente exata do princípio da complementaridade:
Em vez de uma simples estrutura "ou/ou", a decomposição tenta
elaborar um discurso que não diga nem "ou/ou", nem "tanto/como",
nem mesmo "nem/nem", ao mesmo tempo não abandonando
totalmente esta lógica.
Ver também McCarthy (1992) para uma análise estimulante que
levanta questões importantes sobre a "cumplicidade" entre a física
quântica e a descontrução.
21...Permitam-me relatar uma lembrança pessoal: Quinze anos atrás,
quando eu era estudante de doutorado, minha pesquisa em teoria
quântica relativística de campos me levou a uma abordagem que
chamei de "teoria quântica de campos des[cons]trutiva" (Sokal
1982). é claro que naquele tempo eu não tinha nenhum
conhecimento do trabalho de Jacques Derrida sobre a desconstrução
na filosofia e na crítica literária. Em retrospecto, entretanto, existe
uma notável afinidade: meu trabalho pode ser visto como uma
exploração de como o discurso ortodoxo (e.g. Itzykson and Zuber
1980) a respeito da teoria quântica escalar de campos no espaço-
tempo quadridimensional (em termos técnicos, "teoria de
perturbação renormalizável" para a teoria ) afirma sua própria
irrealidade e por isso condena suas próprias afirmações. Desde
então, meu trabalho foi desviado para outras questões, sendo a
maior parte conectada com transições de fase; mas homologias sutis
entre os dois campos podem ser notadas, particularmente o tema da
descontinuidade (ver notas 22 e 81 abaixo). Para mais exemplos da
descontrução na teoria quântica de campos, ver Merz e Knorr Cetina
(1994).
22...Bohr (1928), citado em Jammer (1974, 90).
23...Bell (1987, especialmente caps. 10 and 16). Ver também
Maudlin (1994, chap. 1) para uma narrativa clara que não pressupõe
conhecimento especializado de álgebra do ensino médio.
24...Greenberger et al. (1989,1990), Mermin (1990,1993).
25...Aronowitz (1988b, 331) fez uma observação provocativa a
respeito da causalidade não-linear na mecânica quântica e sua
relação com a costrução social do tempo:
A causalidade linear assume que a relação de causa e efeito pode ser
expressa como uma função da sucessão temporal. Devido a
desenvolvimentos recentes na mecânica quântica, podemos postular
que é possível conhecer os efeitos de causas ausentes; ou seja,
falando metaforicamente, os efeitos podem antecipar causas de tal
forma que nossa percepção deles pode preceder a ocorrência física
de uma "causa". A hipótese que desafia nossa concepção
convencional de tempo e causalidade lineares e que afirma a
possibilidade da reversibilidade do tempo também levanta a questão
do grau em que o conceito de "flecha do tempo" é inerente a
qualquer teoria científica. Se tais experimentos têm sucesso, as
conclusões a respeito da maneira que o tempo como "tempo-relógio"
foi constituído historicamente serão abertas para debate. Teremos
"provado" por meio experimental o que já é suspeitado há muito por
filósofos e críticos literários e sociais: que o tempo é, em parte, uma
construção convencional, sua segmentação em horas e minutos
sendo um produto da necessidade de disciplina industrial, de
organização racional do trabalho social no princípio da época
burguesa.
As análises teóricas de Greenberger et al. (1989,1990) e Mermin
(1990,1993) dão um exemplo impressionante deste fenômeno; ver
Maudlin (1994) para uma análise detalhada das implicações para os
conceitos de causalidade e temporalidade. Um teste experimental,
estendendo o trabalho de Aspect et al. (1982), estará provavelmente
disponível dentro de poucos anos.
26...Bohm (1980). As relações íntimas entre a mecânica quântica e o
problema mente-corpo são discutidas em Goldstein (1983, chaps. 7
and 8).
27...Entre a literatura volumosa, o livro de Capra (1975) pode ser
recomendado por sua precisão científica e sua acessibilidade para
não-especialistas. Além disso, o livro de Sheldrake (1981), embora
especulativo ocasionalmente, é em geral uma obra sólida. Para uma
análise simpática porém crítica das teorias da Nova Era, ver Ross
(1991, cap. 1). Para uma crítica do trabalho de Capra a partir de uma
perspectiva do Terceiro Mundo, ver Alvares (1992, cap. 6).
28...Bohr (1963, 2), grifos do original. 29...O atomismo newtoniano
trata as partículas como hiperseparadas no espaço e no tempo,
colocando em segundo plano sua interconexão (Plumwood 1993a,
125); de fato, "a única ?força? permitida dentro das linhas da
mecânica é a da energia cinética - a energia de movimento por
contato -, sendo todas as outras forças, incluindo ação à distância,
vistas como ocultas" (Mathews 1991, 17). Para análises críticas do
ponto de vista mecanicista newtoniano, ver Weil (1968,
especialmente cap. 1), Merchant (1980), Berman (1981), Keller
(1985, caps. 2 and 3), Mathews (1991, cap. 1) e Plumwood (1993a,
cap. 5).
30...De acordo com a narrativa tradicional dos livros didáticos, a
relatividade especial envolve transformações de coordenadas
relacionadas a dois sistemas de referência em movimento relativo
uniforme. Mas esta é uma supersimplificação errônea, como Latour
(1988) mostrou:
Como se pode decidir se uma observação feita em um trem sobre o
comportamento de uma pedra que cai pode coincidir com a
observação feita da mesma pedra que cai a partir da plataforma? Se
há somente um, ou mesmo dois, sistemas de referência, nenhuma
solução pode ser encontrada, uma vez que o homem no trem afirma
observar uma linha reta, e o homem na plataforma, uma parábola. ...
A solução de Einstein é considerar três atores: um no trem, um na
plataforma e um terceiro, o autor [enunciador] ou um de seus
representantes, que tenta superpor as observações codificadas
enviadas pelos outros dois. ...
Sem a posição do enunciador (escondido no cálculo de Einstein), e
sem a noção dos centros de cálculo, o próprio argumento técnico de
Einstein é incompreensível ... [pp. 10-11 e 35, grifos do original]
No fim, como Latour espirituosa e acuradamente observa, a
relatividade especial se resume à proposição de que
mais sistemas de referência com menos privilégios podem ser
acessados, reduzidos, acumulados e combinados, observadores
podem ser delegados a mais alguns lugares no infinitamente grande
(o cosmos) e o infinitamente pequeno (elétrons), e as anotações que
eles enviam serão compreensíveis. Seu [de Einstein] livro poderia
muito bem se chamar: ?Novas Instruções para Trazer de Volta
Viajantes Científicos de Longa Distância?. [pp. 22-23]
A análise crítica de Latour da lógica de Einstein provê uma
introdução eminentemente acessível à teoria da relatividade especial
para não-cientistas.
31...Minkowski (1908), traduzido em Lorentz et al. (1952, 75).
32...Não é preciso dizer que a relatividade especial propõe novos
conceitos não somente do espaço e do tempo, mas também da
mecânica. Na relatividade especial, como observou Virilio (1991,
136), "o espaço dromosférico, espaço-velocidade, é fisicamente
descrito pelo que é chamado ?equação logística?, o resultado do
produto da massa deslocada pela velocidade de seu deslocamento,
MxV." Esta alteração radical da fórmula newtoniana tem
conseqüências profundas, particularmente na teoria quântica; ver
Lorentz et al. (1952) e Weinberg (1992) para mais discussões.
33...Steven Best (1991, 225) atingiu o ponto crucial da dificuldade,
qual seja, que "diferentemente das equações lineares usadas na
mecânica newtoniana, e mesmo na mecânica quântica, as equações
não-lineares [não] têm a propriedade aditiva simples pela qual
cadeias de soluções podem ser construídas de partes simples e
independentes". Por esta razão, as estratégias da atomização, do
reducionismo e da retirada do contexto que formam a base da
metodologia científica newtoniana simplesmente não funciona na
teoria geral da relatividade.
34...Gödel (1949). Para um resumo do trabalho atual nesta área, ver
't Hooft (1993).
35...Estas novas noções de espaço, tempo e causalidade são em parte
vislumbradas já na relatividade especial. foreshadowed already in
special relativity. Desta forma, Alexander Argyros (1991, 137) notou
que
em universo dominado por fótons, grávitons e neutrinos, ou seja, no
universo primordial, a teoria da relatividade especial sugere que
qualquer distinção entre antes e depois é impossível. Para uma
partícula viajando na velocidade da luz, ou atravessando uma
distância da ordem do comprimento de Planck, todos eventos são
simultâneos.
Entretanto, não posso concordar com a conclusão de Argyros de que
a desconstrução de Derrida seja, portanto, inaplicável à
hermenêutica da cosmologia do universo primordial: o argumento de
Argyros para este efeito se baseia em um uso impermissivelmente
totalizante da relatividade especial (em termos técnicos,
"coordenadas do cone de luz") em um contexto onde a relatividade
geral é inescapável. (Para um erro similar mas menos inocente, ver
Nota 40 abaixo.)
36...Jean-François Lyotard (1989, 5-6) apontou que não somente a
relatividade geral, mas também a moderna física de partículas
elementares, impõe novas noções de tempo:
Na física e na astrofísica contemporâneas ...uma partícula tem um
tipo de memória elementar e consequentemente um filtro temporal.
Eis por que físicos contemporâneos tendem a pensar que o tempo
emana da própria matéria, e que ele não é uma entidade dentro ou
fora do universo cuja função seria acumular todos os diferentes
tempos na história universal. é somente em certas regiões que tais
sínteses - somente parciais - poderiam ser detectadas. Haveria nesta
visão áreas de determinismo onde a complexidade é crescente.
Além disso, Michel Serres (1992, 89-91) notou que a teoria do caos
(Gleick 1987) e a teoria da percolação (Stauffer 1985) contestaram o
tradicional conceito linear do tempo:
O tempo nem sempre flui ao longo de uma linha ...ou um plano, mas
ao longo de uma variedade extraordinariamente complexa, como se
mostrasse pontos de parada, rupturas, poços [puits], chaminés de
aceleração poderosíssima [cheminées d'accélération foudroyante],
fendas, lacunas, todos semeados de forma randômica ...
O tempo flui de maneira turbulenta e caótica; ele percola. [Tradução
minha. Note que na teoria dos sistemas dinâmicos, "puits" é um
termo técnico significando "poço", i.e. o oposto de "fonte".]
Estes múltiplos pontos de vista sobre a natureza do tempo,
mostrados por diferentes ramos da física, são mais uma ilustração do
princípio da complementaridade.
37...A relatividade geral pode, possivelmente, ser vista como
corroborando a desconstrução nietzscheana da causalidade (ver e.g.
Culler 1982, 86-88), embora alguns relativistas achem esta
iterpretação problemática. Na mecânica quântica, do contrário, este
fenômeno é firmemente estabelecido (ver Nota 25 acima).
38...A relatividade geral é também, lógico, o ponto de partida para a
astrofísica contemporânea e para a cosmologia física. Ver Mathews
(1991, 59-90, 109-116, 142-163) para uma análise detalhada das
conexões entre a relatividade geral (e suas generalizações chamadas
"geometrodinâmica") e uma visão ecológica. Para especulações de
um astrofísico em linhas similares, ver Primack e Abrams (1995).
39...Discussão após a conferência de Derrida (1970, 265-266).
40...Derrida (1970, 267).
Os críticos da direita Gross e Levitt (1994, 79) ridicularizaram esta
colocação, intencionalmente o interpretando erroneamente como
uma asserção sobre a relatividade especial, na qual a constante c (a
velocidade da luz no vácuo) de Einstein é, evidentemente, uma
constante. Nenhum leitor versado em física moderna - exceto algum
fortemente contaminado ideologicamente - poderia deixar de
entender a referência inequívoca de Derrida à relatividade geral.
41...Luce Irigaray (1987, 77-78) mostrou que as contradições entre a
teoria quântica e a teoria de campo são na verdade a culminação de
um processo histórico que começou com a mecânica newtoniana:
A quebra newtoniana conduziu o projeto científico em um mundo
onde a percepção sensorial é irrisória, um mundo que pode levar à
aniquilação dos próprios alicerces da física: a matéria (sejam quais
forem os predicados) do universo e dos corpos que o constituem.
Nesta mesma ciência, além disso [d'ailleurs], existem rachaduras: a
teoria quântica/teoria de campos, mecânica dos sólidos/dinâmica dos
fluidos, por exemplo. Mas a imperceptibilidade da matéria sob
estudo freqüentemente traz consigo o privilégio paradoxal da solidez
nas descobertas e um atraso, ou mesmo um abandono, da análise da
infinidade [l'in-fini] dos campos de força.
Corrigi aqui a tradução de "d'ailleurs", que significa "além disso" ou
"além do mais" (e não "entretanto").
42...Wheeler (1964).
43...Isham (1991, sec. 3.1.4).
44...Green, Schwarz e Witten (1987).
45...Ashtekar, Rovelli e Smolin (1992), Smolin (1992).
46...Sheldrake (1981,1991), Briggs e Peat (1984, cap. 4), Granero-
Porati e Porati (1984), Kazarinoff (1985), Schiffmann (1989), Psarev
(1990), Brooks e Castor (1990), Heinonen, Kilpeläinen e Martio
(1992), Rensing (1993). Para um tratamento aprofundado das bases
matemáticas desta teoria, ver Thom (1975,1990); e para uma análise
breve mas perspicaz dos fundamentos filosóficos desta abordagem e
de outras relacionadas, ver Ross (1991, 40-42, 253n).
47...Waddington (1965), Corner (1966), Gierer et al. (1978).
48...Alguns dos autores pioneiros pensavam que o campo
morfogenético podia ser relacionado ao campo eletromagnético, mas
hoje em dia se compreende que isso é apenas uma analogia
sugestiva; ver Sheldrake (1981, 77, 90) para uma exposição clara.
Note também o ponto (b) abaixo.
49...Boulware e Deser (1975).
50...Para outro exemplo do efeito "território", ver Chomsky (1979, 6-
7).
51...Para ser justo com a ordem estabelecida da física de altas
energias, eu deveria mencionar que também existe uma razão
intelectual honesta para sua oposição a esta teoria: uma vez que
assume uma interação sub-quântica ligando padrões pelo universo
afora, ela é, na terminologia dos físicos, uma "teoria de campo não-
local". Agora, a história da física clássica teórica desde o inícios dos
anos 1800, desde a eletrodinâmica de Maxwell até a relatividade
geral de Einstein, pode ser lida em um sentido muito profundo como
uma tendência de teorias de ação à distância e em direção a teorias
de campo local: em termos técnicos, teorias expressáveis por
equações diferenciais parciais (Einstein e Infeld 1961, Hayles 1984).
Então, uma teoria de campo não-local definitivamente rema contra a
maré. Por outro lado, como Bell (1987) e outros argumentaram
convincentemente, a propriedade chave da mecânica quântica é
precisamente sua não-localização, como expresso no teorema de Bell
e em suas generalizações (ver Notas 23 e 24 abaixo). Portanto, uma
teoria quântica não-local, apesar de conflitante com a intuição
clássica dos físicos, é não somente natural mas de fato preferível (e
possivelmente mesmo indispensável) no contexto quântico. Eis o
motivo pelo qual a relatividade geral clássica é uma teoria de campo
local, enquanto a gravidade quântica (seja corda, onda ou campo
morfogenético) é inerentemente não-local.
52...A topologia diferencial é o ramo da matemática que estuda as
propriedades de superfícies (e outras variedades de mais dimensões)
que não são afetadas por deformações suaves. As propriedades que
este ramo estuda são portanto principalmente qualitativas e não
quantitativas, e seus métodos são holísticos e não cartesianos.
53...Alvarez-Gaumé (1985). O leitor alerta irá notar que anomalias na
"ciência normal" são o presságio usual de uma futura mudança de
paradigma (Kuhn 1970).
54...Kosterlitz e Thouless (1973). O florescimento da teoria das
transições de fase nos anos 70 reflete provavelmente uma maior
ênfase na descontinuidade e na ruptura na cultura mais ampla: ver
Nota 81 abaixo.
55...Green, Schwarz e Witten (1987).
56...Um livro típico é Nash e Sen (1983).
57...Lacan (1970, 192-193), conferência em 1966. Para uma análise
profunda do uso de Lacan de idéias da topologia matemática, ver
Juranville (1984, cap. VII), Granon-Lafont (1985,1990), Vappereau
(1985) e Nasio (1987,1992); um breve resumo é dado por Leupin
(1991). Ver Hayles (1990, 80) para uma conexão intrigante entre a
topologia Lacaniana e a teoria do caos; infelizmente, ela não
prosseguiu este trabalho. Ver também Zizek (1991, 38-39, 45-47)
para mais homologias entre a teoria de Lacan e a física
contemporânea. Lacan também fez uso extensivo de conceitos da
teoria conjuntista dos números; ver e.g. Miller (1977/78) e Ragland-
Sullivan (1990).
58...Na psicologia social burguesa, as idéias topológicas foram
empregadas por Kurt Lewin já nos anos 1930, mas este trabalho
naufragou por duas razões: primeiro, devido a suas pré-concepções
ideológicas individualistas; e segundo, porque se baseava na
ultrapassada topologia geral em lugar da moderna topologia
diferencial e na teoria das catástrofes. Em relação ao segundo ponto,
ver Back (1992).
59...Althusser (1993, 50): "Il suffit, à cette fin, reconnaître que Lacan
confère enfin à la pensée de Freud, les concepts scientifiques qu'elle
exige". Este ensaio famoso sobre "Freud e Lacan" foi publicado pela
primeira vez em 1964, antes de o trabalho de Lacan ter alcançado
seu mais alto grau de rigor matemático. Ele foi reimpresso numa
tradução para o inglês em 1969 (New Left Review).
60...Miller (1977/78, especialmente pp. 24-25). Este artigo se tornou
bastante influente na teoria do cinema: ver e.g. Jameson (1982, 27-
28) e as referências ali citadas. Como Strathausen (1994, 69) indica,
o artigo de Miller é pesado para o leitor não versado na teoria
matemática dos conjuntos. Mas vale a pena o esforço. Para uma boa
introdução à teoria dos conjuntos, ver Bourbaki (1970).
61...Dean (1993, especialmente pp. 107-108).
62...A teoria da homologia é um dos dois ramos principais do campo
matemático chamado topologia algébrica. Para uma excelente
introdução à teoria da homologia, ver Munkres (1984); ou para uma
abordagem mais popular, ver Eilenberg e Steenrod (1952). Uma
teoria de homologia totalmente relativística é discutida e.g. em
Eilenberg e Moore (1965). Para uma abordagem dialética à teoria da
homologia e sua dual, a teoria da co-homologia, ver Massey (1978).
Para uma abordagem cibernética da homologia, ver Saludes i Closa
(1984).
63...Para a relação de homologia com cortes, ver Hirsch (1976, 205-
208); e para uma aplicação para movimentos coletivos na teoria
quântica de campos, ver Caracciolo et al. (1993, especialmente ap.
A.1).
64...Jones (1985).
65...Witten (1989).
66...James (1971, 271-272). é interessante notar, entretanto, que o
espaço é homeomórfico ao grupo SO(3) de simetrias rotacionais
do espaço euclidiano tridimensional convencional. Assim, alguns
aspectos da euclidicidade tridimensional são preservados (embora
em forma modificada) na física pós-moderna, assim como alguns
aspectos da mecânica newtoniana foram preservados em forma
modificada na física einsteiniana.
67...Kosko (1993). Ver também Johnson (1977, 481-482) para uma
análise dos esforços de Derrida e Lacan em direção à transcendência
da lógica espacial euclidiana.
68...Em linhas similares, Eve Seguin (1994, 61) notou que "a lógica
nada diz sobre o mundo e atribui ao mundo propriedades que não
são mais do que construções de pensamento teórico. Isso explica por
que a física desde Einstein reside em lógicas alternativas, tais como
a lógica trivalente que rejeita o princípio do meio excluído." Um
trabalho pioneiro (e injustamente esquecido) nesta direção,
igualmente inspirado pela mecânica quântica, é Lupasco (1951). Ver
também Plumwood (1993b, 453-459) para uma perspectiva
especificamente feminista sobre a lógica não-clássica. Para uma
análise crítica de uma lógica não-clássica ("lógica da fronteira") e sua
relação à ideologia do ciberespaço, ver Markley (1994).
69...Irigaray (1987, 76-77), ensaio publicado originalmente em
francês em 1982. A frase de Irigaray "théorie des ensembles" pode
também ser traduzida como "teoria dos conjuntos", e "bords" é
usualmente traduzido no contexto matemático como "fronteiras". Sua
frase "ensembles flous" pode se referir ao novo campo matemático
dos "conjuntos difusos" (Kaufmann 1973, Kosko 1993).
70...Ver e.g. Hamza (1990), McAvity e Osborn (1991), Alexander,
Berg e Bishop (1993) e referências ali citadas.
71...Green, Schwarz e Witten (1987).
72...Hamber (1992), Nabutosky e Ben-Av (1993), Kontsevich (1994).
73...Na história da matemática há uma dialética prolongada entre o
desenvolvimento de seus ramos "puro" e "aplicado" (Struik 1987). é
claro, as "aplicações" tradicionalmente privilegiadas neste contexto
têm sido aquelas aproveitáveis pelos capitalistas ou úteis para suas
forças militares: por exemplo, a teoria dos números foi largamente
desenvolvida para suas aplicações na criptografia (Loxton 1990). Ver
também Hardy (1967, 120-121, 131-132).
74...A igual representação de todas as condições de fronteira é
também sugerido pela teoria do bootstrap de Chew da "democracia
subatômica": ver Chew (1977) para uma introdução, e ver Morris
(1988) e Markley (1992) para análises filosóficas. 75...Entre o grande
corpo de trabalhos de uma diversidade de perspectivas políticas
progressistas, os livros de Merchant (1980), Keller (1985), Harding
(1986), Aronowitz (1988b), Haraway (1991) e Ross (1991) foram
especialmente influentes. Ver também as referências citadas abaixo.
76...Madsen e Madsen (1990, 471). A principal limitação da análise
de Madsen-Madsen é ser essencialmente apolítica; e dificilmente é
necessário apontar que disputas sobre o que é verdadeiro pode ter
um efeito profundo em, e são por sua vez afetadas por, disputas
sobre projetos políticos. Desta forma, Markley (1992, 270) faz um
apontamento similar ao de Madsen-Madsen, mas corretamente o
situa em seu contexto político:
Críticas radicais da ciência que pretendem escapar dos limites da
dialética determinística devem também ultrapassar debates
estreitamente concebidos sobre o realismo e a verdade para
investigar que tipos de realidades - realidades políticas - devem ser
engendradas por um bootstrap dialógico. Em ambientes
dialogicamente agitados, debates sobre a realidade se tornam, em
termos práticos, irrelevantes. "Realidade", finalmente, é uma
construção histórica.
Ver Markley (1992, 266-272) e Hobsbawm (1993, 63-64) para mais
discussões das implicações políticas.
77...Madsen e Madsen (1990, 471-472).
78...Aronowitz (1988b, 292-293) faz uma crítica, levemente diferente
mas igualmente convincente, da cromodinâmica quântica (a teoria
correntemente hegemônica que representa núcleons como estados
permanentemente ligados de quarks e gluons): baseando-se no
trabalho de Pickering (1984), ele nota que
em sua [de Pickering] abordagem, quarks são o nome designado
para fenômenos (ausentes) que se harmoniza com teorias de
partículas em vez de teorias de campo, que, em cada caso, oferecem
diferentes, apresar de igualmente plausíveis, explicações par a
mesma observação (inferida). Que a maior parte da comunidade
científica escolheu um ao outro é uma função da preferência dos
cientistas para a tradição e não pela validade da explicação.
Entretanto, Pickering não volta o suficiente na história da física para
encontrar a base da tradição de pesquisa da qual emana a explicação
pelos quarks. Ela não pode ser encontrada dentro da tradição mas na
ideologia da ciência, nas diferenças entre teorias de campo versus
teoria de partículas, explicações simples versus complexas, a
inclinação à certeza em vez da indeterminação
Em linhas bastante similares, Markley (1992, 269) observa que a
preferência dos físicos para a cromodinâmica quântica à teoria do
bootstrap de Chew da "democracia subatômica" (Chew 1977) é um
resultado da ideologia e não dos dados:
Não surpreende, a esse respeito, que a teoria do bootstrap caiu em
relativa desaprovação entre físicos em busca de uma TGU [Teoria
Grã Unificada] ou TDT (Teoria de Tudo) para explicar a estrutura do
universo. Teorias compreensíveis que explicam "tudo" são produtos
da coerência privilegiada e da ordem na ciência ocidental. A escolha
entre a teoria do bootstrap e as teorias de tudo que confrontam os
físicos não tem a ver em princípio com o valor verdadeiro oferecido
por essas explicações dos dados disponíveis mas com estruturas
narrativas - indeterminadas ou determinísticas - nas quais estes
dados são colocados e por quais são interpretados.
Infelizmente, a vasta maioria dos físicos ainda não se deram conta
destas críticas incisivas de um de seus dogmas mais fervorosamente
resguardados. Para outra crítica da ideologia escondida da física de
partículas contemporânea, ver Kroker et al. (1989, 158-162, 204-
207). O estilo desta crítica é de fato baudrillardiano demais para meu
gosto sóbrio, mas o conteúdo (exceto por algumas inexatidões
menores) atinge seu objetivo.
79...Ross (1991, 29). Para um divertido exemplo de como esta
exigência modesta tem levado cientistas da direita a crises de
apoplexia ("assustadoramente Stalinista" é o epíteto escolhido), ver
Gross e Levitt (1994, 91).
80...Oliver (1989, 146).
81...Enquanto a teoria do caos tem sido profundamente estudada por
analistas culturais - ver e.g. Hayles (1990,1991), Argyros (1991),
Best (1991), Young (1991,1992), Assad (1993) entre muitos outros - a
teoria das transições de fase tem passado bastante esquecida. (Uma
exceção é a discussão do grupo de renormalização em Hayles (1990,
154-158).) é uma pena, pois a descontinuidade e a emergência de
múltiplas escalas são características centrais nesta teoria; e seria
interessante saber como o desenvolvimento destes temas nos anos
1970 e após está conectado a tendências na cultura mais ampla.
Sugiro portanto esta teoria como um campo frutífero para pesquisa
futura por analistas culturais. Alguns teoremas sobre a
descontinuidade que podem ser relevantes para esta análise podem
ser encontrados em Van Enter, Fernández e Sokal (1993).
82...Irigaray (1985), Hayles (1992). Ver, entretanto, Schor (1989)
para uma crítica da deferência excessiva de Irigaray para com a
ciência convencional (masculina), particularmente a física.
83...Thom (1975,1990), Arnol'd (1992).
84...Em relação à metafísica cartesiana/baconiana, Robert Markley
(1991, 6) observou que
Narrativas do progresso científico dependem da imposição de
oposições binárias - verdadeiro/falso, certo/errado - em
conhecimento teórico e experimental, privilegiando o significado em
relação ao ruído, metonímia à metáfora, autoridade monológica à
contenção dialógica. ... Tais tentativas de prender a natureza são
ideologicamente coercitivas, bem como descritivamente limitadas.
Elas focalizam atenção somente na pequena faixa de fenômenos -
digamos, dinâmica linear - que parecem oferecer formas fáceis e
freqüentemente idealizadas de modelar e interpretar as relações da
humanidade com o universo.
Enquanto esta observação é informada principalmente pela teoria do
caos - e em segundo lugar pela mecânica quântica não-relativística -
de fato resume de uma bela forma o desafio radical a metafísicos
modernistas colocado pela gravidade quântica.
85...Capra (1988, 145). Uma advertência: tenho fortes reservas sobre
o uso de Capra aqui da palavra "cíclico", que se interpretada
literalmente demais poderia promover uma passividade
politicamente regressiva. Para mais análises destes temas, ver Bohm
(1980), Merchant (1980,1992), Berman (1981), Prigogine e Stengers
(1984), Bowen (1985), Griffin (1988), Kitchener (1988), Callicott
(1989, caps. 6 e 9), Shiva (1990), Best (1991), Haraway (1991,1994),
Mathews (1991), Morin (1992), Santos (1992) e Wright (1992).
86...Markley (1992, 264). Uma pequena crítica: Não está claro para
mim que a teoria dos números complexos, que é ainda um ramo novo
e bastante especulativo da física matemática, deva ser tratada com o
mesmo prestígio epistemológico que as três ciências firmemente
estabelecidas citadas por Markley.
87...Ver Wallerstein (1993, 17-20) para uma incisiva e bastante
análoga abordagem de como a física pós-moderna está começando a
adotar idéias das ciências sociais históricas; e ver Santos
(1989,1992) para um desenvolvimento mais detalhado.
88...Aronowitz (1988b, 344).
89...Neste ponto, a resposta tradicional dos cientistas é que um
trabalho que não esteja em conformidade com os padrões de
evidência da ciência convencional é fundamentalmente irracional,
i.e. logicamente falho e portanto indigno de confiança. Mas esta
refutação é insuficiente: pois, como Porush (1993) lucidamente
observou, a matemática moderna e a física admitiram elas próprias
uma poderosa "intrusão do irracional" na mecânica quântica e o
teorema de Gödel - apesar de, compreensivelmente, como os
pitagóricos 24 séculos atrás, cientistas modernistas têm tentado
exorcizar este elemento irracional indesejável o máximo que podem.
Porush faz um poderoso apelo por uma "epistemologia pós-racional"
que iria reter o melhor da ciência ocidental convencional e, ao
mesmo tempo, validar formas alternativas de conhecimento.
Note também que Jacques Lacan, de outro ponto de partida, chegou
há muito tempo a uma apreciação similar do papel inevitável da
irracionalidade na matemática moderna:
Se você me permite usar uma daquelas formulas que me chegam
enquanto escrevo minhas notas, a vida humana poderia ser definida
como um cálculo no qual o zero fosse irracional. Esta fórmula é
somente uma imagem, uma metáfora matemática. Quando digo
"irracional", estou me referindo não a algum estado emocional
incompreensível mas precisamente ao que é chamado um número
imaginário. A raiz quadrade de menos um não corresponde a nada
que esteja sujeito à nossa intuição, nada real - no sentido matemático
do termo - e ainda assim deve ser conservado, com sua função
completa.
[Lacan (1977, 28-29), seminário originalmente dado em 1959.] Para
mais reflexões a respeito da irracionalidade na matemática moderna,
ver Solomon (1988, 76) e Bloor (1991, 122-125).
90...Ver e.g. Aronowitz (1994) e a discussão subseqüente.
91...Markley (1992, 271).
92...Markley (1992, 271). Por uma linha paralela, Donna Haraway
(1991, 191-192) argumentou eloqüentemente por uma ciência
democrática compreendendo "conhecimentos parciais, localizáveis e
críticos que sustentem a possibilidade de redes de conexões
chamadas solidariedade na política e conversações partilhadas na
epistemologia" e fundamentada em "uma doutrina e prática da
objetividade que privilegia a contestação, a desconstrução, a
construção apaixonada, as conexões em rede, e o desejo pela
transformação de sistemas de conhecimento e pontos de vista." Estas
idéias são mais desenvolvidas em Haraway (1994) e Doyle (1994).
93...Aronowitz (1988b, 351). Apesar de surgida em 1988, esta
observação é totalmente verdadeira hoje em dia.
94...Freire (1970), Aronowitz e Giroux (1991,1993).
95...Para um exemplo no contexto da revolução Sandinista, ver Sokal
(1987).
96...Merchant (1980), Easlea (1981), Keller (1985,1992), Harding
(1986,1991), Haraway (1989,1991), Plumwood (1993a). Ver Wylie et
al. (1990) para uma extensa bibliografia. A crítica feminista da
ciência tem sido, não surpreendentemente, o objeto de um contra-
ataque ácido da direita. Para algumas amostras, ver Levin (1988),
Haack (1992,1993), Sommers (1994), Gross e Levitt (1994, cap. 5) e
Patai e Koertge (1994).
97...Trebilcot (1988), Hamill (1994).
98...Ezeabasili (1977), Van Sertima (1983), Frye (1987), Sardar
(1988), Adams (1990), Nandy (1990), Alvares (1992), Harding
(1994). Assim como a crítica feminista, a prespectiva
multiculturalista tem sido ridicularizada por críticos da direita, com
tal menosprezo que beirou em alguns casos ao racismo. Ver e.g.
Ortiz de Montellano (1991), Martel (1991/92), Hughes (1993, cap. 2)
e Gross e Levitt (1994, 203-214).
99...Merchant (1980,1992), Berman (1981), Callicott (1989, caps. 6 e
9), Mathews (1991), Wright (1992), Plumwood (1993a), Ross (1994).
100...Ver Wojciehowski (1991) para uma descontrução da retórica de
Galileu, em particular sua alegação de que o método matemático-
científico pode levar a um conhecimento direto e confiável da
"realidade". 101...Uma contribuição bastante recente mas
importante à filosofia da matemática pode ser encontrada no
trabalho de Deleuze e Guattari (1994, cap. 5). Aqui eles introduzem a
filosoficamente frutífera noção de um "functivo" [fr. fonctif], que não
é nem uma função [Fr. fonction] nem um funcional [Fr. fonctionnelle]
mas sim uma entidade conceitual mais básica:
O objeto da ciência não são os conceitos mas sim funções que são
apresentadas como proposições em sistemas discursivos. Os
elementos das funções são chamados functives. [p. 117]
Esta idéia aparentemente simples tem conseqüências
surpreendentemente sutis e de longo alcance; sua elucidação requer
um desvio até a teoria do caos (ver também Rosenberg 1993 e
Canning 1994):
...a primeira diferença entre a ciência e a filosofia são suas
respectivas atitudes perante o caos. O caos é definido não tanto pela
sua desordem mas pela infinita velocidade coma qual cada forma
sendo delineada nele se desfaz. é um vazio que não é um nada mas
um virtual, contendo todas as partículas possíveis e desenhando
todas as possíveis formas, que aparecem somente para desaparecer
imediatamente, sem consistência ou referência, sem conseqüência. O
caos é uma velocidade infinita de nascimento e desaparecimento.
[pp. 117-118]
Mas a ciência, diferentemente da filosofia, não pode lidar com
velocidades infinitas:
...é pela frenagem que a matéria, bem como o pensamento científico
capaz de penetrá-la [sic] com proposições, é atualizada. Uma função
é um movimento-lento. Claro, a ciência constantemente avança as
acelerações, não somente na catálise mas em aceleradores de
partículas e expansões que movem galáxias. Entretanto, a frenagem
primordial não é para estes fenômenos um instante-zero com o qual
eles nascem mas sim uma condição co-extensiva com todo seu
desenvolvimento. Frear é impor um limite no caos ao qual todas as
velocidades estão sujeitas, de forma que formam uma variável
determinada como abscissa, ao mesmo tempo em que o limite forma
uma constante universal que não pode ser ultrapassada (por
exemplo, um grau máximo de contração). Os primeiros functivos são
portanto o limite e a variável, e a referência ;e uma relação entre
valores da variável ou, mais profundamente, a relação da variável,
como abscissa das velocidades, com o limite. [pp. 118-119, ênfase
minha]
Uma análise subseqüente bastante intrincada (longa demais para
colocar aqui) leva à conclusão de profunda importância metodológica
para aquelas ciências baseadas no modelamento matemático:
A independência respectiva das variáveis aparece na matemática
quando uma delas está em potência superior em relação a outra. é
por isso que Hegel mostra que a variabilidade na função não é
confinada a valores que possam ser mudados ( e ) ou são deixados
indeterminados (a=2b) mas requer que uma das variáveis esteja em
uma potência superior ( ). [p. 122]
(Note que a tradução inglesa inadvertidamente escreve , um
erro divertido que mutila completamente a lógica do argumento.)
Surpreendentemente para um trabalho filosófico técnico, este livro
(Qu'est-ce que la philosophie?) foi um dos mais vendidos na França
em 1991. Reapareceu recentemente em tradução para o inglês, mas
é difícil que possa competir com êxito com Rush Limbaugh e Howard
Stern pelas listas de mais vendidos neste país.
102...Aronowitz (1988b, 346). Para um ataque vicioso da direita
sobre esta proposição, ver Gross e Levitt (1994, 52-54). Ver Ginzberg
(1989), Cope-Kasten (1989), Nye (1990) e Plumwood (1993b) para
críticas feministas lúcidas da lógica matemática convencional
(masculinista), em particular o modus ponens e o silogismo. A
respeito do modus ponens, ver também Woolgar (1988, 45-46) e
Bloor (1991, 182); e a respeito do silogismo, ver Woolgar (1988, 47-
48) e Bloor (1991, 131-135). Para uma análise das imagens sociais no
âmago das concepções matemáticas da infinidade, ver Harding
(1986, 50). Para uma demonstração da contextualidade das
proposições matemáticas, ver Woolgar (1988, 43) e Bloor (1991, 107-
130).
103...Campbell e Campbell-Wright (1993, 11). Ver Merchant (1980)
para uma análise detalhada dos temas de controle e dominação na
matemática e na ciência ocidentais. 104...Let me mention in passing
two other examples of sexism and militarism in mathematics that to
my knowledge have not been noticed previously: The first concerns
the theory of branching processes, which arose in Victorian England
from the "problem of the extinction of families", and which now plays
a key role inter alia in the analysis of nuclear chain reactions (Harris
1963). In the seminal (and this sexist word is apt) paper on the
subject, Francis Galton and the Reverend H.W. Watson wrote (1874):
The decay of the families of men who occupied conspicuous positions
in past times has been a subject of frequent research, and has given
rise to various conjectures ...The instances are very numerous in
which surnames that were once common have since become scarce
or have wholly disappeared. The tendency is universal, and, in
explanation of it, the conclusion has hastily been drawn that a rise in
physical comfort and intellectual capacity is necessarily accompanied
by a diminution in `fertility' ... Let be the respective
probabilities that a man has 0,1,2,... sons of his own, and so on. What
is the probability that the male line is extinct after r generations, and
more generally what is the probability for any given number of
descendants in the male line in any given generation?
One cannot fail to be charmed by the quaint implication that human
males reproduce asexually; nevertheless, the classism, social-
Darwinism and sexism in this passage are obvious. The second
example is Laurent Schwartz's 1973 book on Radon Measures. While
technically quite interesting, this work is imbued, as its title makes
plain, with the pro-nuclear-energy worldview that has been
characteristic of French science since the early 1960's. Sadly, the
French left — especially but by no means solely the PCF — has
traditionally been as enthusiastic for nuclear energy as the right (see
Touraine et al. 1980).
105...mathemática.
Just as liberal feminists are frequently content with a minimal
agenda of legal and social equality for women and "pro-choice", so
liberal (and even some socialist) mathematicians are often content to
work within the hegemonic Zermelo-Fraenkel framework (which,
reflecting its nineteenth-century liberal origins, already incorporates
the axiom of equality) supplemented only by the axiom of choice. But
this framework is grossly insufficient for a liberatory mathematics, as
was proven long ago by Cohen (1966). 106...Kosko (1993).
107...A teoria dos sistemas difusos foi bastante desenvolvida por
corporações transnacionais - primeiro no Japão e depois por toda a
parte - para resolver problemas práticos de eficiência na automação
que desloca postos de trabalho.
108...Thom (1975,1990), Arnol'd (1992).
109...Uma análise interessante é feita por Schubert (1989).