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EDIÇÃO Nº78 EDIÇÃO Nº78 Tática Tática © Artigo publicado em www.futbol-tactico.com 62 63 TRANSIÇÃO DEFESA-ATAQUE Autor: Enric Soriano Fotos: Shutterstock.com “Os momentos mais importantes do jogo são o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha” José Mourinho Este esporte, pela redação de inumeráveis livros recentemente, se inundou do paradigma da complexidade ou sistêmico. Este pensamento fez que a concepção do jogo tivesse mudado muito nos últimos anos, até considerar o jogo como “integridade inabalável”. Entende-se o jogo como um todo no que uma situação não se pode entender sem saber que aconteceu anteriormente. “O jogo é uma unidade indivisível, não tem momento defensivo sem momento ofensivo. Ambos constituem uma unidade funcional” Juanma Lillo

Transicao defesa ataque

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Edição nº78 Edição nº78Tática Tática© Artigo publicado em www.futbol-tactico.com 62 63

TRANSIÇÃO DEFESA-ATAQUE

Autor: Enric SorianoFotos: Shutterstock.com

“Os momentos mais importantes do jogo são o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha” José Mourinho

Este esporte, pela redação de inumeráveis livros recentemente, se inundou do paradigma da complexidade ou sistêmico.

Este pensamento fez que a concepção do jogo tivesse mudado muito nos últimos anos, até considerar o jogo como “integridade inabalável”.

Entende-se o jogo como um todo no que uma situação não se pode entender sem saber que aconteceu anteriormente.

“ “O jogo é uma unidade indivisível, não tem momento defensivo sem momento ofensivo. Ambos constituem uma unidade funcional” Juanma Lillo

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“O jogo não se pode reduzir, porque em cada parte do jogo, em cada fase está contendo tudo, e o análise deve partir do todo a parte e não ao revés, como estamos acostumados” Adrián Cervera

Que o jogo seja um todo não quer dizer que não possamos DESTINGUIR diferentes momentos no jogo. Diferenciar entre os momentos que temos a bola, os que não temos e os momentos em que possamos recuperá-la ou a perdê-la nos ajudará a entender o jogo de uma melhor forma. Isso si, pese a poder distinguir diversos momentos, SEPARÁ-LOS SERIA UM ERRO. Nossa fase defensiva depende do desenvolvimento de nossa fase ofensiva anterior, e vice-versa.

“Não podemos esquecer na hora de realizar nosso Modelo de Jogo que estes momentos estão inter-relacionados e que cada um depende em grande medida do que aconteceu no momento anterior” Adrián Cervera.

O futebol é um esporte que tem que respeitar um ciclo ou dinâmica de jogo, em função das vezes que o móvel muda de equipe possuidora, pelo que se passará constantemente de ter a bola a não tê-la. Adaptar-se a dinâmica de jogo resultará fundamental para conseguir um grande resultado.

Aqui serão de vital importância os momentos em que se perde a bola e se recupera a mesma. É a dinâmica do jogo a que dão lugar as denominadas transições, os passos de um momento a outro.

“A eficácia nas transições depende, em grande medida, da tomada de consciência por parte do jogador, da natureza do jogo, é dizer, da compreensão do ciclo de jogo, determinado pelas continuadas mudanças de posse da bola, é dizer, a contínua correlação ataque-defesa ataque.” Óscar Cano

A definição de “transição” com a que mais me identifico é a que fez Rubén Sellés para a revista Fútbol-Táctico na que definiu transição como “momento de articulação do jogo entre o momento ofensivo e o momento defensivo (e vice-versa),

que permite o continuo ou dinâmica do jogo, está insertado nos momentos imediatamente anteriores e imediatamente posteriores, e forma parte da compreensão global do jogo”.

Como bem assinala Sellés, permitir a dinâmica do jogo (que distingue momentos com e sem bola) não tem porque não respeitar a compreensão global do jogo (que entende o jogo como um todo indivisível).

A chave está em NÃO SEPARAR, ainda que para compreender tudo melhor será necessário DISTINGUIR as partes. Para distinguir sem separar Sellés fala de insertar-se nos momentos imediatamente anteriores e posteriores.

A importância das transições no jogo é transcendental. Como diz José Mourinho “os dois momentos mais importantes do jogo é o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha”.

Um dos porquês nos dá Casais ao dizer que “é um dos momentos onde a organização coletiva é mais difícil, e de sua resolução efetiva se derivam grande parte das situações que desequilibram o resultado final”. Porque a organização coletiva é mais difícil? Simplesmente porque se produz uma mudança na organização (de defensiva a ofensiva e vice-versa). A mudança é incerteza, e a incerteza é incontrolável. Tão importante é saber controlar como conviver no caos (um contínuo neste esporte, que por sua natureza é o que mais incerteza tem).

As transições são momentos de desorganização cujo objetivo é voltar ao estado de organização o antes possível. Aproveitar a desorganização do rival será a chave. De feito, são incontáveis os estudos que demostram que mais dos 50% dos gols se produzem nos momentos imediatamente posteriores a recuperar a bola. Por isso é tão importante dominar este tipo de situações: para receber muitos menos gols e marcar muitos mais.

TRANSIÇÃO

DEFESA-ATAQUE

“A transição defesa-ataque é a situação na que se recupera a bola e se começam a aplicar os princípios táticos ofensivos para construir e finalizar o ataque” Miguel Ángel Lotina

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Para entender melhor este momento do jogo distinguiremos 3 fases (fase defensiva e movimentos preparatórios, recuperação de bola e despregue) pondo em prática o que comentava Rubén Sellés: as transições se insertam nos momentos imediatamente anteriores (movimentos preparatórios) e posteriores (despregue).

José Guilherme Oliveira, “nós defendemos de determinada forma para atacar de determinada forma e atacamos de uma certa maneira, porque somos capazes de defender de uma forma compatível. Os aspectos defensivos sempre têm que estar relacionados com os aspectos ofensivos, senão jamais conseguiremos um jogo de qualidade!”. Sendo o jogo um todo, não nos convém que nossa fase defensiva seja de cor preta e nossa fase ofensiva seja de cor branca. Trataremos fazer que nosso jogo/tudo seja o mais homogéneo/complementário possível, e isso passa por não desintegrar as partes que o compõe e fazer que seja o mais parecidas possível.

DEFESA ORGANIZADA “O «momento ofensivo» começa antes de ter a bola [com a garantia de um equilíbrio ofensivo na defesa] e que o «momento defensivo» começa antes de tê-la perdido [com a garantia de um equilíbrio defensivo em ataque]” Víctor Fernández

“Um contra-ataque se pode planejar, se planteia desde que esta defendendo. Onde defendo, onde quero roubar, a que homens situo por diante para fazer a transição defesa-ataque...” Francisco Ruíz Beltrán

O desenvolvimento da nossa defesa organizada permitirá que depois de recuperar, possamos atacar de uma forma ou outra, progredindo por dentro ou por fora, mais rápido ou mais lento, melhor ou pior...

E é que não tem que esquecer que o objetivo da nossa defesa organizada não só é o de destruir o ataque rival, senão que também devemos começar a construir nosso ataque próprio desde nossa defesa.

“O «não ter a bola» não implica que tenhamos que esquecer-nos da organização ofensiva que preconizamos. Para nós, a «organização defensiva» pode (e deve) ser concebida em função da forma como se quer, em seguida, atacar. Não só tendo o cuidado de definir a (s) zona (s) onde se tentará recuperar a bola, como também ponderando a própria configuração estrutural defensiva da equipe”. Nuno Amieiro

Para construir nosso ataque desde nossa defesa tem que tentar que nossa organização defensiva seja similar, ou melhor, dito, complementária a nossa organização ofensiva. Como comenta

“É possível delinear a «organização defensiva» em términos especiais pensando também em como se vai atacar. Isso é o posicionamento defensivo (a ocupação espacial) pode depender de suas características ofensivas.” Juanma Lillo

“Devemos organizar-nos defensivamente para atacar (melhor), isso é, com o objetivo de posteriormente atacar de uma forma concreta. A intenção deve ser roubar a bola, e roubá-la para algo, para atacar.” Manolo Preciado

“Se, se defende para atacar, a organização defensiva de uma equipe deve emanar (partir) da sua organização ofensiva. Se tenta, com

isso, potenciar a forma como se pretende atacar” Nuno Amieiro

Se nossos homens mais adiantados destacam por se domínio do desmarque de ruptura e nossos meio-centros o fazem por seus envios em longo, fazer um pressing algo não seria o mais recomendável, já que no momento da recuperação, esta se faria em campo rival, e não disporíamos de espaços a expor. Seria mais conveniente fazer um repregue intensivo, “animando” aos adversários mais atrasados a adiantar sua posição e inclusive incorporar-se ao ataque, deixando espaços a suas costas que poderíamos aproveitar enormemente. São múltiplos os gols que se fazem por contra-

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ataques diretos: tão simples como correr para o espaço e enviar ali a bola. Simples se dispõe dos jogadores capazes de fazê-lo perfeitamente.

“As equipes são aquelas que durante todas as fases do jogo têm em conta estes princípios, e que através dos movimentos compensadores reequilibram a equipe prevendo constantemente as possíveis perdas de bola ou possíveis recuperações” Dani Fernández

Dentro da nossa defesa organizada deveremos indicar que compensadores realizaremos, não só perseguindo o objetivo de facilitar o labor a nossos companheiros no momento em que recuperam a bola, senão também de captar a atenção dos defensores diretos impedindo sua incorporação ao ataque.

Como indica Juanma Lillo “os compensadores são movimentos que realizam os jogadores que não intervêm diretamente na defesa para preparar o ataque, com os objetivos de não perder a ocupação racional do campo, de estar em condições de atacar imediatamente, de preparar mentalmente o momento ofensivo ocupando espaços vitais do jogo que possam utilizar-se para iniciar o ataque, e de obrigar aos oponentes diretos a que se preocupe mais de defender que de atacar” e também tem que atender a Roberto Olabe quando diz que “sempre os jogadores mais distanciados da bola terão algo que fazer..., quando um jogador rouba a bola, os companheiros estarão em disposição para recebê-lo nas melhores condições e no melhor lugar possível”.

“Pode ser interessante que certos jogadores não passem por fase de

defender organizada, já que condicionam mais o ataque rival situando-se para atacar (transição ofensiva) que participando ativamente na defesa”. Alberto González

Por tanto os compensadores são os jogadores que ficam por diante da linha de bola, preferentemente perto do meio-campo (pode ter jogadores por diante da linha da bola que não estão compensando, senão defendendo ativamente), sem defender diretamente aparentemente, ainda que suas ações tenham inclusive mais resultado que as de alguns de seus companheiros ao impedir as incorporações de adversários.

Ainda que isso não seja o principal objetivo dos compensadores, senão o de manter o equilíbrio ofensivo durante a fase defensiva, além de ser uma referência para o primeiro passe, para satisfazer o desenvolvimento da transição defesa-ataque:

• Por uma parte podem distanciar-se dos seus opositores diretos ocupando zonas de pouca influência convertendo-se em homens livres e referências do primeiro passe depois da recuperação.

Um primeiro passe que assegura o mantimento da posse e permite a eliminação de rivais, ao ser em progressão. Esta função era muito habitual no Real Madrid de José Mourinho, no que Özil era a referência do primeiro passe e ele ativava a transição. Esta referência do primeiro passe pode ser fixa (sempre ocupar corredor lateral de lado de recuperação) ou contextual (em função de onde se movam os opositores, nos separaremos deles para serem homens livres com possibilidades de recepção).

• Por outra parte podem fixar a seus pares, levando-os para um costado, liberando o lado contrário e criando o que alguns autores chamaram zona de velocidade ou surpresa, já que

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são espaços livres muito amplos pelos que as incorporações (pertencentes a 2ª ondada) podem chegar em progressão.

Estes “stops” nos ajudarão a reorganizar-nos (podendo servir como meios atrasados) e desde essa melhor organização, poder recuperar a bola de forma total. Além de que cortando a dinâmica ou continuidade no jogo da equipe rival, podemos reajustar desequilíbrios que se deem algo muito lógico quando falamos de faltas táticas. Cortar a dinâmica do jogo quando a situação nos é favorável seria um erro. Muitos jogadores com fama de recuperadores tão só são “stopprs” do ataque rival. Não recuperam porque depois das suas ações a bola volta a estar no poder da equipe rival.

“Quando um jogador, jogando em zona, ganha a bola, se dá meia volta e sabe onde estão colocados os companheiros. Sabe que pode jogar, porque sabe que, com uma situação similar, os companheiros têm que ocupar aqueles espaços”. José Antonio Camacho

“Quando recupero a bola é mais fácil jogar, porque

já sei onde estão meus companheiros, já sei onde

estão posicionados. Ao estar tudo ordenado é muito fácil sair ao

ataque”. Tiago (jogador do Atlético de Madrid)

“A primeira intenção da equipe, no momento da

recuperação, é buscar

a maior brevidade

e nas melhores condições, sacar a bola dos

espaços foi intervindo.” Óscar Cano

O passe de segurança é fundamental. Passar a bola a um companheiro com superioridade

posicional para assegurar o mantimento da bola. Chave será ter referências de onde estão nossos companheiros para assim poder encontrá-

los, e para isso será primordial ter uma organização ofensiva perto da defensiva.

RECUPERAÇÃO DE BOLA“Devemos organizar-nos defensivamente para atacar (melhor), isso é, com o objetivo de posteriormente atacar de uma forma concreta. A intenção deve ser roubar a bola, e roubá-la para algo, para atacar.” Manolo Preciado

“Todo esforço defensivo se elabora para obter a recuperação da bola em zonas favoráveis e produzir desde elas as condições necessárias para atacar o gol contrário” Óscar Cano

A recuperação da bola se presume como uma das chaves para o desenvolvimento da transição defesa-ataque. Mas será assim sempre que falemos de uma recuperação TOTAL. Falaremos de recuperação total quando depois de recuperar a posse da bola, se manterá a mesma geralmente mediante um passe de segurança. Uma recuperação que nos permita atacar (de um modo concreto).

“Saber que em determinada posição tem um companheiro, que desde o ponto de vista geométrico tem algo construído no terreno de jogo que lhes permite adiantar a ação” José Mourinho.

“A equipe, quando defende, está organizada como quer (compartilha uma organização coletiva conhecida), significando isso que, quando parte para a transição ofensiva, o jogo «se produz» em função do que é rotineiro.” José Mourinho.

Partindo de que defendemos para poder atacar, de nada serve recuperar a bola se a perde. Quando se deem faltas, interceptações ou despejes que depois de realizar-se a equipe rival segue com a posse da bola, não falaremos de recuperação de bola (já que não se recupera), senão que falaremos de cortes na dinâmica de ataque da equipe rival.

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Sendo sempre a organização uma referência para saber onde estão nossos companheiros (tanto em ataque como em defesa). Para encontrar a esse companheiro livre falaremos de “sair da zona de pressão”. Distanciar a bola das zonas com maior densidade de rivais e desde essa liberdade assegurar a possibilidade de desenvolver uma ofensiva.

É preferível que o passe se faça para diante, para eliminar rapidamente contrários e desde esse desequilíbrio rival buscar o gol, progredindo no jogo e aproximando-nos ao gol desde a primeira conexão.

• Favorecer a progressão no jogo: o recuperador se encontra de cara ao gol rival (podendo-se perfilar como diretor do contra-ataque, progredindo em condução) tendo visão do que acontece por diante dele, podendo fazer chegar à bola a jogadores mais adiantados (valorando o timing desmarque-passe, sendo o desmarque o que marca o passe e não ao revés)

• A maior visão lhe permite detectar as zonas preferentes de progressão, aquelas menos densas de rivais ou aquelas nas que se encontram nossos jogadores mais desequilibradores.

“um primeiro aspecto que consideramos fundamental para entender corretamente o «momento defensivo» em função do ataque,

Em caso de não ser possível buscaremos zonas menos densas para buscar ali a progressão; o faremos desde um passe diagonal ou horizontal que nos permita sair da zona de pressão mudando a orientação do jogo.

Se o rival nos dissuade o lado contrário impedindo-nos levar ali a bola, daremos o passe de segurança para trás, sem levar a cabo um dos nossos objetivos (a progressão no jogo) de forma imediata a recuperação, mas assegurando a posse da bola (objetivo principal) que nos permitirá buscar essa progressão de forma mais mediata.

Muitas vezes não é necessário esse passe de segurança para assegurar a posse da bola. Muitas recuperações (totais) se conseguem mediante antecipações, Diz Dani Fernandez que “a maioria de contras não nascem de roubos, costumam nascer de antecipações”. E a maioria de transições defesa-ataque que nascem de antecipações costumam ser relativamente exitosas. E isso é porque desde a antecipação cumprimos vários de nossos objetivos:

• Recuperação: o jogador que recupera se faz com a bola. Antecipando-se consegue eliminar a vários contrários, saindo imediatamente da zona de pressão formada pelos rivais próximos a zona de recuperação, ou evitando que a mesma zona de pressão não se forme, por não ter muitos rivais próximos a essa zona.

vai unida a definição da (s) zona (s) onde se procurará recuperar a bola, definição que, nos parece, deve ser analisada tanto em função do «padrão de jogo ofensivo» desejado, como em função das próprias características dos jogadores.” Nuno Amieiro.

A zona de recuperação nos indicará em grande medida como realizar o contragolpe. Terá que valorar o contexto do roubo (grau de dificuldade para sair da zona de pressão, quantidade de jogadores por diante e por detrás da linha da bola, tendo mais ou menos opções tanto de progressão no jogo como de cobertura ofensiva que nos permita dar o passe de segurança). Mas o mais importante é de onde parte o processo de contra-ataque.

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Atendendo as consequências funcionais que têm a zona de recuperação, têm várias conclusões às que atender, para conseguir a ótima zona de roubo em função de nossas possiblidades como equipe, complementando uma altura (zona 1, 2 ou 3) o corredor (dentro ou fora) que mais lhe corresponda:

• Realizaram-se repregue médio ou intensivo, ao ter tantos metros que recorrer desde a zona de recuperação até o gol adversário, muitas vezes será necessário desenvolver o ataque por cada um dos corredores para assim poder progredir eficientemente no jogo, já que se só utilizássemos um corredor (o de zona de roubo) nos seria impossível progredir, já que o rival tampará o avance com maior preferência o corredor no que se desenvolva o jogo (o corredor ativo).

Por tanto deveremos buscar o avance por zonas menos densas (corredores passivos) no desenvolvimento do nosso contra-ataque. Atendendo a isso, buscaremos a recuperação em corredor lateral, por sua maior facilidade, e porque de todos os modos deveremos ocupar

os 3 corredores no processo de contra-ataque; sendo inútil em muitas ocasiões buscar a recuperação dentro, onde é mais difícil consegui-lo, se não podemos realizar o contra-ataque só por esse corredor.

• Realizamos uma pressão alta (em disposição de repregue avançado) será porque em transição defesa-ataque buscaremos a finalização rápida aproveitando a aproximação ao gol rival. Assim que para permitir essa vertiginosidade depois da recuperação, fará que valorize em muitos casos, pese a sua maior dificuldade, a tentativa de recuperação dentro. Depois do roubo temos o gol aí, sem ser a miúdo necessário combinar, podendo recuperar e finalizar. Em caso de recuperar fora, ao ter que voltar dentro, essa imediata finalização seria impossível.

Também tem que conhecer o contexto da recuperação enquanto ao número de jogadores que na zona ativa se encontram, e o valor qualitativo que aportam estes jogadores, tanto da mesma equipe como do rival. Falaremos de superioridades e inferioridades posicionais e numéricas, que condicionarão nas posições: uma superioridade numérica (quantitativa) facilmente, ainda que nem sempre, poderá traduzir-se em uma superioridade posicional (qualitativa). Este contexto determinará as decisões que possamos tomar.

Outro aspecto fundamental no momento de recuperação é a famosa mudança de rol, uma mudança de rol que nos facilitará o desenvolvimento da seguinte fase do contra-ataque: o despregue. Sendo o jogo um todo, uma integridade inquebrantável, deve ter uma mentalidade não reducionista do jogo; deve ter uma única mentalidade (como único é o jogo): a mentalidade de jogar. Também é certo que pese a ser uma unidade o jogo, esta não é homogênea, podemos distinguir (sem separar) distintos aspectos, como os distintos momentos de jogo. Tampouco a mentalidade de jogar é homogênea, devido a que em função de cada momento de jogo essa mentalidade se aproximará mais a uns aspectos do jogo ou a outros.

“Não se deve falar de equipes que tenham uma velocidade para mudar de mentalidade em ataque e defesa, senão equipes que tenham uma só mentalidade: JOGAR” Juanma Lillo

“No futebol, não tem tempo entre atacar e defender, ou o tempo é imperceptível para nós, posto que o passe de uma fase a outra é eminente, interatuam constantemente; não tem intervalo de tempo no que não passe nada entre uma ação e outra: quando roubo, já estou atacando nesse roubo, e quando perco, já estou defendendo na própria perda.” David Dóniga Lara.

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“A imprevisibilidade do jogo obriga as equipes a constantes mudanças de rol”. O problema na compreensão do jogo foi considerar cada fase como um compartimento fechado. Fruto dessa cerração mental surge ideias como a “mudança de chip” para passar de uma fase a outra.

Quando essa mudança de chip ou mentalidade não deve ser tal. As fases estão superpostas, quando estou em fase “Ataque Organizado” devo estar também em “Organização Defensiva” os jogadores que por sua situação não possam participar ativamente já devem estar situados de forma que a futura perda de bola não seja um problema” Adrián Cervera.

Dito isso, a mudança do rol em se não existe: o rol sempre é o mesmo, é jogar. O que sim se produzirá no momento da recuperação será não uma mudança de rol, senão uma aproximação a

outras funções. Essa aproximação não será uma mudança radical, porque como comentamos, durante o processo defensivo já estamos pensando no ataque (todo o desenvolvimento da defesa organizada influi no processo de contra-ataque).

A aproximação é progressiva começando no processo defensivo, aproximando-nos pouco a pouco a essas futuras funções, sendo no momento de recuperação quando se produz uma aproximação maior a estas novas funções. Maior, mas não total.

Por tanto não tem mudança, senão aproximação; dentro de um rol único. Antecipar-se ao que pode passar aproximar-se a isso mais rapidamente que o adversário, nos ajudará muito mais que o famoso “mudança de rol”

DESPREGUE “Despois da recuperação de bola, a primeira ideia é avançar para diante aproveitando os momentos de desequilíbrio de equipe adversária. Devemos passar da redução de espaços a amplitude ofensiva. Abrir o frente de ataque e descongestionar a zona na que se recuperou a bola buscando saída por outro lado” Miguel Ángel Lotina

“Tempo de ação pertencente ao momento de transição defesa-ataque, que se inserta dentro do momento ofensivo, permitindo a continuação da dinâmica ou continuo de jogo, em que a equipe que recuperou a bola se dispõe a realizar as ações individuais, grupais e coletivas pertinentes para poder realizar com êxito seu momento ofensivo” Rubén Sellés

O despregue, como o nome indica, é uma separação dos componentes da equipe (sem perder por isso a organização no jogo).

Manifestar amplitude e profundidade desde o momento em que se recupera a bola, fazendo que o como de ação da equipe defensora aumente, aumentando em muitas ocasiões, de forma consequente, a dificuldade do processo de organização defensiva rival.

Ampliar as distâncias de relação entre nossos jogadores, provocando em ocasiões que também cresçam as distâncias de relação entre adversários e assim criar espaços que nos facilitarão avançar, criar zonas de progressão. Dentro da fase de despregue, o objetivo primordial será o de chegar ao gol adversário.

Para consegui-lo deveremos manifestar um claro sentimento de progressão. Ser profundos. Tratar de avançar de forma rápida, ou ao menos a maior velocidade que a do repregue do rival, para aproveitar assim sua desorganização, sem permitir sua reorganização.

Também terá que entender que a progressão de bola deverá levar implícita a progressão de jogadores. Não só para poder seguir progredindo tendo opções por diante da linha de bola, senão para manter uma unidade ofensiva, seguir estando juntos.

Uma unidade ofensiva que nos facilitará a adaptação de forma eficaz ao ciclo do jogo (ante um passo a organização defensiva se tem perda, ou ataque organizado se tem reorganização defensiva rival).

Desde a proximidade dos homens atrasados podem manifestar um equilíbrio que nos facilitará as coisas.

“A velocidade de execução do contra-ataque é aquela que permite seu desenvolvimento eficaz, não reduz a términos quantitativos. Às vezes, um retrocesso, um passe de mais, ou frear-se, proporciona as condições idôneas para aproveitar os desequilíbrios desmedidos do rival, alinha favoravelmente uma boa quantidade das possibilidades de concluir com êxito”. Óscar Cano

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A propósito desta progressão de jogadores, e a velocidade da progressão da bola, se constituirão as diversas ondadas, cada qual com suas características:

• 1ª ondada: Estará constituída preferentemente pelos jogadores que ficaram compensando enquanto nosso bloqueio defendia. O objetivo será finalizar o antes possível. Para isso, o contra-ataque direto será a manifestação mais empregada. Buscaremos as costas da linha defensiva rival, ajustando o passe ao desmarque de ruptura (timing), e tentando os mais adiantados aproveitar os intervalos que se produzem entre os jogadores da última linha defensiva. Será importante a posição dos mais adiantados (normalmente 1 ou 2 jogadores); que deverão bascular (pese a estar por diante da linha da bola) em relação a circulação de bola adversária, de modo que se encontrem, no momento da recuperação, no lado forte da bola, de modo que possam sacar proveito de qualquer despeje orientado. Para evitar o fora de jogo e arrancar antes que o adversário (permitindo-lhe isso tirar metros de vantagem na carreira) seria interessante à utilização de desmarques “em arco”, seguindo trajetórias curvilíneas, Além de favorecer ao possuidor a chegada do estimulo durante o inicio do desmarque, quando a carreira ainda é bastante horizontal, facilitando assim a tomada de decisão correta (estímulo chega antes, percepção precoce)

• 2ª ondada: Neste caso falaríamos de um contra-ataque organizado, que já disporia de mais jogadores: aos jogadores mais adiantados se irão somando alguns dos jogadores que defendiam por detrás da linha da bola. Isso se deverá a impossibilidade de penetrar diretamente entre a linha

defensiva rival. A dificuldade de progressão obrigará aos mais adiantados a esperar, a temporizar para permitir a chegada de companheiros que possibilitem um desenvolvimento do processo de contra-ataque mais fluido de novo. Os jogadores que se incorporam deverão saber aproveitar aqueles

espaços criados pelas ações dos jogadores que constituíam a 1ª ondada. Os primeiros poderiam ter fixado adversário que favorecessem a penetração dos jogadores que vinha desde atrás. Dentro desta ondada também será importante perceber quando é impossível seguir progredindo, e em vez de por em risco a posse da bola, permitir a constituição da 3ª ondada: e um passo a ataque organizado, utilizando outras vias para chegar ao gol rival.

• 3ª ondada: é o passo a ataque organizado pela não consecução de um contra-ataque fluido. Em algum caso seria possível o desenvolvimento de um ataque rápido, se a equipe adversária ainda não se organizou convenientemente. Neste momento de passo a ataque organizado teria um reparto espacial mais coerente, buscando a organização ofensiva, tentando conseguir a já nomeada unidade ofensiva que nos proporcione o equilíbrio necessário, sobre tudo, para poder fazer frente a uma possível perda. O objetivo é favorecer o passo ao seguinte momento de jogo, o ataque organizado.

“Se quando recupero não estou limpo, buscar ao companheiro melhor encontrado para dirigir o contra” Dani Fernández.“Os companheiros melhor capacitados para dirigir o contra-ataque se apresentam de maneira imediata” Óscar Cano

O diretor do contra-ataque é algo a ter em conta no desenvolvimento do contra-ataque. Um diretor de contra-ataque, um lançador, um condutor, que conduza a bola por onde a situação do jogo requer.

Um condutor que perceba as zonas preferentes de progressão, que saiba quando acudir a zonas menos densas.

Um jogador que desde a condução do contra-ataque seja capaz de fixar adversários em pós de permitir aos jogadores que estão construindo as seguintes ondadas sejam capazes de perceber e aproveitar os espaços que ele criou com essa fixação.

Muitas vezes o diretor do contra-ataque será um dos jogadores que ficou compensando, aproveitando essa separação do par que lhe permitirá receber em zonas liberadas de oposição, podendo-se girar para poder começar a conduzir o contra-ataque. Neste caso o diretor do contra-ataque pertenceria a 1ª ondada.

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Têm casos nos que o primeiro receptor não tem possibilidade de girar-se pelo deslizamento de seu par. Nestes casos costuma-se deixar de cara a um jogador da 2ª ondada, fazendo que este último, ao poder estar de cara ao gol rival, seja o diretor do contra-ataque.Em ocasiões se buscará a determinados jogadores para conduzir o contra-ataque por suas próprias características (grande condução de bola, boa interpretação dos momentos de dar o último passe, saber perceber as zonas preferentes de progressão...) e outras vezes serão as circunstâncias da própria situação do jogo as que indicarão que deve ser o condutor do contra-ataque (recepção sem oposição, espaço por diante para conduzir...)

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