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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X TRÂNSITOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA ARTICULAÇÃO DOS MÚLTIPLOS PERTENCIMENTOS SOCIAIS EM PESQUISAS SOBRE VIOLÊNCIA DE GÊNERO Luciana Cristina Teixeira de Souza 1 Resumo: Nesse texto, pretendo problematizar as noções de interseccionalidades, consubstancialidade e posicionalidades com vistas a formular estratégias que ampliem meu horizonte teórico-metodológico aplicado a pesquisa que proponho no Programa de Pós-graduação do NEIM/UFBA em nível de doutorado, qual seja: a análise dos Casos de violências praticadas por filhos/as contra suas mães em Salvador/BA (2006- 2016), cujo objetivo geral é analisar casos de violência de qualquer modalidade praticados por filhos/as contra suas mães registrados na Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (DEATI) e nas Delegacias Especiais de Atendimento a Mulher (DEAMs) em Salvador no período de 2006 a 2016, tomando como referência a promulgação da Lei 11.340 (LMP) e a instalação da DEATI na cidade, ambas ocorridas no ano de 2006. Desse modo, busco saber quais os marcadores sociais que se intercruzam e definem o perfil de mulheres-mães sujeitos da violência intrafamiliar praticada por seus filhos e filhas. Palavras-chave: interconexões; violências contra mulheres-mães; políticas públicas Introdução Para iniciar esse texto, me inspiro em um dos ensinamentos das epistemologias feministas, sobre o necessário e tão caro exercício de auto-reflexão e auto-definição, cuja tarefa serve para enunciar os lugares sociais que se ocupa e os privilégios de que se dispõe no interior das relações de poder presentes numa sociedade repartida e diferenciada por tantas assimetrias. Como tal, é inevitável que esse texto desvele muito desses lugares que me forjaram, e seguem influenciando continuamente, no processo de autoconstrução como mulher feminista e classista em que me reconheço, tendo em conta os pressupostos postulados pelas epistemologias feministas, como a valorização do saber situado, apontado por Haraway (1995) quando afirma que nenhum conhecimento está desconectado de seu contexto, tampouco da subjetividade de quem o emite. Lembro, portanto, que a escolha de um tema para um projeto de pesquisa não é descolada das experiências, da ideologia e acepções da/o pesquisadora/r. No exercício dessa reflexão, fruto de variadas imbricações da minha trajetória pessoal- político-profissional, atravessadas e impressas nas minhas escolhas e no meu percurso teórico- 1 Professora Assistente do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus V e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres Gênero e Feminismo da UFBA. Salvador/BA-Brasil. E-mail: [email protected]

TRÂNSITOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA … · 3 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

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    Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

    TRNSITOS TERICO-METODOLGICOS NA ARTICULAO DOS

    MLTIPLOS PERTENCIMENTOS SOCIAIS EM PESQUISAS SOBRE

    VIOLNCIA DE GNERO

    Luciana Cristina Teixeira de Souza 1

    Resumo: Nesse texto, pretendo problematizar as noes de interseccionalidades, consubstancialidade e posicionalidades com vistas a formular estratgias que ampliem meu horizonte terico-metodolgico

    aplicado a pesquisa que proponho no Programa de Ps-graduao do NEIM/UFBA em nvel de doutorado,

    qual seja: a anlise dos Casos de violncias praticadas por filhos/as contra suas mes em Salvador/BA (2006-

    2016), cujo objetivo geral analisar casos de violncia de qualquer modalidade praticados por filhos/as

    contra suas mes registrados na Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (DEATI) e nas Delegacias

    Especiais de Atendimento a Mulher (DEAMs) em Salvador no perodo de 2006 a 2016, tomando como

    referncia a promulgao da Lei 11.340 (LMP) e a instalao da DEATI na cidade, ambas ocorridas no ano

    de 2006. Desse modo, busco saber quais os marcadores sociais que se intercruzam e definem o perfil de

    mulheres-mes sujeitos da violncia intrafamiliar praticada por seus filhos e filhas.

    Palavras-chave: interconexes; violncias contra mulheres-mes; polticas pblicas

    Introduo

    Para iniciar esse texto, me inspiro em um dos ensinamentos das epistemologias feministas,

    sobre o necessrio e to caro exerccio de auto-reflexo e auto-definio, cuja tarefa serve para

    enunciar os lugares sociais que se ocupa e os privilgios de que se dispe no interior das relaes de

    poder presentes numa sociedade repartida e diferenciada por tantas assimetrias.

    Como tal, inevitvel que esse texto desvele muito desses lugares que me forjaram, e

    seguem influenciando continuamente, no processo de autoconstruo como mulher feminista e

    classista em que me reconheo, tendo em conta os pressupostos postulados pelas epistemologias

    feministas, como a valorizao do saber situado, apontado por Haraway (1995) quando afirma que

    nenhum conhecimento est desconectado de seu contexto, tampouco da subjetividade de quem o

    emite. Lembro, portanto, que a escolha de um tema para um projeto de pesquisa no descolada das

    experincias, da ideologia e acepes da/o pesquisadora/r.

    No exerccio dessa reflexo, fruto de variadas imbricaes da minha trajetria pessoal-

    poltico-profissional, atravessadas e impressas nas minhas escolhas e no meu percurso terico-

    1 Professora Assistente do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus V

    e doutoranda do Programa de Ps-graduao em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres Gnero e Feminismo da

    UFBA. Salvador/BA-Brasil. E-mail: [email protected]

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    metodolgico, busco fazer uma interlocuo com autoras e conceitos discutidos durante o curso

    Dinmicas das relaes de gnero, raa e classe sob a mediao da Professora Dra. Janja Arajo

    em 2016.2 e que vo ajudando a construir o caminho processual de produo da minha pesquisa.

    Pretendo, com isso, problematizar e formular estratgias que ampliem meu horizonte

    terico-metodolgico aplicado ao projeto de pesquisa que proponho no Programa de Ps-graduao

    do NEIM/UFBA em nvel de doutorado inserido na linha de pesquisa Gnero, Alteridade(s) e

    Desigualdades, qual seja: a anlise dos Casos de violncias praticadas por filhos/as contra suas

    mes em Salvador/BA (2006-2016), e cujo objetivo geral analisar casos de violncia de qualquer

    modalidade praticados por filhos/as contra suas mes registrados na Delegacia Especial de

    Atendimento ao Idoso (DEATI) e nas Delegacias Especiais de Atendimento a Mulher (DEAMs) em

    Salvador no perodo de 2006 a 2016, tomando como referncia a promulgao da Lei 11.340 (LMP)

    e a instalao da DEATI na cidade, ambas ocorridas no ano de 2006.

    Quem so os sujeitos?

    Com o advento da lei 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006 no Brasil, intitulada Lei

    Maria da Penha (LMP), a violncia de gnero, de conceituao bastante ampla, foi caracterizada

    como violncia domstica e familiar contra a mulher e prevista no seu Art. 7 em cinco formas

    distintas, quais sejam: a violncia fsica, psicolgica, sexual, patrimonial e moral. Ainda antes da

    promulgao da LMP, Saffioti (2004) j alertava que as diversas formas descritas no se do de

    maneira isolada e incorrem, inevitavelmente, acompanhadas da violncia emocional a cada tipo de

    agresso sofrida.

    Das temticas j existentes sobre violncia de gnero, como cito anteriormente, uma me

    chamou a ateno em especial: aquela relativa condio das mulheres-mes diante da violncia

    intrafamiliar. Esse tema tem ocupado algumas manchetes da imprensa local de maneira recorrente.

    A escolha de tal recorte dos sujeitos da minha pesquisa se deu, portanto, em observncia

    aos dois indicadores principais: 1) a veiculao cada vez mais frequente de notcias e manchetes da

    imprensa local denunciando casos especficos; e 2) os dados revelados pelo trabalho de Azevedo

    (2010):

    Realizado o cruzamento do nmero de filhos/as agressores/as com o nmero de

    pais agredidos, desdobrado, ambos, por sexo, reforada a tendncia revelada

    em outros estudos, do maior nmero de mulheres entre os agredidos. Mes

    vitimadas (65%), para um total significativamente menor de pais na condio de

    vitimas (35%). Reafirma tambm a tendncia de que os homens compem o

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    maior contingente de agressores, agora na figura dos filhos (65%) que tm suas

    mes como alvo principal. (AZEVEDO, 2010 p. 214).

    O que mais chama a ateno nesse dado trazido pela autora o quo considervel e

    preocupante que 65% do total de vtimas sejam mulheres agredidas por seus filhos que, em sua

    maioria, composta por homens.

    Ttratando-se de violncia contra a mulher, Britto da Motta alerta que preciso considerar a

    questo geracional para compreender o fenmeno: Fica esquecido que as mulheres participam [...]

    de vrios grupos de idade, e mais, de que em todas essas etapas de vida, elas so [...] objetos de

    violncias [...] (2009, p.4). Para a autora, gerao, como categoria de anlise, no pode ser

    negligenciada nas anlises de gnero. Acolhendo essa orientao, busco extrapolar um recorte

    geracional nico identificando mulheres-mes de diferentes grupos de idade, alvos de violncia

    advinda de seus/suas filhos/as, conforme denunciado em algumas matrias de jornais, visto

    anteriormente.

    Em que pese os avanos dos estudos sobre a violncia de gnero e suas diversas

    modalidades no mbito das conjugalidades (SAFFIOTI, 2001; 2004; PIMENTEL,

    PANDJIARJIAN, 1998; PASINATO, 2005; 2007; TAVARES, SARDENBERG, GOMES, 2011,

    dentre outras) constato uma lacuna existente entre o recorte referente violncia contra mulheres

    jovens (cujas pesquisas tm priorizado a investigao da agresso conjugal), e o outro grupo ou

    vtima a mulher idosa, que sofre violncias comumente advindas dos seus entes prximos

    (BRITTO DA MOTTA, 2009). Nesta pesquisa pretendo justamente contemplar a lacuna

    bibliogrfica sobre a violncia perpetrada por filhos/as contra suas mes de diferentes grupos de

    idade.

    O reconhecimento dos marcadores sociais que identificam os sujeitos evidencia o

    problema de estudo ao contribuir com a caracterizao dos sujeitos pesquisados, a saber: como a

    relao entre gnero e as demais categorias sociais fundantes interferem na problemtica da

    violncia praticada por filhos e filhas contra suas mes, uma vez que as pesquisas apontam que a

    maioria desses sujeitos vitimados por filhos/as composta de pessoas do sexo feminino. Por qu?

    Quem so essas mulheres-mes? Quais lugares sociais ocupam e a que grupos de idade pertencem?

    E quais so os outros pertencimentos que porventura possam revelar-se ao longo da pesquisa?

    Desde a proposta inicial dessa pesquisa, indaguei sobre quais variveis e indicadores

    poderiam informar dos lugares sociais que ocupam os sujeitos eleitos para essa investigao. No

    propriamente para responder objetivamente s minhas perguntas, antes disso, tais variveis

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    deveriam auxiliar na problematizao das questes levantadas. Mas, talvez o maior desafio seja

    saber: de que forma, quais caminhos terico-metodolgicos poderiam torn-las visveis na

    pesquisa? Uma vez que tantos estudos apontam e denunciam invisibilidades sociais, tanto nas

    polticas como nos dados produzidos pela cincia.

    Vozes negras e feministas: clamores e legado terico-metodolgico

    Percebendo a necessidade de construir uma metodologia para dar conta da tarefa de

    identificar o perfil das mulheres com as quais devo trabalhar na pesquisa sem correr o risco de

    negligenciar seus mltiplos pertencimentos, sou apresentada e, de imediato, instada reflexo a

    partir do pensamento das tericas/ativistas do feminismo negro e do feminismo decolonial.

    Nascido a partir do final da dcada de 1970 nos Estados Unidos, com os primeiros

    movimentos de insurgncia e questionamento do feminismo branco, as ativistas precursoras do

    Black Feminism confrontaram radicalmente os pressupostos universalizantes de classe, de raa e de

    normatividade heterossexual da, at ento, luta feminista vigente.

    Nomes como: ngela Davis, Patrcia Hill Collins, Elsa Dorlin, Hazel Carby, Bell Hooks,

    Patrcia Williams, Kimberl Crenshaw, Audre Lord e o Combahee River Collective, entre outras,

    protagonizaram tal disputa de ideias, cada uma ao seu tempo, e se tornaram os cones principais da

    crtica formulada em direo s feministas brancas. (RODRIGUES, 2013)

    Os aspectos centrais que marcaram o embate poltico-acadmico a partir daquele perodo

    eram reclamados basicamente pelo no-reconhecimento, por parte das feministas brancas, das

    experincias e narrativas das mulheres negras como sujeitos diferenciados na diviso social posta.

    A demasiada centralidade dada ao patriarcado, segundo o pensamento feminista negro,

    acabou por escamotear aspectos especficos das experincias das comunidades negras e da histria

    de escravido e discriminao racial. (CARBY, 1982 apud RODRIGUES, 2013).

    A gravidade dessa lacuna ali denunciada acarretou fissuras de propores muito grandes no

    movimento feminista. O que paradoxalmente tambm alimentou um intenso e necessrio debate

    interno e inacabado reverberado at o presente e responsvel por imprimir, de forma inexorvel, a

    marca da pluralidade to reivindicada entre a maioria dos grupos feministas.

    Tericas das mais diversas reas do conhecimento negras ou no, passaram a atentar e a se

    debruar sobre aquelas reivindicaes dando conta de atualizar, contrapor, formular ou reformular

    noes conceituais pretensamente interdisciplinares buscando romper com pressupostos

    essencialistas e universalizantes vigentes no movimento e no campo terico feminista.

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    Desse modo, muitas abordagens e proposies terico-metodolgicas foram surgindo ao

    longo das trs ltimas dcadas. De compreenso nem sempre divergentes, mas com perspectivas

    diferenciadas, essas propostas ora se complementam, ora privilegiam algumas relaes e/ou

    categorias de anlises em detrimento de outras. Proponho a seguir, um sobrevoo acerca de trs

    dessas abordagens para tentar situar como, quem e em que contextos foram forjadas, seus

    pressupostos epistemolgicos, alm de enunciar alguns pontos de dissenso e de convergncia

    observados.

    Sobre interseccionalidades

    O perodo em que houve maior efervescncia dos debates sobre a temtica foi ao longo das

    dcadas de 1980 a 2000, culminando com a tentativa bastante ansiada de formular ferramentas

    terico-metodolgicas que pudessem dar conta de incorporar as perspectivas dos grupos

    reivindicados. Essa efervescncia de ideias no cessou naquele momento e extrapolou os territrios

    geogrficos iniciais, como discuto adiante.

    Fruto dessas tantas discusses entre as tericas do norte, em princpio, afro-americanas,

    mas tambm inglesas, canadenses e alems, surge a ideia da interseccionalidade que foi

    desenvolvida nos pases anglo-saxnicos em perspectiva interdisciplinar como herana do Black

    Feminism, desde o incio dos anos de 1980.

    Segundo Rodrigues (2013), no h consenso sobre se tal noo uma terminologia, um

    conceito, uma ferramenta heurstica ou uma teoria, isso vai depender de quem se apropriar e

    tambm de como far o uso da mesma (RODRIGUES, 2013 p. 07).

    Ao que indicam as muitas citaes e referncias autora feminista, quem melhor formulou

    essa conceitualizao foi Kimberl Crenshaw (2002), advogada afro-americana, pensando, de

    incio, em sua aplicabilidade nas leis contra a discriminao nos EUA. No obstante, outras

    pesquisadoras de variadas reas do conhecimento seguiram discutindo, sintetizando, atualizando e

    adequando o conceito de acordo com seus entendimentos, interesses e empregos em diversas partes

    do mundo. O que demonstra que esse um conceito em contnua e impermanente construo.

    Embora suas primeiras formulaes remetam s dcadas de 1980 e 1990, s em 2002 em

    um texto-documento, Crenshaw qualifica o conceito com vistas a orientar polticas e aes voltadas

    aos direitos humanos:

    A interseccionalidade uma conceituao do problema que busca capturar as

    conseqncias estruturais e dinmicas da interao entre dois ou mais eixos da

    subordinao. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o

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    patriarcalismo, a opresso de classe e outros sistemas discriminatrios criam

    desigualdades bsicas que estruturam as posies relativas de mulheres, raas,

    etnias, classes e outras. Alm disso, a interseccionalidade trata da forma como

    aes e polticas especficas geram opresses que fluem ao longo de tais eixos,

    constituindo aspectos dinmicos ou ativos do desempoderamento (CRENSHAW,

    2002 p. 177).

    Mas a prpria autora revela em recente entrevista concedida a Bim Adewunmi que o

    conceito no novo e remonta at mesmo ao sculo XIX com o pensamento e inquietaes de

    mulheres como Anna Julia Cooper e Maria Stewart, perpassando as intervenes de Angela Davis e

    Deborah King j no sculo XX, nos EUA e dando sequencia por vrias geraes de mulheres at os

    dias atuais (ADEWUNMI, 2014).

    , portanto, a noo de experincia como categoria analtica vinculada sua historicidade,

    que vai diferenciar o feminismo negro do feminismo branco imprimindo a marca da pluralidade

    reivindicada, ao fim e ao cabo, para sustentar outra epistemologia contraposta quela

    hegemonicamente do norte e ocidental, qual seja, uma epistemologia afrocentrada, descolonial e do

    sul.

    Alm das contribuies terico-polticas das pensadoras negras afro-americanas, como

    dito, diversas autoras situadas e/ou deslocadas de outras margens mundo a fora corroboram e

    endossam tais ideias imprimindo em sua prxis os princpios do pensamento decolonial, quais

    sejam: a importncia do respeito diversidade de referenciais, a considerao do protagonismo das

    narrativas diaspricas e o poder de construo de epistemologias que contemplem culturalmente

    grupos que a histria omitiu ao longo da construo e sistematizao do conhecimento.

    Os movimentos e estudos decoloniais ou descoloniais insurgem forjando um discurso

    contra-hegemnico para criar novos paradigmas, mtodos e temas que at ento eram

    negligenciados no contexto formal de produo das artes, da poltica e do conhecimento.

    Tal narrativa reivindica e provoca uma reprogramao na estrutura das linguagens

    esttica, cartogrfica e imagtica vigentes, vez que pretende re-desenhar as histrias vindas das

    margens, da subalternidade e das vozes dissonantes de contextos globalizados que, em geral, so

    invisibilizados. Trata-se, portanto, de alterar a forma e o contedo das ideias.

    Certamente esse movimento de subverso da ordem epistemolgica dominante inspirou

    uma leva de pensadoras/ativistas feministas latinas no sculo XX, como: Ochy Curiel, Maria

    Lugones, Brenny Mendonza, Alejandra Ciriza, Glria Anzalda, entre tantas outras, que

    reivindicaram em suas obras os mesmos pressupostos descolonizadores na produo do

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    conhecimento dominante androcntrico e eurocntrico. O mrito de tais contribuies est em

    oferecer dispositivos terico-metodolgicos para agenciar pesquisas com nossos prprios

    referenciais, nesse desejado dilogo sul a sul.

    No Brasil, a discusso do conceito de interseccionalidade reverberou pelas vozes de

    tericas/ativistas negras como: GONZALEZ (1982); BAIRROS (1991); AZEREDO (1994);

    BENTO (1995); CARNEIRO (2003); entre outras, que, bebendo da fonte do pensamento negro

    feminista do norte geogrfico da Amrica, elaboraram e atualizaram as teorias para desvelar as

    diferentes formas de discriminao operadas na sociedade brasileira, em face das especificidades de

    nossa formao sociocultural. O ponto de interseco desses estudos so as ideias decoloniais e a

    defesa do pluralismo no movimento feminista.

    Entretanto, Rodrigues (2013), traz uma importante preocupao ao explicar a pouca adeso

    ao debate do feminismo negro pelo movimento feminista no Brasil. Talvez o mais grave motivo

    seja o fato de que ainda h poucas mulheres negras na academia brasileira, como

    docentes/pesquisadoras ou como estudantes de ps-graduao. (RODRIGUES, 2013, p. 9).

    Por outro lado, possvel observar e reconhecer um crescente nmero de trabalhos de

    pesquisadoras negras nas ltimas dcadas que, tanto na academia como nos espaos sociais de

    produo e difuso de conhecimentos mais diversos, empreendem um esforo cada vez maior para a

    disputa, consolidao e popularizao das ideias em torno da construo de um feminismo

    efetivamente plural e decolonial.

    Sobre consubstancialidade ou co-extensividade

    Outro debate surgido em torno da dcada de 1970, em princpio tocado por feministas

    francesas (Kergoat, 2010) que corre em paralelo s ideias de interseccionalidade, mas, sustentado

    por outra linha terica e epistemolgica, a noo de consubstancialidade. Pontuo aqui seus

    principais pressupostos por considerar que nenhuma teoria deve ser fechada. Afinal, pensando sobre

    o papel da teoria e mtodo na contemporaneidade, somente por meio de uma razo aberta seria

    possvel reconhecer e re-ligar os conhecimentos dialogando entre si sem rejeitar, na sua totalidade,

    pressupostos, em princpio, antagnicos, mas valorizando a diversidade de contribuies tericas

    formuladas, premissa que se encontra com a crtica cincia moderna demarcada tambm pela

    epistemologia feminista contempornea.

    Portanto, a escolha de um mtodo numa pesquisa que se reivindica feminista, comporta,

    alm do rigor necessrio a qualquer campo da cincia, tambm a liberdade e a criatividade na sua

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    prxis. O que poder se traduzir em certa pluralidade metodolgica, desde que justificada, e permita

    o alcance s perguntas e respostas feitas ao objeto em estudo.

    Desse modo, trazemos a contribuio das feministas que se reconhecem marxistas para

    confrontar e problematizar o debate em torno dos cruzamentos e das interseces nos estudos de

    gnero/sexo, raa e classe, centralmente.

    Para as feministas marxistas, no debate interseccional imprescindvel a discusso da base

    material e de classe considerando que, assim como esta ltima categoria, a raa e o sexo/gnero so

    relaes sociais tambm estruturantes, sendo uma substncia e co-extenso da outra. (Saffioti, 2004;

    Kergoat, 2010; Hirata; 2014). Segundo tal perspectiva, nada escapa base material do sistema do

    capital e os sujeitos, ainda que com vivncias diferenciadas, so afetados pelas dimenses de classe,

    raa e sexo/gnero.

    A proposta das noes de consubstancialidade e co-extensividade surge para explicar como

    o processo de explorao e diviso do trabalho organiza dialeticamente as trs formas de opresso

    consideradas fundantes e, sobretudo, como tal coordenao basilar para a manuteno do sistema

    de diviso e explorao do trabalho.

    Dessa forma de organizar as relaes sociais, segundo tal linha de pensamento, produz-se

    outras opresses assentadas nessa trade da diferena. Porque tornar os sujeitos desiguais

    funcional para o sistema capitalista. O trabalho das mulheres, por exemplo, realizado pela

    reproduo humana e tambm social, imprescindvel engrenagem do sistema de explorao e

    segue fortemente respaldado pela naturalizao do trabalho domstico definido pelo sexo. o que

    explicaria o interesse irredutvel pelo controle do corpo da mulher at a atualidade. Embora de

    origem anterior, a lgica patriarcal no foi perdida com o capitalismo, vez que esta o interessa e

    lhes d sustentao. (SAFFIOTTI, 2004).

    A combinao da diviso sexual e racial seria ainda mais funcional, uma vez que da mesma

    forma, o corpo negro ainda mantido como a carne mais barata do mercado. Basta observar a

    maior concentrao tnico-racial de trabalhadoras/es no subemprego. Empiricamente, o famoso

    teste do pescoo revela onde se concentra a populao negra no mundo do trabalho e mais ainda,

    onde essa est ausente.

    No toa, as ltimas categorias a serem reconhecidas pelas Leis Trabalhistas no Brasil

    foram justamente a dos trabalhadores rurais e a da/os empregada/os domstica/os, essa ltima

    somente em 2013, cuja imensa maioria ocupada por mulheres negras. Segundo as pesquisas de

    Heilborn, Araujo, Barreto (2010), 93,6% das mulheres esto no trabalho domstico, com

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    predominncia negra. Esses autores ainda revelam que dentre os 10% das/os brasileiras/os mais

    pobres, 70,6% so negras/os, e, em setembro de 2009 um trabalhador/a branco ganhou em mdia

    90,7% a mais que as/os negras/os. (HEILBORN, ARAUJO, BARRETO, 2010). Eis, portanto, uma

    questo de sexo/gnero, raa e classe consubstancializada ou co-extensivamente bem coordenada.

    Do mesmo modo como se opera naturalizando e legitimando o trabalho domstico feminino

    definindo-o por papeis sexuais diferenciados, a servido da mo-de-obra, como visto e tratado

    ainda hoje o trabalho da populao negra, permanece atuando de forma a perpetuar a lgica de

    explorao muito bem ancorada nas bases do racismo institucionalizado presente na sociedade at

    os dias atuais.

    Analisando as duas perspectivas, a interseccionalidade e a consubstancialidade, Hirata

    (2014), faz uma boa sntese para ilustrar a disseno existente entre as duas acepes:

    Embora ambas partam da interseco, ou da consubstancialidade, a mais visada por

    Crenshaw no ponto de partida da sua conceitualizao a interseco entre sexo e raa, enquanto a

    de Kergoat aquela entre sexo e classe, o que fatalmente ter implicaes tericas e polticas com

    diferenas bastante significativas. Um ponto maior de convergncia entre ambas a proposta de no

    hierarquizao das formas de opresso. (HIRATA, 2014 p. 63).

    Em seu artigo, a autora assinala a principal crtica apontada por Kergoat ideia da

    interseccionalidade:

    Pensar em termos de cartografia nos leva a naturalizar as categorias analticas [...].

    Dito de outra forma, a multiplicidade de categorias mascara as relaes sociais. [...]

    As posies no so fixas; por estarem inseridas em relaes dinmicas, esto em

    perptua evoluo e renegociao (Kergoat, 2010, apud Hirata, 2014 p. 98).

    O pensamento feminista negro prope uma espisteme contraposta a do movimento feminista

    per si, mas no necessariamente antagnica luta das mulheres. Defende, sobretudo, que os grupos

    subaltenizados devam se empoderar sobre suas prprias experincias se apossando de ferramentas

    qualificadas para tal enfrentamento.

    Afinal, ao modo do que defendeu Patricia Hill Colins (2012), importa forjar um paradigma

    que articule as variadas opresses e que reconceitue as relaes de dominao e resistncia

    interpelando a sobredeterminao da categoria gnero ou classe ou mesmo de raa. Porque, segundo

    a autora, a identidade formada pela simultaneidade de cada condio/marcador: raa, gnero,

    classe, gerao, sexualidade, e cada marcador parte de uma abrangente estrutura de opresso, que

    produz, de maneira eficaz e funcional, os sistemas de dominao. (COLLINS, 2012).

    Sobre posicionalidades

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    Em muito recente e relevante artigo, Sardenberg (2015) retoma a importante discusso

    acerca das interseccionalidades ao resgatar de Hulko (2009) a noo de posicionalidades

    argumentando que tal conceito seria mais amplo e mais interessante para as anlises intersectadas

    por melhor examinar os impactos das interseces constituintes da identidade dos sujeitos, ainda

    que esta no contenha fixidez e varie no tempo e no espao. O diferencial de tal ideia estaria em

    propor considerar, para alm das distintas posies dos sujeitos pesquisados, a prpria posio da/o

    pesquisador/a, reconhecendo os lugares de privilgios que esta/e ocupa e problematizando as

    relaes estabelecidas a partir desse contato. A autora sintetiza:

    (...) posicionalidade indica o resultado dessa interao em termos de privilgios e

    desvantagens e funes, mais num nvel prtico, ou do cotidiano. Em especial,

    posicionalidade, se refere aos diferentes graus de privilgio e opresso que

    indivduos detm ou sofrem em funo da interseco de construtos identitrios

    especficos, tais como raa, etnicidade, classe, gnero, orientao sexual, idade,

    etc. Ou seja, refere-se ao grau de vulnerabilidade de diferentes indivduos em um

    determinado contexto. (SARDENBERG 2015, p. 82).

    Instada a refletir sobre a minha posicionalidade a partir dessa leitura, e em face de uma

    prtica poltica reconhecidamente atuante ao longo do meu percurso como professora, gegrafa

    feminista classista nos espaos sociais que ocupo, como dito, me vejo posicionada dentro do

    feminismo perspectivista, por defender o princpio de que o conhecimento socialmente situado

    (HARAWAY, 1995) comprometido com o questionamento e, qui, com a transformao de uma

    dada ordem dominante na sociedade. Tais aes tm sido aliceradas numa pedagogia feminista

    (SILVA; CAMURA, 2013), de inspirao freireana, defensora de valores anti-machistas, anti-

    racistas e anti-homofbicos que persigo na minha trajetria docente.

    Mas, para alm dessa posio, devo reconhecer tambm outras posicionalidades: de classe,

    como trabalhadora qualificada; de raa, socialmente tratada como branca; e tambm, espacial, como

    moradora urbana de um bairro central da cidade, alm da condio poltica, organizada no

    movimento social e vinculada a uma entidade sindical que possui certo repertrio de luta atuante

    dentro desse sistema capitalista, racista e altamente hierarquizado. De toda maneira essa condio

    de relativo privilgio social dever ser levada em conta quando do encontro com as entrevistadas na

    minha pesquisa, bem como durante o processo de escolha das categorias de anlise para a realizao

    das mesmas a fim de compreender e refletir a minha prpria experincia na condio de

    pesquisadora interagindo com os sujeitos eleitos.

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    Estar posicionada na condio de mulher professora/trabalhadora e militante feminista em

    constante relao dialgica e horizontalizada no cotidiano do trabalho nas escolas (e tambm fora

    dela) me d o lugar de privilgio da vivncia e/ou da escuta sensvel dos problemas ali presentes.

    No por acaso, fui acometida por diversas inquietaes relacionadas questo da violncia de

    gnero observada naquele espao social. Muitos eram os casos de conflitos relatados direta ou

    indiretamente, como decorrncia de outras violncias trazidas do ambiente familiar e por vezes

    declaradas nos momentos das oficinas e debates promovidos para a discusso do tema.

    Tomada pela necessidade de compreenso maior sobre a questo, busquei aprofundar a

    pesquisa sobre os fatos com os quais havia me defrontado e formulei o projeto da minha pesquisa

    proposto neste programa que segue o curso de seu desenvolvimento. Tendo sempre vista o que

    alerta Sardenberg, neste mesmo artigo de 2015, para o momento da investigao em campo:

    De toda sorte, ao trabalharmos com a perspectiva das opresses que se entrelaam

    e das interseccionalidades, bom ter em mente alguns pressupostos tal qual

    delineados por Ange-Marie Hancock (2007, p.251): 1) mais de uma categoria

    estar em jogo na anlise de processos e problemas polticos complexos; 2) a

    relao entre essas categorias ser uma questo aberta, para investigao emprica;

    3) categorias de diferena so produes dinmicas de indivduos e fatores

    institucionais, sendo tambm simultaneamente contestadas e enfocadas nos planos

    individual e institucional de anlise; 4) cada categoria implica em diversidade

    interna ao seu grupo. (SARDENBERG 2015, p. 86).

    Consideraes finais

    Compreendendo o desafio de criar os instrumentos conceituais e metodolgicos

    necessrios a uma pesquisa sob a perspectiva de gnero e feminista, ao refletir sobre meu projeto de

    tese visualizando e aprofundando novas perspectivas, busquei destacar alguns elementos que as/os

    autoras e autores citadas/os consideram relevantes nesse debate poltico-acadmico em torno da

    temtica da interseccionalidade, apontando para questes mais profundas a serem exploradas

    adiante.

    Esses dilogos introduziram as reflexes sobre algumas diferenciaes presentes nos

    cruzamentos terico-metodolgicos necessrios anlise das opresses, buscando dar conta de

    fundamentar e evidenciar a complexidade que envolve tal debate.

    Ademais, colocado o meu ponto de vista, as minhas perspectivas, pude manifestar e

    reconhecer minha identidade feminista perspectivista e assumir que fazer cincia tambm assumir

    uma posio poltica e social a partir de uma atitude reflexiva em relao ao modo de produzir o

    saber e subverter a lgica e o modo dominante de operar as coisas.

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    Considerando, portanto, que as escolhas tcnicas de anlise esto intrinsecamente ligadas

    viso de mundo de quem as elege. Atenta ao que indica Haraway, e outras autoras j citadas,

    importa ter em conta a nossa prpria situao, localizao e posicionalidade em busca de

    estabelecer redes, conexes e prticas de dilogo e de traduo com outras localizaes,

    mensurando todas as relaes de poder presentes no contexto a ser pesquisado e problematizando os

    deslocamentos e construes mtuas da decorrentes.

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    Theoretical-methodological transits in the articulation of multiple social belongings in

    research on gender violence

    Astract: I intend here to problematize and formulate strategies that broaden my theoretical-

    methodological horizon applied to the research project that I propose in the Graduate Program of

    NEIM / UFBA at doctoral level and is inserted in the line of research Gender, Alterity (s) and

    Inequalities, Which is: the analysis of cases of violence committed by children against their mothers

    in Salvador / BA (2006-2016), and whose general objective is to analyze cases of violence of any

    kind practiced by children against their mothers registered in the police station (DEATI) and the

    Special Deputies for the Assistance to Women (DEAMs) in Salvador from 2006 to 2016, taking as

    reference the promulgation of Law 11.340 (LMP) and the installation of DEATI in the city, both

    occurring in the Year of 2006. The choice of such a clipping of the subject and the subjects of the

    research - in compliance with these two main indicators: 1) the increasingly frequent publication of

    news and local newspaper headlines denouncing specific cases; And 2) the work cited by Azevedo

    (2010) - it was noted how considerable and worrisome is that 65% of the total victims are women

    beaten by their children, who are mostly men.In this way, I try to know which social markers are

    interbred and define the profile of female-subject mothers of intrafamily violence practiced by their

    sons and daughters.

    Keywords: Interconnections; Violence against women mothers; public policy

    http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332001000100007.http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332001000100007.