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Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),
Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X
TRNSITOS TERICO-METODOLGICOS NA ARTICULAO DOS
MLTIPLOS PERTENCIMENTOS SOCIAIS EM PESQUISAS SOBRE
VIOLNCIA DE GNERO
Luciana Cristina Teixeira de Souza 1
Resumo: Nesse texto, pretendo problematizar as noes de interseccionalidades, consubstancialidade e posicionalidades com vistas a formular estratgias que ampliem meu horizonte terico-metodolgico
aplicado a pesquisa que proponho no Programa de Ps-graduao do NEIM/UFBA em nvel de doutorado,
qual seja: a anlise dos Casos de violncias praticadas por filhos/as contra suas mes em Salvador/BA (2006-
2016), cujo objetivo geral analisar casos de violncia de qualquer modalidade praticados por filhos/as
contra suas mes registrados na Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (DEATI) e nas Delegacias
Especiais de Atendimento a Mulher (DEAMs) em Salvador no perodo de 2006 a 2016, tomando como
referncia a promulgao da Lei 11.340 (LMP) e a instalao da DEATI na cidade, ambas ocorridas no ano
de 2006. Desse modo, busco saber quais os marcadores sociais que se intercruzam e definem o perfil de
mulheres-mes sujeitos da violncia intrafamiliar praticada por seus filhos e filhas.
Palavras-chave: interconexes; violncias contra mulheres-mes; polticas pblicas
Introduo
Para iniciar esse texto, me inspiro em um dos ensinamentos das epistemologias feministas,
sobre o necessrio e to caro exerccio de auto-reflexo e auto-definio, cuja tarefa serve para
enunciar os lugares sociais que se ocupa e os privilgios de que se dispe no interior das relaes de
poder presentes numa sociedade repartida e diferenciada por tantas assimetrias.
Como tal, inevitvel que esse texto desvele muito desses lugares que me forjaram, e
seguem influenciando continuamente, no processo de autoconstruo como mulher feminista e
classista em que me reconheo, tendo em conta os pressupostos postulados pelas epistemologias
feministas, como a valorizao do saber situado, apontado por Haraway (1995) quando afirma que
nenhum conhecimento est desconectado de seu contexto, tampouco da subjetividade de quem o
emite. Lembro, portanto, que a escolha de um tema para um projeto de pesquisa no descolada das
experincias, da ideologia e acepes da/o pesquisadora/r.
No exerccio dessa reflexo, fruto de variadas imbricaes da minha trajetria pessoal-
poltico-profissional, atravessadas e impressas nas minhas escolhas e no meu percurso terico-
1 Professora Assistente do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus V
e doutoranda do Programa de Ps-graduao em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres Gnero e Feminismo da
UFBA. Salvador/BA-Brasil. E-mail: [email protected]
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metodolgico, busco fazer uma interlocuo com autoras e conceitos discutidos durante o curso
Dinmicas das relaes de gnero, raa e classe sob a mediao da Professora Dra. Janja Arajo
em 2016.2 e que vo ajudando a construir o caminho processual de produo da minha pesquisa.
Pretendo, com isso, problematizar e formular estratgias que ampliem meu horizonte
terico-metodolgico aplicado ao projeto de pesquisa que proponho no Programa de Ps-graduao
do NEIM/UFBA em nvel de doutorado inserido na linha de pesquisa Gnero, Alteridade(s) e
Desigualdades, qual seja: a anlise dos Casos de violncias praticadas por filhos/as contra suas
mes em Salvador/BA (2006-2016), e cujo objetivo geral analisar casos de violncia de qualquer
modalidade praticados por filhos/as contra suas mes registrados na Delegacia Especial de
Atendimento ao Idoso (DEATI) e nas Delegacias Especiais de Atendimento a Mulher (DEAMs) em
Salvador no perodo de 2006 a 2016, tomando como referncia a promulgao da Lei 11.340 (LMP)
e a instalao da DEATI na cidade, ambas ocorridas no ano de 2006.
Quem so os sujeitos?
Com o advento da lei 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006 no Brasil, intitulada Lei
Maria da Penha (LMP), a violncia de gnero, de conceituao bastante ampla, foi caracterizada
como violncia domstica e familiar contra a mulher e prevista no seu Art. 7 em cinco formas
distintas, quais sejam: a violncia fsica, psicolgica, sexual, patrimonial e moral. Ainda antes da
promulgao da LMP, Saffioti (2004) j alertava que as diversas formas descritas no se do de
maneira isolada e incorrem, inevitavelmente, acompanhadas da violncia emocional a cada tipo de
agresso sofrida.
Das temticas j existentes sobre violncia de gnero, como cito anteriormente, uma me
chamou a ateno em especial: aquela relativa condio das mulheres-mes diante da violncia
intrafamiliar. Esse tema tem ocupado algumas manchetes da imprensa local de maneira recorrente.
A escolha de tal recorte dos sujeitos da minha pesquisa se deu, portanto, em observncia
aos dois indicadores principais: 1) a veiculao cada vez mais frequente de notcias e manchetes da
imprensa local denunciando casos especficos; e 2) os dados revelados pelo trabalho de Azevedo
(2010):
Realizado o cruzamento do nmero de filhos/as agressores/as com o nmero de
pais agredidos, desdobrado, ambos, por sexo, reforada a tendncia revelada
em outros estudos, do maior nmero de mulheres entre os agredidos. Mes
vitimadas (65%), para um total significativamente menor de pais na condio de
vitimas (35%). Reafirma tambm a tendncia de que os homens compem o
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maior contingente de agressores, agora na figura dos filhos (65%) que tm suas
mes como alvo principal. (AZEVEDO, 2010 p. 214).
O que mais chama a ateno nesse dado trazido pela autora o quo considervel e
preocupante que 65% do total de vtimas sejam mulheres agredidas por seus filhos que, em sua
maioria, composta por homens.
Ttratando-se de violncia contra a mulher, Britto da Motta alerta que preciso considerar a
questo geracional para compreender o fenmeno: Fica esquecido que as mulheres participam [...]
de vrios grupos de idade, e mais, de que em todas essas etapas de vida, elas so [...] objetos de
violncias [...] (2009, p.4). Para a autora, gerao, como categoria de anlise, no pode ser
negligenciada nas anlises de gnero. Acolhendo essa orientao, busco extrapolar um recorte
geracional nico identificando mulheres-mes de diferentes grupos de idade, alvos de violncia
advinda de seus/suas filhos/as, conforme denunciado em algumas matrias de jornais, visto
anteriormente.
Em que pese os avanos dos estudos sobre a violncia de gnero e suas diversas
modalidades no mbito das conjugalidades (SAFFIOTI, 2001; 2004; PIMENTEL,
PANDJIARJIAN, 1998; PASINATO, 2005; 2007; TAVARES, SARDENBERG, GOMES, 2011,
dentre outras) constato uma lacuna existente entre o recorte referente violncia contra mulheres
jovens (cujas pesquisas tm priorizado a investigao da agresso conjugal), e o outro grupo ou
vtima a mulher idosa, que sofre violncias comumente advindas dos seus entes prximos
(BRITTO DA MOTTA, 2009). Nesta pesquisa pretendo justamente contemplar a lacuna
bibliogrfica sobre a violncia perpetrada por filhos/as contra suas mes de diferentes grupos de
idade.
O reconhecimento dos marcadores sociais que identificam os sujeitos evidencia o
problema de estudo ao contribuir com a caracterizao dos sujeitos pesquisados, a saber: como a
relao entre gnero e as demais categorias sociais fundantes interferem na problemtica da
violncia praticada por filhos e filhas contra suas mes, uma vez que as pesquisas apontam que a
maioria desses sujeitos vitimados por filhos/as composta de pessoas do sexo feminino. Por qu?
Quem so essas mulheres-mes? Quais lugares sociais ocupam e a que grupos de idade pertencem?
E quais so os outros pertencimentos que porventura possam revelar-se ao longo da pesquisa?
Desde a proposta inicial dessa pesquisa, indaguei sobre quais variveis e indicadores
poderiam informar dos lugares sociais que ocupam os sujeitos eleitos para essa investigao. No
propriamente para responder objetivamente s minhas perguntas, antes disso, tais variveis
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deveriam auxiliar na problematizao das questes levantadas. Mas, talvez o maior desafio seja
saber: de que forma, quais caminhos terico-metodolgicos poderiam torn-las visveis na
pesquisa? Uma vez que tantos estudos apontam e denunciam invisibilidades sociais, tanto nas
polticas como nos dados produzidos pela cincia.
Vozes negras e feministas: clamores e legado terico-metodolgico
Percebendo a necessidade de construir uma metodologia para dar conta da tarefa de
identificar o perfil das mulheres com as quais devo trabalhar na pesquisa sem correr o risco de
negligenciar seus mltiplos pertencimentos, sou apresentada e, de imediato, instada reflexo a
partir do pensamento das tericas/ativistas do feminismo negro e do feminismo decolonial.
Nascido a partir do final da dcada de 1970 nos Estados Unidos, com os primeiros
movimentos de insurgncia e questionamento do feminismo branco, as ativistas precursoras do
Black Feminism confrontaram radicalmente os pressupostos universalizantes de classe, de raa e de
normatividade heterossexual da, at ento, luta feminista vigente.
Nomes como: ngela Davis, Patrcia Hill Collins, Elsa Dorlin, Hazel Carby, Bell Hooks,
Patrcia Williams, Kimberl Crenshaw, Audre Lord e o Combahee River Collective, entre outras,
protagonizaram tal disputa de ideias, cada uma ao seu tempo, e se tornaram os cones principais da
crtica formulada em direo s feministas brancas. (RODRIGUES, 2013)
Os aspectos centrais que marcaram o embate poltico-acadmico a partir daquele perodo
eram reclamados basicamente pelo no-reconhecimento, por parte das feministas brancas, das
experincias e narrativas das mulheres negras como sujeitos diferenciados na diviso social posta.
A demasiada centralidade dada ao patriarcado, segundo o pensamento feminista negro,
acabou por escamotear aspectos especficos das experincias das comunidades negras e da histria
de escravido e discriminao racial. (CARBY, 1982 apud RODRIGUES, 2013).
A gravidade dessa lacuna ali denunciada acarretou fissuras de propores muito grandes no
movimento feminista. O que paradoxalmente tambm alimentou um intenso e necessrio debate
interno e inacabado reverberado at o presente e responsvel por imprimir, de forma inexorvel, a
marca da pluralidade to reivindicada entre a maioria dos grupos feministas.
Tericas das mais diversas reas do conhecimento negras ou no, passaram a atentar e a se
debruar sobre aquelas reivindicaes dando conta de atualizar, contrapor, formular ou reformular
noes conceituais pretensamente interdisciplinares buscando romper com pressupostos
essencialistas e universalizantes vigentes no movimento e no campo terico feminista.
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Desse modo, muitas abordagens e proposies terico-metodolgicas foram surgindo ao
longo das trs ltimas dcadas. De compreenso nem sempre divergentes, mas com perspectivas
diferenciadas, essas propostas ora se complementam, ora privilegiam algumas relaes e/ou
categorias de anlises em detrimento de outras. Proponho a seguir, um sobrevoo acerca de trs
dessas abordagens para tentar situar como, quem e em que contextos foram forjadas, seus
pressupostos epistemolgicos, alm de enunciar alguns pontos de dissenso e de convergncia
observados.
Sobre interseccionalidades
O perodo em que houve maior efervescncia dos debates sobre a temtica foi ao longo das
dcadas de 1980 a 2000, culminando com a tentativa bastante ansiada de formular ferramentas
terico-metodolgicas que pudessem dar conta de incorporar as perspectivas dos grupos
reivindicados. Essa efervescncia de ideias no cessou naquele momento e extrapolou os territrios
geogrficos iniciais, como discuto adiante.
Fruto dessas tantas discusses entre as tericas do norte, em princpio, afro-americanas,
mas tambm inglesas, canadenses e alems, surge a ideia da interseccionalidade que foi
desenvolvida nos pases anglo-saxnicos em perspectiva interdisciplinar como herana do Black
Feminism, desde o incio dos anos de 1980.
Segundo Rodrigues (2013), no h consenso sobre se tal noo uma terminologia, um
conceito, uma ferramenta heurstica ou uma teoria, isso vai depender de quem se apropriar e
tambm de como far o uso da mesma (RODRIGUES, 2013 p. 07).
Ao que indicam as muitas citaes e referncias autora feminista, quem melhor formulou
essa conceitualizao foi Kimberl Crenshaw (2002), advogada afro-americana, pensando, de
incio, em sua aplicabilidade nas leis contra a discriminao nos EUA. No obstante, outras
pesquisadoras de variadas reas do conhecimento seguiram discutindo, sintetizando, atualizando e
adequando o conceito de acordo com seus entendimentos, interesses e empregos em diversas partes
do mundo. O que demonstra que esse um conceito em contnua e impermanente construo.
Embora suas primeiras formulaes remetam s dcadas de 1980 e 1990, s em 2002 em
um texto-documento, Crenshaw qualifica o conceito com vistas a orientar polticas e aes voltadas
aos direitos humanos:
A interseccionalidade uma conceituao do problema que busca capturar as
conseqncias estruturais e dinmicas da interao entre dois ou mais eixos da
subordinao. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o
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patriarcalismo, a opresso de classe e outros sistemas discriminatrios criam
desigualdades bsicas que estruturam as posies relativas de mulheres, raas,
etnias, classes e outras. Alm disso, a interseccionalidade trata da forma como
aes e polticas especficas geram opresses que fluem ao longo de tais eixos,
constituindo aspectos dinmicos ou ativos do desempoderamento (CRENSHAW,
2002 p. 177).
Mas a prpria autora revela em recente entrevista concedida a Bim Adewunmi que o
conceito no novo e remonta at mesmo ao sculo XIX com o pensamento e inquietaes de
mulheres como Anna Julia Cooper e Maria Stewart, perpassando as intervenes de Angela Davis e
Deborah King j no sculo XX, nos EUA e dando sequencia por vrias geraes de mulheres at os
dias atuais (ADEWUNMI, 2014).
, portanto, a noo de experincia como categoria analtica vinculada sua historicidade,
que vai diferenciar o feminismo negro do feminismo branco imprimindo a marca da pluralidade
reivindicada, ao fim e ao cabo, para sustentar outra epistemologia contraposta quela
hegemonicamente do norte e ocidental, qual seja, uma epistemologia afrocentrada, descolonial e do
sul.
Alm das contribuies terico-polticas das pensadoras negras afro-americanas, como
dito, diversas autoras situadas e/ou deslocadas de outras margens mundo a fora corroboram e
endossam tais ideias imprimindo em sua prxis os princpios do pensamento decolonial, quais
sejam: a importncia do respeito diversidade de referenciais, a considerao do protagonismo das
narrativas diaspricas e o poder de construo de epistemologias que contemplem culturalmente
grupos que a histria omitiu ao longo da construo e sistematizao do conhecimento.
Os movimentos e estudos decoloniais ou descoloniais insurgem forjando um discurso
contra-hegemnico para criar novos paradigmas, mtodos e temas que at ento eram
negligenciados no contexto formal de produo das artes, da poltica e do conhecimento.
Tal narrativa reivindica e provoca uma reprogramao na estrutura das linguagens
esttica, cartogrfica e imagtica vigentes, vez que pretende re-desenhar as histrias vindas das
margens, da subalternidade e das vozes dissonantes de contextos globalizados que, em geral, so
invisibilizados. Trata-se, portanto, de alterar a forma e o contedo das ideias.
Certamente esse movimento de subverso da ordem epistemolgica dominante inspirou
uma leva de pensadoras/ativistas feministas latinas no sculo XX, como: Ochy Curiel, Maria
Lugones, Brenny Mendonza, Alejandra Ciriza, Glria Anzalda, entre tantas outras, que
reivindicaram em suas obras os mesmos pressupostos descolonizadores na produo do
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conhecimento dominante androcntrico e eurocntrico. O mrito de tais contribuies est em
oferecer dispositivos terico-metodolgicos para agenciar pesquisas com nossos prprios
referenciais, nesse desejado dilogo sul a sul.
No Brasil, a discusso do conceito de interseccionalidade reverberou pelas vozes de
tericas/ativistas negras como: GONZALEZ (1982); BAIRROS (1991); AZEREDO (1994);
BENTO (1995); CARNEIRO (2003); entre outras, que, bebendo da fonte do pensamento negro
feminista do norte geogrfico da Amrica, elaboraram e atualizaram as teorias para desvelar as
diferentes formas de discriminao operadas na sociedade brasileira, em face das especificidades de
nossa formao sociocultural. O ponto de interseco desses estudos so as ideias decoloniais e a
defesa do pluralismo no movimento feminista.
Entretanto, Rodrigues (2013), traz uma importante preocupao ao explicar a pouca adeso
ao debate do feminismo negro pelo movimento feminista no Brasil. Talvez o mais grave motivo
seja o fato de que ainda h poucas mulheres negras na academia brasileira, como
docentes/pesquisadoras ou como estudantes de ps-graduao. (RODRIGUES, 2013, p. 9).
Por outro lado, possvel observar e reconhecer um crescente nmero de trabalhos de
pesquisadoras negras nas ltimas dcadas que, tanto na academia como nos espaos sociais de
produo e difuso de conhecimentos mais diversos, empreendem um esforo cada vez maior para a
disputa, consolidao e popularizao das ideias em torno da construo de um feminismo
efetivamente plural e decolonial.
Sobre consubstancialidade ou co-extensividade
Outro debate surgido em torno da dcada de 1970, em princpio tocado por feministas
francesas (Kergoat, 2010) que corre em paralelo s ideias de interseccionalidade, mas, sustentado
por outra linha terica e epistemolgica, a noo de consubstancialidade. Pontuo aqui seus
principais pressupostos por considerar que nenhuma teoria deve ser fechada. Afinal, pensando sobre
o papel da teoria e mtodo na contemporaneidade, somente por meio de uma razo aberta seria
possvel reconhecer e re-ligar os conhecimentos dialogando entre si sem rejeitar, na sua totalidade,
pressupostos, em princpio, antagnicos, mas valorizando a diversidade de contribuies tericas
formuladas, premissa que se encontra com a crtica cincia moderna demarcada tambm pela
epistemologia feminista contempornea.
Portanto, a escolha de um mtodo numa pesquisa que se reivindica feminista, comporta,
alm do rigor necessrio a qualquer campo da cincia, tambm a liberdade e a criatividade na sua
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prxis. O que poder se traduzir em certa pluralidade metodolgica, desde que justificada, e permita
o alcance s perguntas e respostas feitas ao objeto em estudo.
Desse modo, trazemos a contribuio das feministas que se reconhecem marxistas para
confrontar e problematizar o debate em torno dos cruzamentos e das interseces nos estudos de
gnero/sexo, raa e classe, centralmente.
Para as feministas marxistas, no debate interseccional imprescindvel a discusso da base
material e de classe considerando que, assim como esta ltima categoria, a raa e o sexo/gnero so
relaes sociais tambm estruturantes, sendo uma substncia e co-extenso da outra. (Saffioti, 2004;
Kergoat, 2010; Hirata; 2014). Segundo tal perspectiva, nada escapa base material do sistema do
capital e os sujeitos, ainda que com vivncias diferenciadas, so afetados pelas dimenses de classe,
raa e sexo/gnero.
A proposta das noes de consubstancialidade e co-extensividade surge para explicar como
o processo de explorao e diviso do trabalho organiza dialeticamente as trs formas de opresso
consideradas fundantes e, sobretudo, como tal coordenao basilar para a manuteno do sistema
de diviso e explorao do trabalho.
Dessa forma de organizar as relaes sociais, segundo tal linha de pensamento, produz-se
outras opresses assentadas nessa trade da diferena. Porque tornar os sujeitos desiguais
funcional para o sistema capitalista. O trabalho das mulheres, por exemplo, realizado pela
reproduo humana e tambm social, imprescindvel engrenagem do sistema de explorao e
segue fortemente respaldado pela naturalizao do trabalho domstico definido pelo sexo. o que
explicaria o interesse irredutvel pelo controle do corpo da mulher at a atualidade. Embora de
origem anterior, a lgica patriarcal no foi perdida com o capitalismo, vez que esta o interessa e
lhes d sustentao. (SAFFIOTTI, 2004).
A combinao da diviso sexual e racial seria ainda mais funcional, uma vez que da mesma
forma, o corpo negro ainda mantido como a carne mais barata do mercado. Basta observar a
maior concentrao tnico-racial de trabalhadoras/es no subemprego. Empiricamente, o famoso
teste do pescoo revela onde se concentra a populao negra no mundo do trabalho e mais ainda,
onde essa est ausente.
No toa, as ltimas categorias a serem reconhecidas pelas Leis Trabalhistas no Brasil
foram justamente a dos trabalhadores rurais e a da/os empregada/os domstica/os, essa ltima
somente em 2013, cuja imensa maioria ocupada por mulheres negras. Segundo as pesquisas de
Heilborn, Araujo, Barreto (2010), 93,6% das mulheres esto no trabalho domstico, com
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predominncia negra. Esses autores ainda revelam que dentre os 10% das/os brasileiras/os mais
pobres, 70,6% so negras/os, e, em setembro de 2009 um trabalhador/a branco ganhou em mdia
90,7% a mais que as/os negras/os. (HEILBORN, ARAUJO, BARRETO, 2010). Eis, portanto, uma
questo de sexo/gnero, raa e classe consubstancializada ou co-extensivamente bem coordenada.
Do mesmo modo como se opera naturalizando e legitimando o trabalho domstico feminino
definindo-o por papeis sexuais diferenciados, a servido da mo-de-obra, como visto e tratado
ainda hoje o trabalho da populao negra, permanece atuando de forma a perpetuar a lgica de
explorao muito bem ancorada nas bases do racismo institucionalizado presente na sociedade at
os dias atuais.
Analisando as duas perspectivas, a interseccionalidade e a consubstancialidade, Hirata
(2014), faz uma boa sntese para ilustrar a disseno existente entre as duas acepes:
Embora ambas partam da interseco, ou da consubstancialidade, a mais visada por
Crenshaw no ponto de partida da sua conceitualizao a interseco entre sexo e raa, enquanto a
de Kergoat aquela entre sexo e classe, o que fatalmente ter implicaes tericas e polticas com
diferenas bastante significativas. Um ponto maior de convergncia entre ambas a proposta de no
hierarquizao das formas de opresso. (HIRATA, 2014 p. 63).
Em seu artigo, a autora assinala a principal crtica apontada por Kergoat ideia da
interseccionalidade:
Pensar em termos de cartografia nos leva a naturalizar as categorias analticas [...].
Dito de outra forma, a multiplicidade de categorias mascara as relaes sociais. [...]
As posies no so fixas; por estarem inseridas em relaes dinmicas, esto em
perptua evoluo e renegociao (Kergoat, 2010, apud Hirata, 2014 p. 98).
O pensamento feminista negro prope uma espisteme contraposta a do movimento feminista
per si, mas no necessariamente antagnica luta das mulheres. Defende, sobretudo, que os grupos
subaltenizados devam se empoderar sobre suas prprias experincias se apossando de ferramentas
qualificadas para tal enfrentamento.
Afinal, ao modo do que defendeu Patricia Hill Colins (2012), importa forjar um paradigma
que articule as variadas opresses e que reconceitue as relaes de dominao e resistncia
interpelando a sobredeterminao da categoria gnero ou classe ou mesmo de raa. Porque, segundo
a autora, a identidade formada pela simultaneidade de cada condio/marcador: raa, gnero,
classe, gerao, sexualidade, e cada marcador parte de uma abrangente estrutura de opresso, que
produz, de maneira eficaz e funcional, os sistemas de dominao. (COLLINS, 2012).
Sobre posicionalidades
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Em muito recente e relevante artigo, Sardenberg (2015) retoma a importante discusso
acerca das interseccionalidades ao resgatar de Hulko (2009) a noo de posicionalidades
argumentando que tal conceito seria mais amplo e mais interessante para as anlises intersectadas
por melhor examinar os impactos das interseces constituintes da identidade dos sujeitos, ainda
que esta no contenha fixidez e varie no tempo e no espao. O diferencial de tal ideia estaria em
propor considerar, para alm das distintas posies dos sujeitos pesquisados, a prpria posio da/o
pesquisador/a, reconhecendo os lugares de privilgios que esta/e ocupa e problematizando as
relaes estabelecidas a partir desse contato. A autora sintetiza:
(...) posicionalidade indica o resultado dessa interao em termos de privilgios e
desvantagens e funes, mais num nvel prtico, ou do cotidiano. Em especial,
posicionalidade, se refere aos diferentes graus de privilgio e opresso que
indivduos detm ou sofrem em funo da interseco de construtos identitrios
especficos, tais como raa, etnicidade, classe, gnero, orientao sexual, idade,
etc. Ou seja, refere-se ao grau de vulnerabilidade de diferentes indivduos em um
determinado contexto. (SARDENBERG 2015, p. 82).
Instada a refletir sobre a minha posicionalidade a partir dessa leitura, e em face de uma
prtica poltica reconhecidamente atuante ao longo do meu percurso como professora, gegrafa
feminista classista nos espaos sociais que ocupo, como dito, me vejo posicionada dentro do
feminismo perspectivista, por defender o princpio de que o conhecimento socialmente situado
(HARAWAY, 1995) comprometido com o questionamento e, qui, com a transformao de uma
dada ordem dominante na sociedade. Tais aes tm sido aliceradas numa pedagogia feminista
(SILVA; CAMURA, 2013), de inspirao freireana, defensora de valores anti-machistas, anti-
racistas e anti-homofbicos que persigo na minha trajetria docente.
Mas, para alm dessa posio, devo reconhecer tambm outras posicionalidades: de classe,
como trabalhadora qualificada; de raa, socialmente tratada como branca; e tambm, espacial, como
moradora urbana de um bairro central da cidade, alm da condio poltica, organizada no
movimento social e vinculada a uma entidade sindical que possui certo repertrio de luta atuante
dentro desse sistema capitalista, racista e altamente hierarquizado. De toda maneira essa condio
de relativo privilgio social dever ser levada em conta quando do encontro com as entrevistadas na
minha pesquisa, bem como durante o processo de escolha das categorias de anlise para a realizao
das mesmas a fim de compreender e refletir a minha prpria experincia na condio de
pesquisadora interagindo com os sujeitos eleitos.
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Estar posicionada na condio de mulher professora/trabalhadora e militante feminista em
constante relao dialgica e horizontalizada no cotidiano do trabalho nas escolas (e tambm fora
dela) me d o lugar de privilgio da vivncia e/ou da escuta sensvel dos problemas ali presentes.
No por acaso, fui acometida por diversas inquietaes relacionadas questo da violncia de
gnero observada naquele espao social. Muitos eram os casos de conflitos relatados direta ou
indiretamente, como decorrncia de outras violncias trazidas do ambiente familiar e por vezes
declaradas nos momentos das oficinas e debates promovidos para a discusso do tema.
Tomada pela necessidade de compreenso maior sobre a questo, busquei aprofundar a
pesquisa sobre os fatos com os quais havia me defrontado e formulei o projeto da minha pesquisa
proposto neste programa que segue o curso de seu desenvolvimento. Tendo sempre vista o que
alerta Sardenberg, neste mesmo artigo de 2015, para o momento da investigao em campo:
De toda sorte, ao trabalharmos com a perspectiva das opresses que se entrelaam
e das interseccionalidades, bom ter em mente alguns pressupostos tal qual
delineados por Ange-Marie Hancock (2007, p.251): 1) mais de uma categoria
estar em jogo na anlise de processos e problemas polticos complexos; 2) a
relao entre essas categorias ser uma questo aberta, para investigao emprica;
3) categorias de diferena so produes dinmicas de indivduos e fatores
institucionais, sendo tambm simultaneamente contestadas e enfocadas nos planos
individual e institucional de anlise; 4) cada categoria implica em diversidade
interna ao seu grupo. (SARDENBERG 2015, p. 86).
Consideraes finais
Compreendendo o desafio de criar os instrumentos conceituais e metodolgicos
necessrios a uma pesquisa sob a perspectiva de gnero e feminista, ao refletir sobre meu projeto de
tese visualizando e aprofundando novas perspectivas, busquei destacar alguns elementos que as/os
autoras e autores citadas/os consideram relevantes nesse debate poltico-acadmico em torno da
temtica da interseccionalidade, apontando para questes mais profundas a serem exploradas
adiante.
Esses dilogos introduziram as reflexes sobre algumas diferenciaes presentes nos
cruzamentos terico-metodolgicos necessrios anlise das opresses, buscando dar conta de
fundamentar e evidenciar a complexidade que envolve tal debate.
Ademais, colocado o meu ponto de vista, as minhas perspectivas, pude manifestar e
reconhecer minha identidade feminista perspectivista e assumir que fazer cincia tambm assumir
uma posio poltica e social a partir de uma atitude reflexiva em relao ao modo de produzir o
saber e subverter a lgica e o modo dominante de operar as coisas.
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Considerando, portanto, que as escolhas tcnicas de anlise esto intrinsecamente ligadas
viso de mundo de quem as elege. Atenta ao que indica Haraway, e outras autoras j citadas,
importa ter em conta a nossa prpria situao, localizao e posicionalidade em busca de
estabelecer redes, conexes e prticas de dilogo e de traduo com outras localizaes,
mensurando todas as relaes de poder presentes no contexto a ser pesquisado e problematizando os
deslocamentos e construes mtuas da decorrentes.
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Theoretical-methodological transits in the articulation of multiple social belongings in
research on gender violence
Astract: I intend here to problematize and formulate strategies that broaden my theoretical-
methodological horizon applied to the research project that I propose in the Graduate Program of
NEIM / UFBA at doctoral level and is inserted in the line of research Gender, Alterity (s) and
Inequalities, Which is: the analysis of cases of violence committed by children against their mothers
in Salvador / BA (2006-2016), and whose general objective is to analyze cases of violence of any
kind practiced by children against their mothers registered in the police station (DEATI) and the
Special Deputies for the Assistance to Women (DEAMs) in Salvador from 2006 to 2016, taking as
reference the promulgation of Law 11.340 (LMP) and the installation of DEATI in the city, both
occurring in the Year of 2006. The choice of such a clipping of the subject and the subjects of the
research - in compliance with these two main indicators: 1) the increasingly frequent publication of
news and local newspaper headlines denouncing specific cases; And 2) the work cited by Azevedo
(2010) - it was noted how considerable and worrisome is that 65% of the total victims are women
beaten by their children, who are mostly men.In this way, I try to know which social markers are
interbred and define the profile of female-subject mothers of intrafamily violence practiced by their
sons and daughters.
Keywords: Interconnections; Violence against women mothers; public policy
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332001000100007.http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332001000100007.