TRANSPORTE FLUVIAL DE LANCHAS RÁPIDAS ENTRE A AGROVILA DO CABURI E A CIDADE DE PARINTINS-AM

SUZELE COSTA FONSECA1 RICARDO JOSÉ BATISTA NOGUEIRA2

Resumo: A imensa região Amazônica onde o transporte de passageiros por hidrovias é mais utilizado apresenta características diferenciadas das demais regiões do país. O transporte fluvial é o responsável pela locomoção de passageiros e cargas no interior do estado do Amazonas. Diante às transformações no setor de transporte fluvial, surgem as embarcações do tipo lanchas rápidas para dar ainda mais dinamicidade aos lugares. Por apresentar a rapidez como principal característica, as lanchas rápidas chamam a atenção das pessoas que preferem chegar mais rápido ao seu destino. Nesse sentido, viagens que antes eram realizadas em dias através dos tradicionais barcos regionais, passam a ser realizadas em horas, rompendo com as longas viagens. As lanchas rápidas são, portanto, embarcações que fazem parte da nova realidade amazônica. Apresentam-se como diferenciais frente aos outros tipos de meios de transportes característicos da região, principalmente no que diz respeito à duração das viagens. Outro aspecto específico é quanto o transporte somente de passageiros, diferente dos barcos regionais que transportam cargas e passageiros, conhecidos dessa forma como meio de transporte misto. As lanchas rápidas aos poucos vão ganhando espaço no setor de transporte fluvial na Amazônia e por tratar-se de uma temática que vem ganhando destaque entre pesquisadores, este trabalho tem a pretensão de compreender esse setor tão estratégico para o desenvolvimento regional amazônico, além de analisar as embarcações existentes, frequência, fluxo e finalidade a partir da introdução das lanchas rápidas no trecho que compreende a Agrovila do Caburi e a Cidade de Parintins-AM. Parintins é uma cidade no interior do estado do Amazonas, próximo a divisa do estado do Pará, na região Norte do Brasil, localizada a leste, distanciando-se cerca de 369 km em linha reta de Manaus capital do estado. Segundo dados do último censo (2010) o município de Parintins possui 102.033 de habitantes. Dentre as localidades em seu entorno, destaca-se a Agrovila do Caburi, com cerca de 45 km de distância em linha reta, situada a noroeste da cidade sede do município. Para este trabalho realizou-se pesquisa de campo para fazer observações in loco, tendo como área de estudo o Porto da Agrovila do Caburi, local onde as embarcações partem para realizarem suas viagens diárias. A partir das observações e viagens em dias alternados da semana podem-se evidenciar fatores que propiciam a importância das lanchas rápidas no dia-a-dia das pessoas e como esse novo segmento da navegação fluvial vêm crescendo nas cidades e comunidades rurais. Palavras-chave: Navegação fluvial; Rapidez; Passageiro.

Abstract: The immense Amazon region where the transportation of passengers by waterways is more used presents different characteristics of the other regions of the country. River transport is responsible for locomotion of passengers and cargoes in the interior of the state of Amazonas. Faced with the transformations in the river transport sector, there are boats of the type fast boats to give even more dynamicity to the places. Because speed is the main characteristic, speedboats attract the attention of people who prefer to reach their destination faster. In this sense, trips that were previously

1 Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (PPGGEOG/UFAM). E-mail de contato: suzelefonseca.geo@gmail.com 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (PPGGEOG/UFAM). E-mail de contato: nogueiraricardo@uol.com.br

carried out in days through the traditional regional boats, begin to be realized in hours, breaking with the long trips. The speedboats are, therefore, vessels that are part of the new Amazonian reality. They differ from the other types of means of transport characteristic of the region, especially as regards the duration of travel. Another specific aspect is the passenger-only transport, unlike the regional ships that carry cargoes and passengers, known in this way as a means of mixed transport. The speedboats are gradually gaining ground in the Amazon river transport sector and because it is a subject that has been gaining prominence among researchers, this work intends to understand this sector so strategic for regional Amazonian development, besides analyzing the existing vessels, frequency, flow and purpose from the introduction of speedboats in the stretch that includes Agrovila do Caburi and the City of Parintins-AM. Parintins is a city in the interior of the state of Amazonas, near the border of the state of Pará, in the northern region of Brazil, located to the east, distancing itself about 369 km straight from Manaus state capital. According to data from the last census (2010) the municipality of Parintins has 102,033 inhabitants. Among the localities in its surroundings, stands out the Agrovila of the Caburi, with about 45 km of distance straight, located to the northwest of the city soothes of the municipality. For this work, field research was carried out to make observations in loco, having as study area the Port of Agrovila do Caburi, where the boats leave to make their daily trips. From the observations and trips on alternate days of the week, we can highlight factors that promote the importance of speedboats in people's daily lives and how this new segment of river navigation has been growing in cities and rural communities. Key-words: River navigation; Speed; Passenger.

1 – Introdução

O norte do Brasil, a região amazônica, é onde o transporte de passageiros por

hidrovias é mais utilizado atualmente. Enquanto a maior parte do país possui

rodovias distribuídas por diversas regiões, configurando um importante elo de

circulação entre estados, cidades e comunidades, a região amazônica difere-se das

outras pelo fato da mesma ser dotada de vias fluviais articuladoras e dinamizadoras

dos lugares, visto que “os rios são estradas obrigatórias” (TOCANTINS, p. 7, 1982).

Na região as rodovias servem mais como um complemento ao sistema de transporte

hidroviário. O transporte fluvial é o responsável pela locomoção da maioria dos

passageiros e de carga no interior do estado do Amazonas (BARBOSA, 2014).

No entanto, a navegação vem passando por transformações consideráveis no

ramo dos transportes. Os barcos regionais3 por muito tempo obtinham controle

absoluto em relação ao transporte fluvial na Amazônia. Essas embarcações

proporcionam a mobilidade aos habitantes da Amazônia e a existência de conexão

entre os comércios regionais entre as cidades, transportando, além de passageiros,

3 O barco regional é um transporte que faz parte da cultura amazônica, tem dia e hora preestabelecidos para a partida e para a chegada, um costume trazido de longas datas (PEREIRA, 2015).

os mais diversos tipos de mercadorias, como: alimentos, bebidas, vestuário,

eletrodomésticos, eletrônicos, produtos regionais (AGÊNCIA NACIONAL DE

TRANSPORTE AQUAVIÁRIOS – ANTAQ, 2013).

Como afirma Medeiros (2012) muitas vilas e povoados não existiriam caso

não houvesse a presença das embarcações em seus portos, freqüente e pontual

nas chegadas e saídas. Essas pequenas cidades do interior existiam e sobreviviam

porque eram abastecidos por esses barcos e navios, que escoavam a sua produção

e transportavam os seus passageiros. No entanto, quando se refere especificamente

à rapidez entre os lugares, um novo segmento da navegação vem ganhando

espaço, as lanchas rápidas. Isso significa dizer que há novas relações em relação a

rede urbana amazônica, no que diz respeito aos meios de transportes aquáticos

mais rápidos o que torna a rede urbana mais conectada. Corrêa (2006), ao

periodizar a rede urbana da Amazônia, destaca momentos em que as embarcações

eram importantes para a conexão entre cidades e especificamente as relações

comerciais. Para tanto, o papel atual das lanchas rápidas significa mais fluxo na rede

urbana atual no Estado do Amazonas.

Por sua vez, o conceito de rede, conforme Dias (2000) diz respeito à conexão

entre espaços-territórios partir dos fluxos (os fluxos de todo o tipo, de mercadorias,

de matéria-prima, de capitais etc.). São lugares de conexão, lugares de poder

(hierarquia), que vai desde a escala local-regional até a global. A rede não é isolada,

se relaciona com a urbanização (população e tecnificação), com a divisão territorial

do trabalho (indústria e serviços urbanos) e com a diferenciação entre cidades

(metropolização, hierarquia urbana e rede urbana). As redes geográficas, portanto,

além de conexão entre espaços-territórios são explorações econômicas, exercício

de poder pela sociedade (rede é a gestão do território que se exerce através dos

fluxos – circular e comunicar) (DIAS, 2000). No entendimento de Corrêa (2011), por

sua vez, a rede é social por ser uma construção humana, elaborada a partir das

relações sociais de toda ordem, principalmente relações de poder econômico

hierarquizado que se interligam, e é geográfica, devido a sua espacialidade, isto é,

pontos fixos no território que se interligam a partir de fluxos.

Para este trabalho realizou-se pesquisa de campo para fazer a observação in

loco, tendo como área de estudo o Porto da Agrovila do Caburi, local onde as

embarcações partem para realizar suas viagens com destino a cidade de Parintins.

A partir das observações e viagens em dias alternados da semana foi possível

evidenciar fatores que propiciam a importância das lanchas rápidas no dia-a-dia das

pessoas e como esse novo segmento da navegação fluvial vêm crescendo nas

cidades e comunidades rurais.

Dada a sua importância e por se tratar de uma temática que vem ganhando

destaque entre pesquisadores, este trabalho tem a pretensão de compreender esse

setor tão estratégico para o desenvolvimento regional amazônico, além de analisar a

frequência, fluxo e finalidade a partir da introdução das lanchas rápidas no trecho

que compreende a Agrovila do Caburi e a Cidade de Parintins-AM.

2 - Metodologia utilizada

No início da pesquisa realizou-se leitura bibliográfica. Esse levantamento

bibliográfico se faz imprescindível, pois tem a intenção de adquirir informações

teóricas necessárias para realização da pesquisa. A partir dessa etapa foi realizado

o reconhecimento da área, feita por meio do trabalho de campo, tendo como a

principal área de estudo o porto da Agrovila do Caburi, onde as embarcações partem

para o seu destino, a cidade de Parintins.

Para a coleta de dados foram realizadas algumas viagens em dias alternados

da semana e em diferentes embarcações. Durante as viagens verificou fatores

como: fluxos de passageiros, duração das viagens, comodidade. É importante

ressaltar que devido a ausência de literatura especializada, a maioria dos dados

apontados nessa pesquisa foram alcançados a partir de dados empíricos.

Os dados foram coletados e posteriormente organizados para realizar uma

análise crítica das observações, partindo do ponto de vista do investigador para de

forma discursiva descrevê-los embasados em autores que tratam da temática em

estudo, a fim de possibilitar uma melhor compreensão dos resultados da pesquisa.

3 - Localização e um breve histórico da Agrovila Do Caburi – AM

Parintins é uma cidade no interior do estado do Amazonas, próximo a divisa

do estado do Pará, na região Norte do Brasil. Localiza-se a leste, cerca de 369 km

em linha reta de Manaus capital do estado. Segundo dados do último censo (2010) o

município de Parintins possui 102.033 de habitantes. Dentre as comunidades que

estão localizadas em seu entorno destaca-se a Agrovila do Caburi.

A Agrovila do Caburi (Figura 01) está situada às margens do lago que recebe

o mesmo nome, localiza-se a noroeste da cidade sede do município (Parintins),

possui cerca de 45 km de distância em linha reta da referida cidade. A história da

Agrovila é contada por moradores antigos que narram a origem de seu nome.

Figura 01: Mapa de localização da Agrovila do Caburi

Fonte: CPRM (2010), IBGE (2010) Organizador: Azevedo Filho; Adaptado pelo autor, 2018.

De acordo com relatos de moradores a agrovila recebeu o nome de Caburi

em homenagem a um cabo chamado Ari que com aproximadamente 20 militares

entraram lago adentro em busca de aldeias para punir e prender índios responsáveis

pela morte de um militar chamado cabo Vilela. Ari e sua tropa foram emboscados

por índios das tribos do lago. Este fato ficou conhecido na região como “o caso do

lago Cabo Ari” que mais tarde o linguajar do povo foi transformando até ao que se

pronuncia hoje Caburi (RODRIGUES, 1993).

4 - O transporte fluvial na Agrovila do Caburi

De acordo com o Plano Hidroviário Estratégico (2013), do Ministério dos

Transportes, o transporte de passageiros por hidrovias apresenta uma maior

relevância no contexto regional/local, em geral, com passageiros sendo

transportados ao longo de distâncias curtas a partir de (e com destino a) cidades

localizadas nas proximidades dos rios.

A utilização dos rios como via de transporte sempre foi uma realidade na

história do estado do Amazonas. No passado, as embarcações eram movidas a

vapor, mas através do desenvolvimento tecnológico de máquinas e comunicações

possibilitaram a evolução das embarcações e a redução do tempo das viagens de

pessoas e cargas. Do barco a vapor para o motor de explosão e ainda a navegação

por instrumentos de alta tecnologia aumentaram não apenas a navegabilidade na

região, mas também maior capacidade de transporte e maior segurança durante as

viagens (BARBOSA, 2014). Cada segmento possui uma atuação territorial

específica, estando alguns disseminados em toda a Amazônia, outros apenas nas

calhas principais (NOGUEIRA, 2018).

Os dados a serem analisados nesse referido tópico, trata-se da

caracterização das embarcações pesquisadas a partir da Agrovila do Caburi com

destino à cidade de Parintins, abrangendo especificidades do transporte nesse

trecho, além de contribuições para as comunidades ribeirinhas vizinhas. Pois de

acordo com a ANTAQ (2013) o transporte fluvial é praticamente o único meio de

locomoção de baixo custo na região, nesse sentido, as embarcações hoje existentes

desempenham um papel social relevante para as localidades ribeirinhas servidas por

elas.

No respectivo segmento circulam 04 (quatro) embarcações que diariamente

saem do porto flutuante da Agrovila do Caburi (Figura 02). A capacidade de

passageiros que as lanchas rápidas comportam pouco se diferencia uma da outra

(Quadro 01).

Figura 02: Porto flutuante de Caburi.

Fonte: Acervo dos autores, 2019.

Embarcação Lanchas Rápidas

Capacidade de

Passageiros Saída Semanal

Valor da Passagem

(R$)

Heloíza 51 Qui/Sex 25,00

Lady Lú 51 Seg/Qui/Sex

25,00

Mãe Ana 50 Ter/Sab

25,00

Princesa do Caburi

48 Seg/Qua/Sex

25,00

Quadro 01: Nome das embarcações, capacidade, saídas e valor da passagem. Fonte: Pesquisa de campo, 2019.

Os dias da semana em que as lanchas realizam suas viagens são definidos,

cada embarcação já apresenta uma saída e retorno específico. Em alguns casos,

nada mais comum que a prática do acordo entre armadores para inúmeras linhas,

divisão dos dias da semana, como forma de manutenção da atividade. Quando

ocorre a coincidência dos dias de saída, acontece uma concorrência, constituindo

um verdadeiro leilão das passagens, reduzindo o preço das tarifas (NOGUEIRA,

1999). De acordo com Lima (1992), tarifa é um preço público fixado para cobrar do

usuário os serviços públicos prestados. É, da mesma maneira, um instrumento de

política de distribuição de renda, de ordenamento espacial, de distribuição de

demanda, e de comprometimento social. Nos portos é possível perceber que ainda

há ocorrência dessa técnica entre os proprietários das embarcações, o que se

percebe é que se for depender de uma regulamentação essa prática ainda se

perpetuará por muito tempo.

Para os passageiros que embarcam no porto da Agrovila do Caburi, o preço

da passagem já é definido pelos proprietários das embarcações. Para os moradores

que residem nas comunidades às margens do rio Amazonas, o preço cobrado pode

variar dependendo da distância que se encontra da cidade de Parintins.

Buscando conhecer a demanda de passageiros que são transportados pelos

rios da Amazônia através das embarcações lanchas rápidas compreendeu-se que

diferente de determinados lugares onde o transporte por lancha rápida apresenta

característica de percorrer somente entre seu lugar de partida e destino final, sem

fazer escalas em comunidades ribeirinhas, as embarcações, por sua vez, que

partem de Agrovila do Caburi todas realizam escalas em comunidades para

embarque ou desembarque de passageiros, particularidade bastante peculiar desse

trecho. Comunidades como São Sebastião do Boto e Vila Bentes compreendem o

determinado trajeto, que, portanto, são atendidas pelas lanchas rápidas. De acordo

com a ANTAQ (2013), o transporte de passageiros tem um cunho social de elevada

importância, tendo em vista que inúmeras comunidades e localidades não possuem

outra opção de transporte para se locomoverem, que não a fluvial.

5 – A importância das lanchas rápidas

Para as cidades e comunidades amazonenses as embarcações

desempenham um papel importante, são responsáveis, sobretudo para a vida das

pessoas, formam as redes entre cidades, fluxo de pessoas, alimentos, combustível,

informações, cultura e etc. Os barcos regionais conquistaram seu espaço na

navegação fluvial da região Amazônica e sua característica de levar pessoas e

cargas perdura ainda nos dias atuais. Entretanto, ainda com os avanços

tecnológicos o barco regional tornou-se lento. Entendemos que o mesmo,

desempenha uma função indispensável de levar cargas e pessoas de um lugar ao

outro, porém, abriu margem para o uso de outra embarcação que é menor e mais

veloz, as lanchas rápidas (Figura 03).

Figura 03: Embarcações do tipo lanchas rápidas na Agrovila do Caburi

Fonte: Acervo dos autores, 2018.

A introdução das lanchas rápidas mudou a capacidade de locomoção, bem

como alterou o estilo de viagem das pessoas, que passaram a optar pela

velocidade, rompendo com o que Santos (1999) chama de “tempo lento”, ou seja,

tempos que funcionam fora da lógica capitalista. As viagens nas lanchas são muito

mais rápidas, seu papel tornou-se importante à medida que o tempo das pessoas

também se tornou curto. Resolver problemas no mesmo dia mudando de cidade foi

possível principalmente a partir de sua introdução na navegação.

A introdução das lanchas rápidas entre a Agrovila de Caburi e a Cidade de

Parintins mudou a forma de locomoção, bem como alterou o estilo de viagem das

pessoas, que passaram a optar por sua velocidade4. Porém, outros atrativos

também são colocados para melhor estadia da população durante as viagens, entre

esses itens de atração podemos citar organização, estrutura e comodidade dos

passageiros (Figura 03), pois existe uma limitação na embarcação que é

rigorosamente obedecida (DAVID, 2010).

Figura 03: Interior da embarcação. Fonte: Acervo dos autores, 2018.

É possível perceber que as lanchas enfraqueceram o mercado dos barcos

regionais. O uso do barco regional neste trajeto específico se destaca mais no

transporte de cargas do que de passageiros, os mesmos continuam levando

produtos alimentícios, comerciais, de construção e regionais. As lanchas por outro

lado enfocam somente com o transporte de passageiros.

4 Por prezar a rapidez, uma viagem de Caburi a Parintins, por exemplo, que de barco dura aproximadamente 3 horas, pode ser feita em 1h e 30 mim em uma lancha. Com isso a lancha rápida se tornou o meio mais eficaz de viajar para as pessoas que têm presa para chegar ou que “não dispõe de dinheiro para usar a via aérea, mas que se dispõe a pagar um pouco mais para chegar mais rápido que o barco regional ao seu destino” (NOGUEIRA, 2018).

Para Harvey (1992) a transição para a acumulação flexível foi feita por meio da

rápida implantação de novas formas organizacionais e de novas tecnologias.

Sistemas aperfeiçoados de comunicação e de fluxo de informações, associados com

racionalizações nas técnicas de distribuição, possibilitaram a circulação de

mercadorias no mercado a uma velocidade maior. A introdução das lanchas rápidas

constitui algumas das inovações que possibilitaram a rapidez dos fluxos com

capacidades inovadoras de transformação. Haja vista que o transporte é um fator

primordial para a produção do espaço geográfico e está sujeito a constantes

transformações, ou seja, inovações nas suas técnicas (DAVID, 2010). Inovações

marcadas por novas condições de trabalho que marcam a sociedade. Harvey (1992)

explica essa experiência (espaço-tempo) na vida social esclarecendo os vínculos

materiais entre processos políticos econômicos e processos culturais.

7 - Conclusões

A navegação fluvial é o mais importante meio de locomoção de pessoas e

mercadorias na região amazônica, conectando as diversas cidades e comunidades.

Diante às transformações no setor de transporte fluvial, surge as lanchas rápidas

para dar ainda mais dinamicidade aos lugares. Por apresentar como principal

característica a rapidez, chamam a atenção dos passageiros que preferem chegar

mais rápido ao seu destino. Viagens que antes eram realizadas em dias através dos

barcos regionais, passam a ser realizadas em horas, sendo, portanto, realizado em

curto tempo.

No respectivo segmento, circulam 04 (quatro) embarcações de passageiros,

responsáveis por atender as necessidades de pessoas que cotidianamente

deslocam-se de um lugar a outro. Os dias da semana em que as lanchas realizam

suas viagens são definidos, cada embarcação já apresenta uma saída e retorno

específico. O valor da passagem para os passageiros que embarcam no porto da

Agrovila do Caburi, o preço também já é definido pelos proprietários das

embarcações. Para os moradores que residem nas comunidades às margens do rio

Amazonas, o preço cobrado pode variar dependendo da distância que se encontra

da cidade de Parintins.

Compreendeu-se que diferente de determinados lugares onde o transporte

por lancha rápida apresenta característica de percorrer somente entre seu lugar de

partida e destino final, sem fazer escalas em comunidades ribeirinhas, as

embarcações, por sua vez, que partem de Agrovila do Caburi todas realizam escalas

em comunidades para embarque ou desembarque de passageiros, particularidade

bastante peculiar desse trecho. Comunidades como São Sebastião do Boto e Vila

Bentes compreendem o determinado trajeto.

Deve ficar evidente que o principal diferencial entre as lanchas rápidas e os

barcos regionais é o tempo, pois estas embarcações que trafegam entre a Agrovila

de Caburi e a cidade de Parintins estão de certa forma rompendo com as longas

viagens. Os passageiros aos poucos estão se adaptando a essas novas

transformações no transporte fluvial, pois mesmo trazendo novidades para aqueles

que desejam chegar mais rápido, o tradicional ainda se faz muito presente na

comunidade. Os barcos regionais prestam um grande serviço à comunidade,

principalmente para os pequenos agricultores que necessitam levar sua produção

até a cidade de Parintins e assim garantir a sua própria renda e de sua família.

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