86
3451/2014 – ASJCONST/SAJ/PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF Relator: Ministro Marco Aurélio Requerentes: Associação Médica Brasileira (AMBR) Conselho Federal de Medicina (CFM) Interessados: Presidente da República Presidente da Câmara dos Deputados Presidente do Senado Federal Ação direta de inconstitucionalidade. Programa Mais Médicos (Medida Provisória 621/2013). I – Preliminares. Superveniência de conversão da medida provisória em lei. Ausência de adita- mento do pedido. Ausência de cópia da lei de conversão. Ausên- cia de procuração com poderes específicos. Ilegitimidade ativa do Conselho Federal de Medicina (CFM). II – Mérito. Presença dos requisitos de urgência e relevância da medida provisória. Inexistência de violação aos princípios da legalidade, do con- curso público, da isonomia, da licitação pública, do direito à saúde, dos direitos sociais dos trabalhadores, da autonomia uni- versitária e da proteção do mercado interno. Parecer pela inti- mação da Associação Médica Brasileira (AMBR) para regularização da petição inicial e da documentação anexa e, no mérito, pela improcedência do pedido. 1 RELATÓRIO Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, ajuizada contra o art. 7 o , I, II, e §§ 1 o , 2º e 3 o ; art. 9 o , I, II, III, e § 1 o ; art. 10, §§ 1 o , 2 o , 3 o e 4 o ; e art. 11 da Medida Provisória 621, de 8 de julho de 2013, que institui o Programa Mais Médicos e dá outras providências, posteriormente convertida na Lei 12.871, de 22 de outubro de 2013.

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Nº 3451/2014 – ASJCONST/SAJ/PGRAção Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DFRelator: Ministro Marco AurélioRequerentes: Associação Médica Brasileira (AMBR)

Conselho Federal de Medicina (CFM)Interessados: Presidente da República

Presidente da Câmara dos DeputadosPresidente do Senado Federal

Ação direta de inconstitucionalidade. Programa Mais Médicos(Medida Provisória 621/2013). I – Preliminares. Superveniênciade conversão da medida provisória em lei. Ausência de adita-mento do pedido. Ausência de cópia da lei de conversão. Ausên-cia de procuração com poderes específicos. Ilegitimidade ativado Conselho Federal de Medicina (CFM). II – Mérito. Presençados requisitos de urgência e relevância da medida provisória.Inexistência de violação aos princípios da legalidade, do con-curso público, da isonomia, da licitação pública, do direito àsaúde, dos direitos sociais dos trabalhadores, da autonomia uni-versitária e da proteção do mercado interno. Parecer pela inti-mação da Associação Médica Brasileira (AMBR) pararegularização da petição inicial e da documentação anexa e, nomérito, pela improcedência do pedido.

1 RELATÓRIO

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido

de medida cautelar, ajuizada contra o art. 7o, I, II, e §§ 1o, 2º e 3o;

art. 9o, I, II, III, e § 1o; art. 10, §§ 1o, 2o, 3o e 4o; e art. 11 da Medida

Provisória 621, de 8 de julho de 2013, que institui o Programa

Mais Médicos e dá outras providências, posteriormente convertida

na Lei 12.871, de 22 de outubro de 2013.

Page 2: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Eis o teor dos dispositivos impugnados:

CAPÍTULO IV – DO PROJETO MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL

Art. 7o Fica instituído, no âmbito do Programa Mais Médi-cos, o Projeto Mais Médicos para o Brasil, que será ofere-cido:I – aos médicos formados em instituições de educação supe-rior brasileiras ou com diploma revalidado no País; eII – aos médicos formados em instituições de educação su-perior estrangeiras, por meio de intercâmbio médico inter-nacional.§ 1o A seleção e ocupação das vagas ofertadas no âmbito doProjeto Mais Médicos para o Brasil observará a seguinte or-dem de prioridade:I – médicos formados em instituições de educação superiorbrasileiras ou com diploma revalidado no País;II – médicos brasileiros formados em instituições estrangei-ras com habilitação para exercício da medicina no exterior; eIII – médicos estrangeiros com habilitação para exercício demedicina no exterior.§ 2o Para fins do Projeto Mais Médicos para o Brasil, consi-dera-se:I – médico participante – médico intercambista ou médicoformado em instituição de educação superior brasileira oucom diploma revalidado; eII – médico intercambista – médico formado em instituiçãode educação superior estrangeira com habilitação para exer-cício da medicina no exterior.§ 3o A coordenação do Projeto Mais Médicos para o Brasilficará a cargo dos Ministérios da Educação e da Saúde, quedisciplinarão, por meio de ato conjunto dos Ministros de Es-tado da Educação e da Saúde, a forma de participação dasinstituições públicas de educação superior e as regras de fun-cionamento do Projeto, incluindo a carga horária, as hipóte-ses de afastamentos e os recessos.[…]Art. 9o Integram o Projeto Mais Médicos para o Brasil:

2

Page 3: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

I – o médico participante, que será submetido ao aperfeiçoa-mento profissional supervisionado;II – o supervisor, profissional médico responsável pela super-visão profissional contínua e permanente do médico; eIII – o tutor acadêmico, docente médico que será responsá-vel pela orientação acadêmica.§ 1o São condições para a participação do médico intercam-bista no Projeto Mais Médicos para o Brasil, conforme disci-plinado em ato conjunto dos Ministros de Estado daEducação e da Saúde:I – apresentar diploma expedido por instituição de educaçãosuperior estrangeira;II – apresentar habilitação para o exercício da medicina nopaís de sua formação; eIII – possuir conhecimentos de língua portuguesa.[…]Art. 10. O médico intercambista exercerá a medicina exclu-sivamente no âmbito das atividades de ensino, pesquisa e ex-tensão do Projeto Mais Médicos para o Brasil, dispensada,para tal fim, a revalidação de seu diploma nos termos do § 2o

do art. 48 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.§ 1o Fica vedado ao médico intercambista o exercício damedicina fora das atividades do Projeto Mais Médicos para oBrasil.§ 2o Para exercício da medicina pelo médico intercambistano âmbito do Projeto Mais Médicos para o Brasil será expe-dido registro provisório pelos Conselhos Regionais de Me-dicina.§ 3o A declaração de participação do médico intercambistano Projeto Mais Médicos para o Brasil, fornecida pela coor-denação do programa, é condição necessária e suficientepara a expedição de registro provisório pelos Conselhos Re-gionais de Medicina, não sendo aplicável o art. 99 da Lei nº6.815, de 19 de agosto de 1980, e o art. 17 da Lei nº 3.268,de 30 de setembro de 1957.§ 4o O registro provisório será expedido pelo Conselho Re-gional de Medicina no prazo de quinze dias, contado daapresentação do requerimento pela coordenação do pro-grama de aperfeiçoamento, e terá validade restrita à perma-

3

Page 4: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

nência do médico intercambista no Projeto Mais Médicospara o Brasil, nos termos do regulamento. […]Art. 11. As atividades desempenhadas no âmbito do ProjetoMais Médicos para o Brasil não criam vínculo empregatíciode qualquer natureza.

Os requerentes sustentam que a medida provisória incorre

nos seguintes vícios de inconstitucionalidade: (I) ausência dos re-

quisitos da relevância e da urgência; (II) violação ao direito à saúde;

(III) violação aos direitos sociais dos trabalhadores e ao princípio

do concurso público; (IV) violação ao princípio da isonomia;

(V) violação à autonomia universitária; (VI) dispensa de comprova-

ção de proficiência na língua portuguesa; (VII) violação ao princí-

pio da licitação pública e à proteção do mercado interno como

patrimônio nacional.

Em decisão de 31 de agosto de 2013, o Ministro Relator

adotou o rito do art. 12 da Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999,

e solicitou a prestação de informações pelos interessados, a mani-

festação da Advocacia-Geral da União e o parecer da Procura-

doria-Geral da República (peça eletrônica 31).

A Câmara dos Deputados limitou-se a informar que a maté-

ria foi processada pelo Congresso Nacional nos estritos trâmites

constitucionais e regimentais (peça eletrônica 44).

O Senado Federal, nas informações (peça eletrônica 50), sus-

tentou que a análise dos requisitos da relevância e urgência da me-

dida provisória compete ao Presidente da República e ao

Congresso Nacional, somente se admitindo o exame judicial na

4

Page 5: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

hipótese excepcional de abuso, que não estaria demonstrada. Argu-

mentou, ainda, que não estão presentes os requisitos necessários à

concessão da medida cautelar.

A Presidência da República, ao prestar informações (peça

eletrônica 46), descreveu resumidamente o Programa Mais Médi-

cos, no qual se insere o Projeto Mais Médicos para o Brasil, de que

trata a Medida Provisória 621/2013. Assentou a presença dos re-

quisitos da relevância e da urgência, além de apontar a inexistência

de qualquer erro grosseiro ou atributo inadequado que pudesse

configurar abuso de discricionariedade sujeito a controle judicial.

No ponto, mencionou decisão monocrática em que o Ministro

Ricardo Lewandowski indeferiu pedido de medida cautelar para

suspender a aplicação da Medida Provisória 621/2013 e da respec-

tiva regulamentação (Portaria Interministerial 1.369 e Decreto

8.040, ambos de 8/7/2013).1

No mérito, argumentou que a medida adotada pelo Governo

não viola o direito à saúde, visto que a participação dos médicos

no projeto depende de avaliação pessoal, presencial e inafastável, na

qual se aferem as condições técnicas e pessoais do participante, in-

cluindo o conhecimento da língua portuguesa. Frisou, ainda, que

os participantes devem comprovar a regular habilitação junto ao

órgão de fiscalização profissional do respectivo país de formação.

1 STF, Decisão monocrática, Medida Cautelar em Mandado de Segurança32.238-DF, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO, Decisão do Ministro Presi-dente em exercício RICARDO LEWANDOWSKI, 26/7/2013, Diário de Justiça ele-trônico 152, de 6 ago. 2013.

5

Page 6: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Quanto à suposta precarização dos direitos sociais do traba-

lho, sustentou que os requerentes não estabeleceram correlação ló-

gica razoável entre as alegações e as consequências do programa,

tratando-se de “inescondível preocupação corporativa” (página 11,

item 75). Alegou não haver violação ao princípio da isonomia

nem à autonomia universitária, haja vista que a norma impugnada

permite a avaliação material dos profissionais participantes, a fim

de garantir a qualidade do serviço prestado ao cidadão, com igual

ou maior eficiência do que o procedimento tradicional de revali-

dação de diplomas. Afirmou que o princípio da legalidade foi ob-

servado, em razão da força de lei da medida provisória. Afastou,

também, a alegação de inexigência de proficiência em língua por-

tuguesa, pois o programa prevê a avaliação do domínio do idioma

pelos participantes. Quanto à suposta ingerência na autonomia dos

conselhos de Medicina, aduziu não haver violação a nenhuma-

norma constitucional. No que tange ao princípio do concurso pú-

blico, sustentou tratar-se de programa de capacitação executado na

modalidade ensino-serviço, sem o provimento de cargo ou em-

prego público. Por fim, afirmou não se tratar de hipótese de tercei-

rização, de modo que não haveria terceirização ilícita.

Anexou, às informações, pareceres em que as Consultorias

Jurídicas dos Ministérios da Educação e da Saúde analisaram a

constitucionalidade do Projeto Mais Médicos para o Brasil, bem

como relatório de estatísticas sanitárias mundiais, elaborado pela

Organização Mundial da Saúde (OMS).

6

Page 7: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

A Advocacia-Geral da União, em sua manifestação (peça ele-

trônica 72), suscitou as seguintes preliminares: (I) irregularidade da

representação processual da Associação Médica Brasileira, que dei-

xou de juntar procuração com poderes específicos; e (II) ilegitimi-

dade ativa do Conselho Federal de Medicina.

Em seguida, teceu breves considerações sobre o Programa

Mais Médicos e sustentou a presença dos requisitos de relevância e

urgência da medida provisória. Afirmou a efetiva necessidade de

recrutamento de médicos estrangeiros, haja vista a baixa proporção

de médicos por habitantes e a má distribuição territorial desses

profissionais no Brasil, com base em diversos estudos sobre o as-

sunto. Ressaltou que foram realizadas diversas chamadas nacionais

para médicos brasileiros, as quais tiveram um número relativa-

mente baixo de adesões, resultando em 1.578 municípios não con-

templados, o que justificaria a ação governamental.

Sustentou que a revalidação do diploma obtido no exterior é

desnecessária, pois o projeto exige que o participante: (I) apresente

diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira

e habilitação para o exercício da medicina no país de formação; (II)

comprove conhecimentos na língua portuguesa, mediante avalia-

ção realizada por profissionais de universidades brasileiras (art. 9o);

(III) exerça a profissão no âmbito do projeto, sob permanente mo-

nitoramento de instituição acadêmica supervisora (arts. 7o a 16).

Argumentou que a revalidação de diplomas estrangeiros não é im-

posta pela Constituição, mas pela Lei 9.394, de 20 de dezembro de

7

Page 8: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

1996, que pode ser excepcionada por norma de mesma hierarquia.

Frisou, ainda, que os intercambistas não terão seus diplomas revali-

dados, estando autorizados a exercer a medicina exclusivamente no

âmbito das atividades de ensino, pesquisa e extensão do projeto.

Por fim, concluiu pela improcedência do pedido.

A Associação Médica Nacional Dra. Maíra Fachini (AMN-MF)

foi admitida na ação na qualidade de amicus curiae (peças eletrônicas 40

e 90).

Em 18 de setembro de 2013, a presente ação foi apensada à

Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.037, cujo objeto abrange

toda a medida provisória (peça eletrônica 54).

Em 22 de outubro de 2013, a Medida Provisória 621/2013

foi convertida na Lei 12.871.

O Ministro Relator designou audiência pública para os dias

25 e 26 de novembro de 2013, a fim de analisar vantagens e des-

vantagens da política pública. Após a realização da audiência, a

Procuradoria-Geral da República pediu vista dos autos, deferida

em 28 de novembro de 2013 (peças eletrônicas 94 e 95).

Em seguida, o Conselho Federal de Medicina (CFM) peticio-

nou pela juntada de documentos comprobatórios das irregularida-

des apontadas na petição inicial (peças eletrônicas 97-100).

2 PRELIMINARES

A medida provisória foi convertida na Lei 12.871, de 22 de

outubro de 2013, porém não consta dos autos pedido de adita-

8

Page 9: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

mento da inicial, o que pode implicar a prejudicialidade da ação,

conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA

1.699-41/1998 CONVERTIDA NA LEI 10.522/2002. FALTA DE

ADITAMENTO. PREJUDICIALIDADE. Impõe-se a prejudicialidade daação direta em consequência da omissão do Conselho Fede-ral da Ordem dos Advogados do Brasil em aditá-la por oca-sião da conversão da medida provisória em lei. Ação diretajulgada prejudicada.2

Tampouco foi juntada aos autos cópia da lei de conversão,

exigida pelo art. 3o, parágrafo único, da Lei 9.868, de 10 de no-

vembro de 1999.

Ademais, a Advocacia-Geral da União suscitou preliminar de

irregularidade da representação processual da Associação Médica

Brasileira (AMBR). A procuração constante dos autos contém po-

deres gerais para o foro (peça eletrônica 2), apesar de se exigir pro-

curação com poderes específicos para o ajuizamento de ação direta

de inconstitucionalidade.3

2 STF, Plenário, Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.922-DF, Relator:Ministro JOAQUIM BARBOSA, 28/3/2007, unânime, DJe 18, de 18 maio 2007;DJ de 18 maio 2007, p. 64; LexSTF, v. 29, n. 342, 2007, p. 58-67. Nomesmo sentido: STF, Plenário, Questão de Ordem em Agravo Regimentalem Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.588-DF, Relator: MinistroCELSO DE MELLO, 8/5/2002, unânime, DJe 210, de 23 out. 2013; STF, Ple-nário, Questão de Ordem em Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.334-DF, Relator: Ministro CELSO DE MELLO. 19/12/1995, unânime, DJ de 19dez. 2006, p. 35.

3 STF, Plenário, Questão de Ordem na Ação Direta de Inconstitucionalidade2.187-BA, Relator: Ministro OCTAVIO GALLOTTI, 24/5/2000, DJ de 12 dez.2003.

9

Page 10: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Por fim, a preliminar de ilegitimidade ativa do Conselho Fe-

deral de Medicina (CFM) deve ser acolhida, conforme entendi-

mento fixado em 1991:

LEGITIMIDADE – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE –CONSELHOS – AUTARQUIAS CORPORATIVISTAS. O rol do artigo103 da Constituição Federal é exaustivo quanto à legitima-ção para a propositura da ação direta de inconstitucionali-dade. Os denominados Conselhos, compreendidos nogênero “autarquia” e tidos como a consubstanciar a espéciecorporativista não se enquadram na previsão constitucionalrelativa às entidades de classe de âmbito nacional. Da Lei Bá-sica Federal exsurge a legitimação de Conselho único, ouseja, o Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Daí a ile-gitimidade “ad causam” do Conselho Federal de Farmácia ede todos os demais que tenham idêntica personalidade jurí-dica – de direito público.4

Desse modo, o CFM deve ser excluído do polo ativo da ação

e, em homenagem ao princípio da economia processual, propõe-se

a abertura de prazo à AMBR para suprir a irregularidade na repre-

sentação processual, juntar cópia da lei de conversão e, sendo o

caso, promover o aditamento da petição inicial.

3 INTRODUÇÃO

O Programa Mais Médicos foi instituído pela Medida Provi-

sória 621, de 8 de julho de 2013, convertida na Lei 12.871, de

22 de outubro de 2013, com a finalidade expressa de formar re-

cursos humanos na área médica para o Sistema Único de Saúde

(SUS). Dentre os objetivos do programa, destacam-se o de dimi-

4 STF, Plenário, Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade641-DF, Relator: Ministro NÉRI DA SILVEIRA, Relator para acórdão: MinistroMARCO AURÉLIO, 11/12/1991, maioria, DJ 12 mar. 1993, p. 3557.

10

Page 11: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

nuir a carência de médicos em diversas regiões brasileiras e o de

fortalecer a atenção básica em saúde, com foco na prevenção

(art. 1o, I e II). Para atingir esses objetivos, optou-se pelo aperfeiço-

amento de médicos na área de atenção básica em saúde, pela alte-

ração da estrutura da formação médica e pela reordenação da

oferta de cursos de Medicina e de vagas para residência médica.

Os principais problemas detectados pelo Governo na prestação

dos serviços de saúde no Brasil, a serem enfrentados pela política

pública, são: (I) a relativamente baixa proporção de médicos para

cada mil habitantes (1,8), em comparação com outros países; (II) a

má distribuição dos médicos atuantes nas regiões brasileiras; e (III) a

insuficiência da rede de atenção básica de saúde e a consequente so-

brecarga do SUS com atendimentos que poderiam ser evitados

com serviços de prevenção.

As informações constantes dos autos atestam essa realidade. Os

itens 11 a 13 da exposição de motivos da medida provisória dá conta

de que o Brasil possuía, em 2013, 359.691 médicos ativos, numa pro-

porção de 1,8 médicos para cada mil habitantes, segundo dados pri-

mários do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse valor é inferior ao de

países latino-americanos com perfil socioeconômico semelhante ao

Brasil e de países com sistemas universais de saúde, como o Canadá, o

Reino Unido, a Argentina, o Uruguai, Portugal, a Espanha e Cuba. O

valor utilizado como referência é o encontrado no Reino Unido (2,7

11

Page 12: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

médicos/1.000 habitantes), que, depois do Brasil, tem o maior sistema

de saúde público de caráter universal orientado pela atenção básica.

No item 14, a exposição de motivos demonstra a desigual

distribuição dos médicos nos Estados brasileiros, considerando os

dados de 2013. Os números indicam que o Distrito Federal e o

Rio de Janeiro contam com mais de três médicos para cada mil

habitantes, enquanto essa proporção é inferior a um nos Estados

do Acre, do Amapá, do Maranhão, do Pará e do Piauí.

A escassez e a má distribuição desses profissionais têm raiz, de

um lado, nos baixos índices de vagas nos cursos de graduação em

Medicina e, de outro, nas preferências pessoais dos médicos quanto

ao domicílio profissional e residencial, também motivadas pela estru-

tura e pelas condições de trabalho oferecidas. Desse modo, optou-se

por ampliar o número de vagas no curso de graduação, atrair médi-

cos estrangeiros com vistos temporários, definir regiões prioritárias

de atuação e estabelecer as especialidades médicas mais demandadas.

Além da preocupação quantitativa e distributiva relativa aos

profissionais, a medida buscou também fortalecer a prestação de

serviços na atenção básica em saúde (art. 1o, II, da Medida Provisó-

ria 621/2013 e da Lei 12.871/2013). Essa preocupação advém das

constatações de que há no Brasil muitas localidades desprovidas de

serviço básico de saúde e de que a atenção básica é capaz de solu-

cionar até 85% dos problemas de saúde, conforme itens 8 e 9 da

exposição de motivos da medida provisória:

12

Page 13: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

8. A expansão e a qualificação da atenção básica, organizadaspela estratégia de Saúde da Família, compõem parte do con-junto de prioridades apresentadas pelo Ministério da Saúde eaprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendopossível verificar que o Brasil avançou muito nas últimas déca-das nesta área. Entretanto, o país convive com muitos vaziosassistenciais, que correspondem a localidades que nãoconseguiram prover e fixar profissionais de saúde na aten-ção básica, em especial os médicos, não garantindo acesso aosserviços básicos de saúde por parte da população brasileira.9. Compreende-se que a atenção básica bem estruturadapossibilita a resolução de até 85% dos problemas desaúde, contribuindo assim para ordenar as Redes de Atençãoà Saúde – RAS e organizar a demanda para outros serviços,tais como os de urgência e emergência.

Em setembro de 1978, a então União Soviética recebeu a

Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde,

patrocinada conjuntamente pela Organização Mundial da Saúde

(OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),

cujos trabalhos culminaram na Declaração de Alma Ata, relativa aos

cuidados primários de saúde (primary health care), chamados no Brasil

de Atenção Básica. O item VI da declaração traz a seguinte definição:

VI – Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciaisde saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cienti-ficamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, co-locadas ao alcance universal de indivíduos e famílias dacomunidade, mediante sua plena participação e a um custoque a comunidade e o país possam manter em cada fase deseu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e auto-medicação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúdedo país, do qual constituem a função central e o foco princi-pal, quanto do desenvolvimento social e econômico globalda comunidade. Representam o primeiro nível de contatodos indivíduos, da família e da comunidade com o sis-tema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúdesão levados o mais proximamente possível aos lugares

13

Page 14: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiroelemento de um continuado processo de assistência à saúde.

O item VII adiciona outros elementos ao conceito:

VII – Os cuidados primários de saúde: […]2 – Têm em vista os principais problemas de saúde da comu-nidade, proporcionando serviços de proteção, cura e reabili-tação, conforme as necessidades.3 – Incluem pelo menos: educação, no tocante a problemasprevalecentes de saúde e aos métodos para sua prevenção econtrole, promoção da distribuição de alimentos e da nu-trição apropriada, previsão adequada de água de boa qua-lidade e saneamento básico, cuidados de saúde materno–infantil, inclusive planejamento familiar, imunização contraas principais doenças infecciosas, prevenção e controle dedoenças localmente endêmicas, tratamento apropriado dedoenças e lesões comuns e fornecimento de medicamen-tos essenciais. […]

Esses cuidados primários são tratados na Política Nacional de

Atenção Básica, atualmente disciplinada pela Portaria 2.488, de

21 de outubro de 2011, do Ministério da Saúde, cuja apresentação

traz o seguinte:

No Brasil, a Atenção Básica é desenvolvida com o mais altograu de descentralização e capilaridade, ocorrendo no localmais próximo da vida das pessoas. Ela deve ser o contato pre-ferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro decomunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Por isso,é fundamental que ela se oriente pelos princípios da univer-salidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade docuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização,da humanização, da equidade e da participação social.

Nesse contexto, o Projeto Mais Médicos para o Brasil prevê a

inclusão de conteúdos de atenção básica no primeiro módulo do

curso de aperfeiçoamento dos médicos participantes:

14

Page 15: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Lei 12.871/2013:Art. 14. O aperfeiçoamento dos médicos participantes ocor-rerá mediante oferta de curso de especialização por institui-ção pública de educação superior e envolverá atividades deensino, pesquisa e extensão que terão componente assisten-cial mediante integração ensino-serviço. […]§ 3o O primeiro módulo, designado acolhimento, terá dura-ção de 4 (quatro) semanas, será executado na modalidade pre-sencial, com carga horária mínima de 160 (cento e sessenta)horas, e contemplará conteúdo relacionado à legislação refe-rente ao sistema de saúde brasileiro, ao funcionamento e àsatribuições do SUS, notadamente da Atenção Básica emsaúde, aos protocolos clínicos de atendimentos definidos peloMinistério da Saúde, à língua portuguesa e ao código de éticamédica.

Uma das diretrizes do programa é a interiorização dos cuida-

dos médicos, por meio da definição das regiões prioritárias para o

SUS. Esse conceito é definido no art. 4o, III, da Portaria Intermi-

nisterial 1.369, de 8 de julho de 2013, dos Ministérios da Saúde e

da Educação, da seguinte maneira:

[…] áreas de difícil acesso, de difícil provimento de mé-dicos ou que possuam populações em situação de maiorvulnerabilidade, definidas com base nos critérios estabeleci-dos pela Portaria nº 1.377/GM/MS, de 13 de junho de2011, e que se enquadrem em pelo menos uma das seguintescondições: a) ter o Município 20% (vinte por cento) ou mais da populaçãovivendo em extrema pobreza, com base nos dados do Minis-tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),disponíveis no endereço eletrônico www.mds.gov.br/sagi; b) estar entre os 100 (cem) Municípios com mais de 80.000(oitenta mil) habitantes, com os mais baixos níveis de re-ceita pública “per capita” e alta vulnerabilidade social deseus habitantes;

15

Page 16: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

c) estar situado em área de atuação de Distrito SanitárioEspecial Indígena (DSEI/Sesai/MS), órgão integrante daEstrutura Regimental do Ministério da Saúde; ou d) estar em regiões censitárias 4 (quatro) e 5 (cinco) dosMunicípios, conforme Fundação Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE); […].

Desse modo, nota-se que a medida adotada busca intensificar

e interiorizar a atenção básica em saúde no Brasil, a fim de promo-

ver a realização do direito à saúde dos habitantes de localidades

distantes dos grandes centros e que, historicamente, não consegui-

ram fixar profissionais na área.

As políticas públicas encontram limites nos propósitos a que

se destinam, no conhecimento disponível sobre a realidade a ser

modificada e nas próprias condições materiais de sua execução. De

acordo com Maria das Graças Rua, no modelo incremental de

formulação de soluções para demandas sociais, a consciência das li-

mitações da política pública leva à adoção de programas experi-

mentais, temporários e graduais. Em suas palavras:

A experiência mostra que é impossível pensarmos a tomadade decisões fora de certos horizontes históricos, pois a aloca-ção de recursos é um processo contínuo e situado em umdado contexto. Ou seja, as decisões que precisamos tomarhoje, frequentemente, encontram-se condicionadas e limita-das pelo comprometimento de recursos que ocorreram emalgum momento do passado recente, seja pelo governo queestá no poder, seja por seus antecessores.Este fato faz com que somente pequenas parcelas de recursosestejam disponíveis e reduz as escolhas políticas a cursos deação que só permitem mudanças marginais, incrementais.Logo, mesmo que a longo prazo estas decisões de pequenoalcance e essas pequenas mudanças cheguem a se acumular e

16

Page 17: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

provocar grandes transformações, o processo de tomada dedecisão, em si próprio, limita-se àquilo que é possível de seralocado num momento preciso do tempo.Esta limitação é que imprime a característica de gradualidadeà tomada de decisões. Tipicamente, são decisões que se resu-mem a ajustes ou a medidas experimentais de curto alcanceno atendimento das demandas – envolvendo pequenas tenta-tivas que admitem o ensaio, o erro e a correção dos rumos. Esta abordagem, denominada incrementalismo, pode ser umaimportante estratégia para a adoção de políticas com altopotencial de conflito, ou políticas que implicam limitação derecursos ou de conhecimentos, de maneira a garantir melho-res condições para sua implementação. Por outro lado, a pró-pria implementação pode ser prejudicada pelo gradualismoincrementalista. Assim, a escolha do modelo é sempre umaquestão de estratégia.5

Nessa perspectiva, o Projeto Mais Médicos para o Brasil

busca trazer médicos para atuarem em caráter urgente, temporário

e preventivo, enquanto novas vagas de graduação e de residência

médica são criadas para ampliar o número de médicos formados

no país.

4 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DO PROCESSO

Antes da análise do mérito, cabe definir os limites jurídicos

do julgamento da presente ação direta de inconstitucionalidade,

cujo pedido é o de declaração de inconstitucionalidade de disposi-

5 RUA, Maria das Graças. Políticas públicas. Florianópolis: Departamento deCiências da Administração da Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC); Brasília: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior (CAPES); Universidade Aberta do Brasil (UAB), 2009, p. 90-91.Disponível em: <http://portal.virtual.ufpb.br/biblioteca-virtual/files/pub_1291087408.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2014.

17

Page 18: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

tivos da Medida Provisória 621, de 8 de julho de 2013, convertida

na Lei 12.871, de 22 de outubro de 2013.

Escapam ao julgamento desta ação as questões individuais e a

execução financeira do programa. Eventuais lesões ao direito de al-

gum médico participante, bem como as notícias de abandono do

programa por intercambistas, devem ser analisadas em ações indivi-

duais, ante a inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5o, XXXV, da

Constituição). Além disso, as questões atinentes à execução finan-

ceira do programa, incluindo o convênio celebrado pelo Brasil

com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), são de com-

petência do Tribunal de Contas da União.

Por fim, também não compete ao Supremo Tribunal Federal

discutir o acerto ou desacerto da política pública implementada

pelo Estado, cabendo-lhe apenas controlar a ação ou omissão do

Poder Público que contrariar os comandos constitucionais, con-

forme reflexão do Ministro Celso de Mello na decisão que profe-

riu na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 45:

[…] não posso deixar de reconhecer que a ação constitucio-nal em referência, considerado o contexto em exame, quali-fica-se como instrumento idôneo e apto a viabilizar aconcretização de políticas públicas, quando, previstas notexto da Carta Política, tal como sucede no caso (EC29/2000), venham a ser descumpridas, total ou parcialmente,pelas instâncias governamentais destinatárias do comandoinscrito na própria Constituição da República.Essa eminente atribuição conferida ao Supremo Tribunal Fe-deral põe em evidência, de modo particularmente expres-sivo, a dimensão política da jurisdição constitucionalconferida a esta Corte, que não pode demitir-se do gravís-

18

Page 19: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

simo encargo de tornar efetivos os direitos econômicos, so-ciais e culturais – que se identificam, enquanto direitos desegunda geração, com as liberdades positivas, reais ou con-cretas (RTJ 164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO) –, sobpena de o Poder Público, por violação positiva ou negativada Constituição, comprometer, de modo inaceitável, a inte-gridade da própria ordem constitucional: […]É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito dasfunções institucionais do Poder Judiciário – e nas desta Su-prema Corte, em especial – a atribuição de formular e deimplementar políticas públicas […], pois, nesse domínio, oencargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo eExecutivo.Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais,poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os ór-gãos estatais competentes, por descumprirem os encar-gos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem acomprometer, com tal comportamento, a eficácia e a in-tegridade de direitos individuais e/ou coletivos impreg-nados de estatura constitucional, ainda que derivados decláusulas revestidas de conteúdo programático.Cabe assinalar, presente esse contexto – consoante já procla-mou esta Suprema Corte – que o caráter programático dasregras inscritas no texto da Carta Política “não pode con-verter-se em promessa constitucional inconsequente, sobpena de o Poder Público, fraudando justas expectativas neledepositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima,o cumprimento de seu impostergável dever, por um gestoirresponsável de infidelidade governamental ao que deter-mina a própria Lei Fundamental do Estado” (RTJ, v. 175,p. 1212-1213, Relator: Ministro CELSO DE MELLO).6

O Estado adotou e implementou uma política pública de

saúde conforme determinadas diretrizes, cujo mérito envolve op-

ções políticas discricionárias, que competem ao Congresso Nacio-

nal, ao Presidente da República, aos Ministros de Estado das pastas

6 STF, Decisão monocrática, Arguição de Descumprimento de PreceitoFundamental 45-DF, Relator: Ministro CELSO DE MELLO, 29/4/2004, DJ de4 maio 2004, p. 12; RTJ, v. 200-201, p. 191 [grifou-se].

19

Page 20: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

envolvidas e à sociedade em geral. O que compete ao Supremo Tri-

bunal Federal decidir é a compatibilidade ou não dessa política com

a Constituição da República.

5 MÉRITO

O pedido deve ser julgado improcedente, declarando-se a

constitucionalidade da medida provisória e da respectiva lei de

conversão, conforme se demonstrará a seguir.

5.1 Relevância e urgência da medida provisória

Os requerentes sustentam que a medida provisória não apre-

senta os requisitos constitucionais da relevância e da urgência, visto

que a situação da gestão da saúde pública no Brasil advém da in-

competência e da ineficácia dos poderes públicos há décadas.

Cabe transcrever trecho da decisão monocrática proferida em

26 de julho de 2013 pelo Ministro Presidente em exercício Ri-

cardo Lewandowski no Mandado de Segurança 32.238, impetrado

pela Associação Médica Brasileira, ora autora, oportunidade em

que constatou a relevância e a urgência do Projeto Mais Médicos

para o Brasil:

Segundo consta do sítio eletrônico do Ministério da Saúde(http://saúde.gov.br), cuida-se de uma política pública, emfase de implementação, que já conta com a inscrição de2.552 municípios até esta quarta-feira, 24 de julho. Tal nú-mero representa 45,8% das cidades brasileiras, com maiorconcentração na região Nordeste.

20

Page 21: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Consta, ainda, que, dos 2.552 municípios inscritos, 34%(867) estão na região Nordeste, de maior vulnerabilidade so-cial e, portanto, são considerados prioritários. O Sudeste ins-creveu 652 municípios e o Sul, 620. Norte e Centro-Oesteregistraram 207 e 206, respectivamente. Do ponto de vista regional, de acordo com o diagnóstico daPasta, a situação é mais crítica: 22 estados estão abaixo damédia nacional, sendo que cinco têm menos de um médicopara cada grupo de mil habitantes.O prazo de inscrição de municípios ao Programa Mais Mé-dicos encerra-se hoje, 26 de julho.O escopo da iniciativa – conforme consigna o referido sítio –é o de levar mais médicos às regiões carentes, sobretudo nosmunicípios do interior e na periferia das grandes cidades,concentrando-se no setor da atenção básica. As autoridadessanitárias esclarecem que o programa em questão faz partede um esforço para a melhoria do atendimento aos usuáriosdo Sistema Único de Saúde (SUS) e para acelerar os investi-mentos em infraestrutura nos hospitais e unidades de saúde,além de ampliar o número de médicos nas áreas menos de-senvolvidas do País.O Ministério da Saúde, ao término do primeiro período deinscrições, ou seja, em 26 de julho, divulgará o número devagas existentes em cada município interessado. E, até o dia28 do mesmo mês, os médicos brasileiros que aderiram aoprograma poderão escolher os municípios onde pretendemtrabalhar. Em 1º de agosto o Ministério publicará a relação de médicoscom registro profissional no Brasil, que terão de confirmar asua participação e subscrever um termo de compromisso, até3 de agosto. Após dois dias, as opções serão confirmadas noDiário Oficial da União. As vagas restantes serão divulgadasem 6 de agosto. Nessa segunda etapa, o processo de escolhairá até 8 do mesmo mês e os resultados serão anunciados em13 de agosto.Os profissionais que atuarem no programa receberão umabolsa federal de R$ 10 mil, paga pelo Ministério da Saúde.Farão jus ainda a uma ajuda de custo. Além disso, frequenta-rão um curso de especialização em atenção básica, ao longodos três anos do programa. Em contrapartida, os municípios

21

Page 22: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

serão responsáveis pela moradia e alimentação dos médicos econtarão ainda com recursos do Ministério para construção,reforma e ampliação das unidades básicas.Os médicos brasileiros terão prioridade na escolha das vagas.Apenas aquelas que não forem preenchidas por profissionaisdo País é que serão oferecidas aos estrangeiros.Em que pesem os elevados propósitos da Associação MédicaBrasileira (AMB), dados revelados pelo Cadastro Geral deEmpregados e Desempregados (CAGED) demonstram que,de 2003 a 2011, o número de postos de emprego formal cri-ados para médicos supera, em 54 mil, o número de gradua-dos no Brasil. Em outras palavras, foram apenas 93 milformandos para uma demanda de 147 mil postos de trabalhomédico, ainda que a oferta de vagas para Medicina no Brasiltenha crescido 62,8% nos últimos dez anos, segundo infor-mações do Ministério da Saúde.É que o Brasil possui apenas 1,8 médicos para cada mil habi-tantes, desigualmente distribuídos por suas regiões, ao con-trário de outros países como a Argentina (3,2), Uruguai(3,7), Portugal (3,9), Espanha (4), Austrália (3), Itália (3,5),Alemanha (3,6) ou Reino Unido (2,7).Outro dado relevante divulgado pelo Ministério da Saúde arespeito dos médicos estrangeiros é que, enquanto no Brasil1,79% dos médicos formaram-se no exterior, na Inglaterra oíndice é de 40%, nos Estados Unidos da América, 25%, Ca-nadá, 17%, e Austrália, 22%.Vê-se, pois, que o ato impugnado configura uma políticapública da maior importância social, sobretudo ante a com-provada carência de recursos humanos na área médica noâmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, o cenárioindica, ao contrário do sugerido na inicial, a existência de pe-riculum in mora inverso, ou seja, o perigo na demora de fatoexiste, porém milita em favor da população.7

No que concerne à incompetência do Tribunal para exami-

nar os requisitos de relevância e urgência, prosseguiu o Ministro:

7 STF, Decisão monocrática, Medida Cautelar em Mandado de Segurança32.238-DF, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO, Decisão do Ministro Presi-dente em exercício RICARDO LEWANDOWSKI, 26/7/2013, DJe 152, de 6 ago.2013 [grifou-se].

22

Page 23: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Não compete à Suprema Corte, ademais, aferir se os requisi-tos de relevância e urgência para edição de medidas provisó-rias estão ou não presentes, salvo flagrante teratologia, desviode finalidade ou abuso de poder, pois se trata de competên-cia constitucionalmente atribuída ao Executivo e ao Legisla-tivo, os quais representam diretamente a soberania popular.E, em uma primeira análise, tais vícios não se afiguramevidentes no caso sob exame.Recordo que, quanto à alegada ofensa ao art. 62 da Consti-tuição, “esta Suprema Corte somente admite o exame jurisdicionaldo mérito dos requisitos de relevância e urgência na edição de me-dida provisória em casos excepcionalíssimos, em que a ausência des-ses pressupostos seja evidente” (ADI 2527-MC/DF, Rel. Min.Ellen Gracie) e em sede de controle abstrato de constitucio-nalidade. Na espécie, todavia, não me parece juridicamente possíveldiscutir, com certeza e liquidez, critérios políticos de re-levância e urgência, na via estreita do mandado de segurança,que, de resto, sequer admite dilação probatória. Isso porque,“não cabe a impetração de mandado de segurança objetivando asse-gurar direito líquido e certo (…) na hipótese de o ato coator apon-tado se confundir com a própria adoção de medida provisória.Situação análoga à impetração contra lei em tese (Súmula266/STF)” (MS 25.265-ED, Rel. Min. Joaquim Barbosa).Ante todo o exposto, indefiro o pedido de medida liminar,ante a ausência dos requisitos indispensáveis ao seu deferi-mento.8

Não se trata de hipótese de manifesto abuso do Poder Execu-

tivo na editação de medidas provisórias, de modo a ser incabível o

exame judicial dos requisitos de relevância e urgência.

Caso essa Corte entenda ser possível o controle judicial no

caso, a relevância e a urgência estão presentes. A relevância da ma-

téria advém do próprio objetivo do Programa Mais Médicos: a

prestação de serviços de atenção em saúde básica diretamente à

8 Idem; grifou-se.

23

Page 24: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

população, especialmente nas regiões definidas como prioritárias.

A realização do direito constitucional à saúde é indubitavelmente

relevante, especialmente se considerada a carência de profissionais

no âmbito do SUS e o foco na prevenção da saúde. A urgência é

comprovada pelos dados alarmantes da precariedade do atendi-

mento médico em milhares de municípios brasileiros.

5.2 Direito à saúde, exercício ilegal da Medicina e necessidade de revalidação de diploma estrangeiro

Os requerentes sustentam que a medida provisória viola o di-

reito à saúde, por admitir que estrangeiros e brasileiros formados

no exterior exerçam a Medicina no país, sem a revalidação do di-

ploma (arts. 7o, 9o e 10 da medida provisória, correspondentes aos

arts. 13, 15 e 16 da lei).

A Lei 3.268, de 30 de setembro de 1957, prevê que os médi-

cos somente estarão aptos ao exercício da profissão “após o prévio

registro de seus títulos, diplomas, certificados ou cartas no Ministé-

rio da Educação e Cultura e de sua inscrição no Conselho Regio-

nal de Medicina […]” (art. 17). A lei foi regulamentada pelo

Decreto 44.045, de 19 de julho de 1958, cujo art. 1o exige a ins-

crição no conselho que tenha jurisdição sobre a área de exercício

da atividade profissional.

O art. 2o, § 1o, “f ”, do decreto exige, no caso de estudo em

instituição estrangeira, a “prova de revalidação do diploma de for-

matura, de conformidade com a legislação em vigor […]”. A

24

Page 25: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

forma da revalidação é disciplinada no art. 48, § 2o, da Lei 9.394,

de 20 de dezembro de 1996:

Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,quando registrados, terão validade nacional como prova daformação recebida por seu titular. […]§ 2o Os diplomas de graduação expedidos por universidadesestrangeiras serão revalidados por universidades públicas quetenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respei-tando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou equi-paração. […]

Em primeiro lugar, a revalidação não constitui comando

constitucional, o que já seria suficiente para se argumentar pela

improcedência do pedido neste ponto. A regra tem fundamento

legal (art. 48, § 2o, da Lei 9.394/1996), de modo que pode ser ex-

cepcionada por norma de mesma hierarquia.

Ainda que se entenda que a questão transcende o ordena-

mento infraconstitucional e atinge o direito fundamental à liber-

dade profissional, não ocorre inconstitucionalidade no caso. A

revalidação do diploma estrangeiro prevista na Lei 9.394 tem o

propósito de permitir, ao seu portador, o exercício da profissão em

todo o território nacional, como se dispusesse de diploma brasi-

leiro. O Projeto Mais Médicos para o Brasil não prevê essa possibi-

lidade, mas sim a alocação dos médicos intercambistas

exclusivamente em atividades de ensino, pesquisa e extensão, em

áreas prioritárias para o SUS, na área de atenção básica em saúde,

conforme dispõe o art. 16 da Lei 12.871/2013:

Art. 16. O médico intercambista exercerá a Medicina exclu-sivamente no âmbito das atividades de ensino, pesquisa e ex-

25

Page 26: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

tensão do Projeto Mais Médicos para o Brasil, dispensada,para tal fim, nos 3 (três) primeiros anos de participação, a re-validação de seu diploma nos termos do § 2o do art. 48 daLei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

A norma é regulamentada pelo art. 2o do Decreto 8.126, de

22 de outubro de 2013, que reforça a vedação do exercício da

Medicina fora do âmbito do projeto:

Art. 2o O médico intercambista exercerá a medicina exclusi-vamente no âmbito do Projeto Mais Médicos para o Brasil,na forma do disposto no art. 16 da Lei nº 12.871, de 2013.Parágrafo único. A carteira de identificação do médico inter-cambista conterá mensagem expressa sobre a vedação aoexercício da medicina fora das atividades do ProjetoMais Médicos para o Brasil.

Além disso, a lei prevê que o médico intercambista estará su-

jeito à fiscalização do Conselho Regional de Medicina respectivo

(art. 16, § 5o).

Assim, conclui-se pela instituição de um regime jurídico es-

pecífico de admissão e alocação de médicos, mediante supervisão

permanente, por prazo determinado e sujeitos a fiscalização pelo

conselho profissional. Não é o caso de exigência da revalidação do

diploma estrangeiro, não havendo tampouco ofensa à Constitui-

ção.

5.3 Direitos sociais dos trabalhadores e princípio do concursopúblico

Os requerentes alegam que o Programa Mais Médicos viola

os direitos sociais dos trabalhadores, haja vista que não reconhece

26

Page 27: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

vínculo empregatício e não garante os direitos trabalhistas (art. 11

da medida provisória; art. 17 da lei, sem alterações). Indicam, ainda,

ofensa ao princípio do concurso público (art. 37, inciso II, da

Constituição).

Os arts. 11, 13 e 14 da medida provisória têm correspondên-

cia idêntica nos arts. 17, 19 e 20, respectivamente, da lei de conver-

são, que têm o seguinte teor:

Art. 17. As atividades desempenhadas no âmbito do ProjetoMais Médicos para o Brasil não criam vínculo empregatíciode qualquer natureza.[…]Art. 19. Os médicos integrantes do Projeto Mais Médicospara o Brasil poderão perceber bolsas nas seguintes modali-dades:I – bolsa-formação;II – bolsa-supervisão; eIII – bolsa-tutoria.§ 1o Além do disposto no caput, a União concederá ajuda decusto destinada a compensar as despesas de instalação domédico participante, que não poderá exceder a importânciacorrespondente ao valor de 3 (três) bolsas-formação.§ 2o É a União autorizada a custear despesas com desloca-mento dos médicos participantes e seus dependentes legais,conforme dispuser ato conjunto dos Ministros de Estado doPlanejamento, Orçamento e Gestão e da Saúde.§ 3o Os valores das bolsas e da ajuda de custo a serem conce-didas e suas condições de pagamento serão definidos em atoconjunto dos Ministros de Estado da Educação e da Saúde.Art. 20. O médico participante enquadra-se como seguradoobrigatório do Regime Geral de Previdência Social (RGPS),na condição de contribuinte individual, na forma da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.Parágrafo único. São ressalvados da obrigatoriedade de quetrata o caput os médicos intercambistas:

27

Page 28: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

I – selecionados por meio de instrumentos de cooperaçãocom organismos internacionais que prevejam cobertura se-curitária específica; ouII – filiados a regime de seguridade social em seu país deorigem, o qual mantenha acordo internacional de seguri-dade social com a República Federativa do Brasil.

De fato, o programa não poderia prever o reconhecimento

do vínculo empregatício dos médicos participantes, porque é ve-

dado à Administração contratá-los diretamente pelo regime cele-

tista (Constituição, art. 37, II e § 2o).

A contratação se dá em caráter temporário, para atender a ne-

cessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos

da Lei 8.745/1993, cujos arts. 2o e 4o foram alterados pela Lei

12.871/2013 (art. 33):

Art. 2o Considera-se necessidade temporária de excepcionalinteresse público: […]XI – admissão de professor para suprir demandas excepcio-nais decorrentes de programas e projetos de aperfeiçoa-mento de médicos na área de Atenção Básica em saúdeem regiões prioritárias para o Sistema Único de Saúde(SUS), mediante integração ensino-serviço, respeitados oslimites e as condições fixados em ato conjunto dos Ministrosde Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Saúdee da Educação.[…]Art. 4o As contratações serão feitas por tempo determinado,observados os seguintes prazos máximos: […]IV – 3 (três) anos, nos casos das alíneas “h” e “l” do incisoVI e dos incisos VII, VIII e XI do caput do art. 2o desta Lei;[…]Parágrafo único. É admitida a prorrogação dos contratos:V – no caso dos incisos VII e XI do caput do art. 2o, desdeque o prazo total não exceda 6 (seis) anos; […].

28

Page 29: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Assim, a natureza jurídica das contratações é a definida no in-

ciso IX do art. 37 da Constituição, que admite seleção simplificada

para as contratações de pessoal por tempo determinado, uma vez

demonstrada a necessidade temporária de excepcional interesse

público. O regime jurídico aplicável é o da Lei 8.745/1993, cujo

art. 11 assegura-lhes vários direitos dos servidores públicos civis fe-

derais, definidos na Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990:

Art. 11. Aplica-se ao pessoal contratado nos termos desta Leio disposto nos arts. 53 e 54; 57 a 59; 63 a 80; 97; 104 a 109;110, incisos I, in fine, e II, parágrafo único, a 115; 116, incisosI a V, alíneas a e c, VI a XII e parágrafo único; 117, incisos I aVI e IX a XVIII; 118 a 126; 127, incisos I, II e III, a 132, in-cisos I a VII, e IX a XIII; 136 a 142, incisos I, primeira parte,a III, e §§ 1o a 4o; 236; 238 a 242, da Lei nº 8.112, de 11 dedezembro de 1990.

Desse modo, não procede a alegação de ofensa aos direitos

sociais dos trabalhadores no caso em exame.

5.4 Princípio da isonomia

Os requerentes sustentam que a medida provisória violou o

princípio da isonomia ao admitir a atuação profissional de médicos

que não precisam se submeter aos mesmos requisitos e procedi-

mentos exigidos para os médicos formados no Brasil.

A máxima aristotélica segundo a qual “a igualdade consiste

em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais” é

ponto de partida para a obra O conteúdo jurídico do princípio da

igualdade, de Celso Antônio Bandeira de Mello, que indica quatro

29

Page 30: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

elementos para que um fator de discriminação legal seja compatí-

vel com o princípio da isonomia:

a) que a desequiparação não atinja, de modo atual e absoluto,um só indivíduo;b) que as situações ou pessoas desequiparadas pela regra dedireito sejam efetivamente distintas entre si, vale dizer, pos-suam características, traços, nelas residentes, diferençados;c) que exista, em abstrato, uma correlação lógica entre os fa-tores diferenciais existentes e a distinção de regime jurídicoem função deles, estabelecida pela norma jurídica;d) que, in concreto, o vínculo de correlação suprarreferido sejapertinente em função dos interesses constitucionalmenteprotegidos, isto é, resulte em diferenciação de tratamento ju-rídico fundada em razão valiosa – ao lume do texto consti-tucional – para o bem público.9

Os médicos inseridos no âmbito do Projeto Mais Médicos

para o Brasil encontram-se em situação nitidamente distinta da dos

demais médicos. A finalidade da sua atuação é bastante específica,

com foco especial nas regiões prioritárias para o Sistema Único de

Saúde (SUS) e na atenção básica, estando vinculados à coordena-

ção do programa.

Por sua vez, os médicos formados no exterior que passam

pelo processo da revalidação do diploma adquirem o direito subje-

tivo ao exercício da Medicina em todo o território nacional, sem

nenhuma vinculação ao governo. A permissão de atuação profissi-

onal, nesse caso, é evidentemente mais ampla do que aquela defe-

rida aos participantes do projeto em exame.

9 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igual-dade. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 41.

30

Page 31: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Além disso, a implementação da política pública em cotejo

pressupõe a carência e a desigual distribuição dos médicos nas re-

giões brasileiras, conforme se constata da própria lei:

Art. 1o É instituído o Programa Mais Médicos, com a finali-dade de formar recursos humanos na área médica para o Sis-tema Único de Saúde (SUS) e com os seguintes objetivos:I – diminuir a carência de médicos nas regiões prioritáriaspara o SUS, a fim de reduzir as desigualdades regionaisna área da saúde; […].

As diferenças socioeconômicas entre as regiões brasileiras são

expressamente reconhecidas no próprio texto constitucional, in-

clusive no âmbito da saúde (art. 198, § 3o, II):

Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da República Fe-derativa do Brasil: […]III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as de-sigualdades sociais e regionais;[…]Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articularsua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social,visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualda-des regionais.[…]Art. 165. […]§ 7o Os orçamentos previstos no § 5o, I e II, deste artigo,compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suasfunções a de reduzir desigualdades inter-regionais, se-gundo critério populacional.[…]Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização dotrabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurara todos existência digna, conforme os ditames da justiça so-cial, observados os seguintes princípios: […]VII – redução das desigualdades regionais e sociais;

31

Page 32: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

[…]Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integramuma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sis-tema único, organizado de acordo com as seguintes diretri-zes: […]§ 3o Lei complementar, que será reavaliada pelo menos acada cinco anos, estabelecerá: […]II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados àsaúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-nicípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municí-pios, objetivando a progressiva redução das disparidadesregionais; […].

Assim, identificam-se grandes desigualdades na promoção da

saúde no Brasil, o que justifica a adoção de política pública tendente

a corrigir ou ao menos reduzir essa distorção. Essa circunstância fá-

tica justifica um modelo diferenciado de seleção de profissionais

formados no exterior, com regime jurídico e direitos específicos,

distinções quanto às possibilidades de atuação profissional e diretri-

zes especiais para o trabalho a ser desempenhado.

Assim, não há violação ao princípio da isonomia.

Eventual discussão acerca da inadequação da política pública

implementada pelo Estado para enfrentar o problema identificado,

por referir-se a opções governamentais, extrapola os limites do jul-

gamento da presente ação direta, conforme já examinado no tó-

pico referente à delimitação de seu objeto.

5.5 Autonomia universitária

Os requerentes alegam que a medida provisória viola a auto-

nomia universitária na medida em que não exige a revalidação do

32

Page 33: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

diploma dos médicos formados em instituições de ensino estran-

geiras.

A alegação não procede. O art. 207 da Constituição dispõe:

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático--científica, administrativa e de gestão financeira e patrimo-nial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entreensino, pesquisa e extensão.

A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, com fundamento no

art. 22, XXIV, da Constituição, dispõe o seguinte a respeito da au-

tonomia universitária:

Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas àsuniversidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribui-ções:I – criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e progra-mas de educação superior previstos nesta Lei, obedecendoàs normas gerais da União e, quando for o caso, do respec-tivo sistema de ensino;II – fixar os currículos dos seus cursos e programas, obser-vadas as diretrizes gerais pertinentes; […].

As diretrizes nacionais curriculares no ensino superior são

definidas pela Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho

Nacional da Educação (CNE), conforme previsto nos arts. 6o, 7o e

9o da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada

pela Lei 9.131, de 24 de novembro de 1995:

Art. 6o […]§ 1o No desempenho de suas funções, o Ministério da Educa-ção e do Desporto contará com a colaboração do ConselhoNacional de Educação e das Câmaras que o compõem. […]

33

Page 34: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Art. 7o O Conselho Nacional de Educação, composto pe-las Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior,terá atribuições normativas, deliberativas e de assessora-mento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto,de forma a assegurar a participação da sociedade no aperfei-çoamento da educação nacional. […]Art. 9o As Câmaras emitirão pareceres e decidirão, privativae autonomamente, os assuntos a elas pertinentes, cabendo,quando for o caso, recurso ao Conselho Pleno. […]§ 2o São atribuições da Câmara de Educação Superior: […]c) deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas peloMinistério da Educação e do Desporto, para os cursos degraduação; […].10

Assim, as diretrizes curriculares nacionais do curso de gradua-

ção em Medicina foram definidas pela câmara no Parecer 1.133, de

7 de agosto de 2001, homologado pelo Ministro da Educação em

3 de outubro de 2001, e instituídas pela Resolução 4, de 7 de no-

vembro de 2001 (documentos anexos). A seguir, transcrevem-se os

dispositivos que interessam ao julgamento da presente ação:

Art. 6o Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduaçãoem Medicina devem estar relacionados com todo o processosaúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, inte-grado à realidade epidemiológica e profissional, proporcio-nando a integralidade das ações do cuidar em medicina.Devem contemplar:

I – conhecimento das bases moleculares e celulares dos pro-cessos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos,órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados aos problemas de suaprática e na forma como o médico o utiliza;

10 O art. 92 da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei9.394/1996) somente revogou os dispositivos da Lei 4.024/1961 que nãoforam alterados pela Lei 9.131/1995, de modo que permaneceram em vigoros arts. 6o, 7o, 8o e 9o da Lei 4.024/1961. O dispositivo estabelece: “Art. 92.Revogam-se as disposições das Leis ns. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e5.540, de 28 de novembro de 1968, não alteradas pelas Leis ns. 9.131, de 24de novembro de 1995, e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 […]”.

34

Page 35: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

II – compreensão dos determinantes sociais, culturais,comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais,nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença;

III – abordagem do processo saúde-doença do indivíduo eda população, em seus múltiplos aspectos de determinação,ocorrência e intervenção;

IV – compreensão e domínio da propedêutica médica – ca-pacidade de realizar história clínica, exame físico, conheci-mento fisiopatológico dos sinais e sintomas; capacidadereflexiva e compreensão ética, psicológica e humanísticada relação médico-paciente;

V – diagnóstico, prognóstico e conduta terapêutica nas doen-ças que acometem o ser humano em todas as fases do ciclobiológico, considerando-se os critérios da prevalência, letali-dade, potencial de prevenção e importância pedagógica; e

VI – promoção da saúde e compreensão dos processos fisio-lógicos dos seres humanos – gestação, nascimento, cresci-mento e desenvolvimento, envelhecimento e do processo demorte, atividades físicas, desportivas e as relacionadas aomeio social e ambiental.

Art. 7o A formação do médico incluirá, como etapa inte-grante da graduação, estágio curricular obrigatório detreinamento em serviço, em regime de internato, em servi-ços próprios ou conveniados, e sob supervisão direta dos do-centes da própria Escola/Faculdade. A carga horária mínimado estágio curricular deverá atingir 35% (trinta e cinco porcento) da carga horária total do Curso de Graduação em Me-dicina proposto, com base no Parecer/Resolução específicoda Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional deEducação. […]

Art. 12. A estrutura do Curso de Graduação em Medicinadeve: […]

III – incluir dimensões éticas e humanísticas, desenvol-vendo no aluno atitudes e valores orientados para a cida-dania; […]

V – inserir o aluno precocemente em atividades práticasrelevantes para a sua futura vida profissional; VI – utilizar diferentes cenários de ensino-aprendizagempermitindo ao aluno conhecer e vivenciar situações varia-

35

Page 36: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

das de vida, da organização da prática e do trabalho emequipe multiprofissional; VII – propiciar a interação ativa do aluno com usuários eprofissionais de saúde desde o início de sua formação, pro-porcionando ao aluno lidar com problemas reais, assumindoresponsabilidades crescentes como agente prestador de cui-dados e atenção, compatíveis com seu grau de autonomia,que se consolida na graduação com o internato; eVIII – vincular, através da integração ensino-serviço, a for-mação médico-acadêmica às necessidades sociais da saúde,com ênfase no SUS.

A formação dos médicos no Brasil tem uma perspectiva hu-

manística, ética e social, que envolve uma reflexão crítica e con-

textualizada, além dos conhecimentos técnico-científicos inerentes

à profissão. Desse modo, constata-se que a autonomia universitária

para a organização curricular e programática dos cursos de gradua-

ção em Medicina já se encontrava limitada pelas diretrizes gerais

estabelecidas em 2001 pela Câmara de Educação Superior.

De qualquer forma, nada impede que a União, via medida

provisória e respectiva lei de conversão, institua diretrizes curricu-

lares específicas para o curso de Medicina, delegue competências

gerenciais ao Ministro da Educação – gestor executivo por exce-

lência da Pasta – e determine a adequação das instituições de en-

sino superior às novas regras.

Desse modo, a imposição pelo Estado de novos requisitos

curriculares não viola o texto constitucional. Quanto à dispensa de

revalidação do diploma emitido por instituição estrangeira, re-

mete-se a tópico anterior, referente ao direito à saúde, ao exercício

36

Page 37: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

ilegal da Medicina e à necessidade de revalidação de diploma es-

trangeiro.

5.6 Princípio da legalidade e comprovação de proficiência na língua portuguesa

Os requerentes sustentam que a norma permite a participa-

ção de médicos intercambistas que possuam meros conhecimentos

na língua portuguesa (art. 9o, § 1o, III), sem exigir um adequado ní-

vel de proficiência. Sustentam que a Resolução 1.831, de 24 de ja-

neiro de 2008, do Conselho Federal de Medicina (CFM) exige

que o médico com diploma de graduação obtido em universidade

estrangeira apresente o Certificado de Proficiência em Língua

Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), disciplinado na Portaria

1.350, de 25 de novembro de 2010, do Ministério da Educação.

O Programa Mais Médicos exige que o médico participante

tenha domínio da língua portuguesa, dedicando parte do primeiro

módulo do curso de aperfeiçoamento ao estudo do idioma:

Art. 14. O aperfeiçoamento dos médicos participantes ocor-rerá mediante oferta de curso de especialização por institui-ção pública de educação superior e envolverá atividades deensino, pesquisa e extensão que terão componente assisten-cial mediante integração ensino-serviço. […]§ 3o O primeiro módulo, designado acolhimento, terá dura-ção de 4 (quatro) semanas, será executado na modalidade pre-sencial, com carga horária mínima de 160 (cento e sessenta)horas, e contemplará conteúdo relacionado à legislação refe-rente ao sistema de saúde brasileiro, ao funcionamento e àsatribuições do SUS, notadamente da Atenção Básica emsaúde, aos protocolos clínicos de atendimentos definidos pelo

37

Page 38: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Ministério da Saúde, à língua portuguesa e ao código deética médica. Art. 15. […].§ 1o São condições para a participação do médico intercam-bista no Projeto Mais Médicos para o Brasil, conforme disci-plinado em ato conjunto dos Ministros de Estado daEducação e da Saúde: […]III – possuir conhecimento em língua portuguesa, regrasde organização do SUS e protocolos e diretrizes clínicas noâmbito da Atenção Básica.

A não demonstração de conhecimentos suficientes para a

atuação do médico estrangeiro enseja a reprovação do candidato e

a sua inadmissão no programa.

Ademais, não há inconstitucionalidade no caso, pois uma

norma de hierarquia superior (a lei) regulou de forma especial um

assunto tratado de forma diversa em norma de hierarquia inferior

(Resolução do CFM). O conflito é resolvido por meio do princí-

pio da hierarquia normativa.

5.7 Licitação pública e mercado interno

Os requerentes sustentam, por fim, que o intercâmbio de mé-

dicos estrangeiros viola o princípio da licitação, previsto no art. 37,

XXI, da Constituição, bem como a proteção do mercado interno

como patrimônio nacional.

A respeito da forma de contratação dos médicos formados no

exterior, remete-se ao tópico referente aos direitos sociais dos tra-

balhadores e ao princípio do concurso público, no qual se discorre

sobre o regime jurídico a que esses profissionais estão submetidos.

38

Page 39: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

Além disso, é inviável a alegação de ofensa ao princípio da licita-

ção, por se tratar de contratação, em caráter temporário, de profis-

sionais estrangeiros, nos termos da Lei 8.745/1993, não se

aplicando a Lei 8.666, de 21 de junho de 1993.

Em relação à proteção do mercado interno, o art. 219 da

Constituição dispõe o seguinte:

Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacionale será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimentocultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a au-tonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.

Claudia Lima Marques, em estudo específico sobre o teor

desse dispositivo, afirma que se trata de “um dos mais enigmáticos,

instigantes e polêmicos artigos da Constituição”, sendo criticado

por sua localização sistemática, por seu texto e contexto e por sua

função normativa.11

Sem adentrar a discussão do conceito de mercado interno e

das diversas interpretações dadas a esse artigo, é correto afirmar

que a Constituição não proíbe que cidadãos estrangeiros partici-

pem da vida política, econômica e social do Brasil.

Pelo contrário, aos estrangeiros são assegurados vários direitos,

incluindo os direitos fundamentais (art. 5o, caput), a naturalização

(art. 12), o acesso a cargos, empregos e funções públicas, na forma

da lei (art. 37, I), a aquisição ou arrendamento de propriedade ru-

11 MARQUES, Claudia Lima. Comentário ao art. 219. In: CANOTILHO, J. J. Go-mes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Co-mentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva; Almedina, 2013,p. 2023.

39

Page 40: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

ral, na forma da lei (art. 190), o exercício da docência em universi-

dades brasileiras (art. 207, § 1o) e a adoção (art. 227, § 5o).

Especificamente quanto ao mercado, a Constituição é clara

ao definir que a economia brasileira é aberta, admitindo, por

exemplo, a importação de produtos (arts. 149, § 2o, II, 153, I, e 195,

IV, dentre outros), a participação do capital estrangeiro nas ativida-

des econômicas, financeiras e jornalísticas, bem como a remessa de

lucros, na forma da lei (arts. 172, 192 e 222, § 4o) e o transporte de

mercadorias por embarcações estrangeiras (art. 178, parágrafo

único).

Desse modo, é evidente que a disposição do art. 219 da

Constituição não é suficiente para se concluir pela reserva de mer-

cado profissional em detrimento da contratação de médicos es-

trangeiros para exercerem atividades nas áreas da educação e da

saúde no país. Ao contrário, esse intercâmbio profissional é admi-

tido, conforme se depreende dos arts. 37, I, e 207, § 1o, da Consti-

tuição, com a redação dada pelas Emendas Constitucionais 11, de

30 de abril de 1996, e 19, de 4 de junho de 1998:

Art. 37. […]I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aosbrasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei,assim como aos estrangeiros, na forma da lei; […]Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático--científica, administrativa e de gestão financeira e patrimo-nial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entreensino, pesquisa e extensão.§ 1o É facultado às universidades admitir professores, técni-cos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.

40

Page 41: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PGR Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.035-DF

A Constituição deve ser lida em conjunto e em harmonia,

evitando-se interpretações que levem à sua fragmentação e à con-

figuração de contradições internas. Portanto, não procede a alega-

ção de ofensa ao art. 219.

6 CONCLUSÃO

Ante o exposto, o parecer é pela intimação da Associação Mé-

dica Brasileira (AMBR) para regularização da petição inicial e da do-

cumentação anexa e, no mérito, pela improcedência total do pedido,

declarando-se a constitucionalidade da Lei 12.871, de 22 de outubro

de 2013, oriunda da conversão da Medida Provisória 621, de 8 de

julho de 2013.

Brasília (DF), 28 de maio de 2014.

Rodrigo Janot Monteiro de BarrosProcurador-Geral da República

RJMB/AMJ

41

Page 42: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

PARECER HOMOLOGADO(*)(*) Despacho do Ministro, publicado no Diário Oficial da União de 3/10/2001

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOCONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior

UF: DF

ASSUNTO: Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição.CONSELHEIRO(S): Éfrem de Aguiar Maranhão (Relator), Arthur Roquete de Macedo e Yugo Okida.PROCESSO(S) Nº(S): 23001.000245/2001-11

PARECER Nº:CNE/CES 1.133/2001

COLEGIADOCES

APROVADO EM: 7/8/2001

I – RELATÓRIO

• Histórico

A Comissão da CES/CNE analisou as propostas de Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação da área de Saúde elaboradas pelas Comissões de Especialistas de Ensino e encaminhadas pela SESu/MEC ao CNE, tendo como referência os seguintes documentos:

Constituição Federal de 1988; Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde Nº 8.080 de 19/9/1990; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Nº 9.394 de 20/12/1996; Lei que aprova o Plano Nacional de Educação Nº 10.172 de 9/1/2001; Parecer CES/CNE 776/97 de 3/12/1997; Edital da SESu/MEC Nº 4/97 de 10/12/1997; Parecer CES/CNE 583/2001 de 4/4/2001; Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI da Conferência

Mundial sobre o Ensino Superior, UNESCO: Paris, 1998; Relatório Final da 11ª Conferência Nacional de Saúde realizada de 15 a

19/12/2000; Plano Nacional de Graduação do ForGRAD de maio/1999; Documentos da OPAS, OMS e Rede UNIDA; Instrumentos legais que regulamentam o exercício das profissões da saúde.

Após a análise das propostas, a Comissão, visando o aperfeiçoamento das mesmas, incorporou aspectos fundamentais expressos nos documentos supramencionados e adotou formato, preconizado pelo Parecer CES/CNE 583/2001, para as áreas de conhecimento que integram a saúde:

Page 43: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Perfil do Formando Egresso/Profissional Competências e Habilidades Conteúdos Curriculares Estágios e Atividades Complementares Organização do Curso Acompanhamento e Avaliação

Essas propostas revisadas foram apresentadas pelos Conselheiros que integram a Comissão da CES aos representantes do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Saúde, da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação e do Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras e aos Presidentes dos Conselhos Profissionais, Presidentes de Associações de Ensino e Presidentes das Comissões de Especialistas de Ensino da SESu/MEC na audiência pública, ocorrida em Brasília, na sede do CNE, em 26 de junho do corrente ano.

• Mérito

A Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, ao orientar as novas diretrizes curriculares recomenda que devem ser contemplados elementos de fundamentação essencial em cada área do conhecimento, campo do saber ou profissão, visando promover no estudante a competência do desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente. Esta competência permite a continuidade do processo de formação acadêmica e/ou profissional, que não termina com a concessão do diploma de graduação.

As diretrizes curriculares constituem orientações para a elaboração dos currículos que devem ser necessariamente adotadas por todas as instituições de ensino superior. Dentro da perspectiva de assegurar a flexibilidade, a diversidade e a qualidade da formação oferecida aos estudantes, as diretrizes devem estimular o abandono das concepções antigas e herméticas das grades (prisões) curriculares, de atuarem, muitas vezes, como meros instrumentos de transmissão de conhecimento e informações, e garantir uma sólida formação básica, preparando o futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional.

Princípios das Diretrizes Curriculares:

Assegurar às instituições de ensino superior ampla liberdade na composição da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como na especificação das unidades de estudos a serem ministradas;

Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendizagem que comporão os currículos, evitando, ao máximo, a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias pré-determinadas, as quais não poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos. A Comissão da CES, baseada neste princípio, admite a definição de percentuais da carga horária para os estágios curriculares nas Diretrizes Curriculares da Saúde;

Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação; Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a

superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa;

2

Page 44: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva autonomia intelectual e profissional;

Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência profissional julgada relevante para a área de formação considerada;

Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão;

Incluir orientações para a conclusão de avaliações periódicas que utilizem instrumentos variados e sirvam para informar às instituições, aos docentes e aos discentes acerca do desenvolvimento das atividades do processo ensino-aprendizagem.

Além destes pontos, a Comissão reforçou nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Saúde a articulação entre a Educação Superior e a Saúde, objetivando a formação geral e específica dos egressos/profissionais com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, indicando as competências comuns gerais para esse perfil de formação contemporânea dentro de referenciais nacionais e internacionais de qualidade.

Desta forma, o conceito de saúde e os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) são elementos fundamentais a serem enfatizados nessa articulação.

Saúde: conceito, princípios, diretrizes e objetivos:

A saúde é direito de todos e dever do estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Artigo 196 da Constituição Federal de 1988);

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes (Artigo 198 da Constituição Federal de 1988):

I – descentralização;II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III – participação da comunidade.

O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). (Artigo 4º da Lei 8.080/90). Parágrafo 2º deste Artigo: A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar.

São objetivos do Sistema Único de Saúde (Artigo 5º da Lei 8.080/90):I – a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;II – a formulação de política de saúde;III – a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios (Artigo 7º da Lei 8.080/90):

I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

3

Page 45: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;VII – utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de

recursos e a orientação programática;X – integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico;XII – capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência.

Com base no exposto, definiu-se o objeto e o objetivo das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação da Saúde:

Objeto das Diretrizes Curriculares: permitir que os currículos propostos possam construir perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos, dentro de perspectivas e abordagens contemporâneas de formação pertinentes e compatíveis com referencias nacionais e internacionais, capazes de atuar com qualidade, eficiência e resolutividade, no Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o processo da Reforma Sanitária Brasileira.

Objetivo das Diretrizes Curriculares: levar os alunos dos cursos de graduação em

saúde a aprender a aprender que engloba aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a conhecer, garantindo a capacitação de profissionais com autonomia e discernimento para assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e comunidades.

• DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE GRADUAÇÃO

EM ENFERMAGEM

1. PERFIL DO FORMANDO EGRESSO/PROFISSIONAL

Enfermeiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Profissional qualificado para o exercício de Enfermagem, com base no rigor científico e intelectual e pautado em princípios éticos. Capaz de conhecer e intervir sobre os problemas/situações de saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-sociais dos seus determinantes. Capacitado a atuar, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

Enfermeiro com Licenciatura em Enfermagem capacitado para atuar na Educação Básica e na Educação Profissional em Enfermagem.

2. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

Competências Gerais:• Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional,

devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade

4

Page 46: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

• Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

• Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

• Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

• Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativa, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a ser empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

• Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

Competências e Habilidades Específicas:

O Enfermeiro deve possuir, também, competências técnico-científicas, ético-políticas, sócio-educativas contextualizadas que permitam:

• atuar profissionalmente, compreendendo a natureza humana em suas dimensões, em suas expressões e fases evolutivas;

• incorporar a ciência/arte do cuidar como instrumento de interpretação profissional;• estabelecer novas relações com o contexto social, reconhecendo a estrutura e as

formas de organização social, suas transformações e expressões;• desenvolver formação técnico-científica que confira qualidade ao exercício

profissional;• compreender a política de saúde no contexto das políticas sociais, reconhecendo os

perfis epidemiológicos das populações;• reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de forma a

garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

5

Page 47: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• atuar nos programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente, da mulher, do adulto e do idoso;

• ser capaz de diagnosticar e solucionar problemas de saúde, de comunicar-se, de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe e de enfrentar situações em constante mudança;

• reconhecer as relações de trabalho e sua influência na saúde;• atuar como sujeito no processo de formação de recursos humanos;• responder às especificidades regionais de saúde através de intervenções planejadas

estrategicamente, em níveis de promoção, prevenção e reabilitação à saúde, dando atenção integral à saúde dos indivíduos, das famílias e das comunidades;

• reconhecer-se como coordenador do trabalho da equipe de enfermagem;• assumir o compromisso ético, humanístico e social com o trabalho

multiprofissional em saúde.• promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus

clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social;

• usar adequadamente novas tecnologias, tanto de informação e comunicação, quanto de ponta para o cuidar de enfermagem;

• atuar nos diferentes cenários da prática profissional, considerando os pressupostos dos modelos clínico e epidemiológico;

• identificar as necessidades individuais e coletivas de saúde da população, seus condicionantes e determinantes;

• intervir no processo de saúde-doença, responsabilizando-se pela qualidade da assistência/cuidado de enfermagem em seus diferentes níveis de atenção à saúde, com ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência;

• coordenar o processo de cuidar em enfermagem considerando contextos e demandas de saúde;

• prestar cuidados de enfermagem compatíveis com as diferentes necessidades apresentadas pelo indivíduo, pela família e pelos diferentes grupos da comunidade;

• compatibilizar as características profissionais dos agentes da equipe de enfermagem às diferentes demandas dos usuários;

• integrar as ações de enfermagem às ações multiprofissionais;• gerenciar o processo de trabalho em enfermagem com princípios de Ética e de

Bioética, com resolutividade tanto em nível individual como coletivo em todos os âmbitos de atuação profissional;

• planejar, implementar e participar dos programas de formação e qualificação contínua dos trabalhadores de enfermagem e de saúde;

• planejar e implementar programas de educação e promoção à saúde, considerando a especificidade dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento;

• desenvolver, participar e aplicar pesquisas e/ou outras formas de produção de conhecimento que objetivem a qualificação da prática profissional;

• respeitar os princípios éticos, legais e humanísticos da profissão;• interferir na dinâmica de trabalho institucional, reconhecendo-se como agente desse

processo;• utilizar os instrumentos que garantam a qualidade do cuidado de enfermagem e da

assistência à saúde;

6

Page 48: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• participar da composição das estruturas consultivas e deliberativas do sistema de saúde;

• assessorar órgãos, empresas e instituições em projetos de saúde;• cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como

enfermeiro;• reconhecer o papel social do enfermeiro para atuar em atividades de política e

planejamento em saúde.

A formação do Enfermeiro deve atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS), e assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento.

3. CONTEÚDOS CURRICULARES

Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Enfermagem devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em enfermagem. Os conteúdos devem contemplar:• Ciências Biológicas e da Saúde – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base

moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados às situações decorrentes do processo saúde-doença no desenvolvimento da prática assistencial de Enfermagem.

• Ciências Humanas e Sociais – incluem-se os conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença.

• Ciências da Enfermagem - neste tópico de estudo, incluem-se:• Fundamentos de Enfermagem: os conteúdos técnicos, metodológicos e os meios

e instrumentos inerentes ao trabalho do Enfermeiro e da Enfermagem em nível individual e coletivo.

• Assistência de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) que compõem a assistência de Enfermagem em nível individual e coletivo prestada à criança, ao adolescente, ao adulto, à mulher e ao idoso, considerando os determinantes sócio-culturais, econômicos e ecológicos do processo saúde-doença, bem como os princípios éticos, legais e humanísticos inerentes ao cuidado de Enfermagem.

• Administração de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) da administração do processo de trabalho de enfermagem e da assistência de enfermagem.

• Ensino de Enfermagem: os conteúdos pertinentes à capacitação pedagógica do enfermeiro, independente da Licenciatura em Enfermagem.

Os conteúdos curriculares, as competências e as habilidades a serem assimilados e adquiridos no nível de graduação do enfermeiro devem conferir-lhe terminalidade e capacidade acadêmica e/ou profissional, considerando as demandas e necessidades prevalentes e prioritárias da população conforme o quadro epidemiológico do país/região.

Este conjunto de competências deve promover no aluno e no enfermeiro a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente.

7

Page 49: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

4. ESTÁGIOS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES

• Estágio Curricular:Na formação do Enfermeiro, além dos conteúdos teóricos e práticos desenvolvidos ao

longo de sua formação, ficam os cursos obrigados a incluir no currículo o estágio supervisionado em hospitais gerais e especializados, ambulatórios, rede básica de serviços de saúde e comunidades nos dois últimos semestres do Curso de Graduação em Enfermagem.

Na elaboração da programação e no processo de supervisão do aluno, em estágio curricular supervisionado, pelo professor, será assegurada efetiva participação dos enfermeiros do serviço de saúde onde se desenvolve o referido estágio. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá totalizar 20% da carga horária total do Curso de Graduação em Enfermagem proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

• Atividades Complementares:

As atividades complementares deverão ser incrementadas durante todo o Curso de Graduação em Enfermagem e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância.

Podem ser reconhecidos:• Monitorias e Estágios,• Programas de Iniciação Científica;• Programas de Extensão;• Estudos Complementares;• Cursos realizados em outras áreas afins.

5. ORGANIZAÇÃO DO CURSO

O Curso de Graduação em Enfermagem deverá ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem.

A aprendizagem deve ser interpretada como um caminho que possibilita ao sujeito social transformar-se e transformar seu contexto. Ela deve ser orientada pelo princípio metodológico geral, que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta à resolução de situações-problema como uma das estratégias didáticas.

Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. Porém, deverá ter a investigação como eixo integrador que retroalimenta a formação acadêmica e a prática do Enfermeiro.

As diretrizes curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso. Assim, diretrizes curriculares e projeto pedagógico deverão orientar o currículo do Curso de Graduação em Enfermagem para um perfil acadêmico e profissional do egresso.

A organização do Curso de Graduação em Enfermagem deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará o regime: seriado anual, seriado semestral, sistema de créditos ou modular.

Para conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente.

8

Page 50: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

A Formação de Professores por meio de Licenciatura Plena segue Pareceres e Resoluções específicos da Câmara de Educação Superior e do Pleno do Conselho Nacional de Educação.

A estrutura do Curso de Graduação em Enfermagem deverá assegurar:• a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um

ensino crítico, reflexivo e criativo, que leve a construção do perfil almejado, estimulando a realização de experimentos e/ou de projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido, levando em conta a evolução epistemológica dos modelos explicativos do processo saúde-doença;

• as atividades teóricas e práticas presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Enfermeiro, de forma integrada e interdisciplinar;

• a visão de educar para a cidadania e a participação plena na sociedade;• os princípios de autonomia institucional, de flexibilidade, integração

estudo/trabalho e pluralidade no currículo;• a implementação de metodologia no processo ensinar-aprender que estimule o

aluno a refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender;• a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o

saber conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer que constitui atributos indispensáveis à formação do Enfermeiro;

• o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos, por favorecerem a discussão coletiva e as relações interpessoais;

• a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno e no enfermeiro atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade;

• a articulação da Graduação em Enfermagem com a Licenciatura em Enfermagem;

• a contribuição para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

6. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO

A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Enfermagem que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

O Curso de Graduação em Enfermagem deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

9

Page 51: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA

1. PERFIL DO FORMANDO EGRESSO/PROFISSIONAL

Médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

2. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

Competências Gerais:• Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional,

devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

• Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

• Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

• Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

• Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativa, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a ser empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

• Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja benefício mútuo entre

10

Page 52: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

Conhecimento, Competências e Habilidades Específicas:

• Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social;

• Atuar nos diferentes níveis de atendimento à saúde, com ênfase nos atendimentos primário e secundário;

• Comunicar-se adequadamente com os colegas de trabalho, os pacientes e seus familiares;

• Informar e educar seus pacientes, familiares e comunidade em relação à promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação das doenças, usando técnicas apropriadas de comunicação;

• Realizar com proficiência a anamnese e a conseqüente construção da história clínica, bem como dominar a arte e a técnica do exame físico;

• Dominar os conhecimentos científicos básicos da natureza bio-psico-socio-ambiental subjacentes à prática médica e ter raciocínio crítico na interpretação dos dados, na identificação da natureza dos problemas da prática médica e na sua resolução;

• Diagnosticar e tratar corretamente as principais doenças do ser humano em todas as fases do ciclo biológico, tendo como critérios a prevalência e o potencial mórbido das doenças, bem como a eficácia da ação médica;

• Reconhecer suas limitações e encaminhar, adequadamente, pacientes portadores de problemas que fujam ao alcance da sua formação geral;

• Otimizar o uso dos recursos propedêuticos, valorizando o método clínico em todos seus aspectos;

• Exercer a medicina utilizando procedimentos diagnósticos e terapêuticos com base em evidências científicas;

• Utilizar adequadamente recursos semiológicos e terapêuticos, validados cientificamente, contemporâneos, hierarquizados para atenção integral à saúde, no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção;

• Reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência entendida como conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

• Atuar na proteção e na promoção da saúde e na prevenção de doenças, bem como no tratamento e reabilitação dos problemas de saúde e acompanhamento do processo de morte;

• Realizar procedimentos clínicos e cirúrgicos indispensáveis para o atendimento ambulatorial e para o atendimento inicial das urgências e emergências em todas as fases do ciclo biológico;

• Conhecer os princípios da metodologia científica, possibilitando-lhe a leitura crítica de artigos técnicos-científicos e a participação na produção de conhecimentos;

• Lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde;

• Atuar no sistema hierarquizado de saúde, obedecendo aos princípios técnicos e éticos de referência e contra-referência;

11

Page 53: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• Cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como médico;

• Considerar a relação custo-benefício nas decisões médicas, levando em conta as reais necessidades da população;

• Ter visão do papel social do médico e disposição para atuar em atividades de política e de planejamento em saúde;

• Atuar em equipe multiprofissional;• Manter-se atualizado com a legislação pertinente à saúde.

Com base nestas competências, a formação do Médico deverá contemplar o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência e o trabalho em equipe.

3. CONTEÚDOS CURRICULARES

Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Medicina devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em medicina. Devem contemplar:

• Conhecimento das bases moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados aos problemas de sua prática e na forma como o médico o utiliza;

• Compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença;

• Abordagem do processo saúde-doença do indivíduo e da população, em seus múltiplos aspectos de determinação, ocorrência e intervenção;

• Compreensão e domínio da propedêutica médica – capacidade de realizar história clínica, exame físico, conhecimento fisiopatológico dos sinais e sintomas; capacidade reflexiva e compreensão ética, psicológica e humanística da relação médico-paciente;

• Diagnóstico, prognóstico e conduta terapêutica nas doenças que acometem o ser humano em todas as fases do ciclo biológico, considerando-se os critérios da prevalência, letalidade, potencial de prevenção e importância pedagógica;

• Promoção da saúde e compreensão dos processos fisiológicos dos seres humanos – gestação, nascimento, crescimento e desenvolvimento, envelhecimento e do processo de morte; atividades físicas, desportivas e as relacionadas ao meio social e ambiental.

4. ESTÁGIOS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES

• Estágios:A formação do Médico incluirá, como etapa integrante da graduação, estágio curricular

obrigatório de treinamento em serviço, em regime de internato, em serviços próprios ou conveniados, e sob supervisão direta dos docentes da própria Escola/Faculdade. A carga horária mínima do estágio curricular deverá atingir 35% da carga horária total do Curso de Graduação em Medicina proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

O estágio curricular obrigatório de treinamento em serviço incluirá necessariamente aspectos essenciais nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva, devendo incluir atividades no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção

12

Page 54: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

em cada área. Estas atividades devem ser eminentemente práticas e sua carga horária teórica não poderá ser superior a 20% do total por estágio.

O Colegiado do Curso de Graduação em Medicina poderá autorizar, no máximo, 25% da carga horária total estabelecida para este estágio, a realização de treinamento supervisionado fora da unidade federativa, preferencialmente nos serviços do Sistema Único de Saúde, bem como em Instituição conveniada que mantenha programas de Residência credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica e/ou outros programas de qualidade equivalente em nível internacional.

• Atividades Complementares:As atividades complementares deverão ser incrementadas durante todo o Curso de

Graduação em Medicina e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância.

Podem ser reconhecidos:• Monitorias e Estágios,• Programas de Iniciação Científica;• Programas de Extensão;• Estudos Complementares;• Cursos realizados em outras áreas afins.

5. ORGANIZAÇÃO DO CURSO

O Curso de Graduação em Medicina deve ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem.

A aprendizagem deve ser interpretada como um caminho que possibilita ao sujeito social transformar-se e transformar seu contexto. Ela deve ser orientada pelo princípio metodológico geral, que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta à resolução de situações-problema como uma das estratégias didáticas.

Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. Porém, deverá ter a investigação como eixo integrador que retroalimenta a formação acadêmica e a prática do Médico.

As diretrizes curriculares deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico, orientando o currículo do Curso de Graduação em Medicina para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

O Currículo do Curso de Graduação em Medicina poderá incluir aspectos complementares de perfil, habilidades, competências e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.

A organização do Curso de Graduação em Medicina deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará o regime: seriado anual, seriado semestral, sistema de créditos ou modular.

A estrutura do Curso de Graduação em Medicina deverá:• ter como eixo do desenvolvimento curricular as necessidades de saúde mais

freqüentes, referidas pela comunidade e identificadas pelo setor saúde;

13

Page 55: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• utilizar metodologias que privilegiem a participação ativa do aluno na construção do conhecimento e a integração entre os conteúdos, além de estimular a interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência;

• incluir dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e valores orientados para a cidadania;

• promover a integração e a interdisciplinaridade em coerência com o eixo de desenvolvimento curricular, buscando integrar as dimensões biológicas, psicológicas, sociais e ambientais;

• inserir o aluno precocemente em atividades práticas relevantes para a sua futura vida profissional;

• utilizar diferentes cenários de ensino-aprendizagem permitindo ao aluno conhecer e vivenciar situações variadas de vida, da organização da prática e do trabalho em equipe multiprofissional;

• propiciar a interação ativa do aluno com usuários e profissionais de saúde desde o início de sua formação, proporcionando ao aluno lidar com problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes como agente prestador de cuidados e atenção, compatíveis com seu grau de autonomia, que se consolida na graduação com o internato;

• vincular, através da integração ensino-serviço, a formação médico-acadêmica às necessidades sociais da saúde, com ênfase no SUS.

6. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar

concepções curriculares ao Curso de Graduação em Medicina que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

O Curso de Graduação em Medicina deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

• DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

1. PERFIL DO FORMANDO EGRESSO/PROFISSIONAL

Nutricionista, com formação generalista, humanista e crítica. Capacitado a atuar, visando à segurança alimentar e a atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e a nutrição se apresentem fundamentais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e para a prevenção de doenças de indivíduos ou grupos populacionais, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, pautado em princípios éticos, com reflexão sobre a realidade econômica, política, social e cultural.

Nutricionista com Licenciatura em Nutrição capacitado para atuar na Educação Básica e na Educação Profissional em Nutrição.

2. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

14

Page 56: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Competências Gerais:• Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional,

devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

• Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

• Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

• Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

• Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativa, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a ser empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

• Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja benefício mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

Competências e Habilidades Específicas:

• Aplicar conhecimentos sobre a composição, propriedades e transformações dos alimentos e seu aproveitamento pelo organismo humano, na atenção dietética;

• Contribuir para promover, manter e ou recuperar o estado nutricional de indivíduos e grupos populacionais;

• Desenvolver e aplicar métodos e técnicas de ensino em sua área de atuação;

15

Page 57: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• Atuar em políticas e programas de educação, segurança e vigilância nutricional, alimentar e sanitária, visando a promoção da saúde em âmbito local, regional e nacional;

• Atuar na formulação e execução de programas de educação nutricional; de vigilância nutricional, alimentar e sanitária;

• Atuar em equipes multiprofissionais de saúde e de terapia nutricional;• Avaliar, diagnosticar e acompanhar o estado nutricional; planejar, prescrever, analisar,

supervisionar e avaliar dietas e suplementos dietéticos para indivíduos sadios e enfermos;

• Planejar, gerenciar e avaliar unidades de alimentação e nutrição, visando a manutenção e ou melhoria das condições de saúde de coletividades sadias e enfermas;

• Realizar diagnósticos e intervenções na área de alimentação e nutrição, considerando a influência sócio-cultural e econômica que determina a disponibilidade, consumo e utilização biológica dos alimentos pelo indivíduo e pela população;

• Atuar em equipes multiprofissionais destinadas a planejar, coordenar, supervisionar, implementar, executar e avaliar atividades na área de alimentação e nutrição e de saúde;

• reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

• Desenvolver atividades de auditoria, assessoria, consultoria na área de alimentação e nutrição;

• Atuar em marketing em alimentação e nutrição;• Exercer controle de qualidade dos alimentos em sua área de competência;• Desenvolver e avaliar novas fórmulas ou produtos alimentares visando sua utilização

na alimentação humana;• Integrar grupos de pesquisa na área de alimentação e nutrição;• Investigar e aplicar conhecimentos com visão holística do ser humano integrando

equipes multiprofissionais.

A formação do Nutricionista deve contemplar as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS).

3. CONTEÚDOS CURRICULARES

Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Nutrição devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em nutrição. Os conteúdos devem contemplar:• Ciências Biológicas e da Saúde – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base

moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos.

• Ciências Sociais, Humanas e Econômicas – inclui-se a compreensão dos determinantes sociais, culturais, econômicos, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, a comunicação nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença.

16

Page 58: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

11. Ciências da Alimentação e Nutrição - neste tópico de estudo, incluem-se:

• compreensão e domínio de nutrição humana, a dietética e de terapia nutricional – capacidade de identificar as principais patologias de interesse da nutrição, de realizar avaliação nutricional, de indicar a dieta adequada para indivíduos e coletividades, considerando a visão ética, psicológica e humanística da relação nutricionista-paciente.

• conhecimento dos processos fisiológicos e nutricionais dos seres humanos – gestação, nascimento, crescimento e desenvolvimento, envelhecimento, atividades físicas e desportivas, relacionando o meio econômico, social e ambiental.

• abordagem da nutrição no processo saúde-doença, considerando a influência sócio-cultural e econômica que determina a disponibilidade, consumo, conservação e utilização biológica dos alimentos pelo indivíduo e pela população.

• Ciências dos Alimentos - incluem-se os conteúdos sobre a composição, propriedades e transformações dos alimentos, higiene, vigilância sanitária e controle de qualidade dos alimentos.

4. ESTÁGIOS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES

• Estágio Curricular:A formação do Nutricionista deve garantir o desenvolvimento de estágios curriculares,

sob supervisão docente, e contando com a participação de nutricionistas dos locais credenciados. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá atingir 20% da carga horária total do Curso de Graduação em Nutrição proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

A carga horária do estágio curricular deverá ser distribuída eqüitativamente em, pelo menos, três áreas de atuação: nutrição clínica, nutrição social e nutrição em unidades de alimentação e nutrição. Estas atividades devem ser eminentemente práticas e sua carga horária teórica não poderá ser superior a 20% do total por estágio.

• Atividades Complementares:As atividades complementares deverão ser incrementadas durante todo o Curso de

Graduação em Nutrição e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância.

Podem ser reconhecidos:• Monitorias e Estágios;• Programas de Iniciação Científica;• Programas de Extensão;• Estudos Complementares;• Cursos realizados em outras áreas afins.

5. ORGANIZAÇÃO DO CURSO

O Curso de Graduação em Nutrição deverá ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador do processo ensino-aprendizagem.

17

Page 59: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

A aprendizagem deve ser interpretada como um caminho que possibilita ao sujeito social transformar-se e transformar seu contexto. Ela deve ser orientada pelo princípio metodológico geral, que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta à resolução de situações-problema como uma das estratégias didáticas.

Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. Porém, deverá ter a investigação como eixo integrador que retroalimenta a formação acadêmica e a prática do Nutricionista.

As diretrizes curriculares deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico, orientando o currículo do curso de nutrição para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

A organização do Curso de Graduação em Nutrição deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará o regime: seriado anual, seriado semestral, sistema de créditos ou modular.

Para conclusão do Curso de Graduação em Nutrição, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente.

A formação de professores por meio de Licenciatura Plena é facultativa e será regulamentado em Pareceres/Resoluções específicos pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

A estrutura do Curso de Graduação em Nutrição deverá assegurar:• a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um ensino

crítico, reflexivo e criativo, que leve a construção do perfil almejado, estimulando a realização de experimentos e/ou de projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido, levando em conta a evolução epistemológica dos modelos explicativos do processo saúde-doença;

• as atividades teóricas e práticas presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Nutricionista, de forma integrada e interdisciplinar;

• a visão de educar para a cidadania e a participação plena na sociedade;• os princípios de autonomia institucional, de flexibilidade, integração estudo/trabalho e

pluralidade no currículo;• a implementação de metodologia no processo ensinar-aprender que estimule o aluno a

refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender;• a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o saber

conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer que constitui atributos indispensáveis a formação do Nutricionista;

• o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos, por favorecerem a discussão coletiva e as relações interpessoais;

• a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno e no nutricionista atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade;

• a articulação da Graduação em Nutrição com a Licenciatura em Nutrição.

6. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO

A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Nutrição que deverão ser acompanhadas e

18

Page 60: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos, tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

O Curso de Graduação em Nutrição deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

II - VOTO DO (A) RELATOR (A)

A Comissão recomenda a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição e dos projetos de resolução dos respectivos cursos, na forma ora apresentada.

Brasília (DF), 07 de agosto de 2001.

Conselheiro Arthur Roquete de Macedo

Conselheiro Éfrem de Aguiar Maranhão - Relator

Conselheiro Yugo Okida

III – DECISÃO DA CÂMARA

A Câmara de Educação Superior aprova por unanimidade o voto do Relator.

Sala das Sessões, em 07 de agosto de 2001.

Conselheiro Arthur Roquete de Macedo – Presidente

19

Page 61: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Conselheiro José Carlos Almeida da Silva – Vice-Presidente

20

Page 62: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

MINUTA DE RESOLUÇÃO

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “C”, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CES 1.133/2001, de 07 de agosto de 2001, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Sr. Ministro da Educação em ___ de 2001,

RESOLVE:

Art. 1º - A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País.

Art. 2º - As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de enfermeiros, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Enfermagem das Instituições do Sistema de Ensino Superior.

Art. 3º - O Curso de Graduação em Enfermagem tem como perfil do formando egresso/profissional o:

I. Enfermeiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Profissional qualificado para o exercício de Enfermagem, com base no rigor científico e intelectual e pautado em princípios éticos. Capaz de conhecer e intervir sobre os problemas/situações de saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-sociais dos seus determinantes. Capacitado a atuar, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

II. Enfermeiro com Licenciatura em Enfermagem capacitado para atuar na Educação Básica e na Educação Profissional em Enfermagem.

Art. 4º - A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais:I. Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar

aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e continua com as demais instâncias do sistema de saúde. Sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais

21

Page 63: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

II. Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

III. Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

IV. Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumirem posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

V. Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

VI. Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

Art. 5º - A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas:

I. Atuar profissionalmente compreendendo a natureza humana em suas dimensões, em suas expressões e fases evolutivas;

II. Incorporar a ciência/arte do cuidar como instrumento de interpretação profissional;III. Estabelecer novas relações com o contexto social, reconhecendo a estrutura e as

formas de organização social, suas transformações e expressões;IV. Desenvolver formação técnico-científica que confira qualidade ao exercício

profissional;V. Compreender a política de saúde no contexto das políticas sociais, reconhecendo

os perfis epidemiológicos das populações;VI. Reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de forma a

garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

VII. Atuar nos programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente, da mulher, do adulto e do idoso;

VIII. Ser capaz de diagnosticar e solucionar problemas de saúde, de comunicar-se, de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe e de enfrentar situações em constante mudança;

22

Page 64: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

IX. Reconhecer as relações de trabalho e sua influência na saúde;X. Atuar como sujeito no processo de formação de recursos humanos;XI. Responder às especificidades regionais de saúde através de intervenções

planejadas estrategicamente, em níveis de promoção, prevenção e reabilitação à saúde, dando atenção integral à saúde dos indivíduos, das famílias e das comunidades;

XII. Reconhecer-se como coordenador do trabalho da equipe de enfermagem;XIII. Assumir o compromisso ético, humanístico e social com o trabalho

multiprofissional em saúde;XIV. Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus

clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social;

XV.Usar adequadamente novas tecnologias, tanto de informação e comunicação, quanto de ponta para o cuidar de enfermagem;

XVI. Atuar nos diferentes cenários da prática profissional considerando os pressupostos dos modelos clínico e epidemiológico;

XVII. Identificar as necessidades individuais e coletivas de saúde da população, seus condicionantes e determinantes;

XVIII. Intervir no processo de saúde-doença responsabilizando-se pela qualidade da assistência/cuidado de enfermagem em seus diferentes níveis de atenção à saúde, com ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência;

XIX. Coordenar o processo de cuidar em enfermagem considerando contextos e demandas de saúde;

XX.Prestar cuidados de enfermagem compatíveis com as diferentes necessidades apresentadas pelo indivíduo, pela família e pelos diferentes grupos da comunidade;

XXI. Compatibilizar as características profissionais dos agentes da equipe de enfermagem às diferentes demandas dos usuários;

XXII. Integrar as ações de enfermagem às ações multiprofissionais;XXIII. Gerenciar o processo de trabalho em enfermagem com princípios de Ética e de

Bioética, com resolutividade tanto em nível individual como coletivo em todos os âmbitos de atuação profissional;

XXIV. Planejar, implementar e participar dos programas de formação e qualificação contínua dos trabalhadores de enfermagem e de saúde;

XXV. Planejar e implementar programas de educação e promoção à saúde, considerando a especificidade dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento;

XXVI. Desenvolver, participar e aplicar pesquisas e/ou outras formas de produção de conhecimento que objetivem a qualificação da prática profissional;

XXVII. Respeitar os princípios éticos, legais e humanísticos da profissão;XXVIII. Interferir na dinâmica de trabalho institucional, reconhecendo-se como agente

desse processo;XXIX. Utilizar os instrumentos que garantam a qualidade do cuidado de enfermagem e da

assistência à saúde;XXX. Participar da composição das estruturas consultivas e deliberativas do sistema de

saúde;XXXI. Assessorar órgãos, empresas e instituições em projetos de saúde;XXXII. Cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e

como enfermeiro;

23

Page 65: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

XXXIII. Reconhecer o papel social do enfermeiro para atuar em atividades de política e planejamento em saúde.

Parágrafo Único - A formação do Enfermeiro deve atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento.

Art. 6º - Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Enfermagem devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em enfermagem. Os conteúdos devem contemplar:• Ciências Biológicas e da Saúde – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base

moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados às situações decorrentes do processo saúde-doença no desenvolvimento da prática assistencial de Enfermagem.

• Ciências Humanas e Sociais – incluem-se os conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença.

• Ciências da Enfermagem - neste tópico de estudo, incluem-se:• Fundamentos de Enfermagem: os conteúdos técnicos, metodológicos e os meios

e instrumentos inerentes ao trabalho do Enfermeiro e da Enfermagem em nível individual e coletivo.

• Assistência de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) que compõem a assistência de Enfermagem em nível individual e coletivo prestada à criança, ao adolescente, ao adulto, à mulher e ao idoso, considerando os determinantes sócio-culturais, econômicos e ecológicos do processo saúde-doença, bem como os princípios éticos, legais e humanísticos inerentes ao cuidado de Enfermagem.

• Administração de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) da administração do processo de trabalho de enfermagem e da assistência de enfermagem.

• Ensino de Enfermagem: os conteúdos pertinentes à capacitação pedagógica do enfermeiro, independente da Licenciatura em Enfermagem.

Parágrafo 1º - Os conteúdos curriculares, as competências e as habilidades a serem assimilados e adquiridos no nível de graduação do enfermeiro devem conferir-lhe terminalidade e capacidade acadêmica e/ou profissional, considerando as demandas e necessidades prevalentes e prioritárias da população conforme o quadro epidemiológico do país/região.

Parágrafo 2º - Este conjunto de competências, conteúdos e habilidades deve promover no aluno e no enfermeiro a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente.

Art. 7º - Na formação do Enfermeiro, além dos conteúdos teóricos e práticos desenvolvidos ao longo de sua formação, ficam os cursos obrigados a incluir no currículo o estágio

24

Page 66: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

supervisionado em hospitais gerais e especializados, ambulatórios, rede básica de serviços de saúde e comunidades nos dois últimos semestres do Curso de Graduação em Enfermagem.

Parágrafo Único - Na elaboração da programação e no processo de supervisão do aluno, em estágio curricular supervisionado, pelo professor, será assegurada efetiva participação dos enfermeiros do serviço de saúde onde se desenvolve o referido estágio. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá totalizar 20% da carga horária total do Curso de Graduação em Enfermagem proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

Art. 8º- O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem deverá contemplar atividades complementares e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância, a saber: monitorias e estágios; programas de iniciação científica; programas de extensão; estudos complementares e cursos realizados em outras áreas afins.

Art. 9º- O Curso de Graduação em Enfermagem deve ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.

Art. 10 - As Diretrizes Curriculares e o Projeto Pedagógico devem orientar o Currículo do Curso de Graduação em Enfermagem para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

Parágrafo 1º - As diretrizes curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso.

Parágrafo 2º - O Currículo do Curso de Graduação em Enfermagem deve incluir aspectos complementares de perfil, habilidades, competências e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.

Art. 11 - A organização do Curso de Graduação em Enfermagem deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará a modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.

Art. 12 - Para conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente.

Art. 13 - A Formação de Professores por meio de Licenciatura Plena segue Pareceres e Resoluções específicos da Câmara de Educação Superior e do Pleno do Conselho Nacional de Educação.

25

Page 67: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Art. 14 - A estrutura do Curso de Graduação em Enfermagem deverá assegurar:I. a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um ensino

crítico, reflexivo e criativo, que leve a construção do perfil almejado, estimulando a realização de experimentos e/ou de projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido, levando em conta a evolução epistemológica dos modelos explicativos do processo saúde-doença;

II. as atividades teóricas e práticas presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Enfermeiro, de forma integrada e interdisciplinar;

III. a visão de educar para a cidadania e a participação plena na sociedade;IV. os princípios de autonomia institucional, de flexibilidade, integração

estudo/trabalho e pluralidade no currículo;V. a implementação de metodologia no processo ensinar-aprender que estimule o

aluno a refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender;VI. a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o saber

conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer que constitui atributos indispensáveis a formação do Enfermeiro;

VII. o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos, por favorecerem a discussão coletiva e as relações interpessoais;

VIII. a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno e no enfermeiro atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade;

IX. a articulação da Graduação em Enfermagem com a Licenciatura em Enfermagem.

Art. 15 - A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Enfermagem que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

Parágrafo 1º - As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

Parágrafo 2º O Curso de Graduação em Enfermagem deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

Art. 16 – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, DF, de de 2001.

Arthur Roquete de Macedo

26

Page 68: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Presidente da CES/CNE

27

Page 69: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

MINUTA DE RESOLUÇÃO

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “C”, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CES 1.133/2001, de 07 de agosto de 2001, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Sr. Ministro da Educação em ___ de 2001.

RESOLVE:

Art. 1º - A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País.

Art. 2º - As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Medicina definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de médicos, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Medicina das Instituições do Sistema de Ensino Superior.

Art. 3º - O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando egresso/profissional o médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

Art. 4º - A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais: I. Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar

aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e continua com as demais instâncias do sistema de saúde. Sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

II. Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para

28

Page 70: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

III. Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

IV. Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumirem posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

V. Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

VI. Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

Art. 5º - A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas:

I. Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social;

II. Atuar nos diferentes níveis de atendimento à saúde, com ênfase nos atendimentos primário e secundário;

III. Comunicar-se adequadamente com os colegas de trabalho, os pacientes e seus familiares;

IV. Informar e educar seus pacientes, familiares e comunidade em relação à promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação das doenças, usando técnicas apropriadas de comunicação;

V. Realizar com proficiência a anamnese e a conseqüente construção da história clínica, bem como dominar a arte e a técnica do exame físico;

VI. Dominar os conhecimentos científicos básicos da natureza biopsicosocioambiental subjacentes à prática médica e ter raciocínio crítico na interpretação dos dados, na identificação da natureza dos problemas da prática médica e na sua resolução;

VII. Diagnosticar e tratar corretamente as principais doenças do ser humano em todas as fases do ciclo biológico, tendo como critérios a prevalência e o potencial mórbido das doenças, bem como a eficácia da ação médica;

VIII. Reconhecer suas limitações e encaminhar, adequadamente, pacientes portadores de problemas que fujam ao alcance da sua formação geral;

IX. Otimizar o uso dos recursos propedêuticos, valorizando o método clínico em todos seus aspectos;

X. Exercer a medicina utilizando procedimentos diagnósticos e terapêuticos com base em evidências científicas;

29

Page 71: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

XI. Utilizar adequadamente recursos semiológicos e terapêuticos, validados cientificamente, contemporâneos, hierarquizados para atenção integral à saúde, no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção;

XII. Reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência entendida como conjunto articulado e continuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

XIII. Atuar na proteção e na promoção da saúde e na prevenção de doenças, bem como no tratamento e reabilitação dos problemas de saúde e acompanhamento do processo de morte;

XIV. Realizar procedimentos clínicos e cirúrgicos indispensáveis para o atendimento ambulatorial e para o atendimento inicial das urgências e emergências em todas as fases do ciclo biológico;

XV. Conhecer os princípios da metodologia científica, possibilitando-lhe a leitura crítica de artigos técnicos-científicos e a participação na produção de conhecimentos;

XVI. Lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde;

XVII. Atuar no sistema hierarquizado de saúde, obedecendo aos princípios técnicos e éticos de referência e contra-referência;

XVIII. Cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como médico;

XIX. Considerar a relação custo-beneficio nas decisões médicas, levando em conta as reais necessidades da população;

XX. Ter visão do papel social do médico e disposição para atuar em atividades de política e de planejamento em saúde;

XXI. Atuar em equipe multiprofissional;XXII. Manter-se atualizado com a legislação pertinente à saúde.

Parágrafo Único - Com base nestas competências, a formação do médico deverá contemplar o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência e o trabalho em equipe.

Art. 6º - Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Medicina devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em medicina. Devem contemplar:

I. Conhecimento das bases moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados aos problemas de sua prática e na forma como o médico o utiliza;

II. Compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença;

III. Abordagem do processo saúde-doença do indivíduo e da população, em seus múltiplos aspectos de determinação, ocorrência e intervenção;

IV. Compreensão e domínio da propedêutica médica – capacidade de realizar história clínica, exame físico, conhecimento fisiopatológico dos sinais e sintomas; capacidade reflexiva e compreensão ética, psicológica e humanística da relação médico-paciente;

30

Page 72: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

V. Diagnóstico, prognóstico e conduta terapêutica nas doenças que acometem o ser humano em todas as fases do ciclo biológico, considerando-se os critérios da prevalência, letalidade, potencial de prevenção e importância pedagógica;

VI. Promoção da saúde e compreensão dos processos fisiológicos dos seres humanos – gestação, nascimento, crescimento e desenvolvimento, envelhecimento e do processo de morte, atividades físicas, desportivas e as relacionadas ao meio social e ambiental.

Art. 7º - A formação do médico incluirá, como etapa integrante da graduação, estágio curricular obrigatório de treinamento em serviço, em regime de internato, em serviços próprios ou conveniados, e sob supervisão direta dos docentes da própria Escola/Faculdade. A carga horária mínima do estágio curricular deverá atingir 35% da carga horária total do Curso de Graduação em Medicina proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

Parágrafo 1º - O estágio curricular obrigatório de treinamento em serviço incluirá necessariamente aspectos essenciais nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva, devendo incluir atividades no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção em cada área. Estas atividades devem ser eminentemente práticas e sua carga horária teórica não poderá ser superior a 20% do total por estágio.

Parágrafo 2º - O Colegiado do Curso de Graduação em Medicina poderá autorizar, no máximo de 25% da carga horária total estabelecida para este estágio, a realização de treinamento supervisionado fora da unidade federativa, preferencialmente nos serviços do Sistema Único de Saúde, bem como em Instituição conveniada que mantenha programas de Residência credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica e/ou outros programas de qualidade equivalente em nível internacional.

Art. 8º- O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Medicina deverá contemplar atividades complementares e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância, a saber: monitorias e estágios; programas de iniciação científica; programas de extensão; estudos complementares e cursos realizados em outras áreas afins.

Art. 9º- O Curso de Graduação em Medicina deve ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.

Art. 10 - As Diretrizes Curriculares e o Projeto Pedagógico devem orientar o Currículo do Curso de Graduação em Medicina para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

31

Page 73: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Parágrafo 1º - As diretrizes curriculares do Curso de Graduação em Medicina deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso.

Parágrafo 2º- O Currículo do Curso de Graduação em Medicina poderá incluir aspectos complementares de perfil, habilidades, competências e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.Art. 11 - A organização do Curso de Graduação em Medicina deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará a modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.

Art. 12 - A estrutura do Curso de Graduação em Medicina deve:I. Ter como eixo do desenvolvimento curricular as necessidades de saúde dos

indivíduos e das populações referidas pelo usuário e identificadas pelo setor saúde;II. Utilizar metodologias que privilegiem a participação ativa do aluno na construção do

conhecimento e a integração entre os conteúdos, além de estimular a interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência;

III. Incluir dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e valores orientados para a cidadania;

IV. Promover a integração e a interdisciplinaridade em coerência com o eixo de desenvolvimento curricular, buscando integrar as dimensões biológicas, psicológicas, sociais e ambientais;

V. Inserir o aluno precocemente em atividades práticas relevantes para a sua futura vida profissional;

VI. Utilizar diferentes cenários de ensino-aprendizagem permitindo ao aluno conhecer e vivenciar situações variadas de vida, da organização da prática e do trabalho em equipe multiprofissional;

VII. Propiciar a interação ativa do aluno com usuários e profissionais de saúde desde o inicio de sua formação, proporcionando ao aluno lidar com problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes como agente prestador de cuidados e atenção, compatíveis com seu grau de autonomia, que se consolida na graduação com o internato;

VIII. Vincular, através da integração ensino-serviço, a formação médico-acadêmica as necessidades sociais da saúde, com ênfase no SUS.

Art. 13 - A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Medicina que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

Parágrafo 1º - As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

Parágrafo 2º O Curso de Graduação em Medicina deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio

32

Page 74: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

Art. 14 – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, DF, de de 2001.

Arthur Roquete de MacedoPresidente da CES/CNE

33

Page 75: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

MINUTA DE RESOLUÇÃO

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “C”, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CES 1.133/2001, de 07 de agosto de 2001, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Sr. Ministro da Educação em ___ de 2001,

RESOLVE:

Art. 1º - A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País.

Art. 2º - As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Nutrição definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de nutricionistas, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Nutrição das Instituições do Sistema de Ensino Superior.

Art. 3º - O Curso de Graduação em Nutrição tem como perfil do formando egresso/profissional o:

I. Nutricionista, com formação generalista, humanista e crítica. Capacitado a atuar, visando à segurança alimentar e a atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que alimentação e nutrição se apresentem fundamentais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e para a prevenção de doenças de indivíduos ou grupos populacionais, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, pautado em princípios éticos, com reflexão sobre a realidade econômica, política, social e cultural.

II. Nutricionista com Licenciatura em Nutrição capacitado para atuar na Educação Básica e na Educação Profissional em Nutrição.

Art. 4º - A formação do nutricionista tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais: I. Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar

aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e continua com as demais instâncias do sistema de saúde. Sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar

34

Page 76: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

II. Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

III. Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

IV. Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumirem posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

V. Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

VI. Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

Art. 5º - A formação do nutricionista tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas:

I. Aplicar conhecimentos sobre a composição, propriedades e transformações dos alimentos e seu aproveitamento pelo organismo humano, na atenção dietética.

II. Contribuir para promover, manter e ou recuperar o estado nutricional de indivíduos e grupos populacionais.

III. Desenvolver e aplicar métodos e técnicas de ensino em sua área de atuação.IV. Atuar em políticas e programas de educação, segurança e vigilância nutricional,

alimentar e sanitária visando a promoção da saúde em âmbito local, regional e nacional.

V. Atuar na formulação e execução de programas de educação nutricional; de vigilância nutricional, alimentar e sanitária.

VI. Atuar em equipes multiprofissionais de saúde e de terapia nutricional.VII. Avaliar, diagnosticar e acompanhar o estado nutricional; planejar, prescrever,

analisar, supervisionar e avaliar dietas e suplementos dietéticos para indivíduos sadios e enfermos.

VIII. Planejar, gerenciar e avaliar unidades de alimentação e nutrição, visando a manutenção e ou melhoria das condições de saúde de coletividades sadias e enfermas.

35

Page 77: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

IX. Realizar diagnósticos e intervenções na área de alimentação e nutrição considerando a influência sócio-cultural e econômica que determina a disponibilidade, consumo e utilização biológica dos alimentos pelo indivíduo e pela população.

X. Atuar em equipes multiprofissionais destinadas a planejar, coordenar, supervisionar, implementar, executar e avaliar atividades na área de alimentação e nutrição e de saúde.

XI. Reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema.

XII. Desenvolver atividades de auditoria, assessoria, consultoria na área de alimentação e nutrição.

XIII. Atuar em marketing em alimentação e nutrição.XIV. Exercer controle de qualidade dos alimentos em sua área de competência.XV. Desenvolver e avaliar novas fórmulas ou produtos alimentares visando sua

utilização na alimentação humana.XVI. Integrar grupos de pesquisa na área de alimentação e nutrição.XVII. Investigar e aplicar conhecimentos com visão holística do ser humano integrando

equipes multiprofissionais.

Parágrafo Único - A formação do nutricionista deve contemplar as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 6º - Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Nutrição devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em nutrição. Os conteúdos devem contemplar:• Ciências Biológicas e da Saúde – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base

moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos.

• Ciências Sociais, Humanas e Econômicas – inclui-se a compreensão dos determinantes sociais, culturais, econômicos, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, a comunicação nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença.

19. Ciências da Alimentação e Nutrição - neste tópico de estudo, incluem-se:

• compreensão e domínio de nutrição humana, a dietética e de terapia nutricional – capacidade de identificar as principais patologias de interesse da nutrição, de realizar avaliação nutricional, de indicar a dieta adequada para indivíduos e coletividades, considerando a visão ética, psicológica e humanística da relação nutricionista-paciente.

• conhecimento dos processos fisiológicos e nutricionais dos seres humanos – gestação, nascimento, crescimento e desenvolvimento, envelhecimento, atividades físicas e desportivas, relacionando o meio econômico, social e ambiental.

• abordagem da nutrição no processo saúde-doença, considerando a influência sócio-cultural e econômica que determina a disponibilidade, consumo, conservação e utilização biológica dos alimentos pelo indivíduo e pela população.

36

Page 78: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

• Ciências dos Alimentos - incluem-se os conteúdos sobre a composição, propriedades e transformações dos alimentos, higiene, vigilância sanitária e controle de qualidade dos alimentos.

Parágrafo 1º - Os conteúdos curriculares, as competências e as habilidades a serem assimilados e adquiridos no nível de graduação do nutricionista devem conferir-lhe terminalidade e capacidade acadêmica e/ou profissional, considerando as demandas e necessidades prevalentes e prioritárias da população conforme o quadro epidemiológico do país/região.

Parágrafo 2º - Este conjunto de competências, conteúdos e habilidades deve promover no aluno e no nutricionista a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente.

Art. 7º - A formação do nutricionista deve garantir o desenvolvimento de estágios curriculares, sob supervisão docente, e contando com a participação de nutricionistas dos locais credenciados. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá atingir 20% da carga horária total do Curso de Graduação em Nutrição proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

Parágrafo Único - A carga horária do estágio curricular deverá ser distribuída eqüitativamente em pelo menos nas três áreas de atuação: nutrição clínica, nutrição social e nutrição em unidades de alimentação e nutrição. Estas atividades devem ser eminentemente práticas e sua carga horária teórica não poderá ser superior a 20% do total por estágio.

Art. 8º- O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Nutrição deverá contemplar atividades complementares e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância, a saber: monitorias e estágios; programas de iniciação científica; programas de extensão; estudos complementares e cursos realizados em outras áreas afins.

Art. 9º- O Curso de Graduação em Nutrição deve ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.

Art. 10 - As Diretrizes Curriculares e o Projeto Pedagógico devem orientar o Currículo do Curso de Graduação em Nutrição para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

Parágrafo 1º - As diretrizes curriculares do Curso de Graduação em Nutrição deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso.

37

Page 79: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Parágrafo 2º - O Currículo do Curso de Graduação em Nutrição poderá incluir aspectos complementares de perfil, habilidades, competências e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.

Art. 11 - A organização do Curso de Graduação em Nutrição deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará a modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.

Art. 12 - Para conclusão do Curso de Graduação em Nutrição, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente.

Art. 13 - A formação de professores por meio de Licenciatura Plena é facultativo e será regulamentado em Pareceres/Resoluções específicos pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

Art. 14 - A estrutura do Curso de Graduação em Nutrição deverá assegurar:I. a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um ensino

crítico, reflexivo e criativo, que leve a construção do perfil almejado, estimulando a realização de experimentos e/ou de projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido, levando em conta a evolução epistemológica dos modelos explicativos do processo saúde-doença;

II. as atividades teóricas e práticas presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Nutricionista, de forma integrada e interdisciplinar;

III. a visão de educar para a cidadania e a participação plena na sociedade;IV. os princípios de autonomia institucional, de flexibilidade, integração

estudo/trabalho e pluralidade no currículo;V. a implementação de metodologia no processo ensinar-aprender que estimule o

aluno a refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender; VI. a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o

saber conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer que constitui atributos indispensáveis a formação do Nutricionista;

VII. o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos, por favorecerem a discussão coletiva e as relações interpessoais;

VIII. a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno e no nutricionista atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade;

IX. a articulação da Graduação em Nutrição com a Licenciatura em Nutrição

Art. 15 - A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Nutrição que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

Parágrafo 1º - As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

38

Page 80: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

Parágrafo 2º O Curso de Graduação em Nutrição deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

Art. 16 – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, DF, de de 2001.

Arthur Roquete de MacedoPresidente da CES/CNE

39

Page 81: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO(*) CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 4, DE 7 DE NOVEMBRO DE 2001.

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina.

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o

disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “c”, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CNE/CES 1.133, de 7 de agosto de 2001, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Senhor Ministro da Educação, em 1º de outubro de 2001,

RESOLVE: Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação

em Medicina, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País.

Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Medicina definem os

princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de médicos, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Medicina das Instituições do Sistema de Ensino Superior.

Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando egresso/profissional o

médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

Art. 4º A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos

para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais: I - Atenção à saúde : os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar

aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

(*)CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 4/2001. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de novembro de 2001. Seção 1, p. 38.

Page 82: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

2

II - Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

III - Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

IV - Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

V - Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho quanto dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde; e

VI - Educação permanente : os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja benefício mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação por meio de redes nacionais e internacionais.

Art. 5º A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos

para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas: I – promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus

clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social; II - atuar nos diferentes níveis de atendimento à saúde, com ênfase nos atendimentos primário e

secundário; III - comunicar-se adequadamente com os colegas de trabalho, os pacientes e seus familiares; IV - informar e educar seus pacientes, familiares e comunidade em relação à promoção da saúde,

prevenção, tratamento e reabilitação das doenças, usando técnicas apropriadas de comunicação; V - realizar com proficiência a anamnese e a conseqüente construção da história clínica, bem como

dominar a arte e a técnica do exame físico; VI - dominar os conhecimentos científicos básicos da natureza biopsicosocio-ambiental subjacentes

à prática médica e ter raciocínio crítico na interpretação dos dados, na identificação da natureza dos problemas da prática médica e na sua resolução;

VII - diagnosticar e tratar corretamente as principais doenças do ser humano em todas as fases do ciclo biológico, tendo como critérios a prevalência e o potencial mórbido das doenças, bem como a eficácia da ação médica;

VIII - reconhecer suas limitações e encaminhar, adequadamente, pacientes portadores de problemas que fujam ao alcance da sua formação geral;

IX - otimizar o uso dos recursos propedêuticos, valorizando o método clínico em todos seus aspectos;

Page 83: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

3

X - exercer a medicina utilizando procedimentos diagnósticos e terapêuticos com base em evidências científicas;

XI - utilizar adequadamente recursos semiológicos e terapêuticos, validados cientificamente, contemporâneos, hierarquizados para atenção integral à saúde, no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção;

XII - reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência entendida como conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

XIII - atuar na proteção e na promoção da saúde e na prevenção de doenças, bem como no tratamento e reabilitação dos problemas de saúde e acompanhamento do processo de morte;

XIV - realizar procedimentos clínicos e cirúrgicos indispensáveis para o atendimento ambulatorial e para o atendimento inicial das urgências e emergências em todas as fases do ciclo biológico;

XV - conhecer os princípios da metodologia científica, possibilitando-lhe a leitura crítica de artigos técnico-científicos e a participação na produção de conhecimentos;

XVI - lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde; XVII - atuar no sistema hierarquizado de saúde, obedecendo aos princípios técnicos e éticos de

referência e contra-referência; XVIII - cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como

médico; XIX - considerar a relação custo-benefício nas decisões médicas, levando em conta as reais

necessidades da população; XX - ter visão do papel social do médico e disposição para atuar em atividades de política e de

planejamento em saúde; XXI - atuar em equipe multiprofissional; e XXII - manter-se atualizado com a legislação pertinente à saúde.

Parágrafo Único. Com base nestas competências, a formação do médico deverá contemplar o

sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência e o trabalho em equipe.

Art. 6º Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Medicina devem estar relacionados

com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em medicina. Devem contemplar:

I - conhecimento das bases moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados aos problemas de sua prática e na forma como o médico o utiliza;

II - compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença;

III - abordagem do processo saúde-doença do indivíduo e da população, em seus múltiplos aspectos de determinação, ocorrência e intervenção;

IV - compreensão e domínio da propedêutica médica – capacidade de realizar história clínica, exame físico, conhecimento fisiopatológico dos sinais e sintomas; capacidade reflexiva e compreensão ética, psicológica e humanística da relação médico-paciente;

Page 84: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

4

V - diagnóstico, prognóstico e conduta terapêutica nas doenças que acometem o ser humano em todas as fases do ciclo biológico, considerando-se os critérios da prevalência, letalidade, potencial de prevenção e importância pedagógica; e

VI - promoção da saúde e compreensão dos processos fisiológicos dos seres humanos – gestação, nascimento, crescimento e desenvolvimento, envelhecimento e do processo de morte, atividades físicas, desportivas e as relacionadas ao meio social e ambiental.

Art. 7º A formação do médico incluirá, como etapa integrante da graduação, estágio curricular

obrigatório de treinamento em serviço, em regime de internato, em serviços próprios ou conveniados, e sob supervisão direta dos docentes da própria Escola/Faculdade. A carga horária mínima do estágio curricular deverá atingir 35% (trinta e cinco por cento) da carga horária total do Curso de Graduação em Medicina proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

§ 1º O estágio curricular obrigatório de treinamento em serviço incluirá necessariamente aspectos

essenciais nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva, devendo incluir atividades no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção em cada área. Estas atividades devem ser eminentemente práticas e sua carga horária teórica não poderá ser superior a 20% (vinte por cento) do total por estágio.

§ 2º O Colegiado do Curso de Graduação em Medicina poderá autorizar, no máximo 25% (vinte e

cinco por cento) da carga horária total estabelecida para este estágio, a realização de treinamento supervisionado fora da unidade federativa, preferencialmente nos serviços do Sistema Único de Saúde, bem como em Instituição conveniada que mantenha programas de Residência credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica e/ou outros programas de qualidade equivalente em nível internacional.

Art. 8º O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Medicina deverá contemplar atividades

complementares e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, mediante estudos e práticas independentes, presenciais e/ou a distância, a saber: monitorias e estágios; programas de iniciação científica; programas de extensão; estudos complementares e cursos realizados em outras áreas afins.

Art. 9º O Curso de Graduação em Medicina deve ter um projeto pedagógico, construído

coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante por meio de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.

Art. 10. As Diretrizes Curriculares e o Projeto Pedagógico devem orientar o Currículo do Curso de

Graduação em Medicina para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

§ 1º As diretrizes curriculares do Curso de Graduação em Medicina deverão contribuir para a

inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso.

Page 85: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

5

§ 2º O Currículo do Curso de Graduação em Medicina poderá incluir aspectos complementares de perfil, habilidades, competências e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.

Art. 11. A organização do Curso de Graduação em Medicina deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará a modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.

Art. 12. A estrutura do Curso de Graduação em Medicina deve: I - Ter como eixo do desenvolvimento curricular as necessidades de saúde dos indivíduos e das

populações referidas pelo usuário e identificadas pelo setor saúde; II - utilizar metodologias que privilegiem a participação ativa do aluno na construção do

conhecimento e a integração entre os conteúdos, além de estimular a interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência;

III - incluir dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e valores orientados para a cidadania;

IV - promover a integração e a interdisciplinaridade em coerência com o eixo de desenvolvimento curricular, buscando integrar as dimensões biológicas, psicológicas, sociais e ambientais;

V - inserir o aluno precocemente em atividades práticas relevantes para a sua futura vida profissional;

VI - utilizar diferentes cenários de ensino-aprendizagem permitindo ao aluno conhecer e vivenciar situações variadas de vida, da organização da prática e do trabalho em equipe multiprofissional;

VII - propiciar a interação ativa do aluno com usuários e profissionais de saúde desde o início de sua formação, proporcionando ao aluno lidar com problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes como agente prestador de cuidados e atenção, compatíveis com seu grau de autonomia, que se consolida na graduação com o internato; e

VIII - vincular, através da integração ensino-serviço, a formação médico-acadêmica às necessidades sociais da saúde, com ênfase no SUS.

Art. 13. A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar

concepções curriculares ao Curso de Graduação em Medicina que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

§ 1º As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos

curriculares desenvolvidos, tendo como referência as Diretrizes Curriculares. § 2º O Curso de Graduação em Medicina deverá utilizar metodologias e critérios para

acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

Art. 14. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em

contrário.

Arthur Roquete de Macedo Presidente da Câmara de Educação Superior

Page 86: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

6