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Comunicação&política, v.30, nº1, p.157-175 157 Introdução E sse trabalho analisa o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), como instrumentos para elaborar políticas integradas de desenvolvimen- to sustentável na região amazônica envolvendo Brasil e Venezuela. A Amazônia, desde os anos 50, quando se iniciou o processo de descolonização afro-asiática, passou a ser vista como novo espaço de ação do capital, visão essa consolidada pelos Estados brasileiro e venezue- lano, que passaram a desenvolver políticas públicas e setoriais voltadas a promover o processo de instala- ção do capital na região, estruturando, para esse fim, redes de transportes, de energia, de comunicação e infraestrutura sem observar um modelo de desenvol- Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-Venezuela Ana Georgina Ferreira Ribeiro Antonio Carvalho Ferreira Raimundo Nonato de Souza Bouth Professora da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará - UFPa, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano pela Universidade da Amazônia - UNAMA; Mestre em Relações Internacionais pela Universidad Autónoma de Asunción – UAA. Doutorando em Ciências da Educação - Universidad Autónoma de Asunción – UAA, Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción.

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O artigo publicado na Revista Científica Comunicação & Política trata do OTCA tem como autores Nonato Bouth, Antonio Carvalho e Ana Georgina

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Introdução

Esse trabalho analisa o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e a Organização do Tratado de

Cooperação Amazônica (OTCA), como instrumentos para elaborar políticas integradas de desenvolvimen-to sustentável na região amazônica envolvendo Brasil e Venezuela.

A Amazônia, desde os anos 50, quando se iniciou o processo de descolonização afro-asiática, passou a ser vista como novo espaço de ação do capital, visão essa consolidada pelos Estados brasileiro e venezue-lano, que passaram a desenvolver políticas públicas e setoriais voltadas a promover o processo de instala-ção do capital na região, estruturando, para esse fim, redes de transportes, de energia, de comunicação e infraestrutura sem observar um modelo de desenvol-

Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-VenezuelaAna Georgina Ferreira RibeiroAntonio Carvalho FerreiraRaimundo Nonato de Souza Bouth

Professora da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará - UFPa, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano pela Universidade da Amazônia - UNAMA;

Mestre em Relações Internacionais pela Universidad Autónoma de Asunción – UAA.

Doutorando em Ciências da Educação - Universidad Autónoma de Asunción – UAA, Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción.

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vimento baseado na preservação e con-servação do meio ambiente.

Estas políticas têm como resultados econômicos, em países latinos, produ-ção sem relação com as necessidades re-ais; exportações e importações nocivas à economia nacional; superutilização dos recursos humanos e matérias-pri-mas em benefício das grandes mul-tinacionais; desvalorização da força de trabalho e dos recursos naturais; e principalmente a não preocupação com a proteção ambiental, resultando num crescimento econômico desordenado. No plano social, ressalta-se o agrava-mento do não emprego; da pobreza; das condições de habitat; da pouca oferta de educação, de saúde e de ali-mentação.

A presença desses novos atores sociais e situações não tão novas, juntamente com o entrelaçamento de interesses, mostram-se evidentes e desencadeado-ras de novas necessidades na região. Dentre elas está a de agregar os Estados Nacionais cujos territórios integram a Amazônia, objetivando organizar uma política para a Amazônia Internacional, com base num modelo de desenvol-vimento sustentável, emergente com maior intensidade a partir da década de 70, quando uma nova ordem mundial se impõe.

É nesse contexto, que o artigo anali-sa especificamente a relação entre Bra-sil e Venezuela, a partir do TCA, sob a ótica do desenvolvimento sustentável, haja vista que este modelo de desen-volvimento tem gerado nova consci-ência ambiental, especialmente após a Conferência de Estocolmo (1972), quando a necessidade de um pensar ambiental em escala global começou a ser definido.

A partir de meados do século XX, o processo de inserção da Amazônia ao capitalismo monopolista internacional, promoveu uma reordenação espacial na região, com a definição de políticas que determinavam não só a presença do capital, mas fundamentalmente a presença do Estado que de acordo com o modelo Keynesiano adota a postura de intervenção, identificada nos dois países estudados quanto à integração da região Amazônica, por razões de acumulação e legitimação.

Historicamente constata-se que as ações e políticas identificadas para re-

A partir de meados do séc. XX, o processo de inserção da Amazônia ao capitalismo monopolista, promoveu uma reordenação espacial na região, com a definição de políticas que determinavam a presença do Estado.

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gião tiveram prioritariamente caráter desenvolvimentista e foram instaladas sem o pensamento da Amazônia como região, na verdade não foi elaborado um conceito em que o pensar fosse da problemática regional levando em con-sideração as realidades de toda a Ama-zônia, lendo-se o espaço através das fronteiras.

Assim, busca-se identificar os limites e possibilidades de uma política inte-grada de desenvolvimento sustentável na área geográfica da Amazônia brasi-leira e da Amazônia venezuelana com base no Tratado de Cooperação Ama-zônica, a partir de sua criação, o que po-derá se traduzir em fortalecimento para ambos os países, com a construção de ações e políticas que busquem o desen-volvimento regional como alternativa frente à internacionalização da região.

O TCA e a transição institucional para a OTCA

O TCA foi assinado em Brasília, em 3 de julho de 1978, pelos oito países amazônicos: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. É um instrumento jurídico de natureza técnica que visa à promo-ção do desenvolvimento harmonioso e integrado da Amazônia, como base de sustentação de um modelo de comple-mentação econômica regional que con-temple o melhoramento da qualidade de vida de seus habitantes, a preserva-ção, a conservação e utilização racional de seus recursos naturais.

O TCA também prevê a colaboração entre os países membros para promo-ver a pesquisa científica e tecnológica e o intercâmbio de informações atra-vés da criação de centros de pesquisa e de infraestrutura de transportes e comunicação; a liberdade de navega-ção e proteção nos rios amazônicos; o incremento do comércio fronteiriço; a preservação do patrimônio cultural; os cuidados com a saúde e o incremento do turismo. Todas essas medidas de-vem ser adotadas mediante ações bi-laterais ou de grupos de países, com o objetivo de promover o desenvolvi-mento harmônico dos respectivos ter-ritórios.

A OTCA foi estabelecida a partir da assinatura do protocolo de emenda ao TCA em Caracas no dia 14 de dezem-bro de 1998. No entanto o protocolo de emenda somente entrou em vigor qua-tro anos depois, após o último depósito do instrumento de ratificação pela Co-lômbia, em 2 de agosto de 2002.

Desde a assinatura do TCA em 1978 sua evolução política passou por fases distintas, ora de paralisia, ora de reto-mada e fortalecimento político até o momento atual que é de consolidação da OTCA.

Didaticamente esta evolução políti-co-institucional tem como destaque a fase, de “consciência amazônica”, a par-tir da institucionalização e instalação da secretaria permanente da OTCA como mecanismo operacional, de modo a considerar que a partir de então é que seus funcionários tiveram condições es-truturais para efetivamente dar início

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aos trabalhos. Ao ser aprovado e assi-nado o acordo sede em 2002, a OTCA foi provisoriamente instalada no Itama-raty e posteriormente, em 2005, para sede própria em Brasília.

Considera-se que a OTCA é um Or-ganismo Internacional porque é con-formada por Estados Soberanos e foi instituída por um Tratado Constitu-cional, nomeado de Tratado de Co-operação Amazônica. Organizações Internacionais (OI) são sujeitos do Di-reito Internacional Público, cuja base jurídica se encontra no Direito dos Tra-tados, cuja disciplina regula a missão da Organização determinando suas com-petências, funções e obrigações aos Es-tados Membros. Os países amazônicos passam a ter um instrumento de maior representação institucional e de caráter permanente para poder cumprir me-lhor com os propósitos que haviam se comprometido. A organização possui em sua estrutura básica o Conselho de Cooperação Amazônica (CCA) com suas Comissões Especiais da Amazônia, Comissão de Coordenação do CCA e a Secretaria Permanente.

As políticas de integração da OTCA em busca do desenvolvimento sustentável

As legislações do Brasil e Venezuela avançaram na concepção de desenvol-vimento sustentável definido pelo Re-latório Brundtland, em 1987, como a necessidade de uma ética de uso racio-nal dos recursos naturais para atender

as necessidades do presente sem com-prometer as gerações futuras (SILVA, 2006).

Ressaltam-se as contribuições do TCA e essencialmente do OTCA para estes avanços, os instrumentos de co-operação entre os referidos países, as estratégias espaciais, regionais e nacio-nais sobre o assunto, e, por fim, as es-tratégias de cooperação entre os países.

O desenvolvimento baseado no eco-nomicismo resultou numa postura antropocêntrica que fez do homem a medida de todas as coisas e de todas as partes do ambiente ao seu dispor. O Clube de Roma, em 1972, já denuncia-va que o crescente consumo mundial levaria a humanidade ao limite de cres-cimento e possivelmente a um colapso em relação à disponibilidade de recur-sos naturais. No mesmo ano, realizava--se em Estocolmo, Suécia, a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano, considerada o marco histórico político internacional para o surgimento de po-líticas de gerenciamento ambiental. A Conferência de Estocolmo gerou a De-claração sobre o Ambiente Humano e estabeleceu o Plano de Ação Mundial, com vistas a inspirar e orientar a huma-nidade para a preservação e melhoria do ambiente humano.

Constata-se que nos países em desen-volvimento como o Brasil, e, neste es-tudo específico, a Venezuela, a adoção desse conceito de desenvolvimento im-plica considerar limitações da ordem de viabilidade econômica e social, pois ain-da sobrevivem da economia primária, como agropecuária, mineração, garim-

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po dentre outros modos de exploração, e sua população que é formada na sua maioria por pobres, a quem o Estado não consegue garantir seus direitos básicos e que dependem de assistência social (VASCONCELOS, 2005 apud SILVA, 2006). E o autor prossegue:

“Tal questão compromete a aceitação do padrão de desenvolvimento seguido pelos países mais ricos, não ecologicamente sus-tentáveis, com crescimento econômico ele-vado, mas pouca preocupação com aspectos distributivos e com o impacto dos custos am-bientais para as pessoas. Ressalta a autora que, nesses países, parte dos altos níveis de consumo é garantida pelo uso intensivo de recursos naturais dos países em desenvolvi-mento, frequentemente levando à destruição do ambiente, estendendo-se para além dos limites físicos e geográficos, ocorrendo o que se denomina como a internacionalização das externalidades.” (SILVA, 2006, p. 2)

Nesse cenário, a sustentabilidade tor-na-se um importante discurso teórico à criação de ambiente favorável para a promoção de benefícios sociais, garan-tia de conservação da biodiversidade e a viabilidade de atividades econômicas compatíveis com as especificidades da área.

No entanto, os aspectos ambientais ainda estão pouco integrados na formu-lação de políticas públicas e o problema é agravado pela carência de informa-ções sobre a extensão e a relevância dos problemas resultantes da degradação ambiental. Indica-se como provável solução a criação de sistemas de indi-

cadores ambientais que compilem da-dos obtidos pelas agências de controle que poderia facilitar essa integração, definindo áreas prioritárias de ação. Essa série de problemas levou ao ques-tionamento do atual sistema de gestão, baseado nos instrumentos de comando e controle.

Outra solução proposta é a utilização de instrumentos econômicos que vem sendo considerada como alternativa economicamente eficiente e ambien-talmente eficaz para complementar as restritas abordagens de comando e con-trole e/ou direcionar investimentos e políticas públicas levando em conside-ração a preservação do meio ambiente.

Os aspectos ambientais ainda estão

pouco integrados na formulação de

políticas públicas e o problema é agravado

pela carência de informações

sobre a extensão e a relevância dos

problemas resultantes da degradação

ambiental.

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Os instrumentos de controle como o Estudo de Impacto Ambiental - EIA e o Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, não criam normas determinan-tes de comportamentos obrigatórios. Voltam-se à indução de comportamen-tos preservacionistas do meio ambiente na medida em que atuam diretamente nas licenças, e nos custos de produção e consumo dos agentes. Outros instru-mentos econômicos utilizados foram: incentivos creditícios e fiscais, subsí-dios, tarifas de recuperação de custos, sistemas de depósito-reembolso, co-brança pelo uso do recurso, tributação convencional e instrumento de deman-da final, podendo-se destacar a experi-ência de Brasil e Venezuela na adoção de um ou mais dos instrumentos eco-nômicos supramencionados.

O setor de gestão ambiental vem se aprimorando nestes dois países. Tendo como base a democratização, o olhar internacional sobre a forma política da prática de preservação na região, bem como, avanço de tecnologias e urbani-zação, a ideia de uma conscientização ambiental é uma constante. Entretanto, na prática ainda não tem surtido o efei-to esperado de realocação de recursos orçamentários, ficando o setor ambien-tal em segundo plano frente a outros setores de maior urgência nas políticas econômicas desses Estados.

Vários países vêm adotando instru-mentos econômicos como complemen-tação aos instrumentos de “comando e controle” na gestão de seus recursos naturais. Todavia, em muitos deles, a implantação dos instrumentos econô-

micos mostraram-se, na maioria das vezes, como mecanismos geradores de receitas.

Em que pese os instrumentos eco-nômicos constituírem-se tanto em complemento quanto em substitutos imediatos para ineficientes e ultra-passados procedimentos regulatórios do tipo “comando e controle”, Motta (1996) identifica, nos países, algumas restrições e problemas frequentes que limitam sua efetiva implementação, tais como: as dimensões sociais dos instrumentos econômicos, em razão da trilogia “distribuição x pobreza x inci-dência de tributos” e o fato dos países integrantes do TCA possuírem um dos níveis mais altos de desigualdade do mundo; a possibilidade de adoção de instrumentos econômicos implicarem em efeitos adversos aos seus objetivos; a conexão existente com reformas eco-nômicas, o que pode ajudar ou prejudi-car a implementação dos instrumentos econômicos; a fragilidade institucional, como insuficiência de recursos, juris-dição mal definida ou falta de vontade política; e, por último, falta de infraes-trutura e base institucional forte, visto que as estruturas tradicionais de “co-mando e controle” são insuficientes. Segundo o autor “o desafio é fazer dos instrumentos econômicos (IEs) uma ferramenta útil, considerando a atual fragilidade institucional e as restrições de ordem macroeconômica e social.” (MOTA, 1996, p.48)

Mesmo diante da existência de me-canismos de controle de degradação ambiental e diversas políticas públicas

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implementadas, sem que seja dada a devida prioridade dos Estados, torna-se um desafio para sociedade global e local encontrar a praticidade dessa sustenta-bilidade. O uso sustentável de recursos pode ser conduzido apenas com crité-rios tecnocráticos, já o desenvolvimen-to sustentável necessita da participação efetiva do homem, pois são envolvidos valores sócio-culturais, que fluem do seu interior. Assim, entendemos que o desenvolvimento sustentável tem dimensão política, legitimada na par-ticipação democrática da comunidade, com escolha de estilos e padrões de vida e respeito ao meio ambiente.

O território é entendido como iden-tidade cultural, ou seja, da relação que o homem desempenha no seu e com o seu espaço vivido, segundo é, sobretu-do, uma identidade territorial, ou seja, tem como referencial primordial na sua construção e representação, a condição geográfica, relações concreto-simbóli-cas, imaginárias e é que se define sua identidade territorial como espaço de referência identitária, ocorre processo histórico ligado à reestruturação regio-nal (SANTOS, 1996).

A Amazônia seja do lado do Brasil seja da Venezuela enquanto território sofre mudanças ocorridas no campo econômico, político e social, o que vêm construindo nova significação no espa-ço, sinalizando novas feições no proces-so de inserção humana. No contexto (SANTOS, 1996) afirma que o espaço geográfico é resultante da perspectiva histórica que evidencia a presença de inúmeros atores que vivem em condi-

ções de sobrevivência diferenciada, e nesse caso as relações sociais manifestas implicam cada vez mais na dinamiza-ção dos significados por ele assumido.

Beni (2004, p. 61) destaca, com pro-priedade, que localidades com recursos naturais podem sofrer com a pressão antrópica. Há a necessidade de conser-vação desses recursos, considerando a aplicação de normas ecológicas que devem, obrigatoriamente, estarem pre-sentes em toda metodologia de formu-lação de políticas de desenvolvimento.

O desafio da sociedade contemporâ-nea é reverter o atual quadro caracteri-zado por políticas de descontinuidades e iniciar um processo de saber compar-tilhado. Deixa-se claro que “a partici-pação emerge nesse cenário como um elemento de contracultura; mas prova-velmente constitui a única garantia éti-ca de sustentabilidade de um processo efetivo de desenvolvimento” (IRVING, 2002, p. 39). No entanto, o que não se pode desconsiderar é o modo errôneo com os donos do capital encaram as po-líticas públicas, ou seja, buscando a mais valia como alternativa de desenvolvi-mento econômico e não raro, negando a existência e a sobrevivência de quem está na ponta desse processo produtivo, os residentes locais de áreas potenciais para a atividade. Portanto, o sucesso das ações que devem conduzir ao desen-volvimento sustentável dependerá em grande parte da influencia da opinião pública, do comportamento das pesso-as, e de suas decisões individuais.

A OTCA pode fomentar a discussão sobre desenvolvimento sustentável nos

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países-membros do tratado amazôni-co, pois dispõe atualmente de diversos programas e projetos em parceria com outros organismos internacionais; além de se preocupar com a articulação com a sociedade civil. O debate sobre possi-bilidades de desenvolvimento sustentá-vel na Amazônia “requer a análise do papel do TCA, como um instrumento de integração regional e mecanismo pa-raestatal de políticas públicas” (ARA-GÓN, 2002, p. 8).

O impacto e o papel preponderante que o TCA pode e deve jogar no atu-al processo de globalização dependem, em parte, da superação pelos países signatários de seus próprios conflitos (fundamentalmente internos) para pôr em prática os princípios que regem o Tratado, assim resumidos em seu Arti-go Primeiro onde afirma que:

“As partes contratantes convêm em realizar esforços e ações conjuntas a fim de promo-ver o desenvolvimento harmônico de seus respectivos territórios amazônicos, de modo que essas ações conjuntas produzam resul-tados equitativos e mutuamente proveitosos, assim como para a preservação do meio am-biente e a conservação e utilização racional dos recursos naturais desses territórios.” (Art. I do TCA)

A iniciativa dos países signatários de fortalecer o TCA foi saudada pela maio-ria dos autores da área, por se tratar de um comprometimento maior com os objetivos do Tratado, além de facilitar sua inserção no Direito Internacional, através de um organismo multilateral,

como pessoa jurídica e assim podendo programar diversas parcerias. Em ní-vel operacional, a OTCA se configura como um foro permanente de consul-tas, articulação entre os países e pro-motor de projetos de desenvolvimento sustentável para a região Amazônica. A organização pode atuar conjuntamente com as agências e órgãos responsáveis pela coordenação, implementação e acompanhamento de programas e pro-jetos de cooperação técnica dos Países Membros.

A OTCA representa o maior esforço de integração sub-regional na história da Amazônia, por meio do qual será possível acordar os princípios básicos que nortearão o desenvolvimento da região Amazônica (ARAGÓN, 2002). Sob a perspectiva regional, a OTCA sur-ge em meio a outros organismos como o Mercado Comum do Sul – MERCO-SUL e a Comunidade do Caribe que, embora dotados de missões diferentes, são importantes interlocutores e repre-sentam dimensões complementares para alcançar os propósitos de desen-volvimento dos Países Membros.

O estabelecimento do TCA, em 1978, na forma pioneira como foi tomada tra-balhava a expressão desenvolvimento harmônico da Pan-Amazônia, antes da formulação do termo desenvolvimen-to sustentável ter sido criada em 1987. Durante a pequena reforma do TCA, na emenda que aprovou a criação da Secre-taria Permanente, não houve reformu-lação jurídica do termo, atualizando-o. Mesmo assim, o discurso deste novo paradigma foi incorporado tacitamente

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à prática das reuniões e, com a criação da OTCA não podia haver outra estra-tégia de desenvolvimento que não esta. Enquanto definição não há divergências quanto ao que é apresentado pela OTCA e o que foi preconizado pelos teóricos do desenvolvimento sustentável. Cita-mos os trechos a seguir como exemplo:

“Declaração da Amazônia (1989): Firmou o desenvolvimento sustentável como interesse comum, reiterando que o patrimônio amazô-nico deve ser conservado por meio da utiliza-ção racional dos recursos da região para que as gerações atuais e futuras possam aprovei-tar os benefícios desse legado da natureza.” (TCA: Amazônia sin mitos, 1992)

O princípio cardinal de desenvolvi-mento sustentável para a Amazônia deve ser o bem-estar de seus habitantes e a satisfação de seus interesses legíti-mos. Deve assegurar a manutenção de seus ciclos naturais, de seus recursos na-turais renováveis e de sua biodiversida-de biológica. Tal desenvolvimento para ser sustentável, para além do plano eco-lógico deve assegurar também que sub-sistirão as comunidades humanas, ou seja, deve ser socialmente sustentável. Somente um desenvolvimento assim pode assegurara salvação para a Amazô-nia. Melhorar a qualidade de vida dos povos, aproveitando sustentavelmente a rica herança cultural e natural que hospeda o bioma mais importante do planeta e o coração do país: a Amazônia.

No preâmbulo do plano estratégico da OTCA consta o compromisso social de aumentar a capacidade das popula-

ções locais de usufruir os benefícios ge-rados pelas iniciativas desenvolvidas, na forma de geração de emprego e renda, como parte das metas governamentais de luta contra a pobreza, em consonân-cia com os Objetivos e Metas do Milê-nio das Nações Unidas e o Programa 21, estabelecidos na Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável.

Assim, é preciso observar a atuação da OTCA, frente à própria importância crescente da região amazônica na geo-política mundial, bem como os avanços no debate e na promoção do paradig-ma do “desenvolvimento sustentável” e ainda o papel significativo dos países amazônicos no processo de integração regional e sua vinculação à economia internacional. Fatores estes, aliados ao caráter global dos desafios da proteção ambiental, assim como a responsabili-dade soberana dos países amazônicos pelo futuro da região reiteram a neces-sidade de disposição política e o apoio irrestrito das Partes para realizar ações adicionais para que a cooperação regio-nal amazônica seja mais eficaz e alcance resultados de maior projeção.

Em 2004 foi aprovado o Plano Estra-tégico da OTCA, que seria o mecanis-mo a dar o tom, sobre como promover e fazer Desenvolvimento Sustentável, segundo os mandatos dos países mem-bros para a Organização. O Plano é ins-trumento de orientação do trabalho de médio prazo, no qual foram inclusos os resultados dos mandatos dos países sig-natários, estabelecendo em quais áreas a OTCA tem competência de atuação como órgão executivo, para orientar

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a formulação, a execução e o acompa-nhamento de projetos, programas e iniciativas viáveis de alcance regional, visando avançar em seus propósitos.

Segundo o plano estratégico acima mencionado a SP/OTCA observará os compromissos resultantes das conven-ções multilaterais relevantes, tais como a Convenção sobre a Diversidade Bio-lógica, Comércio Internacional de Es-pécies Ameaçadas, Convenção sobre a Proteção ao Patrimônio Mundial, Cul-tural e Natural, a Mudança Climática, Luta contra a Desertificação, Convenção de Ramsar sobre pântanos, entre outras.

O Plano estratégico reafirma o com-promisso desta organização com o desenvolvimento sustentável da Ama-zônia e informa ainda que a decisão dos Governos dos Países Membros de criar a OTCA e sua Secretaria Permanente, está dirigida a fortalecer institucional-mente a coordenação e a ação conjunta frente às demandas da região Amazôni-ca e representa uma demonstração ine-quívoca da prioridade que outorgam os oito países membros a esse mecanismo de cooperação regional e a necessidade de criar uma visão comum do desenvol-vimento sustentável amazônico.

Dentro do enfoque estratégico da Or-ganização foram estabelecidos quatro eixos estratégicos para a promoção do desenvolvimento sustentável: 1) Con-servação e uso sustentável dos recursos naturais; 2) Gestão do conhecimento e intercâmbio tecnológico; 3) Integração e competitividade regional; 4) Fortale-cimento institucional. Tais eixos devem ser articulados de forma transversal

junto a seis áreas programáticas, quais sejam: a) Água; b) Florestas, Solos e Áreas Naturais Protegidas; c) Diversi-dade Biológica, Biotecnologia e Bioco-mércio; d) Ordenamento Territorial, Assentamentos Humanos e Assuntos Indígenas; e) Infraestrutura Social: Saú-de e Educação; e f) Infraestrutura de Transporte, Energia e Comunicações.

A OTCA executa mais de 20 progra-mas e projetos em parceria com diversas instituições, organismos internacionais e agencias de cooperação, alguns países extra membros como a Holanda, Ale-manha e Grã Bretanha, além dos países membros através das Comissões Na-cionais Permanentes (CNPs). Dentre os programas, alguns se destacam por envolver maior amplitude de ação da OTCA nos últimos anos (2004 a 2010), como o projeto Fortalecimento da Ges-tão Regional Conjunta para o Uso Sus-tentável da Biodiversidade Amazônica; o projeto Manejo Integrado e Susten-tável dos Recursos Hídricos Transfron-teiriços na Bacia do Rio Amazonas, considerando a variabilidade e as mu-danças climáticas; o projeto Uso Sus-tentável e Conservação dos Bosques e da Biodiversidade na Região Amazôni-ca; a construção da Agenda Regional In-dígena (legitimar e integrar as políticas públicas em benefício dos povos indíge-nas); A criação da Rede Pan-Amazônica de Tecnologia, Ciência e Inovação em Saúde; e, a abertura de diálogo para a Iniciativa: Destino Amazônia 2009.

A Secretaria Permanente da OTCA é fortalecida, em novembro de 2009, por ocasião da Cúpula dos Presidentes

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Amazônicos, da qual emanou a Decla-ração sobre a OTCA. Chefes de Esta-dos decidiram dar a OTCA um papel renovado e moderno como fórum de cooperação, reconhecendo ser o de-senvolvimento sustentável da Amazô-nia uma prioridade, por meio de uma administração integral, participativa, compartilhada e equitativa, como for-ma de dar uma resposta autônoma e so-berana aos desafios ambientais atuais.

A XIV Reunião do Conselho de Coo-peração Amazônica (CCA), em novem-bro de 2010, em Lima no Peru, teve entre seus objetivos a realização de uma revisão das atividades desenvolvidas, dos avanços alcançados, como também discutir as novas ações para o trabalho conjunto para a preservação e desenvol-vimento sustentável da Região Amazô-nica. Os ministros adotaram uma nova Agenda Estratégica de Cooperação com ações especificas de curto, meio e longo prazo reafirmando os vínculos de co-operação que os países mantêm há 30 anos. A Agenda Estratégica 2010-2020 deve refletir as prioridades dos países amazônicos, de acordo com a nova rea-lidade política e social da região.

Dentro do discurso sobre desenvolvi-mento sustentável no âmbito da OTCA e para cumprir os objetivos desta pes-quisa analisando o papel dos países Brasil e Venezuela cabe mencionar a importância de um mecanismo de apli-cação do TCA que são as Comissões Nacionais Permanentes (CNPs) dos Países Membros.

Na Declaração sobre a OTCA apro-vada em 2009, em Manaus, Brasil, os

Presidentes dos países amazônicos re-afirmaram a importância que, de acor-do com o artigo 23 do TCA, os Países Membros estabeleçam ou reativem as Comissões Nacionais Permanentes como instâncias encarregadas de apli-car as disposições do TCA, executar projetos e programas e implementar as decisões adotadas pelas reuniões de Ministros de Relações Exteriores e pelo Conselho de Cooperação Amazônica em seus países. Têm o propósito de reunir todas as entidades responsáveis pelo desenvolvimento e cooperação amazônica em seus respectivos territó-rios. As Chancelarias presidem as Co-missões Nacionais Permanentes.

Assim compreendida esta comissão é fundamental para um maior concerto e articulação institucional e estratégica dos objetivos do Tratado de Coopera-ção, pois enquanto instancia local da OTCA pode proporcionar aos países membros um maior engajamento em termos de formulação de políticas pú-blicas de caráter transversal e articula-das coma questão da Amazônia dentro de seus próprios países. Ressalte-se que as CNP´s são presididas pelos respec-tivos ministros das relações exteriores de cada país.

O caráter multisetorial das CNPs, onde as Comissões Especiais da Amazô-nia têm um importante papel em suas áreas de competência (ciência e tecno-logia, saúde, meio ambiente, assuntos indígenas, turismo, educação e trans-portes, comunicações e infraestrutura), permitirá realizar de maneira integral e complementar as ações nos diferen-

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tes eixos estratégicos e dos elementos transversais contemplados no Plano Estratégico e os espaços de intervenção dos programas da SP/OTCA.

No Brasil, a Comissão Nacional Per-manente do Tratado de Cooperação Amazônica, constituída por 13 Minis-térios, a saber: 1. A Casa Civil da Pre-sidência da República; 2. O Ministério da Ciência e tecnologia; 3. O Ministério das Comunicações; 4. O Ministério da Defesa; 5. O Ministério do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio Exterior; 6. O Ministério da Educação; 7. O Mi-nistério da Justiça; 8. O Ministério do Meio Ambiente; 9. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 10. O Ministério das Relações Exterio-res; 11. O Ministério da Saúde; 12. O Ministério dos Transportes; 13. O Mi-nistério do Turismo.

Na Venezuela, a CNP é composta, além de Ministérios, por outras insti-tuições de caráter Federal, quais sejam: 1) Escritório Central de Coordenação e Planejamento da Presidência; 2) Minis-tério das Relações Exteriores; 3) Minis-tério da Saúde e Assistência Social; 4) Ministério do Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis; 5) Ministério da Educação e Cultura (direção de assun-tos indígenas); 6) Ministério da Pro-dução e Comércio (Vice Ministério do Turismo); 7) Ministério do Fomento; 8) Ministério de Transporte e Comu-nicação; 9) Ministério da Fazenda; 10) Ministério da Defesa; 11) Ministério da Agricultura e Terras; 12) Ministério da Justiça; 13) Ministério de Energia e Minas; 14) Conselho Nacional de Pes-

quisas Científicas e Tecnológicas; e 15) Corporação Venezuelana de Guayana.

A criação destes organismos e prin-cipalmente da OTCA de forma geral, demonstra que o TCA se trata de um acordo-quadro flexível, capaz de nor-tear matrizes coerentes para o desen-volvimento da cooperação regional e assim as estratégias que os países membros adotam em relação ao de-senvolvimento para a Amazônia ado-tada nacionalmente e as iniciativas e estratégias de cooperação entre os países-membros são importantes e se destacam. Tais iniciativas devem ser ar-ticuladas dentro da ótica de desenvol-vimento sustentável da OTCA, como veremos a seguir.

Brasil e Venezuela: estratégias de cooperação à luz do desenvolvimento sustentável

A troca de serviços e mercadorias entre as nações tem aumentado de tal forma que, nas duas últimas décadas, supera o crescimento da produção mundial. A origem desta troca entre as nações está no fato de os Estados não produzirem todos os bens de que necessitam, seja por falta de condições, seja por falta de interesse.

A fim de obter maiores vantagens no mercado internacional, os países pro-curam especializar-se na produção de bens valorizados em outros pólos de consumo e por eles gerados com maior eficiência. Estados de clima quente, por exemplo, são tradicionalmente grandes

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exportadores de alimentos tropicais para as regiões de clima frio.

As nações mais ricas, como EUA, Ale-manha e Japão, possuem parques in-dustriais desenvolvidos que viabilizam a fabricação de bens de alta tecnologia.

Assim, com cada país investindo em setores que tem maior vantagem e excluindo os demais, o comércio se tornou fundamental para a vida econô-mica das nações, e é um dos elementos centrais do processo de globalização.

Criado em 1991, o Mercado Comum do Sul é composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, países sul-americanos que adotam políticas de integração econômica e aduaneira. Até agosto de 2011 a Venezuela ainda não fazia parte do MERCOSUL.

Ressalte-se que esta busca pela inte-gração regional encontra resistências, a exemplo do ocorrido quando foi ce-lebrado o acordo entre a Venezuela, o Brasil e a Argentina para a construção de gasoduto - através do qual a Vene-zuela forneceria gás ao Brasil e à Argen-tina, e que estaria pronto a partir de 2017 - foi motivo de protesto por parte dos presidentes do Uruguai e do Pa-raguai, membros do MERCOSUL que uniram suas vozes para deixar claro que “assim como está, o MERCOSUL não serve”, pela prepotência dos sócios maiores.

Em que pese os choques e conflitos comerciais com alguns países da Amé-rica do sul, Brasil e Venezuela, segundo os dados disponíveis acerca da relação entre ambos levam a seguinte conclu-são: nos últimos anos, as relações polí-

ticas bilaterais conheceram um surto de adensamento superior ao que se verifi-ca entre estes países e outros parceiros.

Esta convergência pode ser explicada através da visão estratégica externa ado-tada pelos países sob parâmetros como: o conceito de globalização assimétrica como correção ao conceito neoliberal de globalização benéfica; o conceito po-lítico e estratégico de América do Sul; o reforço do núcleo central robusto da economia nacional como condicionan-te da interdependência global; a per-cepção de nocividade da ALCA, caso se estabeleça sem as condicionantes ante-riores e sem reciprocidade comercial efetiva; entre outros.

Os acordos entre Brasil e Venezuela vão desde o fornecimento de tecnolo-gia para aprimoramento da produção de milho, soja e carne até uma carta de intenções que se destina à questão dos sobrevôos nos dois países.

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez assinaram em 2008, em Caracas, na Venezuela, 21 acordos nas áreas energética, indus-trial, agrícola, tecnológica, ambiental e educacional.

Ainda na área energética, os dois pa-íses acertaram a troca de energia entre as usinas hidrelétricas de Guri, na Ve-nezuela, e Tucuruí, Belo Monte, no es-tado do Pará, Brasil.

Esse projeto ainda depende da cons-trução de uma linha de transmissão entre os dois países. A compra de gás natural liquefeito da Venezuela está prevista para depois de 2014. Os dois presidentes ressaltaram a necessidade

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de integração entre os países da Amé-rica Latina para fortalecer a economia da região.

Á época, o presidente do Brasil dis-se na solenidade que já não existe mais desconfiança do empresariado brasilei-ro para investir na Venezuela.

Os presidentes Lula e Chávez se com-prometeram a trabalhar juntos para conservação do meio ambiente, da Re-gião Amazônica e para fortalecera eco-nomia da fronteira entre os dois países.

A Venezuela vai fornecer ao Brasil uma linha de conexão por fibra ótica para ampliar o acesso à internet de alta velocidade no Norte do país. Os dois países também vão trocar experiências de tecnologia na área de TV digital.

O Brasil vai ajudar a Venezuela a de-senvolver suas áreas industriais e agríco-las por meio dos escritórios da Agência Brasileira de Desenvolvimento Indus-trial (ABDI) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Outro acordo visa garantir a segu-rança das aeronaves que sobrevoam a região de fronteira entre os dois países.

Também foi firmado acordo para re-gulamentar o intercâmbio de pessoas condenadas para que possam cumprir as sentenças em seus países de origem.

Atualmente a Venezuela vive o agra-vamento da crise energética acentuada pelo desabastecimento de alguns ali-mentos e também de água. O Brasil se comprometeu também a colaborar para o fornecimento de energia ao país.

Os acordos de cooperação com o Bra-sil contribuem para minimizar essas di-ficuldades enfrentadas pela Venezuela.

Há parcerias para que os venezuelanos possam comprar azeite refinado brasi-leiro, além de memorandos de entendi-mentos para eteno e polietileno.

Um acordo assinado no ano de 2010 representou um memorando de en-tendimento para supervisionar os pla-nos bilaterais de cooperação, e depois uma “ata compromisso” para estabe-lecer mecanismos de planejamento territorial tanto na faixa petrolífera do Orinoco como no litoral oriental vene-zuelano, que conta com jazidas de gás.

A realização desta reunião foi estipu-lada em reunião trimestral, realizada entre Chávez e o presidente Lula.

A equipe brasileira foi liderada pelo ministro chefe da Secretaria de Assun-tos Estratégicos, Samuel Pinheiro, e o embaixador do país na Venezuela, An-tonio Simões.

Os presidentes assinaram ainda um acordo entre o Banco da Venezuela e a Caixa Econômica Federal (CEF) para aumentar o acesso a serviços bancários nos dois países.

Também foi assinado um ato que define a ampliação da venda de nafta, um derivado de petróleo, da empresa brasileira Brasken para a Petróleos de Venezuela SA (PDVSA). Atualmente, a empresa brasileira vende 500 mil toneladas do produto à Venezuela. O objetivo do novo acordo é aumentar as vendas para 750 mil toneladas.

Com a Embrapa, Lula e Chávez defi-niram que será realizada uma parceria para efetivar pesquisas agropecuárias na Venezuela e também para adiantar projetos que buscam a ampliação da

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colheita de soja na região de Valle de Quibor, no estado de Lara.

Os governos do Brasil e da Venezuela ainda devem ampliar os acordos bilate-rais nas áreas de mineração e petróleo.

As negociações foram intensificadas a partir de fevereiro de 2011, quando o ministro das Relações Exteriores Anto-nio Patriota se reuniu com o chanceler venezuelano, Nicolas Maduro, em Ca-racas. Patriota e Maduro vão examinar também projetos nas áreas de habita-ção, agricultura, indústria, energia e desenvolvimento fronteiriço.

As empresas do Brasil e da Venezuela mantêm ligações, principalmente, nos setores de mineração e construção civil.

No ano de 2010, o comércio entre os dois países atingiu US$ 4,68 bilhões, com saldo positivo para o Brasil de mais de US$ 3 bilhões, atualmente, o Brasil é o terceiro parceiro comercial da Venezuela.

No que se refere aos acordos interna-cionais na área ambiental, Brasil e Ve-nezuela assinaram na cidade de Caracas em 27 de junho de 2008, um memoran-do de entendimento entre o governo de ambos os países.

Este documento considera que ambos os países reconhecem a importância do desenvolvimento sustentável para pro-teger e melhorar o ambiente, saúde e o bem estar das gerações presentes e fu-turas e de que a cooperação ambiental é mutuamente proveitosa.

Há referencia também sobre o desejo de fortalecimento das relações Sul-Sul e de amizade entre os países. Afirma este documento sobre a necessidade de uma

cooperação técnica mais profunda para proteger o meio ambiente.

Entretanto Segundo Batista (2009) “de acordo com o Ministério de Rela-ções Exteriores – Divisão da América meridional IV o posicionamento oficial com relação a este memorando de en-tendimento sobre cooperação ambien-tal não havia iniciativas específicas no âmbito deste instrumento.” (BATISTA, 2009, p.36)

Ao longo da pesquisa também foi ve-rificada a existência de acordos entre os Estados de Roraima/Brasil e Bolívar/Ve-nezuela para a proteção dos espaços pro-tegidos nas áreas fronteiriças, habitados por populações indígenas ou não. Po-rém estas iniciativas carecem de medidas mais efetivas por parte dos dois países.

Conclusão

Considerando que no âmbito do Direi-to Internacional Latino Americano o TCA representa a materialização de um foro regional voltado para a realidade local e que aponta diretrizes gerais para uma gestão que tenta combinar desen-volvimento, economia e meio ambien-te. Pode-se afirmar que o tratado se constitui num documento de referência que poderá inspirar e liderar iniciativas que objetivem organizar uma política para a Amazônia Internacional, com base num modelo de Desenvolvimento Sustentável envolvendo todos os oito países amazônicos.

Destaca-se que isso é um processo lento, pois só após 17 anos da concep-

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ção do TCA é que foi efetivada a mais importante ação derivada deste, que é a criação da OTCA (1995), com funções específicas de promover os caminhos do desenvolvimento regional sustentá-vel, que possibilitou nova caracteriza-ção ao tratado.

A OTCA representa a concretização da cooperação (intra) regional. Isso porque foi o órgão capaz de definir e direcionar políticas de desenvolvimento que atentem tanto para a cooperação externa, como para acordos externos objetivando a consecução do modelo de Desenvolvimento Sustentável, con-tento principalmente o ponto de im-pulso e potencialização das estratégias de integração física e energética; além de consolidar um espaço privilegiado de relacionamento com oito dos doze países sul-americanos.

Entre outras ações importantes de-rivadas do TCA destacamos a criação da Secretaria Permanente da OTCA (2002), que visa orientar estratégias e propósitos segundo os desígnios es-tabelecidos pelos Países Membros e o Plano Estratégico 2004-2012. A partir da qual, aumentou o número de acor-dos bilaterais assinados entre os países membros, bem como a implementação de programas e projetos com o objeti-vo de estimular o desenvolvimento sus-tentável da Amazônia.

Estes fatos destacam que nesta dé-cada o setor de gestão ambiental vem se aprimorando no TCA, tendo como base a democratização, o olhar interna-cional sobre a forma política da prática de preservação na região, bem como,

avanço de tecnologias da urbanização e a ideia de uma conscientização ambien-tal tem sido uma constante preocupa-ção dos países amazônicos.

Assim, do ponto de vista jurídico são numerosos os decretos e resoluções ge-radas pelos países estudados, mas não foi possível identificar ações e políticas integradas realizadas por eles, tento como pano de fundo a integração e sus-tentabilidade da Região.

Desta feita, em que pese existirem marco legal como: as legislações na-cionais, o tratado, demonstrando que a questão ambiental na Amazônia está teoricamente bem amparada, de fato o que ocorre é que as pressões da socieda-de civil e em especial das ONG’s tanto nacionais quanto internacionais, é que obrigam aos Estados brasileiro e vene-zuelano a programarem algumas estra-tégias de desenvolvimento sustentável.

Neste contexto, ressalte-se que as histórias do Brasil e da Venezuela pos-suem similitudes, ambas tem íntima relação com a busca e com o aproveita-mento dos seus recursos naturais, que sempre contribuíram com importantes insumos para a economia nacional, fa-zendo parte da ocupação territorial e da história nacional.

Para efetivar a ocupação da Amazônia os governos brasileiro e venezuelano investiram igualmente no modelo de desenvolvimento baseado em pólos de desenvolvimento, de forma a estruturar, ordenar e tornar os espaços produtivos, com investimentos em créditos e incen-tivos visando a tornar os países mais competitivos na economia mundial.

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Entretanto, tais ações até os dias atu-ais não levaram em consideração os interesses de todos os grupos que divi-dem este território, tendo como base uma política ambiental voltada para a sustentabilidade, o que perpassaria pela prática do planejamento participa-tivo e da negociação entre os diferentes setores sociais envolvidos, como instru-mentos de solução de conflitos, para atingir o desenvolvimento desejado.

Nessa contextualização, deve se con-siderar que ambas as sociedades, bra-sileira e venezuelana, carregam uma marca autoritária, com largas tradi-ções de relações políticas paternalistas e clientelistas, e longos períodos de governos não democráticos. Até hoje são sociedades marcadas por relações sociais hierarquizadas e por privilégios que reproduzem um altíssimo nível de desigualdade, injustiça e exclusão so-cial, na medida em que boa parte da população não tem acesso a condições de vida digna, encontra-se excluída da plena participação nas decisões que de-terminam os rumos da política.

Fato é que ambos os países, apesar dos esforços legislativos apresentados na área ambiental, vêm priorizando uma estratégia de cooperação nas áreas comercial, energética e de defesa, que de alguma forma pode entrar em con-flito com os dispositivos do TCA e da OTCA quanto ao desenvolvimento sus-tentável e a integração da região.

Concretamente, quanto ao desen-volvimento sustentável, existe um memorando de entendimentos entre Brasil e Venezuela assinado na cidade

de Caracas em 27 de junho de 2008, este instrumento considera que ambos os países reconhecem a importância do desenvolvimento sustentável para pro-teger e melhorar o ambiente, saúde e o bem estar das gerações presentes e fu-turas e de que a cooperação ambiental é mutuamente proveitosa. Afirma este documento sobre a necessidade de uma cooperação técnica mais profunda para proteger o meio ambiente. Entretanto no período estudado não verificamos nenhuma iniciativa concreta no âmbito deste instrumento.

Frente a esta realidade, o desafio pos-to é dar condições para o início de uma mudança social e um possível encontro de novos paradigmas que concilie con-servação ambiental, solidariedade, jus-tiça social e prudência econômica.

Assim, ressalta-se que para realizar ações e políticas de meio ambiente in-tegradas, o êxito dos projetos a serem executados nas áreas dos tratados bilaterais para a consecução do de-senvolvimento tendo como base a sus-tentabilidade, dependerá da decisão dos dois países em colocar a capacidade de suas instituições técnicas e os recur-sos financeiros necessários para sua im-plementação de programas e projetos concretos que tenham como prioridade o desenvolvimento sustentável. Caso contrário o TCA e a OTCA tornam-se apenas uma “carta de intenções”.

Desta feita, emerge a necessidade de se fomentar novos modelos de desen-volvimento baseados no planejamen-to regional e que possam formular estratégias capazes de promover o

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Durante as últimas décadas foram criadas fundamentalmente medidas

jurídicas que atenderam a motivos e propósitos parciais, muitas delas res-ponderam a demandas momentâneas de caráter sócio-econômico e políticos, enfim, tem-se avançado, sim, neste de-bate, nos últimos anos, mas ainda fica um amplo caminho a ser percorrido.

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Tratado de Cooperação Amazônica: política sustentável Brasil-VenezuelaAna Georgina Ferreira Ribeiro, Antonio Carvalho Ferreira e Raimundo Nonato de Souza Bouth

ResumoO trabalho analisa o Tratado de Coo-peração Amazônica e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, como instrumentos para elaborar po-líticas integradas de desenvolvimento sustentável na região amazônica envol-vendo Brasil e Venezuela. O artigo apre-senta enfoque qualitativo, descritivo e bibliográfico-documental. Constata-se que Brasil e Venezuela reconhecem nas suas legislações a importância do de-senvolvimento sustentável e que a co-operação ambiental através de tratados internacionais é mutuamente proveito-sa, mas, não possuem acordos bilaterais de proteção ambiental e desenvolvi-mento sustentável, assim os dois países, não priorizam ações e políticas de coo-peração na área ambiental, mas estraté-gias de cooperação nas áreas comercial, energética e de defesa, que conflitam com os dispositivos da OTCA e com o desenvolvimento sustentável.

Palavras-chaveTratado de Cooperação Amazônica – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – políticas integradas – desenvolvimento sustentável – Brasil-Venezuela

AbstractThe work analyze the Amazon Coopera-tion Treaty and the Amazon Cooperation Treaty Organization, like instruments to prepare integrated politics of sustainable development in the Amazon region wra-pping Brazil and Venezuela. The article presents qualitative approach, descripti-ve and bibliographic-documental. While that Brazil and Venezuela in their laws recognize the importance of sustainable development and environmental coope-ration through international treaties are mutually beneficial, but do not have bila-teral agreements for environmental pro-tection and sustainable development from the perspective of the ACTO, and the two countries do not prioritize actions and po-litics of cooperation in the environmental area, but strategies for cooperation in tra-de, energy and defense, that conflict with the provisions of ACTO and sustainable development.

Key wordsAmazon Cooperation Treaty – Organiza-tion of the Amazon Cooperation Treaty – Integrated Politicies – Sustainable De-velopment – Brazil-Venezuela

[email protected]

Artigo recebido em 08 de janeiro de 2012 e aprovado para publicação em 20 de março de 2012.

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