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Tratado de Madrid (1750) Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Ir para: navegação , pesquisa Capitanias do Brasil - 1534. O Tratado de Madrid foi firmado na capital espanhola entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI de Espanha , a 13 de Janeiro de 1750 , para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas. 1 O objetivo do tratado era substituir o de Tordesilhas , o qual já não era mais respeitado na prática. Pelo tratado, ambas as partes reconheciam ter violado o Tratado de Tordesilhas na Ásia e na América e concordavam que, a partir de então, os limites deste tratado se sobreporiam aos limites anteriores. 2 As negociações basearam-se no chamado Mapa das Cortes , privilegiando a utilização de rios e montanhas para demarcação dos limites. O diploma consagrou o princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados do Brasil de hoje. 3 Índice [esconder ]

Tratado de Madrid

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Tratado de Madrid (1750)Origem: Wikipdia, a enciclopdia livre.Ir para: navegao, pesquisa

Capitanias do Brasil - 1534.O Tratado de Madrid foi firmado na capital espanhola entre D. Joo V de Portugal e D. Fernando VI de Espanha, a 13 de Janeiro de 1750, para definir os limites entre as respectivas colnias sul-americanas, pondo fim assim s disputas.1 O objetivo do tratado era substituir o de Tordesilhas, o qual j no era mais respeitado na prtica. Pelo tratado, ambas as partes reconheciam ter violado o Tratado de Tordesilhas na sia e na Amrica e concordavam que, a partir de ento, os limites deste tratado se sobreporiam aos limites anteriores.2 As negociaes basearam-se no chamado Mapa das Cortes, privilegiando a utilizao de rios e montanhas para demarcao dos limites. O diploma consagrou o princpio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados do Brasil de hoje.3ndice[esconder] 1 Antecedentes 1.1 Unio Ibrica 1.2 A Colnia de Sacramento 2 O Tratado 3 Consequncias 4 Referncias 5 Bibliografia 6 Ligaes externasAntecedentes[editar | editar cdigo-fonte]Unio Ibrica[editar | editar cdigo-fonte]Ver artigo principal: Unio Ibrica

Filipe, rei de Espanha e Portugal.Com a Unio Ibrica (1580-1640), embora os respectivos domnios ultramarinos continuassem separados teoricamente, certo que tanto espanhis entravam sem grandes problemas em territrios portugueses, quanto lusitanos entravam em terras espanholas, estabelecendo-se e com isso obtendo ttulos de propriedade que seriam respeitados pela diplomacia posterior. Esta tica da questo de fronteiras durante a Unio inexata j que continuou existindo uma rivalidade entre os dois povos, porm isso explica em parte esta expanso. Iam se estabelecendo, assim, algumas das futuras fronteiras terrestres do Brasil.4 Pela orla martima os portugueses estenderam seus domnios da Baa de Paranagu ao Rio Oiapoque (antes os extremos no litoral eram Canania e Itamarac). Nesse perodo conquistaram-se muitas regies do Nordeste e do Norte (da Paraba ao Gro-Par e quase toda a Amaznia).3 Tambm houve grande expanso ao Sul (onde bandeiras de caa ao ndio destruram assentamentos jesuticos espanhis nos atuais oeste paranaense, no centro do Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, o que contribuiu para incorporar esses territrios ao atual Brasil).4Durante a Unio Ibrica, o Brasil continuou a ser alvo de estrangeiros como os franceses, porm os maiores inimigos foram os holandeses - que at 1571 tinham seu territrio dominado pela Espanha, o que motivou sua ao contra os espanhis e seus aliados. Apesar da fora com que invadiram o Brasil e a se estabeleceram, principalmente na faixa litornea que hoje vai do Esprito Santo ao Maranho e de modo peculiar em Pernambuco, eles foram definitivamente expulsos em 1654, 14 anos aps a Restaurao de Portugal como reino independente.A Colnia de Sacramento[editar | editar cdigo-fonte]Ver artigo principal: Colnia do Sacramento

Antiga muralha erguida pelos portugueses na Colnia do Sacramento.Aps a restaurao em 1640, a paz entre Portugal e Espanha foi firmada em 1668. Portugal ainda no havia desistido de estender seus domnios at a foz do Prata, razo pela qual o rei ordenou em 1678 a fundao de uma colnia naquela regio para sustentar e afirmar seus direitos sobre a localidade. O limite vigente, definido pelo Tratado de Tordesilhas, no era claro, e cada parte tinha a sua interpretao. Para os portugueses, as 370 lguas deveriam ser medidas a partir da Ilha de Santo Anto, em Cabo Verde, mas para os espanhois, o ponto de partida seria a ilha de So Nicolau. De posse de um mapa, elaborado por Joo Teixeira, os portugueses afirmavam que a linha, se medida a partir da ilha de So Nicolau, passaria a 19 lguas a leste da regio, que estaria sob domnio espanhol, mas se medida a partir da ilha de Santo Anto, passaria a 13 lguas a oeste, e a regio seria de domnio portugus. Em 1679, o governador da capitania do Rio de Janeiro Manuel de Lobo partiu, com apoio dos comerciantes interessados em ampliar seus negcios com a Amrica espanhola, para fundar o que seria o primeiro assentamento europeu no territrio que viria a formar o Uruguai. Em frente cidade de Buenos Aires, na margem oposta do Prata, a colnia se tornaria um centro de contrabando para comerciantes portugueses e ingleses terem acesso a Buenos Aires, durante a proibio do comrcio de gneros do Brasil, como acar, tabaco e algodo.To logo tomou cincia da ocupao portuguesa, o governador espanhol mobilizou tropas e desalojou os portugueses da regio e prendeu Manuel de Lobo. Aps protestos de Portugal que levaram interveno do papa Inocncio XI, a colnia foi devolvida aos portugueses em 1683, o que foi ratificado nos tratados de Lisboa (1701) e de Utrecht (1715). Em 1714, durante a negociao deste ltimo, Alexandre de Gusmo tomou conhecimento dos sentimentos envolvidos. Para os espanhis, o controle do esturio do Prata, e da navegao da prata oriunda do Peru, era indispensvel segurana do seu imprio, ameaado pelos britnicos aliados dos portugueses. A posse exclusiva daquela regio representava condio de vida ou morte. Por outro lado, para os portugueses, abandonar a regio nao que haviam derrotado na ltima guerra era motivo de desonra.5 Aps alguns atritos, o soberano espanhol concedeu o inteiro domnio da margem setentrional do rio da Prata e em 1715, confirmou que o Prata era o limite ao sul do Brasil.A definio geral dos limites ocorreria em 1750 com o tratado de Madrid.1 Os Sete Povos das Misses foram deixados em paz at 1750. Pelo tratado, a rea dos Sete Povos das Misses passaria a pertencer a Portugal e em troca a Colnia do Sacramento (no sul do atual Uruguai) passaria ao domnio espanhol. Porm os portugueses exigiam a expulso dos povos missioneiros.O Tratado[editar | editar cdigo-fonte]

Alexandre de Gusmo foi o redator do Tratado de Madri.O Tratado de Madrid foi a primeira tentativa de pr fim ao litgio entre Espanha e Portugal a respeito dos limites de suas colnias na Amrica do Sul.1Com as epopeias dos bandeirantes, desbravando o interior do Brasil, criando pequenos povoamentos, a validade do antigo Tratado de Tordesilhas estava em xeque. O novo Tratado tinha por objetivo "que se assinalassem os limites dos dois Estados, tomando por balizas as paragens mais conhecidas, tais como a origem e os cursos dos rios e dos montes mais notveis, a fim de que em nenhum tempo se confundissem, nem dessem ensejo a contendas, que cada parte contratante ficasse com o territrio que no momento possusse, exceo das mtuas concesses que nesse pacto se iam fazer e que em seu lugar se diriam".4 Assinado em 1750, o tratado no usava as linhas convencionais, mas outro conceito de fronteiras, introduzido neste contexto por Alexandre de Gusmo, a posse efetiva da terra (uti possidetis) e os acidentes geogrficos como limites naturais.3Com trabalhos apresentados Corte espanhola, Gusmo comprovou que as usurpaes luso-espanholas em relao linha de Tordesilhas (1494) eram mtuas, com as portuguesas na Amrica (parte da Amaznia e do Centro-oeste) sendo compensadas pelas da Espanha na sia (Filipinas, Ilhas Marianas e Ilhas Molucas).Apesar de Toms da Silva Teles (Visconde de Vila Nova de Cerveira) ter representado Portugal,4 Alexandre de Gusmo foi o redator do Tratado e o idealizador da aplicao do uti possidetis.Em 1746, quando comearam as negociaes diplomticas a respeito do Tratado, Alexandre de Gusmo j possua os mapas mais precisos da Amrica do Sul, que encomendara aos melhores gegrafos do Reino. Era um dos trunfos com que contava para a luta diplomtica que duraria quatro anos.Alexandre sabia que os espanhis jamais deixariam em paz uma colnia (Colnia do Sacramento) que lhes prejudicava o tesouro. Alm disso, descobrira-se ouro no Brasil, no sendo preciso entrar em conflitos por causa da prata peruana. Para a compensao, j tinha em vista as terras convenientes coroa portuguesa: os campos dos Sete Povos das Misses, a oeste do Rio Grande do Sul, onde os luso-brasileiros poderiam conseguir grandes lucros criando gado.

Diviso territorial do Brasil - 1789.Finalmente, em Madrid, a 13 de janeiro de 1750, firmou-se o tratado:3 Portugal cedia a Colnia do Sacramento e as suas pretenses ao esturio do Prata, e em contrapartida receberia o atual estado do Rio Grande do Sul, partes de Santa Catarina e Paran (territrio das misses jesuticas espanholas),4 o atual Mato Grosso do Sul, a imensa zona compreendida entre o Alto-Paraguai, o Guapor e o Madeira de um lado e o Tapajs e Tocantins do outro, regies estas desabitadas e que no pertenceriam aos portugueses se no fossem as negociaes do tratado.3Foi meio continente assegurado a Portugal pela atividade de Alexandre de Gusmo. Para a regio mais disputada, o Sul, o santista j enviara, em 1746, casais de aorianos para garantir a posse do terreno.4 Era uma nova forma de colonizao que Alexandre preconizava, atravs de famlias que produzissem, sem precisar de escravos. Os primeiros sessenta casais fundaram o Porto dos Casais, mais tarde Porto Alegre.O tratado foi admirvel em vrios aspectos. Determinou que sempre haveria paz entre as colnias americanas, mesmo quando as metrpoles estivessem em guerra.2 Abandonou as decises tomadas arbitrariamente nas cortes europeias por uma viso mais racional das fronteiras, marcadas pelos acidentes naturais do terreno e a posse efetiva da terra. O princpio romano de uti possidetis deixou de se referir posse de direito, determinada por tratados, como at ento tinha sido compreendido, para se fundamentar na posse de fato, na ocupao do territrio: as terras habitadas por portugueses eram portuguesas.Entretanto, o tratado logo fez inimigos: os jesutas espanhis, expulsos das Misses, e os comerciantes impedidos de contrabandear no rio da Prata. Seus protestos encontraram um inesperado apoio no novo homem forte de Portugal: o Marqus de Pombal.Um novo acordo o de El Pardo , firmado em 12 de fevereiro de 1761, anulou o de Madrid. Mas as bases geogrficas e os fundamentos jurdicos por que Alexandre tanto lutara em 1750 acabaram prevalecendo e, em 1777, aqueles princpios anulados em El Pardo ressurgiram no Tratado de Santo Ildefonso.4 A questo foi ainda objeto de novo tratado do Pardo, a 11 de maro de 1778.1Devido ao sucesso obtido por Gusmo no Tratado de Madrid, mais tarde o historiador paraguaio padre Bernardo Capdeville se referiria a este como "a vergonha da diplomacia espanhola".Consequncias[editar | editar cdigo-fonte]

Com o tratado, o territrio dos Sete Povos das Misses passou a domnio de Portugal e, posteriormente, do Brasil.O Tratado de Madri trouxe como consequncias imediatas: a revogao do Tratado de Tordesilhas; a consagrao do princpio do uti possidetis (quem tem a posse tem o domnio); a permuta da Colnia do Sacramento pelo territrio dos Sete Povos das Misses; e a definio do rio Uruguai como fronteira oeste do Brasil com a Argentina.So apontadas como consequncias indiretas deste tratado: a concesso Espanha da navegao exclusiva do Rio da Prata; a criao da Capitania DEl Rey de So Pedro do Rio Grande do Sul; o aumento do poderio militar portugus no Sul do Brasil; a concesso de parte da Amaznia aos portugueses; a construo do Forte Prncipe da Beira, do Forte do Macap e do Forte de Tabatinga, entre outros. tambm parcialmente responsvel pela mudana da capital do Vice-Reino de Salvador (BA) para o Rio de Janeiro.As demarcaes das fronteiras impostas pelo Tratado de Madrid sofreram resistncia, particularmente por parte dos ndios guaranis, insuflados pelos jesutas. A reao indgena guarani do cacique Jos (Sep) Tiaraju deu incio Guerra Guarantica (1752-1756). Sep foi morto trs dias antes da ltima batalha, a de Caibat, onde morreram combatendo mais de 1500 ndios.O resultado final desses tratados e de outros que viriam foi fruto da colonizao portuguesa desde o sculo XVI at o XIX que ao penetrar o territrio, seja por motivos econmicos (minerao na regio mais central Minas, Mato Grosso e Gois , pecuria no serto nordestino e no sul do Brasil e coleta de produtos da floresta,1 associado facilidade de navegao da Bacia Amaznica ) ou religiosos (como o caso das misses jesutas, franciscanas e carmelitas que estiveram em diversas partes do Brasil), expandiu os domnios portugueses de norte a sul e pelo uti possidetis adquiriu terras que antes no lhes pertenciam.Para a historiografia brasileira, o Tratado de Madri representa a base histrico-jurdica da formao territorial do pas, por ser o primeiro documento a definir com preciso suas fronteiras naturais. Para historiadores argentinos, no entanto, este tratado teria sido extorquido ao governo espanhol, por incapacidade ou por influncia da rainha da Espanha, filha do rei portugus.6Referncias1. Ir para: a b c d e Miriam Ilza Santana (12 de maro de 2008). Tratado de Madrid de 1750 (em portugus). InfoEscola. Pgina visitada em 13 de janeiro de 2013.2. Ir para: a b Del Priore 2001, pp. 1643. Ir para: a b c d e Rainer Sousa. Tratado de Madri (em portugus). Brasil Escola. Pgina visitada em 13 de janeiro de 2013.4. Ir para: a b c d e f g Antonio Gasparetto Junior (4 de dezembro de 2010). Tratado de Madrid (em portugus). Histria Brasileira. Pgina visitada em 13 de janeiro de 2013.5. Ir para cima Corteso 1950, pp. 1676. Ir para cima Corteso 1950, pp. 7-8Bibliografia[editar | editar cdigo-fonte] Corteso, Jaime. Alexandre de Gusmo e o Tratado de Madrid: Parte I Tomo I (1695-1735) (em portugus). Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1950. 560 p. Del Priore, Mary; Venncio, Renato Pinto. O Livro de Ouro da Histria do Brasil (em portugus). 2 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. 397 p. ISBN 9788500008061 Pgina visitada em 24 de janeiro de 2013.Ligaes externas[editar | editar cdigo-fonte]

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O Tratado de Madrid (ou dos Limites)(I)

A consolidao e expanso da presena portuguesa em terras brasileiras na centria de Setecentos, levantou problemas na definio fronteiria com a rea de influncia espanhola no continente sul americano, uma vez que os limites impostos pelo velho Tratado de Tordesilhas (linha meridiana situada a 370 lguas a oeste de Cabo Verde) j no se adequavam s novas realidades de ocupao do territrio. Esta situao, potencialmente perigosa e geradora de conflitos entre as potncias ibricas conduziu necessidade de negociaes com Espanha, por forma a alterar esse limite. O resultado dessas negociaes viria a dar origem ao denominado Tratado de Madrid, tambm conhecido por Tratado dos Limites, assinado em 1750.

Do lado portugus as negociaes forma conduzidas por Alexandre de Gusmo que conseguiu a alterao dos limites impostos em Tordesilhas em troca da cedncia Espanha da colnia de Sacramento, na margem esquerda do rio da Prata, ficando assim estabelecidas, nas suas linhas essenciais, as actuais fronteiras do Brasil.

Trato de limites das conquistas entre os muito altos e poderosos senhores d. Joo V, Rei de Portugal, e d. Fernando VI, rei de Espanha, assinado em 13 de janeiro de 1750, em Madrid, e ratificado em Lisboa a 26 do dito ms, e em Madrid a 8 de fevereiro do mesmo ano.

Em nome da Santssima Trindade

Os serenssimos reis de Portugal e Espanha, desejando eficazmente consolidar e estreitar a sincera e cordial amizade, que entre si professam, consideraram que o meio mais conducente para conseguir to saudvel intento tirar todos os pretextos, e alhanar os embaraos, que possam adiante alter-la, e particularmente os que se podem oferecer com o motivo dos limites das duas coroas na Amrica, cujas conquistas se tm adiantado com incerteza e dvida, por se no haverem averiguado at agora os verdadeiros limites daqueles domnios, ou a paragem donde se h de imaginar a linha divisria, que havia de ser o princpio inaltervel da demarcao de cada coroa. E considerando as dificuldades invencveis, que se ofereceriam se houvesse de assinalar-se esta linha com o conhecimento prtico que se requer; resolveram examinar as razes e dvidas, que se oferecessem por ambas as partes, e vista delas concluir o ajuste com recproca satisfao e convenincia.

Por parte da Coroa de Portugal se alegava que, havendo de contar-se os 180 graus da sua demarcao desde a linha para o oriente, ficando para Espanha os outros 180 para o ocidente; e devendo cada uma das naes fazer os seus descobrimentos e colnias nos 180 graus da sua demarcao; contudo, se acha, conforme as observaes mais exatas e modernas dos astrnomos e gegrafos, que comeando a contar os graus para o ocidente da dita linha, se estende o domnio espanhol na extremidade asitica do mar do Sul, muitos mais graus, que os 180 da sua demarcao; e por conseginte tem ocupado muito maior espao, do que pode importar qualquer excesso, que se atribua aos portugueses, no que talvez tero ocupado na Amrica meridional ao ocidente da mesma linha, e princpio da demarcao espanhola.

Tambm se alegava que, pela escritura de venda com pacto de retrovendendo, outogarda pelos procuradores das duas coroas em Saragoa a 22 de abril de 1529, vendeu a coroa de Espanha a Portugal tudo o que por qualquer via ou direito lhe pertencesse ao ocidente de outra linha meridiana, imaginada pelas ilhas das Velas, situadas no mar do Sul a 17 graus de distncia de Maluco; com declarao, que se Espanha consentisse, e no impedisse aos seus vassalos a navegao da dita linha para o ocidente, ficaria logo extinto e resoluto o pacto de retrovendendo; e que quando alguns vassalos de Espanha, por ignorncia ou por necessidade, entrassem dentro dela, e descobrissem algumas ilhas, ou terras, pertenceria a Portugal o que nesta forma descobrissem. Que sem embargo desta conveno, foram depois os espanhis a descobrir as Filipinas, e com efeito se estabeleceram nelas pouco antes da unio das duas coroas, que se fez no ano de 1580, por cuja causa cessaram as disputas que esta infrao suscitou entre as duas naes; porm tendo-se depois dividido, resultou das condies da escritura de Saragoa um novo ttulo, para que Portugal pretendesse a restituio, ou o equivalente de tudo o que ocuparam os espanhis ao ocidente da dita linha, contra o capitulado na referida escritura.

Quanto ao territrio da margem setentrional do rio da Prata, alegava que, com o motivo da fundao da Colnia do Sacramento, excitou-se uma disputa entre as duas coroas, sobre limites: a saber, se as terras, em que se fundou aquela praa, estavam ao oriente ou ao ocidente da linha divisria, determinada em Tordesilhas; e enquanto se decidia esta questo, se concluiu provisionalmente um tratado em Lisboa a 7 de maio de 1681, no qual se concordou que a referida praa ficasse em poder dos portugueses; e que nas terras disputadas tivessem o uso e aproveitamento comum com os espanhis. Que pelo artigo VI, da paz, celebrada em Utrecht entre as duas coroas em 6 de fevereiro de 1715, cedeu S. M. C. toda a ao, e direito, que podia ter ao territrio e colnia, dando por abolido em virtude desta cesso o dito Tratado Provisional. Que devendo, em vigor da mesma cesso, entregar-se Coroa de Portugal todo o territrio da disputa, pretendeu o governador de Buenos Aires satisfazer unicamente com a entrega da praa, dizendo que pelo territrio s entendia o que alcanasse o tiro de canho dela, reservando para a Coroa de Espanha todas as demais terras da questo, nas quais se fundaram depois a praa de Montevidu e outros estabelecimentos: que esta inteligncia do governador de Buenos Aires foi manifestamente oposta ao que se tinha ajustado, sendo evidente que por meio de uma cesso no devia ficar a Coroa de Espanha de melhor condio do que antes estava, no mesmo que cedia; e tendo ficado pelo Tratado Provisional ambas as naes com a posse, e assistncia comum naquelas campanhas, no h interpretao mais violenta do que o supor que por meio da cesso de S. M. C. ficavam pertencendo privativamente sua Coroa.

Que tocando aquele territrio a Portugal por ttulo diverso da linha divisria, determinada em Tordesilhas (isto , pela transao feita no Tratado de Utrecht, em que S. M. C. cedeu o direito, que lhe competia pela demarcao antiga), devia aquele territrio independentemente das questes daquela linha ceder-se inteiramente a Portugal com tudo o que nele se houvesse novamente fabricado, como feito em solo alheio. Finalmente, que suposto pelo artigo VII do dito Tratado de Utrecht, se reservou S. M. C. a liberdade de propor um equivalente satisfao de S. M. F. pelo dito territrio e colnia; contudo, como h muitos anos passou o prazo assinalado para oferec-lo, tem cessado todo o pretexto, e motivo, ainda aparente, para dilatar a entrega do mesmo territrio.

Por parte da Coroa de Espanha se alegava que, havendo de imaginar-se a linha de norte a sul a 370 lguas ao poente das ilhas de Cabo Verde, conforme o tratado concludo em Tordesilhas a 7 de junho de 1494, todo o terreno que houvesse nas 370 lguas desde as referidas ilhas at o lugar, aonde se havia de assinalar a linha,pertenceria a Portugal, e nada mais por esta parte; porque desde ela para o ocidente se ho de contar os 180 graus da demarcao de Espanha: e ainda que, por no estar declarado de qual das ilhas de Cabo Verde se ho de comear a contar as 370 lguas, se oferea dvida, e haja interesse notvel, por estarem todas elas situadas a leste-oeste com a diferena de quatro graus e meio; tambm certo que, ainda cedendo Espanha, e consentindo que se comece a contar desde a mais ocidental, que chamam de Santo Anto, apenas podero chegar as 370 lguas cidade do Par, e mais colnias, ou capitanias portuguesas, fundadas antigamente nas costas do Brasil; e como a Coroa de Portugal tem ocupado as duas margens do rio das Amazonas, ou Maraon, subindo at a boca do rio Javari, que entra nele pela margem austral, resulta claramente ter-se introduzido na demarcao de Espanha tudo quanto dista a referida cidade da boca daquele rio, sucedendo o mesmo pelo interior do Brasil com internao, que fez esta Coroa at o Cuiab e Mato Grosso.

Pelo que toca Colnia do Sacramento, alegava que, conforme os mapas mais exatos, no chega com muita diferena boca do rio da Prata a paragem, onde se deveria imaginar a linha; e conseqentemente a referida colnia com todo o seu territrio cai ao poente dela, e na demarcao de Espanha; sem que obste o novo direito, com que a retm a Coroa de Portugal em virtude do Tratado de Utrecht; porquanto nele se estipulou a restituio por um equivalente; e ainda que a Corte de Espanha o ofereceu dentro do termo prescrito no artigo VII, no o admitiu a de Portugal; por cujo fato ficou prorrogado o termo, sendo como foi proporcionado e equivalente; e o no t-lo admitido foi mais por culpa de Portugal que de Espanha.

Vistas e examinadas estas razes pelos dois serenssimos monarcas, com as rplicas que se fizeram de uma e outra parte, procedendo com aquela boa f e sinceridade que prpria de prncipes to justos, to amigos e parentes, desejando manter os seus vassalos em paz e sossego, e reconhecendo as dificuldades e dvidas, que em todo o tempo fariam embaraada esta contenda, se se houvesse de julgar pelo meio da demarcao, acordada em Tordesilhas, assim porque se no declarou de qual das ilhas de Cabo Verde se havia de comear a conta das 370 lguas, como pela dificuldade de assinalar nas costas da Amrica meridional os dois pontos ao sul, e ao norte, donde havia de principiar a linha, como tambm pela impossibilidade moral de estabelecer com certeza pelo meio da mesma Amrica uma linha meridiana; e finalmente por outros muitos embaraos, quase invencveis, que se ofereceriam para conservar sem controvrsia, nem excesso, uma demarcao regulada por linhas meridianas; e considerando, ao mesmo tempo, que os referidos embaraos talvez foram pelo passado a ocasio principal dos excessos, que uma e outra parte se alegam, e das muitas desordens que perturbaram a quitao dos seus domnios; resolveram pr termo s disputas passadas e futuras, e esquecer-se, e no usar de todas as aes e direitos que possam pertencer-lhes em virtude dos referidos Tratados de Tordesilhas, Lisboa, Utrecht e da Escritura de Saragoa, ou de outros quaisquer fundamentos que possam influir na diviso dos seus domnios por linha meridiana; e querem que ao diante no se trate mais dela, reduzindo os limites das duas monarquias aos que se assinalaram no presente tratado; sendo o seu nimo que nele se atenda com cuidado a dois fins: o primeiro e principal que se assinalem os limites dos dois domnios, tomando por balizas as paragens mais conhecidas, para que em nenhum tempo se confundam, nem dem ocasio a disputas, como so a origem e curso dos rios, e os montes mais notveis; o segundo, que cada parte h de ficar com o que atualmente possui; exceo das mtuas cesses, que em seu lugar se diro; as quais se faro por convenincia comum, e para que os confins fiquem, quanto for possvel, menos sujeitos a controvrsias.

Para concluir este ajuste, e assinalar os limites, deram os dois serenssimos reis aos seus ministros, de uma e outra parte, os plenos poderes necessrios, que se inseriram no fim deste tratado: a saber Sua Majestade Fidelssima a Sua Excelncia o Senhor Toms Silva Teles, Visconde de Villa-Nova de Cerveira, do Conselho de S. M. F., e do de Guerra, mestre de campo general dos Exrcitos de S. M. F. e seu embaixador extraordinrio na Corte de Madrid; e Sua Majestade Catlica a Sua Excelncia o Senhor d. Jos de Cavajal e Lencastre, gentil-homem de Cmara de S. M. C. com exerccio, ministro de Estado, e decano deste Conselho, governador do Supremo de ndias, presidente da Junta de Comrcio e Moeda e superintendente geral das Postas e Estafetas de dentro e fora de Espanha; os quais depois de conferirem, e tratarem a matria com a devida circunspeco e exame, e bem instrudos da inteno dos dois serenssimos reis seus amos, e seguindo as suas ordens, concordaram no que se contm dos seguintes artigos:

Artigo IO presente tratado ser o nico fundamento e regra que ao diante se dever seguir para a diviso e limites dos dois domnios em toda a Amrica e na sia; e em virtude disto ficar abolido qualquer direito e ao, que possam alegar as duas coroas por motivo da bula do papa Alexandre VI, de feliz memria, e dos Tratados de Tordesilhas, de Lisboa e Utrecht, da escritura de venda outorgada em Saragoa e de outros quaisquer tratados, convenes e promessas; o que tudo, enquanto trata da linha da demarcao, ser de nenhum valor e efeito, como se no houvera sido determinado ficando em tudo o mais na sua fora e vigor; e para o futuro no se tratar mais da dita linha, nem se poder usar deste meio para a deciso de qualquer dificuldade que ocorra sobre limites, seno unicamente da fronteira, que se prescreve nos presentes artigos, como regra invarivel, e muito menos sujeita a controvrsias.

Artigo IIAs ilhas Filipinas e as adjacentes, que possui a Coroa de Espanha, lhe pertencem, para sempre, sem embargo de qualquer pertena que possa alegar por parte da Coroa de Portugal, com o motivo do que se determinou no dito Tratado de Tordesilhas, e sem embargo das condies contidas na escritura celebrada em Saragoa a 22 de abril de 1529; e sem que a Coroa de Portugal possa repetir cousa alguma do preo que pagou pela venda celebrada na dita escritura, a cujo efeito S. M. F., em seu nome, e de seus herdeiros, e sucessores, faz a mais ampla e formal renunciao de qualquer direito, que possa ter pelos princpios expressados ou por qualquer outro fundamento, s referidas ilhas e restituio da quantia que se pagou em virtude da dita escritura.

Artigo IIINa mesma forma, pertencer Coroa de Portugal tudo o que tem ocupado pelo rio das Amazonas, ou Maraon, acima e o terreno de ambas as margens deste rio at as paragens que abaixo se diro; como tambm tudo o que tem ocupado no distrito de Mato Grosso, e dele para parte do oriente, e Brasil, sem embargo de qualquer pretenso que possa alegar, por parte da Coroa de Espanha, com o motivo do que se determinou no referido Tratado de Tordesilhas; a cujo efeito S. M. C., em seu nome, e de seus herdeiros e sucessores, desiste e renuncia formalmente a qualquer direito e ao que, em virtude do dito tratado, ou por outro qualquer ttulo, possa ter aos referidos territrios.

Artigo IVOs confins do domnio das duas Monarquias, principiaro na barra, que forma na costa do mar o regato, que sai ao p do monte de Castilhos Grande, de cuja fralda continuar a fronteira, buscando em linha reta o mais alto, ou cumes dos montes, cujas vertentes descem por uma parte para a costa, que corre ao norte do dito regato, ou para a lagoa Mirim, ou del Meni; e pela outra para a costa, que corre do dito regato ao sul, ou para o rio da Prata; de sorte que os cumes dos montes sirvam de raia do domnio das duas coroas: e assim continuar a fronteira at encontrar a origem principal, e cabeceiras do rio Negro; e por cima deles continuar at a origem principal do rio Ibicu, prosseguindo pelo lveo deste rio abaixo, at onde desemboca na margem oriental do Uruguai, ficando de Portugal todas as vertentes, que baixam dita lagoa, ou ao rio Grande de S. Pedro; e de Espanha, as que baixam aos rios que vo unir-se com o da Prata.

Artigo VSubir desde a boca do Ibicu pelo lveo do Uruguai, at encontrar o do rio Peipiri ou Pequiri, que desgua na margem ocidental do Uruguai; e continuar pelo lveo do Pepiri acima, at a sua origem principal; desde a qual prosseguir pelo mais alto do terreno at a cabeceira principal do rio mais vizinho, que desemboque no rio Grande de Curitiba, por outro nome chamado Iguau. Pelo lveo do dito rio mais vizinho da origem do Pepiri, e depois pelo do Iguau, ou rio Grande de Curitiba, continuar a raia at onde o mesmo Iguau desemboca na margem oriental do Paran; e desde esta boca prosseguir pelo lveo do Paran acima; at onde se lhe ajunta o rio Igurei pela sua margem ocidental.

Artigo VIDesde a boca do Igurei continuar pelo lveo acima at encontrar a sua origem principal; e dali buscar em linha reta pelo mais alto do terreno a cabeceira principal do rio mais vizinho, que desgua no Paraguai pela sua margem oriental, que talvez ser o que se chamam de Corrientes, e baixar pelo lveo deste rio at a sua entrada no Paraguai, desde a qual boca subir pelo canal principal, que deixa o Paraguai em tempo seco; e pelo seu lveo at encontrar os pntanos, que forma este rio, chamados a lagoa dos Xarais, e atravessando esta lagoa at a boca do rio Jauru.

Artigo VIIDesde a boca do Jauru pela parte ocidental prosseguir a fronteira em linha reta at a margem austral do rio Guapor defronte da boca do rio Sarar, que entra no dito Guapor pela sua margem setentrional; com declarao que se os comissrios, que se ho de despachar para o regulamento dos confins nesta parte na face do pas, acharem entre os rios Jauru e Guapor outros rios, ou balizas naturais, por onde mais comodamente, e com maior certeza se possa assinalar a raia naquela paragem, salvando sempre a navegao do Jauru, que deve ser privativa dos portugueses, e o caminho, que eles costumam fazer do Cuiab para o Mato Grosso; os dois altos contraentes consentem, e aprovam, que assim se estabelea, sem atender a alguma poro mais ou menos no terreno, que possa ficar a uma ou a outra parte. Desde o lugar, que na margem austral do Guapor for assinalado para termo da raia, como fica explicado, baixar a fronteira por todo o curso do rio Guapor at mais abaixo da sua unio com o rio Mamor, que nasce na provncia de Santa Cruz de la Sierra, atravessa a misso dos Moxos, e formam juntos o rio chamado da Madeira, que entra no das Amazonas ou Maraon, pela sua margem austral.

Artigo VIIIBaixar pelo lveo destes dois rios, j unidos, at a paragem situada em igual distncia do dito rio das Amazonas, ou Maraon, e da boca do dito Mamor; e desde aquela paragem continuar por uma linha leste-oeste at encontrar com a margem oriental do Javari que entra no rio das Amazonas pela sua margem austral; e baixando pelo lveo do Javari at onde desemboca no rio das Amazonas ou Maraon, prosseguir por este rio abaixo at boco mais ocidental do Japur, que desgua nele pela margem setentrional.

Artigo IXContinuar a fronteira pelo meio do rio Japur, e pelos mais rios que a ele se ajuntam, e que mais se chegarem ao rumo do norte, at encontrar o alto da Cordilheira de Montes, que mediam entre o Orinoco e o das Amazonas ou Maraon; e prosseguir pelo cume destes montes para o oriente, at onde se estender o domnio de uma e outra monarquia. As pessoas nomeadas por ambas as coroas para estabelecer os limites, conforme prevenido no presente artigo, tero particular cuidado de assinalar a fronteira nesta parte, subindo pelo lveo da boca mais ocidental do Japur: de sorte que se deixem cobertos os estabelecimentos, que atualmente tiveram os portugueses nas margens deste rio e do Negro, como tambm a comunicao ou canal, de que se servem entre estes dois rios: e que se no d lugar a que os espanhis, com o pretexto ou interpretao alguma, possam introduzir-se neles, nem na dita comunicao; nem os portugueses subir para o rio Orinoco, nem estender-se para as provncias povoadas por Espanha, nem para os despovoados, que lhe ho de pertencer, conforme os presentes artigos; para o qual efeito assinalaram os limites pelas lagoas e rios, endireitando a linha da raia, quanto puder ser, para a parte do norte, sem reparar no pouco mais ou menos no terreno, que fique a uma ou a outra Coroa, com tanto que se logrem os fins expressados.

Artigo XTodas as ilhas, que se acharem em qualquer dos rios, por onde h de passar a raia, conforme o prevenido nos artigos antecedentes, pertencero ao domnio a que estiverem mais prximas em tempo seco.

Artigo XIAo mesmo tempo que os comissrios nomeados por ambas as coroas forem assinalando os limites em toda a fronteira, faro as observaes necessrias para formar um mapa individual de toda ela; do qual se tiraro as cpias, que parecerem necessrias, firmadas por todos, que se guardaro pelas duas cortes para o caso que ao diante se oferea alguma disputa, pelo motivo de qualquer infrao; em cujo caso, e em outro qualquer, se tero por autnticas, e faro plena prova. E para que se no oferea a mais leve dvida, os referidos comissrios poro nome de comum acordo aos rios, e montes que o no tiverem, e assinalaro tudo no mapa com a individuao possvel.

Artigo XIIAtendendo convenincia comum das duas naes, e para evitar todo o gnero de controvrsias para o diante, se estabelecero as mtuas cesses contedas nos artigos seguintes.

Artigo XIIISua Majestade Fidelssima em seu nome, e de seus herdeiros e sucessores, cede para sempre Coroa de Espanha a Colnia do Sacramento, e todo o seu territrio adjacente a ela, na margem setentrional do rio da Prata, at os confins declarados no artigo IV, e as praas, portos e estabelecimentos, que se compreendem na mesma paragem; como tambm a navegao do mesmo rio da Prata, a qual pertencer inteiramente Coroa de Espanha; e para que tenha efeito, renuncia S. M. F. todo o direito e ao, que tinha reservado sua Coroa pelo Tratado Provisional de 7 de maio de 1681, e sua posse, direito e ao que lhe pertena, e possa tocar-lhe em virtude dos artigos V e VI do Tratado de Utrecht de 6 de fevereiro de 1715, ou por outra qualquer conveno, ttulo e fundamento.

Artigo XIVSua Majestade Catlica em seu nome, e de seus herdeiros e sucessores, cede para sempre Coroa de Portugal tudo o que por parte de Espanha se acha ocupado, por qualquer ttulo ou direito possa pertencer-lhe em qualquer parte das terras, que pelos presentes artigos se declaram pertencentes a Portugal, desde o Monte de Castilhos Grande, e sua fralda meridional, e costa do mar, at a cabeceira, e origem principal do rio Ibicu, e tambm cede todas e quaisquer povoaes e estabelecimentos, que se tenham feito por parte de Espanha no ngulo de terras, compreendido entre a margem setentrional do rio Ibicu e a oriental do Uruguai, e os que possam ter-se fundado na margem oriental do rio Pepiri, e a aldeia de Santa Rosa, e outra qualquer que se possa ter estabelecido por parte de Espanha na margem oriental do rio Guapor. E Sua Majestade Fidelssima cede na mesma forma a Espanha todo o terreno que corre desde a boca ocidental do rio Japur, e fica entre meio do mesmo rio, e do das Amazonas ou Maraon, e toda a navegao do rio I, e tudo o que se segue desde este ltimo rio para o ocidente, com a aldeia de S. Cristvo e outra qualquer que por parte de Portugal se tenha fundado naquele espao de terras; fazendo-se as mtuas entregas com as qualidades seguintes.

Artigo XVA Colnia do Sacramento se entregar por parte de Portugal sem tirar dela mais que a artilharia, armas, plvora e munies, e embarcaes do servio da mesma praa; e os moradores podero ficar livremente nela, ou retirar-se para outras terras do domnio portugus, com os seus efeitos e mveis, vendendo os bens de raiz. O governador, oficiais e soldados levaro tambm todos os seus efeitos, e tero a mesma liberdade de venderem os seus bens de raiz.

Artigo XVIDas povoaes ou aldeias, que cede S. M. C. na margem oriental do rio Uruguai, sairo os missionrios com todos os mveis e efeitos levando consigo os ndios para os aldear em outras terras de Espanha; e os referidos ndios podero levar tambm todos os seus bens mveis e semoventes, e as armas, plvoras e munies, que tiverem em cuja forma se entregaro as povoaes Coroa de Portugal com todas as suas casas, igrejas e edifcios, e a propriedade e posse do terreno. As que se cedem por Sua Majestade Fidelssima e Catlica nas margens dos rios Pequiri, Guapor e das Amazonas, se entregaro com as mesmas circunstncias que a Colnia do Sacramento, conforme se disse no artigo XIV; e os ndios de uma e outra parte tero a mesma liberdade para se irem ou ficarem, do mesmo modo, e com as mesmas qualidades, que o ho de poder fazer os moradores daquela praa; exceto que os que se forem perdero a propriedade dos bens de raiz, se os tiverem.

Artigo XVIIEm consequncia da fronteira, e limites determinados nos artigos antecedentes, ficar para a Coroa de Portugal o monte de Castilhos Grande com a sua falda meridional; e o poder fortificar, mantendo ali uma guarda, mas no poder povo-lo, ficando s duas naes o uso comum da Barra ou enseada, que forma ali o mar, de que se tratou no artigo IV.Artigo XVIIIA navegao daquela parte dos rios, por onde h de passar a fronteira, ser comum s duas naes; e geralmente, onde ambas as margens dos rios pertencerem mesma Coroa, ser privativamente sua a navegao; e o mesmo se entender da pesca nos ditos rios, sendo comum s duas naes, onde o for a navegao; e privativa, onde o for a uma delas a dita navegao: e pelo que toca aos cumes da cordilheira, que ho de servir de raia entre o rio das Amazonas e o Orinoco, pertencero a Espanha todas as vertentes, que carem para o Orinoco, e a Portugal todas as carem para o rio das Amazonas ou Maraon.

Artigo XIXEm toda a fronteira ser vedado, e de contrabando, o comrcio entre as duas naes, ficando na sua fora e vigor as leis promulgadas por ambas as coroas que disto tratam; e, alm desta proibio, nenhuma pessoa poder passar do territrio de uma nao para o da outra por terra, nem por gua, nem navegar em todo ou parte dos rios, que no forem privativos da sua nao, ou comuns, com pretexto, nem motivo algum, sem tirar primeiro licena do governador, ou superior do terreno, aonde h de ir, ou sem que v enviado pelo governador do seu territrio a solicitar algum negcio, para o qual efeito levar o seu passaporte, e os transgressores sero castigados com esta diferena: se forem apreendidos no territrio alheio, sero postos em priso e nela se mantero pelo tempo que quiser o governador ou superior que os fez prender; porm, se no puderem ser colhidos, o governador ou superior da terra em que entrarem formar um processo com justificao das pessoas e do delito, e com ele requerer ao juiz dos transgressores, para que os castigue da mesma forma: excetuando-se das referidas penas os que navegando nos rios, por onde vai a fronteira, fossem constrangidos a chegar ao territrio alheio por alguma urgente necessidade, fazendo-a constar. E para tirar toda a ocasio de discrdia, no ser lcito nos rios, cuja navegao for comum, nem nas suas margens levantar gnero algum de fortificao, nem pr embarcao de registro, nem plantar artilharia, ou por outro qualquer modo estabelecer fora, que possa impedir a livre e comum navegao. Nem tampouco seja lcito a nenhuma das partes visitar, ou registrar, ou obrigar que venham sua margem as embarcaes da parte oposta; e s podero impedir e castigar aos vassalos da outra nao, se aportarem na sua margem; salvo em caso de indispensvel necessidade, como fica dito.

Artigo XXPara evitar alguns prejuzos, que poderiam ocasionar-se, foi concordado que nos montes, onde em conformidade dos precedentes artigos ficar posta a raia nos seus cumes no ser lcito a nenhuma das duas potncias erigir fortificao sobre os mesmos cumes, nem permitir que os seus vassalos faam neles povoao alguma.

Artigo XXISendo a guerra ocasio principal dos abusos, e motivo de se alterarem as regras mais bem concertadas, querem Suas Majestades Fidelssima e Catlica que, se (e que Deus no permita) se chegasse a romper entre as duas coroas, se mantenham em paz os vassalos de ambas, estabelecidos em toda a Amrica meridional, vivendo uns e outros como se no houvera tal guerra entre os soberanos, sem fazer-se a menor hostilidade, nem por si ss, nem juntos com os seus aliados. E os motores e cabos de qualquer invaso, por leve que seja, sero castigados com pena de morte irremissvel; e qualquer presa que fizerem, ser restituda de boa f, e inteiramente. E, assim mesmo, nenhuma das naes permitir o cmodo de seus portos, e menos o trnsito pelos seus territrios da Amrica meridional, aos inimigos da outra, quando intentem aproveitar-se deles para hostiliz-la; ainda que fosse em tempo que as duas naes tivessem entre si guerra em outra regio. A dita continuao de perptua paz e boa vizinhana no ter s lugar nas terras e ilhas da Amrica meridional, entre os sditos confiantes das duas monarquias, seno tambm nos rios, portos e costas, e no mar Oceano, desde a altura da extremidade austral da ilha de Santo Anto, uma das de Cabo Verde, para a parte do sul; e desde o meridiano, que passa pela sua extremidade ocidental para a parte do poente: de sorte que a nenhum navio de guerra, corsrio, ou outra embarcao de uma das duas coroas seja lcito dentro dos ditos termos em nenhum tempo atacar, insultar ou fazer o mnimo prejuzo aos navios e sditos da outra; e de qualquer atentado, que em contrrio se cometa, se dar pronta satisfao, restituindo-se inteiramente o que acaso se tivesse apresado, e castigando-se severamente os transgressores. Outrossim, nem uma das duas naes admitir, nos seus portos e terras da dita Amrica meridional, navios, ou comerciantes, amigos ou neutrais, sabendo que levam intento de introduzir o seu comrcio nas terras da outra, e de quebrantar as leis, com que os dois monarcas governam aqueles domnios. E para a pontual observncia de todo o expressado neste artigo, se faro por ambas as cortes os mais eficazes encargos aos seus respectivos governadores, comandantes e justias; bem entendido, que ainda em caso (que no se espera) que haja algum incidente, ou descuido, contra o prometido e estipulado neste artigo, no servir isso de prejuzo observncia perptua e inviolvel de tudo o mais que pelo presente tratado fica regulado.

Artigo XXIIPara que se determinem com maior preciso, e sequer haja lugar mais leve dvida ao futuro nos lugares por onde deve passar a raia em algumas partes, que no esto nomeadas e especificadas distintamente nos artigos antecedentes, como tambm para declarar a qual dos domnios ho de pertencer as ilhas que se acharem nos rios que ho de pertencer de fronteira, nomearo ambas as Majestades, quanto antes, comissrios inteligentes: os quais, visitando toda a raia, ajustem com a maior distino e clareza as paragens por onde h de correr a demarcao, em virtude do que se expressa neste tratado, pondo marcos nos lugares que lhes parecer conveniente; e aquilo em que se conformarem, ser vlido perpetuamente em virtude da aprovao e ratificao de ambas as Majestades. Porm, no caso em que se no possam concordar em alguma paragem, daro conta aos serenssimos reis, para decidirem a dvida em termos justos e convenientes. Bem entendido que o que os ditos comissrios deixarem de ajustar no prejudicar de sorte alguma o vigor e observncia do presente tratado; o qual, independentemente disso, ficar firme e inviolvel, nas suas clusulas e determinaes, servindo no futuro de regra fixa, perptua e inaltervel, para os confins do domnio das duas coroas.

Artigo XXIIIDeterminar-se- entre as duas Majestades o dia em que se ho de fazer as mtuas entregas da Colnia do Sacramento com o territrio adjacente e das terras e povoaes compreendidas na cesso, que faz S. M. C., na margem oriental do rio Uruguai; o qual dia no passar do ano, depois que se firmar este tratado: a cujo efeito, logo que se ratificar, passaro Suas Majestades Fidelssima e Catlica, as ordens necessrias, de que se far troca entre os ditos plenipotencirios; e pelo que toca entrega das mais povoaes, ou aldeias, que se cedem por ambas as partes, se executar ao tempo, que os comissrios nomeados por elas chegarem s paragens da sua situao, examinando e estabelecendo os limites; e os que houverem de ir a estas paragens sero despachados com mais brevidade.

Artigo XXIVDeclara-se que as cesses contidas nos presentes artigos no se reputaro como determinado equivalente umas de outras, seno que se fazem respeitando ao total do que se controvertia e alegava, ou reciprocamente se cedia, e quelas convenincias e comodidades que ao presente resultavam a uma e outra parte; e em ateno a isto se reputou justa e conveniente para ambas a concrdia e determinao de limites que fica expressada, e como tal a reconhecem e aprovam Suas Majestades em seu nome, e de seus herdeiros e sucessores, renunciando qualquer outra pretenso em contrrio; e prometendo na mesma forma que em nenhum tempo, e com nenhum fundamento, se disputar o que fica assentado e concordado nestes artigos; nem com pretexto de leso, nem outro qualquer, pretendero outro ressarcimento, ou equivalente dos seus mtuos direitos e cesses referidas.

Artigo XXVPara mais plena segurana deste tratado, convieram os dois altos contraentes em garantir reciprocamente toda a fronteira e adjacncias dos seus domnios na Amrica meridional, conforme acima fica expressado; obrigando-se cada um a auxiliar e socorrer o outro contra qualquer ataque, ou invaso, at que com efeito fique na pacfica posse, e uso livre e inteiro do que se lhe pretendesse usurpar; e esta obrigao, quanto s costas do mar, e pases circunvizinhos a elas, pela parte de S. M. F. se estender at as margens do Orinoco de uma e outra banda; e desde Castilhos at o estreito de Magalhes. E pela parte de S. M. C. se estender s margens de uma e outra banda do rio das Amazonas ou Maraon; e desde o dito Castilhos at o porto de Santos. Mas, pelo que toca ao interior da Amrica meridional, ser indefinida esta obrigao; e em qualquer caso de invaso, ou sublevao, cada uma das coroas ajudar e socorrer a outra at se reporem as cousas em estado pacfico.

Artigo XXVIEste tratado com todas as suas clusulas e determinaes ser de perptuo vigor entre as duas coroas; de tal sorte, que ainda em caso (que Deus no permita) que se declarem guerra, ficar firme e invarivel durante a mesma guerra, e depois dela, sem que nunca se possa reputar interrompido, nem necessite de revalidar-se. E presentemente se aprovar, confirmar e ratificar pelos dois Serenssimos reis, e se far a troca das ratificaes no termo de um ms, depois da sua data, ou antes se for possvel.

Em f do que, e em virtude das ordens e plenos poderes que ns abaixo assinados recebemos de nossos amos, el-rei fidelssimo de Portugal e el-rei catlico de Espanha, assinamos o presente tratado e lhe fizemos pr o selo de nossas armas. Feito em Madri a treze de janeiro de mil setecentos e cinqenta.

(Ass.) Visconde Toms da Silva Teles e d. Joseph de Carvajal y Lancaster.

Fonte: Sousa, Octvio Tarqunio, Coleco documentos brasileiros, vol. 19, Rio de Janeiro, Livraria Jos Olympio Editora, 1939

Tratado de AyacuchoOrigem: Wikipdia, a enciclopdia livre.Ir para: navegao, pesquisaConhecido por selar a paz entre o Brasil e a Bolvia, o Tratado de Ayacucho foi assinado em 23 de Novembro de 1867 e conhecido por diversos nomes, principalmente Tratado da Amizade.Pelos tratados anteriores, de Madri e Santo Ildefonso, a fronteira da Bolvia chegava ao mdio rio Madeira, prximo a cidade de Humait, no interior do estado do Amazonas, e abrangia o estado do Acre, o distrito de Extrema (localizado no estado de Rondnia) e grande parte do estado do Amazonas.Este tratado era composto por trinta artigos nos quais se declarava a paz entre os pases e se estabeleciam relaes amigveis de navegao e trfego, algumas que persistiram no Tratado de Petrpolis. Foram recuadas as fronteiras bolivianas a favor do Imprio Brasileiro, a partir dos rios Guapor e Mamor, passando por Beni e seguindo uma linha reta que recebeu o nome de Cunha Gomes. As embarcaes bolivianas teriam acesso aos rios brasileiros a partir dali.Curiosidades[editar | editar cdigo-fonte]Sees de curiosidades so desencorajadas pelas polticas da Wikipdia.Ajude a melhorar este artigo, integrando ao corpo do texto os itens relevantes e removendo os suprfluos ou imprprios.

A cartografia para delimitar os limites fronteirios dos rios Guapor e Mamor foi levantada e apresentada pela 2 Seo Brasileira, sediada na cidade de Corumb-MT. O Peru tambm reivindicava estas terras.Ver tambm[editar | editar cdigo-fonte]

O Wikisource contm fontes primrias relacionadas com Tratado de Ayacucho Tratado de Petrpolis Tratado de Madri

Histria do AcreOrigem: Wikipdia, a enciclopdia livre.Ir para: navegao, pesquisa

Palcio Rio Branco, sede do governo assim nomeada em homenagem ao Baro do Rio Branco, e obelisco em homenagem aos heris da Revoluo Acreana.A Histria do Acre revela aspectos importantes da histria brasileira, principalmente durante os sculos XIX e XX.ndice[esconder] 1 Ocupao indgena 2 Do sculo XV ao sculo XIX 3 Revoluo Acreana 4 Movimento Autonomista Acreano 4.1 Movimento Autonomista - De Territrio a Estado 5 Reviso de litgio 6 Referncias 7 Ligaes externasOcupao indgena[editar | editar cdigo-fonte]

Vista area de geoglifos na Fazenda Colorada, em Rio Branco, no AcrePor volta de 1200, o atual territrio acreano era densamente habitado por um povo que deixou geoglifos (figuras geomtricas no solo traadas com valas) com at trs metros de profundidade e trezentos metros de dimetro no formato de quadrados, retngulos e losangos.1Do sculo XV ao sculo XIX[editar | editar cdigo-fonte]

Mapa do final do sculo XIX, em que o Acre aparece como parte da Bolvia.Do estabelecimento do Tratado de Tordesilhas at o sculo XIX, o atual estado do Acre fazia parte da Amrica espanhola de acordo com os Tratados Hispano-Portugueses: Tratado de Madrid (1750) Tratado de Santo Ildefonso (1777) Tratado de Badajoz (1801)Aps a independncia das colnias espanholas, o Brasil reconheceu aquela rea como boliviana atravs do tratado de limites de 1867.Apesar disso, no havia nenhuma ocupao do territrio por parte da Bolvia, em parte por ser uma regio de difcil acesso por outro caminho que no a bacia do Rio Amazonas. Em virtude da abundncia da seringueira e do ciclo da borracha que estava se iniciando, colonos brasileiros iniciaram a ocupao do Acre em 1852, tendo essa imigrao atingido propores muito grandes a partir de 3 de abril de 1877.Nessa poca, o presidente Aniceto Arce, da Bolvia, foi alvo de um golpe de estado comandado pelo ento coronel Jos Manuel Pando. Este, derrotado, se refugiou no Acre, ocasio em que percebeu que a ocupao brasileira j tomava propores alarmantes.Pando, que, como general, veio a governar a Bolvia de 1899 a 1904, alertou as autoridades bolivianas e iniciaram-se as manobras diplomticas. Em 1898, a Bolvia enviou uma misso de ocupao para o Acre causando, em 1 de maio de 1899, uma revolta armada dos colonos brasileiros, que receberam o apoio do governo do Estado do Amazonas.Revoluo Acreana[editar | editar cdigo-fonte]Ver artigo principal: Revoluo Acreana

Mapa da Amrica do Sul em alemo de 1899 mostrando a regio que viria a formar o Acre ainda como territrio bolivianoPressionados pelo advogado Jos Carvalho, os bolivianos foram forados a abandonar a regio. Para evitar a sua volta, o governador do Amazonas Ramalho Jnior organizou o ingresso no Acre de uma unidade de aventureiros comandadas pelo espanhol Luis Glvez Rodrguez de Arias. Glvez partiu de Manaus em 4 de junho de 1899 e chegou localidade boliviana de Puerto Alonso, a qual teve seu nome mudado para Porto Acre, onde proclamou a Repblica do Acre em 14 de julho de 1899. Apesar disso o governo brasileiro, com base no tratado internacional de Ayacucho assinado em 1867, considerava o Acre como territrio boliviano e enviou tropas que dissolveram a Repblica do Acre em 15 de maro de 1900.Um motivo complementar para o interesse de Ramalho Jnior na ocupao do Acre foi o fato de Galvez ter descoberto a existncia de um acordo diplomtico entre a Bolvia e os Estados Unidos estabelecendo que haveria apoio militar norte-americano Bolvia em caso de guerra com o Brasil.Nessa poca a Bolvia organizou uma pequena misso militar para ocupar a regio. Ao chegar em Porto Acre ela foi impedida pelos seringueiros brasileiros de continuar o seu deslocamento. Os brasileiros receberam apoio do governador do Amazonas, Silvrio Nri, que enviou uma nova expedio, a Expedio dos Poetas, sob o comando do jornalista Orlando Correa Lpes, que proclamou a Segunda Repblica do Acre em novembro de 1900, tendo Rodrigo de Carvalho assumido o cargo de presidente. Um ms depois, em 24 de dezembro de 1900, os brasileiros foram derrotados pelos militares bolivianos e esta segunda repblica tambm foi dissolvida.Apesar dos dois pases negarem o acordo com os Estados Unidos citado anteriormente, em 1901 a Bolvia assinou um contrato de arrendamento do Acre com um sindicato de capitalistas norte-americanos e ingleses. Pelo contrato, o grupo, chamado de Bolivian Syndicate, assumiria total controle sobre a regio, inclusive militar. Nessa ocasio governava a Bolvia o general Jos Manuel Pando.Em 6 de agosto de 1902 um militar gacho chamado Jos Plcido de Castro foi enviado ao Acre pelo governador Silvrio Nri e iniciou a ento denominada Revoluo Acreana. Os rebeldes imediatamente tomaram toda a regio, exceto Porto Acre que somente se rendeu em 24 de janeiro de 1903. Trs dias depois, 27 de janeiro, foi proclamada a Terceira Repblica do Acre, agora com o apoio do presidente Rodrigues Alves e do seu Ministro do Exterior, o Baro do Rio Branco, que ordenou a ocupao do Acre e estabeleceu um governo militar sob o comando do general Olmpio da Silveira.Na Bolvia, o general Pando enviou tropas para combater os invasores brasileiros. Entretanto, antes que acontecesse algum combate significativo, em conseqncia do excelente trabalho da diplomacia brasileira comandada pelo Baro do Rio Branco, os governos do Brasil e da Bolvia assinaram em 21 de maro de 1903 um tratado preliminar, ratificado pelo Tratado de Petrpolis em 17 de novembro de 1903.Pelo Tratado de Petrpolis, a Bolvia abria mo de todo o Acre em troca de territrios brasileiros do Estado de Mato Grosso mais a importncia de 2 milhes de libras esterlinas e a construo da ferrovia Madeira-Mamor, ligando os rios Mamor (em Guajar-Mirim-RO, na fronteira Brasil-Bolvia) e o Madeira (afluente do rio Amazonas, que corta a cidade de Porto Velho, em Rondnia), com o objetivo de permitir o escoamento da produo regional, sobretudo de borracha. Joaquim Francisco de Assis Brasil participou ativamente das negociaes com a Bolvia, tendo representado o governo brasileiro em sua assinatura.O Tratado de Petrpolis, assinado em 1903 pelo Baro do Rio Branco e Assis Brasil, foi aprovado por lei federal de 25 de fevereiro de 1904, regulamentada por decreto presidencial de 7 de abril de 1904, incorporando o Acre como territrio brasileiro. Plcido de Castro, que faleceu em 11 de agosto de 1908, foi primeiro presidente do territrio do Rio Branco, elevado condio de Estado do Acre em 15 de junho de 1962. Tanto Rio Branco como Assis Brasil e Plcido de Castro esto homenageados no Acre com os nomes de sua capital (Rio Branco)e de dois municpios (Assis Brasil e Plcido de Castro).Movimento Autonomista Acreano[editar | editar cdigo-fonte]Movimento Autonomista - De Territrio a Estado[editar | editar cdigo-fonte]

Memorial dos Autonomistas, localizado na capital Rio Branco.A evoluo do Acre aparece como fenmeno tpico de penetrao moderna na histria do Brasil, acompanhada de importantes contribuies na projeo econmica do pas. Exercendo papel de destaque na exportao nacional at 1913, quando se iniciou da borracha nos mercados europeu e norte-americano, o Acre conheceu um perodo de grande prosperidade: na passagem do sculo, em menos de um dcada contava com mais de 50.000 habitantes.Logo aps a anexao do Acre ao Brasil, os acreanos esperavam pela sua elevao a Estado o mais rpido possvel, uma vez que, nessa poca (Auge do Ciclo da Borracha), o Acre representava 1/3 do PIB brasileiro. Porm isso no aconteceu.Atendendo s disposies jurdicas do Tratado de Petrpolis, o presidente Rodrigues Alves sancionou a lei que criava o Territrio do Acre (1904) - o primeiro do pas - dividindo o Territrio em trs departamentos: o do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juru, este ltimo desmembrado para formar o do Alto Tarauac em 1912. A administrao departamental exercia-se, at 1921, por prefeitos designados pelo Presidente da Repblica.Essa subjulgao causou intensas revoltas da populao. Foi o caso da revolta de Cruzeiro do Sul, em 1910, que deps o Prefeito Departamental do Alto Juru e proclamou criado o Estado do Acre (a chamada Revolta do Alto Juru). Cem dias depois, entretanto, as tropas federais atacaram os revoltosos e restabeleceram a "ordem" e a tutela. Em 1913, um movimento de revolta ocorreria no Purus, em Sena Madureira, por motivos muito semelhantes ao do Alto Juru. Em 1918, seria a vez da luta autonomista chegar ao vale do Acre, em Rio Branco, que protestou intensamente contra a manuteno daquela situao de subjugao ao governo federal. Porm ambas as revoltas foram igualmente sufocadas fora pelo governo brasileiro.

A partir do fracasso das revoltas, a luta pela autonomia no recorreu mais s armas. Depois disso, a reforma poltica de 1920 - que unificou as quatro prefeituras departamentais em um nico governo territorial - serviu para acalmar o vale do Acre, que foi beneficiado pela reforma, j que para capital do Territrio foi escolhida Rio Branco.Com a queda do Ciclo da Borracha (1920), o movimento autonomista foi perdendo fora, ressurgindo apenas uma dcada mais tarde, quando a Revoluo de 1930 alterou completamente os rumos da repblica brasileira. Nesse momento, os acreanos acreditaram que poderiam, enfim, conquistar a to sonhada autonomia. Mas foi em vo.Com a constituio de 1934, o Acre s obteve o direito de eleger dois deputados federais para represent-lo na Cmara Federal, sem alterar o regime de indicao dos governadores do territrio. Seguiu-se mais um longo perodo em que as discusses autonomistas no passavam de conversas em interminveis reunies e de fundaes de agremiaes polticas e jornais que tinham como bandeira maior o autonomismo. Multiplicaram-se os simulacros de partidos polticos: Legio Autonomista, Partido Construtor, Partido Autonomista, Partido Republicano do Acre Federal, Comit Pr-autonomia, etc. Assim como se multiplicavam os ttulos de jornais com apelo autonomista, como por exemplo: O Estado, O Autonomista, O Estado do Acre, etc.Impulso mesmo o movimento autonomista s voltaria a ter em meados da dcada de 50, quando o PSD, do ex-governador Jos Guiomard dos Santos, resolveu assumir essa bandeira e elaborar um projeto de lei que transformava o Acre em Estado. Esse projeto causou grande movimentao poltica em todo o Acre e chegou ao Congresso Nacional em 1957, provocando uma intensa disputa poltica entre o PTB de Oscar Passos e o PSD de Guiomard Santos, tendo o primeiro se posicionado contra a lei de transformao do Acre em Estado.Depois de muitas disputas no Congresso Nacional, finalmente em 1962, durante a fase parlamentarista do governo Joo Goulart, foi assinada a lei 4.070, de autoria do ento deputado Guiomard Santos. Por uma ironia poltica, o Presidente Joo Goulart era do PTB, o partido que, a nvel nacional, se colocava contra o tal projeto. Ainda assim, o projeto foi aprovado e passou a vigorar a partir do dia 15 de junho de 1962.O PTB, todavia, no foi de todo derrotado. Nas primeiras eleies livres e diretas realizadas na histria do Acre, o PTB foi o grande vencedor, fazendo o primeiro governador constitucional do Acre, o Professor Jos Augusto de Arajo, alm de todas as prefeituras municipais acreanas.Na dcada de 1960 iniciou-se o segundo ciclo de esforos para acelerar o progresso da rea amaznica, com a criao da Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia (SUDAM,1966). Procurou-se melhor entrosar os subsetores regionais dentro do prprio Estado, concorrendo para isso os ramais da Transamaznica, que ligaram Rio Branco e Brasilia, no alto curso do Acre, e Cruzeiro do Sul, s margens do Juru, cortando os vales do Purus e do Tarauac. Incrementou-se a poltica de planejamento, destinada a corrigir as distores demogrficas, econmicas e polticas da integrao nacional.Reviso de litgio[editar | editar cdigo-fonte]Em 4 de abril de 2008, o governo do Acre vence uma disputa judicial com o estado do Amazonas a respeito de uma disputa territorial que se arrastava havia 26 anos no complexo florestal Liberdade, Gregrio e Mogno.O motivo foi que a Linha Cunha Gomes, demarcada ao incio do sculo XX para servir de fronteira entre os dois estados, fora traada imprecisamente, pois em meados da dcada de 1940 descobriu-se que parte dos municpios Tarauac, Feij e Sena Madureira, que deviam pertencer ao Acre (e que inclusive estiveram presentes na histria deste estado), estava dentro do territrio amazonense. Foi ento adotada provisoriamente pelo IBGE uma linha quebrada com quatro segmentos em 1942.Durante o sculo passado houve vrias situaes em que os municpios tiveram administrao conjunta entre os dois estados. Ao final da dcada de 1990, o IBGE comeou a apoiar o pedido do Acre de receber os territrios definitivamente, cuminando na deciso do Supremo Tribunal Federal de anexar a zona de litgio ao Acre2 .A transferncia do territrio tambm se deve ao fato de esses municpios terem grande distncia em relao a capital Manaus, o que dificulta e encarece a administrao.A desproporo em relao ao tamanho do territrio dos estados brasileiros j havia causado polmica em relao ao sentido que tem a diviso territorial do pas, o que contribuiu para a formao de estados mais recentes como o Mato Grosso do Sul, Roraima, Amap e Tocantins. Na poca em que o Acre foi anexado ao Brasil, trs estados (Mato Grosso, Amazonas e Par) ocupavam aproximadamente metade do territrio nacional. Assim o aumento do territrio acreano reflete a vontade de equalizar as propores territoriais entre os estados.A sede (a rea urbana) dos municpios que perderam tais territrios, no entanto, continua do lado territorial amazonense, uma condio que foi necessria para apressar o fim do impasse.Ao total, seis municpios no Sul do Amazonas foram atingidos com a deciso (alguns surgiram ao longo do sculo XX), so eles: Envira, Guajar, Boca do Acre, Pauni, Eirunep e Ipixuna. A redefinio da Linha Cunha Gomes consolidou a incluso de 1,2 milho de hectares do complexo florestal Liberdade, Gregrio e Mogno ao territrio do Acre. deciso proferida neste dia 3 de abril (quinta-feira) no cabe mais recurso.Referncias1. Ir para cima Civilizaes perdidas: o lado oculto da histria.-So Paulo: novembro, 2013.p. 48.2. Ir para cima http://portalamazonia.globo.com/new-structure/view/scripts/noticias/noticia.php?id=65953Ligaes externas[editar | editar cdigo-fonte]

Tratado de PetrpolisOrigem: Wikipdia, a enciclopdia livre.Ir para: navegao, pesquisaO atual estado brasileiro do Acre era, no incio do sculo XX, uma regio pertencente Bolvia, que vinha sendo ocupada por seringueiros, brasileiros em plena poca de expanso da economia de extrao da borracha. Para resolver a tenso que se agravava, o Baro do Rio Branco dirigiu as negociaes que resultaram no Tratado de Petrpolis, firmado em 17 de novembro de 1903 na cidade brasileira Petrpolis, que formalizou a incorporao do Acre ao territrio brasileiro. Com esse acordo, o Brasil pagou Bolvia a quantia de 2 milhes de libras esterlinas e indenizou o Bolivian Syndicate em 110 mil libras esterlinas pela resciso do contrato de arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano.1 2 Em contrapartida, cedia algumas terras no Amazonas e comprometia-se a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamor para escoar a produo boliviana pelo rio Amazonas.O estado do Acre era propriedade da Bolvia desde de 1750. Havia naquela regio uma busca intensa por ltex e isto fez com que os seringueiros do Brasil subissem o rio Purus e iniciassem ento o povoamento da regio. No ano de 1898, aps a independncia da Amrica Latina, o Brasil reconheceu que aquele territrio pertencia Bolvia, porm os bolivianos no povoaram este territrio j que era de difcil acesso.Foi naquele mesmo ano que a Bolvia enviou uma misso de ocupao ao Acre, causando uma revolta armada dos colonos brasileiros que ali estavam e que j eram um grande nmero. A revolta estourou um ano depois, em maio e contou com o apoio do Estado do Amazonas.Pressionados, os bolivianos foram obrigados a deixar a regio. Receoso de um possvel retorno, o governador do Amazonas, Ramalho Jnior organizou uma unidade de aventureiros que regressaram ao Acre e proclamaram a Repblica da regio no dia 14 de julho de 1899, mudando o nome para Porto Acre.O governo brasileiro tomando cincia do ocorrido, reconhecia a regio como territrio boliviano e no brasileiro, a fim de dissipar essa revolta e acabar com a festa, enviaram tropas que dissolveram a Repblica do Acre no dia 15 de maro de 1900.Aps esse episdio, a Bolvia organizou uma pequena misso militar de ocupao na regio. Mas, foram impedidos pelos ocupantes brasileiros que ainda se encontravam no local. Como na primeira vez, os revoltosos ainda contaram com o apoio do governador do Amazonas, Silvrio Neri, que enviou uma nova expedio para a ocupao, que foi denominada como a Expedio dos Poetas, onde proclamaram a segunda Repblica do Acre em novembro de 1900. Porm desta vez, quem reagiu foi a prpria tropa militar boliviana, que colocou fim a Repblica um ms depois.Em 6 de agosto de 1902, um militar brasileiro, chamado Plcido de Castro foi enviado para o Acre pelo governador do Estado do Amazonas e iniciou a Revoluo Acreana. Os rebeldes tomaram toda a regio e implantaram a terceira Repblica do Acre, agora com o apoio do atual presidente do Brasil, Rodrigues Alves e do seu ministro do Exterior, Baro do Rio Branco.A Bolvia pensou em reagir novamente quanto a tomada do territrio acreano, mas antes que ocorresse alguma batalha significativa, o Baro do Rio Branco intermediou diplomaticamente propondo um acordo entre o Brasil e a Bolvia, que ficou conhecido como o Tratado de Petrpolis. Ambos os pases assinaram esse tratado em 21 de maro de 1903.Ficou acertado de que a Bolvia abriria mo do estado do Acre em troca de territrios brasileiros do estado do Mato Grosso e receberia tambm a quantia de 2 milhes de libras esterlinas devido a ltex extrada da regio, enquanto essa pertencia a mesma.Fontes:Pontos mais importantes[editar | editar cdigo-fonte]O tratado estabeleceu definitivamente as fronteiras entre Brasil e Bolvia, compensando a anexao do Acre por meio da cesso de pequenos territrios prximos foz do rio Abun (numa regio prxima ao Acre) e na bacia do rio Paraguai, do pagamento da quantia de 2 milhes de libras esterlinas,3 o correspondente a, atualmente, 630 milhes de reais.Como a Bolvia perdeu, aps guerra com o Chile, sua sada para o mar, dois artigos do Tratado de Petrpolis obrigaram o Brasil e a Bolvia a estabelecerem um Tratado de Comrcio e Navegao que permitisse Bolvia usar os rios brasileiros para alcanar o oceano Atlntico. Alm disso, a Bolvia poderia estabelecer alfndegas em Belm, Manaus, Corumb e outros pontos da fronteira entre os dois pases, assim como o Brasil poderia estabelecer aduanas (alfndegas) na fronteira com a Bolvia.3O Brasil assumiu tambm a obrigao de construir uma ferrovia "desde o porto de Santo Antnio, no rio Madeira, at Guajar-Mirim, no Mamor", com um ramal que atingisse o territrio boliviano. Era a Estrada de Ferro Madeira-Mamor.4 Por fim, o Brasil se obrigava a demarcar a nova fronteira com o Peru. A licitao para a ferrovia foi realizada em 1905; as obras foram iniciadas em 1907 e concludas em 1912.3Alm da questo territorial, havia um componente econmico em disputa: a fonte de uma das matrias-primas mais valorizadas no mercado internacional, o ltex, responsvel pelos milhes de dlares movimentados pela indstria mundial da borracha.2Ver tambm[editar | editar cdigo-fonte]

O Wikisource contm fontes primrias relacionadas com Tratado de Petrpolis Histria do Acre Tratado de Ayacucho Tratado de MadriReferncias1. Ir para cima O arrendamento do territrio do Acre ao sindicato de investidores norte-americanos - o Bolivian Syndicate - foi motivado pela impossibilidade do governo boliviano em ocup-lo, efetivamente, e pela crescente invaso do seu territrio por brasileiros.2. Ir para: a b Nosso Tempo, Volume I; pg. 35. Editora Klick. 19953. Ir para cima Erro de citao: Tag invlida; no foi fornecido texto para as refs chamadas Hist.C3.B3ria_Brasileira4. Ir para cima A estrada de ferro Madeira-Mamor foi construda entre 1907 e 1912, com um custo estimado em 25 milhes de dlares. Os cerca de 60 mil trabalhadores conviveram com doenas como malria, febre amarela e disenteria, o que motivou mais de 10 mil mortes e 30 mil internaes.

O TRATADO DE PETRPOLIS

Bandeira do Estado do Acre O atual estado do Acre era uma possesso boliviana de acordo com o Tratado Hispano-Portugus de 1750. Apesar disso, no havia nenhuma ocupao do territrio por parte da Bolvia. Em virtude da abundncia da borracha, os brasileiros iniciaram a ocupao do Acre em 1852, tendo essa imigrao atingido propores muito grandes a partir de 3 de abril de 1877. Nessa poca o presidente ANICETO ARCE da Bolvia foi alvo de um golpe de estado comandado pelo Coronel JOS MANUEL PANDO. Este, derrotado, se refugiou no Acre, ocasio em que percebeu que a ocupao colonialista brasileira j tomava propores alarmantes. PANDO que, como general, veio governar a Bolvia de 1899a 1904, alertou as autoridades bolivianas e iniciaram-se as manobras diplomticas. Em 1898 a Bolvia enviou uma misso de ocupao para o Acre causando, em 1 de maio de 1899, uma revolta armada dos colonos brasileiros que receberam o apoio do governo do Estado do Amazonas. Pressionados pelo advogado JOS CARVALHO, os bolivianos foram forados a abandonar a regio. Para evitar a sua volta, o governador do Amazonas RAMALHO JNIOR organizou o ingresso no Acre de uma unidade de aventureiros comandadas pelo espanhol LUIS GALVEZ RODRIGUES DE ARIAS. GALVEZ partiu de Manaus em 4 de junho de 1899 e chegou localidade boliviana de Puerto Alonso, a qual teve seu nome mudado para Porto Acre, onde proclamou a Repblica do Acre em 14 de julho de 1899. Apesar disso o governo brasileiro, com base no tratado internacional de Ayacucho assinado em 1867, considerava o Acre como territrio boliviano e enviou tropas que dissolveram a Repblica do Acre em 15 de maro de 1900. Um motivo complementar para o interesse de RAMALHO JNIOR na ocupao do Acre foi o fato de GALVEZ ter descoberto a existncia de um acordo diplomtico entre a Bolvia e os Estados Unidos estabelecendo que haveria apoio militar norte-americano Bolvia em caso de guerra com o Brasil. Nessa poca a Bolvia organizou uma pequena misso militar para ocupar a regio. Ao chegar em Porto Acre ela foi impedida pelos habitantes brasileiros de continuar o seu deslocamento. Os brasileiros receberam apoio do governador do Amazonas, SILVRIO NRI, que enviou uma nova expedio, a Expedio dos Poetas, sob o comando do jornalista ORLANDO CORREA LPES que proclamou a Segunda Repblica do Acre em novembro de 1900, tendo RODRIGO DE CARVALHO assumido o cargo de presidente. Um ms depois, em 24 de dezembro de 1900, os brasileiros foram derrotados pelos militares bolivianos e esta segunda repblica tambm foi dissolvida. Apesar dos dois pases negarem o acordo com os Estados Unidos citado anteriormente, em 1901 a Bolvia assinou um contrato de arrendamento do Acre com um sindicato de capitalistas norte-americanos e ingleses. Pelo contrato, o grupo, chamado de BOLIVIAN SYNDICATE, assumiria total controle sobre a regio, inclusive militar. Nessa ocasio governava a Bolvia o general JOS MANUEL PANDO Em 6 de agosto de 1902 um militar brasileiro chamado PLCIDO DE CASTRO foi enviado ao Acre pelo governador SILVRIO NRI e iniciou a ento denominada Revoluo Acreana. Os rebeldes imediatamente tomaram toda a regio, exceto Porto Acre que somente se rendeu em 24 de janeiro de 1903. Trs dias depois, 27 de janeiro, foi proclamada a Terceira Repblica do Acre, agora com o apoio do presidente RODRIGUES ALVES e do seu Ministro do Exterior, o BARO DO RIO BRANCO, que ordenou a ocupao do Acre e estabeleceu um governo militar sob a comando do general OLMPIO DA SILVEIRA. Na Bolvia, o general PANDO enviou tropas para combater os invasores brasileiros. Entretanto, antes que acontecesse algum combate significativo, em conseqncia do excelente trabalho da diplomacia brasileira comandada pelo BARO DO RIO BRANCO, os governos do Brasil e da Bolvia assinaram em 21 de maro de 1903 um tratado preliminar, ratificado pelo Tratado de Petrpolis em 17 de novembro de 1903. Neste a Bolvia abria mo de todo o Acre em troca de territrios brasileiros do estado de Mato Grosso mais a importncia de 2 milhes de libras esterlinas. JOAQUIM FRANCISCO DE ASSIS BRASIL, participou ativamente das negociaes com a Bolvia, tendo representado o governo brasileiro em sua assinatura. A seguir, reproduzimos dois preciosos textos sobre a histria do Acre. O primeiro um depoimento do DR. PAULO BROSSARD, profundo conhecedor da biografia de ASSIS BRASIL, sobre os momentos que antecederam a redao do tratado. O segundo, escrito pelo ALMIRANTE ROBERTO GAMA E SILVA, lista os fatos histricos que levaram ao Tratado de Petrpolis, detalhando a participao dos brasileiros que se empenharam na conquista do Acre.

CENTENRIO DO TRATADO DE PETRPOLISPor PAULO BROSSARD Semana passada, dia 17, transcorreu o centenrio do Tratado de Petrpolis, que ps fim a delicado problema com a Bolvia; firmaram-no, pelo Brasil, o BARO DO RIO BRANCO, ministro das Relaes Exteriores desde o incio da presidncia RODRIGUES ALVES, e ASSIS BRASIL, que deixara a embaixada em Washington para ser um dos plenipotencirios; e se levar-se em conta que a questo do Acre no teria tomado a feio que tomou no fora o papel desempenhado pelo gacho PLCIDO DE CASTRO, de ver-se que o assunto diz muito aos rio-grandenses; curiosamente, PLCIDO DE CASTRO e ASSIS BRASIL eram gachos e ambos de So Gabriel. Como natural, antes do tratado ocorreram fatos particularmente importantes. Assim, a 14 de maio de 1901, o chefe da representao boliviana em Londres firmou contrato de constituio do Bolivian Syndicate, com sede em Nova York, com a finalidade de explorar, durante 30 anos, as riquezas do Acre. Os poderes outorgados eram amplssimos, desde o de cobrar tributos at o de manter fora armada. Seria a primeira vez que o regime das "chartered companies", conhecidas na sia e na frica, teriam acesso Amrica do Sul. Tratava-se de um Estado dentro do Estado. Em Washington, onde chefiava nossa representao, ASSIS BRASIL, que se tornara amigo do secretrio de Estado HAY, se multiplicou em atividades, chamando-lhe a ateno para o fato de o Brasil ter relaes de vizinhana com a Bolvia e estar materialmente indefinida a linha divisria. certo que em 1867 os pases vizinhos haviam celebrado tratado acerca de seus limites territoriais, mas cedo surgira uma divergncia em sua inteligncia. O ministro das Relaes Exteriores de CAMPOS SALLES, por exemplo, sustentava que "para o Brasil, o territrio do Acre boliviano em virtude do tratado de 1867". Era categrico: "O governo boliviano entende que o territrio ao sul da linha Cunha Gomes pertence Bolvia, e o governo brasileiro, que tambm assim pensa, mais de uma vez o tem declarado. No h, portanto, litgio". Ainda mais, em oficio endereado a RIO BRANCO, ento em Berlim, afIrmava: "Apesar da opinio errada e irrefletidamente sustentada por corporaes cientficas, na imprensa e at no Congresso Nacional, o territrio do Acre no brasileiro... No pomos em dvida a soberania da Bolvia". Contudo, muitas vozes ilustres profligavam esse entendimento. RUI BARBOSA, no Senado, como na imprensa, reiteradamente, sustentou que o Acre era brasileiro luz do tratado de 1867. Ocorreu que, em novembro de 1902, RODRIGUES ALVES assumia a Presidncia da Repblica, e escolheu o BARO DO RIO BRANCO para o ltamaraty. Ora, o Baro conhecia os problemas territoriais do Brasil como a palma das mos. Ainda em Berlim, telegrafou a ASSIS BRASIL perguntando-lhe sua impresso pessoal do caso do Acre. O nosso embaixador responde imediatamente por telegrama, e por carta, enviada tanto para Berlim como para o Rio. Em dezembro, RIO BRANCO assumiu o ministrio e logo em janeiro de 1903 comunica Bolvia que o Brasil adotava nova orientao quanto ao artigo 20 do tratado de 1867, e o faz de maneira inequvoca e direta. Da nova orientao no tocante ao Acre, ento convulsionado, noticia oficialmente nosso ministro em Washington; a conversao telegrfica entre ambos se amida: em duas semanas, oito vezes RIO BRANCO telegrafa a Assis, trs vezes s no dia 21. Em abril, chama-o "a servio", e em breve vem ele a ser, com o Baro e RUI BARBOSA, um dos plenipotencirios brasileiros. Na abertura dos trabalhos parlamentares, a 3 de maio, o presidente Rodrigues AIves, em mensagem ao Congresso, assim se manifesta: "Desde 18 de janeiro foram expedidas instrues nossa legao em La Paz, e ficou ela prevenida de que, apesar da mui larga interpretao que, para favorecer a Bolvia, o governo brasileiro havia dado a tantos anos ao artigo 20 do tratado de 1867, passaria agora a defender como fronteira o paralelo 10 20' de latitUde meridional, que a linha divisria indicada pela letra e pelo esprito do mesmo pacto". Depois de trs meses de trabalho comum, RUI BARBOSA renunciou a sua indicao, expondo as "razes do plenipotencirio vencido", de modo que a negociao continuou a cargo dos dois remanescentes at a assinatura do tratado em 17 de novembro de 1903. Este foi objeto de severas criticas e irrestritos louvores por parte de brasileiros eminentes. H muito, faz parte da nossa histria diplotntica. Recordo o episdio porque nem todos sabem do papel que no caso desempenhou o nosso JOAQUIM FRANCISCO DE ASSIS BRASIL. At porque o diplomata no alardeia seus servios e muito menos seus xitos. E me pareceu oportuno recordar alguns fatos ligados ao acontecimento. Alis, CASSIANO RICARDO, em seu excelente livro sobre o Tratado de Petrpolis, escrito por sugesto de Joo Neves, observa que do princpio ao fim o Baro contou com o concurso de ASSIS BRASIL, aludindo ao seu "trabalho voluntariamente discreto", impondo-se "a si mesmo um pouco de penumbra para que o sol brilhasse mais". Artigo de Paulo Brossard, jurista e ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, publicado em Zero Hora, Porto Alegre, 24-11-2003.

RELEMBRANDO O PASSADOPor ROBERTO GAMA E SILVA Na manh do dia 3 de fevereiro de 1878 o "gaiola" ANAJS, pertencente "Companhia de Navegao do Amazonas", cruzou a foz e atracou no barranco do rio Aquiri, assim chamado pelos "Apurins", habitantes primitivos daquela regio. O stio, hoje denominado Boca do Acre, dista 2.422 milhas martimas do porto de Belm, local de incio da longa singradura fluvial. A distncia em relao at Manaus, capital do estado do Amazonas, de 1.497 milhas, sendo de 1.380 milhas o caminho percorrido desde a foz do rio Purus. Embarcado no "ANAJS", como afretador do navio, estava o bem sucedido seringalista Joo Gabriel de Carvalho e Melo, natural de Uruburetama, estado do Cear, acompanhado de vrios familiares, recentemente recrutados pelo parente prspero, e muitos trabalhadores, tambm cearenses, contratados pelo mesmo Joo Gabriel, para a extrao do ltex das seringueiras existentes na nova "colocao", selecionada desde 1874, por este cearense que pioneiramente se estabeleceu no importante afluente do Purus. No ano de 1857, Joo Gabriel, recm-chegado ao Purus, selecionara uma rea vizinha a alguns lagos, em cujas margens viviam os "Jamamads", que batizaram o local com o nome de "Tauari" (409 milhas, rio acima, da foz do Purus). Durante anos a fio Joo Gabriel explorou os seringais nativos de Tauari e prosperou muito, principalmente devido ao fato de l permanecer ininterruptamente, sem "baixar" a Belm no "inverno". Nesse meio tempo teve como vizinhos o clebre Manoel Urbano da Encarnao, que antes de 1865 j havia subido por quatro vezes o Purus, em viagens de explorao, e o no menos famoso Antnio Labre, o primeiro a atravessar os "Campos Gerais do Puciar", entre o Madeira e o Purus, para depois se fixar no trecho vizinho boca do Itux, onde hoje se situa a cidade de Lbrea (786 milhas da foz do Purus). Agora, percebendo a fertilidade das terras a montante de "Tauari", Joo Gabriel decidira mudar de pouso e, para tanto, j avisara firma aviadora do Visconde de Santo Elias, para alterar o destino das suas mercadorias, antes despachadas para "Tauari", agora para a nova explorao do Aquiri. Com a determinao para alterar o destino das suas cargas, Joo Gabriel de Carvalho e Melo foi o responsvel, involuntrio, pelo "batismo" das novas terras, situadas a sudoeste do estado do Amazonas, com o nome de "Acre". Os portugueses da firma aviadora, devido ao sotaque peculiar dos lusitanos, transformaram, por sncope, Aquiri em Acre. Vinte e quatro anos decorridos, no fim do primeiro semestre de 1902, chegou aos seringais do Acre a notcia de que a Bolvia arrendara para uma empresa estrangeira, companhia de carta do tipo usado para a "colonizao da frica", aqui denominada "Bolivian Syndicate", todas as terras que figuravam nos seus mapas antigos como "tierras non descubiertas". No seringal de Joo Galdino de Assis Marinho, aonde vinha demarcando as posses, o fato novo chegou aos ouvidos de Jos Plcido de Castro, que registrou no seu dirio o seguinte comentrio:"Veio-me mente a idia de que a ptria brasileira se ia desmembrar, pois a meu ver, aquilo no era mais do que um caminho que os Estados Unidos abriam para futuros planos, forando desde ento a lhes franquear a navegao dos nossos rios, inclusive o Acre. Qualquer resistncia por parte do Brasil ensejaria aos poderosos Estados Unidos o emprego da fora e a nossa desgraa em breve estaria consumada. Guardei apressadamente a bssola de Casella, de que me estava servindo, abandonei as balisas e demais utenslios e sa no mesmo dia (23 de junho de 1902) para as margens do Acre". Imediatamente, dirigiram-se Jos Galdino de Assis Marinho e Plcido de Castro para "Bom Destino", seringal explorado por Joaquim Vitor da Silva, situado a 94 milhas a montante da Boca do Acre, j nos limites do atual estado do Acre. Joaquim Vitor da Silva, personagem esquecido pela Histria, foi, nada mais nada menos, o lder civil de um movimento, j em curso, que contestava a soberania boliviana sobre as terras ocupadas pelos brasileiros, na sua maioria cearenses retirantes da grande seca de 1877-1879. Aquele momento histrico, chegada de Plcido de Castro a "Bom Destino", marcou o encontro do chefe civil com o futuro chefe militar da bem sucedida "Revoluo Acreana!".

ORIGENS HISTRICAS A questo acreana remontou ao "Tratado de Madrid", firmado em 13 de janeiro de 1750, quando portugueses e espanhis acertaram algumas linhas gerais de procedimento para delimitar os limites das suas possesses na Amrica do Sul, sendo de grande relevncia a preferncia que concederiam aos limites naturais. No texto do Tratado, contudo, foi combinado o lanamento de duas grandes retas para definir, de uma maneira geral, os limites na regio amaznica: a primeira, ligando a foz do rio Jaur confluncia dos rios Guapor e Mamor, a segunda da juno dos dois caudais at as nascentes do Javari, por cujas guas devia continuar a mesma fronteira at o Japur e outros rios, de modo que todas as comunicaes fluviais e lacustres do Amazonas com o Negro fossem asseguradas a Portugal. A simples leitura desses acertos retrata o desconhecimento da regio, na poca em que os dois pases com eles concordaram. Em 1 de outubro de 1777, deu-se a assinatura de outro tratado entre Portugal e Espanha, o de "Santo Ildefonso", que muito bem justificou a disputa fronteiria, ainda acirrada, entre os Estados do Brasil e da Bolvia. A fronteira, descreveu o Tratado, seria delimitada "pelos rios Guapor e Mamor at o ponto mdio do Madeira e da por uma linha leste-oeste, at encontrar a margem oriental do Javari". J naquela ocasio, o conhecimento da regio era bem maior do que na poca do Tratado de Madrid. O rio Madeira fora explorado, com certo detalhe, por Francisco de Mello Palheta, em 1723. Nove anos depois, em 1742, Flix da Gama completou a extraordinria viagem do Mato Grosso at Belm, pesquisando os rios Mamor, Guapor e Madeira. Apesar dos dados recolhidos nessas expedies, e outras mais de menor relevncia, persistia a mais completa ignorncia sobre o espao fsico entre o Madeira e o Javari. Como o prprio texto do ajuste diplomtico de "Santo Ildefonso" declarava a provisoriedade do traado proposto, tanto portugueses, quanto espanhis, trataram de torn-lo efetivo. Para tanto, os demarcadores espanhis chegaram mesmo a fazer concesses aos portugueses, propondo o recuo do dito ponto mdio do Madeira para a origem do mesmo rio, isto , na confluncia do Mamor e do Beni. Todavia, os portugueses recusaram a proposta, por saberem de antemo que a linha geodsica lanada na direo leste-oeste jamais atingiria as nascentes do Javari. Depois de um arrefecimento das disputas fronteirias, a Bolvia voltou carga, em plena Guerra do Paraguai, insistindo no cumprimento das normas do Tratado de "Santo Ildefonso". Embora na defensiva, devido delicadeza do momento, o governo brasileiro procurou conduzir as negociaes com cautela, assinando em 27 de maro de 1867, trs meses antes da tomada da Fortaleza de Humait, pelo ento Marqus de Caxias, o "Acordo de Ayacucho" que definiu a fronteira da seguinte maneira: "da foz do Beni para oeste, por uma reta tirada da margem esquerda, na latitude de 10 20 S, at encontrar as nascentes do rio Javari; se este tivesse as suas nascentes ao norte daquela linha leste-oeste, seguir a fronteira deste mesmo ponto por uma reta a buscar a nascente principal do mesmo rio". Essa linha demarcatria, na realidade, soou como uma derrota para o Brasil, pois na mesma ocasio, aproveitando a frgil posio brasileira, o Peru tambm insistira na fixao dos seus limites com o Brasil e a comisso demarcadora fixou a posio da nascente do Javari no ponto determinado pelas coordenadas de 7 01 17 S e 074 0827,7 W, considerando como manancial principal do Javari o rio Jaquirana e abandonando, a priori, os dois outros afluentes, Galvez e Paissandu. vista desse precedente, o General Jos Pando, ento chefe do lado boliviano da comisso mista instituda para a demarcao, insistiu para que fosse adotada a mesma posio geogrfica acertada com o Peru, para a nascente do Javari. Contra essa proposta, aceita preliminarmente pela diplomacia brasileira, insurgiu-se o General Taumaturgo de Azevedo, por considerar que a aceitao dos termos bolivianos sancionaria oficialmente erros geogrficos que subtrairiam parte do territrio nacional. Baseava-se a argumentao do General Taumaturgo tanto no fato de no ter sido devidamente determinada a nascente do Javari, como tambm pela impreciso constatada na posio do marco do Madeira, cuja latitude correta era 10 2113,63 S. O competente General Taumaturgo, pois, zelava pela integridade territorial da ptria. O Ministro Carlos de Carvalho, das Relaes Exteriores, admitiu a argumentao e props a sua aceitao Bolvia. Com a recusa do governo boliviano, ento, conformou-se com a situao! Se, por acaso, prosseguissem as demarcaes, mediante o lanamento da linha geodsica que uniria a boca do Beni ao ponto determinado como nascente do Javari, essa delimitao, bem inclinada para o norte, transferiria para a Bolvia as terras mais nobres da Amaznia, eis que os solos da regio ao sul do estado do Amazonas e os do estado do Acre so do tipo cambissolo eutrfico, de grande fertilidade natural. Da a razo pela qual os seringais nativos da rea produziam muito mais do que aqueles encontrados em outras paragens. Carlos de Carvalho foi substitudo por Dionsio de Cerqueira que, embora provocando a sada do General Taumaturgo de Azevedo da Comisso Demarcadora, foi pressionado pelos elementos mais representativos do pas, inclusive por membros proeminentes do Congresso Nacional, para adotar as aes por ele recomendadas. Em 25 de abril de 1898, o Ministrio das Relaes Exteriores expediu nota ao governo boliviano que decidira suspender os trabalhos em curso, provada como ficou a necessidade de retificao da nascente principal do Javari. Brecadas, pelo patriotismo do General Taumaturgo de Azevedo, as pretenses bolivianas, partiu o governo do pas vizinho para outro tipo de ofensiva: pleiteou a instalao de reparties fiscais no Acre, em regies sobre as quais alegava estarem definid