Tratamento Bioprogressivo Para Result a Dos a Longo Prazo

8/7/2019 Tratamento Bioprogressivo Para Result a Dos a Longo Prazo

1/14

17NOVEMBRO / DEZEMBRO - 1996VOLUME1, N 2REVISTADENTAL PRESS DE ORTODONTIA E ORTOPEDIAMAXILAR

*Professor Coordenador do Curso de Especializao em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universida-

de So Francisco - Bragana Paulista - SP.Miguel N. Benvenga, CD*.

Tratamento Bioprogressivopara Resultados a Longo Prazo

Todos os mtodos e tcnicas ortodnticas tm como objetivos principaisuma dentio e uma face estticas, uma dentadura funcional, tecidos pe-riodontais hgidos, com resultados a longo prazo das modificaes den-trias e ortopdicas conseguidas atravs de um diagnstico abrangente e

de uma biomecnica efetiva.Com a apresentao de um caso clnico tratado h cerca de 15 anos,procuraremos expor o mtodo de diagnstico biointegrado que utiliza-mos, suas relaes com o crescimento facial e a mecnica bioprogressi-va, bem como o seu desdobramento em relao s necessidades funcio-nais e estticas do paciente e sua tipologia facial.

Apresentao ilustrada de casos tratados em ortopedia,

ortodontia e/ou cirurgia ortogntica

Caso Clnico


2/14


Histrico e Quadro ClnicoA paciente com 13 anos e 5 meses de

idade, apresentou-se na primeira consultapara uma avaliao de seu problema orto-dntico, queixando-se principalmente emrelao ao desalinhamento e protruso deseus dentes e da repercusso em sua estti-ca facial. No houve a ocorrncia de hbi-

tos viciosos no passado e a jovem relatouestar gozando de boa sade.

Exame ClnicoAs condies de higiene bucal eram

boas e os trabalhos de dentistica existen-tes satisfatrios. O aspecto facial no apre-sentava assimetrias dignas de nota. Porm,

por ser a paciente portadora de uma ma-locluso de classe I de Angle com acentu-ada biprotruso dentria e tendncia amordida aberta anterior, no apresentavaum selamento labial natural, fato agravadopela presena de um lbio superior curtoe hipotnico. A matriz funcional inadequa-da em termos de deglutio e respirao,

mas sem problemas nas ATMs (Fig. 1.).

Anlise de ModelosOs modelos relacionados confirmaram

a malocluso da classe I, o apinhamentomoderado nas regies anteriores superi-or e inferior, os segundos molares superi-ores cruzados vestibularmente em relao

aos sue antagonistas, sem desvio da linhamediana dentria.

Dentes anteriores superiores com sua-ve overjet e sobremordida quase inexis-tente. O segundo molar inferior esquer-d o p a r c i a l m e n t e i m p a c t a d o . A di scre p nc ia total do arco inferior somou-4mm (Fig.1.).

Exame RadiogrficoA radiografia panormica inicial mos-

trou ausncia de cries e problemas pe-riodontais. Mas, evidenciou com nitideza falta de espao para a erupo normale fisiolgica dos dentes do siso (Fig. 1.).

Fig. 1.A. - Fotos intra-orais pr-tratamento. B- Vista oclusal do modelo inicial e da radiografia panormica. C- Fotosiniciais de frente e perfil e da radiografia cefalomtrica.


3/14


Avaliao CefalomtricaA anlise do cefalograma inicial mos-

tra uma relao dentria de classe I e es-queletal de classe II, com uma convexi-dade do ponto A de 5mm, resultado dogiro negativo da mandbula ao longo docrecimento facial induzido pela maloclu-so, o que se traduziu por um eixo facial

de 85 e uma altura facial inferior de 52.A biprotruso resultou numa posio 1-APo de +7mm e ocluso anterior quasetopo a topo. A determinao do tipo faci-al pelo VERT (quantidade de crescimen-to vertical da face) revelou uma face doli-cofacial. O perfil dos tecidos moles mos-tra protruso do lbio inferior em rela-

o ao plano esttico de Ricketts com umnariz normal, mas com um lbio superi-or muito delgado e curto (Fig. 2).

Diagnstico BiointegradoA paciente aos 13 anos e 5 meses de

idade j tinha tido a sua menarca, o quesignificava, praticamente, o fim do crescimen-

Fig. 2. - Traado cefalomtrico inicial e determinao do tipo facial atravs do clculo do VERT = quantidade de cresci-mento vertical da face.

DETERMINAO DO TIPO FACIAL = VERT = QUANTIDADE DE CRESCIMENTO VERTICAL

FATORESNORMA

8 1/2 - 9 anosMEDIDAS AJUSTE IDADE DESVIOS-PADRO

*1 - EIXO FACIAL

*2 - PROF. FACIAL

*3 - ANG. PL. MANDIBUALAR

*4 - ALTURA FACIAL INF.*5 - ARCO MANDIBULAR

90 3,0

87 3,0

26 4,0

47 4,0

26 4,0

87,0

85,0

33,0

49,0

20,0

-

88,5

24,5

-

28,5

-1,0

-0,5

-2,1

-0,5

-2,1

SOMA DOS DESVIOS - PADRO 5 = -1,2 DP = VERT

DLICO SEVERO = -2 DLICO = -1 DLICO SUAVE = -0,5 MESO = 0BRAQUI = +0,5 BRAQUI SEVERO = +1


4/14


to facial dentro de um padro vertical(dlico) e poucas chances de reverter ascaractersticas de seu lbio superior.

Com uma discrepncia dentria de -4mm, uma protruso do incisivo centralinferior de +7mm, convexidde de 5mm eas caractersticas j citadas, partimos para

a construo do VTO(visualizao dosobjetivos do tratamento) (Fig. 3.).

Premissas Bsicas para a Contru-o do VTO

Quando iniciamos com a Terapia Bio-progressiva, a maior dificuldade enfren-

tada foi a de como formular as hiptesespossveis de tratamento ortodntico paraum determinado paciente, levando emconsiderao seu sexo, idade, tipo de ma-locluso, padro facial, potencial de cres-cimento e as provveis reaes biome-cnica. Ou, melhor dizendo; o que pode-

Fig. 3. - Premissas bsicas para a construo do VTO

PACIENTE - I.B.B.CLASSIFICAO DE ANGLE - CLASSE I

IDADE - 13 ANOS E 5 MESES

VERT. -1,2 PADRO FACIAL - DOLICOFACIAL

IDADE - FEMININO IDADE - 05/06/1981

EXTRAO: NO SIM X 4 4 V.T.O. PARA 2 (DOIS) ANOS MDULOS : 1 (UM)

1. EIXO FACIALIncio: 85 Trmino: 86Em virtude das extraes, com uma pequena mesializao

dos segmentos posteriores inferiores, o que neutralizar o usomoderado dos elsticos de Classe II.

2. CONVEXIDADE DO PONTO AIncio: + 5mm Trmino: + 3mmComo resultado da retrao dos incisivos superiores e uso

moderado dos el. cl. II.

3. POSIO 1 - APoIncio: + 7mm Aps reduo convex: + 8mmTrmino: + 3mm

Plano Oclusal: Sem modificao com o uso moderado dosel. cl. II.

0,5mm 5,0mm

4. NGULO INTERINCISIVOIncio: 112 Trmino: 130

Para sobrecorrigir a sobremordida.

5. LBIO INFERIOR - PLANO ESTTICO DE RICKETTSIncio: +1mm Trmino: - 2mmComo consequncia da correo do overjet/overbite.

Descrusz. / Disjuo

Correo relao molar

Correo sobremordida

Elsticos classe II

Cervical

Combinada

High pull

Reversa{

1 - APo

Discrepncia Dentria

Recoloc. 1 - APo = + 3mm

Verticalizao molar

Expanso

Desgaste internacional

Extraes

TOTAL

Espao E (Nance)

+ -

Mxima

Moderada

Mnima{ANCORAGEMARCO INF.

TRAO

EXTRA - ORAL

4 4

N 635

X

X

10

4

0

0

0

0

15

15 14


5/14


ramos esperar em termos de movimen-tao ortodntica e efeito ortopdico pelaao da aparatologia.

A resposta somente pode ser dada coma experincia clnica de cada especialistana resoluo da discrepncia dentria,da convexidade do ponto A (efeito orto-pdico), do estabelecimento de overjet/

overbite normais, e de uma ocluso nor-malizada esttica e funcionalmente.

A soluo veio com o que passamos achamar de PREMISSAS BSICAS PARA ACONSTRUO DO VTO, que inclui o cres-cimento facial esperado durante o trata-mento e antecipa as possveis modificaesinduzidas com a biomecncia (Fig. 4.)

O VTO da paciente I.B.B. foi constru-do com apenas 1 mdulo para um pero-do mdio de dois anos de tratamento (1mdulo=1mm de crescimento), pelo quej foi explicado anteriormente.

Com pouco, ou quase nenhum cresci-mento esperado, a discrepncia do arcoinferior de -4mm, a biprotruso, a conve-xidade de 5mm e a necessidade de fecharum pouco o eixo facial (girar positivamente

a mandbula), as extraes dos 4 primei-ros pr-molares foram imperativas.

As sobreposies da (Fig. 5) (incio -

VTO) serviram de guia para a elaboraoda sequncia mecncia de tratamento edo plano de conteno (Fig. 6.).

Fig. 4. - Traado do VTO para dois anos, com 1 (um) mdulo de crescimentofacial (vermelho)

Fig. 5. - Sobreposio do cefalograma inicial (preto) com o traado do VTO para dois anos (um mdulo).


6/14


Principais Objetivos da Correo1. A correo da Classe I da paciente

I.B.B. caracterizou-se por um tratamentoortodntico feito para um adulto jovem.

A primeira fase alinhou e nivelou os den-tes em ambas as carcadas, depois de feitasas extaes dos 4 primeiros pr-molares epreparou a ancoragem com os arcos utili-

dade de .016" x .016" (Fig. 6.)2. A segunda etapa consistiu na retra-

o dos caninos superior e inferiores,aps o que foi feita a retrao incisal su-perior e inferior em massa, com o usosimultneo de elsticos de Classe II paramanter a relao de Classe I existente.

3. O plano de conteno levou em contaa malocluso original, o padro facial e oVTO, indicando a colocao de uma pla-ca de Hawley superior modificada e a co-lagem de um fio ao tranado de 0.0215"entre os caninos inferiores (Fig. 6.).

Avaliao dos ResultadosAs modificaes faciais que resultaram

do tratamento relacionaram-se diretamen-te com as alteraes dento-alveolares con-seguidas com as extraes dos 4 pr-mo-lares e as subseqentes rotaes dos seg-mentos anteriores. No foi possvel fecharo eixo facial (girar positivamente a mand-bula) como estava previsto no VTO. Toda-

via, a intercuspidao dentria e os tor-que, o ngulo interincisivo (127), o pa-ralelismo do longo eixo do incisivo centralsuperior com o eixo facial, a sobrecorre-o da classe I e o perfil dos tecidos moles- a despeito do lbio superior j referido -apresentaram-se bastante satisfatrios aotrmino da correo (Fig. 11).

As sobreposies do VTO (vermelho)com o cefalograma final (azul) mostramalgumas difrenas, uma vez que a paci-ente no apresentou qualquer cresci-

mento facial nos 26 meses que durou otratamento. Outras diferenas aparecemnas posies dos dentes porque a me-cncia bioprogressiva mostrou-se maiseficiente do que espervamos aquelapoca.

Aqui cabe um comentrio sobre o usodo VTO (hoje substitudo pelo VTG, isto ,a visualizao dos objetivos do tratamentoat a maturidade do paciente) como

1. Preparo de Ancoragem do ArcoSuperior e InferiorA. Arco utilidade superiorB. Arco utilidade inferiorRETRAO CANINAA e B - Arcos seccionados p/ retraodos caninos superior e inferior

2. Retrao Incisal Superior e In-feriorA e B - Arcos utilidade de retrao +elsticos de cl. II para conseguir sobre-correo em cl. I.

3. Fase Alternativa de Verticali-zao dos CaninosA e B - Arco seccionado superior comalas helicoidais ou alas em L, em con-junto ou no com os arcos utlidade deretrao, dependendo das condiesde ancoragem do arco inferior.

4. Como o caso se apresenta ao inciocom a mordida, aberta, poder ser nos possvel como necessrio, o uso dearco utilidade delta duplo para a re-trao dos incisivos superiores e infe-riores.

5. FinalizaoArcos Ideais superior e inferior. Coordenao entre os arcos e sobrecorreo.


7/14


Fig. 6. - Sequncia mecnica inicial no VTO e plano de conteno..

valioso instrumento clnico, em respostas crticas que o mtodo recebeu de quemno aprendeu, at hoje, como elabor-lo.

O VTO no precisa necessariamente sera imagem especular do resultado final dascorrees ortodnticas. Na verdade, ele um GUIA GERAL do plano de tratamen-to e nos ensina a incorporar o crescimen-to facial previsto e orienta de modo rea-lstico sobre as possiblidades e os limitesde nosso trabalho.

Resultados a Longo Prazo

A colaborao da paciente durantetodo o tratamento foi excelente, continu-ando na conteno e na ps-conteno.

Os dispositivos de conteno foram re-movidos depois de um ano de uso, oca-sio em que foram indicadas as extra-es dos dentes do siso (Fig. 14.).

O caso continuou a ser controlado noperodo ps-conteno e as fotos da Fig.

14 mostram os resultados 11 (onze) anosdepois de concluda a conteno.

Pode-se obter a intercuspidao den-tria e algumas pequenas recidivas ao n-vel dos incisivos inferiores. Houve umdesvio, tambm, da linha mediana quedebitamos falta de sobrecorreo ade-quada. No mais, podemos notar a manu-teno da higidez dos tecidos gengivaisnessa paciente que apresenta uma higie-ne bucal irrepreensvel.

PLANO GERAL DE CONTENO

1. Arco Superior Placa de Hawley modificada com arco vestibularde 1 molar a 1 molar, para uso ininterrupto por 12 meses, 24 horaspor dia e mais 6 meses para uso noturno, somente.

2. Arco InferiorBarra colocada 3 | 3 para uso durante 24 meses, no m-

nimo.

PERODO DE CONTROLE DE CONTENOConsultas de 3 em 3 meses.


8/14


Figura 7. A.

Figura 7. B.

Figura 7. C.

Figura 7. D.

Fig. 7. A e B- Preparo da ancoragem com os arcos utilidade. C e D, Incio dos caninos superiores e inferiores.


9/14


Figura 8. A.

Figura 8. B.

Figura 8. B.

Fig. 8. A. - Trmino da retrao dos caninos e incio da retrao dos incisivos superiores e inferiores. B. A retrao incisala meio caminho.


10/14


Figura 9. A.

Figura 9. B.

Figura 9. C.

Figura 9. D.

Fig. 9. A e B - Final da fase de retrao incisal. C e D - Arcos ideais para incio da correo dos torques e da coordenaointerarcos. Elstico intermaxilar na regio anterior para corrigir o desvio da linha mediana.


11/14


Figura 10. A.

Figura 10. B.

Figura 10. C.

Figura 10. D.

Fig. 10. A e B - Correo dos torques, fechamento de espaos remanescentes e sobrecorreo do cruzamento entre os primeirosmolares esquerdos. C e D - Correo concluda. No arco mandibular foi colada uma barra de fio de ao tranado de 0.0215"entre os caninos.


12/14


Figura 11. A.

Figura 11. B.

Figura 11. C.

Fig. 11. A - Trmino da correo. B. Os dispositivos de conteno colocados e a rediografia panormica final. C. As fotos defrente e perfil da paciente ao final do tratamento e a radiografia cefalomtrica correspondente.


13/14


Fig. 13 - Sobreposio do traado do VTO com o cefalograma final (Azul)

Fig. 12 - Cefalograma ao trmino do tratamento.


14/14

Figura 14. A.

Figura 14. B.

Fig. 14. A. B. - O caso 11 (onze) anos ps-conteno. Os cuidados higinicos da paciente continuam excelentes. Seu Sorrisoamplo parece algo gengival em virtude de seu lbio muito delgado e curto.

MIGUEL NEIL BENVENGA C.D.Rua Coronel Oliveira Lima, n 173Santo Andr - SP - CEP 09010-000Tele/fax: (011) 444-1098 - Brasil

Graduou-se cirurgio-denstista pelaFaculdade de Odontologia da Univer-sidade de So Paulo no ano de 1957 efez seu curso de pos-graduao em or-todontia na mesma instituio no pe-rodo de 1967/69. Foi professor assis-tente da Cadeira de Ortodontia da

FOUSP de 1964 a 1970.Exerce a especialidade em seu

consultrio de Santo Andr-SP e man-tem ativa participao em congressos,simpsios, jornadas, conferncias ecomo ditante de cursos no Brasil, ChileArgentina, Equador, Uruguai e Mxico.

Foi o pioneiro no pas na divul-gao e ensino das tcnicas de colagem

de brackets e da Terapia Bioprogressiva,tendo publicado 17 trabalhos em peri-dicos especializados nacionais e 3 emrevistas argentinas. Traduziu os livros"Em Busca da Excelncia na Ortodon-tia" do Dr. Bjrn U, Zachrisson, reeditadoem 1995 pela Universidade So Francis-

co, "Teraputica Ortodntica", "Diag-nstico Ortodntico", "CefalometriaOrtodntica" de autoria do Dr. MichelLanglade e "Anatomia Cefalomtrica"deautoria do Dr. Pierre Vion, todos edita-dos pela Livraria Editora Santos.

filiado a American Associationof Orthodontists (USA), SociedadeBrasileira de Ortodontia (RJ), Sociedade

Paulista de Ortodontia, Sociedade Para-naense de Ortodontia, ao Grupo Brasi-leiro de Estudos Ortodnticos e FOR -Foundation for Orthodontic Research(USA). Em 1991 recebeu o ttulo de "S-cio Honorrio"da Sociedade de Ortodon-tia de Crdoba, Argentina, por suas con-

tribuies cientficas entidade.Desde 1984 sua principal ativi-

dade didtica a de professor coorde-nador do Curso de Especializao emOrtodontia da Faculdade de Odontolo-gia da Universidade So Francisco, deBragana Paulista - SP.

Documents

Tratamento Bioprogressivo Para Result a Dos a Longo Prazo