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12/27/2015 Imprimir: http://www.conteudojuridico.com.br/print.php?content=2.49000 1/11 www.conteudojuridico.com.br Artigos Sábado, 12 de Julho de 2014 05h15 IURI CARDOSO DE OLIVEIRA: Procurador Federal, pósgraduado em Direito Constitucional do Trabalho e pósgraduando em Direito Tributário pela Universidade Federal da Bahia. Tratamento jurisprudencial da expropriação confiscatória de terras utilizadas para cultura ilegal de plantas psicotrópicas I INTRODUÇÃO A Emenda Constitucional nº 81/2014 deu nova redação ao art. 243 da Constituição Federal, para estabelecer a expropriação destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário, das propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas. No tocante à cultura ilegal de plantas psicotrópicas, a primitiva redação do dispositivo constitucional só permitia a expropriação das glebas onde fossem encontradas, rendendo ensejo à interpretação de que as propriedades urbanas não poderiam ser expropriadas, bem como mencionava apenas a sua destinação ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos. A Lei nº 8.257/91 dispõe sobre a expropriação das glebas nas quais se localizem culturas ilegais de plantas psicotrópicas e é regulamentada pelo Decreto nº 577/92. O tema traz, em seu bojo, diversas controvérsias, pouco estudas pela doutrina e frequentemente levada aos tribunais pátrios. O objetivo do presente trabalho é expor como a jurisprudência vem se pronunciando sobre diversas questões pertinentes a aspectos materiais e processuais da expropriação de terras utilizadas para o ilegal cultivo de plantas psicotrópicas, em ordem a fomentar uma discussão que proporcione segurança jurídica no tratamento dos casos em curso e vindouros. II DESENVOLVIMENTO a) Cabimento da expropriação não apenas das áreas em que sejam cultivadas plantas psicotrópicas, mas à toda a propriedade rural O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no RE n. 543.974 [1] , firmou entendimento no sentido de que o art. 243 da Constituição, ao aludir às "glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas", não se refere apenas

Tratamento jurisprudencial da expropriação confiscatória de terras utilizadas para cultura ilegal de plantas psicotrópicas

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ArtigosSábado, 12 de Julho de 2014 05h15

IURI CARDOSO DE OLIVEIRA: Procurador Federal, pós­graduado em Direito Constitucional doTrabalho e pós­graduando em Direito Tributário pela Universidade Federal da Bahia.

Tratamento jurisprudencial da expropriação confiscatória de terrasutilizadas para cultura ilegal de plantas psicotrópicas

I ­ INTRODUÇÃO

A Emenda Constitucional nº 81/2014 deu nova redação ao art. 243 da ConstituiçãoFederal, para estabelecer a expropriação destinadas à reforma agrária e a programas dehabitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário, das propriedades rurais eurbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantaspsicotrópicas.

No tocante à cultura ilegal de plantas psicotrópicas, a primitiva redação do dispositivoconstitucional só permitia a expropriação das glebas onde fossem encontradas, rendendoensejo à interpretação de que as propriedades urbanas não poderiam ser expropriadas,bem como mencionava apenas a sua destinação ao assentamento de colonos, para ocultivo de produtos alimentícios e medicamentosos.

A Lei nº 8.257/91 dispõe sobre a expropriação das glebas nas quais se localizemculturas ilegais de plantas psicotrópicas e é regulamentada pelo Decreto nº 577/92.

O tema traz, em seu bojo, diversas controvérsias, pouco estudas pela doutrina efrequentemente levada aos tribunais pátrios.

O objetivo do presente trabalho é expor como a jurisprudência vem se pronunciandosobre diversas questões pertinentes a aspectos materiais e processuais da expropriação deterras utilizadas para o ilegal cultivo de plantas psicotrópicas, em ordem a fomentar umadiscussão que proporcione segurança jurídica no tratamento dos casos em curso evindouros.

II ­ DESENVOLVIMENTO

a) Cabimento da expropriação não apenas das áreas em que sejam cultivadasplantas psicotrópicas, mas à toda a propriedade rural

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no RE n. 543.974[1], firmou entendimento

no sentido de que o art. 243 da Constituição, ao aludir às "glebas de qualquer região doPaís onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas", não se refere apenas

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às áreas em que estas sejam ilegalmente cultivadas, mas à integralidade das propriedadesrurais nas quais tais culturas sejam localizadas.

Assim, é cabível a expropriação de toda a área da gleba, independentemente daextensão de terra em que foi efetivamente localizada a cultura ilegal de plantaspsicotrópicas.

Recursos interpostos em confronto com esse entendimento dominante do SupremoTribunal Federal podem ter o seu seguimento negado pelo relator, ante o disposto no art.557 do Código de Processo Civil.

Ademais, é digno de nota que a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região,na AC 0003716­21.2002.4.01.4100

[2], reconheceu a possibilidade de expropriação tanto da

gleba utilizada para o plantio de maconha quanto da gleba contígua, utilizada pararesidência da pessoa envolvida na cultura ilegal, por entender que ambas as propriedadesestariam destinadas à ação delituosa. Trata­se de um precedente importante, porconsiderar como imóvel rural passível de expropriação a unidade destinada à cultura ilegalde plantas psicotrópicas, ainda que composta por diversas matrículas, à semelhança doconceito de imóvel rural positivado no art. 4º, I, da Lei nº 8.629/93.

b) Natureza da responsabilidade (objetiva ou subjetiva) do proprietário de terrascom cultivo ilegal de plantas psicotrópicas

Molinaro afirma:

"Há consenso pretoriano, ao contrário do que União vempostulando (responsabilidade objetiva), é que o direito brasileiroprivilegia a responsabilidade subjetiva, e nesa perspectiva, sim, éválida a perquirição da culpa em todas as suas modalidades, atémesmo pelo preceito fundamental contido no art. 5º, XLVI, portanto,deve­se investigar a culpabilidade do expropriado (confiscado)."

[3]

(sic.)

Registre­se a existência de julgados das quatro Turmas do Tribunal Regional Federalda 5ª Região que afirmam a existência da reponsabilidade subjetiva do proprietário,entendendo que a expropriação em análise pressupõe a sua participação consciente,cultivando diretamente a planta psicotrópica, tolerando tal cultivo, ou, ainda, omitindo­se noseu dever de vigilância e guarda do bem imóvel, para evitar o plantio ilícito. Ei­los: AC181603/PE

[4], AC 16674/PE

[5], AC 130043/PE

[6], AC 189757/PE

[7], AC 267335/PE

[8] e AC

445779/PE[9].

Ademais, a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, na AC 0003716­21.2002.4.01.4100 / RO

[10], entendeu que a perda de imóvel rural utilizado para o cultivo de

maconha está subordinada à ação dolosa ou culposa do agente, sem o que impossível adecretação.

Todavia, ao contrário do que afirma o citado doutrinador, não há consenso pretorianoacerca da natureza da responsabilidade, para fins de expropriação, do proprietário de terrascom cultivo ilegal de plantas psicotrópicas, mas uma cizânia jurisprudencial.

O Pleno do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, na AR4842/PE[11], se manifestou

no sentido de ser irrelevante a existência ou inexistência de culpa no cultivo ilegal queenseje a expropriação­sanção, em razão de ser objetiva a responsabilidade do proprietáriodas terras destinadas ao plantio de espécies psicotrópicas.

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Tal entendimento também foi albergado em decisões das quatro Turmas desteRegional, consoante se verifica nos seguintes julgados: AC 531235/PB

[12], APELREEX

4754/PE[13], AC 431724/PE

[14], AC 545995/PE

[15], AC 543194/PE

[16], APELREEX

11166/PE[17], AC 174005/PB

[18], AC 445459/PE

[19] e AC 442212/PE

[20].

A 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no REsp 498.742/PE[21], afirmou ser

objetiva a responsabilidade do proprietário de terras destinadas para o plantio de espéciespsicotrópicas, sendo, por conseguinte, irrelevante a existência ou inexistência de culpa nautilização criminosa.

Já a 2ª Turma da referida Corte firmou jurisprudência no sentido de que a discussãoacerca do tipo de responsabilidade civil do proprietário do imóvel por cultivo de plantaspsicotrópicas escapa dos estreitos limites de atuação do recurso especial, pois depende dainterpretação do art. 243 da Constituição Federal, cujo conteúdo é apenas repetido pelo art.1º da Lei n. 8.257/91, confome se vê nos seguintes julgados: REsp 478.474/PE

[22], REsp

845.422/BA[23], AgRg no REsp 1074122/BA

[24], AgRg no Ag 1170482/MG

[25], AgRg no REsp

661.498/PE[26] e AgRg no Ag 1255806/BA

[27].

O Supremo Tribunal Federal, na RE 635336 RG[28], reconheceu a existência de

repercussão geral em recurso extraordinário que versa sobre a natureza daresponsabilidade, para fins de expropriação, do proprietário de terras com cultivo ilegal deplantas psicotrópicas.

A questão encontra­se, pois, pendente de uma decisão pelo Pretório Excelso queponha termo ao dissenso pretoriano, cuja orientação majoritária tem sido no sentido daresponsabilidade objetiva do proprietário de terras destinadas para o plantio de espéciespsicotrópicas.

c) Prescindibilidade da perquirição sobre a produtividade do imóvel e a suadestinação

A expropriação do imóvel utilizado para cultura ilegal de plantas psicotrópicas nãopressupõe a demonstração da sua viabilidade para o assentamento de colonos ou para ocultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, pois não se confunde com adesapropriação por interesse social, para fim de reforma agrária.

A 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, na AC 531235/PB[29], não

admitiu a expropriação de um imóvel, considerando, a par da sua localização na zonaurbana, que a sua inexpressiva extensão não permitiria a sua destinação para o fim previstopelo legislador constituinte.

Já a 3ª Turma da mesma Corte, na AC 267335/PE[30], interposta em ação de

expropriação fundada no art. 243 da Constituição Federal, sob o fundamento de que estanão se confunde com a desapropriação para fins de reforma agrária, não admitiu discussãoacerca da produtividade do imóvel.

Com efeito, a obtenção, pela União, do imóvel utilizado para cultura ilegal de plantaspsicotrópicas pressupõe apenas o citado cultivo.

Nos termos do art. 15 da Lei nº 8.257/91, o imóvel é incorporado ao patrimônio daUnião após o trânsito em julgado da sentença expropriatória, e se, em cento e vinte dias,não puder ser especificamente destinado ao assentamento de colonos ou para o cultivo deprodutos alimentícios e medicamentosos, ficará incorporada ao patrimônio da União,

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reservado, até que sobrevenham as condições necessárias à mencionada utilização.

O ato de destinação do imóvel compete ao administrador público, após a suaincorporação ao patrimônio da União, pelo que não é uma questão passível de discussãona ação expropriatória.

Nessa linha de raciocínio, a 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, naAPELREEX 4754/PE, rejeitou a arguição da nulidade de sentença declaratória daexpropriação em decorrência da falta de laudo antropológico que indicasse se a área é ounão "tradicionalmente ocupada pelos índios", sob o fundamento de competir aoadministrador público, após a incorporação do bem pela União, averiguar se a fazendaexpropriada integra território indígena, e destiná­la ao uso da comunidade indígena, emconformidade com o art. 15, § 1º, da Lei nº 8.257/91 e o art. 231, § 4º, da ConstituiçãoFederal, não sendo discussão a ser travada na ação expropriatória.

d) Competência da Vara Federal da Seção/Subseção Judiciária em cuja jurisdiçãoestá situado o imóvel expropriando

Em alguns Estados (v.g. Bahia e Ceará), há Vara Federal especializada em matériaagrária que possui competência em todo o Estado.

Todavia, a interiorização da Justiça Federal fez surgir uma dúvida para osoperadores do direito, qual seja, a de se instalação de Vara Federal na Subseção queabranja o imóvel rural expropriando faz com que esta seja a competente para oprocessamento e julgamento da ação de expropriação fundada no art. 243 da ConstituiçãoFederal e na Lei nº 8.257/91.

Ante a natureza real da ação de desapropriação, por aplicação da regra do art. 95 doCPC, a Vara Federal da Subseção Judiciária em cuja jurisdição está situado o imóvel ruralexpropriando, é competente para processar e julgar a ação de desapropriação para fins dereforma agrária, sendo firme a jurisprudência do STJ no sentido de que não se desloca acompetência de Vara Federal de Subseção do interior com a criação de vara especializadana capital

[31].

Por identidade de razões, compete à Vara Federal da Seção/Subseção Judiciáriaonde está situado o imóvel o processamento e julgamento da ação de expropriação fundadano art. 243 da Constituição Federal e na Lei nº 8.257/91.

A 2ª Seção do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no CC 0019854­68.2007.4.01.0000/BA

[32], manifestou entendimento de que, como a referida ação de

expropriação não possui natureza agrária, o seu julgamento compete ao Juízo Federal emcuja jurisdição está situado o imóvel rural expropriando, e não à Vara Agrária situada naCapital e com competência para processar e julgar ações de natureza agrária em todo oterritório da Seção Judiciária a que pertence, pois, diante dessa moldura competencial, aesta caberia apenas o julgamento das ações de desapropriação, por interesse social, parafins de reforma agrária.

e) Prescindibilidade da prova pericial

O Decreto nº 577, de 24 de junho de 1992, regulamenta a Lei nº 8.257/91, dispondosobre a expropriação das glebas onde forem encontradas culturas ilegais de plantaspsicotrópicas.

O seu art. 1º atribui à Polícia Federal promover as diligências necessárias àlocalização de culturas ilegais de plantas psicotrópicas, a fim de que seja promovida aimediata expropriação do imóvel em que forem localizadas e que será especialmentedestinado ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e

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medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário, ao possuidor ou ocupante aqualquer título.

Ademais, o parágrafo único do seu art. 4º prescreve que o relatório técnico elaboradopela Polícia Federal conterá a caracterização do imóvel onde foi localizada a cultura ilegalde plantas psicotrópicas, mediante indicação, pelo menos, da denominação e dasconfrontações e das vias de acesso; descrição da área onde localizada a cultura;comprovação da existência de cultivo ilegal; indicação e qualificação do proprietário ou dopossuidor do imóvel, bem como as de todos os seus ocupantes e de outras pessoas nelepresentes no momento da lavratura do auto de apreensão; relação de bens móveisencontrados na área e apreendidos.

A par disso, é cediço que, para a comprovação da natureza psicotrópica da espéciecultivada, é necessária a elaboração de laudo de exame da substância vegetal.

A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no julgamento daAPELREEX11166/PE

[33], negou o provimento expropriatório, sob os fundamentos de

ausência do laudo de exame da substância vegetal que provasse a natureza psicotrópica daespécie cultivada e de divergência entra a localização do cultivo apontada pela perícia e acertidão do registro no cartório de imóveis.

Todavia, malgrado o art. 7º, § 1º, da Lei nº 8.257/91, preceitue que, ao ordenar acitação, o juiz nomeará perito, a jurisprudência tem entendido que a realização de períciadecorre da necessidade, no caso concreto, da instrução processual, podendo serdesnecessária à vista de outros elementos probatórios ou, até mesmo, inútil, seconsiderado o transcurso de longo período de tempo entre o fato criminoso e a realizaçãoda perícia. É oportuna a colação das seguintes ementas:

(...) 5. O fato de o perito do Juízo afirmar que na área não foramencontrados vestígios do plantio ilícito não induz à improcedência dopedido, tendo em conta que, entre o fato criminoso e a perícia emquestão, transcorreram mais de 12 anos, de modo que não é de seesperar que, após todo esse tempo, ainda houvesse algum vestígio deuma cultura de ciclo curto, como a da maconha. (TRF5 ­ Processo:00005297420114058304, AC565574/PE, Relator: DesembargadorFederal FRANCISCO CAVALCANTI, 1ª Turma, Julgamento:27/03/2014, Publicação: DJE 03/04/2014 ­ Página 196)

(...) 5. Da exegese da Lei nº 8.257/91, extrai­se que a imposiçãode realização de perícia decorre da necessidade, no caso concreto, deinstrução processual, que é prescindível quando, inclusive diante dasprovas que guarnecem os autos desde o início, o réu silencia e não sevislumbrem motivos para a perda ou redução do caráter probante doselementos reunidos ante a sua precisão e segurança. Mutatismutandis, a melhor doutrina, no respeitante à desapropriação porinteresse social para fins de reforma agrária, sublinha que "a provapericial [...] somente será designada para esclarecer os pontosimpugnados do laudo de vistoria administrativa acompanhante dainicial. [...] não ocorrendo impugnação, despicienda será a produçãode prova técnica" (Edílson Nobre). Nada impede, contudo, que,havendo dúvida ou desconfiança, não sendo sólidos os elementosprobatórios já reunidos nos autos, o Magistrado determine ex officio aperícia. (TRF5 ­ Processo: 200683040004493, AC441323/PE, Relator:Desembargador Federal FRANCISCO CAVALCANTI, 1ª Turma,Julgamento: 18/06/2009, Publicação: DJ 14/08/2009 ­ Página 225)

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(...) 3. A perícia realizada há mais de quinze anos da ocorrênciafática (flagrante do art. 12, caput, parágrafo 1º , II da Lei 6.368/76 ) nãoencontrou mais vestígios do plantio ilícito de "cannabis sativa lineu"(maconha) na propriedade em questão, porém, o morador, lá residentedesde a época dos fatos, indicou ao perito o local em que foi cultivadaa plantação de maconha e, ademais, o próprio apelante, em 1994,quando foi preso em flagrante, cuidou de esclarecer aos agentes depolícia onde plantou a substância entorpecente. 4. No auto de prisãoem flagrante, o apelante confessou que havia plantado maconha emsua propriedade, estando esta colhida e enterrada em determinadolocal de sua propriedade, sendo a materialidade do delito comprovada confome sentença criminal, que condenou o apelante a 5 anos dereclusão em regime fechado. 5. Apesar de o laudo não ter constatadovestígios do plantio ilícito de maconha, o acervo probatório carreadoaos autos­ consistente em auto de prisão em flagrante no qual oapelante confessou que plantava maconha, auto de apresentação eapreensão, laudo toxicológido definitivo, depoimentos prestados noprocesso criminal, sentença condenatória­ autorizam o entendimentode que, de fato, na propriedade exproprianda houve plantio desubstância entorpecente nos idos 1994. 6. A alegação do apelante deque o depoimento do inquérito policial não pode ser considerado meiode prova, não o socorre, pois a própria sentença criminal relata que oapelante afirmou em juízo que não sofreu violência por parte daPolícia Federal, muito embora tenha sido ameaçado. (TRF5 ­Processo: 00001701520114058308, AC541584/PE, Relator P/ACÓRDÃO: Desembargador Federal WALTER NUNES DA SILVAJÚNIOR (CONVOCADO), 2ª Turma, Julgamento: 03/07/2012,Publicação: DJE 26/07/2012 ­ Página 320)

g) Obrigatoriedade de citação de ambos os cônjuges

O Decreto­Lei nº 3.365/41 regula as desapropriações por utilidade pública,assim dispondo:

Art. 16. A citação far­se­á por mandado na pessoa do proprietáriodos bens; a do marido dispensa a dá mulher; a de um sócio, ouadministrador, a dos demais, quando o bem pertencer a sociedade; ado administrador da coisa no caso de condomínio, exceto o de edificiode apartamento constituindo cada um propriedade autonôma, a dosdemais condôminos e a do inventariante, e, se não houver, a docônjuge, herdeiro, ou legatário, detentor da herança, a dos demaisinteressados, quando o bem pertencer a espólio.

A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no julgamento da AC36819/PE

[34], afastou a aplicabilidade do art. 16 do Decreto­Lei nº 3.365/41 à ação de

expropriação fundada no art. 243 da Constituição Federal e na Lei nº 8.257/91, sob osseguintes fundamentos: (i) esta ação, por envolver o direito de propriedade, possui naturezareal imobiliária, pelo que se impõe a citação de ambos os cônjuges, sob pena de nulidade,conforme art. 10, § 1º, I, do CPC; (ii) o art. 23 da Lei nº 8.257/91 manda aplicarsubsidiariamente as normas do CPC, sendo, pois, inaplicável o art. 16 do Decreto­Lei nº3.365/41.

h) Órgão competente para tomar ciência de eventual condenação com base naLei nº 11.343/2006

A Lei nº 11.343/2006 estabelece normas para repressão à produção não

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autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, estabelecendo, no § 4º do seu art. 32, que asglebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no art.243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.

À vista disso, já ocorreu de a sentença penal condenatória daquele que semeia,cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ouregulamentar, de plantas que se constituam em matéria­prima para a preparação de drogas,ordenar a remessa de cópia dos autos da ação penal ao INCRA, como se este fossecompetente para a propositura da ação de expropriação fundada no art. 243 da ConstituiçãoFederal e na Lei nº 8.257/91.

Ocorre que, como a legitimidade ativa pertence à União, o órgão destinatário decópia de eventuais processos criminais deve ser a Procuradoria ou Procuradoria­Seccionalda União territorialmente competente.

A Portaria Conjunta nº 56, de 4 de novembro de 2005 (DOU de 9/11/2005), doAdvogado­Geral da União e do Presidente do INCRA, preceitua:

Art. 1º O titular da Procuradoria ou Procuradoria­Seccional daUnião responsável pelo processo judicial referente às açõesexpropriatórias ajuizadas com fundamento no art. 243 da ConstituiçãoFederal e na Lei nº 8.257, de 26 de novembro de 1991, deverácomunicar, no prazo de dez dias, o ajuizamento da ação ao respectivoProcurador­Regional da Procuradoria Federal Especializada doInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ­ INCRA.

Parágrafo Único. Deverão constar na comunicação de que trata ocaput, os seguintes dados, identificadores do imóvel:

a) denominação do imóvel e nome do proprietário;

b) município de localização do imóvel;

c) área do imóvel em hectares;

d) o número de matrícula ou transcrição do imóvel;

e) o número da inscrição do imóvel no cadastro rural, conformeconstante dos seus documentos de transmissão ou de registroimobiliário; e

f) o número do processo judicial da ação expropriatória e a varafederal a que distribuído.

Art. 2º O Procurador­Regional da Procuradoria FederalEspecializada do INCRA consultará o respectivo SuperintendenteRegional do INCRA para que se manifeste acerca do interesse daautarquia no aproveitamento do imóvel objeto da ação judicial, visandoa sua utilização para assentamento com fins de reforma agrária.

Art. 3º O Superintendente Regional do INCRA, no prazo máximode trinta dias, prorrogável por igual período, adotará as providênciastécnicas e administrativas de aferição da viabilidade do imóvel paradestinação com fins de assentamentos para reforma agrária, nostermos do art. 17 da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993.

§ 1º A manifestação do INCRA será sempre precedida de vistoriae produção de laudo com Anotação de Responsabilidade Técnica ­ART e será encaminhada à Procuradoria da União responsável por

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intermédio do Procurador Regional da autarquia.

§ 2º O técnico designado para a vistoria de aferição poderá,havendo anuência expressa do Superintendente Regional do INCRA,ser indicado em juízo como assistente técnico da União, para os finsde perícia ou avaliação do imóvel.

Art. 4º Havendo o interesse do INCRA na área objeto da ação deexpropriação o titular da Procuradoria da União responsável peloprocesso judicial, tão­logo ocorra a imissão da União na posse,comunicará ao INCRA para que adote as medidas administrativascabíveis.

Art. 5º Após o trânsito em julgado de decisão judicial queadjudique à União o imóvel, incumbirá ao titular da Procuradoria daUnião responsável pelo processo judicial:

a) encaminhar os documentos pertinentes à delegacia local doSPU, para os fins de direito, incluindo registro da área em nome daUnião ou do INCRA, conforme o caso; e

b) sendo o caso, expedir nova comunicação ao Procurador­Regional da Procuradoria Federal Especializada do INCRA, noticiandoo trânsito em julgado, para que adote as medidas administrativascabíveis.

Logo, a remessa de cópia do processo criminal ao INCRA implica em que aAutarquia Agrária cientifique o competente órgão de representação judicial da União, paraque este venha a propor a ação expropriatória.

III ­ CONCLUSÃO

Ante o exposto, conclui­se que a observância dos aspectos abordados ao longo dopresente trabalho contribui para a razoável duração do processo de expropriação fundadano art. 243 da Constituição Federal e na Lei nº 8.257/91.

REFERÊNCIAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio deJaneiro: Lumen Juris, 2011.

DUARTE, Adão de Assunção. A expropriação em razão do plantio depsicotrópicos. São Paulo: Scortecci, 2010.

FEFERBAUM, Marina; QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo ______ (Coords.). Metodologiajurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva.

MOLINARO, Carlos Alberto. Comentário ao artigo 243. In: CANOTILHO, J.J. Gomes;MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; ______ (Coords.). Comentários à Constituiçãodo Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 5125­5129.

Notas:

[1] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. RE n. 543.974. Relator: Ministro

Eros Grau. Publicado no DJe em 29 de maio de 2009.[2] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. 3ª Turma. AC 0003716­

21.2002.4.01.4100 / RO, Rel. Desembargador Federal CARLOS OLAVO, e­DJF1 p.37 de

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18/03/2011[3] MOLINARO, Carlos Alberto. Comentário ao artigo 243. In: CANOTILHO, J.J. Gomes;

MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; ______ (Coords.). Comentários à Constituiçãodo Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 5129.

[4] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 9905421831, AC

181603/PE, Relator: Desembargador Federal CASTRO MEIRA, 1ª Turma, Julgamento:14/12/2000, Publicação: DJ 06/04/2001 ­ Página 276

[5] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 9905316663, AC

16674/PE, Relator: Desembargador Federal UBALDO ATAÍDE CAVALCANTE, 1ª Turma,Julgamento: 13/04/2000, Publicação: DJ 30/06/2000 ­ Página 723

[6] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 9805020541, AC

130043/PE, Relator: Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA, 1ª Turma,Julgamento: 05/03/1998, Publicação: DJ 13/03/1998 ­ Página 260

[7] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 9905534431, AC

189757/PE, Relator: Desembargador Federal PETRUCIO FERREIRA, 2ª Turma,Julgamento: 05/03/2002, Publicação: DJ 05/11/2002 ­ Página 617

[8] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200105000386619, AC

267335/PE, Relator: Desembargador Federal HÉLIO SÍLVIO OUREM CAMPOS(CONVOCADO), 3ª Turma, Julgamento: 14/08/2003, Publicação: DJ 02/12/2003 ­ Página870

[9] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200683040004523, AC

445779/PE, Relator: Desembargador Federal LAZARO GUIMARÃES, 4ª Turma,Julgamento: 13/10/2009, Publicação: DJE 26/10/2009 ­ Página 411

[10] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. AC 0003716­21.2002.4.01.4100 /

RO, Rel. Desembargador Federal CARLOS OLAVO, 3ª Turma, e­DJF1 p.37 de 18/03/2011[11] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Tribunal Pleno. Processo:

200305000318891, AR 4842/PE, Relator: Desembargador Federal PAULO ROBERTO DEOLIVEIRA LIMA, Julgamento: 21/09/2005, Publicação: DJ 28/10/2005 ­ Página 752

[12] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200882010020399, AC

531235/PB, Relator: Desembargador Federal MANOEL ERHARDT, 1ª Turma, Julgamento:29/03/2012, Publicação: DJE 03/04/2012 ­ Página 168

[13] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200905000140680,

APELREEX 4754/PE, Relator: Desembargador Federal FERNANDO BRAGA, 2ª Turma,Julgamento: 11/03/2014, Publicação: DJE 13/03/2014 ­ Página 144

[14] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200683000095578, AC

431724/PE, Relator: Desembargador Federal PAULO GADELHA, 2ª Turma, Julgamento:08/05/2012, Publicação: DJE 31/05/2012 ­ Página 317

[15] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo:

00001493920114058308, AC 545995/PE, Relator: Desembargador Federal MARCELONAVARRO, 3ª Turma, Julgamento: 08/08/2013, Publicação: DJE 13/08/2013 ­ Página 143

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[16] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo:

00001372220114058309, AC 543194/PE, Relator: Desembargador Federal ÉLIOWANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (CONVOCADO), 3ª Turma, Julgamento: 26/07/2012,Publicação: DJE 02/08/2012 ­ Página 503

[17] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200683040004420,

APELREEX 11166/PE, Relator: Desembargador Federal LUIZ ALBERTO GURGEL DEFARIA, 3ª Turma, Julgamento: 22/09/2011, Publicação: DJE 03/10/2011 ­ Página 125

[18] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 9905272585, AC

174005/PB, Relator: Desembargador Federal GERALDO APOLIANO, 3ª Turma,Julgamento: 20/05/2010, Publicação: DJE 15/06/2010 ­ Página 143

[19] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200183080006843, AC

445459/PE, Relator: Desembargador Federal LAZARO GUIMARÃES, 4ª Turma,Julgamento: 22/09/2009, Publicação: DJE 26/10/2009 ­ Página 410

[20] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 200683080012488, AC

442212/PE, Relatora: Desembargadora Federal MARGARIDA CANTARELLI, 4ª Turma,Julgamento: 02/12/2008, Publicação: DJ 16/01/2009 ­ Página 297

[21] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 1ª Turma. REsp 498.742/PE, Rel. Ministro

JOSÉ DELGADO, julgado em 16/09/2003, DJ 24/11/2003, p. 222[22] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. REsp 478.474/PE, Rel. Ministra

ELIANA CALMON, julgado em 15/06/2004, DJ 23/08/2004, p. 181[23] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. REsp 845.422/BA, Rel. Ministro

HUMBERTO MARTINS, julgado em 27/02/2007, DJ 09/03/2007, p. 300[24] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. AgRg no REsp 1074122/BA, Rel.

Ministro CASTRO MEIRA, julgado em 28/04/2009, DJe 13/05/2009[25] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. AgRg no Ag 1170482/MG, Rel.

Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, julgado em 27/10/2009, DJe 11/11/2009[26] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. AgRg no REsp 661.498/PE, Rel.

Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, julgado em 09/02/2010, DJe 26/02/2010[27] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. AgRg no Ag 1255806/BA, Rel.

Ministra ELIANA CALMON, julgado em 06/04/2010, DJe 14/04/2010[28] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 635336 RG, Relator(a): Min. PRESIDENTE,

julgado em 26/05/2011, DJe­167 DIVULG 30­08­2011 PUBLIC 31­08­2011 EMENT VOL­02577­01 PP­00148 RT v. 100, n. 913, 2011, p. 496­500

[29] op. cit.

[30] op. cit.

[31] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma, REsp 1027214/CE, Rel. Ministro

CASTRO MEIRA, julgado em 12/08/2008, DJe 02/09/2008

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[32] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. 2ª Seção, CC 0019854­

68.2007.4.01.0000 / BA, Rel. Desembargador Federal TOURINHO NETO, DJ p.07 de13/07/2007

[33] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. 3ª Turma. Processo:

200683040004420, APELREEX 11166/PE, Relator: Desembargador Federal LUIZALBERTO GURGEL DE FARIA, Julgamento: 22/09/2011, Publicação: DJE 03/10/2011 ­Página 125.

[34] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Processo: 9305386890, AC

36819/PE, Relator: Desembargador Federal RIDALVO COSTA, 3ª Turma, Julgamento:18/08/1994, Publicação: DJ 02/09/1994

Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado emperiódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: OLIVEIRA, Iuri Cardoso de. Tratamento jurisprudencial daexpropriação confiscatória de terras utilizadas para cultura ilegal de plantas psicotrópicas. Conteúdo Jurídico, Brasília­DF:12 jul. 2014. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.49000>. Acesso em: 27 dez. 2015.