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TRATAMENTO
TPICO da
ACNE
Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar-CHP
Universidade do Porto
Maria Rita Fernandes Massa
Aluna do 6Ano Profissionalizante
Mestrado Integrado em Medicina
ritamassa@gmail.c om
RESUMO
A acne uma das patologias mais frequentes da adolescncia.
sabido o quanto os jovens sofrem pelas indesejveis borbulhas que os
atormentam nesta fase da vida.
Assim, decidi fazer uma reviso bibliogrfica sobre este tema, pela sua importncia
e impacto fsico, psquico e social, constituindo uma temtica no s do mbito da
Dermatologia mas transversal a muitas outras reas.
Como o tema o tratamento tpico da acne, pareceu-me lgico fazer uma
abordagem que contemplasse a epidemiologia, a patognese e uma classificao
baseada na clnica da acne e suas variantes.
No tratamento tpico, revi os principais intervenientes no orais, desenvolvendo com
mais pormenor os medicamentos que vi referenciados mais frequentemente e mais
actuais.
O tratamento da acne procura controlar os diferentes factores que constituem a sua
patogenia.Os quatro objectivos fundamentais so a base das diferentes teraputicas
utilizadas: controlar a hiperqueratose de reteno, diminuir a produo de sebo,
reduzir a populao bacteriana e eliminar a inflamao.
Estas orientaes permitem, de um modo geral, controlar todo o tipo de acne, evitar
as recadas, minimizar o sofrimento dos doentes e prevenir as sequelas da doena.
O no tratamento da acne condiciona um sofrimento prolongado, por vezes de
dcadas e ainda cicatrizes que podem perdurar toda a vida.
Os tpicos mais frequentemente prescritos so os retinides tpicos, o perxido de
benzolo, os cidos azelaico e saliclico, noite, para controle das fases comednica
e menos vezes na inflamatria, mas sempre nas fases de manuteno. Do mesmo
modo, os mltiplos cosmticos existentes no mercado ditos para o tratamentoda
acne devem ser considerados apenas como coadjuvantes e serem utilizados para
controlar os efeitos adversos das teraputicas tpicas e/ou sistmicas prescritas.
Palavras-chave: acne, patognese, epidemiologia, retinides tpicos, antibiticos
tpicos, perxido de benzolo, lasers e luzes, cosmticos.
INTRODUO
As primeiras referncias sobre a acne encontraram-se no Papiro de Ebers, escrito
no Egipto, 1500 anos antes de Cristo. H cerca de 2500 anos, Aristteles e
Hipcrates tambm reconheceram a sua existncia. Grante sugeriu que Ionthoi
significava acne e Ionthus o primeiro crescimento da barba, o que permite deduzir
que os antigos mdicos Gregos relacionavam a acne com a puberdade.1
Foi no Sculo VI d.C. que a palavra acne foi usada por Aetius Amidenus, mdico do
Imperador Justiniano. Em 1922, o ingls Howard Carter, descobriu no Vale dos Reis
a tumba do fara Tutankhamon da XVIII dinastia (Imprio Novo 1339 a 1329 a.C.).
Na cara do soberano, encontrou cavidades da acne e na sua tumba, medicamentos
utilizados para tratamento desta doena, o que significa que se trata duma patologia
com uma existncia muito recuada no tempo.2
A acne uma doena que surge predominantemente nos adolescentes, devendo ser
considerada como crnica e no uma doena limitada no tempo. De facto, tem
caractersticas de doena crnica3,4 ou seja, um comeo na maioria dos casos lento
e uma durao prolongada, com um padro de recidivas, com surtos agudos e um
impacto psicolgico e social que afecta grandemente a qualidade de vida dos
indivduos, necessitando de tratamento precoce e agressivo. Comparando-a com a
dermatite atpica, verificam-se marcadas semelhanas, com patologia subjacente
inflamatria em ambas e at manifestaes caractersticas frequentemente
recidivantes. A influncia gentica notria em ambas, pensando-se tambm que
sejam polignicas. Tem uma durao em 80% dos casos limitada 3 dcada no
caso da acne e 2 dcada no caso da dermatite atpica, sendo necessria uma
medicao relativamente continuada nas duas patologias, ainda que com intervalos
sem tratamento. O impacto social e psicolgico, as sequelas e cicatrizes aps a
doena so marcados em ambas).
Com uma adequada teraputica, a maior parte das vezes, consegue-se um ptimo
controlo. Cerca de 60% dos casos da acne so limitados e podem ser tratados com
tratamento agudo, entenda- se sistmico, seguido por teraputica de manuteno
tpica. Nos restantes casos, requer tratamento por um perodo prolongado.
O tratamento de manuteno uma aco efectiva para minimizar o risco de
recidiva, limitando a durao de doena activa e as cicatrizes fsicas e emocionais.
Por essa razo, encoraja-se o tratamento precoce e agressivo da acne5,6 .
Podepersistir na idade adulta em 50% das pessoas, com uma componente
psicolgica negativa que inclui ansiedade, depresso e afastamento social.7,8,9,10 Os
factores associados a doena crnica incluem a produo de andrognios de origem
adrenrgica, muito provavelmente relacionados com o stress e a colonizao pelo
Propionibacterium acnes (P. acnes).
Em trabalho realizado por11 Cunlife WJ, em 625 desempregados com idades entre
os 18 e os 30 anos com acne, em que 357 eram do sexo masculino, comparados
com controles de idade, sexo e sempre que possvel estado social semelhantes,
verificou-se que os doentes com acne tm maior dificuldade em conseguir um
emprego. De facto, a percentagem de pessoas desempregadas com acne era 16,5%
no sexo masculino e 14,3% no feminino, enquanto nos controles, ou seja, nas
pessoas a trabalhar, os valores eram respectivamente 9,2% e 8,7%.O autor de
opinio que o facto de existirem leses da acne traz dificuldades acrescidas para
conseguir um emprego.
Num estudo com um total de 128 doentes com acne, sendo 71,9% do sexo feminino,
27,6% mostraram-se moderadamente preocupados, 56% referiram moderada
alterao de comportamento, 67,1% preocupados e 91,4% muito preocupados com
a sua patologia.11 Bowe Neste estudo, 71% destes nunca tinham utilizado
isotretinona, pelo que se infere no serem casos muito graves.
Num inqurito de Dalgard,12 feito em Oslo, com 3775 doentes, sendo que 56% eram
do sexo feminino, verificou-se que a prevalncia da acne era 13,5%. Os jovens com
doena apresentavam sintomas depressivos mais significativos, uma auto estima
inferior e uma menor satisfao quando se observavam ao espelho.
OBJECTIVOS
Com o presente trabalho, proponho-me fazer uma reviso sistematizada, no que
respeita acne, na sua dimenso epidemiolgica, patofisiolgica, psicolgica e
clnica, abordando a vertente tratamento tpico da acne, recorrendo a diversos
artigos, revistas e guidelines, no sentido de compilar o que h de mais actualizado,
no que concerne a esta temtica.
PATOGNESE DA ACNE
A etiologia da acne multi-factorial, com uma relevante predisposio gentica. Um
dos primeiros passos na acne a formao de microcomedes. Comeam na
parede da poro superior do folculo pilossebceo o infundbulo.
A formao do comedo ocorre quando os cornecitos so lanados normalmente
no lmen do folculo, so retidos e acumulam-se na sada folicular, entupindo-a e
levando desta maneira a uma hiperqueratose. A aumentada aderncia destas
clulas responsvel por este fenmeno, que agravado por uma produo em
maior nmero destas clulas. Quando o comedo se expande, o folculo
pilossebceo regride, havendo uma acumulao de queratincitos e sebo, com
aparecimento dum processo inflamatrio. A existncia das P. acnes com estas
condicionantes, acelera o aparecimento da infeco. Neste processo, h produo
de porfirinas - as coproporfirinas III primrias - que fluorescem de vermelho pela
lmpada de Wood.
Os efeitos hormonais na secreo do sebo so a chave para a produo da acne.
Os andrognios produzidos nos ovrios ou testculos, na supra-renal e localmente
na glndula sebcea, so o factor desencadeante. Com o incio da adrenarca, os
nveis circulantes de didroepiandrosterona sulfato (Dhea-S) comeam a subir, na
medida em que a supra-renal produz maior quantidade desta, servindo de precursor
para a produo de andrognios mais potentes na glndula sebcea. Pouco se sabe
sobre o papel dos estrogneos, mas quando administrados por via sistmica em
dose maior do que a necessria para suprimir a ovulao, diminuem a produo de
sebo.
Embora a relao de agravamento da acne com alimentos no esteja provada, um
artigo recente de 2008, refere que o leite desnatado conduz ao agravamento da
acne, quando ingerido em quantidades considerveis, que os autores relacionam
com constituintes hormonais provavelmente existentes no leite.13
EPIDEMIOLOGIA
A acne uma doena to comum, que podemos dizer que quase universal durante
a adolescncia. A incidncia nos adolescentes varia entre 30% e 66%, com um pico
de incidncia dos 16 aos 19 anos nos rapazes e dos 14 aos 17 nas raparigas, com
uma severidade que aumenta gradualmente e agravamento 3 a 5 anos aps o incio,
valores mais frequentemente citados nos mltiplos trabalhos publicados sobre esta
matria.
Em estudo de prevalncia da acne no Norte de Portugal, por Amado e
colaboradores,14, verificou-se uma prevalncia desta patologia em 82,4% numa
populao estudantil, sendo o sexo masculino mais af