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Ana Rita da Silva Martins Munhoz TRAUMA PANCREÁTICO NUMA PERSPETIVA PEDIÁTRICA Mestrado Integrado em Medicina Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Email: [email protected] Trabalho realizado sob a orientação de: Professora Doutora Maria Francelina de Sousa Cruz Lopes Serviço de Cirurgia Pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Março de 2017

TRAUMA PANCREÁTICO NUMA PERSPETIVA …...O trauma pancreático é relativamente raro em idade pediátrica, ocorrendo em 3% a 12% dos doentes sujeitos a traumatismo abdominal fechado

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Ana Rita da Silva Martins Munhoz

TRAUMA PANCREÁTICO NUMA PERSPETIVA

PEDIÁTRICA

Mestrado Integrado em Medicina

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Email: [email protected]

Trabalho realizado sob a orientação de:

Professora Doutora Maria Francelina de Sousa Cruz Lopes

Serviço de Cirurgia Pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

Março de 2017

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ÍNDICE

Lista de Abreviaturas ................................................................................................................. 4

Resumo ....................................................................................................................................... 5

Abstract ...................................................................................................................................... 7

Introdução ................................................................................................................................... 9

Materiais e Métodos ................................................................................................................. 11

Resultados e Discussão ............................................................................................................ 12

Anatomia e Relações ............................................................................................................ 12

Etiologia / Mecanismo de Trauma ........................................................................................ 15

Diagnóstico ........................................................................................................................... 16

Sintomatologia ...................................................................................................................... 17

Exames Complementares de Diagnóstico ............................................................................ 18

Exames Laboratoriais ........................................................................................................ 18

Exames Imagiológicos ...................................................................................................... 19

Ecografia Abdominal .................................................................................................... 19

Tomografia Computorizada Abdominal ....................................................................... 19

Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica ....................................................... 20

Colangiopancreatografia por Ressonância Magnética .................................................. 21

Classificação ......................................................................................................................... 22

Tratamento ............................................................................................................................ 23

Tratamento Conservador ................................................................................................... 24

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Tratamento Cirúrgico ........................................................................................................ 25

Complicações........................................................................................................................ 27

Conclusão ................................................................................................................................. 29

Agradecimentos ........................................................................................................................ 31

Bibliografia ............................................................................................................................... 32

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LISTA DE ABREVIATURAS

CPRE - Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica

CPRM - Colangiopancreatografia por Ressonância Magnética

ECO - Ecografia

NPT - Nutrição Parentérica

SNG - Sonda Nasogástrica

TC - Tomografia Computorizada

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RESUMO

Introdução: O trauma pancreático em idade pediátrica é relativamente raro, ocorrendo em 3%

a 12% dos doentes com traumatismo abdominal fechado. Nas situações de maior gravidade,

que incluem lesão do canal pancreático, a morbilidade é elevada e há risco de morte. A falta de

consensos relativamente aos métodos de diagnóstico mais eficazes e ao modo de intervenção

mais correto leva frequentemente ao atraso diagnóstico e ao aumento da taxa de complicações.

Estas incluem as fístulas pancreáticas, a pancreatite aguda, a formação de abcessos e o

desenvolvimento de pseudoquistos. A abordagem ao trauma pancreático pode ser conservadora

ou cirúrgica, tendo em conta a estabilidade do doente, o grau e a localização da lesão no

parênquima, a existência de lesão do canal pancreático principal, sendo este o principal fator de

prognóstico, e a presença de lesões associadas dos órgãos adjacentes. A terapêutica

conservadora é a mais aceite em idade pediátrica, mas, em casos selecionados, a estratégia

cirúrgica está indicada.

O presente trabalho tem como principal objetivo abordar o estado da arte no trauma

pancreático em idade pediátrica, incluindo as causas mais comuns de trauma pancreático em

crianças, as suas manifestações e sintomatologia, assim como todo o processo clínico

envolvente, os métodos de diagnóstico mais eficazes e o tratamento adequado.

Métodos: O trabalho foi elaborado com base na revisão da literatura científica contemporânea

sobre o trauma pancreático, utilizando sobretudo a MEDLINE/PubMed.

Resultados/Discussão: Devido à localização retroperitoneal do pâncreas, a sintomatologia é

frustre e inespecífica, dificultando o diagnóstico. Relativamente aos exames laboratoriais está

estabelecido que a amilase sérica deve estar incluída em todos os doentes com história de

trauma abdominal. O seu valor à admissão é pouco sensível e específico, sendo mais importante

a sua evolução ao longo do tempo. A tomografia computorizada abdominal é considerada o

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exame de eleição para deteção de lesão pancreática, mas é pouco sensível na avaliação do ducto

pancreático. Em caso de dúvida de lesão ductal pode recorrer-se à colangiopancreatografia

retrógrada endoscópica. A ecografia abdominal pode ser realizada inicialmente na sala de

emergência, apesar de não ter um papel definido no diagnóstico. É usada ainda no seguimento

destes doentes, sobretudo se desenvolveram complicações durante o internamento. Não existe

um protocolo definido em relação ao tratamento. As lesões de grau I e II são geralmente alvo

de tratamento conservador. Nos casos de lesão ductal a terapêutica é controversa, mas o

tratamento cirúrgico pode ser vantajoso.

Conclusão: A abordagem do trauma pancreático ainda é alvo de debate. Contudo, foi

demonstrado que a tomografia computorizada abdominal é o melhor exame para deteção de

lesão do parênquima e deve ser realizada na admissão no serviço de urgência. Quando existe

dúvida de afeção ductal deve ser realizada a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica,

que pode ser útil para orientação terapêutica. Os níveis da amilase sérica ao longo do tempo

podem ser preditores da evolução da doença e do desenvolvimento de complicações, como os

pseudoquistos. A ecografia abdominal é o exame mais indicado para seguimento destes

doentes. A terapêutica depende de vários fatores, mas deve ser acima de tudo o mais dirigida

possível para o doente em questão.

Palavras-chave: Trauma, Pâncreas, Crianças, Pediátrico.

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ABSTRACT

Introduction: Pancreatic trauma is relatively rare in pediatric patients, occurring in 3% to 12%

of patients with blunt abdominal trauma. Major pancreatic injury, with ductal injury, is

associated with significant morbidity and ocasional mortality. The lack of agreement about the

most effective diagnostic methods and the correct mode of intervention often lead to delayed

diagnosis and an increased complication rate. These include pancreatic fistulas, acute

pancreatitis, abscess formation, and the development of pseudocysts. The management of

pancreatic trauma may be conservative or surgical, and depends on the haemodynamic stability

of the patient, the degree and location of parenchymal injury, the integrity of the main duct, that

is the most importante predictive factor of outcome, and associated injuries to other organs. The

conservative management is well accepted in pediatric patients, however, in selected cases, the

surgical strategy is indicated.

The present work aim to approach the state of the art in pancreatic trauma in pediatric

patients, including the most common causes of pancreatic trauma in children, manifestations

and symptomatology, as well as the whole clinical process, the most effective diagnostic

methods and adequate treatment.

Methods: The study was based on the review of the contemporary scientific literature on

pancreatic trauma, mainly using MEDLINE/PubMed.

Results/Discussion: Due to the retroperitoneal location of the pancreas, the symptomatology

is nonspecific, leading to diagnostic difficulties. For laboratory tests it is established that serum

amylase should be included in all patients with a history of abdominal trauma. The value at

admission is not very sensitive and specific, and the evolution is more important over time.

Abdominal computed tomography is considered the exam of choice for detection of pancreatic

lesion, but it is not very sensitive in the evaluation of the pancreatic duct. In case of doubt of

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ductal lesion, endoscopic retrograde cholangiopancreatography may be performed. Abdominal

ultrasound can be performed initially in the emergency room, although it has no specific role

in diagnosis. It is also used in the follow-up of these patients, especially if they developed

complications during hospitalization. There is no standard protocol in relation to the optimal

treatment. Grade I and II injuries are generally managed by conservative treatment. In case of

ductal injury, the management is controversial, but surgical treatment may be advantageous.

Conclusion: The management of pancreatic trauma is still under debate. However, it has been

demonstrated that abdominal computed tomography is the best exam for detection of

parenchymal lesion and should be performed on admission to the emergency department. When

there is doubt of ductal injury, endoscopic retrograde cholangiopancreatography should be

performed, which may be useful for therapeutic orientation. Serum amylase levels over time

may be predictors of disease progression and development of complications, such as

pseudocysts. Abdominal ultrasound is the most indicated exam for follow-up of these patients.

The management depends on several factors, but it should be above all as directed as possible

for the patient in question.

Keywords: Trauma, Pancreas, Children, Pediatrics.

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INTRODUÇÃO

O trauma pancreático é relativamente raro em idade pediátrica, ocorrendo em 3% a 12%

dos doentes sujeitos a traumatismo abdominal fechado. 1–4 A contusão abdominal é o

mecanismo usual de lesão, mas ocasionalmente pode ser observada lesão penetrante. 5 Não

obstante a mortalidade ser reduzida e estar sobretudo relacionada com o dano associado de

outros órgãos, a morbilidade continua elevada. 6 O principal fator de prognóstico nestes

traumatismos é a lesão do ducto pancreático principal, que ocorre em 0,12 a 0,3% dos casos. 7–

9

O pâncreas é o quarto órgão sólido mais afetado em contexto de trauma abdominal, a

seguir ao baço, fígado e rins. 10,11 A lesão pancreática isolada é mais frequente, mas pode haver

envolvimento de órgãos vizinhos. 12 Devido à sua localização retroperitoneal, a sintomatologia

é frustre e inespecífica, e a sensibilidade dos exames de imagem é menor, dificultando o

diagnóstico precoce. 10

Apesar da evolução dos cuidados pré-hospitalares, dos cuidados intensivos, das técnicas

cirúrgicas e das novas técnicas de imagem disponíveis, o trauma pancreático é ainda hoje

controverso e desafiante, não só a nível do diagnóstico e dos exames a realizar, mas também no

que toca à melhor abordagem terapêutica. 13,14

A chave para otimizar a abordagem e prevenir complicações é o diagnóstico precoce e

o tratamento adequado. 15

Quando ocorrem, as complicações mais comuns são a formação de fístulas, a pancreatite

pós-traumática e o desenvolvimento de pseudoquistos, que normalmente são detetados várias

semanas após a lesão. 10

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O trauma pancreático pode ser abordado de forma conservadora ou cirúrgica.

Atualmente, a abordagem conservadora é bem aceite em lesões minor. No entanto, na presença

de grande dano do parênquima, da cápsula ou do ducto principal há ainda grande controvérsia.

10

Na suspeita de afeção ductal, a abordagem é menos clara, não havendo consenso nem

protocolos definidos. Alguns autores defendem uma abordagem mais conservadora,

independentemente da gravidade da lesão, enquanto outros preferem uma abordagem cirúrgica

mais agressiva, se o diagnóstico for feito precocemente. 2,4,8

Com este trabalho pretende-se apresentar o estado da arte desde o diagnóstico até ao

tratamento do trauma pancreático em idade pediátrica, incluindo todo o processo clínico

envolvente. O principal objetivo é determinar a melhor abordagem de acordo com a revisão da

literatura científica contemporânea.

Os temas focados incluem uma breve referência à anatomia do órgão, etiologias mais

frequentes, mecanismo de lesão, manifestações e sintomatologia, exames complementares de

diagnóstico, tratamento e complicações.

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MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi elaborado com base na revisão da literatura científica sobre traumatismo

pancreático, utilizando a MEDLINE/PubMed. Abrangeu predominantemente publicações entre

2001 e 2016, com idioma em inglês, referentes à população pediátrica.

As palavras-chave usadas foram: ‘Trauma’, ‘Pancreas’, ‘Children’, ‘Pediatrics’.

Utilizou-se o operador Booleano ‘AND’.

Além dos artigos identificados na PubMed foi utilizada informação de livros de

referência nas áreas científicas de Anatomia Clínica e Cirurgia Pediátrica.

A maioria do material bibliográfico utilizado foi disponibilizado pela Biblioteca das

Ciências da Saúde.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

ANATOMIA E RELAÇÕES

O pâncreas é uma glândula anexa do tubo digestivo, representada na Figura 1. Tem

função endócrina (produção de insulina), e exócrina (produção de suco pancreático). É um

órgão retroperitoneal, relativamente fixo, localizado anteriormente à primeira e segunda

vértebras lombares, e posteriormente ao estômago, estendendo-se desde o duodeno até ao hilo

esplénico. Está dividido em várias partes: a cabeça, o istmo, o corpo e a cauda. A cabeça é

horizontal e o restante órgão é oblíquo para cima e para a esquerda. 16

A cabeça do pâncreas está envolvida quase totalmente pelo duodeno, e localiza-se à

direita dos vasos mesentéricos superiores. Tem um prolongamento junto à quarta porção do

duodeno, designado por processo unciforme. A cabeça relaciona-se anteriormente com o

mesocólon e com o cólon transverso, e posteriormente com a veia cava inferior, com o pedículo

renal direito e com o canal colédoco. 17

O istmo do pâncreas une a cabeça ao corpo. Encontra-se entre a primeira porção do

duodeno e os vasos mesentéricos superiores. Estabelece uma relação anterior com a raiz do

mesocólon e com o cólon transverso. Posteriormente ao istmo, a veia mesentérica superior une-

se à veia esplénica para formar a veia porta. 17

O corpo do pâncreas estende-se desde os vasos mesentéricos superiores até ao rim

esquerdo, passando sobre a artéria aorta e a segunda vértebra lombar. Anteriormente tem

relação com a bursa omentalis, com o estômago e com a raiz do mesocólon transverso, e

posteriormente com a veia esplénica, com a artéria aorta e com o pilar esquerdo do diafragma.

A artéria esplénica localiza-se ao longo da sua margem superior. 17

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A cauda do pâncreas é relativamente móvel. Situa-se anteriormente ao rim esquerdo e

está intimamente relacionada com o hilo esplénico. 17

O órgão apresenta duas curvaturas, uma anterior e outra posterior. A curvatura anterior

localiza-se ao nível do corpo do pâncreas e é causada pelo estômago. A curvatura posterior

localiza-se ao nível da cabeça do pâncreas e é provocada pela coluna vertebral. 17

O pâncreas tem ainda dois canais pancreáticos. O canal pancreático principal, que drena

para o duodeno terminando na papila major, e o acessório, que provém da cabeça e termina na

papila minor, ambas localizadas na segunda porção do duodeno. 17

O suprimento arterial é derivado sobretudo dos ramos da artéria esplénica. Esta forma

várias arcadas com os ramos pancreáticos da artéria gastroduodenal e da artéria mesentérica

superior. Os ramos da artéria esplénica suprem o corpo e a cauda do pâncreas. Os ramos das

artérias pancreaticoduodenais, da artéria gastroduodenal e da artéria mesentérica superior

suprem a cabeça. 16,17

A drenagem venosa é feita pelas veias pancreáticas, tributárias da veia esplénica e da

veia mesentérica superior. Por sua vez, estas duas veias unem-se formando a veia porta. 17

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Figura 1: O pâncreas e as suas relações.

Legenda:

P – Pâncreas AE – Artéria esplénica

D – Duodeno AMS - Artéria mesentérica superior

B – Baço VMS - Veia mesentérica superior

Ao – Artéria aorta abdominal CPP – Canal pancreático principal

VCI – Veia cava inferior CPA – Canal pancreático acessório

VP – Veia porta

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ETIOLOGIA / MECANISMO DE TRAUMA

As causas mais comuns de trauma pancreático em crianças são os acidentes de viação,

acidentes de bicicleta, sobretudo pelo impacto do guiador com a região epigástrica, abuso

infantil, lesões desportivas e quedas. 1,10

Tendo em conta a sua localização, o pâncreas é particularmente vulnerável em caso de

trauma. O mecanismo de lesão mais comum envolve a compressão do pâncreas contra a coluna.

Pode ocorrer desde a contusão até à secção completa. 11 A rutura completa por compressão

severa geralmente ocorre ao nível da transição entre a cabeça e o corpo do pâncreas, na linha

da veia mesentérica superior. 18

As crianças mais pequenas, devido ao diafragma e paredes abdominais mais finas, à

menor percentagem de tecido adiposo e margens da grelha costal mais altas, têm lesões

pancreáticas que são menos prováveis nos adultos. 7,10,11

Deve ter-se sempre em conta o mecanismo de trauma, contudo não se pode subestimar

uma lesão aparentemente simples e inocente, pois até mesmo traumatismos de baixa energia

podem causar lesões internas severas, incluindo rutura pancreática. 18 Apesar disso, a maioria

das lesões traumáticas são contusões minor que resolvem espontaneamente. 12

Em caso de trauma abdominal, a lesão pancreática é mais frequentemente isolada. No

entanto, pode haver afeção de outros órgãos ou estruturas que se relacionam com o pâncreas,

nomeadamente o fígado, o baço, os rins e o intestino delgado. 12,13

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DIAGNÓSTICO

A suspeita de lesão pancreática não é muitas vezes evocada na avaliação inicial do

trauma abdominal. O envolvimento do pâncreas é menos comum do que o da maioria dos

restantes órgãos abdominais, de maiores dimensões. 7 A lesão do órgão pode ocorrer após

contusão abdominal aparentemente inócua e a sintomatologia é frequentemente inespecífica e

tardia, levando ao atraso diagnóstico. 5 Este atraso está associado ao aumento da taxa de

complicações, aumentando a morbi-mortalidade, principalmente se existir afeção do ducto

pancreático principal. 7–9 A lesão ductal deve ser excluída o mais precocemente possível, uma

vez que quando não é diagnosticada pode evoluir para estenose fibrótica. A oclusão progressiva

do ducto com dilatação a montante é responsável por dor abdominal e pancreatite recorrente. 19

A investigação de lesão pancreática é um desafio tendo em conta a sua localização. O

diagnóstico é especialmente complicado em casos de lesão isolada, e é necessário um alto nível

de suspeição, perspicácia clínica e imagiologia sugestiva para a identificar precocemente. 20

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SINTOMATOLOGIA

Geralmente o quadro é bastante vago, mas podem ser encontradas várias manifestações

sugestivas como: náusea, vómito, dor abdominal e febre. 2,3,10 Apesar de inespecíficas, estas

manifestações devem aumentar o grau de suspeição, tendo sempre em conta a história clínica e

mecanismo de lesão. Ao exame físico, podem ainda ser encontrados achados como: equimoses

ou abrasões nos quadrantes superiores do abdómen, dor ou desconforto na região das últimas

costelas, taquicardia e hipotensão. 7

Apesar de algumas crianças com lesões intra-abdominais severas apresentarem um

quadro exuberante com necessidade de cirurgia imediata, outras, como suprarreferido, com

lesão pancreática isolada, podem apresentar um atraso de horas ou até mesmo dias até ao

aparecimento dos primeiros sintomas abdominais. 5,10

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EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO

EXAMES LABORATORIAIS

A amilase sérica deve estar incluída na avaliação laboratorial inicial de todos os doentes

com história de trauma abdominal, tendo, contudo, um valor limitado. 10,21,22

Apesar da sensibilidade e especificidade da amilase sérica à admissão serem baixas, foi

demonstrada significância estatística na relação entre medições repetidas e a gravidade da lesão.

5,10,13 Os valores podem estar normais ou ligeiramente alterados nas primeiras 24 horas após o

trauma, sendo a repetição das medições muito importante, principalmente se houver suspeita

clínica e imagiológica de lesão pancreática. Assim, a elevação sérica da amilase ao longo do

tempo é mais importante que o seu valor inicial, à admissão. Se os níveis séricos se mantiverem

elevados ou continuarem a aumentar ao longo do tempo a lesão pancreática é muito provável.

18 No entanto, é importante afirmar que os valores da amilasémia, isoladamente, não são usados

como indicadores de gravidade da lesão ou da necessidade de abordagem cirúrgica. 21

Estudos demonstraram que uma elevação sérica da amilase, superior a 30 dias após a

lesão, poderá estar relacionada com o risco aumentado de desenvolvimento de pseudoquistos.

Uma elevação após um decréscimo inicial também pode indicar a formação destes. 3,23 Neste

contexto, os doentes sujeitos a trauma pancreático devem incluir no seu seguimento a

monitorização dos valores séricos de amilase, especialmente nas primeiras 3 semanas pós-

trauma. 3

A avaliação da lipasémia pode ser útil para excluir aumento da amilase sérica total à

custa da amilase salivar, em casos de trauma associado da cabeça e do pescoço. Neste caso, o

aumento dos níveis séricos da amilase pode estar relacionado com as glândulas salivares. 10

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EXAMES IMAGIOLÓGICOS

ECOGRAFIA ABDOMINAL

A ecografia abdominal (ECO) não tem um papel específico no diagnóstico de lesão

pancreática em contexto agudo. Mas, pode ser usada numa primeira abordagem, na sala de

emergência pediátrica, tendo a vantagem de fornecer informações sobre a existência de líquido

livre intra-abdominal ou a coexistência de lesões associadas. 3

Está bem estabelecido, no entanto, o seu papel no seguimento destes doentes. É um

exame inócuo, de baixo custo e de fácil acesso, sendo assim o exame ideal para monitorização

de complicações pós-traumáticas. Deve ser usada em crianças que desenvolveram

complicações durante o internamento, nomeadamente pseudoquistos ou coleções

peripancreáticas, para controlo das dimensões e localização destas. 5

TOMOGRAFIA COMPUTORIZADA ABDOMINAL

A tomografia computorizada abdominal (TC) é considerada o exame standard para

diagnóstico de lesão pancreática. 11 Continua a ser o método de imagem mais eficaz e acessível

para deteção de lesão do parênquima. 5

Estão descritas sensibilidade e especificidade de 70% a 80%, mas que dependem do

tempo de evolução da lesão. 7,12 Nas primeiras 24 horas, tanto a contusão pancreática como a

laceração podem passar despercebidas, devido à escassez de camada adiposa retroperitoneal

nas crianças e à ausência de edema reativo. 3,5

Embora seja o exame de eleição para avaliação do parênquima pancreático, é pouco

sensível no diagnóstico de lesão do ducto pancreático. Quando ocorre lesão deste último, e é

detetada por TC, os achados mais comuns são: líquido livre na cavidade abdominal, fluido no

fundo de saco de Douglas, e derrame pleural. 12 O diagnóstico de lesão ductal pode ser sugerido

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ainda por vários outros fatores, como laceração da glândula superior a 50%, secção completa

do pâncreas e a presença de derrame peripancreático logo após o traumatismo. 5,24

Posto isto, a TC abdominal à admissão continua a ser uma ferramenta de diagnóstico

muito importante, se for detetada lesão pancreática, pois indica a sua localização e raramente a

classifica com uma severidade superior à real. Contudo, não deve ser usada como exame de

exclusão. 2,10

Um exame normal à admissão não significa que não existe lesão. Muitos doentes

apresentam uma TC abdominal normal à admissão, e posteriormente é identificada lesão

pancreática em TC de controlo ou laparotomia. Assim, quando se suspeita de trauma

pancreático é fundamental continuar o estudo, repetindo a TC, realizando CPRE para estudo

mais pormenorizado do ducto ou avançando para a cirurgia exploradora. 10

COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA

A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é considerada o gold

standard no diagnóstico de lesão ductal. Contudo, tem as suas limitações em idade pediátrica,

não sendo consensual a sua realização na abordagem do trauma pancreático. 3,25 Apesar de

controverso como meio de diagnóstico, o uso da CPRE é geralmente seguro em crianças, e

alguns autores defendem que este exame seja usado como rotina em caso de dúvida de lesão

ductal na TC abdominal. Em alguns centros especializados já é usada rotineiramente para

orientar as decisões terapêuticas, evitar laparotomias exploradoras e para minimizar resseções

pancreáticas desnecessárias. 6,10,11,19,26,27 Por outro lado, há autores que alegam que a CPRE tem

uma vantagem reduzida, tendo em conta a taxa de complicações relativamente elevada (6%).

11,28 As principais complicações incluem a pancreatite pós-CPRE e a infeção e perfuração

canalicular iatrogénica, incluindo o possível agravamento da lesão ductal inicial, em que a

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manipulação diagnóstica pode levar a rutura completa do ducto. 25 A realização da CPRE está

também relacionada com o aumento da taxa de formação de pseudoquistos. 1

Uma das suas limitações é a dificuldade técnica em ultrapassar a ampola de Vater, que

tem dimensões muito reduzidas em crianças mais pequenas. 5 Deve ter-se sempre em conta que

é uma técnica invasiva e com riscos. Além do mais, é um procedimento realizado sob anestesia

geral e requer técnica endoscópica complexa, não estando disponível em todos os hospitais. 7

Para além da função diagnóstica, é uma ferramenta terapêutica importante, sendo

possível a colocação de stents em doentes com lesão ductal proximal, devendo ser considerada

nesses casos. 19,29

COLANGIOPANCREATOGRAFIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

O uso da colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) ainda não está

bem documentado no trauma pancreático pediátrico. Estudos realizados comparando o uso da

CPRM com a CPRE concluíram que existe uma excelente correlação na predição de lesão

ductal, tendo a CPRE vantagem em relação à possibilidade de terapêutica imediata. 5

Assim, em casos selecionados, pode ser vantajoso o seu uso como meio de investigação

não invasiva para orientação da terapêutica. 3

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CLASSIFICAÇÃO

A classificação do trauma pancreático é feita pela AAST (The American Association

for the Surgery of Trauma). Está organizada em 5 graus e é determinada pelo envolvimento do

ducto principal e pela localização anatómica da lesão (Tabela 1). O envolvimento ductal está

presente nos graus de III-V. 30

Tabela 1: Classificação da lesão pancreática de acordo com a ASTT (The American Association for the Surgery

of Trauma). 30

GRAU TIPO DE LESÃO DESCRIÇÃO DA LESÃO

I Hematoma Contusão minor, sem lesão ductal

Laceração Laceração superficial, sem lesão ductal

II Hematoma Contusão major, sem lesão ductal ou perda de tecido

Laceração Laceração major, sem lesão ductal ou perda de tecido

III Laceração Secção distal ou lesão do parênquima com lesão ductal

IV

Laceração Secção proximal ou lesão do parênquima com envolvimento

da ampola

V Laceração Rutura completa da cabeça do pâncreas

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23

TRATAMENTO

O pâncreas localiza-se numa área de difícil exposição cirúrgica, e representa um desafio

para o cirurgião quando apresenta lesões severas. 14

A terapêutica no trauma pancreático varia desde a simples drenagem até procedimentos

de grande complexidade. Esta depende de vários fatores, nomeadamente da estabilidade

hemodinâmica do doente, do grau e da localização da lesão no parênquima, da presença de

lesões associadas dos órgãos adjacentes e da existência de lesão do canal pancreático principal.

19,23,31

A abordagem do trauma pancreático ainda permanece controversa, sobretudo quando

há envolvimento ductal. Estes devem ser tratados individualmente sendo a terapêutica o mais

dirigida possível. 32–34

Atualmente o tratamento preferido para a lesão traumática de órgãos sólidos é o

conservador. A abordagem do traumatismo pancreático é mais discutível, sendo necessário

intervir cirurgicamente com mais frequência. O tratamento conservador tem geralmente, nestes

casos, uma taxa de insucesso mais elevada, em comparação com outros órgãos sólidos

abdominais. 4,6,35,36

Como o reconhecimento da lesão pancreática é muitas vezes tardio, a melhor abordagem

é questionável. Se não houver evidência de lesão ductal na TC abdominal, é adotado o

tratamento conservador. Quando há elevação persistente dos níveis de amilase sérica ou

alterações no exame físico deve repetir-se a TC abdominal, seguida de CPRE, que por vezes

leva a uma mudança no plano de abordagem terapêutica. 19

Apesar de existirem alguns estudos acerca do tema, ainda não há um protocolo definido

para a abordagem do trauma pancreático, em parte devido ao reduzido número de casos para

análise. 19,35

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24

TRATAMENTO CONSERVADOR

Como referido acima, o tratamento depende do grau da lesão e das suas características.

As lesões de grau I e II (ausência de lesão ductal) normalmente são alvo de terapêutica médica,

sendo esta bem aceite e tida como primeira escolha. Geralmente a resolução da lesão ocorre

após 4 a 10 dias de tratamento conservador. 5–7,37

A abordagem conservadora tem sido apresentada como segura em relação ao trauma

pancreático, sem envolvimento ductal, em idade pediátrica. 11,27 Contudo, o tratamento de

lesões mais complexas, com afeção capsular, ductal ou parenquimatosa permanece controversa.

10

A partir do momento em que a lesão está documentada e bem caracterizada, e se opta

pelo tratamento conservador, a abordagem consiste na colocação de sonda nasogástrica (SNG),

para descompressão gástrica e evitar possível aspiração em caso de vómito; nutrição parentérica

(NPT), para repouso intestinal e pancreático; monitorização clínica, e monitorização ecográfica

e dos níveis da amilase sérica para antecipar complicações. 10,11

A NPT é usada em praticamente todos os doentes submetidos a tratamento conservador.

Pode ser interrompida quando houver tolerância alimentar ou diminuição da dor abdominal e

dos níveis séricos da amilase. 11

O octreotido é também frequentemente usado na abordagem conservadora, se houver

suspeita de fístula pancreática. O seu uso resulta numa diminuição do fluxo sanguíneo

esplâncnico, reduzindo a produção das secreções pancreáticas, como a amilase, tripsina e lipase,

proporcionando a uma recuperação mais eficaz. 11

Apesar de seguro, o tratamento conservador, está associado ao aumento da incidência

de complicações, incluindo os pseudoquistos e as fístulas, principalmente se lesão ductal. Os

doentes que desenvolveram complicações apresentaram aumento da permanência hospitalar,

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25

incluindo em unidade de cuidados intensivos, e prolongamento da necessidade de NPT, mas

sem afetar a taxa de readmissão hospitalar. 11,14,20,27

Atualmente, defende-se a abordagem endoscópica associada à conservadora no trauma

pancreático pediátrico. A evolução das técnicas endoscópicas torna-as cada vez mais populares

em crianças com história de trauma, sendo a CPRE cada vez mais usada. 38 Contrariamente ao

tratamento cirúrgico, não há restrição de tempo com esta abordagem, podendo ser realizada em

qualquer altura. 5

Posto isto, o tratamento conservador é o preferido em lesões de menor grau. Contudo,

mesmo em caso de lesão ductal é possível recorrer a esta abordagem, complementada por meios

endoscópicos, com bons resultados. 7

TRATAMENTO CIRÚRGICO

A abordagem cirúrgica tem sido muito discutida na literatura em casos de lesão

pancreática com afeção ductal (grau III, IV e V). Apesar do tratamento cirúrgico em lesões de

grau III-V estar bem estabelecido nos adultos, nas crianças ainda não está definido. Este tipo

de lesão é preditor de falência da terapêutica conservadora, sendo por vezes necessária uma

abordagem mais agressiva nestes doentes. 2,5,8,10,13

Vários estudos sugerem que a abordagem cirúrgica poderá ser vantajosa, se realizada

precocemente (<24 horas) em doentes com lesão ductal, sobretudo por pancreatectomia distal

com preservação esplénica. Defendem ainda que esta abordagem diminui a taxa de

complicações. 4,11,39–42 Após um período de tempo significativo (>48 horas) após a lesão

pancreática, é cada vez mais difícil realizar uma pancreatectomia com preservação do baço.

Como a preservação esplénica é de extrema importância nas crianças, o baço deve ser poupado

sempre que possível. Quando isto não é possível, deve optar-se por uma abordagem mais

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conservadora. 18 Os autores que defendem a abordagem cirúrgica descrevem uma diminuição

do tempo de permanência hospitalar e menor período de tempo a que os doentes estão sujeitos

a NPT. Referem também como outras vantagens uma diminuição da morbilidade e da taxa de

complicações, e menos intervenções necessárias durante a evolução do quadro. 1,20,43

As indicações inequívocas para o tratamento cirúrgico imediato incluem: choque,

hipotensão refratária ao tratamento médico, lesões associadas de outros órgãos e lesão

diafragmática. 2,4,38,40

No entanto, o tratamento cirúrgico tem riscos, como a formação de fístulas pancreáticas,

obstrução intestinal pós-operatória e a necessidade de esplenectomia por complicação cirúrgica.

5,11,19 Outras complicações descritas incluem o risco de pancreatite crónica e a formação de

abcesso retroperitoneal. 44

Outra questão colocada no contexto de resseção pancreática é a falta de estudos a longo

prazo acerca do possível desenvolvimento de insuficiência endócrina e exócrina, como

consequência da cirurgia, visto que uma resseção significativa do pâncreas pode levar a uma

insuficiência à posteriori. 33 Por outro lado, também foram reportados casos de doentes (grau

III) tratados não cirurgicamente, que desenvolveram atrofia pancreática com consequente

insuficiência anos depois. 12 Por estas razões, os doentes devem ter sempre um seguimento

prolongado após a alta, principalmente se tiverem surgido complicações durante o

internamento. 33

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COMPLICAÇÕES

O atraso do diagnóstico no trauma pancreático está relacionado com o aumento da taxa

de complicações. A maioria destas é tratável ou autolimitada, mas podem ser evitadas pela

deteção precoce da lesão do ducto pancreático e pelo tratamento adequado. 11,14,18,19,23,45

As complicações do trauma pancreático podem ser consideradas como precoces ou

tardias. As complicações precoces mais comuns incluem: a formação de fístulas pancreáticas,

o desenvolvimento de abcessos e a pancreatite pós-traumática. As mais tardias são: a pancreatite

crónica, o desenvolvimento de aneurismas da artéria esplénica e a formação de pseudoquistos

pancreáticos, que normalmente se apresentam algumas semanas após a lesão. 10,45

A complicação mais frequente que advém da lesão traumática do pâncreas é a formação

de pseudoquistos. Estes estão relacionados com a presença de lesão ductal e estão presentes

sobretudo quando se opta pela abordagem conservadora. 46 Até às primeiras 4 semanas pós-

lesão são classificados como coleções peripancreáticas agudas. Estas resolvem

espontaneamente em 50 a 60% dos casos, dentro de 6 semanas. Quando se tornam persistentes

dão origem a pseudoquistos, que podem ser sintomáticos, requerendo por vezes uma

intervenção mais invasiva. 2,6,8 Estes podem ainda estar associados ao desenvolvimento de

complicações secundárias, como infeção do pseudoquisto, obstrução intestinal, hemorragia e

rutura espontânea. 5

Quanto mais tempo persistir o pseudoquisto, menor é a probabilidade de reabsorção

espontânea. 3 Segundo estudos realizados acerca do tema, aproximadamente metade dos

pseudoquistos têm que ser drenados, sendo metade desses drenados percutaneamente. 2,6 Há

várias opções de tratamento possíveis: a drenagem percutânea, a drenagem endoscópica e a

drenagem cirúrgica. 5 O tratamento invasivo de um pseudoquisto pode incluir a drenagem eco-

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guiada, a drenagem interna por cistogastrostomia, a excisão do pseudoquisto ou Y de Roux com

cistojejunostomia. 3,47

As mortes são raras, mas quando ocorrem, as mais precoces estão relacionadas com

lesões vasculares e de outros órgãos, e as tardias com o desenvolvimento de sépsis e SIRS

(Síndrome de resposta inflamatória sistémica). 14,23

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29

CONCLUSÃO

O diagnóstico rápido e eficaz e a escolha do tratamento adequado a cada caso são

essenciais para evitar complicações.

Em relação aos exames complementares de diagnóstico, a realizar em caso de trauma

pancreático, não existe um protocolo definido. Os exames mais usados atualmente não são

suficientemente sensíveis em fase aguda, sobretudo para deteção de lesão ductal.

A amilasémia, apesar de pouco específica, deve ser avaliada em todos os doentes com

história de trauma abdominal. Pode ser útil para prever a evolução do quadro através de

medições repetidas.

A TC abdominal é o exame imagiológico de eleição para deteção de trauma pancreático,

sendo eficaz na deteção de lesão do parênquima, mas pouco sensível no diagnóstico de lesão

ductal. Deve ser repetida em caso de dúvida, pois a lesão pode passar inicialmente despercebida,

sendo mais fiável após 24 horas.

O estudo do ducto pancreático pode ser complementado pela realização da CPRE, que

devido à evolução da terapêutica endoscópica é cada vez mais utilizada. A sua realização

precoce é essencial para avaliação do ducto, e deve ser realizada quando que se suspeita de

afeção ductal, considerando sempre os riscos subjacentes.

A ECO abdominal é o exame escolhido para o seguimento dos doentes, sobretudo se

tiverem desenvolvido complicações durante o internamento.

Talvez com os avanços nesta área, com uma TC espiral, com contraste e com cortes

mais finos, juntamente com novos estudos e mais experiência na CPRE e na CPRM em

crianças, o diagnóstico de trauma pancreático possa ser feito mais precocemente e mais

eficazmente no futuro.

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Em relação ao tratamento, o trauma pancreático pode ser abordado médica ou

cirurgicamente. Este depende da estabilidade hemodinâmica do doente, do grau e da localização

da lesão no parênquima, da presença de lesões associadas dos órgãos adjacentes e da existência

de lesão do canal pancreático principal.

Como já foi referido, a severidade do trauma pancreático é classificada pela AAST em

5 graus. A abordagem dos graus I e II é menos controversa; o tratamento conservador é bem

aceite e tem uma elevada taxa de sucesso. Mas, quando há suspeita de lesão ductal, ou seja, a

partir do grau III, a abordagem não é tão clara, não havendo consenso entre os autores.

As lesões de grau III-V são preditores da falência da terapêutica conservadora. Estudos

sugerem que existe vantagem numa abordagem cirúrgica precoce nestes doentes, com menor

taxa de complicações associada. Quando o diagnóstico é feito tardiamente pode haver vantagem

na abordagem conservadora, complementada com terapêutica endoscópica, apesar de estar

relacionada com uma maior incidência de complicações, sobretudo pseudoquistos.

Concluindo, o trauma pancreático pode ser abordado de várias formas. Esta vai

depender de vários fatores, como o grau da lesão, o tempo de evolução, a existência de lesões

associadas, e a experiência dos médicos assistentes. Acima de tudo, é necessário ter em

consideração o doente e seguir uma abordagem o mais dirigida possível, de maneira

individualizada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus, sobretudo aos meus pais, por tudo.

Agradeço à Professora Doutora Maria Francelina Lopes pela disponibilidade e atenção.

Agradeço à Doutora Inês Pessanha por toda a ajuda e paciência.

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