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08-01-2017 13 DE DEZEMBRO I INTERNAMENTO O antigo Chefe de Estado Mário Soares deu entrada no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, pelas 04h00, com uma indispo- sição geral, tendo sido internado nos cui- dados intensivos de imediato. PRIMEIRO BOLETIM INDEFINIÇÃO O primeiro boletim clínico é lido às 13h10 do dia 13. O hospital diz que não está "ain- da estabelecido um diagnóstico definiti- vo". Mais tarde é reconhecida a situação crítica e um prognóstico reservado. ATUALIDADE II MÁRIO SOARES 1924-2017 ÓBITO HISTÓRICO O Protagonista da descolonização, líder incontestável do combate pela democracia e grande impulsionador da adesão de Portugal à UE LIBERDADE O Combateu desde muito jovem a opressão da ditadura do Estado Novo, conheceu a prisão e o exílio e destacou-se no exercício de cargos políticos, como primeiro-ministro e corno Presidente da República A TRES DIAS D LUTO NACIONAL POR MARIO JOÃO VAZ /LEONARDO RALHA O s séculos futuros dirão de sua justiça, mas olhar para os 92 anos de vida de Mário Soares, ontem che- gados ao fim, após 26 dias de internamento no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, permite afirmar que ficará como protagon ista destacado. da H istoria de Portugal, com uma marca que transcende os altos cargos públicos que exer- ceu - primeiro- ministro, em dois perít dos (1976 78 el98.3 - - 85), e Presidente da Repúbli - ca, durante 10 anos (1986 96). A grande obra do homem por quem foram decretados três dias de luto nacional, a come çar amanhã, foi o combate pela liberdade e democracia e o protagonismo no fim do Por- tugal do Minho a Timor e no início da integração europeia. Combateu desde muito jovem a opressão da ditadura do Esta do Novo e conheceu a prisão e o exílio. Quando, com o 25 de Abril de1974, pôde servir Por- tugal com as suas convicções, transformou um país isolado e auto destruído ruído pela guerra em África num Estado livre e d'e- mocrático. Para isso teve de enfrentar Álvaro Cunhal, que acusou de querer transfor mar Portugal numa ditadura, ouvindo em troca o célebre "Olhe que não, doutor". Cor- reu Mundo a falar português, que dizia ser a única língua em que se expressava de forma correta. Deixou um legado de reflexão política e lições de vida que apagam as muitas po- lémicas que suscitou. As cerimónias fúnebres de Mário Soares irão decorrer ao longo de dois dias. Amanhã, às 10h30, os restos mortais sai- rão de sua casa, no Campo Grande, num carro funerário que percorrerá as avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e da Uberdade, passando pelo Marquês de Pombal, Res -- tauradores, Rossio e rua do Ouro, até à praça do Municí- pio, onde o caixão será coloca - do numa charrete da GNR. Depois percorrerá a zona ri - beirinha até chegar ao Mostei- rodosJerónimos, onde terá di- reito a honras de Estado. O ve lório será aberto ao público até à meia-noite. Na terça-feira, as portas voltam a estar abertas até às 11h00 e, às13h00, come- ça uma cerimónia core inter- ,1 venções do Presidente da Re- pública, Marcelo Rebelo de Sousa, e do presidente da As- sembleia da República, Ferro Rodrigues. O cortejo sai dos Je - rónimos e terá paragens no Palácio de Belém, Parlamen- to e Largo do Rato, onde será projetado um vídeo da sua vida. Daí seguirá para o ce- mitério dos Prazeres. As cerimónias fúnebres serão encerradas por 21 salvas que , serão disparadas por uma fra- gata da Marinha. •

TRES DIAS D A LUTO NACIONAL POR MARIO - uc.pt · O Isabel Soares, filha de Mário Soares, esteve sempre ao lado do pai no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa O Marcelo Rebelo de

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08-01-2017

13 DE DEZEMBRO I INTERNAMENTO O antigo Chefe de Estado Mário Soares deu entrada no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, pelas 04h00, com uma indispo-sição geral, tendo sido internado nos cui-dados intensivos de imediato.

PRIMEIRO BOLETIM INDEFINIÇÃO O primeiro boletim clínico é lido às 13h10 do dia 13. O hospital diz que não está "ain-da estabelecido um diagnóstico definiti-vo". Mais tarde é reconhecida a situação crítica e um prognóstico reservado. ATUALIDADE II

MÁRIO SOARES 1924-2017

ÓBITO

HISTÓRICO O Protagonista da descolonização, líder incontestável do combate pela democracia e grande impulsionador da adesão de Portugal

à UE LIBERDADE O Combateu desde muito jovem a opressão da ditadura do Estado Novo, conheceu a prisão e o exílio e destacou-se no exercício

de cargos políticos, como primeiro-ministro e corno Presidente da República

A

TRES DIAS D LUTO NACIONAL

POR MARIO

JOÃO VAZ /LEONARDO RALHA

Os séculos futuros dirão de sua justiça, mas olhar para os 92 anos de vida

de Mário Soares, ontem che-gados ao fim, após 26 dias de internamento no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, permite afirmar que ficará como protagon ista destacado. da H istoria de Portugal, com uma marca que transcende os altos cargos públicos que exer-ceu - primeiro- ministro, em dois perít dos (1976 78 el98.3 -- 85), e Presidente da Repúbli -ca, durante 10 anos (1986 96).

A grande obra do homem por quem foram decretados três dias de luto nacional, a come çar amanhã, foi o combate pela liberdade e democracia e o protagonismo no fim do Por-tugal do Minho a Timor e no início da integração europeia. Combateu desde muito jovem a opressão da ditadura do Esta do Novo e conheceu a prisão e o exílio. Quando, com o 25 de Abril de1974, pôde servir Por-tugal com as suas convicções, transformou um país isolado e auto destruído ruído pela guerra em África num Estado livre e d'e-

mocrático. Para isso teve de enfrentar Álvaro Cunhal, que acusou de querer transfor mar Portugal numa ditadura, ouvindo em troca o célebre "Olhe que não, doutor". Cor-reu Mundo a falar português, que dizia ser a única língua em que se expressava de forma correta. Deixou um legado de reflexão política e lições de vida que apagam as muitas po-lémicas que suscitou.

As cerimónias fúnebres de Mário Soares irão decorrer ao longo de dois dias. Amanhã, às 10h30, os restos mortais sai-

rão de sua casa, no Campo Grande, num carro funerário que percorrerá as avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e da Uberdade, passando pelo Marquês de Pombal, Res --tauradores, Rossio e rua do Ouro, até à praça do Municí-pio, onde o caixão será coloca -do numa charrete da GNR. Depois percorrerá a zona ri - beirinha até chegar ao Mostei-rodosJerónimos, onde terá di-reito a honras de Estado. O ve lório será aberto ao público até à meia-noite. Na terça-feira, as portas voltam a estar abertas

até às 11h00 e, às13h00, come-ça uma cerimónia core inter- ,1 venções do Presidente da Re-pública,

Marcelo Rebelo de

Sousa, e do presidente da As-sembleia da República, Ferro Rodrigues. O cortejo sai dos Je - rónimos e terá paragens no Palácio de Belém, Parlamen-to e Largo do Rato, onde será projetado um vídeo da sua vida. Daí seguirá para o ce-mitério dos Prazeres.

As cerimónias fúnebres serão encerradas por 21 salvas que , serão disparadas por uma fra-gata da Marinha. •

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08-01-2017

Mário Soares é uma figura incontornável da vida política nacional e internacional que marcou a segunda metade do século XX

g

EDrIVRIAL

Construtor do regime

oncorde-se com Mário Soares ou não, há um dado

incontornável no seu lega-do: foi o vencedor do 25 de Abril e o grande construtor do regime. Histórico resis-tente antifascista, Soare ganhou em 1975 o PREC contra o PCP e a extrema--esquerda nas ruas. Soube manobrar dentro do Movi-mento das Forças Armadas (MFA) e chamar para o seu lado os moderados. Nunca deixou, porém, de seduzir os militares mais radicali-zados, como Otelo, ou os spinolistas, à direita. Man-teve todas as pontes e foi conciliador quando teve de ser. Vencido o PREC, lan-çou as bases do Portugal moderno com a adesão à Europa, que, ironicamente,

MÁRIO SOARES FOI A FIGURA MAIS

IMPORTANTE DA DEMOCRACIA

viria a beneficiar Cavaco Silva. Combateu a unicida-de sindical, construiu a se-paração de poderes, foi desmilitarizando as insti-tuições, desenhou um Par-lamento pluralista ao ven-cer a tentação hegemónica do PCP e chamou mesmo para a sua esfera de in-fluência o PSD de Sá Car-neiro e o CDS de Freitas do Amaral. Tornou-se na fi-gura mais importante do regime democrático, a quem todas as contradições e zonas de sombra foram perdoadas, como o proces-so Emaudio e o apoio que deu a Sócrates quando já era evidente que este se transformara tão-só num caso de polícia. •

MARCELO 1 DE NOVA IORQUE AO HOSPITAL O Chefe de Estado Marcelo Rebelo de Sou-sa visitou Mário Soares no hospital por duas vezes. No dia 13, após ter regressado de Nova Iorque, Marcelo seguiu direta-mente do aeroporto para o hospital.

MELHORIAS E COMA SITUAÇÃO CLÍNICA Mário Soares esteve dez dias nos cuida-dos intensivos. A 23 de dezembro é trans-ferido para uma unidade de Internamento reservado, mas piora na véspera de Natal. Entra em coma profundo no dia 26.

VISITAS ANTÓNIO COSTA E GUTERRES As principais figuras do Estado visitaram Mário Soares no hospital, entre elas o pri-meiro-ministro, António Costa. O novo se-cretário-geral da ONU, António Guterres, também esteve presente.

29 DE DEZEMBRO ÚLTIMO BOLETIM No dia 29 de dezembro, na sequência do progressivo agravamento do estado de saúde de Mário Soares, que se encontrava em coma profundo, o porta-voz do hospi-tal fez o último boletim clínico diário.

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'FRANKFURTER A.' 1 MORTE DE DEMOCRATA

Jornal alemão re-corda importância de Soares na cons-trução da democra-cia portuguesa.

LA REPPUBLICA 1 'PORTUGAL DE LUTO'

Jornal italiano refe-re papel de Soares na "Revolução dos Cravos e constru-ção da democracia".

'EL MUNDO' 1 'MORTE DE MÁRIO SOARES'

A imprensa espa-nhola foi das pri-meiras a noticiar a morte do antigo Presidente Soares.

lkon

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Isabel e João Soares, filhos de Mário Soares, visivelmente abalados durante o anúncio oficial da morte do ex-Presidente da República

O Isabel Soares, filha de Mário Soares, esteve sempre ao lado do pai no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa O Marcelo Rebelo de

Sousa e presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, ontem à saída do

hospital O Lourdes Norberto, atriz e amiga da família Soares, deu

apoio aos filhos .-„,„ Fernando Medina, autarca de Lisboa, já de luto

BBC 1 'PAI DA DEMOCRACIA PORTUGUESA'

Site britânico des- -- ....:0.•••••••••••••• na.» ••••••

taca o antigo Presi-dente Mário Soares como "pai da demo-cracia portuguesa".

MÁRIO SOARES 1924-2017

MORTE AS 15H28 AO LADO DOS FILHOS ÓBITO O Ex-Presidente da República faleceu ontem à tarde no hospital, onde estava internado desde o dia 13 de dezembro ANA LUISA NASCIMENTO/CRISTINA RITA

Anotícia da morte de Mário Soares foi conhecida às 15h41, apenas 13 minutos

depois da hora oficial cio óbito: 15 h28. Ao fim de 26 dias de in-ternamento, após ter dado en - trada no I lospi tal da Cruz Ver-melha no dia 13 de dezembro, o ex Presidente da República morreu ontem à tarde, aos 92 anos, com os dois filhos ao lado.

"A minha irmã Isabel e eu es-távamos a seu lado. Como sem - pre, desde que nascemos", es creveu João Soares na rede so-da] Facebook, horas depois do anúncio oficial do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa. "Na presença constante dos seus filhos, às 15h28 do dia 7 de

MAMO SOARES FOI INTERNADO SEIS DIAS APÓS COMPLETAR 92 ANOS

EX-PRESIDENTE ESTAVA NOS CUIDADOS INTENSIVOS EM COMA PROFUNDO

janeiro de 2017, ocorreu o fale-cimento do Dr. Mário Soares", confirmou oficialmente o dire tor clínico do hospital, Manuel Pedro Magalhães, ladeado por Isabel e João Soares, visivel-mente emocionados, que fize-ram questão de fazer um agra decimento público. "Em nome da família, queria agradecer profundamente a forma como o meu pai foi tratado durante os 26 dias em que aqui esteve, tal como tinha acontecido com a

nossa mãe, que aqui faleceu há um ano e meio", afirmou João Soares. Ao longo da tarde, fo-ram várias as personalidades que passaram pelo hospital, para prestar solidariedade à fa-mília. A primeira foi o Presiden-te da República, Marcelo Rebe-lo de Sousa, que logo após fazer uma declaração pública em Be - lém (ver texto ao lado) dirigiu-se à unidade de saúde, sendo seguido pelo presidente da As-sembleia da República, Ferro Rodrigues, e pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina. Pelas18h30, o corpo de Soares deixou o hospital. .

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imã se um aura me ai ora mie amam ri~

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41AVAITY.119!•• moixiwo pau doa Idlad per ~teorema pra dat btatedtat

Marcelo Rebelo de Sousa fez uma declaração em Belém

"Mário Soares nasceu e formou-se para ser lutador pela liberdade"

Eduardo Barroso, sobrinho

"Alívio saber que partiu sem sofrimento" I3 "Isto é ao mesmo tempo um alívio saber que partiu sem sofrimento, era o nos-so grande objetivo neste momento", disse ontem o médico Eduardo Barroso, sobrinho de Mário Soares, que se encontrava em Coimbra quando teve co-nhecimento da morte. "Para mimo tio já tinha morrido", acrescentou Eduardo Barroso. •

CERIMÓNIAS FÚNEBRES DE MÁRIO SOARES

• Segunda-feira, dia 9 `,S Terça-feira, dia 10 CAMPO GRANDE

Mínio Soer« sal ,do cala iba1Uh30 com CORTEJO

DE CHARRETE

LARGO DO RATO

CEMIT RIO DOS PRAZERES

Cerlméinlas •

Projeção de vídeo em homenagem PALÁCIO

DE BELÉM

v. da Uberdade

• Rossio

Rua do Ouro

MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS Velório aberto ao público até às 11h00. Cerimónias às 13h00. Saída às 14h00.

MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS

Honras de Estado no ex-. terior, entrada para os

claustros. Velório abre ao público até à meia noite

PRAÇA DO MUNICÍPIO

É transferido do carro funerário para armão da GNR (charrete)

Ponte 25 de Abril

.................

Ponte 25 de Abril

VELÓRIO NOS JERÓNIMOS E PERCURSO POR LISBOA 13 O Mosteiro dos Jerónimos foi o local escolhido para o ve-lório de Mário Soares, onde o corpo vai chegar amanhã, cer-ca da hora de almoço. As ceri-mónias fúnebres vão percor-rer Lisboa durante os dois próximos dias. •

SESSÃO EVOCATIVA E PARLAMENTO A MEIO GÁS 13 A Assembleia da República realizará na próxima quarta--feira, dia 11, uma sessão evo-cativa da vida do antigo Presi-dente da República Mário Soares. Até quarta-feira de manhã não haverá trabalhos parlamentares. •

'LE FIGARO' 1 MORTE FOI NOTÍCIA EM FRANÇA Site destaca Soares em 1994: "A huma-nidade irá mobilizar as Ideias, não só vara os interesses."

'LIBERATION' 1 ELOGIO DA EUROPA UNIDA Diretor do jornal francês frisou que, "até o fim, o social--democrata pediu uma Europa unida".

'O GLOBO' 1 O PAPEL DE UM HUMANISTA Site brasileiro enfa-tizou as facetas de "humanista" e "a luta contra a ditadu-ra de Salazar".

'WSJ' 1 TRANSIÇÃO PARA A DEMOCRACIA Nos EUA, Soares foi recordado pelo seu papel na transição de Portugal para a democracia.

11111M1,2111117111111L

imo- libéaz" Miam alaat-adstatInatalIkaddellotaddWratoda taatanag,ffirattal

António Costa na Índia falha funeral de Soares G O primeiro-ministro, Antó-nio Costa, decidiu manter a sua visita de Estado à Índia, que só termina na quinta-feira, dia 12, e não vai estar presente nas cerimónias fúnebres do anti-go Chefe de Estado, Mário Soares. António Costa enviou uma mensagem à família de Soares com " um grande abra-ço e uma saudade que será sempre eterna".

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, o antigo Presi-dente (Mário Soares) "ficaria contente com esta decisão [de Costa]".Visivelmente emocio-nado, Augusto Santos Silva dis-se que Mário Soares foi o "paida democracia" no País. No entan-to, quem já criticou a decisão de Costa foi o deputado do PSD, Carlos Abreu Amorim: "Uma vergonha". •

1 13 O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não esperou pela leitura do boletim clínico sobre a morte.do antigo Chefe de Estado Mário Soares e começou a falar ao mesmo tem-po do que o diretor clínico do Hospital da Cruz Vermelha, Manuel Pedro Magalhães.

MARCELO FALOU AO MESMO TEMPO DO QUE DIRETOR CLINICO

Falando ao País de gravata preta, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que "Mário Soares nasceu e formou-se para ser um lutador e para ter uma causa para a sua luta: a liberdade".

Depois, realçou o combate de

uma vida e o seu legado para o País: "Resta a Mário Soares, como inspirador, travar o der-radeiro combate, aquele em que estamos e estaremos todos com ele: o combate pela duradoura liberdade com justiça na nossa pátria comum, que o mesmo é dizer, o combate da imortalida-de do seu legado, um combate que iremos vencer". Antes, Marcelo Rebelo de

Sousa recordou o seu percurso político, desde o apoio a Hum-berto Delgado à prisão, passan-do por um debate decisivo con-tra o então líder do PCP, Álvaro Cunhal. Isto sem esquecer Ma-ria Barroso., mulher de Soares, falecida em 2015. Marcelo can-celou toda a agenda pública. •

António Costa em visita de Estado à índia só regressa ao País na ouInta-feIra

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NASCIMENT017 DE DEZEMBRO DE 1924 Mário Soares, de seu nome completo Má-rio Alberto Nobre Lopes Soares, nasceu em Lisboa, em 7 de dezembro de 1924, fi-lho de João Lopes Soares, professor e po-lítico, e de Elisa Nobre Soares.

ESTUDOS j LETRAS E DIREITO Licenciou-se em Ciências Histórico-Filo-sóficas, na Faculdade de Letras da Uni-versidade de Lisboa, em 1951, e em Direi-to, na Faculdade de Direito da Universida-de de Lisboa, em 1957.

CASAMENTO 1MARIA BARROSO Mário Soares casou-se com Maria de Je-sus Simões Barroso Soares, em 1949, ti-veram dois filhos, Isabel Soares e João Soares, e cinco netos - Inês, Mafalda, Má-rio, Jonas e Lilah.

MODERNO ICOLÉGIO DO PAI Antes de ingressar no mundo da política, Mário Soares foi professor do ensino se-cundário (particular) e diretor do Colégio Moderno, fundado por seu pai. Exerceu advocacia durante muitos anos.

MÁRIO SOARES 1924-2017

HISTÓRICO

PELA LI BERDA PRESO 12 VEZES, FOI DEPORTADO E OBRIGADO ESCOLA O Foi aluno de Álvaro Cunhal no Colégio Moderno FORMAÇÃO ,,Tirou duas licenciaturas: Histórico-Filosóficas e Direito

Oregresso a Portugal, de comboio, três dias após o 25 de Abril de 74, fez lem-

brar a viagem de Lenine, da Suíça para a Rússia, em plena revolução soviética de 1917. Lisboeta, nascido a 7 de dezem bro de 1924, Mário Alberto No-bre Lopes Soares viveu a intim -cia num prédio da rua Gomes Freire, 163, 2" esquerdo.

Foi aluno de Álvaro Cunhal 110 Colégio Moderno, no Campo Grande. Licenciou se na Uni-versidade de Lisboa em Históri-co Filosóficas (1951) e em Di-reito (1957).

PERSEGUIDO PELA PIDE ESTEVE DEPORTADO EM SÃO TOMÉ

Na política começou jovem. Pertenceu à MUNAF, MUD e PCP, de onde saiu em1949 acu-sado de sei:pró Tito. Esteve nas campanhas de Nortón de Matos e Humberto Delgado.

Foi candidato da oposição nas eleições de 1965 e 1969. Foi ad-vogado perseguido pela PIDE nos tribunais plenários. Preso 12 vezes, cumpriu três anos de ca-deia. Esteve deportado em São Tomé (1968) e foi obrigado ao exílio (1970). Fundou o PS em abril de 197.3, na Alemanha, com apoios de Willy Brandt e François Mitterrand: s

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Um homem às direitas

JOÃO PEREIRA COUTINHO COLUNISTA

orreu Mário Soares. Melhor assim. Aca-bam-se os boletins

clínicos pornográficos, que alimentavam a curiosidade mórbida da populaça; e aca-bam-se, a curto prazo, as mensagens de regozijo que débeis diversos deposita-ram nas caixas do lixo, tam-bém conhecidas por 'caixas de comentários'. Mas uma pergunta fica: por que moti-vo a 'direita', ou uma parte dela, espuma tanto ódio contra Soares?

Democraticamente falan-do, não se entende. O ho-mem lutou contra uma di-tadura (antes do 25 de Abril). O homem ajudou a evitar outra (depois do 25 de

POR QUE MOTIVO A 'DIREITA', OU PAR 1'E

DELA, ESPUMA TANTO ÓDIO CONTRA SOARES?

Abril). Num país pobre, pe-queno e periférico, o ho-mem entendeu que a Euro-pa era uma garantia econó-mica e democrática. E foi graças a ele - convém não esquecer 1987 - que a 'direi-ta', depois de Sá Carneiro, teve o seu segundo líder de sucesso (Cavaco).

Verdade que, nos últimos anos, o esquerdismo de Soares ganhou contornos mais radicais. Desconfio que essa deriva se explica, em parte, pelo facto de a direita se ter emancipado da tutela socialista e até ocupar o Pa-lácio de Belém. Mas isso, longe de desqualificar Soa-res, só comprova a benesse que ele concedeu à tribo. •

D

AO EXÍLIO

O Chegada de Mário Soares e Maria Barroso à estação de Santa Apo-Iónia a 28 de abril de 1974 0 Regressado do exílio após o 25 de Abril, discursa da varan-da da estação de Santa Apolónia 0112 de Maio - Soares e a mulher diri-gem-se para o estádio da FNAT, em Lisboa O Chega à Fundação Gulbenkian para os re-sultados nas primeiras eleições livres O Num comício durante a cam-panha para as presiden-ciais de 19860 Com a filha, Isabel Soares, e a mulher, Maria Barroso, em janeiro de 1974 o A chegada a Lisboa, vindos do exílio em Paris no ano de 1974 O Comício comemora-tivo do 30 aniversário do 25 de Abril O Soa-res a votar a 12 de de-zembro de 1982

Mandela, do papa João Paulo II a Dalai Lama, presidentes e li-deres dos EUA, da URSS-Rús-sia, da China e dos estados de língua portuguesa. a

O Soares num en-contro com o antigo lí-der da Autoridade Pa-lestiniana, Yasser Ara-fat, falecido em 2004 O Visita oficial do chanceler alemão Willy Brandt quando Soares era primeiro- -ministroO Ronald Reagan, então presi-dente dos EUA, em Portugal® Mitter-rand em julho de 1974, em Lisboa® Nelson . Mandela homenagea-do por Soares em 1993

Dalai Lama solta uma pomba ao lado de Mário Soares

O Conversa com o presidente de Moçambique, Samora Machel, quando Mário Soares era ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) O Já como Presidente da República, Mário Soares recebe Nino Vieira e o general António de Spfnola, no Palácio de Belém, em 19878 Soa-res participa como MNE na assinatura do Acordo de Alvor, assinado a 15 de janeiro de 1975 em Angola. Portugal reconhecia a independência de Angola, transferindo o poder para o MPLA, a UNITA e a FNLA.

L1 As cerca de 150 viagens a 57 países, feitas nos dez anos de mandato na Presidência da República, chegam para dizer que Soares foi um corredor do

VIVEU A CORRER O MUNDO Mundo. Viveu acontecimen-tos históricos e conheceu pes-soalmente personalidades mundiais do seu tempo: de Mitterrand e Willy Brandt a

ADVOGADO I CASO HUMBERTO DELGADO Como advogado de presos políticos parti-cipou em numerosos julgamentos. Repre-sentou a família do General Humberto Del-gado no caso do assassinato daquele anti-go candidato à Presidência da República.

DITADURA 1PRESO PEIA PIDE 12 VEZES Por força da sua atividade política contra a ditadura foi 12 vezes preso pela PIDE (quase 3 anos de cadela), déportado sem julgamento para S. Tomé (Africa) em 1968 e, em 1970, forçado ao exílio em França.

EXÍLIO125 DEABRIL EM FRANÇA A 25 de Abril de 1974, Mário Soares estava no exílio em França, de onde regressou para Portugal três dias depois. No dia 28, Soares chegou a Lisboa no depois chama-do 'comboio da liberdade'.

MINISTRO I GOVERNOS PROVISÓRIOS Mário Soares participou nos I, II e III Go-vernos Provisórios, como ministro dos Negócios Estrangeiros, e no IV, como mi-nistro sem Pasta, de que se demitiu em protesto pelo chamado 'Caso República'.

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19731FUNDADOR DO PARTIDO SOCIALISTA Foi um dos fundadores, em 1973, do PS, do qual foi o primeiro secretário-geral. Em 1974, logo após a queda do regime, foi chamado a desempenhar as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros.

19761NOMEADO PRIMEIRO-MINISTRO Participou em todas as campanhas eleito-rais, tendo sido deputado por Lisboa em todas as legislaturas, até 1986. Em 1976, foi nomeado primeiro-ministro do I Gover-no Constitucional (1976-77).

ELEIÇÃO110 PRESIDENTE CIVIL ELEITO Foi o primeiro Presidente civil eleito dire-tamente pelo povo. Renunciou aos cargos de secretário-geral do PS e de deputado, tendo tomado posse e prestado juramento no dia 9 de março de 1986.

REELEITO1PRESIDENTE DA REPÚBLICA A 13 de janeiro de 1991 foi reeleito Presi-dente da República, logo à primeira volta, tendo obtido a maior votação de sempre: 3 460 381 votos (70,40% dos votos). Ter-minou o seu segundo mandato em 1996.

MÁRIO SOARES 1924-2017

ÓBITO

O Discussão do primeiro programa constitucional do governo PS, em 1976, com Cunhal a incomodar Soares O Cé-lebre debate na RTP do "olhe que não... olhe que não" O Em 1982, momentos antes de um novo debate na televisão

PROTAGONISTA O Influência de Mário Soares ultrapassou fronteiras. Uma figura politica incontornável na segunda metade do século XX

uando regressou a Portu- gal após o 25 de Abril, Má- rio Soares, opositor à dita -

dura, determinado e tranquilo, foi a voz decisiva que marcou os rumos da política mesmo quan-do não mandava.

As relações internacionais, a preparação política, os princípios e os objetivos estratégicos fize rara dele o protagonista mais in-fluente e vencedor na vida políti-ca portuguesa. Apontou os cami-nhos: descolonizar, democrati-zar e desenvolver. Tinha as ideias mais fortes: liberdade, paz e de-mocracia. E a meta mais clara e

APÓS 0 25 DE ABRIL, SOARES MARCOU O RUMO DA POLÍTICA PORTUGUESA

convincente: a integração na Co-munidade Europeia. Os talentos de retórica e a empatia com as pessoas tornaram -no imbatível. Até as bochechas ajudaram à sua popularidade. Começou por arranjar aval

internacional para o novo regime português saído de um peculiar movimento militar, acelerou na descolonização e ainda antes do final de 1974, no Congresso do PS, na Aula Magna, enquadrou o partido captando Manuel Alegre para afastar Manuel Serra. Co-meçou a separar águas com o combate à Intersindical Comu-nista e promoveu a definição de

linhas de desenvolvimento eco-nómico arrasadas pelo golpe de 11 de Março. Apesar da confusão, impôs eleições para aConstituin-te na data limite de um ano após o 25 de Abril. Saiu vencedor e en-frentou as derivas de Vasco Gon-çalves e Otelo Saraiva de Carva-lho, travando o PCP.

Após um famoso frente a frente com Cunhal na RTP, ficou com mãos livres para impor a demo-cracia no 25 de Novembro. Após a normalização militar, Portugal fixou-se na democracia repre-sentativa e elegeu -o para 19 pri meiro- ministro de governos constitucionais. Também faria história como 1" Presidente da República civil, após 60 anos em que o cargo foi sempre ocupado por militares, dos quais só o últi-mo, Ramalho Eanes, foi eleito democraticamente. •

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()Mário Soares como Presidente da República, cargo que desempenhou entre os anos de 1986 e 1996, com o então primeiro-mi-nistro Cavaco Silva O Assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE, a 12 de junho de 1985, no Mosteiro dos Je-rónimos, em Belém e Soares foI o primeiro Presidente da República a visi-tar as ilhas Selva-gens, em setembro de 1991, com o Almirante Fuzeta da Ponte °Tomada de posse como Presi-dente da República, no seu primeiro mandato, no mo-mento em que Mário Soares jura sobre a Constituição, no Parlamento ©Em 2010, com o então primeiro--ministro socialista José Sécrates, num jantar-conferéncia promovido pela Liga de Amigos da Casa--Museu João Soares

EXEMPLO DE FAMÍLIA ADMIRÁVEL 0 Mário Soares casou-se com Maria Barroso (1925-2015), na cadeia do Aljube, a 22 de feve-reiro de 1949. Estava preso há uma semana, após ser detido no dia do simulacro eleitoral para o último mandato de Carmona. Gerou-se um grande amor e uma família ad - mirável, com dois filhos,João (n. 1949) e Isabel (n. 1951), e cinco netos: Inês, Mafalda, Mário, Jonas e Lilah - de dois casamentos do filho.

O pai de Mário Soares, João Lopes Soares, foi padre e peda-gogo. De relações anteriores dos pais, Mário teve quatro meios -irmãos. •

O Mário Soares, como Presi-dente da República, posa para uma foto com a mulher, os filhos e os três netos mais velhos °Quando estava exila-do, e a mu-lher, em S. Tomé e Príncipe

Soares em campanha

VOZ DELIS

Viva a liberdade!

RUI PEREIRA PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

M orreu um pai fun- dador do regime democrático - e

talvez o único em relação ao qual esta qualificação é consensual. Tive a oportu-nidade de dizer, nas páginas do CM, que Mário Soares foi um líder que teve razão an-tes de tempo em muitos as - petos. Isolado ou em mino-ria, opôs-se à ditadura, de -fendeu a autodeterminação das colónias, instituiu uma oposição democrática radi-cada na social-democracia (ou no "socialismo demo-crático"), contribuiu deci-sivamente para a edificação do nosso Estado de Direito e conduziu o processo de in-tegração europeia.

SEM ET F., A HISTÓRIA DE PORTUGAL

TERIA SIDO DIFERENTE, PARA PIOR

O cartão de cidadão de Soares inclui um vastíssimo conjunto de virtudes. Ho-mem de cultura com con-vicções humanistas e prati cante de uma tolerância com coragem, nunca foi travado pelo medo da pri-são, da tortura ou do degre-do, nem regateou um gesto solidário quando as cir-cunstâncias recomenda-vam "prudência". Sem ele, a História de Portugal nos últimos 70 anos teria sido diferente, para pior. A sua estatura mede-se por uma herança que inclui a instau-ração da Liberdade, da De-mocracia, da Paz e do Esta-do Social. Compete-nos estar à sua altura. •

19961CONSELHO DE ESTADO Tornou-se membro do Conselho de Estado em 1996 e assumiu a presidência da fun-dação que havia sido inaugurada, em 1991, com o seu nome. Em 1997 foi eleito presi-dente da Fundação Portugal-África.

ELEIÇÕES1PERDE PARA CAVACO SILVA Em 1999 foi eleito deputado ao Parlamento Europeu, tendo cumprido toda a legislatu-ra. Em 2006 concorreu, de novo, a Presi-dente da República, pelo PS, tendo perdi-do as eleições para Aníbal Cavaco Silva.

ENSINO1 PROFESSOR CATEDRÁTICO Foi também professor catedrático convi-dado da cadeira de Relações Internacio-nais da Faculdade de Economia da Univer-sidade de Coimbra, nos anos letivos de 1996/97 e 1997/98.

ANÚNCIO I RETIRADA DA VIDA POLÍTICA Em 1996, Mário Soares anuncia a sua reti-rada da vida política, que não viria a con-cretizar. Dois anos mais tarde seria desi-gnado presidente da Comissão Mundial Independente para os Oceanos.

SOARES DETERMINANTE PARA A DEMOCRACIA O Mário Soares num carro de combate durante demons-trações de exercícios milita-res, em 1987 ®Presidente da República durante as co-memorações do 10 de Junho em que esteve a bordo do Navio Creoula, a ser saudado pela Marinha ()Célebre imagem de Mário Soares sobre uma tartaruga, nas Seychelles, em 1995

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ESCRITOR 1 MAIS DE 30 OBRAS Além do seu percurso político, Mário Soa-res foi um prolífico escritor, tendo editado mais de 30 obras, entre as quais se desta-cam 'Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga' e 'Escritos Políticos'.

FUNDAÇÃO 1INSTITUIÇÃO DESDE 1991 Soares fundaria, em 1991, a Fundação Má-rio Soares, uma instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, Foram criados a Casa-Museu da Fundação Mário Soares e o Centro Cultural João Soares.

PRÉMIOS 1 NACIONAIS E INTERNACIONAIS Ao longo dos anos, Mário Soares foi pre-miado quer em Portugal, quer no estran-geiro. Foi também agraciado com inúme-ras condecorações oficiais de vários paí-ses, como Reino Unido ou Alemanha.

CARGOS 1ATIVIDADE INTERNACIONAL Mário Soares desenvolveu uma intensa atividade internacional. Foi presidente das Comissões da IS para o Médio Oriente e para a América Latina, tendo realizado vá-rias missões de informação.

MÁRIO SOARES 1924-2017

POLÍTICA

PRESIDENTE RECORDE SOBE VOTOS NA 2-4 ELEIÇÃO TRIUNFO º Foi o único presidente reeleito que aumentou a votação na segunda candidatura POLÉMICAS O Quis resolver a questão do governo minoritário de Cavaco com um esclarecedor pedido de demissão, mas o líder do PSD recusou

O Comemorações do 25 de Abril em 2011, presididas por Cavaco, juntaram no Palácio de Belém os ex-presidentes Mário Soares, Jorge Sampaio e Ramalho Eanes t4 Em Paris. esteve presente num evento, em 2013, a convite do então presidente francês, François Hollande O Mário Soares a discursar, em 2014, num almoço comemorativo dos seus 90 anos, no Centro de Congressos de Lisboa

Mário Soares foi um Presi -dente diferente de todos os outros. Distinguiu se

por intensa intervenção na a ti vidade política, julgada com um triunfo sem precedentes: rece-beu, em 1991, um recorde de cerca de 3,5 milhões de votos, mais meio milhão do que na vi

Cofia tangencial de 1986 sobre Freitas do :Amaral, na única 2" volta registada até hoje. O exercício do poder a partir

de Belém esteve, contudo, lon-ge de ser paradisíaco. Logo à partida teve de resolver a questão cio governo minoritá -rio de Cavaco Silva, atacado

pelo PS, PRD e PCP. Soares quis resolver o assunto com um es-clarecedor pedido de demissão de Cavaco, mas o líder social - - democrata não aceitou. O problema arrastou -se mais de um ano, mas Soares nunca mudou de ideias. Quando a aliança dos três partidos opo-

sicionistas derrubou Cavaco no Parlamento, o Presidente dissolveu e abriu caminho à primeira maioria absoluta do líder do PSD. Com Cavaco, Soares estabeleceu um diálogo tenso, não aberto a assessores. Os poderes presidenciais foram exercidos, muitas vezes, com

incómodo para o então primei-ro - ministro, que chegou a queixar-se das 'forças de 1)10 queio'. O auge foi o patrocínio ao congresso 'Portugal: que fu-turo', em maio de 1994; seguiu -se no mês seguinte o bloqueio na ponte sobre o Tejo, Lisboa, e o direito à indignação. *

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Olegado de Mário Soares é extraordinário em ter-mos de ação e reflexão

política. Inscreveu-se na Fa-culdade de Letras em Históri-co-Filosóficas porque, na altu-ra, nas universidades portu-guesas não se ensinava Ciência Política nem Sociologia, mas vingou-se em bibliografia: só em obra escrita publicou uns 30 livros e mais de 60 opúsculos com discursos, comunicações e entrevistas. E a ação política traduz-se em numerosas ini-ciativas e reformas que só o fu-turo avaliará com equilíbrio.

A sua excecional carreira polí-tica durou mais de 50 anos, mas

teve um epílogo cinzento. Após dois mandatos na Presidência da República, sentiu-se tentado a uma considerada acessível presidência do Parlamento Eu-ropeu, o que lhe saiu frustrado. Apesar de ganhar em Portugal

com43,07%, as listas socialistas foram superadas a nível da UE pelas do PPE. A situação piorou ainda mais com o falhanço da candidatura presidencial de 2006, batido por Cavaco Silva e o amigo Manuel Alegre.

Manteve interessante a sua presença nas colunas de opinião da imprensa, mas despresti-giou-se em guerras com aJusti-ça ao lado de José Sócrates. •

OPINIÃO

Todos fomos soaristas

lJ LUCIANO AMARAL PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

M anuel Alegre prefe- riu, à porta do Hos-pital da Cruz Ver-

melha, invocar o legado antifascista de Mário Soa-res. Mas se a vida de Soares tivesse terminado em 1974, ele não teria passado de um protagonista menor, esma-gado pela aristocracia re-sistente de Cunhal. Foi pre -ciso o anticomunismo de 1975 e a aliança coma di-reita para o transformar no `pai fundador' da demo-cracia. Mas mesmo isso se-ria insuficiente para lhe conferir a aura ecuménica que ganhou. O seu legado como primeiro-ministro está longe de consensual.

ANTICOMUNISMO DE 1975 TRANSFORMOU-O NO PAI FUNDADOR DA

DEMOCRACIA

Ainda foram precisos os mandatos presidenciais, com Cavaco como primei-ro-ministro. Na campa-nha, em 1985, ainda lhe exigiam que 'pagasse o que devia'. Só no cargo se fez o `bom rei' dos portugueses. O Soares do fim, das dia-

tribes contra o `neolibera - lismo' , dos louvores a Chá - vez, da derrota presiden-cial contra Cavaco voltou a ser o Soares menor, com a diferença de que já todos desculpávamos.

Manuel de Lucena disse que "todos os portugueses foram soaristas pelo menos uma vez". É o maior elogio que se pode fazer ao políti -co mais importante da nos-sa democracia. •

PERDA 1 MORTE DA MULHER Mário Soares sofreu um forte abalo com a perda da mulher. A ex-primeira-dama Ma-ria Barroso morreu no dia 7 de julho de 2015, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde se encontrava internada.

JULHO 1 CERIMÓNIA EM SÃO BENTO Após vários meses sem ser visto, no dia 23 de julho, durante uma homenagem em São Bento ao seu I Governo Constitucio-nal, Soares, amparado por Marcelo Rebelo de Sousa, foi aplaudido de pé.

HOMENAGEM 1 ÚLTIMA VEZ EM PÚBLICO A última vez que,Máfia Soares apareceu em público foi a 28 de setembro, no Hospi-tal da Cruz Vermelha, onde Maria Barroso, única mulher presidente da Cruz Verme-lha, foi homenageada a título póstumo.

MORTE 1 15H28 DE 7 DE JANEIRO Após três semanas e mela de internamen-to, Mário Soares morreu ontem, às 15h28, no Hospital da Cruz Vermelha, anunciou a equipa médica que acompanhou o antigo Presidente da República.

LEGADO

HERANÇA NOTÁVEL COM FINAL CINZENTO PUBLICAÇÕES O Escreveu 30 livros e mais 60 opúsculos com discursos, comunicações e entrevistas DERROTA O Perdeu as eleições para a Presidência da República, em 2006

O Soares recebeu de Ferro Rodrigues diploma de deputado honorário, em abril deste ano O Funeral de Maria Barroso, Junto á filha, Isabel, e aos netos mais novos

O Retrato de Mário Soares, da autoria do pintor Júlio Pomar, que está na galeria do Palácio de Belém, residência oficial do Presidente O Com as atri-zes Beatriz Costa e a brasileira Regi-na Duarte e o ator Carlos Miguel, mais conhecido

Mário Soares era um 'bon vivant' 0 Na galeria de retratos do Palácio de Belém, o de Soa-res distingue-se dos restan-tes, sisudos e solenes. Da au-toria de Júlio Pomar, Soares surge a rir e a gesticular. Era um `bon vivant' que apre-ciava uma boa gargalhada e boa comida nortuquesa. •

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Catarina Martins Fernando Medina Assunção Cristas Pedro Passos Coelho

"É um dia triste para todos os por-tugueses. Como grande democra-ta que foi, o dr. Mário Soares foi também um politica polémico, que combateu pelas suas ideias, há de ter feito muitos amigos, terá tido também muitos adversários."

Freitas do Amaral

"O CDS teve grandes divergências políticas com o dr. Mário Soares, mas não esquece o seu papel fun-dador, especialmente no período revolucionário em que se opôs á hegemonia política e totalitária e ajudou a democracia a vencer."

D. Manuel Clemente

"Escolho recordar com gratidão o homem que mandou a idade e o conforto ás malvas para se levan-tar na Aula Magna, com toda a es-querda, na defesa do País contra a troika. O homem com tantas vi-das como a nossa democracia."

Cavaco Silva

"Nenhuma homenagem será sufi-ciente para honrar aquilo que Má-rio Soares deixa, uma das figuras maiores da História. Lutou pela li-berdade, esteve preso, exilado, bateu-se para que Portugal fosse um estado democrático."

Rui Moreira

"Morreu o 'Patriarca da Democra-cia'. Ninguém a encarnou melhor do que ele, antes e depois de 1974. Todos os portugueses podem es-tar certos de uma coisa: Mário Soares não será esquecido."

"Deu um contributo notável, que é de agradecer e enaltecer, para o estabelecimento da democracia em Portugal. Devemos-lhe muito, muito, naqueles anos da implanta-ção da democracia."

"A morte do dr. Mário Soares é um momento de profunda consternação para a generalidade dos portugueses. Foi indiscutivelmente uma das personalidades mais marcantes do século XX português."

"Dele recordo, além da amizade, a coragem antes e depois de Abril, e a sua luta incessante e sem condescendência pela liberdade, como bem supremo da nossa cidadania."

J. CLAUDE JUNCKER 1PRES. C. EUROPEIA Com o seu desaparecimen-

to, Portugal e a Europa per-dem um pouco de si. A sua vida confunde-se com a histó-ria recente de Portugal."

MARIANO RAJOY1PM DE ESPANHA Cl Os meus sentidos pêsames ao povo português e à família de Mário Soares, grande eu-ropeísta e homem decisivo na democracia lusa."

R. SHERMAN1EMB. EUA EM PORTUGAL Foi uma figura extraordiná-

ria que constantemente pôs o seu país em primeiro lugar e lutou pela democracia e pelos Direitos Humanos."

M. SCHULZ1PRES. PARLAMENTO EUROPEU 12 Com a morte de Mário Soa-res, Portugal e a Europa per-dem um grande estadista. Soares é mais que uma figura histórica: é uma inspiração."

MÁRIO SOARES 1924- 2017

ÓBITO'

ULTIMO ADEUS DESPEDIDA DO ETERNO PRESIDENTE

Celebrar a vida

MARIA DE BELÉM EX-PRESIDENTE DO PS

LUTO Da direita à esquerda, todos recordam Mário Soares como uma figura fundamental na história da Democracia portuguesa, um combatente pela liberdade que marcou o século XX DESPEDIDA O Reações de pesar e de reconhecimento sucederam-se durante o dia de ontem

"No caso de Mário Soares, não será exagerado dizer que é o últi-mo quartel do século XX portu-guês que se confunde com ele. Se a nossa geração já fez política em democracia, a ele muito o devemos."

Ferro Rodrigues António Guterres

"Presto a minha homenagem a Má-rio Soares, certo de que figurará na nossa memória e na história do nosso pais, como um homem livre que quis que todos nós vivêsse-mos em liberdade e que lutou para que isso fosse possível."

Jorge Sampaio

"É um dia de profundo pesar para Portugal e também para a Europa. O que mais surpreende é a sua ex-traordinária capacidade de luta durante a sua vida. Sempre acre-ditou naquilo que era o interesse de Portugal e para a democracia."

António Arnaut

"O Mário Soares foi um patriarca da liberdade no século XX. Não precisava de morrer para entrar na História de Portugal. A sua partida representa um grande abalo para os amigos, os camara-das e o País."

ensar em Mário Soares é celebrar a vida! Uma vida

longa, vivida em pleno, cheia de realizações que restituíram a Liberdade a Portugal, uma vida que co-locou o País numa rota de desenvolvimento, que construiu História e que se prolonga muito para além da sua existência física.

Mário Soares não foi ape-nas o fundador do PS. Foi um lutador e um Ho-mem de coragem que nun-ca fraquejou quando era difícil e perigoso. Foi assim antes e depois do 25 de Abril. Devemos-lhe a ele a luta contra a ditadura. Su -portou a perseguição, a

FOI UM LUTADOR

E UM HOMEM DE CORAGEM QUE NUNCA

FRAQUEJOU

prisão, o degredo e o exílio. Devemos- lhe também o não termos caído, na se - quência da Revolução dos Cravos, numa ditadura de sinal contrário.

Mário Soares exerceu os mais importantes cargos em Portugal e cargos de elevado destaque em ter-mos internacionais. Foi um visionário, um cosmopoli-ta e um homem de cultura. Nunca virou a cara à luta e envolveu-se um múltiplas batalhas: políticas, cívicas, culturais. Foi assim sem pre, até ao fim ! E, por ter sido como foi e por ter feito o que fez , parafraseando o Poeta, "se foi da lei da morte libertando". •

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"POR MUITOS ANOS QUE VIVA, NUNCA PODEREI AGRADECER SUFICIENTEMENTE A MARCELO CAETANO TER-ME EXPULSADO DE PORTUGAL"

"EU SERIA O PENÚLTIMO A FALAR, CUNHAL ENCERRARIA O COMÍCIO. QUANDO PERGUNTEI PORQUÊ, ALEGARAM-ME O FACTO DE ELE SER O MAIS VELHO. ACHEI BEM..."

"O QUE SE PASSOU EM PORTUGAL FOI UM FENÓMENO INTERNACIONAL QUE APAIXONOU A EUROPA. SOU O PRIMEIRO MENCHEVIQUE A VENCER UM BOLCHEVIQUE"

"NUNCA LI DISCURSOS FEITOS PELOS OUTROS. ESCREVI-OS TODOS"

"NUNCA TIVE A INTENÇÃO DE TER UMA LUTA COM O PCP. SEMPRE PENSEI QUE SERIA POSSÍVEL FAZERMOS UMA FRENTE DE ESQUERDA. MAS QUANDO ME APERCEBI DE QUE O PLANO DO PCP ERA `COMER' O PS, ISSO NÃO"

"NÃO SOU LÍDER. SOU UM CIDADÃO NORMAL, QUE DE VEZ EM QUANDO DÁ UMAS OPINIÕES. SE SÃO ERRADAS OU CERTAS, OS OUTROS QUE DIGAM. EU DIGO APENAS O QUE PENSO"

"SOU UM EUROPEÍSTA FEDERALISTA E ACHO QUE DEVE HAVER UM GOVERNO EUROPEU"

"VÍTOR GASPAR É UM FANÁTICO NEOLIBERAL"

PALAVRAS DE SOARES PALAVRAS DE SOARES

F. HOLLANDE 1 PRESIDENTE DA FRANÇA A democracia portuguesa

perdeu um dos seus heróis, a Europa um dos seus grandes líderes e a França um amigo de sempre."

LULA DA SILVA 1 EX-PR DO BRASIL "Foi um dos grandes ho-

mens públicos do século XX, não só de Portugal, mas da Europa e do Mundo. Esteve do lado certo da história."

ULISSES C. SILVA 1 PM CABO VERDE a Cabo Verde perde um gran-de amigo, um lutador, que es-teve envolvido na história de Cabo Verde, na luta pelos ideais da democracia."

FILIPE VI I REI DE ESPANHA O legado político e o papel

decisivo no sucesso da tran-sição democrática converte-ram-no num dos grandes líde-res portugueses e europeus."

UM HOMEM QUE DIZIA E FAZIA O QUE QUERIA FRONTALIDADE O Sem papas na língua e bem-humorado, Mário Soares sempre disse o que queria, sem filtros, sem medo das polémicas ou das críticas OPINIÃO O Foram muitos os alvos das suas palavras, o último dos quais o governo de coligação PSD-CDS /PP liderado por Pedro Passos Coelho, e são muitas as frases do ex-presidente que ficarão para a história

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MORREU O PAI DA DEMOCRACIA MÁRIO SOARES 1924-2017

"ESPECIAL PÁGINAS

TRÊS DIAS DE LUTO NACIONAL MORRE ÀS 15H28 AO LADO DOS FILHOS EDITORIAL E OPINIÕES de João Pereira Coutinho, Maria de Belém Roseira, Luciano

Amaral, Rui Pereira, Eduardo Cintra Torres, Francisco Moita Flores e João Vaz