Se argumentar é comunicar no sentido de persuadir, então a argumentação tem uma dimensão retórica. Logo a Retórica é essencial à argumentação.

De acordo com os três elementos principais do processo comunicativo assim os apelos retóricos podem basear-se em vários ou um ou a outro elemento do processo comunicativo

SÃO 3 AS PROVAS TÉCNICAS ou APELOS RETÓRICOS Ethos Pathos Logos

Elemento do ato

comunicativo

Emissor/Orador Recetor/Auditório Mensagem/ discurso/ideias

Dimensão

abarcada pelo discurso

Moral/ética

Caráter Comportamento

Psico-afetiva Sensibilidade

do auditório

Racional

Argumentos usados A sua disposição

lógico-argumentativa Os recursos

estilísticos

Aspetos

visados pelo discurso

Inspirar/construir uma imagem de credibilidade : confiança, sinceridade,

Despoletar um conjunto de emoções e sentimentos no

Apresentar claramente a ideia que defende

Selecionar os

simpatia, modéstia, sensatez, competência, prudência

auditório

argumentos que fundamentem essa ideia

Antecipar objeções à

ideia defendida Usar recursos

estilísticos (compor corretamente o discurso, escolher as palavras adequadas, usar figuras retóricas que permitam expressar melhor e que tenham maior força persuasiva )

Finalidade

Agradar Comover Provar/Explicar

EXEMPLOS

Pathos & Logos

Logos

A retórica também pode lançar mão de algumas figuras retóricas com o objetivo de tornar o discurso mais belo mas, sobretudo para o tornar mais persuasivo

Mesmo na argumentação retórica não vale tudo para persuadir. Há

regras básicas para uma argumentação honesta com vista à persuasão racional assente no ethos, pathos e logos

1-Regra da igualdade e liberdade

As partes não devem ser desacreditadas arbitrariamente nem pressionadas emocionalmente (Ethos e Pathos)

2-Regra da honestidade e justiça

As partes devem dizer sempre a verdade. As partes não devem desvirtuar a tese oposta, cingindo-se ao que está em discussão (Ethos e Logos)

3-Regra da relevância

Os argumentos apresentados devem ser focar-se no que está em discussão

Contudo se usarmos abusivamente os apelos retóricos podemos cometer erros argumentativos ou falácias informais. Eis uma síntese das várias falácias e o apelo que elas

manipulam abusivamente

Manipulação do Ethos Ofensivo

A tua ideia não interessa para nada! És um bêbado!

João diz ter visto um cliente do bar cometer o crime. Mas o João é um drogado. O seu testemunho não tem valor

Circunstancial

Ana defende a adição de flúor à água.. Mas a Ana passa muito tempo na companhia de vagabundos, toxicómanos e gente duvidosa. Logo não devemos adicionar flúor à água. Ana defende a adição de flúor à água. Mas a Ana trabalha numa empresa produtora de flúor poderá vir a ganhar muito dinheiro com isso. Logo Não devemos apoiar a adição de flúor à água O Paulo não tem o direito de falar sobre o problema do aborto porque não tem filhos.

ad hominem (contra o homem)

Ataca-se a pessoa Comete-se o erro de julgar estar a atacar as suas ideias

Tu também ( tu quoque)

José acredita que nos devemos abster de beber álcool porque é prejudicial à saúde. Mas o José é um bêbado inveterado. Logo não nos devemos abster de beber álcool.

Manipulação do Pathos

Ad terrorem/baculum (apelo ao medo)

Consiste em admitir a verdade uma opinião tendo em conta as consequências desagradáveis que adviriam da sua não-aceitação

É preferível admitires que esta é a melhor política que a empresa pode seguir, se pretendes manter o emprego Caros deputados, o vosso voto a favor do aborto é inaceitável. Lembro-vos que 80% dos votantes do vosso círculo eleitoral são católicos e que não vão esquecer o vosso voto.

Ad misericordiam (apelo à piedade)

Ocorre quando se apela ao sentimento de piedade ou compaixão para se conseguir que uma determinada conclusão seja aceite.

Sei que tive negativas em todos os testes, mas esforcei-me tanto e estou tão cansado! Estudar não é nada fácil. Tente compreender que preciso passar de ano!

Ad populum ( apelo ao povo)

Consiste no apelo às multidões para que cada um se deixe seguir pela maioria.

(explora o desejo de ser aceite e de ser considerado normal )

Devem votar no meu partido. Toda a gente já percebeu que é o melhor para o país! Paladares apurados preferem o vinho “X”. Logo deves beber o vinho “X” Todos acreditam que o sexo pré nupcial é errado. Logo o sexo pré nupcial é errado Quem quer poupar compra no Continente

Derrapagem Bola de neve

Declive ardiloso

Ocorre quando a conclusão resulta de uma série de consequências cujo encadeamento é muito improvável.

Não se deve de legalizar as drogas leves porque a partir desse momento estará aberto o caminho para a liberalização das drogas duras, o processo será imparável e irreversível. Se se deixa uma criança usar chucha isso poderá causar o consumo de drogas. Com efeito, em poucos anos ela tenderá a fumar, depois virá a apetência pelas drogas leves, esta conduzirão às drogas duras e á toxicodependência Se abandonarmos o Vietname, o Vietname torna-se comunista. Se o Vietname se tornar comunista, os países vizinhos tornar-se-ão comunistas. Se os países vizinhos do Vietname se tornarem comunistas, os seus vizinhos cederão também ao comunismo. Logo, se abandonarmos o Vietname, o comunismo acabará por dominar toda a Ásia.

Manipulação do Logos

Ad ignorantiam ( apelo à ausência

de prova/ignorância)

Ocorre sempre que uma proposição é tida como verdadeira só porque não se pode provar a sua falsidade.

Os fantasmas existem. Ninguém provou que não existem! Ninguém conseguiu determinar as causas naturais da recuperação do doente. Por isso, foi um milagre que o curou. O António é homossexual. Ninguém provou que não era

Homem de palha/espantalho

Distorce-se o que alguém diz para atacar melhor a sua posição

. Não pode haver verdade se tudo é relativo. A teoria da relatividade de Einstein não pode ser verdadeira, já que afirma que tudo é relativo. O João defende que para se protegerem certas espécies os Jardins Zoológicos são importantes. Então mais valia prenderem todos os animais. O feminismo é falso porque afirma que todas as mulheres são santas e os homens são violadores. Júlia:os meninos com esta idade não deviam andar

sozinhos em ruas com muito trânsito Manuel: Essa agora, acho uma estupidez fechar os miúdos todo o dia em casa

Petição de princípio (usa-se como premissa para provar a conclusão a própria conclusão expressa por outra palavras )

O que o João disse em tribunal é verdade. Ele jurou dizer a verdade não jurou? A nudez pública é imoral porque ela é uma ofensa evidente A razão por que se dissolve o açúcar é porque ele é uma substância solúvel A crença em Deus é universal porque todas as pessoas acreditam em Deus.

Falácia

do Raciocínio

circular Ocorre sempre que se admite como provado o que se pretende provar

Circularidade ou

círculo vicioso (premissa e conclusão provam-se simultaneamente)

O que é um homem alto? É um homem que não é baixo. O que é um homem baixo? É um homem que não é alto (círculo vicioso) Devemos acreditar que Deus existe porque assim o diz a Bíblia e, a sendo a Bíblia um livro inspirado pelo divino, devemos acreditar no que ela diz. (círculo vicioso ) Sabemos que Jesus é o filho de Deus porque ele o disse, e o filho de Deus não pode mentir ( círculo vicioso)

Falso dilema Ocorre quando há mais alternativas do que aquelas que são apresentadas como únicas

Ou concordas comigo ou não! ( pode concordar-se parcialmente ) É pegar ou lagar! Se não és meu amigo, és meu inimigo Ou continuo a fumar ou engordo. Como não quero engordar. Vou deixar de fumar

(AdVerecundiam) (apelo à autoridade)

Falácia da Autoridade

Usa-se o apelo a uma suposta autoridade como prova, mas que não é qualificada.

Albert Einstein acreditava em Deus. Achas-te mais inteligente que ele?! É ridículo acreditar em Deus. Stephen Hawking diz que a religião é só superstição Através dos séculos, civilizações avançadas praticaram a escravatura. Quem somos nós para dizer que esta tradição está errada?!

Divisão e composição

É um erro de categorização que consiste em atribuir-se ao todo propriedades das suas partes ou vice versa

Os índios amazónicos estão a extinguir-se. Este homem é um índio da Amazónia. Logo este homem está a extinguir-se (divisão) Os átomos são invisíveis. A minha caneta é composta de átomos, logo é invisível. (Composição) O clube “X” é uma grande equipa. Logo deve ter grandes jogadores (divisão) O clube “X” tem jogadores muito bons. Logo deve ser um clube bom (composição) Cada um dos navios da armada está pronto para a batalhada. Logo a armada está pronta para a batalha (composição)

Ambiguidade /Equívoco

As palavras aparecem com dois significados tomadas como se fossem unívocos.

O Sol é uma estrela. Cláudia Schiffer é uma estrela. Logo, Cláudia Schiffer é o Sol. É loucura lutar por palavras. Ecologia é uma palavra. Logo é uma loucura lutar pela ecologia Se as pessoas são livres o determinismo é falso. Em Portugal as pessoas são livres e no Irão não. Logo o determinismo é falso em Portugal e verdadeiro no Irão O fim de todas as coisas é a sua perfeição. A morte é o fim da vida. A morte é a perfeição da vida. ( fim como finalidade/fim e como término )

Anfibologia

Ambiguidade não ao nível das palavras mas da estrutura/construção gramatical

Todo o homem ama uma mulher. Romeu ama uma mulher, Julieta. Logo, todo o homem ama Julieta. (Na primeira frase “uma mulher” pode ser interpretada como “distinta para cada homem” ou mulher como “a mesma mulher para cada homem” ) O mundo é como eu o vejo. (eu vejo o mundo como ele é/eu vejo o mundo como ele é para mim ) 12 é igual a 18, porque 3 vezes 3 mais 3 é igual a 12,

e 3 vezes 3 mais 3 é igual a 18.

Metáfora Confusão entre o sentido literal e o não literal

O amor é fogo. Logo o amor queima

Na argumentação usam-se argumentos dedutivos mas os mais usados são os não dedutivos, na medida em que em muitos assuntos nunca temos a certeza da verdade das premissas de que partimos e muito menos das conclusões que delas extraímos. Há 3 tipos de argumentos não dedutivos ou informais.: indutivos, de autoridade e analógicos. Contudo, tal como nos argumentos dedutivos ou formais, se não respeitarmos certas regras podemos cometer erros de argumentação ou falácias.

Principais argumentos informais

Indutivos De autoridade Analógicos

Generalizações Previsões

Tipo de argumento

Subtipo Explicação Exemplo Forma Regras Falácia

Indução por generalização (enumeração )

Consiste em atribuir a toda uma classe aquilo que se verificou apenas em alguns casos de elementos dessa classe.

Cada um dos corvos que observei até hoje era negro. _____________ Logo. todos os corvos são negros

Alguns x são Y ___________

Todos os X são Y

1ª regra: a amostra deve ser ampla*

2ª regra: a amostra deve ser representativa 3ª regra: não se deve omitir informação relevante: contra-exemplos.

Falácia da generalização

precipitada

ARGUMENTOS INDUTIVOS

Indução por previsão (indução para o caso seguinte)

Consiste em atribuir a a um futuro elemento/caso da classe aquilo que se verificou apenas em alguns casos de elementos dessa classe.

Cada um dos cães que observei até hoje ladrava. _________________ Logo, o próximo cão que vir ladra

Alguns x são Y ___________

Próximo os X será

Y

Semelhantes Falácia da Previsão

precipitada Ou

Da falsa previsão

ARGUMENTO DE

Consiste em considerar como

Todos os livros de história dizem que

X disse ou fez y X é uma

1ª A autoridade deve ser conhecida/citada

Falácia da falsa

AUTORIDADE verdadeiro ou correto ou que alguém disse ou fez

Abraham Lincoln foi assassinado em 1865. Os livros de história são credíveis _________________ Logo. 1965 foi a data do assassinato de Abraham Lincoln

autoridade ___________

Y é verdade ou correto

2ª A autoridade deve ter reconhecida competência na área/questão em causa 3ª A autoridade em causa não pode discordar significativamente de outra na área em questão

autoridade ou autoridade não qualificada

ARGUMENTO POR

ANALOGIA

Consiste em comparar duas coisas diferentes, considerando que por serem semelhantes em certos aspectos também o são noutro(s)

Os homens têm direito de voto As mulheres são como os homens __________________Logo as mulheres também têm o direito de votar

Se X tem as propriedades p, q, r…etc., e também tem Y

Z é como** X )tem as propriedades p, q, r) Logo Z tem de ter a propriedade Y também.

1ª A amostra deve ser suficiente (entre dois ou mais casos ) 2ª O número de semelhanças verificadas deve de ser suficiente. 3ª As semelhanças verificadas devem de ser relevantes. 4º Não deve de haver diferenças relevantes ( que enfraqueçam as semelhanças)

Falácia da falsa analogia

* Contudo o peso de cada uma das regras depende do conteúdo do argumento: Por exemplo, se estiver a cozinhar esparguete e, passados 10 minutos, provo dois fios de esparguete e concluo que está todo cozido e apago o lume. Não preciso de testar muitos fios de esparguete **Quando dizemos que “Z é como X”, estamos de facto a abreviar uma série de semelhanças. A palavra “como” abrevia uma série de semelhanças.As mulheres são como os homens porque:

a) Tanto os homens como as mulheres são agentes morais autónomos b) Tanto os homens como as mulheres querem ter autodeterminação política c) Tanto os homens como as mulheres querem intervir politicamente d) Tanto os homens como as mulheres têm as mesmas capacidades cognitivas

Uma boa parte do trabalho da lógica informal é a procura de critérios de validade que evite a falaciosidade de argumentos informais

Identifica os argumentos seguintes e

pronuncia-te sobre a sua validade.

a) Um comentador desportivo afirmou que o orçamento de estado é justo. Logo, o orçamento de estado é justo.

b) As girafas têm o pescoço comprido. As toupeiras, sendo animais, são como as girafas. Logo, as toupeiras têm o pescoço comprido.

c) Todos os meus amigos gostam de ir a discotecas. Logo, todas as pessoas gostam de ir a discotecas.

d) Todas as sardinhas investigadas até agora respiravam por guelras. Será de prever que as sardinhas que ainda não nasceram respirarão por guelras.

e) Diz o novo aluno da ESARS os colegas da minha turma são muito inteligentes. Portanto, todos os alunos desta escola devem ser muito inteligentes.

f) Foi testado um medicamento que curou a doença X em cerca de 10000 pessoas. O ministério da Saúde autoriza portanto a sua utilização em doentes co a mesma doença.

g) O aluno X faz desenhos muito bonitos. Ora um chefe de cozinha também deve de apresentar pratos bonitos. O aluno X deveria dar um bom chefe de cozinha.

h) O senhor Y, que é um reputado economista e director de um banco, aconselhou-me a fazer certos investimentos financeiros. Portanto esses investimentos devem de ser seguros.

i) O mundo da ciência contém numerosos exemplos de grandes homens e mulheres que afirmaram a sua crença em Deus. Logo, Deus tem de existir.

j) A narrativa bíblica da criação não pode ser verdadeira. Muitos cientistas de renome não estão de acordo com ela.