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r- [:BCI) .J <( IQ<( w (!) oQ ü: <( <t:o a.. Qo ãlir z ::>w w Q_Q_ c. '--- ..J (5 <( o :::;) .... a: o c.. Quinzenário - Autorizado pelos crr a circular em invólucro fechado de plástico - Envoi fermé autorisé par les PTT portugais - Autorização N.• 190 DE 129495 RéN 2 de Dezembro de 2000 Ano LVII - N. 1480 Fundador: Padre Américo • Director: Padre Carlos • Chefe de Redacção: Júlio Mendes Redacção, Administração, Oficinas Gráficas: Casa do Gaiato - 4560-373 Paço de Sousa Tel. {255) 752285 - FAX 753799 - Cont. 500788898 - Reg. O. G. C. S. 100398 - Depósito Legal1239 Preço 40500 (IVA Incluído) - Propriedade da Obra da Rua Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes O Ser e o Fazer Social S OCIAL é uma palavra pronunciada vezes, mas em concet- tos que enchem um leque aberto de 180°. Temos de utilizá-la frequentemente, que o dicionário não é pró- digo em sinónimos que aper- tem a compreensão do con- ceito em vias de uma definição mais rigorosa. Mas nós, cristãos, temos de afinar este conceito, não por ideias em voga vindas de qualquer fonte, mas indo à Fonte que é a Revelação concluída nos Apóstolos de Jesus Cristo, mas continuada em esforço de entendimento mais abran- gente e mais profundo e de aplicabilidade pela Sua Igreja. A Teologia é, pelo menos, tão viva e ansiosa de progresso como qualquer outra ciência. E digo pelo menos, pensando que é mais, porquanto o seu objectivo é a Verdade, meta global onde caberão todos os autênticos achados do saber humano. E a Fonte é o próprio Deus. Ele é o modelo per- feito de Sociedade ... Três Pessoas distintas parti- Lhando a mesma e única Natureza; e o Seu Nome é Amor. Onde uma sociedade em que entre os seus ele- mentos o vínculo, seja o amor, estará a justiça na parti/ha dos bens e a paz na relação entre todos. E onde se encontra uma sociedade assim? ... Pois, rareia ... - e tal denuncia o grande pecado da Humani- dade, que se paga caro pelo preço de muitas injustiças, de um estado quase perma- nente de «guerras» a todos os níveis das sociedades dos homens. Porque mandou o Mestre aos Seus discípulos «ser sal da Terra e luz do Mundo»? Justamente para que con- trariem este desvio da Humanidade, il11minando-a pela palavra e pelas suas vidas, para que regresse ao Modelo Divino a cuja ima- gem fomos feitos. Este -julgo - é o pri- meiro passo, indispensável à dinamização de outros a dar, que compete aos discí- pulos conscientes da Von- tade e da Presença garan- tida do seu Mestre. Antes do fazer social temos de ser na Sociedade uma grande força impulsionadora, como é próprio das forças, mas atentos a qualquer aliança que comprometa a única em que nos queremos apoiar: «a Justiça do Reino de Deus Continua na pági na 4 Um belo recanto da Casa do Gaiato de Beire, no Calvário. O sol clareia esta manhã fria. CALVÁRIO Eles são da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo TRIBl!JNA CE COIMBRA Será por causa desta bela ideia que tantas celebrações Peregrinar jubilares têm sido tão con- corr idas? Acreditamos que sim. Quer dizer então que a seguir ao jubileu, se abrem mais e maiores horizontes à e ao compromisso apos- P ARECE-ME ter sido a grande ideia mobilizaqora da Igreja neste Ano Jubilar. E interessante porque a ideia da peregrinação ajusta-se bem à nossa experiência humana, pessoal e colectiva. Ora um dos traços característicos da pere- grinação é a experiência do desconforto e da provisoriedade. A cada etapa da caminhada, outra surge como desafio até chegar ao fim. A experiênc ia bíblica é um referencial abso lu to. De Abraão, o Grande Peregrino de Deus, até Jesus de Nazaré, há uma tensão histórica permanente. Ficou para a Igreja o testemunho e apelo de Jesus: «Segue-me!» É o Evangelho! O Evangelho é essa fonte de tensão e apelo a ser peregrinos. Peregri- nos; não alienados. O alienado está em lado nenhum; o peregrino, não. Sem perder o seu horizonte, enquanto caminha, aprecia, agra- dece, retribui, pára, escuta, ajuda; está. O peregrino é um caminhante que não recua. A sua vida é uma vida sempre em aberto à novidade dos homens de Deus. tólico; outros cami nh os e novos desafios com sabor de regresso à frescura per- manente do Evangelho. Assim, por certo, surgirão comunidades mais inquietas que levarão para o altar as dores dos sem-famí- lia, dos sem-casa, dos sem-pão, sem-compa- nhia e sem-esperança. Aparecerão mais vocações de serviço e para o serv iço do Evangelho, em estruturas novas e aproxima- das. Surgirão gestos carregados de audácia evangélica: «Deixa a tua terra e parte ... » Os gritos dos miúdos votados ao abandono nos bairros degradados das nossas grandes cida- des hão-de encontrar eco no coração dos que, mesmo ao lado, apressadamente, cor- rem para a Igreja. Há-de esta velha Europa che ia de contradições voltar a peregrinar como nos tempos de outrora, e de abrir os seus celeiros de pão e saber aos famintos do mundo para que não se asfixie e sucumba. Estaremos sonhando ou terá ecoado bem perto o sinal do jubileu? Padre João De peito levantado, com uma rosa a sair do bolso da camisa, o Carlos vem direi- to a mim e saúda-me. - Onde foste arranjar essa rosa bonita? - per- gunto-lhe. As rosas choram Guardar o jovem que fo- mos, é continuar com a ale- gria de viver, é ter ideal e esperança. E então sim: o adulto não será apenas o homem gran- de, mas o homem completo que possui a riqueza acumu- lada. As plantas vão todos os dias beber o seu viver às raízes. E as flores que desa- brocham têm nelas a sua origem. aceitação do que temos sido, com os defeitos e os li mites da condição humana, mas igualmente com riqueza inte- rior que nos foi dada e que partilhámos com aqueles com quem temos convivido. - Fui ao canteiro. -Não devias fazê-lo. -Porquê? -Anda ver. O orvalho da noite caiu forte e as rosas derramam ainda gotas de água sobre a relva. - Estás a ver? As rosas estão a chorar porque lhes roubaste uma companheira. - E estão mesmo! Para outra vez, não colho. O Carlos chora. Olha para mim e sorri. Este rapaz é uma criança grande e guarda a simplici- dade e a candura da criança. Cresceu mas não deixou de ser menino. Um dos erros humanos é perder-se a memória do pas- sado . . o homem para o ser verdadeiramente, deve guar- dar o bom da sua vida. E o melhor dela é a infância. Cristo afirmou-o quando nos disse: «Se não vos tor- nardes como crianças não entrareis no Reino» da Ver- dade e da Vida, do Amor e da Paz. Guardar a criança que fo- mos é cultivar a simplicidade, a espontaneidade, a candura. O crescimento humano deve ter também como base a Aceitar o passado, corri- gindo-o porventura, mas aproveitando-o, é encontrar forças para melhor construir o futuro. O homem de hoje anda numa busca incessante de Continua na página 3

TRIBl!JNA CE COIMBRA Peregrinar - 02.12.2000.pdfA experiência bíblica é um referencial absoluto. De Abraão, o Grande Peregrino de Deus, até Jesus de Nazaré, há uma tensão histórica

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Quinzenário - Autorizado pelos crr a circular em invólucro fechado de plástico - Envoi fermé autorisé par les PTT portugais - Autorização N.• 190 DE 129495 RéN

2 de Dezembro de 2000 • Ano LVII - N. • 1480 Fundador: Padre Américo • Director: Padre Carlos • Chefe de Redacção: Júlio Mendes Redacção, Administração, Oficinas Gráficas: Casa do Gaiato - 4560-373 Paço de Sousa Tel. {255) 752285 - FAX 753799 - Cont. 500788898 - Reg. O. G. C. S. 100398 - Depósito Legal1239

Preço 40500 (IVA Incluído) - Propriedade da Obra da Rua Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes

O Ser e o Fazer Social SOCIAL é uma palavra

pronunciada muita~ vezes, mas em concet­

tos que enchem um leque aberto de 180°. Temos de utilizá-la frequentemente, que o dicionário não é pró­digo em sinónimos que aper­tem a compreensão do con­ceito em vias de uma definição mais rigorosa. Mas nós, cristãos, temos de afinar este conceito, não por ideias em voga vindas de qualquer fonte, mas indo à Fonte que é a Revelação concluída nos Apóstolos de Jesus Cristo, mas continuada em esforço de entendimento mais abran­gente e mais profundo e de aplicabilidade pela Sua Igreja. A Teologia é, pelo menos, tão viva e ansiosa de progresso como qualquer outra ciência. E digo pelo menos, pensando que é mais,

porquanto o seu objectivo é a Verdade, meta global onde caberão todos os autênticos achados do saber humano.

E a Fonte é o próprio Deus. Ele é o modelo per­feito de Sociedade ... Três Pessoas distintas parti­Lhando a mesma e única Natureza; e o Seu Nome é Amor. Onde uma sociedade em que entre os seus ele­mentos o vínculo, seja o amor, aí estará a justiça na parti/ ha dos bens e a paz na relação entre todos.

E onde se encontra uma sociedade assim? ... Pois, rareia ... - e tal denuncia o grande pecado da Humani­dade, que se paga caro pelo preço de muitas injustiças, de um estado quase perma­nente de «guerras» a todos os níveis das sociedades dos homens.

Porque mandou o Mestre aos Seus discípulos «ser sal da Terra e luz do Mundo»? Justamente para que con­trariem este desvio da Humanidade, il11minando-a pela palavra e pelas suas vidas, para que regresse ao Modelo Divino a cuja ima­gem fomos feitos.

Este -julgo - é o pri­meiro passo, indispensável à dinamização de outros a dar, que compete aos discí­pulos conscientes da Von­tade e da Presença garan­tida do seu Mestre. Antes do fazer social temos de ser na Sociedade uma grande força impulsionadora, como é próprio das forças, mas atentos a qualquer aliança que comprometa a única em que nos queremos apoiar: «a Justiça do Reino de Deus

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Um belo recanto da Casa do Gaiato de Beire, no Calvário.

O sol já clareia esta manhã fria. CALVÁRIO

Eles são da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo

TRIBl!JNA CE COIMBRA Será por causa desta bela

ideia que tantas celebrações

Peregrinar jubilares têm sido tão con­corridas? Acreditamos que sim. Quer dizer então que a seguir ao jubileu, se abrem mais e maiores horizontes à fé e ao compromisso apos­

PARECE-ME ter sido a grande ideia mobilizaqora da Igreja neste Ano Jubilar. E interessante porque a

ideia da peregrinação ajusta-se bem à nossa experiência humana, pessoal e colectiva. Ora um dos traços característicos da pere­grinação é a experiência do desconforto e da provisoriedade. A cada etapa da caminhada, outra surge como desafio até chegar ao fim.

A experiência bíblica é um referencial absoluto. De Abraão, o Grande Peregrino de Deus, até Jesus de Nazaré, há uma tensão histórica permanente. Ficou para a Igreja o testemunho e apelo de Jesus: «Segue-me!» É o Evangelho! O Evangelho é essa fonte de tensão e apelo a ser peregrinos. Peregri­nos; não alienados. O alienado está em lado nenhum; o peregrino, não. Sem perder o seu horizonte, enquanto caminha, aprecia, agra­dece, retribui, pára, escuta, ajuda; está. O peregrino é um caminhante que não recua. A sua vida é uma vida sempre em aberto à novidade dos homens de Deus.

tólico; outros caminhos e novos desafios com sabor de regresso à frescura per­manente do Evangelho. Assim, por certo, surgirão comunidades mais inquietas que levarão para o altar as dores dos sem-famí­lia, dos sem-casa, dos sem-pão, sem-compa­nhia e sem-esperança. Aparecerão mais vocações de serviço e para o serviço do Evangelho, em estruturas novas e aproxima­das. Surgirão gestos carregados de audácia evangélica: «Deixa a tua terra e parte ... » Os gritos dos miúdos votados ao abandono nos bairros degradados das nossas grandes cida­des hão-de encontrar eco no coração dos que, mesmo ao lado, apressadamente, cor­rem para a Igreja. Há-de esta velha Europa cheia de contradições voltar a peregrinar como nos tempos de outrora, e de abrir os seus celeiros de pão e saber aos famintos do mundo para que não se asfixie e sucumba.

Estaremos sonhando ou terá ecoado bem perto o sinal do jubileu?

Padre João

De peito levantado, com uma rosa a sair do bolso da camisa, o Carlos vem direi­to a mim e saúda-me.

- Onde foste arranjar essa rosa bonita? - per­gunto-lhe.

As rosas choram Guardar o jovem que fo­

mos, é continuar com a ale­gria de viver, é ter ideal e esperança.

E então sim: o adulto não será apenas o homem gran­de, mas o homem completo que possui a riqueza acumu­lada. As plantas vão todos os dias beber o seu viver às raízes. E as flores que desa­brocham têm nelas a sua origem.

aceitação do que temos sido, com os defeitos e os limites da condição humana, mas igualmente com riqueza inte­rior que nos foi dada e que partilhámos com aqueles com quem temos convivido.

- Fui ao canteiro. -Não devias fazê-lo. -Porquê? -Anda ver. O orvalho da noite caiu

forte e as rosas derramam ainda gotas de água sobre a relva.

- Estás a ver? As rosas estão a chorar porque lhes roubaste uma companheira.

- E estão mesmo! Para outra vez, não colho.

O Carlos chora. Olha para mim e sorri.

Este rapaz é uma criança grande e guarda a simplici-

dade e a candura da criança. Cresceu mas não deixou de ser menino.

Um dos erros humanos é perder-se a memória do pas­sado . . o homem para o ser verdadeiramente, deve guar­dar o bom da sua vida. E o melhor dela é a infância.

Cristo afirmou-o quando nos disse: «Se não vos tor­nardes como crianças não entrareis no Reino» da Ver­dade e da Vida, do Amor e da Paz.

Guardar a criança que fo­mos é cultivar a simplicidade, a espontaneidade, a candura.

O crescimento humano deve ter também como base a

Aceitar o passado, corri­gindo-o porventura, mas aproveitando-o, é encontrar forças para melhor construir o futuro.

O homem de hoje anda numa busca incessante de

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2/ O GAIATO

Conferência

~e Pa~o ~e lousa R ECADOS - No regresso

de visitas domiciliárias, vicen­tinos há que não resistem a dar logo recados de seus Pobres. Especialmente no que toca à s ituação d os d oentes e dos remédios necessários: - F. precisa de medicamentos no valor de x; outro ou outros, no valor de y ...

A factura mensal emit ida pela botica ronda, em média, setenta ou oitenta contos; boa parte destinados a pacientes idosos. No entanto, até à Pri­mavera, prevemos um encargo. mensal maior.

Sendo nós porta-vozes dos Pobres - temo-lo dito muitas veze.s - que seria deles se não pudéssemos a liviar a sua cruz, nes te part icu la r sempre tão pesada!?

Aliás, o que se passa aqui é, por igua l, em todo o Mundo que sofre. A lguns Pobres nunca teriam quê para se trata­rem. A pensão social é de vinte e poucos contos ...

A propósito: recolhemos um retalho de uma Revista caste­lhana, sobre Jornadas de Bioé­tica, em Sevi lha, que tiveram por objectivo «analisar as cau­sas que originam a miséria e a exclusão social nos povos e cul­turcls mais desfavorecidos do Planeta, já que o Mundo ca­minha a passos largos para uma globalização económica que cria enormes diferenças entre sociedades distintas. - Como e de que modo se poderá motivar a promoção social dos Pobres? - Qual o papel dos cristãos neste novo contexto? Foram perguntas apresentadas dura111e o Encontro».

«Entre as altemati1•as de acção sanitária, não se perdeu de vista, na generalidade, as implicações entre os proble­mas da SaLÍde e as condições socioeconómicas das popula­ções, com o objectivo de se promover a reflexão ética da Justiça como valor social e o direito de assistência sanitária como exigência humana».

No debate sobre desigualda­des sociais, algu6m acentuou que «a Saúde necessita duma relação fraternal e solidária. A Miséria ainda é a primeira enfermidade em todo o Mundo e o combate contra ela a forma mais eficaz de se lutar pela Saúde individual e colectiva».

A VOZ DO PAPA - Diri­gida a peregrinos: «Para que o anúncio de Cristo consiga mais profundidade, acompanhai toda a iniciaTiva apostólica com um trabalho incessante de promoção humana. E o vosso comportamento edifique um clima favorável para uma sociedade civil ordenada e res­peitador~ dos direitos e deve­res de cada wn».

A Emigrantes: «Na Igreja ninguém é estrangeiro nem hóspede porque somos conci-

dadãos elos santos e familiares de Deus. O mesmo Filho de Deus, vindo viver entre nós, fez-Se peregrino no Mundo e na História. Devemos receber Cristo no irmão ou irmã pro­vados pela necessidade, já que esta é a condição para O ver­mos cara a cara ao terminar­mos o nosso caminho terreno».

Às Famílias: «São um dom de Deus. Os filhos, a primavera da Família e da Sociedade. Não um acessório no proj ecto de vida conjugal, muito menos uma coisa opcional». Acrescen­tou: «Os filhos são um dom pre­cioso, inscrito na estrutura da uniüo conjugal». Depois, insis­tiu no direito dos filhos a nascer e crescer. E, do Livro do Géne­sis (Antigo Testamento), recor­dou que «não é bom o homem estar só» -citando a frase bfblica: «0 homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher e os dois serão uma só carne». O termo «carne» não implica só a parte ffsica, mas também a «idemidade global do espírito e do corpo». Neste encontro, na Praça de S. Pedro, João Paulo II saudou duas famí­lias portuguesas.

PARTILHA - A assinante 5963, de Paço de Arcos, manda a oferta de Agosto/Setembro «acrescida duma lembrança do Jubileu», partilhando também um peso na consciência: «Será que o Jubileu, prestes a termi­nar, trouxe alguma bênção, como era suposto, para os encarcerados, abandonados, excluídos, isolados? Todos estes preferidos de Jesus senti­ram alguma coisa ele diferente num ano tão cheio de peregri­nações e celebrações? Porque não uma celebraçcio do Jubileu com dávidas de sangue, visitas a doentes e presos, ajudas con­cretas aos mais pobres? E se não me enganei quanto ao sen­Tido do Jubileu, o seu fimúlri1Í10 era receber a Misericórdia de Deus, mas penso que devería­mos, com mais intensidade, reflecti-la para os outros».

Guimarães: «Uma pequena lembrança do assinante I9I48, sufragando a alma da esposa, que gostaria fosse aplicada em qualquer doente oncológico mais carenciado».

Assinante 31211, de Matosi­nhos, com «pequena ajuda para acudirem a uma necessi­dade urgente». Retribuímos o grande abraço pela Ordenação do nosso Manuel Mendes. E, também, à assinante 32897, de Cardigos.

Ovar: o costume, do assi­nante 42971.

Quinze mil, da assinante 9708, de Coimbra, para «O que for mais necessário e por alma de meus pais», disse.

Porto, o assinante 60848, com mil escudos: «Espero oportunamente dar nova con­tribuição».

Em nome da assinante 47307, de Juncal (Porto de Mós), «uma pequena lembrança oferecida como intençtio missionária, no mês de Owubro».

Outra vez Porto, com dez mil, do assinante 13862, «res­peitante à minha oferta do mês de Novembro».

Perosinho (V. N. Gaia): «pe­quenina ajuda, de quinze mil escudos, do assinante 9790», lembrando, no mês dos Fiéis, os seus familiares no Reino dos Justos.

Fecha a coluna o assinante 5324 1, do Luso, com cinco mil: «Basta a comunicação na parte noticiosa da Conferên­cia, só para saber se o cheque chegou ao seu destino».

Em nome dos Pobres, muito obrigado.

O nosso endereço: Conferên­cia do Santíssimo Nome de Jesus, ale do Jomal O GAIATO, 4560-373 Paço de Sousa.

J úlio Mendes

PA~O DE SOUSA VIS ITANT ES - Estamos

perto do Natal e, agora, recebe­mos mais visitantes que vêm ver como somos e como fun­ciona a Casa. Vendo, também, os nossos trabalhos com muito carin ho. Por isso, sentem afec to por cada gaia to que encontram na visita. Podemos dizer que saem satisfeitos de nossa Casa.

DESP O RTO - Os com­panheiros mais novos conti­nuam sem perder! E os mais velhos estão a melhorar tecni­camente. Temos já uma equipa razoável.

À Federação Portuguesa de Hoquei, nomeadamente ao Pro­fessor Manuel Botelho, agrade­cemos os equ ipamentos c materiais desportivos que nos ofereceram.

Agradecemos, também, a Elói Ferreira, Lda. c à Ncw Solutions a oferta de mai s outro equipamento.

Por fim, estamos gratos a todas as pessoas que apoiam o nosso Grupo Desportivo.

TEMPO - A nossa Aldeia ficou algumas vezes sem luz, devido ao mau tempo.

No pomar, uma árvore caiu,

Riqueza interior Sou tão pobre por fora E bem rico por dentro!

Meu amor, chegou a hora D a verdade que te mora No coração, bem no centro D a sua grande alma. E m e falar com calma D a vida que viveu Enquanto fui embora.

Agora, aqui estou de novo: Quero saber do amor Com que responde ao meu. M inha pobreza exterior É a vista dos seus -olhos . .. ? Ou a riqueza interio r M otivo do seu amor, Vereda que nos conduz?

O r la ndo

2 de DEZEMBRO de 2000

Franc isco S ilva, filho de Eva e J osé Carlos.

mas, de resto, correu tudo bem.

R OUBOS - Temos s ido roubados por pessoas que não nos querem bem ...

Comunicámos tudo aos nos­sos superiores e temos já um suspeito. Agora, é só confirmá­-lo realmente.

«Mar telo»

I SETÚBAL I «PEDRADAS» - De vez

em quando, há pedradas cá em Casa.

O Padre Acflio está sempre a dizer: -Não se mandam pedras a ninguém e a nada que a gente não sabe onde vão bater as pedras.

Ontem foi o Tiago para o hospital coser a testa com três pontos. Hoje, o Fábio Trancolino.

O António é sempre o mais atrevido. Ati rou-l he com uma pedra, fez-lhe uma ferida na cara e um corte na sobrancelha de cima. Dores, despesas e traba­lhos, tudo por falta de juízo do António que já tem nove anos!

D ISTRIBUIÇÃO D'O GAI ATO - É sempre um quebra-cabeças! Há semanas ..

Grupo pronto a avançar para a cidade de Malanje - Angola.

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2 de DEZEMBRO de 2000

Cartas Estou longe .. .

«Continuo a receber as vossas notícias; é maravi­lhosa a leitura d'O GAIATO que tanto nos traz ... ! Leio e releio o Jor­nal e queria estar mais perto para vos ajudar.

Como gostava de assistir a uma das vossas Festas ... ! Estou longe, em Benoni (África do Sul), não vou na altu ra em que as fazem. Contento-me com a leitura dos vossos escritos - que me encantam. Queria que todos lessem e meditassem;

e, assim, seria a preparação de um mundo melhor.

Junto uma gota de água para onde houver mais sede ...

Assinante 18754>>

Mãe de três filhos

<<Há poucos dias, deram--me o vosso Jornal que li

. com atenção porque gosto muito de o ler. Sou casada, mãe de três filhos maravi­lhosos porque as crianças são a co isa mais preciosa - se as soubermos tratar. Têm de ser tratadas com

PENSA.IVIEN'TCJ

O Evangelho amaldiçoa o mundo. Cristo Jesus não manda orar pelo mundo, mas somente pelos que nele vivem.

um distribuidor inventou um assalto. - Fui assaltado, dizia o rapaz. Só que depois aparece­ram coisas· em vários sftios, dinheiro achado e mais coisas.. Veio depois a descobrir-se que o assalto foi uma invenção. Os companheiros foram chamados a contas e encontrou-se muita avaria. Agora, as coisas andam bem. Vamos a ver até quando.

PRENDAS - Os distribui­dores do nosso Jornal trazem prendas que os Amigos lhes dão. Acontece que, às vezes, não se trata de prendas mas de compras com o dinheiro do Jor­nal. - Então, como se resolve o problema? - É fácil: Ao recebe~ uma prenda cada um pede ao seu Amigo( a) que escreva um papel a dizer que deu isto a fulano. O rapaz traz a prenda e q documento. Assim, vivemos todos em paz.

PAI AMÉRICO

muito amor, muito carinho; por isso, gostaria de come­çar a receber O GAIATO.

Assinante 61925»

Obrigado

<<Obrigado por existirem como Obra. Nunca percam o entusiasmo.

Rezem por mim e pela minha família para que sejamos sãos de corpo e de alma, felizes e simples.

Assinante 60864»

Oh delicadeza!

«Envio: dois pares de sapatos, duas saias e um vestido de Vérão.

É Úido muito limpo. Eram de meu próprio uso. Só que eu perdi a.. . 'elegância', e agora nada me serve.

Como está tudo em muito bom estado, não enderecei para a Conferência Vicen­tina, pois talvez faça jeito a esposas ou familiares de gaiatos que necessitem, e que estejam mais ·em con­tacto convosco, e que saí-

bam cuidar melhor desta roupa.

Contudo, o vosso critério prevalecerá.

Uma Maria do Porto>>

Faml1ia numerosa

<<Há cinquenta anos que leio o vosso jornal, p ois tenho assinatura.

Quando surgem despesas inadiáveis falto com o meu dever de vos escrever men­salmente.

Os oitenta e quatro anos, pouca saúde e uma família numerosa, às vezes, levam­-nos a descurar as nossas obrigações.

Assinante 16123>>

Um recorte

<< Junto um recorte do Património do s Pobres, publicado n'O GAIATO, de 4 -12-99, para que, mais facilmente, possam situar a família em que o marido e pai sofre de tuberculose e tem de trabalhar para

FUTEBOL _; Não sei se foi pela Escola Primária, se por quem, o que sei é que há.quatro treinadores· para os pequenos da Primária. Vêm aos sábados, às três da tarde. É um cada sábado. Juntam os pequenos no campo de futebol. Fazem-nos COtTer e, depois, jogam. Nem todos engi'e­nam. Alguns gozam e o treina­dor vê-se à rasca com os miúdos.

Casa do Gaiato de Benguela: Reco lha do a lgodão.

SALEIROS - Os carpin­teiros fizeram sete saleiros de madeira para o gado. Encaixa­ram-nos muito bem nos corre­dores e, agora, põe-se um ba lde de sa l e m cada s a le iro. As vacas e as vite las e os bo is quando lhes apetece vão ao· sa leiro comer sa l. É mui to bonito ver o gado a lamber a boca depois de lamber o sal. De seguida, vão beber água nos bebedouros. A nossa vacaria está cada vez mais bonita !

ELEIÇÕES - Houve na casa dois. O chefe foi para a Universidade e só vem ao fim­-de-semana; ou, quando tem semes tre , só de qui nze e m quinze dias. O Osvaldo que o subst ituía, é cozinhe iro num restaurante e só está em C:asa de manhã. À noite, só no dia da sua folga à segunda-feira. A

mal ta ficou à deriva na casa dois . Juntaram -se todos , ao serão, e vá de eleger um chefe e apresentá-lo ao Padre Acflio.

Foi o Ricardo Félix quem teve mais votos. A seguir, o Zé C:us­tódio; e, depois, o <<Robocopo».

Agora, a casa dois tem um chefe e dois sub-chefes. Para­béns aos eleitos. Não tenham medo de assumir as responsa­bilidades!

IBRAIM - É dos mais reguilas cá em C:asa! Não gosta do traba lho e, por isso, anda sempre em g ue rra com os outros. J á tem treze anos. Era para ser mais homem. Mas não. Às vezes, lá vem um dia ou outro em que a vida lhe corre melhor, mas são raros os dias.

Anda com um a fer ida no joelho e a D. Isaura a tratá-lo. Quem tJnha sempre de chamar o doente para

1o curativo era a

senhora. E la aborreceu-se e deixou de o chamar. A ferida fez crosta e estava quase boa. À mesa , Ibraim começou a arrancar a crosta com as unhas.

- Não faças isso, Ibraim! Olha que, depois, pode infec­tar!, dizia-lhe o chefe da mesa.

De propósito, arrancou e a ferida infectou!

Era vê-lo a chorar, de vo lta de D. Isaura, com a perna esti­cada a pedir que o levassem ao hospital. Parecia que o rapaz tinha partido o joelho, tão alei­jado se fazia! A senhora tratou­-o. Esteve na sa linha das senhoras dois dias. Meteu uma embalagem de tuli c reme nas cuecas. Foi posto na rua, da · sal inha para fora , e ficou logo bom da perna. Agora, corre que nem um galgo ! Deve ter sido o tulicreme que o curou.

Repórter zero

I lAR DO PORTO I C:ONFERÊNCIA DE S .

FRANCISCO DE ASSIS - Os gémeos já nasceram.

. Felizmente correu tudo bem, apesar de ter sido um parto pre­maturo. Agora, são mais duas boquinhas para ajudar. Os pais estão nidiantes e reconhecem qu e as s uas vidas têm de

mudar, uma vez que os encar­gos vão aumentar.

Esperamos que a mãe con­siga amamentar as meninas com o seu leite, senão teremos de aj udar na compra do enlatado - muito caro! Iremos, também, saber dos seus direitos na Segu­rança Social porque temos consc iência de que muitos Pobres desconhecem que têm direitos que nunca usufrufram.

Temos outra Pobre que espera bebé, para b reve. É famflia mui to carenciada com três fi lhos. Ele e ela são um pouco desequilibrados, mas os vicentinos têm feito tudo o que está ao seu alcance para os encaminhar. As crianças estão num infantário durante o dia. Pelo menos, assim ; te mos a certeza de que são alimentadas.

Outra famflia: urna mãe com três filhos , dois do primei ro casamento e o terceiro de outro companheiro. Nenhum deles a ajuda no sustento das crianças e, por isso, a senhora está com bastantes dificuldades, uma vez que tem de pagar a renda da casa, também. Trabalh a em limpezas, mas não é o s ufi ­ciente. Recorreu à assistente

O GAIAT0/3

Calvário Continuação da página 1

caminhos a percorrer. E sente-se tantas vezes per­dido na floresta humana em que vagueia.

A razão maior desta insatisfação resulú! disto mesmo: do corte com o passado. Os jovens não acei­tam o seu passado, nem querem jamais o regresso ao passado. Mas sem ele não temos identidade sequer. Houve coisas máS que explicam os nossos males; mas houve coisas muito boas, certamente, de que podemos e devemos usufruir o proveito.

É, pois; bom regressar à criança que fomos para encontrarmos o lado bom e são da nossa vida.

As rosas derramam orvalho pela manhã, mas ao longo do dia transpiram, no colorido das pétalas, a seiva que sugam das raízes da planta.

angariar o sustento do seu agregado.

É a esS'a família que, em princípio, se destina o donativo que remeto.

Agradeço que o encami­nhe para essas pessoas. Deixo, no entanto, ao seu

social da zona onde vive e à Junta d e F reguesia. Só que esta, disseram, não tem verba! Será possível?

Nós n ão recebemos os Pobres e m gabinetes porque não os temos; o nosso trabalho - vo lun tário - é ir a casa deles constatar os seus proble­mas e carências. Temos de ter a certeza que não estamos a ali­mentar vícios e, mesmo assim, às vezes, somos surpreendidos.

Aproxima-se o Natal. Esta­mos todos num perfodo difíci l, mas contamos com a vossa ajuda, a fim de podermos pro­porcionar aos mais carenciados um dia di ferente.

-Sabemos que todos os dias são importantes, em suas vidas, mas não nos podemos esquecer de que temos de assegurar sub­sistência a estas famflias.

CAMPANHA TENHA O SEU POBRE - Assi nante 67314, carrinho duplo para as

Padre Baptista

critério a possibilidade de dar àquela quantia outro destino que enten­da mais conveniente. Peço ao Senhor por todos os que trabalham na Obra da Rua.

Assinante 68659>>

gémeas, mais um cheque. Assi­nante 20185, um c heque. Amiga, do C:entro Paroquial de S. Lázaro, 1.000$00. Monção, cheque de 2.000$00. Assinante 92 17, 10.000$00. Assinante 24608, I 0.000$00. Amiga, de Fiães, o donativo habÜual. Assinante 14708, cheque de 10.000$00. Anónima, 5.000$00.

Todos os confrades agrade­cem as vossas palavras amigas. E bem hajam. ·

Conferência de S. Francisco de Assis - R. D. João IV, 682 - 4000-299 Porto.

Casal vicentino

Tiragem média d'O GAIATO, por edição,

no mês de Novembro, 64.700 exemplares.

RETALHOS DE VIDA

Mário Eu sou o Mário Fernan­des da Si lva, natural de Alhandra, perto de Vila Franca de Xira. Tenho treze anos. Ando no sex­to ano do Ensino Básico. Vim para a Casa do Gaiato de Miranda do Corvo porque não sabia do meu pai, nem sequer o conhe­cia, e a minha mãe não tinha possibilidades para me ter em casa. Tenho ainda mais três irmãos que também estão comigo, na Casa do Gaiato. Quando vim para aqui, a malta acolheu-me muito bem. Senti vontade de ficar, como fiquei, nesta Casa tão bonita, para eu aprender ... a ser um homem. Logo de manhã vou para a Escola, estudar. Gosto muito de estar nesta Casa! O que eu mais desejaria ser, quando for maior, seria camionista ou condutor de maquinaria.

Márió Fernandes da Silva

Page 4: TRIBl!JNA CE COIMBRA Peregrinar - 02.12.2000.pdfA experiência bíblica é um referencial absoluto. De Abraão, o Grande Peregrino de Deus, até Jesus de Nazaré, há uma tensão histórica

4/ O GAIATO

~-Ei __ .: __ -r_LJ_-__ Ei __ ~ __ L ______________ ~I · o levar, que «ele era aqui maltratado». Claro que não deixei.

2 de DEZEMBRO de 2000

andar daquele edifício novo de Lisboa? ... -Um Doutor do Instituto de Reinserção Social d~ Setúbal.

«Sànt1ago» Não fossem os rapazes, eu teria levado

pancada e o menino abalaria. Por alturas do passado Natal, a mãe com a

mesma companhia mais um indivíduo com fama de aliciador de crianças para a prosti­tuição, roubaram-no durante um recreio sem que déssemos fé.

Deslocou-se para interrogar a criança na presença de duas magistradas e uma escrivã, num gabinete fechado, sós com o menino.

Assustadíssimo, o Sandro não fez mais que chorar.

OLHAR para o rapaz com o olhar (( de Jesus» escreveu o Padre

Assim costumo começar uma afeição individual e singular por cada rapaz. Esqueci tudo! ... Desvairado, fui prà Sei­

xal. Com D. Maria do Carmo socorremo­-nos da Polfcia, e vinte e quatro horas de­pois, o menino estava em nossa Casa. Sedu­ziram-no. Puseram-no a conduzir um auto­móvel. <<Eu já sei guiar um carro!», contava-me o «Santiago». ·

-Então que te preguntaram?- indaguei à sua chegada ao pé de mim.

Américo e m momentos de angústia· lúcida. É o maior compromisso que alguém pode assumir! É o melhor método pedagógico. Deste olhar nasce a natureza de uma Casa do Gaiato, a qual não se confunde, de forma alguma, com qualquer «instituição».

O seu nome é Sandro Tiago. Como falava depressa, à maneira de criança, o som da sua encantadora boca chegava aos nossos ouvidos- «Santiago».

É um apelido tão lindo que nos caiu mais facilmente no coração.

- Se me batia com um pau, se me dava jejum a pão e água e mais coisas.

A gente fica incomodado! Uma criança é uma criança ! ... O que ela

diz tem sempre e somente a sua medida. Mas dói! ...

O «Santiago» veio do Seixal, trazido pela D. Maria do Carmo, com a aflição do Pároco.

Alegre, mexido, sempre bem disposto, tem a simpatia de todos.

O auto da Polícia foi para o Tribunal e lá estamos nós nas mãos da Justiça!

Até penso que as pessoas não agem por mal! Não sentem! .. . No cumprimento da sua suposta missão não intuem o mal que fazem.

Com cinco anos, vinha de fraldas. A sua cor macilenta denunciava uma profunda ane­mia provocada pela fome sofrida até então.

Agora, anda radiante por frequentar tam­bém a Academia de Dança Contemporânea de Setúbal.

Onde eú me fui meter! ... Aparece o Instituto de Reinserção Social

a querer ouvir a criança sozinha, e eu a dizer que não. Só na minha presença.

Trabalho e amo unicamente por amor da criança desamparada onde mora Jesus, meu Senhor e Patrão. As forças do Estado que assim nos tratam, destroem a sua autoridade e exibem a sua força.

Com esta idade, aqui em Casa, o menino não vai usar fralda - disse à sen hora enquanto o recebia.

Se acontecer sujar-se, a gente lava-o. Quinze dias depois tinha o intestino nor­

malizado e um mês após, nem na cama se molhava.

Tinha connosco um irmão, o Luís Amaro, que fugiu de cá muitas vezes. A pedido do Pároco ai nda experimentou a Casa do Gaiato de Lisboa de onde também fugiu várias vezes, sem que tivesse terminado o sexto ano de escolaridade.

Sinto um dever quase natural de o defen­der. Foi para isso que tomei sobre mim, há mais de quatro décadas, os filhos dos Pobres, sem qualquer ganho que não seja Deus.

Tenho tão má experiência desta intromis­são que nos nivela a qualquer centro ou colégio do Estado.

Que hei-de fazer quando a pedido da autoridade judicial os agentes da Segurança Social me pedem para acolher uma criança ou dezenas delas maltratadas? Ninguém lhe valeu, nem a ele nem a nós.

Comeu muito tempo a meu lado, à mesa, para se adaptar a mim e eu a ele. Para vigiar a sua alimentação e forçar um pouco o seu pequenino estômago.

Fic.ou por lá, à deriva. Há dias, foi visto por um distribuidor d'O GAIATO, num café de Setúbal. Em meados de noventa e o ito, a mãe com o padrasto e o referido irmão acer­caram-se do «Santiago» com a intenção de

O Tribunal de Família e Menores de Lis­boa mandou-me chamar, e ao Sandro Tiago.

Lá fomos de boa fé. Surpreendido, quem encontro no sétimo

Nós que não temos nem queremos acor­dos com o Estado e, nesta Casa j á fizemos de crianças da rua mais de mil homens, rei­vindicamos, pelo menos, o seu respeito.

Padre Acílio

Continuação da página 1

que, procurada prioritariamente, sempre trará tudo o mais por acréscimo». Foi o Senhor Jesus que o disse e o Evange­lho guarda.

*** Vem isto a propósito de um documento recebido da

União das IPSS que me deu particular alegria porque, em

DOUTRINA

Obreiros do Evangelho

OCUPADO com os trabalhos do pequeno Jornal que ora corre mundo- O GAIATO- mal

tenho tempo de lançar mão da caneta e escrever estas mal notadas linhas. Vou ser breve. Não é nada fácil, mesmo nada, encontrar forma de variar·quando se fala de um mesmo assunto, há uma dezena de anos; e eu venho a bater na mesma nota há um ror de tempo.

ESTE domingo que vem, conto subir ao altar da igreja da Imaculada Conceição, de onde

o meu colega Padre Matos Soares tem tirado a pedra da sua formosíssima igreja. Quem havia de dizer? - pedreiros num altar! São filões divinos. É necessária muita audácia para os explorar; dinheiro não basta!

ELE há obreiros que só dão começo depois do dinheiro em caixa; e há obreiros que começam

sem dinheiro para terem sempre dinheiro. São os obreiros do Evangelho. João Bosco. tinha um pataco quando começou a igreja de Maria Auxiliadora. Pois eu vou também buscar um carro de pedra ao Mar­quês para as obras da Casa do Gaiato - e deixar mais pedra. As Missas do meio-dia e da uma hora são as escolhidas para os nossos trabalhos. Até lá.

P.S. - O Padre Abílio, do Bonfim, permite que eu vá dar um recado aos seus paroquianos, no dia de S. José, às Missas das 11 horas e meia hora. E eu desejo ir dá-lo.

~· .r,/ (Do livro Pão dos Pobres - 4.• vol.)

O Ser e o Fazer Social vez de números e tabelas, traz doutrina e um alerta impor­tante: «Decididamente, temos de saber ler estes 'sinais' e promover um debate aprofundado sobre o nosso ser e fazer Social».

compromisso da viabilidade de cooperação com o Estado, em alternativa à prossecução das finalidades estatutárias de forma independente e sem qualquer recurso ao erário público.» ·

Este advérbio «decididamente» significa um portanto a concluir de premissas expostas no texto que, por longo, não transcrevo, mas resumo: <<A apetência dos defensores de uma maior estatização»; e uma campanha insidiosa de enti­dades tradicionais na oposição à Igreja- e como a grande maioria das IPSS tem raízes eclesiais ... !

Mas há dois parágrafos deste documento que não me privo de citar em ordem ao «convite» que o documento faz <<a um debate interior no seio de cada Instituição» sobre o seu «Ser e Fazer Social»:

2 - <<Uma leitura atenta e criteriosa dos 'sinais dos tempos' leva-nos a admitir que, eventualmente, talvez tenhamos de ser cada vez menos actores sociais e gestores de equipamentos, para nos tornarmos cada vez mais pro­motores de solidariedade, seguindo o lema: menos acção directa ... mais movimento social!»

1 - «Julgamos que se torna urgente encetar em cada Instituição um processo de reflexão interna sobre a sua própria identidade, orientado de modo particular para o

Penso que sim, que será bem ... Como aceito igualmente quão «difícil é o dilema» que se põe, pois, <<Se é relativa­mente fácil falar sobre a pobreza em abstracto, custa muito passar ao Lado do Pobre em concreto sem lhe dar a mão!»

Padre Carlos

PATRIMÓNIO DOS POBRES

Fazer tanto com tão pouco!· G

UIADOS pelo Pároco, fomos vis itar uma família pobre que, vivendo do seu traba­

lho, tem vindo ao longo dos anos a melhorar a sua casa. A placa que serve de te lhado da habitação, cada Inverno que começa, leva um pequeno arranjo, de modo que a humidade não penetre para o interior. Mas, este ano, está pior: tem sido um mudar constante da posição das camas, pois o pingar da água no interior dos quartos, leva a família a procurar proteger-se.

Vão procurando soluções para reme­diar, mas não conseguem melhorar a situação.

Foi a mãe das três crianças que são a prole do casal, que nos foi mostrar tudo. A tosse que amiudadas vezes a atacava, dizia-nos que naquela humida­de não podia haver saúde. E como pode ser fácil remediarmos esta situação?!

O marido, trabalhador da construção civil, veio depois falar connosco. Tam­bém ele estava agora de baixa, mos-

trando claros sinais de andar engripado. Estive para lhe perguntar porque não havia ainda feito o telhado, mas vendo o trabalho que já fizera e as condições do ambiente, não tive coragem.

Dissemos-lhe para fazer a relação do material necessário para cobrir a casa. Ele aplicá- lo-á, ajudado por com­panheiros e_ familiares. O Pároco levou a lista e deixou-a num comerciante que entende o negócio que estamos a fazer.

Pode-se fazer tanto com tão pouco! Daqui a poucas semanas, esperamos

ver ao longe, na encosta, o reflexo da cor laranja das telhas no fundo verde da natureza! E saber que aqueles cinco irmãos nossos, já vão poder passar a noite descansadamente, sem terem de andar a meio do sono a levantar-se e a refugiar-se das pingas da água da chuva que, para todos, devia ser doce cantar.

*** Queremos dar-te a a legria de q ue

aquela famílih que tanto te inquietou,

porque não ti nha com que pagar o terreno que' adquirira e continua a braços com a doença de quem era o ganha-pão fami liar, j á começou a tratar do processo de autorização de construção da s ua casa. Daqui a algum tempo, os alicerces hão-de ser lançados à terra e a casa começará a ver-se.

Com o Pároco, estivemos a falar do futuro e a ver que na situação presente, em casa dominada por humidades tan­tas, tem a doença campo largo por onde grassar.

*** Fomos também ver a situação da

o utra mãe e seus doi s filhos, cuj o marido continua dependente do álcool, a dar voltas e mais voltas à sua pequena casa, até que estejam terminados os tra­balhos das obras e o aconchego possa melhorar as condições de vida. Mãe­-coragem, podemos dizer!

Padre Júlio