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Polícia 18 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, QUINTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2014 FALE COM A EDITORA GIOVANNA SANTOS E-MAIL: [email protected] FOTOS: FÁBIO NUNES/AT ENGANOU BANCOS, PREFEITURA E DETRAN Falso empresário usava 7 nomes Hélio Pereira Júnior teve golpes descobertos após retirar, com documentos falsos, carro clonado do pátio do Detran. Ele foi preso Victor Duarte Tais de Hollanda S ete nomes, um carro com placa clonada e uma vida tranquila na Praia do Suá. Era assim que vivia o estelionatário foragido Hélio Pereira Júnior, de 50 anos, acusado de enganar ban- cos, o Detran-ES e uma prefeitura. Ele é suspeito de ter lucrado mais de R$ 300 mil aplicando golpes. Conforme o delegado Aldair dos Santos Pimentel, da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), Hélio usava os nomes fal- sos para abrir empresas e conse- guir empréstimos bancários. Pimentel contou que o acusado, que foi apresentado ontem, após ser preso na segunda-feira, usou carteira de identidade, compro- vante de residência e uma cópia do documento do veículo clonado, to- dos falsificados, para retirar um Siena prata, que foi recolhido para um pátio, em Cariacica. “Ele parou em local proibido no dia 18 de outubro e, no dia 30, foi ao pátio retirar o carro, usando docu- mentação falsificada. Ele assinou a declaração de retirada do carro e pagou R$ 132. O veículo estava com a placa clonada e o chassi adultera- do”, contou o delegado. As investigações começaram de- pois que o verdadeiro dono do car- ro, um pastor, recebeu a notificação da multa. O acusado disse que o carro clonado, que foi roubado em 2012, em Belo Horizonte, foi adqui- rido em Vitória, por R$ 15 mil. Com o endereço do comprovan- te apresentado por Hélio ao De- tran-ES, os policiais começaram a rastreá-lo. “Fomos ao local onde morava e descobrimos o nome do filho dele. Pelas redes sociais, nós conseguimos identificá-lo, prepa- ramos um cerco e o prendemos na saída do prédio onde ele mora, na Praia do Suá, Vitória”, contou Pi- mentel. Os nomes que Hélio usava eram: Hélio Pereira Schutz Junior; Hélio Schutz; Hélio Pereira Schutz; Hé- lio Pereira; Robson Castelo Ramos; Robson Almeida da Silva e Patrick dos Anjos Santos. Hélio Pereira Schutz Junior é o nome de casado do acusado, que adotou o sobrenome da mulher pa- ra despistar a Justiça. Ele confes- sou os crimes e vai responder por receptação, adulteração de placa e chassi e uso de documentos falsos. PASTOR QUE TEVE O CARRO CLONADO “Tem de pagar pelo que fez” Um pastor de 62 anos, que des- cobriu por meio de multas de trân- sito que teve o carro, um Siena pra- ta, clonado, e ainda por cima que um estelionatário se passou por ele para retirar o veículo adultera- do do pátio do Detran-ES, conver- sou com a reportagem de A Tri- buna. A TRIBUNA – Quando o senhor comprou o carro? PASTOR – Comprei o Siena pra- ta de segunda mão com um reven- dedor de carros no dia 8 de maio, para o meu filho que mora comigo. Mas está no meu nome por conta de aprovação de crédito bancário. > E quando o senhor notou que tinha algo errado com o veí- culo comprado? Depois que eu comecei a rece- ber quatro multas em dias, horá- rios e locais que meu filho não es- teve. Uma delas foi em Cachoeiro de Itapemirim. E olha que nunca estivemos nessa cidade! Na última dizia que meu carro tinha sido guinchado, foi quando descobri- mos a clonagem. > Quais providências tomou? Procurei a delegacia e ainda tive o desprazer de descobrir que para tirar meu carro do pátio, o crimi- noso usou um documento falso com o meu nome. Eu até perdoo ele por esse crime, mas ele tem de pagar pelo que fez. TAIS DE HOLLANDA VÍTIMA mostra multas que recebeu Sete empresas fantasmas O estelionatário Hélio Pereira Júnior, 50 anos, preso acusado de aplicar golpes e usar nomes falsos, usava sete empresas fantasmas pa- ra conseguir empréstimos bancá- rios. Segundo a Polícia Civil, ele tem uma dívida de mais de R$ 300 mil em diferentes bancos. De acordo com o delegado Al- dair dos Santos Pimentel, Hélio abria a empresa com um nome fal- so e firmava contratos entre ele e estabelecimentos comerciais. Des- sa maneira, conseguia altos valores de créditos nos bancos do Estado. “Ele tinha empresas de limpeza, produtos químicos, consultoria. Ainda não é possível informar se em alguma ele realmente prestava serviços, mas o objetivo era conse- guir dinheiro fácil com bancos e depois não pagar os empréstimos”. As empresas fantasmas são: Me- galimp Limpeza e Manutenção Predial; SN Produções e Eventos; Multicash Administradora de Con- vênios; Transmove Organização Mercantil; Solution Vix Serviços e Treinamentos; Prolimp Produtos Químicos e New Time Comércio. O delegado descobriu que em um dos bancos ele tinha R$ 170 mil em crédito. “Estou com essa carta de crédito em mãos”. Em 2010, Hélio foi condenado por estelionato a cinco anos e sete meses de prisão. Desde então, ele era foragido da Justiça. Ação na Justiça para receber R$ 280 mil de prefeitura Através de uma das empresas fantasmas, Hélio Pereira Júnior conseguiu fechar um contrato com a Prefeitura de Iconha. O va- lor cobrado pelo serviço seria de R$ 280 mil, e o acusado acionou a Justiça para receber o valor. O delegado Aldair dos Santos Pi- mentel não soube dizer se o golpis- ta realizou o trabalho. “O contrato foi de 2006 a 2008. Ele precisou mover uma ação para receber. O juiz decidiu pela antecipação da tu- tela, obrigando a prefeitura a adian- tar o pagamento de R$ 110 mil”. Após a decisão, o juiz teve de responder à Corregedoria, pois, segundo Pimentel, foi comprova- do que a garantia oferecida por Hélio ao município para fechar o contrato não era verdadeira. “Hélio deu como garantia a es- critura de um terreno na Bahia – que era falsa. O juiz foi afastado”. A Prefeitura de Iconha foi pro- curada às 14h42 de ontem, mas o chefe de gabinete informou que o horário de atendimento à impren- sa é até as 13 horas e que, por isso, só se pronunciaria hoje. Sem distinção Procurado pela reportagem de A Tribuna, o Detran-ES escla- receu que não há como o pátio credenciado constatar a falsida- de de documentos apresenta- dos por motoristas, tendo os do- cumentos, nesse caso, sido in- clusive aceitos em instituições financeiras e cartórios. O OUTRO LADO DELEGADO Pimentel: investigação 171 NOME VERDADEIRO: HÉLIO PEREIRA JÚNIOR GOLPISTA NOMES OBJETIVO MAS ELE TAMBÉM USAVA: 1. HÉLIO PEREIRA SCHUTZ JÚNIOR 2. HÉLIO SCHUTZ 3. HÉLIO PEREIRA SCHUTZ 4. HÉLIO PEREIRA 5. ROBSON CASTELO RAMOS 6. ROBSON ALMEIDA DA SILVA 7. PATRICK DOS ANJOS SANTOS O que é um 171? O termo é po- pularmente utili- zado para pes- soas que come- tem crimes de estelionato, que se encaixam no artigo 171, do Có- digo Penal, que tipifica o delito: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al- guém em erro, mediante artifí- cio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulen- to”. CARRO clonado e documentos falsificados que foram apreendidos no apartamento de Hélio, na Praia do Suá “Conseguir dinheiro fácil com ban- cos e não pagar”, diz delegado

Tribuna 20 11

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Pol í c i a18 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, QUINTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2014

FALE COM A EDITORA GIOVANNA SANTOS E-MAIL: [email protected]

FOTOS: FÁBIO NUNES/AT

ENGANOU BANCOS, PREFEITURA E DETRAN

Falso empresário usava 7 nomesHélio Pereira Júniorteve golpes descobertosapós retirar, comdocumentos falsos,carro clonado do pátiodo Detran. Ele foi preso

Victor DuarteTais de Hollanda

Sete nomes, um carro complaca clonada e uma vidatranquila na Praia do Suá.

Era assim que vivia o estelionatárioforagido Hélio Pereira Júnior, de50 anos, acusado de enganar ban-cos, o Detran-ES e uma prefeitura.Ele é suspeito de ter lucrado maisde R$ 300 mil aplicando golpes.

Conforme o delegado Aldair dosSantos Pimentel, da Delegacia deFurtos e Roubos de Veículos(DFRV), Hélio usava os nomes fal-sos para abrir empresas e conse-guir empréstimos bancários.

Pimentel contou que o acusado,que foi apresentado ontem, apósser preso na segunda-feira, usoucarteira de identidade, compro-vante de residência e uma cópia dodocumento do veículo clonado, to-dos falsificados, para retirar umSiena prata, que foi recolhido paraum pátio, em Cariacica.

“Ele parou em local proibido nodia 18 de outubro e, no dia 30, foi aopátio retirar o carro, usando docu-mentação falsificada. Ele assinou adeclaração de retirada do carro epagou R$ 132. O veículo estava coma placa clonada e o chassi adultera-do”, contou o delegado.

As investigações começaram de-pois que o verdadeiro dono do car-ro, um pastor, recebeu a notificaçãoda multa. O acusado disse que ocarro clonado, que foi roubado em2012, em Belo Horizonte, foi adqui-

rido em Vitória, por R$ 15 mil.Com o endereço do comprovan-

te apresentado por Hélio ao De-tran-ES, os policiais começaram arastreá-lo. “Fomos ao local ondemorava e descobrimos o nome dofilho dele. Pelas redes sociais, nósconseguimos identificá-lo, prepa-ramos um cerco e o prendemos nasaída do prédio onde ele mora, naPraia do Suá, Vitória”, contou Pi-mentel.

Os nomes que Hélio usava eram:Hélio Pereira Schutz Junior; HélioSchutz; Hélio Pereira Schutz; Hé-lio Pereira; Robson Castelo Ramos;Robson Almeida da Silva e Patrickdos Anjos Santos.

Hélio Pereira Schutz Junior é onome de casado do acusado, queadotou o sobrenome da mulher pa-ra despistar a Justiça. Ele confes-sou os crimes e vai responder porreceptação, adulteração de placa echassi e uso de documentos falsos.

PASTOR QUE TEVE O CARRO CLONADO

“Tem de pagar pelo que fez”Um pastor de 62 anos, que des-

cobriu por meio de multas de trân-sito que teve o carro, um Siena pra-ta, clonado, e ainda por cima queum estelionatário se passou porele para retirar o veículo adultera-do do pátio do Detran-ES, conver-sou com a reportagem de A Tri-buna.

A TRIBUNA – Quando o senhorcomprou o carro?

PASTOR – Comprei o Siena pra-ta de segunda mão com um reven-dedor de carros no dia 8 de maio,para o meu filho que mora comigo.Mas está no meu nome por contade aprovação de crédito bancário.

> E quando o senhor notouque tinha algo errado com o veí-culo comprado?

Depois que eu comecei a rece-ber quatro multas em dias, horá-rios e locais que meu filho não es-teve. Uma delas foi em Cachoeirode Itapemirim. E olha que nunca

estivemos nessa cidade! Na últimadizia que meu carro tinha sidoguinchado, foi quando descobri-mos a clonagem.

> Quais providências tomou?Procurei a delegacia e ainda tive

o desprazer de descobrir que paratirar meu carro do pátio, o crimi-noso usou um documento falsocom o meu nome. Eu até perdooele por esse crime, mas ele tem depagar pelo que fez.

TAIS DE HOLLANDA

VÍTIMA mostra multas que recebeu

Sete empresas fantasmasO estelionatário Hélio Pereira

Júnior, 50 anos, preso acusado deaplicar golpes e usar nomes falsos,usava sete empresas fantasmas pa-ra conseguir empréstimos bancá-rios. Segundo a Polícia Civil, eletem uma dívida de mais de R$ 300mil em diferentes bancos.

De acordo com o delegado Al-dair dos Santos Pimentel, Hélioabria a empresa com um nome fal-so e firmava contratos entre ele eestabelecimentos comerciais. Des-sa maneira, conseguia altos valoresde créditos nos bancos do Estado.

“Ele tinha empresas de limpeza,produtos químicos, consultoria.Ainda não é possível informar seem alguma ele realmente prestavaserviços, mas o objetivo era conse-guir dinheiro fácil com bancos edepois não pagar os empréstimos”.

As empresas fantasmas são: Me-galimp Limpeza e ManutençãoPredial; SN Produções e Eventos;Multicash Administradora de Con-vênios; Transmove Organização

Mercantil; Solution Vix Serviços eTreinamentos; Prolimp ProdutosQuímicos e New Time Comércio.

O delegado descobriu que emum dos bancos ele tinha R$ 170mil em crédito. “Estou com essacarta de crédito em mãos”.

Em 2010, Hélio foi condenadopor estelionato a cinco anos e setemeses de prisão. Desde então, eleera foragido da Justiça.

Ação na Justiçapara receberR$ 280 milde prefeitura

Através de uma das empresasfantasmas, Hélio Pereira Júniorconseguiu fechar um contratocom a Prefeitura de Iconha. O va-lor cobrado pelo serviço seria deR$ 280 mil, e o acusado acionou aJustiça para receber o valor.

O delegado Aldair dos Santos Pi-mentel não soube dizer se o golpis-ta realizou o trabalho. “O contratofoi de 2006 a 2008. Ele precisoumover uma ação para receber. Ojuiz decidiu pela antecipação da tu-tela, obrigando a prefeitura a adian-tar o pagamento de R$ 110 mil”.

Após a decisão, o juiz teve deresponder à Corregedoria, pois,segundo Pimentel, foi comprova-do que a garantia oferecida porHélio ao município para fechar ocontrato não era verdadeira.

“Hélio deu como garantia a es-critura de um terreno na Bahia –que era falsa. O juiz foi afastado”.

A Prefeitura de Iconha foi pro-curada às 14h42 de ontem, mas ochefe de gabinete informou que ohorário de atendimento à impren-sa é até as 13 horas e que, por isso,só se pronunciaria hoje.

Sem distinçãoProcurado pela reportagem

de A Tribuna, o Detran-ES escla-receu que não há como o pátiocredenciado constatar a falsida-de de documentos apresenta-dos por motoristas, tendo os do-cumentos, nesse caso, sido in-clusive aceitos em instituiçõesfinanceiras e cartórios.

O OUTRO LADO

DELEGADO Pimentel: investigação

17 1NOME VERDADEIRO:

HÉLIO PEREIRA JÚNIOR

G O L P I STA N O M ES O BJ E T I VO

MAS ELE TAMBÉM USAVA:1. HÉLIO PEREIRA SCHUTZ JÚNIOR2. HÉLIO SCHUTZ3. HÉLIO PEREIRA SCHUTZ4. HÉLIO PEREIRA5. ROBSON CASTELO RAMOS6. ROBSON ALMEIDA DA SILVA7. PATRICK DOS ANJOS SANTOS

O que éum 171?

O termo é po-pularmente utili-zado para pes-soas que come-tem crimes deestelionato, quese encaixam noartigo 171, do Có-digo Penal, quetipifica o delito:“Obter, para siou para outrem,vantagem ilícita,em prejuízoalheio, induzindoou mantendo al-guém em erro,mediante artifí-cio, ardil, ouqualquer outromeio fraudulen-t o”.

CA R R Oclonado edocumentosfalsificadosque foramapreendidos noapar tamentode Hélio, naPraia do Suá

“Conseguir dinheiro fácil com ban-cos e não pagar”, diz delegado