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1 o militante socialista Tribuna Livre da luta de classes Publicação Mensal 02 CGD: capitalização pública com gestão privada? 03 editorial: É preciso escolher! 04 incêndios: entrevista com um guarda-florestal 05 O que pretende Marcelo? 06 Mobilização e unidade sindical pelo trabalho docente com direitos 07 O mais recente debate do grupo de Oeiras 08 a história das internacionais operárias – 1ª parte 09 campanha contra a ocupação do Haiti guerra contra o Daesh? Ou massacre dos povos? 10 brasil: Mais do que nunca, fora Temer! 0 11 chile: Mobilização nacional contra os Fundos de Pensões privados 12 eUa: O que está em jogo nas eleições presidenciais 13 guerra na Síria: a responsabilidade das grandes potências 14 estado espanhol: O impasse para a formação de um governo parece não ter fim 15 Mais uma cimeira de crise do g20 16 76 anos após o assassinato de Trotsky Indice ? DiRecTOR: JOaQUiM PagaReTe aNO XViii (ii SÉRie) 124 20 De SeTeMbRO De 2016 1 eURO É preciso escolher: Um OE submetido às instituições europeias? Ou, um OE para salvar o povo e o País?

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o militantesocialista

Tribuna Livre da luta de classes

Publicação Mensal

02 CGD: capitalização pública com gestão privada?

03 editorial: É preciso escolher!

04 incêndios: entrevista com um guarda-florestal

05 o que pretende marcelo?

06 mobilização e unidade sindical pelo trabalho docente com direitos

07 o mais recente debate do grupo de oeiras

08 a história das internacionais operárias – 1ª parte

09 campanha contra a ocupação do Haitiguerra contra o Daesh? ou massacre dos povos?

10 brasil: mais do que nunca, fora temer!0

11 chile: mobilização nacional contra os Fundos de Pensões privados

12 eua: o que está em jogo nas eleições presidenciais

13 guerra na síria: a responsabilidade das grandes potências

14 estado espanhol: o impasse para a formação de um governo parece não ter fim

1 5 mais uma cimeira de crise do g20

16 76 anos após o assassinato de trotsky

Indice

?

Director: Joaquim Pagarete ano XViii (ii sÉrie) nº 124 20 De setembro De 2016 1 euro

É preciso escolher:Um OE submetido às instituições europeias?Ou, um OE para salvar o povo e o País?

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2 actualidade nacional >>>CGD: capitalização pública com gestão privada?Anunciada a liquidação de 2500 postos de trabalho e de 300 balcões

Ogoverno do PSanunciou, como umavitória, o resultado dasnegociações com aComissão Europeia,

relativamente àrecapitalização da cgD comdinheiros públicos e ao“Plano de reestruturação”associado.Além do PS, todos os partidospolíticos que o apoiam naAssembleia da República(PCP, BE e Verdes)consideram muito positivo queo Governo (do PS) tenhaconseguido:- convencer Bruxelas que arecapitalização da cgD nãoseja considerada uma ajuda deEstado (o que agravaria odéfice); - e manter a CGD, comobanco público, evitando a suaprivatização, assegurandoassim o interesse público.

recapitalizaçãopública… feita nointeresse de quem? Dointeresse público ou dointeresse privado?o Plano de recapitalizaçãoprevê, nomeadamente:

- a entrada de € 2.700milhões de capitais públicos ea emissão de €1.000 milhõesde “instrumentos de dívidacom elevado grau desubordinação”, a colocar juntode investidores institucionaisprivados (Fundos e Bancos);- a nomeação de umaAdministração executiva

o que irão fazer osdeputados da maioriaparlamentar (Ps, PcP ebe)?O que se espera dos deputadosdo PS, do PCP, do BE e dosVerdes é que defendam a CGDcomo banco efectivamentepúblico (e não aparentementepúblico) e proponham anomeação de umaAdministração comprometidacom o interesse público, e nãocom o capital financeiro e osgrandes interesses privados!

Pode um banco público,subordinado ao interessepúblico, ser gerido porrepresentantes do capitalfinanceiro e dos grandesinteresses privados?

Fechar 300 balcões (incluído110 agências em Espanha) edespedir 2500 bancários é anegação e o contrário dadefesa do interesse público.

O que se espera dos deputadosdo PS, do PCP, do BE e dosVerdes, em maioria naassembleia da república, éque rejeitem o Plano em cursoe impeçam qualquerdespedimento. n

Pedro Nunes

(1) De referir que os resultadoslíquidos positivos obtidos pelo BancoCaixa Geral (BCG), que atingiram25,3 milhões de euros, correspondema um aumento de 25,7% face aoperíodo homólogo de 2014.

constituída por ex-quadros doBPI (banco privado decapitais angolanos, detidospela família do presidente deAngola e pelo banco espanhol“La Caixa”), complementadapor um conjunto deadministradores nãoexecutivos (“consultivos”) daCGD, constituídos por,imagine-se (!),administradores executivos deempresas clientes do bancopúblico, nomeadamente daSonae, da Renova, da Sogrape,da Partex, do Grupo PSA, doGrupo Porto Bay, e do FundoMagnum (onde a CGD temunidades de participação),cujos interesses são claramenteconflituantes com os doBanco.

o Plano de “reestruturação”pretende que:

- em Portugal, se fechem 300balcões e se reduzam 2500postos de trabalho, o quesignifica despedimentos sob acapa de “rescisões amigáveis”ou de “reformas antecipadas”;- em Espanha, e porexigência da ComissãoEuropeia, a CGD feche as 110agências e despeça os actuais521 trabalhadores.

a defesa da finalidadepública da cgD éincompatível com osrepresentantes do capitalfinanceiro na sua gestãoPode-se falar de vitória,quando o resultado dasnegociações com a Comissão

Europeia se traduz na reduçãoforçada da actividade dobanco público, no fechocompulsivo de 300 balcões eno despedimento de 2.500bancários?

Pode-se falar de vitória,quando se abre a porta àentrada de dinheiro dosprivados na CGD, fazendodesta entrada uma condiçãopara efeitos do défice?Expliquemo-nos: a entradados €2700 milhões decapitais públicos e o seuimpacto no défice,dependerá da capacidade doestado / cgD conseguiremcolocar 500 milhões (metadedos 1000 milhões da dívidaaltamente subordinada) juntode Fundos e Bancos privados.Não se verificando essacolocação, o dinheiro públicoda recapitalização seráconsiderado uma “ajuda deEstado” e passará a contar parao défice. Esta é a razão que fazsuscitar tantas dúvidas àagência de “rating” DBRS:

“Até conseguirmosavaliar esse apetite dosinvestidores, será difícilavaliar o impacto paraas contas públicas”(Fonte: DBRS)

Acresce que a actividade dacgD passará, depois destarecapitalização, a seradministrada e escrutinadapor privados, com dinheirospúblicos. a privatização dagestão, dispensou aprivatização do capital.

A actividade internacional da CGD apresentou um contributo de 390,4 M€ para oresultado bruto de exploração do Grupo (+16,8%). Em termos de resultado líquido,destacam-se os contributos dos bancos do Grupo em Macau, França, Espanha e Angola.Em Espanha, o Banco Caixa Geral (BCG) superou todos os objectivos (1) consignadosno plano de reestruturação acordado pelo Grupo com a DGComp (Direcção daConcorrência da Comissão Europeia), o que permitiria assegurar a continuidade dapresença de um banco do Grupo CGD no mercado espanhol.

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ANO XVIII ( II Série ) nº 124 de 20 de Setembro de 2016 / Publicação do

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E d i t o r i a lFicha técnica

Tribuna livre impulsionada pelo POUS

o militantesocialista

Proprietário: Carmelinda PereiraNIF: 149281919

editor: POUS - Partido Operáriode Unidade SocialistaNIPC: 504211269

sede: Rua de Sto António da Glória, 52-B / cave C 1250-217 LISBOA

Nº de registo na ERC: 123029

Director: Joaquim Pagarete

comissão de redacção:Aires RodriguesCarmelinda PereiraJoaquim PagareteJosé LopesJosé Luz

impressão: Imaginação ImpressaRua Braancamp, 15A 1250-049 Lisboa

edição: 100 Exemplares

a nossa história:

O jornal “o militante socialista”nasceu em 1975, sob aresponsabilidade de militantes doPartido Socialista (PS),pertencentes às Coordenadorasdos núcleos de empresa,organizados na sua Comissão deTrabalho.Nasceu identificado com os ideais da Revolução do 25 de Abril, do socialismo e da democracia.Esses mesmos ideais continuarama ser assumidos pela corrente desocialistas afastados do PS, quefundaram o Partido Operário deUnidade Socialista (POUS), emconjunto com a Secção portuguesa da IVª Internacional.Em continuidade com os ideaisque presidiram à publicação dos primeiros “Militantes Socialistas”, o POUSimpulsiona actualmente estejornal, como tribuna livre da lutade classes, aberta a todas ascorrentes e militantes queintervêm democraticamente para defender as conquistas do 25de Abril.A defesa destas conquistas exige o desenvolvimento de uma acção política totalmenteindependente das instituiçõesligadas aos Estados, às religiõesou ao capital – e, por isso, a orientação de “O MilitanteSocialista” identifica-se com a doAcordo Internacional dosTrabalhadorese dos Povos.

É preciso escolher!degradação dos cuidados desaúde no SNS.” (Público,11/7/2016)

A justificação é sempre amesma. São os compromissoscom o FMI e a UniãoEuropeia!

Deve um Governo sujeitar umpovo e um País acompromissos e “regras”,quando elas conduzem àdeterioração de um serviçopúblico de transportes, aoponto de se canibalizaremoutras composições (paraobtenção de peças), ou àdegradação do SNS?

É preciso escolher!

O Banif, depois derecapitalizado com três milmilhões de euros do Eráriopúblico, foi entregue aoSantander, enquanto osemigrantes que neledepositaram as poupanças deuma vida de trabalho “ficarama arder”.

Para as instituiçõesserventuárias do capitalfinanceiro, a entrega de trêsmil milhões ao Santander nãoconstituiu qualquerconstrangimento, nem“problema para o défice”.Nem foi merecedor dequalquer reparo, ameaça ouchantagem. Mas, se estesmilhões forem canalizadospara assegurar a manutençãodo Metro de Lisboa, para pôrtermo ao subfinanciamento doSNS, para restabelecer asverbas cortadas à EscolaPública, permitindo vincular ecolocar (no escalão a que têmdireito) milhares de docentescontratados, ou para oinvestimento no aparelhoprodutivo, lá virão todos, emcoro, clamar com o défice.

A União Europeia e o BCEexigiram – e o Governocumpriu – que, para ser

Dois artigos do Públicoilustram osproblemas, ascontradições e asescolhas políticas com

que nos defrontamos.A propósito da grave situaçãoem que se encontra oMetropolitano de Lisboa, oPúblico de 17/9/2016noticiava:

“(…) o nível de ruído e devibrações tem aumentado,sobretudo nas curvas. Issodeve-se ao excessivo desgasteondulatório dos carris devidoà falta de manutenção. Há “(…) neste momento 11comboios encostados, algunsdos quais a fornecer peças aoutras composições para queestas possam continuar acircular.”“Os stocks de peças jáchegaram a zero e teve que serecorrer à canibalização dealgumas unidades para queoutras possam continuar acircular.”Não se podem “(…) comprarpeças [nem] avançar comacções de manutençãopesadas aos comboios dometro lisboeta (…) porque… ocumprimento da meta[orçamental] dos 2,5%, nãoautoriza as despesas àquelaempresa.”

A propósito da degradação queatinge o Serviço Nacional deSaúde (SNS), o chefe doServiço de cardiologia doHospital de São João (Dr.Jorge Almeida), escreveu:

“(…) o SNS não conseguegarantir cuidados de saúde dequalidade nas circunstânciasde financiamento actuais.Uma redução de despesa decerca de 2 mil milhões deeuros de 2010 para 2016, nummomento em que, devido àcrise financeira, a procura decuidados de saúde é maior,teve como consequência a

recapitalizada, a CGDreduzisse 2500 postos detrabalho e fechasse 300balcões, ou seja, atransferência compulsiva daquota de mercado da Caixapara outros bancos privadosque o capital financeiro querpreservar.

Deve um Governo sujeitar umpovo e um País a exigênciasdo BCE, quando elasconduzem à asfixia financeirado país, ao desmantelamentodo sector bancário, tal comoantes se passou em relação aoutros sectores e empresasestratégicas?

Algum Orçamento do Estado– sujeito à perversidade das“regras” europeias, que indu-zem a economia à estagnaçãoe os serviços públicos à asfixiafinanceira – pode responderàquilo que é necessário aopaís, ao seu crescimentoeconómico e à criação deemprego?

Aonde nos levará esta formade governação?

Vai o Governo continuar aaceitar esta chantagem,desgastando a base de apoiodaqueles que nele depositaramtantas expectativas? Ou vaiapoiar-se no povo e nasorganizações dos trabalhadorespara dizer basta às exigênciasdiscricionárias e absurdas dosserventuários do capitalfinanceiro, chamem-se elesinstituições da União Europeiae do FMI, ou “agências derating”?

Os povos e organizações dostrabalhadores dos outros paísesda Europa não são indiferentesao que se está a passar emPortugal.

Se se apoiar no povo, oGoverno não ficará isolado. É preciso escolher! n

Comissão de redacção.

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OMS entrevistou umguarda-florestal dodistrito de Leiria,actualmenteintegrado no Serviço

de Protecção da Natureza edo Ambiente (SEPNA) daGNR, na véspera damanifestação que os guardasflorestais realizaram emLisboa, a 8 de Setembro.MS – temos assistido nosúltimos anos, no início doVerão, a uma série deincêndios, de norte a suldo país. esta tendência temvindo a acentuar-se e o seunúmero a aumentarassustadoramente. em suaopinião, odesmantelamento dosserviços florestais, com adestruição de toda a suaorgânica e do saberestruturado nesta área éum factor determinantepara isso?

Guarda-Florestal (GF) – Emparte, contribui para oagravamento da situação.Deixou de haver fiscalizaçãoe pessoal especializado nasmanchas florestais. Foireduzido brutalmente onúmero de guarda florestais.Chegámos a ser 1200 e agorasomos 317. Além disso,fomos desviados para outrostrabalhos fora do nossoâmbito, o que impede umamelhor prevenção – a qual écada vez mais necessária,devido ao aumento dafloresta de eucaliptos e aograu de projecção que estesprovocam em caso deincêndio. Prevenção a serdesenvolvida nas áreascircundantes das florestas,junto dos aglomeradospopulacionais, para poderajudar as autarquias, que nãoestão habilitadas para este

das Florestas e Conservaçãoda Natureza, o meio rural eas populações residentes.Para gerir a floresta e asáreas protegidas, não bastaapenas criar legislação queaplique coimas. É tambémnecessário um conhecimentotécnico no terreno e oreforço das equipas desapadores florestais.

MS – neste momento, oicnF tem capacidade paraverificar no terreno se umseu parecer emitido sobreum acto florestal, écumprido ou não?

GF – Não existe capacidadepara fiscalizar, porque nãoexistem meios humanos paraisso e, assim, são plantadoshectares e hectares deeucaliptos de forma ilegal. E,quando são identificadasinfracções, os Serviços nãotêm capacidade para obrigara repor a situação correcta.

MS – isso permite, paraalém de outras coisas,reforçar grandes lóbiscomo o das “celuloses”?

GF – É evidente que esteslóbis têm muito peso efazem-no sentir através dosseus intermediários nasregiões.

MS – quais são osobjectivos da greve e da

manifestação de amanhã, 8de setembro, em Lisboa,entre o Largo do carmo eo ministério daadministração interna?

GF – O que pretendemos desteGoverno é que não acabe coma nossa carreira, ao contrário areforce e reactive, atribuindo-lhe suplementos iguais aos daGNR. De facto, fazemos omesmo trabalho por escala, emturnos e patrulhas mistas, emserviços especializados como:a investigação de causas deincêndios florestais, afiscalização de arborização, afiscalização da caça e dapesca. Existem equipas mistasno SEPNA da GNR,compostas por guardasflorestais e militares daquelacorporação, em que adiferença salarial chega a serperto de 400 euros.

Além disso, também pensoque existindo, neste momento,uma maioria de partidos deesquerda na Assembleia daRepública, é aí que deve serdiscutida a política sobre afloresta e tomadas as medidasnecessárias para a suarestruturação. Nesse sentido,pareceu-me importante a trocade informações que tivemoscom o deputado do BE pelodistrito de Leiria, Heitor deSousa. n

a “indústria do fogo”

O Secretário de Estado daAdministração Interna, JorgeGomes, afirmou noParlamento que “há muitointeresse por detrás distotudo (dos incêndios)” e que“há quem diga que aindústria do fogo dá dinheiroa muita gente”.

Então, o que espera amaioria da Assembleia daRepública para legislar nosentido de acabar com a“indústria do fogo”?

trabalho, a fazer cumprir oestipulado no Decreto-lei83/2014 (que regulamenta aDefesa da Floresta ContraIncêndios) : “Quando osproprietários de terrenosnão efectuam a limpeza, queesta seja feita pelomunicípio, a expensas doproprietário”.

MS – em sua opinião épreciso uma mudança defundo na política agrícola,em relação à floresta?

GF – Os sucessivosgovernos têm abandonado asnossas florestas, assim comoas nossas áreas protegidas. OPatrimónio Natural nacionalé um bem público comgrande potencial económico(cortiça, pinhão, etc.) eturístico. Não é apenas oeucalipto que tem valoreconómico. Ao passarem osGuardas-Florestais para aGNR e ao fundirem aAutoridade FlorestalNacional com o Instituto daConservação da Natureza,criaram o Instituto daConservação da Natureza edas Florestas (ICNF). Porisso penso ser urgente oreforço de efectivos daGuarda Florestal e também oreforço das suascompetências, para que seestabeleça de novo umaproximidade entre osServiços públicos, a tutela

incêndios: entrevista com um guarda-florestalOs fogos que todos os anos destroem o património do país e osbens e sustento de muitas famílias serão uma catástrofe inevitável?

Manifestação dos guardas florestais em Lisboa, reivindicando a manutenção da sua carreira profissional.

actualidade nacional >>>4

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o que pretende marcelo? Transformar o Conselho de Estado numa segunda “Câmara parlamentar”?

No passado recente, opresidente Marceloinstou o Governo apôr a economia acrescer.

A um mês da apresentação doOrçamento do Estado, noCongresso dos RevisoresOficiais de Contas (realizadono passado dia 16.SET.2016),Marcelo Rebelo de Sousautilizou-o como palco paraenviar mais recados aoGoverno. Desta vez, foi umaviso para o Governo nãotaxar os grandes proprietáriosimobiliários (1).

Diariamente, Marcelo,comenta em público a acçãodo Governo, dispara sobre elerecados e avisos.

O presidente Marceloconvocou, para o dia 29 deSetembro, uma nova reuniãodo Conselho de Estado, aterceira desde que tomou

posse, ou seja, à média deuma por cada dois meses (2).

estes episódios,aparentemente desconexos,têm uma relação entre eles.

marcelo quer “balizar”,condicionar e dirigir, atravésdo conselho de estado, aacção governativa. Oobjectivo de Marcelo étransformar o regime semi-presidencialista, num regimede pendor presidencial.

Quais serão as motivaçõessubjacentes? Encontramosduas razões fundamentais:

- Por um lado, os grandesgrupos económicos efinanceiros – e os partidos querepresentam os seus interesses(PSD e CDS) – foramderrotados nas eleições de4.OUT.2015;

- Por outro lado, a ocorrênciade um facto político inédito nonosso país. Do novo quadropolítico resultante das eleições– em que o PS, o PCP, BE e os

Verdes obtiveram a maioria noParlamento – resultou, pelaprimeira vez em Portugal, aconstituição de um GovernoPS com o apoio dessespartidos.

Ao terem perdido o poder deque dispunham na Assembleiada República (por terem ficadoem minoria), o capitalfinanceiro e a burguesiaportuguesa procuram deslocaro poder desta AR para aPresidência da República – o“segundo pilar institucional”.

Desmentindo o epíteto deinstitucionalista respeitadordas competências dos outrosórgãos de soberania, que lhe éatribuído, Marcelo não hesitaem desgastar um outro órgãode soberania, em invadir aesfera de competências doGoverno, uma outra instituiçãode que, supostamente, eletambém deveria ser o garante.

Que razões levarão opresidente Marcelo adesrespeitar competências, a

Na “rentrée” política doPS, que decorreu emCoimbra a 17 de

Setembro, no Convento deSão Francisco, MarianaMortágua – membro daMesa Nacional do BE edeputada na AR –procurando mostrar autilidade dos “radicais deesquerda”, em que se inclui,declarou:

mariana mortágua: "Radicais de esquerdasão os mais capazes para salvar o capitalismo"

«Embora seja de esquerdaradical, e inspirada por Marxe por Keynesianismo radical,acho que aqueles que melhorpercebem o capitalismo e sãomais capazes de salvar ocapitalismo, ironicamente, sãoos radicais de esquerda.Porque parece que quemdefende o capitalismo, não ocompreende nem será capazde o salvar de uma crise.» n

Segundo o economistaRicardo Cabral (Público,10/9/2016), o custo do

ajustamento da austeridade,entre 2008 e 2015, foievidente: “O PIB real cai5,7% entre o pico (2008) e ofinal de 2015; o PIB nominalsó em 2015 atinge o nívelregistado em 2002; a procurainterna em termos reais (umindicador que melhor mede onível de despesa e de vida dosportugueses) ainda nãoatingiu o nível atingido em1999; a queda do nível doemprego e dos salários, e adeterioração do nível de vidada generalidade da

população, são igualmenteconsequências desteajustamento imposto pelanova Europa «alemã».”E o articulista conclui: Aquelesque comandam a UniãoEuropeia “prometem-nos quesó temos de continuar o rumopor mais 30, 40 ou 50 anos”.Contudo, “esquecem-se dereferir que já o fizemos nosúltimos 17 anos e que,verdadeiramente, já chega enão faz qualquer sentido…porque, parafraseandoKeynes, estaremos (quase)todos mortos e, por conseguin-te, «incapazes» de viver nessaterra prometida… n

opor-se à aplicação de umimposto sobre os grandesproprietários de património, acondecorar a título póstumoAntónio Champalimaud, a nãoser a defesa dos “superioresinteresses” da classe (dogrande capital), que nuncadeixou de representar e que,reiteradamente, faz questão derealçar? n

(1) No preciso momento em quesurgiu a discussão sobre o novoimposto imobiliário para casas deluxo, Marcelo vem preconizar que,para se evitar a fuga do investimento,se devem excluir os grandesproprietários do pagamento desseimposto. Dito de outro modo, Marcelodefende que a repartição da cargafiscal deve continuar a concentrar-sesobre a população trabalhadora.

(2) Em relação ao formato que opresidente Marcelo tem estado aimprimir a esse órgão deconsulta, Jorge Reis Novais,professor de DireitoConstitucional, advertia: “oConselho de Estado não é umasegunda Câmara parlamentar”.

continuar no rumo já seguido há 17anos… para chegar onde?

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os cortes sucessivos noorçamento da educação,impostos por bruxelas, têmmantido elevados níveis deprecariedade no ensino,levando anualmente àrepetição do drama dodesemprego. compete ànova maioria existente naassembleia da república,bem como às organizaçõesdo movimento operário nasua inter-relaçãodialéctica, alterar o cursodeste statu quo.

Durante a visita a umcentro escolar emPonte da Barca, oMinistro da Educaçãoanunciou que «este

ano lectivo, foram preenchidostodos os horários solicitadospelas escolas». O governantereferiu-se a «7.000 lugares deprofessores contratados, mais500 do que no ano anterior».Sobre esta diferença de meiomilhar de contratados, aFENPROF – FederaçãoNacional dos Professores jáveio dizer que «o número deprofessores contratados a mais(500) é semelhante ao númerode professores que seaposentou ao longo do anoanterior.» (1)

O silêncio de Tiago Brandãosobre os cerca de 20 milprofessores (de entre 50 milconcorrentes) que até ao finaldo ano ficarão sem colocaçãonão pode passar incólume.

Continua a ser elevadíssimo onúmero de docentes que ficamno desemprego e que se vão

apresentando nos Centros deemprego, mantendo-se oselevados níveis deprecariedade no Ensino.

Por que motivocontinuam semcolocação tantosdocentes?A FENPROF entregou aoGoverno, a 5 de Setembro, umabaixo-assinado bem comouma carta reivindicativa do 1ºciclo, datada de 29/7/2016 econtendo um conjunto dereivindicações das quaisdestacamos: redução donúmero de alunos por turma(promessa do programa dogoverno PS); redução dohorário dos professores para22 horas; a aprovação de umregime de aposentação (ocorpo docente estáenvelhecido e carece desubstituição – apenas cerca de500 professores têm menos de30 anos), o qual passa, porexemplo, pela aposentaçãovoluntária, sem cortes naremuneração, dos docentescom 40 anos de serviço e dedescontos, ou mesmo, apossibilidade de aposentaçãoantecipada sem qualquerpenalização, se não a quedecorre do tempo de serviçoefectivamente prestado, comos respectivos descontosrealizados; a instituição de

regras claras para afectaçãodos docentes às escolas, dentrode cada agrupamento, e acriação de bolsa de docentespara substituições em faltas decurta duração e a redução dastarefas burocráticas queocupam boa parte daactividade dos docentes.

Estas reivindicaçõescorrespondem a problemasreais da Escola Públicacarecendo de urgenteresolução e que têm sidoobjecto da luta sindical.

Actualmente, as turmas do 1.ºciclo do ensino básico sãoconstituídas em regra por 26alunos sendo que no 2º e 3ºciclo se eleva para 30 onúmero de discentes. Umaadequada redução do númerode efectivos em cada turma(tendo em conta os alunos comnecessidades educativasespeciais) levaria a umapotencial melhoria daqualidade das práticasdocentes, com reflexos nosucesso escolar, bem comolibertaria horários pararesponder às necessidades dosprofessores esquecidos nodiscurso «da Barca».

A criação inicial dos mega-agrupamentos, bem como asua manutenção, teve e temuma justificação óbvia: aintenção de extinguir postos detrabalho, tendo sido

significativo o número dehorários eliminados. Em Julhode 2012, segundo dados daFENPROF, com estaagregação estimava-se que asescolas e agrupamentos, noseu conjunto, iriam perderentre 5% e 12% dos horários.

O ano de 2012 ficou tambémmarcado, negativamente, commedidas restritivas quelevaram à diminuição doshorários dos docentes e quenão podem ser olvidadas: arevisão curricular (que retiroutempos semanais à área

actualidade nacional >>>

Mobilização e unidade sindicalpelo trabalho docente com direitos

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(1) A principal diferença, no querespeita aos números, é o impactoda extinção das bolsas decontratação de escola (BCE),através das quais forampreenchidos, em 2015, 3030lugares, agora absorvidos peloconcurso inicial de mobilidadeinterna (horários-zero econtratação inicial). Em 9 deSetembro ficaram a conhecer-seos dados das colocações da 1ªreserva de recrutamento(necessidades transitórias,horários temporários entretantosurgidos). Seguimos aqui de pertoo raciocínio do comunicado daFENPROF sobre o assunto:«Para já, apesar de os númerosserem mais favoráveis aos deanos anteriores, tal não significaque serão colocados maisdocentes, mas apenas que oprocesso de colocação, este ano,está a ser mais célere e sem errosrelevantes.»

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ANO XVIII ( II Série ) nº 124 de 20 de Setembro de 2016 / Publicação do

artística, eliminou parespedagógicos, eliminou a áreada formação pessoal e social).

A redução de horas do créditoglobal das escolas e a extinçãoou forte restrição nas ofertasformativas são o exemplo deoutras medidas que levaram aoactual quadro negro dedesemprego dos professores.

Portugal continua, por outrolado, sem dar plenocumprimento à Directivacomunitária 1999/70 CE (umadas muito poucas em que ostrabalhadores se podemapoiar) que estipula que osEstados-membros sãoobrigados a adoptar medidasdestinadas a evitar os abusosdecorrentes da conclusão desucessivos contratos detrabalho ou relações laborais atermo.

Face à identificação das causasque atiram para o desempregotodos os anos dezenas demilhares de professores éevidente a falácia daqueles quedefendem que na origem de

todo o mal está a redução donúmero de alunos por questõesde natalidade.

Como construir aunidade, parareverter estasituação?O problema é político, tendoessencialmente a ver com asopções orçamentais queBruxelas condicionasobremaneira, ao impor ogarrote dos limites do déficee das ameaças constantes decongelamento de Fundosestruturais. A origem do malsão os tratados da UE que oPS também sufraga.

Recordemos, aqui, unsbreves parágrafos doPrograma de acção do 12ºCongresso da FENPROF:«De 2011 a 2015, no querespeita ao financiamentopúblico da Educação, oscortes, ano a ano, foram osseguintes: 803 milhões; 600milhões; 700 milhões; 495

milhões; 704 milhões. Se noMemorando assinado com aTroika, em 2011, peloGoverno português e pelaoposição à sua direita, o corteprevisto era de 195 milhões,veio depois a fixar-se em 380milhões de euros. Porém,entre 2011 e 2015 multiplicou-se quase nove vezes!»

A Federação fez bem odiagnóstico – tendo recebidocontributos das bases nessesentido: «Na Educação e naCiência, o corte foi executado,sobretudo, à custa de umafortíssima redução de recursoshumanos e do acentuar daprecariedade dos vínculoslaborais no Ensino superior.»

Concordamos com aconclusão/apelo daFENPROF, contida no seucomunicado de 5 de Setembroúltimo, em como «só umaforte participação emobilização garantirá aindispensável resolução dosproblemas da Educação, dasescolas e dos seusprofissionais.»

Dando continuidade àsreuniões regularesdeste Grupo – quetêm sido divulgadaspelo MS – houve mais

uma reunião em meados deAgosto. Começou por se falar doassunto na ordem daquelesdias – os incêndios –abordando as suas reaiscausas: 1) o abandono dafloresta pelo Estado, durante asúltimas décadas, através dodesmantelamento dos Serviçosflorestais, em nome dadiminuição da despesapública; 2) a PAC e outraspolíticas, que diminuíramdrasticamente as actividadesdo sector primário etransformaram o país numcentro de serviços, levando àdesertificação do interior e ao

Como é que se constrói essaunidade (palavra que ali primapela ausência)? Quer osprofessores descontentes (comhorário-zero), quer osdocentes assoberbados comtrabalhos burocráticos, quer osmilhares de contratados quevivem em plena precariedade,todos estes trabalhadores têmem comum uma causa na qualse devem rever: o trabalhocom direitos. A experiênciamostra-nos que só é possívelconseguir este objectivoquando os docentes lutam emunidade com as suasorganizações sindicais. E,para a construção destaunidade, cada um deveassumir as suas própriasresponsabilidades. n

José Luz (2)

(2) Sindicalizado no Sindicatodos Professores da GrandeLisboa (integrado naFENPROF) e que foi delegadoao 12º congresso destaFederação.

abandono das terras.

Deixou de haver prevenção emdetrimento do combate, semdúvida mais caro mas quepermite “alimentar” asempresas privadas dedicadasao combate aos incêndios.

O caminho a seguir será o darestauração dos Serviçospúblicos florestais, bem comoo aproveitamento dasestruturas estatais existentes,nomeadamente a Força Aérea,mesmo que isso implique oreforço do Orçamento para aDefesa. Neste caso concreto,pragmatismo precisa-se.Ao nível da política externa,foi abordada a campanhaeleitoral nos EUA,congratulando-se o Grupo coma queda de Donald Trump nas

sondagens, ficando no ar, noentanto, a questão se não seriamelhor para os povos daEuropa a sua vitória, pelopossível consequentefechamento económico dosEUA.

Do lado dos Democratas, oposicionamento de BernieSanders dividiu o Grupo,havendo elementos a defenderque aquele deveria ter rompidocom Hillary Clinton,aproveitando o acolhimentoacima das expectativas que assuas propostas tiveram paracriar algo novo naquele país, oque outros elementos nãoacreditam poder acontecer nosEUA, pelo que váriosmembros do Grupoconcordaram com a decisão deBernie Sanders em dar o seu

apoio a Hillary Clinton, emtroca da adopção de algumasmedidas do seu programa.Contudo, ficou no ar apossibilidade de BernieSanders ter criado,propositadamente, a ilusão deque o Partido Democrata temsimpatia por ideias mais oumenos socialistas.

Por fim, a nível de políticalocal, ficou decidido procurarespaços para a realização dedebates de informação eesclarecimento à população,sobre os mais variados temasda política nacional e local,tendo ficado agendada novareunião para meados deSetembro paraaprofundamento desta questão,bem como para continuar adebater e a pensar política. n

O mais recente debate do Grupo de Oeiras

t t

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8 tribuna livre

longas de trabalho, levando aque os trabalhadorestomassem nas suas mãos aluta por melhores condiçõesde vida.Na década de 60 do séc.XIX, os trabalhadoresoprimidos, face ao estímulodos acontecimentosinternacionais, começaram apensar numa organizaçãoque defendesse valoresuniversais e a sua luta porcondições dignas de trabalhoe de vida. Em 1863,representantes dos operáriosbritânicos e francesesdebateram, em conjunto, afundação de umaorganização internacional.Esse processo culminou coma criação de um ComitéInternacional dosTrabalhadores, em Setembrode 1864, mas foi a realizaçãode um comício em Londres,nesse mesmo ano, o embriãoda Associação Internacionaldos Trabalhadores, maistarde chamada a Primeirainternacional.Karl marx estava entre osseus membros e foi ele quemfez os textos queconstituíram o Programa e osEstatutos Provisórios daAssociação. Foi o principaldirigente do Conselho Geral,o organizador que esteve nasua essência – pode-se dizer,o seu “chefe” – e o autor denumerosas mensagens,declarações, resoluções eoutros documentos doConselho. Conduz as massasoperárias à ideia danecessidade de tomar opoder político, de fundar um

parisiense demonstrou,tragicamente, a necessidadeda existência de um partidopara dirigir a classetrabalhadora, para aconquista do poder político.É nesta situação que aPrimeira Internacionalcomeça a deixar de tercondições para prosseguir osseus objectivos e foireconhecida a necessidade deconstruir partidos socialistas,em ligação com sindicatosonde esteja integrada amassa dos trabalhadores.Engels empenha-se nestabatalha política, criando asbases materiais que estão nagénese da SegundaInternacional. Já sabemosque a revolução industrialfaz surgir o proletariado e, àmedida que este se vaiorganizando, começa a sermaior a sua força operária. A luta pelas 8 horas detrabalho é uma das principaisreivindicações dostrabalhadores, massacradospor tão duras condições devida. E é em 1886, namanifestação do 1º de Maio,em Chicago, que estareivindicação é defendidaarduamente nas ruas destacidade, tendo sido silenciadabarbaramente pela repressão.Três anos depois é fundada aSegunda Internacional.Hoje, passados 130 anos, sãoas 8 horas a nossa jornada detrabalho, mesmo depois darevolução das tecnologias. Aboa notícia vem da Suécia, aexperimentar a introdução de6 horas diárias. Descanse-semais, que se pensa melhor eao pensar-se melhor,trabalhar-se-á melhor.Sejamos mais produtivos em menos tempo. Sejamosvisionários, em prol dodesenvolvimento das sociedades. n

Contribuição de E. C.Trabalhadora residente na

Marinha Grande

Partido proletárioindependente e de assegurara união fraterna entre osoperários dos diferentespaíses, tendo como baseprogramática o Manifesto doPartido Comunista que Marxe Engels tinham escrito em1848.Publicada pela primeira vezem 1864, a MensagemInaugural do Conselho foireeditada muitas vezes, aolongo de toda a história daPrimeira Internacional. Estaagrupava diferentescorrentes do movimentooperário (anarquistas,anarco-sindicalistas,comunistas, reformistas,republicanos ecooperativistas).O que unia todas essastendências? O princípiosegundo o qual “a libertaçãoda humanidade não pode serrealizada a não ser pela lutapara a libertação da classeoperária da exploração dohomem pelo homem e aabolição da propriedadeprivada dos meios deprodução” – princípio daindependência de classe.Entretanto, vivia-se o ano de1871 e o proletariadoparisiense tomou o poderdurante 90 dias. Duros diasestes! A chamada Comunade Paris, posta em marchacom base nos princípios daPrimeira Internacional, mascruelmente assassinadaatravés da morte de 80 mil“communards” quetombaram às mãos dastropas de Thiers. Estemassacre do proletariado

as minhas reflexões sobrea participação emreuniões com militantesdo Pous, comoconvidada. nelasabordam-se temasactuais; no entanto, paracompreender muitosdeles, temos que viajaraté aos acontecimentos dofim do séc. XiX, princípiodo séc. XX, que fizeramhistória e que estão na suagénese.

considerou-se pertinentedebater, nessas reuniões, ahistória dasinternacionais operárias,que se confunde com ahistória das revoluções eda luta de classes, com ado movimento operáriomundial e com a doscombates heróicos doproletariado, durantetodo esse período.

rumemos pois até àsinternacionais operárias.

a Primeirainternacional

No séc XIX, aRevolução Industrialalterouprofundamente ascondições de vida do

trabalhador braçal,provocando inicialmente umintenso deslocamento dapopulação rural para ascidades. Durante o início daRevolução Industrial, osoperários viviam emcondições inumanas. Eramsubmetidos a jornadas detrabalho que chegavam atéàs 80 horas por semana. Osalário era medíocre e haviamuitas mulheres e criançassujeitas a estas jornadas

A história das Internacionais operárias – 1ª parteA luta pelos “três 8” (8 horas de trabalho, 8 horas de descanso, 8 horas de lazer) foiiniciada pelo movimentooperário nos finais do séc. XIX e é umcombate que não estáganho em muitos dospaíses do mundo.

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Haiti Fim aos assassinatos!Retirada das forças de ocupação!

Guerra contra o Daesh? Ou massacre dos povos?

No seguimento doassassinato do jovemDavidtchen Siméon,militante daorganização

Moleghaf, que luta contra aocupação do Haiti pelaMinustah, o AcordoInternacional dosTrabalhadores e dos Povos(AIT) lançou um Apelo (1) àsorganizações sindicais epopulares e aos partidospolíticos – comprometidoscom a democracia e a defesados direitos humanos – paraque impeçam os assassinatos ea repressão que está a ser

exercida contra os que lutamcontra as forças de ocupaçãoda ONU (Minustah) e oimperialismo opressor dostrabalhadores do Haiti. Pede oenvio de mensagens para: Ministère de la Justice et de lasécurité publique (MJSP): Av.Charles-Summer 18, Port-au-Prince. Inspection Générale dela Police Nationale d’Haïti(PNH): 07 Autoroute deDelmas (zone Delmas 2, Haïti) L’Office Protecteur Citoyen(OPC): Av. John Brown, Lalue(Port-au- Prince), email:[email protected]

Esta campanha tem estado aser desenvolvida em váriospaíses do mundo: Argélia,Brasil, Burkina Faso, Chile,Costa do Marfim, Costa Rica,Estado espanhol, EUA,França, Ilha de Guadalupe,Ilha de Martinica, Ilha daReunião, México, Panamá,Peru, República Dominicana,Roménia, Suíça, Uruguai eVenezuela.

Em Portugal, os militantesligados ao AIT fizeramcontactos com estruturas domovimento sindical,nomeadamente: as Centraissindicais (CGTP e UGT),sindicatos dos bancários (SBSIe SBC), dos professores(SPGL), dos transportes(SITRA), dos vidreiros (STIV)e dos estivadores, Comissõesde Trabalhadores (Autoeuropa,Logoplaste, TAP, Groundforcee Metro), partidos políticos erespectivos Gruposparlamentares (PS, BE, PCP ePEV), e à AmnistiaInternacional.

A CT da Logoplaste – Stª Iriada Azóia respondeu ao Apelodo AIT nos seguintes termos:

«Fomos informados doterrível assassinato do jovemDavidtchen Siméon,militante da organizaçãoMoleghaf, que luta contra aocupação do Haiti pelaMinustah.

Juntamos a nossa voz àsentidades haitianas que Vosexigem a imediatainvestigação do crime, aidentificação dos responsáveise a sua punição por esse actoodioso.

Contando com a vossadiligência, apresentamos osnossos cumprimentos.

Em defesa da democracia,contra a barbárie: puniçãodos responsáveis peloassassinato do cidadão emilitante DavidtchenSiméon.»

Foi criado um endereço de e-mail([email protected]) para o qual podem serenviadas cópias de tomadas deposição assumidasindividualmente ou em nomedas organizações. n

Correspondente do AIT emPortugal

(1) este apelo pode serdescarregado na página do Pousna internethttps://pous4.wordpress.com

na reunião dacoordenaçãodo ait,realizada a 2 e 3 desetembro, além de reforçadoo apelo referente ao Haiti,foi aprovada uma resoluçãode que reproduzimos umexcerto:

«Hoje, num momento em quea guerra e o seu cortejo deatrocidades se estendem atodos os continentes, onde setorna claro o laço entre aguerra “social” travadacontra a classe operária e ospovos – em cada país e emtodos os continentes – e estaguerra de exterminação dospovos, o AIT achouindispensável dizerclaramente:

Os acontecimentos mostramque a guerra contra o Estadoislâmico (Daesh) serve depretexto à coligaçãoimperialista parasupostamente dirigir umaguerra contra o terrorismo.Serve também de pretexto paralançar as bases, em todos ospaíses, de uma política de“união nacional”, com traçosracistas e xenófobos, indo atéà constituição de governos de“união nacional” para tentarmanietar – e mesmo destruir –as organizações sindicais,através da sua integração noaparelho de Estado.

Serve ainda de pretexto paracriar as condições dadestruição de todas as

conquistas sociais da classeoperária mundial e, comoconsequência, das conquistasdemocráticas de todos ospovos.

Os acontecimentos mostramque a guerra contra o Daesh éuma guerra de extermínio dospovos do Médio-Oriente,levada a cabo pelos diferentesimperialismos e os respectivosactores pelo controlo dopetróleo e do gás. Na prática,ela é uma guerra travada parafazer desaparecercompletamente os Estadosdessa região, qualquer queseja a natureza de cada umdeles. Trata-se de uma guerrapara obrigar a humanidade aregressar à “idade da pedra”,

segundo a fórmula utilizadapelo general Westmorland, dosEUA, a propósito do Vietname.Uma guerra para criar ascondições de confrontosreligiosos e tribais sem fim, nomosaico dos povos queconstituem o Médio-Oriente, afim de desmantelar as nações.

Uma guerra que alimenta, emcontraposição, actos deterrorismo bárbaro em todosos continentes, servindo paraimpor em cada país a “uniãonacional” para fazer a guerrasocial, em nome da defesa dasegurança colectiva e à contados interesses dos grandesgrupos imperialistas, e paraderrotar a resistência dospovos.» n

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10Depois do Senado do

Brasil ter aprovado o“impeachment”(destituição) de DilmaRousseff , é esta a

palavra de ordem centraldo Editorial de “O Trabalho” –jornal da responsabilidade daSecção da IVª Internacional noBrasil, que constitui umacorrente com a mesmadesignação no Partido dosTrabalhadores (PT).Transcrevemos largosextractos desse Editorial,publicado a 1 de Setembro(ver a sua versão integral emhttps://pous4.wordpress.com/2016/09/04/brasil-mais-que-nunca-fora-temer/).A 31 de Agosto, os vermes doSenado, incluindo vários ex-ministros “aliados” (dogoverno de Dilma),ratificaram – por 61 votoscontra 20 – a destituição dapresidente legitimamenteeleita, Dilma Rousseff,do PT. Em poucas horas, eles,com o presidente do SupremoTribunal Federal (STF) – talcomo no golpe de 1964! –,deram posse ilegítima ao Vice-presidente usurpador, MichelTemer, do PMDB.Uma destituição em que nãoexiste delito deresponsabilidade é um golpede Estado, como claramente omostrou a defesa nojulgamento.O facto de que os golpistas nãotenham conseguido os votossuficientes no Senado parainabilitar Dilma para outrasfunções públicas, para além delhe retirarem o mandato, éuma contradição dessesvermes (...).Consumou-se, assim, passadomais de um ano, a manobraorganizada pelo Poder Judicial– seguindo o guião dosbanqueiros, dos latifundiáriose das multinacionais, em

conluio com os órgãos daComunicação Social – ebrindada nos Jogos Olímpicospelo enviado dos EUA, osecretário de Estado JohnKerry. (…)

não à conciliação!Fora Temer! Mais do quenunca, nenhum direito amenos! Nenhuma colaboraçãocom o Governo golpista, anenhum nível! Não àconciliação!

O povo, que já sofre com 12milhões de desempregados, éagora ameaçado pelo programagolpista: a Proposta de Emendaà Constituição nº 241 quecongela por 20 anos os gastosem Saúde e Educação (só paragarantir os juros da dívida aosbancos), a supressão doestatuto jurídico respeitante àexploração do Pré-sal (1) pelaPetrobrás (para saciar o apetitedas petrolíferas estrangeiras), acontra-reforma da SegurançaSocial e da legislação laboral, oseu compromisso com ospatrões do país e doestrangeiro.

É inaceitável, é inegociável!Têm razão os governos daBolívia, do Equador e daVenezuela que já retiraram osseus embaixadores. (…)Tem razão a Central Única dosTrabalhadores (CUT), queconvoca um dia deparalisação, a 22 de Setembro,“para preparar a GreveGeral”, “por nenhum direito amenos”, que já começa a serpreparada através deassembleias nos locais detrabalho. Espera-se que todosse juntem.Têm razão os Bancários, osTrabalhadores das petrolíferas

e os Funcionários públicosfederais que discutem datas degreve para os próximos dias,tanto para exigir as suasreivindicações como paracombater as medidas doGoverno usurpador.Têm razão as organizaçõessindicais e populares, quefarão do próximo dia 7 deSetembro uma jornadanacional pela soberania,relançando a luta contra ogolpismo até à paralisação dodia 22.

Pela mais amplaunidadeO governo de Temer nomeadopelo Senado é ilegítimo efrágil. As sondagens mostramque a sua impopularidade nãoparou de subir em 100 dias.É verdade que a presidente foiinjustamente acusada por“irresponsabilidade fiscal”.Mas isso só pôde ter lugar pelomal-estar criado, nos lares enos locais de trabalho, pelasmanobras do “ajustamentofiscal” dos ministros Levy eBarbosa, que o PT tardou arepudiar.A presidente foi traída, éverdade, mas por “aliados”que nunca o deveriam ter sido,particularmente no PMDBcorrupto (os vermes), um erroque nós, da corrente “OTrabalho”, semprecombatemos.

Mas sejamos leais, esses sãoproblemas que vão para alémdo governo de Dilma.São questões sobre as quais oPT deve fazer um balanço –daquilo a que a militânciachamou “13 anos deconciliação” – e que nós, comos companheiros do Diálogo eAcção Petista, queremossubmeter a todos numaPlataforma para aReconstrução do PT – paradebatê-los em todo o país.Debatamos!

Companheiros (as),

Derrotas e vitórias parciaisfazem parte da aprendizagem;a luta continua, é uma luta declasses.A batalha será longa e dura (…). É para derrubarTemer quanto antes – econvocar uma AssembleiaConstituinte para fazer areforma política, refazer o quetem sido destruído, e abrircaminho para as profundasaspirações populares de justiçasocial e soberania nacional –que as forças sindicais epopulares se devem unir.É para isso que o PT deveprocurar aliados e reconquistar,também, a confiança do povotrabalhador. O que começa peloPT se empenhar na “preparaçãoda Greve Geral” do próximo dia 22 de Setembro, ao lado da CUT. n

(1) Jazidas petrolíferas em águasprofundas.

Brasil Mais do que nunca, fora Temer!

actualidade internacional >>>

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Chile

actual e só ajudam aaprofundá-lo. É o que diz LuisMesina: «Nós dizemos “Nãomais AFP” e a Presidente diz“Sim mais AFP”.»Este anúncio feito peloGoverno tentava minorar osprotestos nacionais, mas sóserviu para avivá-los. A 10 deAgosto, foi a primeira prova:em todo o país, sucederam-seas funas (3) à AFP e, ao cair danoite, o ruído das caçarolasfez-se escutar em todo o Chile,demostrando odescontentamento tanto pelotema da previdência como pelapolítica do Estado quefavorece, abertamente, osinteresses dos poderosos quetravam avanços na educação,saúde, transportes, recursosnaturais, etc.A 21 de Agosto, foi realizadauma segunda grande marchanacional contra as AFPs, quejuntou mais de 1 milhão depessoas (só na capital,Santiago do Chile, houve 500mil manifestantes). A dinâmicada mobilização tem sidovertiginosa, os políticos têmsido ultrapassados por ela,com os cidadãos a exigiremser escutados. Mas, demomento, o Governo resiste arealizar mudanças na direcçãoque eles pretendem. n

(1) “Subprimes”: empréstimoshipotecários de alto risco.

(2) A “Nova Maioria” que apoia oGoverno é constituída pelo PS, oPartido Democrata-Cristão e o PC.

(3) Funa: nome dado no Chile a umamanifestação de denúncia e repúdiopúblico contra uma pessoa ou grupoque cometeu uma má acção.

transbordar o copo. As redessociais actuaram comocombustível e a Coordenadorafoi premiada ao organizar umagrande marcha nacional, a 24de Julho, que se caracterizoupelo seu carácter massivo epacífico, tendo participado namesma mais de um milhão depessoas em todo o Chile. Alémdas organizações sindicais esociais integradas naCoordenadora, participaramgrupos formados na sequênciado apelo da Internet (que seautodenominaram“Indignados”) e os que, nofinal, se juntaram às mobiliza-ções da Coordenadora.Após esta grande marcha,houve vários ataques: desectores do Governo da NovaMaioria (2), da Direita e doPatronato, tendo-se os grandesgrupos económicos disposto acontribuir para o sistema deAFP, desde que este não mudea sua essência.Grupos sindicais corrompi-dos, que representam osmencionados sectores,juntaram-se a esta campanha,focada principalmente noporta-voz nacional daCoordenadora, Luis Mesina, eem desprestigiar os sistemasde repartição existentes nomundo.Isto tem aumentado aindignação do povo e dostrabalhadores ao ver como oGoverno, a oposição e osempresários se unem contra asua mobilização. A 9 deAgosto, a presidente MichelleBachelet (do PS) – após terdeclarado, há poucos meses,que o seu Governo não iriamodificar o sistema deprevidência – anunciou umasérie de medidas que nãomudam a raiz do sistema

Piñera Echeñique, economistada Direita chilena – eramrapidamente abafadas pelacasta política no poder, maspouco a pouco foramganhando força.É importante assinalar que asvozes mais críticas surgiramno mundo sindical, sendo amais representativa a daConfederação Bancária doChile, com o seu emblemáticolíder Luis Mesina à cabeça(Sec.-Geral desde 2004).No início da década de 2000começa a gerar-se umaresistência. Esta fortaleceu-secom a crise económica queprovocou grandes perdas nosFundos de previdência. Eaumentou com odescontentamento dosprimeiros trabalhadores destesistema que se reformaram: aocomparar o novo sistema como antigo (houve trabalhadoresque resistiram à mudança epermaneceram no antigo, noINP) constata-se uma grandediferença, com muitostrabalhadores a passar de umavida tranquila para uma vidade miséria com grandesproblemas de subsistência,saúde, etc., sendo obrigados acontinuar a trabalhar até aosúltimos anos de vida.Em 2013, algumasorganizações sindicaisdecidem formar aCoordenadora Nacional “NÃOmais AFP”, que nessa épocarealizou dois CongressosNacionais e cresceu muito,contando com inúmerosCoordenadores Regionais,Comunais e de Bairro.Há poucas semanas rebentou oescândalo da pensãomilionária atribuída a umaempregada da Polícia ligadaao PS – a gota que fez

Chile, 4 de Novembrode 1980: a Junta deGoverno (Ditaduradesde o golpe deEstado de 11 de

Setembro de 1973), pordecreto (D.L. 3500),estabelece um novo sistema deaposentação – denominadoAdministradora de Fundos dePensões (AFP) – e, mediantepressões e artimanhas, obriga amaioria dos trabalhadores aaceitá-lo.As antigas Caixas dePrevidência vãodesaparecendo paulatinamentee, em 1988, é decretada aanexação das Caixassobreviventes ao INP (InstitutoNacional de Previdência), hojeIPS (Instituto de PrevidênciaSocial).Na transição do século XXpara o XXI, já havia sinais deque o sistema de AFP não erauma panaceia e começaram anotar-se os seus aspectosnegativos.Em 2002, foramimplementados no sistema os“multifundos”, quesegmentam os investimentossegundo o risco, o que provocaem 2008 perdas milionárias,devido à crise mundial dos“subprimes” (1).Esta situação e o facto de serum sistema de capitalizaçãoindividual de aforro forçado,em que o trabalhador não tema opção de gerir o seudinheiro, não pode reagir àsflutuações da Bolsa mundial, eportanto vê com impotênciadesaparecerem as suaspoupanças, ficando condenadoa uma velhice de miséria.As vozes que se levantaram adenunciar as falhas do sistemade previdência imposto pelaforça – cujo ideólogo foi

Mobilização nacional contra os Fundos de Pensões privados

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actualidade internacional >>>12Donald Trump e Hillary Clinton, com pontos de vista muito coincidentes, em

particular sobre política internacional.

operárias. Ao começar aConvenção – quando Sandersdeclarou que apoiaria Clinton– quase 40% dos delegadosabandonaram a sala, apósterem tido conhecimento que oPartido manipulou asprimárias a favor de Clinton. ESanders ficou na sala. Váriossindicatos – como o dasenfermeiras e o dosestivadores – discutem sobre apossibilidade de romper com oPartido Democrata. Esta é umaexpressão política do amplocombate que tem lugar nossindicatos, com o objectivo dedefender as reivindicações dostrabalhadores, contra asmultinacionais, contra oGoverno defensor dasmultinacionais e contra asautoridades dos Estados.

Alguns dos mais destacadosseguidores de Sanders – comofoi o caso de Cornel West, oresponsável pelo seu programaeleitoral – decidiram rompercom o Partido Democrata eapoiar Jill Stein, o candidatodos Verdes.

A função de Sanders é clara:fazer com que voltem para oPartido Democrata milhõesde trabalhadores fartos dapolítica imperialista e anti-operária.

Para resistir à política anti-operária e racista dos doispartidos do patronato, ostrabalhadores em geral e osNegros em particular têmnecessidade de construir umarepresentação políticaindependente da classedominante – um desafio nuncatentado na história dos EUA.

O renascimento do movimentooperário nos EUA será umponto de apoio para aemancipação social de todosos povos. n

essencial para dividir a classeoperária e impedir o combatecomum dos trabalhadores, sejaqual for a sua etnia, origem oureligião.

os dois candidatosnomeados têm elementos emcomum no seu programa:atentar contra os direitos dostrabalhadores e contra osserviços públicos, manter apolítica militarista. Clinton,que deve a sua nomeação emboa medida ao apoio daburocracia sindical daAFL/CIO (Confederaçãosindical maioritária), nãohesitou em expressarreticências ao TPP – ao qual aDirecção da Confederação seopõe – para tentar ganhar amaioria nas eleições. Contudo,o programa com que Obamafoi eleito há 8 anos,nomeadamente a instauraçãode uma Segurança Socialuniversal, foi esquecido esubstituído por vagaspromessas.

O que significou acandidatura deBernie Sanders?Treze milhões de trabalhadorese de jovens votaram emSanders nas primárias por umprograma de reivindicações

Uma campanhacontra ostrabalhadores e ospovosAs duas recentes Convençõesdestes dois partidos reflectirama descomposição internadestes partidos.

Só isto explica que ummarginal político como Trumpderrote o aparelho do PartidoRepublicano, pronunciando-seinclusivamente contra o TPP[Acordo Trans-Pacífico], quedeslocaliza a indústria eprovoca mais desemprego. Emnome da “identidade nacional”ele tenta desviar as oposiçõesde classe para o enfrentamentocom os culpados do exterior:os mexicanos, os muçulmanos,os estrangeiros.

Hillary Clinton é a outra faceda mesma moeda: tambémcom uma linguagem“identitária” diz promover asminorias, os homossexuais eas mulheres, para tentar ocultaro enfrentamento entre asclasses – que é a única coisaque permite explicar aopressão particular exercidasobre a minoria negra(componente fundacional danação norte-americana) e queconstitui um elemento

Em Novembro terãolugar as eleiçõespresidenciais dos EUA,país cuja política é aque corresponde à

defesa das grandesmultinacionais. O regimepolítico dos EUA é fortementepresidencialista. Com efeito, oPresidente – comandante-em-chefe das Forças Armadas –tem múltiplas prerrogativas,em relação às quais não temque prestar contas aoCongresso. Considerando queos EUA são a maior potênciaimperialista mundial, à qual sesubordinam os imperialismoseuropeus e o japonês, e que aolado do seu poderioeconómico possui um poderiomilitar como nunca houve (ummilhão e meio de soldados embases espalhadas por todo oplaneta), as decisões e aorientação do próximoPresidente terão certamenteuma influência mundial.A burguesia dos EUA tem doisgrandes partidos: o PartidoRepublicano e o Democrata.Os pretensos “progressistas”do nosso país dizem que oPartido Democrata é melhor.Mas os factos são cabeçudos.Por exemplo: quem iniciou aguerra contra o Vietname foi odemocrata Kennedy. A actualcandidata Clinton quando eraSecretária de Estado participouna organização da destruiçãoda Líbia e, antes disso, nasegunda invasão do Iraque.Contudo, estes dois partidoslevam a cabo uma guerrafratricida. Porquê? O sector docapital financeiro que apoiaTrump considera que, parapreservar os seus interesses,deve haver um recuo,reduzindo-se o impacto internodos tratados de livre comércioe tentando-se preservar as suasposições sobre esta base. Osector que apoia Clintonreafirma a posição dasmultinacionais dos EUA àescala mundial.

O que está em jogo nas eleições presidenciais dos EUA

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ANO XVIII ( II Série ) nº 124 de 20 de Setembro de 2016 / Publicação do

competentes, treinados,fortemente armados e nãotendo grande coisa a perder.A insurreição sunita foibaptizada como “Al-Qaedano iraque” (AQI). A partir de2011, os nossos aliadosfinanciaram a invasão daSíria pelos soldados daAQI.»

Alguns dados sobrea venda de armase as consequênciasdas guerras geradaspara as “consumir”Segundo notícia da AgênciaFrance Press (AFP, 9 deAgosto de 2016), os EUAvão vender ao seu aliadosaudita mais de 150 tanquese centenas de metralhadoraspesadas: um contrato demais de mil milhões dedólares.Também de acordo com aAFP (15/8/2016), desde2015 a guerra no Iémen jáfez 6400 mortos e 30 milferidos.Segundo o Instituto deInvestigação sobre a Paz deEstocolmo (Sipri), asdespesas militares mundiaisatingiram cerca de 1700 milmilhões de dólares em 2014,tendo aumentado, porexemplo, dois terços noPróximo-Oriente.As empresas dos EUAocupam o primeiro lugar davenda de armas no períodode 2011-2015, tendo captadoum terço (32,8 %) domercado mundial (era 29%no período de 2005-2009).A Rússia ocupa a segundaposição, com 25,3% domercado. A França, com5,6% do mercado, encontra-se na quarta posição.A Arábia Saudita e osEmiratos Árabes Unidosencontram-se entre osprincipais compradores. n

publicados pelo WikiLeaks,mostram que, em 2012, aTurquia, o Qatar e a ArábiaSaudita armavam, treinavame financiavam combatentesjiadistas sunitas radicais daSíria, do Iraque e de outrospaíses para derrubar oregime de Assad, aliado doschiitas. O Qatar – que foi oque mais lucrou com onegócio – investiu 3 milmilhões de dólares nacriação da insurreição econvidou o Pentágono atreinar insurrectos nas basesdos EUA no Qatar. Segundoum artigo de SeymourHersh, de Abril de 2014, asentregas de armas da CIAeram financiadas pelaTurquia, a Arábia Saudita eo Qatar.»

Kennedy recorda o resultadoda política levada a cabopelo Pró-Consul dos EUA noIraque, Paul Bremer: «(Ele)instalou os chiitas no podere baniu o partido dirigenteBaas, de Saddam,despedindo cerca de 700 milpersonalidades políticas efuncionários públicos – nasua maioria sunitas – dosministros aos professores doEnsino primário. Emseguida, dispersou oExército de 380 milsoldados, 80% dos quaiseram sunitas. As acções deBremer destituíram ummilhão de sunitas iraquianosda sua graduação,retirando-lhes as suasposses, a sua riqueza e o seupoder; foi assim abandonadauma classe desesperada desunitas furiosos, educados,

europeus, através determinais de redistribuiçãona Turquia, a qualarrecadaria chorudascomissões de trânsito. O gasoduto turco-qatariteria conferido aos reinossunitas do Golfo Pérsicouma predominância decisivanos mercados mundiais degás natural e reforçado oQatar, o aliado que estámais próximo dos EUA nomundo árabe. Existem duasbases militares dos EUA noQatar, tal como é lá que estáo Alto Comando dos EUA noMédio-Oriente.»Robert Kennedy Júniorprecisa ainda que «a UE, queimporta 30% do seu gás daRússia, também desejavaardentemente este gasoduto,o qual iria propiciar aosseus membros uma energiabarata e a teria aliviado dainfluência económica epolítica sufocante deVladimir Putine».

O “Jiadismo”…produto da políticados EUA dedesestabilização dosEstadosKennedy lembra no seuartigo que «muito antes danossa ocupação do Iraque(…) a CIA tinha alimentadoum Jiadismo violento,utilizando-o como arma emperíodo de Guerra Fria elevando ao degradar dasrelações diplomáticas entreos EUA e a Síria», desde adécada de 1950.Kennedy relata que«segundo o WikiLeaks, em2009 – pouco depois deBachar al-Assad terrejeitado o gasoduto qatari –a CIA começou a financiargrupos de oposição na Síria.Documentos dos Serviços deInformação sauditas,

Num artigo recente(Fev/2016), RobertKennedy Júnior,advogado norte-americano e filho do

senador assassinado em1967, recorda alguns factosúteis a retermos sobre o queestá ali verdadeiramente emjogo.Robert Kennedy Júnior éapoiante de Hillary Clinton eo seu argumentário visa,essencialmente, denunciar apolítica desenvolvida pelosRepublicanos no Médio-Oriente, desculpando BarackObama... sem se esquecer dereafirmar o seu apoio aoEstado israelita.

Uma guerra paracontrolar ocomércio doshidrocarbonetosPara Kennedy, “a nossaguerra” contra Bachar al-Assad começou na verdadeem 2000, «quando o Qatarpropôs a construção –através da Arábia Saudita,da Jordânia, da Síria e daTurquia – de um gasodutocom 1500 km decomprimento e um custo de10 mil milhões de dólares.» Segundo Kennedy, «o Qatarpartilha com o Irão oscampos de gás de SouthPars/North Dome, a maiorreserva de gás natural domundo. O embargocomercial mundial proibiu oIrão, até recentemente, devender gás ao estrangeiro.Ao mesmo tempo, o gás doQatar só pode ser entreguenos mercados europeus sefor liquefeito e transportadopor via marítima.»A seguir, o articulistaesclarece que «o gasodutoprevisto teria ligadodirectamente o Qatar aosmercados de energia

Guerra na Síria: a responsabilidade das grandes potências

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14O impasse para a formação de um Governo parece não ter fim

Estado Espanhol actualidade internacional >>>

Rajoy, dirigente doPartido Popular (PP),acaba de falhar – porduas vezes sucessivas– a sua investidura

como Primeiro-ministro. Sócontou, de novo, com o votode 170 deputados (os 137 doPP, os 32 de Ciudadanos e umdeputado nacionalista dasIlhas Canárias). Os outrosGrupos parlamentares – querdizer PSOE (com 85), UnidosPodemos (com 71) e ospartidos nacionalistas bascose catalães (que têm 22deputados) – votaram contraessa investidura de Rajoy,que necessitava de terassegurado o voto favorávelde 176 (maioria absoluta dosdeputados do Congresso).Manteve-se assim o impasseparlamentar que já vem daseleições de 20 de Dezembrode 2015. De agora até 31 de Outubro,haverá um período em queoutras tentativas deinvestidura poderão ter lugar.Se não for conseguidonenhum acordo durante esteperíodo, terão lugar novaseleições legislativas que – deacordo com o calendárioprevisto – coincidiriam com odia de Natal (1).

um programa anti-operário e antidemocráticoAntes da segunda votação de2 de Setembro, o PP e oCiudadanos estabeleceramuma plataforma para umnovo Governo – “150compromissos para melhorarEspanha”. Nesse documentoé dito, de forma taxativa:

“Consideramos como umaquestão central ocompromisso firme para aestabilidade orçamental e arealização do Pacto deEstabilidade e Crescimentoda União Europeia”. Sem floreados, Rajoyapresentou-se à investiduracom a vontade clara deprosseguir as contra-refor-mas, nomeadamente asimplementadas a partir deMaio de 2010 – quandoZapatero (então Secretário-Geral do PSOE)era Primeiro-ministro –subordinadas às exigênciasdo capital financeiro e dassuas instituições.

e a classe operária?Durante os últimos seis anos,os trabalhadores e as suasorganizações sindicaisexprimiram-se através degreves, de manifestações enas urnas (o partido de Rajoysó obteve o voto de doiseleitores em cada dez).No entanto, esta mobilizaçãonão teve uma saída política.Os partidos que dizemrepresentar os interesses dostrabalhadores não se puseramde acordo sobre umaplataforma operária edemocrática, nem teceramlaços com os partidosnacionalistas bascos ecatalães para responder àsaspirações democráticas esociais de todos os povos deEspanha.Perante a ofensiva do capitalfinanceiro e dos seus porta-vozes – que também seexprime no seio do PSOEpara que este proporcione ainvestidura a Rajoy – o seu

Secretário-Geral (PedroSánchez), reafirma quecontinuará a votar contra,respondendo assim àexigência da esmagadoramaioria dos militantes e doseleitores socialistas.Apoiando este seuposicionamento foi-lheenviada uma carta, assinadapor mais de 1300 militantes.E, além disso, estes faziamum apelo para que eleassinasse um acordo com osoutros partidos que sereclamam dos interesses daclasse operária e dos povoscatalão e basco.A 27 de Agosto, o Secretário-Geral da União Geral dosTrabalhadores (UGT), JosepMaria Alvarez, declarou:“Pretendemos um Governoque ponha em prática umprograma que fomente acriação de centenas demilhares de empregos,revogue as reformas doCódigo do Trabalho, aumenteo subsídio para osdesempregados, adopte umabono mínimo para os doismilhões de famílias semrecursos, aumente o saláriomínimo nacional, decrete umaumento geral dos salários,etc. A UGT considera que édisto que o nosso país temnecessidade.” Concluidizendo que “as negociaçõessobre a investidura sãoefectuadas nas costas dapopulação.” n

(1) Entretanto, todos os Gruposparlamentares se puseram de acordopara encurtar em uma semana acampanha eleitoral, por forma a queas eleições se possam realizar a 18 deDezembro.

Debate noCongresso dosdeputados esuas sequelas

Durante a últimasessão do Congressopara a investidura, oSecretário-Ger al doPSOE apelou a que

fosse aberto o diálogo entreas “forças da mudança”.Depois de acabar a sessão, olíder de Ci udadanos (AlbertRivera) anunciou que davapor terminado o pacto deinvestidura com o PP e queesse partido devia pensar emmudar de candidato à chefiado Governo e apresentar um“com uma investiduraviável”. Pelo seu lado, oPartido Comunista deEspanha (PCE) – forçamaioritária da EsquerdaUnida (que concorreu àseleições de Junho coligadacom o Podemos) – tornoupúblico um comunicado emque apelava a “reunir umamaioria parlamentar emtorno de um programa mí-n imo, um programa quepermita formar um Governoprogressista, a exemplo doque já ocor reu emPortugal”, para o que serianecessário “todas as forçaspôrem de lado alguns pontosdos seus programas, estandoo PCE disposto a isso namedida em que sejamrevertidas as políticas decortes e de austeri dade,sejam recuperadas as liber -dades públicas anuladaspelo PP e se abra uma etapade regener ação da vidapública…”. Contudo,dirigindo-se à opiniãopública, os dirigentes dasprincipais forçasrepresentadas no Parlamentocomeçam a falar numterceiro acto eleitoral. n

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O impasse nas negociações do TTPI

Mais uma Cimeira de crise do G20ANO XVIII ( II Série ) nº 124 de 20 de Setembro de 2016 / Publicação do

possa impor as suasexigências, tanto no interiorcomo a nível mundial. Oimbróglio das relações entre osEUA e os seus aliadostradicionais (Turquia e ArábiaSaudita), bem como oestabelecimento de acordoscom países dantes designadoscomo hostis (Rússia e Irão),indicam que a situação noMédio-Oriente escapa aocontrolo dos EUA e que, atarefa mais geral – que lhe estáatribuída – de manutenção daordem mundial também osultrapassa.A própria União Europeia estánum processo dedesagregação, conjugado como aprofundar da crise dosgovernos dos países que acompõem. O resultado doBrexit no Reino Unido indicaque se os povos rejeitam aUnião Europeia, também nasituação actual, para algunssectores do capital financeiro,a UE já não corresponde àsnovas necessidades exigidaspelo quadro económico epolítico mundial. Para o capitalé indispensável, perante a crisemundial, atacar brutal efrontalmente tudo o que foiconquistado pela luta dostrabalhadores e das suasorganizações. Christine Lagarde, Directora-Geral do FMI, mostra-semesmo alarmada com asituação existente: «Nunca,desde 1990, a economiamundial esteve tão débil (…).Este fraco crescimento, emconjunto com o aumento dasdesigualdades, alimenta umclima político em que asreformas ficam congeladas eos países recorrem a medidas

de fechamento sobre sipróprios.». O que constituiriaa principal causa da diminui-ção do comércio mundial.Sobre isto, o mesmo jornal LesEchos sublinhava, a 29 deAgosto: «Eleição presidencialnos EUA, referendo na Itália,não formação de Governo em

Espanha, novas eleições naÁustria, referendo na Hungria,seguidos de eleições emFrança e na Alemanha (…).Estes escrutínios perigososreflectem a fadiga dos povos,que resulta de uma crisedemasiado longa, mas tambémda impotência dos políticos emtratar dos problemas.»É claro que é a situação dospovos e a sua reacção,conjugada com a crise mundi-al, que alarmam as cúpulas dasgrandes potências. n

Os chefes de Estado ede Governo dos paísesdo G20 (os 20 maisricos do mundo)reuniram-se, a 4 e 5 de

Setembro, em Hangzhou, naChina. Os dirigentes presentesreafirmaram que aliberalização das trocascomerciais é a alavanca pararelançar a actividade, a nívelmundial. De facto, nocomunicado final destaCimeira do G20 é sublinhada asua «oposição a qualquerforma de proteccionismo emmatéria de comércio e deinvestimento».A propósito deste comunicado,o editorial do jornal Les Echos– propriedade do capitalfinanceiro francês – declara, a6 de Setembro: «De facto, osdirigentes das grandespotências económicas deram àluz um texto que é desejável –para eles – que não seja muitolido (…). A convicçãoexpressa, com a mão sobre ocoração, de que o comérciolivre é um trunfo, choca-secom a realidade (…): ocomércio mundial abranda enovas medidas de restriçãodas trocas de mercadorias sãotomadas todos os dias.»A realidade é que a crise émundial. A economia podeafundar-se, a qualquermomento.A ameaça de falência dosistema bancário italiano é umsintoma disso, mas ele podeigualmente provocar umafundamento bancário em todaa Europa, com repercussõesmundiais.Ao mesmo tempo, todos osgovernos do G20 estão abraços com crises políticas, acomeçar pela Administraçãodos EUA. As Primárias para aseleições presidenciais nessepaís (ver pg. 12) revelaram aprofundidade da crise da classedirigente dos EUA, incapaz dedotar-se de um Governo que

Oimpasse na negociaçãodo chamado Acordo deParceria Transatlântica

de Comércio e Investimento(TTPI, na sigla em inglês) –que tem estado a sernegociado, há mais de quatroanos, entre os EUA e aEuropa – é uma amostra dascontradições que existem ese aprofundam entre ospaíses imperialistas.Assim, Sigmar Gabriel – líderdo SPD e nº 2 do Governoalemão de grande coligaçãochefiado por Angela Merkel –afirmou, a 27 de Agosto, que“as conversações com osEUA falharam de facto

porque nós, os europeus, nãotemos de ceder às exigênciasamericanas”.Por outro lado, a exigênciada Comissão Europeia deque a Apple – uma dasprincipais empresas dosEUA – pague “uma multa”de 13 mil milhões de eurosao Estado irlandês, “por nãoter pago os impostos queeram devidos”, é um meiode pressão contra as“exigências americanas” quelevarão a um afundamentoainda maior das economiasda Europa. naprofundaremos este assunto no próximo número do MS.

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16 actualidade internacional

guerras das potênciasimperialistas destinadas àpilhagem de recursos noMédio-Oriente e em África,mostram como a guerra estáligada à sobrevivência dosistema capitalista.

O sistema capitalista conduzas economias ao caos, ospovos à miséria e à guerra,arrasta a sociedade para oabismo.

O regime capitalista impedeque a ciência e a tecnologiasejam colocadas ao serviçodo homem, sejam utilizadaspara o desenvolvimento e oprogresso da humanidade,como as suas enormespotencialidades opermitiriam, numa sociedadesem explorados nemexploradores.

Desprovido de qualquerutilidade social, o sistemacapitalista, além de ser umentrave ao desenvolvimentoda sociedade, constitui umaameaça para a humanidade.Para a humanidadesobreviver, o capitalismotem de morrer.

trotsky foi assassinado,mas o seu legado, o seucombate revolucionáriopelo derrube docapitalismo e pela vitóriado socialismo continuavivo. n

76 anos após o assassinato de Trotsky

No seu testamento, escrito meses antes do seu assassinato,trotsky dizia nomeadamente:

No passado mês deAgosto, decorreram 76anos desde o assassi-nato de Trotsky por umagente da GPU.

O POUS – Secçãoportuguesa da IVªInternacional, publicaabaixo um texto dehomenagem a Trotsky,adaptado do textoelaborado pelaJuventude Revolução(http://juventuderevolucao.com.br/),organização dejuventude daorganização trotskistabrasileira, que nosexpressou o seuprévio acordo.

A 21 de Agosto de 1940,Trotsky morreu assassinado,vítima do atentado realizadopor Ramon Mercader, agenteda GPU, a polícia secretaestalinista.

Estaline, que já haviamandado assassinarpraticamente todos os velhosquadros (dirigentes darevolução de 1917) doComité central do PartidoBolchevique, assassinouTrotsky – o presidente doSoviete de Petrogrado em1905, que formou o Exércitovermelho em 1917 e ochefiou na luta contra astropas imperialistas quecombatiam o recém-criadoEstado soviético, um oradore um escritor notável, umcombatente revolucionáriointernacionalista incansável– fundador da IIIª e da IVªInternacionais.

O objectivo do assassinatode Trotsky era aniquilar aIVª Internacional e tentarimpedir os trotskistas deprosseguirem as tarefas deorganização da classetrabalhadora à escalamundial, o combate peloderrube da burguesia(revolução social) nos paísescapitalistas e da burocraciaestalinista (revoluçãopolítica) na então UniãoSoviética.

Quando já rufavam ostambores da 2ª Guerramundial, ficou famosa umaconversa entre o embaixadorfrancês Coloundre e Hitler(divulgada pelo jornal LeTemps), em que o primeiro,para tentar convencer aAlemanha a não invadir aFrança, teceu uma série deargumentos.

Entre esses argumentos, oúnico com o qual Hitlerconcordou com oembaixador francêsColoundre centrou-se norisco que uma nova guerramundial apresentava: “Orisco de uma nova guerramundial está napossibilidade de dela sairvitorioso o Senhor Trotsky”!

Para ambos, o perigo residiana possibilidade de a guerradesembocar numa revoluçãosocial, tal como tinhaacontecido no final da 1ªGuerra mundial com otriunfo da revolução russa.

Tanto para os representantesdo imperialismo(“democrático” ou fascista),como para a burocraciaestalinista, o perigo era claro– Trotsky.

Trotsky foi assassinado, maso seu legado continua vivona luta que os trabalhadorese a juventude travam emtodos os continentes – noChile, no Brasil, no México,na Venezuela ou nos EUA;

no Reino Unido, na França,na Grécia, em Espanha ouem Portugal; na África doSul ou em Angola; naTurquia e nos países doMédio-Oriente martirizadospela guerra; na Ucrânia ouna Rússia; na Coreia ou naChina.

Por todo o mundo, ostrabalhadores, as populaçõese a juventude – resistindo àdestruição, à pilhagem daspotências imperialistas e àssuas guerras infames –erguem-se e organizam ocombate contra oimperialismo, contra osgovernos dos seus países,pelo derrube do capitalismo,pela revolução socialista.

A crise social, económica epolítica em que estámergulhada a UniãoEuropeia, o “resgate” dosbancos feito à custa damiséria e sofrimentoinfligido aos povoseuropeus, a destruição dosdireitos sociais, odesmantelamento dosserviços públicos, provam acrueldade do sistemacapitalista, mas também operigo e as ameaças que ospovos de todo o mundoenfrentam sob a gestão dasociedade pelo capitalismo.O caos económico e odesemprego em massa, as

“Nos quarenta e três anosda minha vida consciente,permaneci umrevolucionário; durantequarenta e dois destes anos,combati sob a bandeira domarxismo. Se tivesse querecomeçar, procurariaevidentemente evitar este ouaquele erro, mas o cursoprincipal da minha vidapermaneceria imutável.

Morro revolucionárioproletário, marxista,partidário do materialismodialéctico e, porconsequência, ateuirredutível. A minha fé nofuturo comunista dahumanidade não é menosardente; em boa verdade, elaé hoje mais firme do que ofoi nos dias da minhajuventude.”