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Tribunal de Contas Não transitado em julgado Mantém a decisão recorrida (Sentença nº 35/2015 SRM) Mod. TC 1999.001 RECURSO ORDINÁRIO N.º 8 RO-SRMTC/2015 (Processo n.º 4/2014/JRF – SRMTC) ACÓRDÃO Nº 10/2016- 3ª SECÇÃO I - RELATÓRIO 1. Em 28 de Maio de 2015 e no âmbito do processo nº 4/2014-SRMTC, foi proferida a douta sentença nº 35/2015, da Secção Regional da Madeira do Tribunal de Contas em que eram Demandados António Manuel Dias Brehm, Rui Alexandre Carita Silvestre, Ricardo Jorge Pereira Gonçalves, Maria Helena França Andrade Rodrigues e Carla Maria Cró Abreu. 2. Nos termos do nº 3 da douta sentença a decisão proferida foi a seguinte: Julgar parcialmente procedente, por provada, relativamente ao pedido de multa por responsabilidade financeira sancionatória, por violação das normas dos artºs 3º, nº 1 do CPA, 19º, nº 3 do Decreto-Lei nº 184/89, de 2/7, 73º, nº 7 da Lei nº 12-A/2008, de 27/2, 3º, nº 1 do Decreto-Lei nº 14/2003, de 30/1, e 21º e 22º do Decreto-Lei nº 155/92, de 28/7, p e p. pelo artº 65º, nº 1, al.

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Não transitado em julgado

Mantém a decisão recorrida (Sentença nº 35/2015 – SRM)

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RECURSO ORDINÁRIO N.º 8 RO-SRMTC/2015

(Processo n.º 4/2014/JRF – SRMTC)

ACÓRDÃO Nº 10/2016- 3ª SECÇÃO

I - RELATÓRIO

1. Em 28 de Maio de 2015 e no âmbito do processo nº 4/2014-SRMTC, foi

proferida a douta sentença nº 35/2015, da Secção Regional da Madeira

do Tribunal de Contas em que eram Demandados António Manuel Dias

Brehm, Rui Alexandre Carita Silvestre, Ricardo Jorge Pereira Gonçalves,

Maria Helena França Andrade Rodrigues e Carla Maria Cró Abreu.

2. Nos termos do nº 3 da douta sentença a decisão proferida foi a seguinte:

Julgar parcialmente procedente, por provada, relativamente ao pedido de

multa por responsabilidade financeira sancionatória, por violação das normas

dos artºs 3º, nº 1 do CPA, 19º, nº 3 do Decreto-Lei nº 184/89, de 2/7, 73º, nº

7 da Lei nº 12-A/2008, de 27/2, 3º, nº 1 do Decreto-Lei nº 14/2003, de 30/1,

e 21º e 22º do Decreto-Lei nº 155/92, de 28/7, p e p. pelo artº 65º, nº 1, al.

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i), 2 e 5 da Lei nº 98/97, de 26 de Agosto, na redacção introduzida pela Lei n.º

48/2006, de 29/8, e, consequentemente, condeno:

Os demandados António Manuel Dias Brehm e Rui Alexandre Carita

Silvestre na multa de 30 UCs, ou seja, de 2.880 euros, cada um.

O demandado Ricardo Jorge Pereira Gonçalves na multa de 25 UCs, ou

seja, de 2400 euros.

Parcialmente procedente, por provada, relativamente ao pedido por

responsabilidade financeira reintegratória contra os mesmos demandados e nos

mesmos termos, por força das normas dos arts.º 59.º, n.º 1, 4 e 6 e 64.º da

Lei n.º 98/97, de 26/8, na redacção introduzida pela Lei n.º 48/2006, de 29/8 e

consequentemente condeno:

O demandado António Manuel Dias Brehm na reposição da quantia de

47.937,50 euros, sendo destes solidariamente responsável por

32.637,50 euros com o terceiro demandado e por 15.300 euros com o

segundo demandado.

O demandado Rui Alexandre Carita Silvestre, na reposição da quantia

de 20.950 euros, sendo destes solidariamente responsável por 15.300

euros com o primeiro demandado e por 5.450 euros com o terceiro

demandado.

O demandado Ricardo Jorge Pereira Gonçalves, na reposição da quantia

de 41.387,50 euros, sendo destes solidariamente responsável por

32.637,50 com o primeiro demandado e por 5.450 euros com o

segundo demandado.

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Acrescendo sobre todas estas quantias juros de mora contados desde a

data da infracção.

Improcedente, por não provada, relativamente aos pedidos formulados contra

as demandadas Maria Helena França Andrade Rodrigues e Carla Maria Cró

Abreu e, consequentemente, são deles absolvidas.

3. Não se conformaram com a decisão os ora Recorrentes que

apresentaram as seguintes conclusões:

1. O presente processo e a condenação dos recorrentes não resulta de qualquer

prova das infracções imputadas aos demandados, mas da preocupação de

não contradizer o precipitado e superficial Relatório da Inspecção Geral do

Ensino Superior que deu origem a toda esta questão.

2. Matéria constante do ponto 26 e da primeira parte do ponto 25 dos factos

dados como provados tem de ser eliminada, na medida em que, por um lado,

não foi alegada pelo M.P. e, por outro, não resulta de documentos, sendo

certo que o M.P. prescindiu da prova testemunhal e as testemunhas

arroladas pelos demandados não foram ouvidas sobre tais factos.

3. Acresce que o constante do ponto 26 e a primeira parte do ponto 25 dos

factos dados como provados está em manifesta contradição com a parte final

do citado ponto 25, o que é inaceitável e torna incongruente a matéria de

facto provada .

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4. Por sua vez, ao ponto 9 da matéria de facto dada como provada, deve ser

aditado um inciso correspondente ao aceite pelo M.P. no art° 23° da p.i., no

sentido de que os Conselhos Científicos (pelo menos o do DGE), haviam

fixado em seis horas semanais o tempo normal de aulas, sem esquecer que a

docência inclui a preparação das aulas, o acompanhamento e monotorização

de alunos, investigação, etc ..

5. Por outro lado, deve ser incluída nos factos provados a matéria alegada nos

art°s 47°, 60° e 80° da contestação, como resulta da prova documental e

dos depoimentos prestados pelas testemunhas dos demandados.

6. Relativamente ao recorrente Ricardo Gonçalves a douta sentença recorrida

enferma de nulidade por omissão de pronúncia, pois, foi suscitada na

contestação a pertinente questão da sua deficiente audição, em sede de

contraditório, no âmbito do Relato da Auditoria, pois, não lhe foram

apontados em concreto os actos em que se teriam consubstanciado as

infracções imputadas, o que só veio a acontecer na petição desta acção,

constituindo nulidade que não é susceptível de ser suprida, levando à

improcedência da acção, e matéria sobre a qual a sentença recorrida é

inteiramente omissa (alínea d), do nº 1, do artº 615° do C.P.Civil).

7. O M.P. constrói, no requerimento inicial, toda a tese acusatória com base em

erro manifesto, ao considerar que o Senado que proferiu as deliberações que

os demandados executaram era um órgão meramente consultivo, sem

competência para tal, confundindo-o com o actual Senado, à luz dos novos

estatutos, e esquecendo que as deliberações em causa ocorreram na

vigência dos anteriores estatutos, em que o Senado era o órgão máximo de

Governo da UMa.

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8. Também em relação a esta questão a sentença recorrida enferma de

nulidade por omissão de pronúncia e, pior do que isso, enferma do mesmo

erro do requerimento inicial ao decidir e ao condenar os demandados,

recorrentes, na base da ideia de que as deliberações em causa provinham do

actual Senado, que é um órgão meramente consultivo.

9. A douta sentença recorrida decidiu mal a questão relativa à causa de

exclusão de ilicitude (art° 31° do C. Penal), ao considerar, erradamente,

contrariando a evidência do conteúdo das deliberações do Senado e o

afirmado pelo próprio M.P., no sentido de que tais deliberações não se

haviam pronunciado sobre questões financeiras e pagamentos, o que não é

verdade, enfermando a sentença recorrida, neste particular, de erro nos

pressupostos de facto.

10. Só esse grave erro levou a que a sentença recorrida não acolhesse, como

devia, o cumprimento e execução das deliberações do Senado, pelos

demandados, como causa de exclusão de ilicitude, e mesmo de culpa,

violando o disposto nos art°s 31 ° e 37° do C.Penal.

11. A sentença recorrida enferma de contradição insanável, quando entende que

era necessário, quer em relação aos professores, quer em relação aos

funcionários beneficiários dos pagamentos em causa: "Ter em conta as

circunstâncias pessoais e profissionais de cada um", mas, depois, não é

consequente e dispensa o M.P. de alegar e provar tais circunstâncias, sem o

que é impossível aferir da legalidade, ou não, dos pagamentos tidos por

indevidos e da existência, ou não, de dano para o erário público.

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12. As deliberações do Senado reportavam-se a todas as implicações financeiras

dos Mestrados em causa e aos pagamentos efectuados, como o reconhece o

M.P., pelo que a sentença recorrida ao considerar improcedente o

cumprimento e execução das deliberações do Senado, como causa de

exclusão de ilicitude, decidiu contra a evidência dos factos provados e aceites

pelo próprio M.P.

13. A manifesta insuficiência da alegação do M.P. no tocante à situação concreta

de cada um dos docentes e funcionários que auferiram dos pagamentos em

causa, compromete, irremediavelmente, o requerimento acusatório, pois, não

permite apurar da legalidade, ou não, de tais pagamentos, não podendo o

Tribunal, com imperdoável quebra dos princípios da equidistância e da

imparcialidade, substituir-se ao M.P. (parte) e suprir as suas insuficiências

com violação das demais elementares garantias dos demandados.

14. Acresce que, como é evidente, os orçamentos dos Mestrados aprovados pelo

Senado não podiam deixar de prever (como previam de forma genérica), os

custos com o apoio logístico (ficou provado que esse trabalho foi

efectivamente prestado em horário pós-laboral, às sextas à tarde e aos

sábados de manhã), como previam o pagamento das vigilâncias dos exames,

tendo-se apenas procedido à sua efectivação, por docentes da UMa, evitando

as despesas de deslocação e alojamento de Professores do Continente, com

benefício para a UMa.

15. De toda a matéria provada, designadamente que os Mestrados foram

altamente proveitosos para os alunos e especialmente rentáveis para a UMa,

que todo o trabalho em causa foi efectivamente prestado, torna-se evidente

que não ocorreram pagamentos indevidos, imputáveis aos recorrentes, e

que, em qualquer caso, deles não adveio dano para o erário público (pelo

contrário), pelo que a sentença recorrida violou manifestamente o art° 58°

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da LOPTC.

16. Aliás, estando como estamos, no domínio do direito sancionatório,

aplica-se-lhes os princípios do Direito Processual Penal e as inerentes

garantias constitucionais, designadamente o princípio “in dúbio pro reo”, que

a sentença recorrida de todo ignorou.

17. Não estão, pois, minimamente provados quaisquer dos requisitos essenciais à

configuração de existência das infracções financeiras imputadas aos

demandados, recorrentes, quer do ponto de vista objectivo, quer subjectivo,

pelo que a sua condenação ocorreu à revelia de tal prova e demonstração

que cabia ao M.P. fazer, e não fez.

18. Acresce que as remunerações auferidas pelos docentes em causa, integram o

mero reforço de verbas para os projectos de investigação e outros, que têm

entre mãos, e não, propriamente meras remunerações complementares, não

sendo admissível que o erário público se locuplete à custa dos demandados

ou à custa do trabalho prestado pelos docentes e funcionários em causa.

19. Por todas as circunstâncias referidas e por força das deliberações do Senado,

que gozam de presunção de legalidade e do dever de obediência dos

demandados às determinações escritas dos órgãos de Governo da UMa, é

manifesto que não actuaram com a menor negligência, ou seja, falta sempre,

e em qualquer caso o requisito da culpa, como decorre dos art°s 15°, 31° e

35° do C. Penal, normas que a douta sentença recorrida violou.

20. De todos os requisitos indispensáveis à existência das infracções em causa -

facto ilícito - nexo de imputação do facto - ao agente, existência de dano e,

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por último, a culpa, o M.P. não logrou provar um só que fosse, o - que torna

absolutamente incompreensível e inaceitável a condenação dos recorrentes.

21. Nada justifica, aliás, a diferenciação entre os demandados, recorrentes, e o

trato dado, de forma correcta e justa, às demandadas Carla Cró e Helena

Rodrigues, com manifesta ofensa do princípio da igualdade (art° 13° da

C.R.P.).

22. Em qualquer caso, sempre estão reunidas as condições para ser relevada e,

no limite, isentos os demandados de qualquer pena nos termos supra

consignados.

23. A interpretação dada pela sentença recorrida aos art°s 58°,61°,65° nºs 1.,

alínea b) e 5, e 67° n° 2, da LOPTC (Lei nº 98/97, de 26 de Agosto)

inconstitucionaliza aquelas disposições, por violação dos artºs 1°, 13°, nº 1,

20° e 25° da C.R.P., inconstitucionalidade que para todos os legais efeitos se

arguiu.

*

4. Por despacho de 6 de Julho de 2015 foi o recurso admitido, por se

verificar a legitimidade dos Recorrentes bem como a tempestividade na

apresentação do mesmo, nos termos dos artigos 96º-nº 3, 97º-nº 1 e

109º-nº 1 da L.O.P.T.C.

5. A Exma. Magistrada do Ministério Público, notificada para responder ao

recurso, nos termos do artº 99º-nº 1 da L.O.P.T.C., apresentou o douto

parecer concluindo que o recurso não merece provimento e que a douta

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sentença recorrida deve ser confirmada, nos termos e com os seguintes

fundamentos:

Conforme resulta das conclusões da alegação de recurso, colocam-se as

seguintes questões:

Alteração da matéria de facto;

Ampliação da matéria de facto;

Nulidade da sentença, por omissão de pronuncia relativamente ao

recorrente Ricardo Gonçalves;

Nulidade de sentença por omissão de pronuncia;

Erro nos pressupostos de facto;

Contradição insanável;

Pagamentos indevidos;

Falta de culpa;

Ofensa do princípio da igualdade;

Relevação da pena;

Inconstitucionalidade.

Os recorrentes não têm razão quando pugnam pela alteração da matéria de

facto, uma vez que a matéria constante do ponto 26 e primeira parte do

ponto 25 dos factos dados como provados resulta da matéria alegada pelo

Ministério Público no R.I. (designadamente nos pontos 13 a 16 e 35 e segs.),

assim como da discussão da causa, sendo ainda certo que não se deteta

qualquer contradição entre pontos assinados e a parte final do ponto 25,

nem o recorrente melhor a explicita.

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Não têm razão no que se refere à ampliação da matéria de facto do ponto 9,

bem como relativamente à inclusão nos factos provados da matéria alegada

nos artigos 47º, 60º, 61º e 90º da Contestação; em primeiro lugar porque os

recorrentes não lograram demonstrar qual a relevância de incluir aquela

matéria no rol dos factos provados, para a decisão da causa, demonstração

que lhes cabia efetuar, em segundo lugar, porque não especificam os

concretos meios probatórios que imponham essa inclusão, limitando-se a

manifestar o seu dissentimento com tal falta, sem contudo, lograrem ir muito

além do mero juízo conclusivo.

Não têm razão quando, face ao contraditório realizado no processo de

auditoria, retiram sem mais que houve violação no cumprimento daquele

contraditório, com o fundamento de que nenhuma intervenção em concreto

no procedimento administrativo e financeiro em causa foi imputada ao

recorrente Ricardo Gonçalves, uma vez que na fase pré-jurisdicional “o

princípio do contraditório” ficará garantido se os visados forem ouvidos sobre

os factos constitutivos de responsabilidade financeira, o que sucedeu e

resulta implícito da decisão recorrida.

Não têm razão quando, discutindo a validade das deliberações do Senado no

que se refere à competência deste órgão, defendem que a sentença recorrida

enferma de nulidade por omissão de pronúncia, pois, como os próprios

recorrentes reconhecem, afirma-se em tal decisão que “(…) a ação não põe

em causa, nem vem esgrimir com a ilegalidade da criação dos cursos do

mestrado, tal como foi feita mas antes e apenas os pagamentos feitos a

diversos títulos a docentes e funcionários na decorrência da prestação dos

cursos”. Ou seja, o Tribunal não deixou de apreciar e decidir a questão

colocada, fê-lo, porém, segundo argumentação diversa da apresentada pelos

recorrentes.

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Os recorrentes não explicitam em que consistiu o alegado erro da sentença

quanto aos pressupostos de facto, limitando-se, genericamente, em abono da

sua tese, a referir “a evidência do conteúdo das deliberações do Senado e o

afirmado pelo próprio Ministério Público”, pelo que se fica sem saber de onde

deriva o invocado erro.

Não têm razão no que se refere à invocada contradição insanável, porque

não há contradição lógica entre se entender na sentença que era necessário,

quer em relação aos professores, quer em relação aos funcionários,

destinatários dos pagamentos em causa “ter em conta as circunstâncias

pessoais e profissionais de cada um” e alegada dispensa de prova de tais

circunstâncias, que não existiu.

Não têm razão quando defendem que não ocorreram pagamentos indevidos,

por ter havido contraprestação efetiva e adequada. Quanto a esta matéria,

não haverá muito para dizer, para além do que já ficou a constar dos

fundamentos da douta decisão recorrida – com os quais estamos,

inteiramente de acordo. Na verdade, o trabalho prestado no âmbito dos

mestrados estava compreendido nas funções normais dos docentes e

funcionários, sem caráter extraordinário, e com tal, sendo ilegais os

pagamentos efetuados a esse título, está afastada a hipótese da

contraprestação. Improcede, pois, mais este argumento dos recorrentes.

Não têm razão quando invocam que deviam obediência às deliberações do

Senado e que, consequentemente, não atuaram com negligência. Sobre este

argumento da falta de culpa dos recorrentes apenas se pode responder que

o Tribunal apurou factos concretos (cfr. pontos 8 a 12, 25 e 26 da matéria de

facto) que deu como devidamente comprovados e que são mais do que

suficientes para concluir que agiram com culpa.

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Não têm razão quanto à suposta violação ao “princípio da igualdade” entre

demandados condenados e absolvidos, uma vez que todos os demandados

foram tratados igualmente, em termos de procedimento judicial, só nesta

perspetiva fazendo sentido falar do “princípio da igualdade”, como princípio

garantístico do tratamento de todos os cidadãos perante a lei (art. 13.º da

Constituição). Acontece que o Tribunal entendeu que parte dos demandados

teriam praticado o facto ilícito e, por conseguinte, teriam de ser condenados;

os demais não o teriam feito e, por isso, foram absolvidos.

Relativamente à pretendida “relevação da responsabilidade”, cumpre apenas

observar que a LOPTC não prevê especificamente a sua aplicação em sede

jurisdicional, sendo certo, por outro lado, que, não se verificando os

pressupostos da dispensa da pena, também quanto a esta pretensão os

recorrentes carecem de razão.

Finalmente, sobre a última questão suscitada nas conclusões da alegação de

recurso (inconstitucionalidade dos artos 58.º, 61.º, 65.º n.os 1 alínea b) e 5.º

a 67.º, n.º 2 da LOPTC, na interpretação dada pela sentença recorrida), não

lograram os recorrentes demonstrar a arguida inconstitucionalidade –

demonstração que lhes cabia efetuar, não sendo possível, por conseguinte,

aquilatar da sua verificação ou não.

6. Obtidos os “Vistos” dos Exmos. Adjuntos nada obsta a prolacção do

Acórdão.

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II- OS FACTOS

A factualidade dada como provada e não provada na 1ª instância foi a seguinte:

FACTOS PROVADOS

1. Na Universidade da Madeira, nos anos de 2006 a 2009, inclusive, o primeiro e o

segundo demandados eram vice-reitores, o terceiro demandado foi administrador da

Universidade da Madeira até 6/5/2009, a quarta demandada era directora dos

Serviços de Pessoal, Vencimentos e Carreiras e a quinta demandada foi responsável

e directora dos Serviços de Administração Financeira e Patrimonial e, por despacho

de 20/4/2009, administradora da Universidade da Madeira, os quatro primeiros com

os vencimentos referidos no art.º 9.º do requerimento inicial, aqui dado por

reproduzido, e a quinta com as remunerações mencionadas nos arts.º 112.º e 113.º

da respectiva contestação, também aqui dados por reproduzidos.

2. A Universidade da Madeira foi criada pelo Dec. Lei n.º 319-A/88, de 13/9, e, no

tocante à contabilidade, rege-se pelo Plano Oficial de Contabilidade do Ministério da

Educação.

3. O circuito da despesa e pagamentos da Universidade consistia nos seguintes passos:

Mediante envio, pelo director do curso, do orçamento aprovado, a DSAF inseria-

o no módulo de gestão e criava o centro de curso respectivo;

A propina, cobrada à cabeça, era redistribuída pelas diferentes rúbricas do

orçamento do centro de custo do curso;

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Mediante requisição interna do director do curso, de criação da despesa e

proposta de pagamento, a directora do SPVC, verificava junta do DSAF a

existência de cabimento prévio;

Informando esta do cabimento, a DSPVC, enviava a folha de suporte e o

correspondente “documento de processamento de salários” à reitoria, para

autorização;

Autorizando a despesa e o processamento, o Conselho de Gestão, enviava os

documentos referidos à DSAF para contabilização e pagamento.

4. A Universidade da Madeira ministrava então o curso de mestrado em “gestão

estratégica e desenvolvimento do turismo”, cujo regulamento tinha sido aprovado

pela deliberação n.º 15/2003 do Senado.

5. A Universidade da Madeira, pelas deliberações n.º 89/SU/2007 e n.º 88/SU/2007, de

12/12/2007, do Senado, acolhendo proposta do respectivo Departamento de Gestão

e Economia, de 30/10/2007, aprovou o relatório de criação do “mestrado em

economia” e do “mestrado em ciências empresarias”.

6. Aquela proposta era instruída com um orçamento de viabilidade financeira, que

continha uma rubrica denominada “custos de coordenação”, com uma verba

associada para cada ano de funcionamento e diversas rubricas referentes ao

pagamento, no 1º ano, de 36 horas lectivas aos oito docentes do curso.

7. O DGE, nessa reunião da respectiva Comissão Científica, havida em 30/10/2007,

para os mestrados, deliberou atribuir a vários dos seus docentes “acrescidos

fundos”, “a transferir das receitas própria do Departamento”. Concretamente

“deliberou atribuir”, quanto ao “mestrado de ciências empresariais”:

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a elaboração do dossier da sua criação ao Prof. Dr. Fernando Pereira e, por isso,

o suplemento remuneratório de €4.000,00, suportado pelas receitas de projectos

de prestação de serviços do DGE;

a coordenação da sua 1ª edição ao mesmo Prof. Dr. Fernando Ferreira e, por

isso, o suplemento remuneratório de €8.000,00, a suportado pelo orçamento do

mestrado;

a preparação da edição do mestrado do Instituto Superior de Economia ao Prof.

Dr. Ricardo Cabral e, por isso, o suplemento remuneratório de €4.000,00, a

suportar pelas receitas de projectos de prestação de serviços do DGE;

e quanto ao “mestrado de economia”:

a elaboração de um dossier de criação do curso de 2º ciclo de economia ao Prof.

Dr. Corrado Andini e, por isso, o suplemento remuneratório de €4.000,00, a

suportado pelas receitas de projectos de prestação de serviços do DGE;

a coordenação da 1ª edição do mestrado em referência ao mesmo Prof. Dr.

Corrado Andini e, por isso, o suplemento remuneratório de €8.000,00;

8. Assim, o Conselho de Administração da Universidade da Madeira, através dos dois

primeiros demandados, ambos vice-reitores, e do terceiro demandado,

administrador, mediante informação de cabimento da quarta demandada, directora

do SPVC, autorizou e pagou, pela elaboração do dossier de criação e pela

coordenação daqueles dois cursos de mestrado, nos anos de 2008 e 2009,a coberto

da rubrica “01.02.14 – outros abonos em numerário ou em espécie”, o valor total de

49.850,00 €, conforme quadro que segue:

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Doc.

n.º Nome do docente Valor

Autorização da

Despesa

Data da

autorização

Autorização do

pagamento

Data do

pagamento

673 Santiago Rodríguez 6.400,00 António Brehm 13-02-2008 Ricardo Gonçalves 20-03-2008

2289 Ricardo Cabral 2.500,00 António Brehm 07-05-2008 Ricardo Gonçalves 24-06-2008

3562 João Oliveira 5.000,00 António Brehm 29-05-2008 Ricardo Gonçalves 25-08-2008

3936 Ricardo Correia 4.750,00 Rui Carita 04-08-2008 Ricardo Gonçalves 24-09-2008

4467 Corrado Andini 8.000,00 António Brehm 10-09-2008 Ricardo Gonçalves 24-10-2008

5557 Fernando Ferreira 8.000,00 António Brehm 31-10-2008 Ricardo Gonçalves 23-12-2008

1106 Santiago Rodríguez 6.400,00 Rui Carita 12-02-2009 António Brehm 24-04-2009

1097 João Oliveira 4.500,00 Rui Carita 17-03-2009 António Brehm 24-04-2009

1107 Ricardo Correia 4.300,00 Rui Carita 16-03-2009 António Brehm 24-04-2009

Total 49 850,00

9. Os docentes universitários em tempo integral, estejam ou não em regime de

dedicação exclusiva, devem prestar um serviço de aulas ou seminários entre seis e

nove horas semanais, a fixar nos termos estatutários, fixação que não sucedeu

antes de 2010.

10. A título de suplemento remuneratório pela leccionação dos cursos de mestrado

referidos, o Conselho de Administração da Universidade da Madeira, através dos

dois primeiros demandados, ambos vice-reitores, e do terceiro demandado,

administrador, mediante informação de cabimento da quarta demandada, directora

do SPVC, e contabilização da quinta demandada, directora do DSAFP, autorizou

pagamentos adicionais, que foram efectuados, pela mesma rubrica acima referida,

no valor total de 40.615,00 €, assim descriminada:

Doc.

n.º Nome do docente

N.º de horas

mestrado Valor

auferido (€) Leccionadas

1113 Corrado Andini 30 3 600,00

1031 Eduardo Fermé 30 3 600,00

1433 Santiago Rodriguez 30 3 600,00

3562

3274

3563

3927

3928

João Oliveira 46 6 075,00

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Doc.

n.º Nome do docente

N.º de

horas

mestrado Valor

auferido (€)

Leccionadas

3940 José Eduardo Gonçalves 28 3 500,00

3565

3564

3935

Ricardo Correia 9 1 125,00

1091

1092 Corrado Andini 72 9 720,00

5552 Filipe Sousa 36 4 320,00

5186 João Oliveira 9 1 125,00

1188 Ricardo Cabral 18 2 700,00

5178 Ricardo Correia 10 1 250,00

Total 40 615,00

11. A referida proposta do DGE não inclui nem faz qualquer referência a pagamentos

pela vigilância de provas e exames; no entanto, o Conselho de Administração da

Universidade da Madeira, através dos dois primeiros demandados, ambos vice-

reitores, e do terceiro demandado, administrador, mediante informação de

cabimento da quarta demandada, directora do SPVC, autorizou e pagou, pela

vigilância de provas e exames daqueles dois cursos de mestrado, nos anos lectivos

de 2006/2007 e de 2008/2009,a coberto da rubrica “01.02.14 – outros abonos em

numerário ou em espécie”, o valor total de 3.487,50 €, conforme quadro que segue:

Doc.

n.º

Nome do

docente

Valor

(€)

Autorização

da despesa

Data da

autorização

Autorização

do pagamento

Data do

pagamento

2840 Vera Barros 550,00 29.05.2007 Ricardo Gonçalves 24.07.2007

6525 Celso Nunes 100,00 24.10.2007 Rui Carita 21.12.2007

6530 Ricardo Correia 100,00 Rui Carita 22.11.2007 - 21.12.2007

187 Ricardo Correia 100,00 António Brehm 07.12.2007 Rui Carita 24.01.2008

671 Corrado Andini 100,00 António Brehm 13.02.2008 Ricardo Gonçalves 20.03.2008

1445 Vera Barros 100,00 Ricardo Gonçalves 07.03.2008 Ricardo Gonçalves 24.04.2008

1446 Ricardo Correia 200,00 Ricardo Gonçalves 07.03.2008 Ricardo Gonçalves 24.04.2008

2288 Vera Barros 100,00 Ricardo Gonçalves 22.04.2008 Ricardo Gonçalves 24.06.2008

3560 Celso Nunes 100,00 António Brehm 04.07.2008 Ricardo Gonçalves 25.08.2008

3930 João Oliveira 200,00 Ricardo Gonçalves 30.07.2008 Ricardo Gonçalves 24.09.2008

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Doc.

n.º

Nome do

docente

Valor

(€)

Autorização

da despesa

Data da

autorização

Autorização

do pagamento

Data do

pagamento

3931 António Almeida 200,00 Rui Carita 30.07.2008 Ricardo Gonçalves 24.09.2008

3937 Ricardo Correia 200,00 Rui Carita 30.07.2008 Ricardo Gonçalves 24.09.2008

5179 Ricardo Correia 200,00

Rui Carita/

Ricardo Gonçalves 02.10.2008 Ricardo Gonçalves 24.11.2008

5182 António Almeida 100,00 Rui Carita 02.10.2008 Ricardo Gonçalves 24.11.2008

5522 Ricardo Correia 187,50 António Brehm 29.10.2008 Ricardo Gonçalves 23.12.2008

5574 Ricardo Correia 187,50 António Brehm 29.10.2008 Ricardo Gonçalves 23.12.2008

5547 João Oliveira 562,50 António Brehm 29.10.2008 Ricardo Gonçalves 23.12.2008

672 Fernando Ferreira 100,00 António Brehm - Ricardo Gonçalves 20.03.2008

1444 Carmem Freitas 100,00 Ricardo Gonçalves - Ricardo Gonçalves 24.04.2008

Total 3 487,50

12. A referida proposta do DGE também não inclui nem faz qualquer referência a

pagamentos de abonos suplementares pelo apoio logístico aos cursos de mestrado;

no entanto, o Conselho de Administração da Universidade da Madeira, através do

primeiro demandado , vice-reitor, e do terceiro demandado, administrador,

mediante informação de cabimento da quarta demandada, directora do SPVC,

autorizou e pagou, pela vigilância de provas e exames daqueles dois cursos de

mestrado, nos anos lectivos de 2006/2007 e de 2008/2009,a coberto da rubrica

“01.02.14 – outros abonos em numerário ou em espécie”, o valor total de 3.550,00

€, conforme quadro que segue:

Doc.

n.º Nome do docente Valor

Autorização

da despesa

Data da

autorização

Autorização

do pagamento

Data do

pagamento

1111 Maria da Luz Ferro 200,00 19-12-2006 Ricardo Gonçalves 26-02-2007

1112 Rita Faria 200,00 19-12-2006 Ricardo Gonçalves 26-02-2007

1430 Vera Barros 800,00 13-04-2007 Ricardo Gonçalves 24-05-2007

1431 Maria da Luz Ferro 150,00 10-04-2007 Ricardo Gonçalves 24-05-2007

6497 Maria da Luz Ferro 250,00 24-10-2007 Ricardo Gonçalves 21-12-2007

6498 Rita Faria 350,00 24-10-2007 Ricardo Gonçalves 21-12-2007

1447 Maria da Luz Ferro 100,00 Ricardo Gonçalves 07-03-2008 Ricardo Gonçalves 24-04-2008

5180 Agostinho Marques 1.500,00 António Brehm 23-10-2008 Ricardo Gonçalves 24-11-2008

Total 3.550,00

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13. Nas folhas de pagamento não se especificam as concretas tarefas em que se

materializou o apoio logístico nem o tempo de duração da respectiva prestação.

14. A intervenção dos dois primeiros demandados, vice-reitores, nos factos descritos

decorreu de subdelegação de competências do reitor, conforme despacho n.º

11007/2006, de 19/5.

15. A criação dos dois cursos de mestrado ocorreu num contexto de grandes

dificuldades financeiras da Universidade, cujas necessidades de obtenção de receitas

levou a que fosse incentivada tal criação.

16. Os cursos tiveram sempre procura superior à oferta, a despesa que causaram foi

suportada por receita proveniente das respectivas propinas e houve sempre saldo

elevado a favor da Universidade, além de que o serviço prestado beneficiou os

alunos, pela qualidade dos cursos e por serem realizados localmente.

17. O trabalho dos mestrados em causa teve lugar em horário pós-laboral, no final das

tardes de sexta-feira e sábados.

18. O mestrado em ciências Empresariais foi também leccionado por docentes do ISEG

e da Universidade de Évora e teve as vigilâncias de provas e exames feitas por

docentes da Universidade da Madeira.

19. Os professores Corrado Andini, Ricardo Cabral, Santiago Budria, João Oliveira,

Eduardo Fermé e Ricardo Correia leccionaram nos termos referidos nos arts. 70.º a

74.ºe 76.º a 78.º da contestação dos quatro primeiros demandados, cujo teor se dá

por reproduzido.

20. A vigilância de provas e exames foi feita por docentes da Universidade da Madeira,

em cadeiras que não leccionavam, para evitar deslocações à Região de docentes de

outras Universidades.

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21. O Secretariado da Universidade, através das pessoas referidas no quadro do n.º 12

destes factos, deu apoio para além do seu horário normal, às sextas ao final da

tarde e aos sábados, aos docentes que leccionaram os mestrados, sendo que

Agostinho Marques fez trabalho informático para um curso de pós-graduação do

ISEG, leccionado na Madeira.

22. Na sequência de um Relatório da Inspecção-Geral do ex-Ministério da Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior, remetido à Secção Regional da Madeira do Tribunal

de Contas em 15/9/2011, foi, por despacho do Juiz desta Secção Regional de

9/2/2012, a fls. 64 da pasta do processo, dado início à Auditoria à Universidade da

Madeira.

23. Os demandados foram notificados para um primeiro contraditório em 30/1/2013 e

para segundo contraditório em 10/5/2013, conforme fls. 313 a 332 da pasta do

processo.

24. A presente acção foi intentada em 3/4/2014, tendo ocorrido a citação do primeiro

demandado em 22/4/2014, do segundo em 25/4/2014, do terceiro em 23/4/2014,

da quarta em 6/5/2014 e da quinta em 14/4/2014.

25. Os demandados conheciam as normas legais e os estatutos referentes à gestão,

criação de cursos de mestrado e à contabilidade da Universidade da Madeira,

incluindo as relativas à autorização de despesa e pagamentos de vencimentos e

outros suplementos remuneratórios, bem como ao respectivo processamento e

agiram convictos da legalidade da criação dos cursos e dos termos em que o

Senado da Universidade o fez.

26. Os três primeiros demandados não agiram com o necessário dever de cuidado que

lhes era imposto na autorização e pagamento das despesas em que intervieram,

relativamente às condições pessoais de cada um dos beneficiários desses

pagamentos.

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FACTOS NÃO PROVADOS

Todos os que estejam, directa ou indirectamente, em contradição com os factos acima

dados como provados, nomeadamente, no requerimento inicial, os constantes do art.º

24.º, na parte que não consta do quadro que integra o ponto 10 da matéria de facto,

do art.º 35.º, quanto a terem os demandados agido concertadamente, bem como no

que a esse respeito é referido nos arts.º 24.º, 28.º e 31.º, 38.º e 39.º, na medida em

que contrariam o que consta do ponto 26 dos factos provados e 57.º, na parte

respeitante à quinta demandada.

Não se provaram igualmente todos os factos constantes das contestações que estejam,

nos mesmos termos, em contradição com os factos dados como provados,

nomeadamente nos arts.º 92.º e 94.º da contestação da quinta demandada.

FUNDAMENTAÇÃO

Os factos dados como provados e não provados resultam fundamentalmente dos

documentos juntos ao processo de auditoria e do teor da contestação dos

demandados e documentos juntos com a contestação da quinta demandada.

Os factos alegados pelo Ministério Público no requerimento inicial, que

imputavam à quinta demandada a responsabilidade por autorização de

pagamentos referidos nos pontos 11 e 12 da matéria de facto, que ali estão em

branco, não são dados como provados, não só porque nenhuma prova foi

produzida sobre eles em julgamento, como pela análise dos documentos que os

comprovariam não é possível retirar tal responsabilidade.

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A rubrica que lhe é atribuída como autorização da despesa, refere-se, no

entender do Tribunal, à existência de cabimento, o que cabe exactamente nas

suas funções nessas datas, descritas no ponto 1 da matéria de facto, e no

circuito da despesa relatado no ponto 3. A despesa já lhe chegava autorizada

com despacho “Autorizada a despesa mediante cabimento prévio”, em data

anterior, sendo a rubrica do terceiro demandado, como se pode ver, por

exemplo, dos documentos n.º 1111, 1112 ou 1431 daqueles quadros.

A restante factualidade alegada não foi considerada provada, uma vez que não

está documentada ou sobre ela não foi feita prova em julgamento, além de que

o Ministério Público e a quinta demandada prescindiram de qualquer outra

produção de prova.

III – O DIREITO

1. DA MATÉRIA DE FACTO

Os Recorrentes, no ponto B) DOS FACTOS, vêm alegar que na douta sentença

recorrida, foram dados como provados factos que não podiam ser considerados

provados (factos nºs 25 e 26), factos provados mas contraditórios (factos nºs 25 e

26, factos provados a que deve ser aditada matéria (facto nº 9) e factos que

deviam ter sido dados como provados.

Vejamos:

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a) Factos nºs 25 (1ª parte) e 26

Alegam os recorrentes (Conclusões nºs 2 e 3) que tal factualidade não podia ser

dada como provada porque não teria sido alegada pelo Ministério Público (M.P.) no

requerimento inicial nem pelos Demandados.

Não têm razão os Recorrentes. A factualidade foi alegada pelo Ministério Público no

requerimento inicial (pontos 16, 37 a 39), não sendo correcto afirmar que o M.P.

prescindiu das testemunhas que arrolara pois não corresponde ao que consta dos

autos, uma vez que foi ouvido, como testemunha apresentada pelo M.P. Luís

Alberto Santos Capela (acta da audiência a fls. 235 do processo da 1ª instância).

No que respeita ao facto nº 26, não ficou provado que os Recorrentes tivessem

agido concertadamente, como alegava o M.P. (ponto nº 35 do requerimento inicial)

o que não colide com a factualidade aí dada como provada, ou seja, não se provou

o alegado dolo mas provou-se que não agiram com o necessário dever de cuidado.

Não há, pois, qualquer censura a fazer nesta matéria sendo que não se detecta

qualquer contradição entre a 1ª e a 2ª parte do facto provado nº 25: os

Recorrentes conheciam as normas legais e os estatutos da Universidade da Madeira

e agiram convictos de que as mesmas eram observadas nos concretos actos que

praticaram.

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b) Facto nº 9

Os Recorrentes pretendem que seja aditada matéria ao facto nº 9 (Conclusão nº 4)

mas nenhuma justificação relevante é adiantada para tal. O conteúdo deste artigo é

claro e não foi, sequer, dado cumprimento ao disposto no artº 640º do C. P. Civil.

c) Artigos nºs 47º, 60º, 61º e 90º da contestação – (Conclusão nº 5)

Os Recorrentes pretendem que sejam dados como provados os factos alegados nos

supra-referidos artigos, limitando-se a alegar que resultam da prova documental e

dos depoimentos das testemunhas dos Demandados, sem dar cumprimento ao

disposto no artº 640º do C. P. Civil.

Na verdade, os Recorrentes, ao impugnar a decisão sobre a matéria de facto têm a

obrigação de especificar:

Os concretos pontos de facto que consideram incorretamente julgados;

Os concretos meios probatórios constantes do processo ou da gravação que

determinassem decisão diversa quanto ao teor do despacho sobre a matéria

factual;

A decisão que deverá ser proferida sobre as questões de facto impugnadas.

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A indicação exacta das passagens da gravação que justificariam decisão

diversa, sob pena de imediata rejeição do recurso (artº 640º-nº 2 do C. P.

Civil).

Nada disto foi feito pelos Recorrentes, pelo que se rejeita, liminarmente, a

impugnação que os Recorrentes apresentam sobre a matéria de facto.

d) Conclusão nº 6

Alegam os Recorrentes que a douta sentença enferma de nulidade por omissão de

pronúncia relativamente à questão suscitada na contestação da deficiente audição

do Demandado Ricardo Gonçalves.

Compulsados os autos, designadamente, o Relato da Auditoria, constata-se que o

contraditório foi exercido, conjuntamente, pelos Demandados António Brehm, Rui

Silvestre, Ricardo Gonçalves e Maria Helena Rodrigues não tendo suscitado

qualquer questão relativamente a qualquer deficiência relativamente ao referido

Ricardo Gonçalves e tendo, inclusivamente, requerido a prorrogação dos prazos

para o exercício do direito de audiência prévia, o que foi, e bem, deferido.

No Capítulo II da L.O.P.T.C. – Estatuto e princípios fundamentais – o artº 13º

consagra o princípio do contraditório nos casos sujeitos à sua apreciação,

assegurando aos responsáveis “previamente à instauração dos processos de

efectivação de responsabilidade bem como dos processos de multa, o direito de serem

ouvidos sobre os factos que lhes são imputados, a respectiva qualificação, o regime legal

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e os montantes a repor ou a pagar, tendo, para o efeito, acesso à informação disponível

nas entidades ou organismos respectivos” (nº 2 do artigo 13º).

A audição dos responsáveis é feita “antes do Tribunal formular juízos públicos de

simples apreciação, censura ou condenação” (nº 3 do artº 13º).

A fase da audição dos responsáveis ocorre após o relato de auditoria nos termos

do disposto nos artigos 38º e 60º do Regulamento da 2ª Secção, e artigo 35º dos

Regulamentos das Secções Regionais dos Açores e da Madeira.

Compreende-se e justifica-se que seja este o momento adequado para o cabal

exercício do princípio do contraditório. Na verdade, uma vez recebido o relato, as

respostas dos responsáveis serão objecto de análise ponderação para apreciação

final dos auditores (artº 35º dos Regulamentos das Secções Regionais e artºs 60º

e 61º do Regulamento da 2ª Secção) devendo o relatório final da auditoria incluir

uma súmula das respostas e dos comentários julgados pertinentes.

Como se evidencia no Processo de Auditoria o Relato concluía, com a evidenciação

das diversas infracções indiciadas, e obedecendo à seguinte estruturação.

Descrição dos factos constitutivos

Qualificação dos factos como infracções financeiras

Responsáveis

Elementos de Prova

Normas infringidas

Tipo de infracção

Montantes das reposições por cada um dos responsáveis.

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Na sequência da notificação para efeitos de contraditório, os Responsáveis vieram

exercer o seu direito, pronunciando-se sobre os factos e sobre a imputação

subjectiva.

Conclui-se, assim, sem qualquer dúvida razoável que os ora Demandados puderam

exercer, com toda a amplitude, o seu direito ao contraditório, tendo sido ouvidos

sobre os factos e a imputação subjectiva que lhes era referenciada.

No exercício do contraditório, os indigitados responsáveis ficaram, pois, cientes de

toda a factualidade susceptível de ser enquadrada em infracções financeiras que

lhes eram imputadas e que, em termos finais, foram integradas no relatório final da

auditoria e vieram a apresentar a sua defesa a todas as situações sindicadas, de

forma clara, precisa, evidenciando uma compreensão de todas as questões

suscitadas.

Do exposto, o contraditório foi cabalmente exercido, no tempo próprio

e respeitando todas as exigências legais não se justificando qualquer

censura pelo que o Meritíssimo Juiz “a quo” considerou, e bem, que o

contraditório foi correctamente exercido possibilitando a todos os

Demandados o adequado exercício dos seus direitos de defesa.

e) Conclusões nºs 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13

Nestas conclusões, os Recorrentes alegam que houve omissão de pronúncia quanto

à existência de uma causa de exclusão da ilicitude e culpa (artº 31º e 37º do C.

Penal) pois os Recorrentes se limitaram a cumprir as deliberações do Senado.

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Na douta sentença recorrida, a excepção suscitada pelos Demandados que

denominaram de “cumprimento de obrigação legal e funcional” face às

deliberações dos órgãos competentes da Universidade foi, contrariamente ao agora

alegado, conhecida e decidida de forma exaustiva como decorre da leitura da

sentença.

Na verdade, reproduz-se o que de relevante para esta questão, consta da sentença:

“(..)

Com isto, invocado como excepção, pretendem que obste a que o Tribunal possa

apreciar a causa, tal como está intentada pelo Ministério Público.

Porém, precisamente porque há que apreciar a alegação dos demandados à luz do

requerimento inicial, nos termos em que está elaborado, é que esta excepção não

procede.

Com efeito, a acção não põe em causa nem vem esgrimir com a ilegalidade da

criação dos cursos de mestrado, tal como foi feita, mas antes e apenas os

pagamentos feitos a diversos títulos a docentes e funcionários na decorrência da

prestação dos cursos. 1

Não são os cursos em si mesmos questionados, mas antes os pagamentos

efectuados com autorização de despesa ou efectivação pelos demandados.

1 Sublinhados nossos

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Ou seja, se os concretos beneficiários daqueles concretos pagamentos os poderiam

ter recebido, tendo em conta as circunstâncias pessoais e profissionais de cada um;

não se, em abstracto, poderiam ser feitos pagamentos no âmbito dos cursos, o que

não está questionado.

(…)”

E, mais à frente, retoma-se este entendimento como segue:

O que os demandados contestaram foi o enquadramento jurídico feito no

requerimento inicial, ao considerar esses pagamentos ilegais e indevidos, já que

alegaram que mais não foram que a decorrência directa e o cumprimento das

deliberações do Senado da Universidade que criaram os dois cursos de mestrado.

Têm a criação desses cursos como legal – e isso não estava em causa na acção,

nem o Ministério Público o alegou 2 – e, portanto, dizem, porque os beneficiários

dos pagamentos os criaram e coordenaram os leccionaram, fizeram vigilâncias de

provas e exames e deram apoio logístico, nos períodos e horários que ficaram

provados, tinham direito àquelas remunerações, legais e devidas.

Não estava em causa o que foi deliberado pelo Senado, antes, os pagamentos

concretos que decorreram de tais deliberações, não se vislumbrando, assim, qual o

“erro nos pressupostos de facto” que é assinalado bem como uma alegada

contradição insanável entre a necessidade de se ter em conta as circunstâncias

pessoais e profissionais de cada um dos beneficiários, dos concretos pagamentos

2 Sublinhados nossos

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para se concluir ou não da ilicitude dos factos em causa: as autorizações de

pagamentos.

Assim, sendo, dúvidas não subsistem quanto à improcedência das conclusões 7º,

8º, 9º, 10º, 11º, 12º e 13º.

f) Conclusões nºs 14 e seguintes

Os Recorrentes vêm colocar em causa a existência de infracções financeiras

sancionatórias e reintegratórias que foram julgadas verificadas na douta sentença

recorrida.

Assim, defendem que não ocorreram pagamentos indevidos porque os Mestrados

foram altamente proveitosos para os alunos e especialmente rentáveis para a

Universidade da Madeira e que deles não adveio dano para o erário público.

Os Recorrentes ignoram os factos provados na 1ª instância, designadamente, os

factos nºs 8, 9, 10, 11 e 12 e que, em súmula relevante, evidenciam que:

Os Recorrentes, enquanto membros do Conselho de Administração da

Universidade da Madeira autorizaram e pagaram as quantias

referenciadas nos nºs 8, 9, 10, 11 e 12;

Estas quantias diziam respeito à elaboração do dossier de criação e pela

coordenação dos cursos de mestrado em 2008 e 2009, suplementos

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remuneratórios pela leccionação dos cursos de mestrado, vigilância de

provas e exames e abonos suplementares pelo apoio logístico aos cursos

de mestrado.

Ora, e como foi claramente referenciado na douta sentença, nenhuma

das quantias referidas tinha base legal. Assim:

Os suplementos remuneratórios na função pública apenas poderiam ser

criados por lei ou instrumento de regulação colectiva de trabalho (artºs

19º-nº 3 do Decreto-Lei nº 184/89, de 2 de Julho; artº 1º a 3º do

Decreto-Lei nº 14/2003, de 31 de Janeiro; artº 73º-nº 7 da Lei nº

12-A/2008, de 27 de Fevereiro);

Os beneficiários, docentes e funcionários da Universidade da Madeira

somente poderiam ser remunerados de acordo com o sistema retributivo

da função pública;

O Estatuto da Carreira Docente Universitária (Decreto-Lei nº 448/79,

alterado pelo Decreto-Lei nº 295/09, previa e dispunha que cabe aos

docentes “participar em outras tarefas distribuídas pelos órgãos de gestão

competentes e que se incluam no âmbito da actividade de docente universitário”

(artº 4º), como é a criação e coordenação de mestrados, a vigilância de

provas e exames (artº 68º do E.C.D.U.)).

Do exposto, conclui-se como na douta sentença recorrida que todos os

pagamentos autorizados pelos Recorrentes não tinham base legal sendo,

pois, ilegais todas as quantias que foram autorizadas pelos Recorrentes e

que se discriminam na douta sentença da 1ª instância.

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Acresce que os pagamentos autorizados também consubstanciam a

infracção financeira reintegratória de pagamentos indevidos, prevista no

artº 59º-nº 1 e 4 da L.O.P.T.C. porque não correspondem a qualquer

contraprestação dado que os serviços que foram prestados pelos

docentes eram, sempre, devidos, integrando o respectivo conteúdo

funcional pelo que não justificavam qualquer pagamento adicional.

2. DA CULPA

Ficou provado que:

a) “Os demandados conheciam as normas legais e os estatutos referentes à

gestão, criação de cursos de mestrado e à contabilidade da Universidade da

Madeira, incluindo as relativas à autorização de despesa e pagamentos de

vencimentos e outros suplementos remuneratórios, bem como ao respectivo

processamento e agiram convictos da legalidade da criação dos cursos e dos

termos em que o Senado da Universidade o fez.”

b) “Os três primeiros demandados não agiram com o necessário dever de cuidado

que lhes era imposto na autorização e pagamento das despesas em que

intervieram, relativamente às condições pessoais de cada um dos beneficiários

desses pagamentos.”

Assim sendo, os Recorrentes agiram com negligência por não terem procedido com

o cuidado a que estavam obrigados e próprio de um responsável atento e

cumpridor da Lei e que lhes era exigível no concreto condicionalismo apurado na 1ª

instância (artº 15º do C. Penal).

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Acresce que, mesmo a admitir-se que estaríamos no âmbito de um erro sobre a

ilicitude (artº 17º do C. Penal) das autorizações de pagamento, tal erro era-lhes

censurável face à evidente ilegalidade de suplementos remuneratórios não previstos

na Lei.

No que concerne à relevação das responsabilidades ou a isenção de pena solicitada

na conclusão nº 22 das alegações dir-se-á que:

A dispensa de pena não se aplica se houver lugar à reposição ou esta não

tiver sido efectuada (artº 65º-nº 8 da L.O.P.T.C.).

A relevação das responsabilidades é um instituto próprio das 1ª e 2ª

Secções do Tribunal (artº 65º-nº 7 da L.O.P.T.C.).

Assim, não há lugar à aplicação de tais institutos nestes autos.

*

Dir-se-á, a finalizar, que não se compreende as alegações feita nas conclusões nº

21 e 23 : não houve violação do princípio da igualdade com a diferenciação entre os

Demandados que foram absolvidos e os que foram condenados.

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Como refere, e se subscreve, a Exma. Magistrada do Ministério Público:

“Não têm razão quanto à suposta violação ao “princípio da igualdade” entre

demandados condenados e absolvidos, uma vez que todos os demandados foram

tratados igualmente, em termos de procedimento judicial, só nesta perspetiva

fazendo sentido falar do “princípio da igualdade”, como princípio garantístico do

tratamento de todos os cidadãos perante a lei (art. 13.º da Constituição). Acontece

que o Tribunal entendeu que parte dos demandados teriam praticado o facto ilícito

e, por conseguinte, teriam de ser condenados; os demais não o teriam feito e, por

isso, foram absolvidos.”

Quanto à alegada inconstitucionalidade (nº 23º das conclusões) nada de relevante

poderemos acrescentar pois, como bem salienta a Exma. Magistrada do Ministério

Público, os Recorrentes não demonstraram, minimamente, quais os fundamentos

para terem alegado tal inconstitucionalidade.

*

Em conclusão:

O recurso não merece provimento pelos fundamentos aduzidos e que se

dão como reproduzidos.

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IV – DECISÃO

Pelos fundamentos expostos, os Juízes da 3ª Secção, em Plenário, acordam

em:

Julgar improcedente o recurso e, em consequência,

confirmar a sentença proferida em 1ª instância.

São devidos emolumentos.

Registe e notifique.

Lisboa, 11 de Maio de 2016

Os Juízes Conselheiros,

Carlos Alberto Lourenço Morais Antunes (Relator)

Helena Maria Ferreira Lopes

Laura Maria J. Tavares da Silva