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TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO · Gráfico I – Distribuição das favelas do Município do Rio de Janeiro por ... II METODOLOGIA O monitoramento é um instrumento

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TRIBUNAL DE CONTAS DO

MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Equipe de Inspeção:

Maria da Graça da Cunha Simões Costa Inspetora Setorial Matricula 40/900759

Giuliano Barbirato Alvim Viana Técnico de Controle Externo Matricula 40/901370

Renan Natal Gayoso Tavares de Souza Técnico de Controle Externo Matricula 40/901236

Secretaria Municipal de Habitação Secretário Jorge Ricardo Bittar

Monitoramento das Auditorias nos Programas BAIRRINHO FAVELA BAIRRO

Setembro/outubro/2009

Í N D I C E

I – INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 II – METODOLOGIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

III – DIAGNÓSTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

IV – INDICADORES DE AVALIAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 VI.1 – Produto Interno Bruto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 VI.2 – Violência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 VI.3 – Crescimento Horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 VI.4 – Crescimento Vertical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 VI.5 – Meio Ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 V – POSTOS DE ORIENTAÇÃO URBANÍSTICA E SOCIAL (POUSOS). . . 23

VI – INTERVENÇÕES REALIZADAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 VII – CONCLUSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30

VII.1 – Situação atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30 VII.2 – Considerações Finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

L I S T A D E I L U S T R A Ç Õ E S

Gráfico I – Distribuição das favelas do Município do Rio de Janeiro por Áreas de Planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Gráfico II – Número de indústrias no Município, Estado do Rio de Janeiro e País (1996/2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Fotografias – Mangueira e Rocinha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 Fotografias - Fazenda Botafogo e Rio das Pedras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Gráfico III – Favelas atendidas por POUSOs, segundo as Áreas de

Planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Fotografias – Rio das Pedrinhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Gráfico IV - Evolução do número de favelas, por Áreas de Planejamento. . . . 29 Gráfico V – Gastos totais com intervenções, por Áreas de Planejamento . . . . . 32

A N E X O S

TABELAS

Tabela I - Área ocupada pelas favelas, segundo as APs e RAs do MRJ . . . . . . 1 Tabela II – PIB Municipal, Estadual e Federal (1996/2006) . . . . . . . . . . . . . . . 20 Tabela III – PIB, por setores de atividade, da capital e regiões do Estado do Rio de Janeiro (1996/2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 Tabela IV – Número de indústrias no Município, Estado do Rio de Janeiro e País (1996/2006) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Tabela V – Principais crimes cometidos no Município, por locais de ocorrência (004/2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 Tabela VI – Evolução dos principais crimes cometidos no Município, por locais de ocorrência (2004 e 2007). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 Tabela VII – Favelas surgidas após 1999. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Tabela VIII – Favelas com expressivo crescimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Tabela IX – Áreas Protegidas no Município do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . 46 Tabela X – Áreas de Proteção Ambiental Selecionadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Tabela XI – Favelas segundo a proximidade das áreas de proteção ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50

Tabela XII - Favelas em áreas de proteção ambiental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Tabela XIII - Postos de Orientação Urbanística e Social e favelas atendidas. . . 56 Tabela XIV - Acompanhamento das Intervenções realizadas . . . . . . . . . . . . . . 59

FOTOGRAFIAS

Área de Planejamento 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Foto 1 – Mangueira

Foto 2 – Complexo do Caju Foto 3 – São Carlos Foto 4 – Morro da Providência

Área de Planejamento 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Foto 5 – Babilônia

Foto 6 – Babilônia Foto 7 – Chapéu Mangueira Foto 8 – Chácara do Céu Foto 9 – Chácara do Céu

Foto 10 – Chácara do Céu Foto 11 – Vidigal Foto 12 – Vidigal

Foto 13 - Cantagalo Foto 14 – Parque da Cidade Foto 15 – Parque da Cidade Foto 16 – Rocinha Foto 17 – Rocinha Foto 18 - Rocinha Foto 19 – Rocinha Foto 20 – Rocinha Foto 21 – Borel Foto 22 – Borel Foto 23 – Formiga Foto 24 – Chacrinha Foto 25 – Chacrinha Foto 26 – Morro dos Macacos Foto 27 – Morro dos Macacos

Área de Planejamento 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Foto 28 – Complexo da Maré

Foto 29 – Fazenda Botafogo Foto 30 – Acari

Área de Planejamento 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85 Foto 31 – Rio das Pedras

Foto 32 – Rio das Pedras Foto 33 – Rio das Pedras

Área de Planejamento 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87 Foto 34 – Vila Aliança

ÓRGÃOS E INSTITUIÇÕES CONSULTADAS

Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMAC Secretaria Municipal de Urbanismo - SMU Instituto Pereira Passos - IPP Fundação Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro – CIDE/CEPERJFundação Getulio Vargas - FGV

C A P A

Foto montagem do Cristo Redentor/RJ, eleito, em 07 de julho de 2007, por cidadãos de todo planeta uma das novas “Sete Maravilhas do Mundo”, e da Favela da Maré

I INTRODUÇÃO

Cada vez mais importante para o Município do Rio de Janeiro, a discussão em torno das favelas vem tomando enormes proporções e demandando soluções urgentes, seja pela necessidade de se restaurar áreas legalmente preservadas e degradadas por um excessivo desmatamento, seja pela crescente violência a que essas localidades estão sujeitas em razão do difícil acesso do Poder Público ou pela adequação às exigências do Plano Olímpico para as Olimpíadas de 2016.

Nos anos 60, o governo adotou uma postura de remoção, criando conjuntos habitacionais e retirando dezenas de comunidades da Zona Sul. Vinte anos depois iniciou uma política de concessão de títulos de propriedade e de restrição de incursões policiais nas favelas, propiciando, de certa forma, a expansão das comunidades e o surgimento e a solidificação de um poder paralelo. A década de 90 caracterizou-se por uma política de dotar essas comunidades de serviços públicos, na tentativa de integrá-las à cidade. Investimentos vultosos continuam sendo realizados na implementação de infra-estrutura básica, com a construção de sistemas viários, de abastecimento de água e esgoto e de iluminação pública.

Em 2004, foi iniciada, por este Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, Auditoria de Natureza Operacional, cujo objetivo foi o de avaliar os programas de urbanização em áreas de baixa renda executados pela Secretaria Municipal de Habitação/SMH. Iniciou-se com o Programa Bairrinho (TCMRJ 40/6473/2004) em razão de atender comunidades menores, de 100 a 500 residências, o que proporcionaria, com o início de sua contextualização, identificar as metas a serem atingidas com a execução desses programas.

Em 2005, em uma segunda etapa, realizou-se Auditoria no Programa Favela Bairro (TCMRJ 40/3941/2005), o qual tem como critério beneficiar comunidades de 500 a 2500 residências, muito embora ele também se confunda com o Programa Grandes Favelas (acima de 2500 residências).

Depois de apreciadas pelo Plenário do Tribunal, em Sessões de 04/04/2005 e 19/10/2005, foram prolatados os votos nºs 214/2005 e 494/2005, da lavra dos Conselheiros Relatores, Exmos. Srs. José de Moraes Correa Neto e Antônio Carlos F. de Moraes, respectivamente, com uma série de recomendações às Secretarias Municipais de Habitação (SMH) e de Urbanismo (SMU) voltadas ao aperfeiçoamento da concepção, implementação e controle das ações de urbanização de favelas.

Dado o controle de desempenho vir se afigurando como um papel das Entidades Fiscalizadoras Superiores (EFs), em detrimento do controle formal, realizou-se monitoramento de resultado com base nas “Boas Práticas” sugeridas com vistas a mensurar as melhorias delas decorrentes ou os danos em razão da ausência de sua implementação.

Em ambas Auditorias, com o auxilio de técnicas normalmente usadas, identificaram-se fragilidades na realização desses programas, cujos conteúdos foram compilados em Matrizes de Achados e encaminhadas aos gestores, que, após análise, teceram algumas considerações.

A Secretaria Municipal de Habitação, ao realizar seus comentários acerca das sugestões oferecidas, o fez, na maioria das vezes, justificando sua forma de atuação.

A tentativa de resolver os problemas oriundos da inexistência de políticas habitacionais para população de baixa renda se constitui uma árdua tarefa. No entanto, a solução de legalizar as favelas denominando-as de área de interesse social (AIS) e dotando-as de infra-estrutura básica carece, sem dúvida, da adoção, concomitante, de políticas rígidas de controle.

O controle efetivo do crescimento é de suma importância, uma vez que sua ausência, em favelas já beneficiadas pelos Programas de Urbanização, ocasiona a sobrecarga dos sistemas implantados com ligações clandestinas e/ou o lançamento do esgoto nos corpos hídricos, promovendo o aumento da poluição. E naquelas, em via de serem urbanizadas, dado ao acréscimo do fluxo imigratório provocado pela expectativa das melhorias, observa-se alteração do projeto, em função da necessidade de substituir itens de paisagismo e lazer pelos de infra-estrutura.

II METODOLOGIA

O monitoramento é um instrumento de fiscalização utilizado pelas EFs, cujo objetivo é o de, partindo de um acompanhamento técnico, verificar o cumprimento de suas deliberações e avaliar o seu impacto no aperfeiçoamento do desempenho do programa.

As auditorias dos Programas Bairrinho e Favela Bairro partiram do exame de três questões: a contribuição para a melhoria das condições de infra-estrutura básica; a efetividade das ações de caráter social realizados e os efeitos no ordenamento urbanístico das comunidades.

As constatações mais importantes resultantes destes trabalhos, aprovadas pelo Plenário desta Corte e encaminhadas aos órgãos envolvidos foram: baixa qualidade e má execução dos sistemas implantados; falta de prestação de serviços de manutenção; inadequada utilização das instalações por parte da população; inexistência da previsão de pelo menos uma via de acesso, que permita o trânsito de veículos; pouca efetividade das ações sociais e inexistência de controle de crescimento das favelas.

Haja vista a pouca adesão dos agentes envolvidos aos fatos apontados nas auditorias, este trabalho terá um aspecto híbrido, pois conterá características de monitoramento e de auditoria operacional.

Os benefícios previstos na parte social estão a cargo da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) e o controle e a legislação urbanísticos da Secretaria Municipal de Urbanização (SMU), cabendo à Secretaria Municipal de Habitação (SMH), através de contratos de urbanização, dotar as favelas de infra-estrutura básica.

Quanto à manutenção desses sistemas, eles são terceirizados, por meio de instrumentos contratuais lavrados com a SMH, os quais tiveram sua efetividade avaliada, separadamente, através da Auditoria Operacional autuada sob o número TCMRJ 40/2563/2006, arquivado em 25/10/2007. Neste, sentido e considerando apenas os aspectos relacionados àquela Secretaria, optou-se por direcionar o monitoramento para a ausência de procedimentos visando à contenção de crescimento das favelas. Isto porque a SMH, ao realizar obras em localidades sem um ordenamento urbanístico prévio, dificulta a adoção das normas de legalização urbanística a serem implementadas pela SMU.

Desta forma, na concepção do seu escopo, adotou-se por mapear a situação do Município do Rio de Janeiro através de alguns indicadores sensíveis à existência ou ao crescimento de favelas.

III DIAGNÓSTICO

Quando se avalia a situação do Município, é necessário considerar vieses importantes tais como os efeitos negativos da violência, a conta dos quais se contabiliza diretamente a redução do valor das propriedades e indiretamente o desestímulo aos investimentos. Tais evidências têm como premissa que o crime provoca a evasão de mão de obra qualificada das áreas afetadas, além de comprometer seriamente o setor turístico, vocação natural da região.

Em pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), foi apresentado como uma das conseqüências da violência o fato de o Estado, desde a primeira metade do século passado até hoje, ter apresentado um crescimento econômico inferior ao do país, tendência que vem sendo revertida, nos últimos 15 anos, em função do petróleo. No entanto, dentro do Estado, o Município do Rio de Janeiro se destaca por encontrar-se em pior posição. O estudo demonstra que seu PIB (Produto Interno Bruto) é o mesmo de três décadas atrás, ou seja, o da época da fusão.

O cenário mereceu a adoção de incentivos (Projeto de Lei 62/009), por parte da Prefeitura, como a criação do Pólo Nacional de Call Center, com vistas a minimizar perdas de arrecadação com a saída das empresas por causa da violência.

Há irrefutável convergência em torno da violência urbana e da expansão descontrolada das favelas, o que vem demonstrando indícios de forte correlação entre esses temas.

O Município possui 1023 (mil e vinte e três) favelas cadastradas, segundo o Instituto Pereira Passos, que, em estudo com base em fotos de satélite, no período de 1999 a 2008, indica o crescimento da área total ocupada em cerca de 3 milhões de m² . Os dados coletados estão dispostos no Tabela I (fls.1/19 do Anexo), os quais foram utilizados na elaboração do Gráfico a seguir, para demonstrar a distribuição dessas comunidades por Áreas de Planejamento.

Gráfico I

Distribuição das favelas do Município do Rio de Janeiro por AP

7%

6%

38%

20%

29%

AP 1

AP 2

AP 3

AP 4

AP 5

O crescimento, no entanto, é ainda mais significativo, porque não retrata sua real expansão, pois as imagens não revelam o processo chamado de verticalização, que significa a construção sobre as lajes.

Há, também, um passivo ambiental que, além da poluição gerada com o lançamento de esgoto in natura em nossos rios, lagoas e praias, conta com a devastação dos morros e a invasão de áreas protegidas legalmente, o que pode ser traduzido em débito com toda uma sociedade, pelo desaparecimento de algumas das paisagens mais belas do mundo.

IV INDICADORES DE AVALIAÇÃO IV.1 - Produto Interno Bruto (PIB)

Para a avaliação da atividade econômica do Município do Rio de Janeiro utilizou-se como base o desempenho do Produto Interno Bruto, por ser um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia para mensurar a atividade econômica de uma região.

Representando a soma de todos os bens finais produzidos, engloba a produção dos setores agropecuário, industrial e de serviços, além do consumo da população, dos gastos do governo e do saldo da balança comercial (exportação-importação).

A abordagem procurou comparar a evolução do PIB ao longo de 10 anos, período de 1996/2006, para tanto foi necessária a transformação de preços correntes em constantes a níveis de 2006, com a utilização de um deflator, com vistas a torná-la mais consistente, isolando o crescimento real daquele que se deu artificialmente devido ao aumento inflacionário nos preços da economia.

Considerando esta variável, observa-se que, no período analisado, o Município do Rio de Janeiro apresentou um empobrecimento econômico da ordem de 10%1, enquanto que o Estado e o País cresceram, respectivamente, 34% e 16%, conforme dados contidos na Tabela II (fls. 20 do Anexo).

Analisando o comportamento da evolução da atividade econômica do Município, os dados demonstram que nos anos subseqüentes não se reproduziu o resultado inicialmente aferido em 1996. Concomitantemente, o Estado apresentou sempre produtos superiores ao inicialmente considerado, inclusive com acréscimo ano após ano, merecendo exceção apenas 1998 e 2000. Porém o País viu seu Produto Interno Bruto decrescer, em relação a 2006, nos anos de 1998 e de 2000 a 2002, recuperando-se a seguir.

1

[(PIB\06 : PIB\96) – 1 x 100]

No intuito de melhor avaliar o resultado obtido pelo Município do Rio de Janeiro buscou-se aferir a sua contribuição no Estado. Em 1996, correspondia a 63%, atingindo, porém, a marca de 42% em 2006. A ocorrência poderia ser justificada em razão das altas verificadas na produção de petróleo, representada na Tabela III (fls.21/26 do Anexo) pela região Bacia de Campos, entretanto, outras localidades tais como as Regiões Metropolitana (16% a 19%), Serrana (4% a 3%) e Médio Paraíba (6% a 9%), apesar de oscilarem, mantiveram-se praticamente estáveis, valendo mencionar a situação do Norte Fluminense que dobrou a sua participação (2% para 4%).

Com vistas a identificar a atividade econômica responsável pela retração da economia municipal foi examinada a composição do PIB por setores (Tabela III). Observa-se uma queda acentuada (-15%) de serviços, principal vocação da região, seguida de perto pela arrecadação de impostos (-8%). A indústria, embora timidamente, conseguiu apresentar um desempenho positivo da ordem de 5%. Vale mencionar que, apesar da diminuta participação no total, a agropecuária teve uma forte queda, 40% no período avaliado.

Apesar de o setor industrial ser o único a ter um desempenho positivo, segundo levantamento realizado pelo IBGE (Pesquisa Anual-Empresa), no mesmo período houve uma forte evasão de indústrias do Município. O Gráfico II, resultante dos dados extraídos da Tabela IV (fls.27 do Anexo), compara a evolução do número de indústrias, segundo o estrato formado por empresas com 30 ou mais pessoas ocupadas, instaladas nos territórios do Município do Rio de Janeiro, do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil.

Gráfico II

Evolução do Crescimento do Número de Indústrias

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Ano

Per

cen

tual Município

Estado

União

IV.2 - Violência

A guerra entre traficantes marca a rotina dos morros cariocas. Recentemente os Morros do Juramento e da Formiga sofreram tentativas de invasão, por um lado com o apoio de quadrilhas da Favela da Rocinha e por outro em confronto com bandidos do Borel.

Agora, assumindo níveis alarmantes, a violência ameaça a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, dada a grande repercussão no mundo de notícias tais como o excessivo número de favelas, em sua maioria controladas por traficantes e pelo crime organizado, resultando em mais de 6 mil pessoas mortas por ano no Rio de Janeiro, por conta da violência gerada pelo tráfico.

A onda de violência ocasionada pela disputa de pontos de drogas, ocorrida no dia 17 de outubro do corrente, teve início com a tentativa de invasão do Morro dos Macacos por traficantes do Complexo do Alemão e do Jacarezinho, auxiliados por bandidos dos Morros da Mangueira e Providência, através do Morro São João. Além dessas localidades, estão sob a mira da polícia Manguinhos, Vila Cruzeiro, Morros Quieto e da Matriz, todas de certa forma envolvidas, quer seja por serem pontos de fuga ou por abrigarem criminosos que atuaram nesses eventos. O episódio resultou na morte de mais de 30 pessoas e na derrubada de um helicóptero, há poucos quilômetros de distância de uma das zonas onde acontecerão os Jogos Olímpicos de 2016.

Todas as áreas citadas nesses conflitos foram contempladas com melhorias oriundas de obras de urbanização, realizadas pela Prefeitura ou pelo Estado.

Dada a elevada importância da variável “violência” nos mais diversos segmentos da cidade, foram obtidas estatísticas acerca de quatro principais crimes praticados no período 2004 a 2008, segundo o Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, como podem ser visualizadas através da Tabela V (fls.28/33 do Anexo).

. A análise considerou a evolução do número de crimes ocorridos, tomando por base a situação de 2007 em relação à de 2004, conforme Tabela VI às fls.34/36 do Anexo. Verifica-se que houve redução de homicídios dolosos em grande parte da cidade, excetuando-se as RAs do Méier, Jacarezinho e Inhaúma; Tijuca e Vila Isabel; Centro; Penha, Ramos, Complexo do Alemão e Vigário Geral; Campo Grande e Guaratiba.

Vale ressaltar que os bairros de Andaraí, Grajaú e Vila Isabel, apresentaram 180% a mais no número de ocorrências. Já nos bairros de Brás de Pina, Complexo do Alemão, Olaria e Penha, o crescimento foi de 85,19%, e, nas áreas de Guaratiba, Barra de Guaratiba e Pedra de Guaratiba, 106,67%.

Roubo a transeuntes apresentou grande crescimento de ocorrências em todos os bairros da Cidade, com percentuais que variam de 53,45% a 308,13%, merecendo destaque o caso de Guaratiba, Barra de Guaratiba e Pedra de Guaratiba, com um aumento de 900%.

Em relação ao roubo de veículos, em geral houve diminuição no número de casos, tendo, contudo, crescido as ocorrências nas RAs de Botafogo; Tijuca e Vila Isabel; Anchieta, Realengo e Bangu; Copacabana e Barra da Tijuca. Cabe destacar o crescimento ocorrido nos bairros de Andaraí, Grajaú e Vila Isabel, com 77,44%, Bangu, Gericinó, Padre Miguel e Senador Câmara, com 77,09%, e Guaratiba, Pedra de Guaratiba e Barra de Guaratiba, com 63,64%.

Por fim, o furto de veículos também se apresenta em declínio, havendo, entretanto, aumento nas RAs de Méier, Jacarezinho e Inhaúma; Anchieta, Realengo e Bangu; Ilha do Governador e Paquetá, Jacarepaguá e Cidade de Deus; Barra da Tijuca e Campo Grande e Guaratiba. O crescimento percentual mais significativo ocorreu nos bairros de Barra de Guaratiba, Guaratiba e Pedra de Guaratiba.

Ressalte-se, entretanto, que o crime mais violento pesquisado, homicídio doloso, apesar de ter diminuído em geral no Município, cresceu justamente nos bairros que, além de abrigar um grande número de favelas, possuem em seus territórios aquelas que constantemente são citadas pela imprensa como locais de violentos confrontos, tais como Jacarezinho, Borel, Morro da Formiga, Morro dos Macacos e Complexo do Alemão. Vale mencionar que estas localidades são as mesmas que vem originando ondas de violência na cidade, denotando que esta situação vinha se desenhando, pelo menos, desde 2004. Merece ainda destaque as ocorrências criminais em Guaratiba, Pedra de Guaratiba e Barra de Guaratiba, onde se observa aumento significativo em todos os crimes analisados, fato que parece ensejar relação com o acentuado crescimento horizontal de favelas observado nessas localidades.

IV.3 – Crescimento Horizontal

O crescimento da área territorial das favelas nos anos de 2004 e 2008 em relação a 1999 e o surgimento de novas comunidades apontam para um total de 1023, segundo dados obtidos, por meio de imagens de satélite, pelo Instituto Pereira Passos (IPP), os quais se encontram detalhados na Tabela I às fls.1/19 do Anexo.

Desta análise, verifica-se, a princípio, o surgimento, no período de 1999 a 2004, de 56 novas favelas no Município e entre 2004 a 2008 mais 19 comunidades, conforme referendado na Tabela VII (fls.37/39 do Anexo).

Outra constatação é a de que a área total ocupada por favelas no Município teve um incremento de 7,91%, passando de 43.180.115 m² para 46.593.914 m². Avaliando sob a ótica das Áreas de Planejamento, somente a AP 2 apresentou estagnação, ainda que também apresente acréscimo em algumas de suas Regiões Administrativas, como demonstrado na Tabela VIII, às fls.40/45 do Anexo.

Nas demais Áreas de Planejamento, observou-se evolução territorial, com destaque para as APs 4 e 5, que tiveram maior crescimento horizontal, de 9,62% e 13,81%, respectivamente. Esse aumento expressivo é decorrente destas Áreas abrangerem os bairros da Zona Oeste da Cidade, os quais por serem menos adensados, possuem mais áreas livres, permitindo a expansão das favelas, com ênfase para a Região Administrativa correspondente a Guaratiba, com 24,07%.

Existem, entretanto, casos de crescimento muito expressivo em várias Regiões da Cidade. A seguir, são apresentados exemplos de favelas que duplicaram sua área, havendo casos de comunidades que expandiram seu tamanho dez vezes.

REGIÃO ADMINISTRATIVA COMUNIDADE CRESCIMENTO VII RA – São Cristóvão Vila Miséria 107,73%

Avenida Brasil 690,64% Mandela de Pedra 101,97%

X RA – Ramos

Vitória de Manguinhos 129,75% Caminho dos Calharins 151,35% Campo da Paz 292,17% Pantanal I 174,91%

XVI RA – Jacarepaguá

Vila da Conquista 119,04% Estrada Guandu do Sena, 1057 381,75% Nova Esperança 109,21%

XVIII RA - Campo Grande

Rua Anes Dias 124,82% Manguariba III 901,95% Nova Brasília 180,07% Renascer 1.173,52% Rua 66, Cesarão 175,09%

XIX RA - Santa Cruz

Sapé 262,58% Avenida das Américas 111,97% Estrada de Jacarepaguá, 2679 147,86%

XXIV RA – Barra da Tijuca

Regata 105,94% Sítio do Nera 840,33% XXV RA – Pavuna Vila Beira Rio 516,84%

XXX RA – Maré Avenida Canal 120,70% XXXIII RA – Realengo Rua Duarte Coelho de Albuquerque, 184 1.665,94%

Os dados analisados também mostram que muitas favelas não apresentaram crescimento horizontal, algumas até reduziram e outras desapareceram ao longo dos anos. Estas comunidades estão geralmente localizadas em áreas muito adensadas ou de risco, o que não permite a sua expansão territorial. Vale mencionar que as imagens de satélite estudadas pelo IPP mostram apenas o crescimento horizontal, o que motivou a necessidade de se constatar empiricamente um provável crescimento vertical.

IV.4 – Crescimento Vertical

Preliminarmente, solicitaram-se, a Coordenadoria de Orientação e Regularização Urbanística da Secretaria Municipal de Urbanismo (CRU/SMU), informações acerca das comunidades que estariam crescendo verticalmente, tendo sido apontadas, dentre aquelas localidades acompanhadas através dos Postos de Orientação Urbanística e Social (POUSO) instalados, as favelas Rocinha e Vidigal.

Considerando o reduzido número de comunidades atendidas por estes Postos (Capítulo V deste Relatório), indagou-se aos Gerentes das Áreas de Planejamento da Secretaria Municipal de Habitação quais as comunidades que notadamente estavam crescendo verticalmente nos últimos anos. Muito embora seja de competência desta Secretaria atuar, indiscriminadamente, em todas as favelas da Cidade, que já tenham sido ou estejam sendo urbanizadas, a resposta, dada por sua Gerência de Urbanização, foi a de não dispor de dados acerca da verticalização das favelas.

Diante da ausência de informações oficiais, tratou-se de realizar uma pesquisa que consistiu em uma verificação in loco por diversas favelas, em vários pontos da Cidade, com o objetivo de constatar a existência de edificações com mais de quatro pavimentos, uma vez que prédios de até três andares são aceitos pela Prefeitura, pois existem na maioria dessas comunidades.

O levantamento realizado resultou no relatório fotográfico inserido às fls.69/85 do Anexo, a partir do qual constata-se a situação a seguir apresentada, sendo destacada, a título de ilustração no texto, uma comunidade para cada Área de Planejamento.

Na área da AP 1, os Morros da Providência (RA Portuária), do São Carlos (RA do Rio Comprido) e da Mangueira (RA de São Cristóvão), bem como a comunidade do Cajú (RA Portuária), possuem vários prédios de quatro andares (fotos nºs 1 a 4).

Mangueira

A AP 2, que abrange as favelas da Zona Sul da Cidade, apresenta grande adensamento de prédios, sendo muitos de quatro ou mais pavimentos. Tal característica foi verificada nos Morros da Babilônia e Chapéu Mangueira (RA

Copacabana), Chácara do Céu, Vidigal, Cantagalo e Parque da Cidade (RA Lagoa) e Rocinha (fotos nºs 5 a 20). Dentre estas, merece destaque a favela da Rocinha, com a existência de numerosos prédios de mais de quatro andares em toda a sua extensão, sendo facilmente observados edifícios de seis andares. Na Zona Norte, nas RAs da Tijuca e de Vila Isabel, também foram encontrados construções de quatro pavimentos nos Morros do Borel, da Formiga, da Chacrinha e dos Macacos (fotos nºs 21 a 27).

Rocinha

Nas localidades da Maré (RA Maré), Fazenda Botafogo e Acari (RA Pavuna), todos pertencentes a AP 3, também constatou-se a existência de imóveis com mais de três andares (fotos nºs 28 a 30).

Fazenda Botafogo

A favela de Rio das Pedras (RA Jacarepaguá) na AP 4 se sobressai por um forte adensamento de prédios, semelhante ao encontrado nas comunidades da Zona Sul, muito embora esteja localizada numa área totalmente plana (fotos nºs 31 a 33).

Rio das Pedras

Na AP 5, merece destaque apenas a favela de Vila Aliança ( RA Bangu)

(foto nº 34). Cumpre ressaltar que foram visitadas também várias outras comunidades nas Regiões de Campo Grande e Santa Cruz. Entretanto, constatou-se que nestas áreas a verticalização não é característica comum, pois, devido à existência de grandes espaços urbanos vazios, elas estão se expandindo horizontalmente.

IV.5 – Meio Ambiente

O Município do Rio de Janeiro possui ao longo de seu território 73 áreas protegidas, distribuídas por Áreas de Proteção Ambiental (APAS), Áreas de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (APARUs), Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Parques Naturais Municipais, Parques Estaduais, Parques Nacionais e Reservas Biológicas, discriminadas na Tabela IX (fls.46/48 do Anexo).

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através das Secretarias Municipais de Meio Ambiente e de Urbanismo e do Instituto Pereira Passos, produziu um estudo denominado “Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro”, classificando, em um de seus capítulos, as distâncias existentes, no ano de 2004, entre as favelas e as unidades de conservação. Foram consideradas para a análise as APAs, as APARUs, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, os

Parques Naturais Municipais, Estaduais e Nacionais e as Reservas Biológicas mais importantes, perfazendo um total de 32 Unidades de Conservação, dispostas na Tabela X, às fls 49 do Anexo.

O trabalho demonstrou que, naquela época, 118 favelas estavam próximas e/ou inseridas em alguma das Unidades de Conservação consideradas, sendo que 21 estavam a 400m, 14 a 300m, 21 a 200m, 45 a 100m e 17 encontravam-se total ou parcialmente dentro dos limites de alguma destas Unidades.

Solicitou-se ao Departamento de Tecnologia e Informação da SMAC a atualização dos dados com vistas a identificar a dinâmica da expansão dessas comunidades. As novas informações, que evidenciam a situação em 2008, alteraram as áreas selecionadas, incluindo 5 APAs, 1 ARIE e o Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca, e excluindo a ARIE das Ilhas Cagarras, o Parque Henrique Lage e o Parque Natural Municipal Fazenda do Viegas, subindo para 36 o número de unidades de conservação analisadas.

Com os dados atualizados para 2008, constantes da Tabela XI (fls.50/53 do Anexo), pode-se observar a dinâmica do crescimento dessas favelas, 182 delas estavam próximas e/ou inseridas em Unidades de Conservação, sendo 23 a 400m, 17 a 300m, 34 a 200m e 43 a 100m. Valendo destacar a existência de 65 total ou parcialmente inseridas nos limites de alguma destas Unidades, das quais 55 encontram-se discriminadas, com as respectivas áreas invadidas, na Tabela XII (fls.54/55 do Anexo). Isto significa que as favelas avançaram em direção às Unidades de Conservação, havendo aumento de cerca de 282% de favelas adentradas nestas Unidades, situação representada no gráfico a seguir.

Gráfico III

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Fav

elas

400m 300m 200m 100m no interior TOTAL

Distância

Proximidade das favelas em relação às Unidades de Conservação

2004

2008

Além de algumas favelas degradarem o meio ambiente, invadindo as áreas de preservação ambiental, muitas delas estão localizadas à margem de rios e lagoas, promovendo a poluição direta destes corpos hídricos. Apesar de a própria SMH ter urbanizado uma comunidade assim localizada (Vila Canoas – VI RA Lagoa), essas áreas são definidas pelo Plano Diretor da Cidade como non

aedificandi. Na pesquisa de campo realizada com o intuito de verificar o crescimento vertical, encontrou-se à margem do Rio das Pedrinhas, em Campo Grande, um exemplo deste tipo de ocupação irregular, conforme fotos a seguir.

V POSTO DE ORIENTAÇÃO URBANÍSTICA E SOCIAL - POUSO

O processo de legalização e regularização de favelas foi permitido pelo Plano Diretor de 1992, devendo, para tanto, essas localidades serem declaradas, por lei, áreas de especial interesse social – AEIS.

Partindo da premissa de que apenas a urbanização de uma favela não a transformaria em bairro, mas sim a sua regularização, surgiu a concepção do projeto POUSO, na estrutura da SMH. Assim, os POUSOS são postos descentralizados da Prefeitura dentro das comunidades e tem como foco principal a regularização urbanística e a integração dessa área à cidade formal. Existem, também, os POTs (Postos de Orientação Técnica), que se diferenciam por se encontrarem em locais que ainda não foram urbanizados, ao contrário dos POUSOs. Desta forma, instituído pelo Decreto “N” n° 15.259, em 14/11/1996, o POUSO tinha como atribuições: preservar o espaço público, livrando-o de invasões; manter o alinhamento das ruas, servidões e escadarias; evitar que se construa em áreas de risco; controlar o crescimento da comunidade (tanto horizontal quanto verticalmente) para que os equipamentos implantados não se tornassem insuficientes; articular-se com outros órgãos, visando uma mudança na percepção dessas áreas como bairros da cidade, nos quais os serviços urbanos

deveriam entrar; elaborar legislação urbanística e edilícia para cada área, em conjunto com a SMU.

O POUSO também tem como incumbência realizar um trabalho sócio-educativo, de modo a mudar o comportamento dos moradores em relação ao espaço em que vivem. Eles foram concebidos para terem caráter transitório, mantendo-se na comunidade o tempo necessário para que se complete a transição da favela à condição de bairro. Após o término da regularização urbanística seus funcionários podem ser transferidos para uma outra área, a fim de promover a consolidação de um novo bairro.

Estes Postos, por força do Decreto 22.982/03, foram transferidos para a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) e passaram a integrar a Coordenadoria de Orientação e Regularização Urbanística – CRU, a quem compete o planejamento, o licenciamento e a fiscalização de todas as áreas de especial interesse social – AEIS, tendo como atribuições específicas:

- planejar, organizar e coordenar as ações para as áreas objeto de projetos urbanísticos de interesse social, abrangendo a elaboração de legislação urbanística, de planejamento urbanístico local e de projetos aprovados de alinhamento (PAA) e de reconhecimento de logradouros;

- prestar orientação técnico-construtiva, no caso de ampliações e novas construções;

- licenciar de obras novas;

- conceder “habite-se” às unidades habitacionais;

- fiscalizar as áreas do projeto de interesse social, visando ao cumprimento da legislação urbanística e edilícia, definida para as mesmas;

- controlar o crescimento vertical e horizontal das áreas de projetos urbanísticos de interesse social, assegurando que os equipamentos comunitários e urbanos não se tornem insuficientes.

Com a definição de sua atuação, a CRU passou a atender todas as AEIS, incluindo favelas e loteamentos irregulares e clandestinos.

Após a implantação dos POUSOS, é identificada a comunidade, através do mapeamento dos limites físicos e das áreas de risco, e cadastrados os logradouros e suas características, como largura e comprimento, tipo de solo, declividade do terreno, tipo de pavimentação e iluminação etc. É realizada, também, uma pesquisa sócio-econômica dos moradores e de todos os recursos existentes na

comunidade e no entorno, além de se iniciar o levantamento das obras novas em andamento, visando à orientação técnico construtiva e a preservação do espaço público, através de rondas de fiscalização diárias, atendimento de plantão e visitas domiciliares.

Concluída essa etapa, são elaborados levantamentos técnicos e mapeamentos temáticos que englobam o uso do solo, gabaritos existentes, estratificação social, tipologia das edificações, evolução urbana e histórico da comunidade, os quais, encaminhados à CRU, subsidiam a elaboração da legislação de uso e ocupação do solo, que é feita por Decreto e é específica para cada área, sendo elaborada de acordo com a tipologia de ocupação local. Paralelamente é desenvolvido um trabalho sócio educativo, com reuniões de rua, para expor os objetivos do POUSO e as etapas da regularização urbanística.

A regularização urbanística ocorre em cinco etapas:

1. Reconhecimento oficial dos logradouros públicos, através da aprovação de sua nomenclatura;

2. Elaboração e aprovação de legislação de uso e ocupação do solo específica para cada área, de acordo com a sua tipologia;

3. Legalização das edificações; 4. Elaboração de Projeto Aprovado de Alinhamento, Projeto Aprovado de

Loteamento e Projeto Aprovado de Urbanização para a área; 5. Concessão de certidão de habite-se às edificações em condições de

segurança e habitabilidade.

A legislação urbanística da área se fundamenta em quatro princípios essenciais:

1. respeito ao espaço público; 2. controle horizontal da AEIS, com respeito aos eco limites, para evitar que

se formem anéis de ocupação ao redor da comunidade urbanizada, impedindo a expansão nas encostas e áreas de preservação ambiental;

3. controle vertical, definindo um gabarito máximo por cada rua, de acordo com critérios de largura de logradouro, tipo de solo e gabarito existente;

4. promoção da salubridade.

Para obter o habite-se é exigido que a edificação apresente requisitos mínimos de segurança e habitabilidade, devendo conter pelo menos um cômodo (sala/quarto) iluminado e ventilado naturalmente, cozinha e banheiro completo, podendo a cozinha ser conjugada a esse cômodo.

A fiscalização é realizada por meio de rondas diárias, nas quais se procura identificar, desde o início, construções irregulares, tais como obras em áreas pública, de risco ou de proteção ambiental, e, ainda, aquelas que não atendam ao gabarito estipulado. Nesses casos são entregues aos responsáveis editais de embargo/notificação com vistas à regularização das obras, que se realiza através da solicitação da licença de legalização ou da demolição da irregularidade. Neste período a obra deve ser paralisada e o responsável comparecer ao POUSO para ser orientado pelo arquiteto. Em casos de desobediência, são aplicados autos de infração com base nas legislações pertinentes. Em último caso, a obra é demolida pela Prefeitura.

O POUSO foi concebido para ter um arquiteto ou engenheiro, um assistente social e, no mínimo, dois agentes comunitários e um estagiário. Entretanto, o contrato dos agentes comunitários, sob a responsabilidade da SMH, terminou em 2007 e não foi renovado. E os assistentes sociais foram remanejados para os Postos de Saúde do Município, em virtude da epidemia de dengue ocorrida na cidade em 2008, não mais retornando ao projeto dos POUSOs.

Dada a reduzida estrutura da CRU, que possui um efetivo total de 22 funcionários com 18 cargos comissionados, existem somente 32 postos descentralizados da Prefeitura, sendo 30 POUSOs e 2 POTs, que atendem 61 comunidades, assim distribuídos: 4 na AP-1, 8 na AP-2, 13 na AP-3, 2 na AP-4 e 3 na AP-5. Os POTs estão localizados na Rocinha e na Chácara do Céu. O gráfico a seguir apresenta a quantidade de favelas atendidas pelos POUSOs e o total de comunidades por Área de Planejamento.

Gráfico III

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

Fav

elas

1 2 3 4 5

Área de Planejamento

Favelas atendidas por POUSOs segundo as Áreas de Planejamento

Total de favelas por AP

Favelas atendidas por POUSOs

A Tabela XIII de fls.56/58 do Anexo relaciona POUSOs e comunidades atendidas, especificando suas Áreas de Planejamento.

Segundo estudos realizados pelo Instituo Pereira Passos, acerca do crescimento horizontal, ao comparar as favelas beneficiadas pelos Programas de Urbanização com e sem POUSOS instalados, concluíram que estas últimas cresceram 6,16 vezes mais.

Denota-se, portanto, que este importante instrumento tem sua eficácia

prejudicada por uma tímida atuação: atendem apenas 61 das 1023 favelas existentes na Cidade do Rio de Janeiro, devido à reduzida estrutura da Coordenadoria, o que se agrava pelo fato de que sua contribuição somente se inicia após a realização de obras de urbanização.

VI INTERVENÇÕES REALIZADAS

A Secretaria Municipal de Habitação, criada em 1995, é a responsável pela implantação e execução dos programas de urbanização em favelas no Município, tendo realizado ao longo desses anos 215 contratos de obras em diversas comunidades da Cidade, sendo 37 efetuados na AP 1, 50 realizados na AP 2, 68 executados na AP 3, 18 direcionados à AP 4 e os 42 restantes à AP 5.

Muitas destas localidades receberam mais de uma intervenção, através dos Programas Bairrinho e Favela Bairro (PROAP I, II e PAC), conforme Tabela XIV de fls.59/68 do Anexo, que contém as informações prestadas pela Secretaria1. A exemplo das áreas beneficiadas com mais de 3 contratos, podem ser citadas as favelas Arrelia, Andaraí, Jamelão e Morro do Escondidinho, além dos Complexos do Caricó e da Mangueira, com 4 e 6 intervenções, respectivamente.

No intuito de quantificar o total de recursos investidos em programas de urbanização de áreas de baixa renda, foram relacionados os valores dos contratos efetuados com a indicação dos meses de realização de seus orçamentos (Io), de modo a serem deflacionados e terem seus preços atualizados para setembro de 2009, possibilitando a comparação dos custos dessas intervenções. Desta forma, pode-se observar na Tabela XIV (fls. 59/68 do Anexo) que foram investidos, em valores atualizados, R$ 1.899.260.698,89 em urbanizações de favelas.

O Gráfico a seguir indica a distribuição dos gastos por Áreas de Planejamento. A AP 3 foi a mais beneficiada segundo investimentos realizados e também em quantidade de contratos, o que se justifica por conter o maior número de comunidades. As APs 1 e 2, apesar de possuírem menos favelas (13%) que as demais, foram contempladas com 37% do total de gastos, enquanto as APs 4 e 5, que contêm 48% das comunidades, obtiveram apenas 21% dos recursos.

1 dados levantados e fornecidos pela SMH em agosto/2009

Gráfico V

Gastos totais com intervenções por AP

19%

18%

42%

6%

15%

AP 1

AP 2

AP 3

AP 4

AP 5

Verifica-se, portanto, que em pouco mais de uma década, foram urbanizadas, através desses programas, aproximadamente 150 comunidades em um universo de 1023 favelas cadastradas pela Prefeitura. Ressalta-se, ainda, que os quase 2 bilhões de reais investidos não foram suficientes para urbanizar totalmente as áreas beneficiadas, visto que inúmeras delas receberam intervenções parciais, que resultaram da insuficiência dos contratos e/ou da dinâmica de crescimento das comunidades. Além disso, muitas das obras realizadas precisam ser refeitas, quer seja pela falta de manutenção adequada ou pela má utilização dos moradores.

VII CONCLUSÃO

VII.1 – Situação Atual

O número de favelas no Município do Rio de Janeiro vem crescendo vertiginosamente nos últimos anos. Até 1998, o levantamento consistia de um cadastro cujas anotações tinham como fontes comprovações visuais e denúncias de surgimento de novos loteamentos irregulares, que eram publicados em Anuários Estatísticos pelo IPP. A partir de 1999, as favelas passaram a ser mapeadas por meio de imagens realizadas por satélite.

O resultado da análise comparativa da evolução do número de favelas cadastradas no Município do Rio de Janeiro em 1998, 1999 e 2008, por Áreas de Planejamento, está representado no Gráfico a seguir.

Gráfico IV

0

200

400

600

800

1000

1200

Favelas

AP 1 AP 2 AP 3 AP 4 AP 5 Total

Evolução do número de favelas, por Áreas de Planejamento

1998

1999

2008

Inicialmente o número de favelas no Município foi subestimado por conta da utilização de um processo rudimentar de acompanhamento e fiscalização, o que denota a falta de interesse dispensada, no passado, ao tema.

Mesmo a partir de 1999, quando a quantificação e a localização passaram

a ser levantadas com precisão, houve o surgimento de pelo menos mais 75 comunidades, além de um aumento de mais de três milhões de metros quadrados ocupados por favelas.

Cumpre registrar que este cenário não considera o acréscimo referente à verticalização das comunidades, fenômeno facilmente comprovado por meios visuais, o qual também não mereceu importância, dado ao fato de inexistirem estatísticas que visem o seu controle ou acompanhamento. Somente após a divulgação dos resultados do CENSO, a ser realizado pelo IBGE no ano de 2010, será possível conhecer o efeito deste tipo de crescimento no processo de favelização da cidade.

Há, também, a questão da invasão das áreas de proteção ambiental, que vem ocorrendo ano após ano, e cujos dados são levantados e cadastrados pela SMAC sem que, no entanto, nada venha sendo feito para impedir ou recuperar essas áreas.

Os fatos descritos denotam a carência de adoção de medidas disciplinadoras com vistas ao cumprimento da legislação existente. O Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro traz limitações que visam ao melhor ordenamento urbanístico do município, notadamente no que se refere às áreas de risco, entendidas como aquelas frágeis de encostas, faixas marginais de proteção de águas e as de especial interesse ambiental ou unidades de conservação ambiental. Apesar disso, assistiu-se, com regularidade, ao longo das últimas décadas, o desrespeito a estas regras sob a égide de uma política de não remoção, que foi confundida com uma postura de falta de controle e de permissividade para o surgimento de novas ocupações e que não solucionou o déficit habitacional da população de baixa renda. A especulação imobiliária chegou às favelas cariocas produzindo retornos espetaculares, pois aliada à falta de uma regularização rigorosa ainda se beneficia com a inexistência dos custos de aquisição do terreno, de impostos ou de taxas de administração. Desta forma esse tipo de investimento vem atraindo cada vez mais os seus moradores, que passam a usar suas poupanças na aquisição de barracos para alugar, resultando em ganhos líquidos de até 2% ao mês, principalmente nas proximidades do Centro e Zona Sul. Fato que parece explicar o crescimento vertical que vem ocorrendo principalmente nessas áreas.

As construções irregulares ganharam força no governo do PDT, iniciado em 1983, que, em defesa de sua popularidade, adotou uma política de não remoção associada à falta de controle de crescimento ou mesmo de surgimento de novas favelas. Os governantes que o sucederam assistiram passivamente a favelização da cidade, assumindo o risco de se depararem com os efeitos que ora se insurgem.

Assim, em um primeiro momento a solução de transformar em bairros as favelas que indicassem essa possibilidade, dada à falta de controles urbanísticos, de políticas de contenção e de um programa habitacional, acabou por permitir o surgimento de 1023 favelas, criando a onerosa e difícil tarefa de se urbanizar e pacificar tais localidades.

A realização dessas duas atividades pressupõe enormes esforços e investimentos elevados, no entanto, ao apresentar benefícios significativos acabam proporcionando um incremento no crescimento dessas localidades. Tanto as obras de urbanização quanto o controle da violência através da ocupação da Polícia Militar geram melhorias que atraem inúmeras famílias. Nas Comunidades Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, recém pacificadas, foi observado e divulgado, pela imprensa, o processo de ampliação de barracos e a presença de grande quantidade de tijolos amontoados pela região, denotando que as construções aumentaram. A reportagem aborda, ainda, o fato de não ter sido realizada nenhuma pesquisa com vistas a mensurar ou coibir o crescimento horizontal ou vertical nessas comunidades.

Neste universo, os Programas de Urbanização em favelas, implementados pela Prefeitura, contemplaram apenas, aproximadamente, 150 comunidades com um custo total de R$ 1.899.260.698,89 (a preços de set/2009), os quais não foram suficientes para urbanizar totalmente as localidades beneficiadas por essas intervenções.

Em recente levantamento, divulgado pela imprensa, constatou-se que foram investidos R$ 123 milhões de reais no Morro Dona Marta, quantia suficiente para conceder gratuitamente, a cada uma das 1.460 famílias que lá habitam, moradias no valor de R$ 84 mil reais. Desta forma, parece urgente que a política habitacional da cidade seja repensada e possa caminhar em outra direção, a partir de novas soluções.

O atual governo municipal, iniciado há pouco menos de um ano, vem adotando medidas objetivas para resgatar a presença do Poder Público nos mais diversos seguimentos.

A criação do Pólo Nacional de Call Center surge como uma primeira medida para reverter o mau desempenho econômico proporcionado pela migração de mão de obra qualificada e de empresas do Municipio.

A assinatura do termo de adesão com a Caixa Econômica Federal para o programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida”, além de atender dois objetivos, gerar emprego e renda através da construção civil e diminuir o déficit habitacional, deverá beneficiar o Município do Rio de Janeiro com a construção de 100 mil moradias para famílias de baixa renda.

Outra iniciativa que vem sendo adotada é a de efetuar demolições, tendo sido derrubadas pela Secretaria Especial de Ordem Pública (SEOP), desde a sua criação, mais de 145 construções irregulares, consideradas pela Prefeitura como “aberrações urbanísticas”, principalmente na área da Barra e Jacarepaguá.

O Município, recentemente, se beneficiou da ação do governo estadual na remoção da comunidade conhecida como Chiqueirinho, instalada, desde 2000, no Complexo de Manguinhos. A retirada de 300 famílias do local foi realizada pela Empresa de Obras Públicas (EMOP), e teve como principal objetivo a despoluição do Canal do Cunha, contemplada no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Após sua desocupação, a área será urbanizada de modo a evitar novas invasões.

Visando a liberação de construções de classe média, encontra-se na Câmara dos Vereadores um Projeto de Estruturação Urbana (PEU) que definirá o destino de dezenove favelas localizadas entre o Recreio dos Bandeirantes e Vargem Grande, inclusive a Vila Autódromo, a Beira-Rio e o Canal do Cortado.

O Projeto tem a finalidade de gerar verba para obras de infra-estrutura necessárias à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016. Será constituído um fundo de investimento com os recursos obtidos pela cobrança de uma taxa extra dos interessados em construir acima dos parâmetros mínimos estipulados, para a realização do Corredor T-5 (linha de ônibus articulados entre a Barra e a Penha); a duplicação do trecho final da Avenida das Américas, no Recreio; a construção do Túnel da Grota Funda; e a abertura de ruas e avenidas.

A Prefeitura também pretende, até 2013, reduzir em 5% a área ocupada por favelas no Município. A meta constante do Plano Plurianual (PPA) corresponde a 2,3 milhões de metros quadrados, para tanto o governo construirá casas populares, transformará favelas em bairros, o que exigirá a abertura de novas ruas, e transferirá famílias que hoje vivem em áreas de risco, de acordo com as declarações veiculadas na imprensa.

VII.2 – Considerações Finais

O processo de favelização que traz intrínseco a questão da violência, também encontra inúmeras dificuldades e limitações para ser contido, partindo tanto dos poderes constituídos, Executivo, Legislativo e Judiciário, como da sociedade e da igreja.

O recém empossado governo municipal vem trilhando uma trajetória de acertos com a adoção de medidas corajosas, focadas no desenvolvimento desta Cidade. No entanto, em face de décadas de omissão e descaso, a árdua tarefa de levar o Poder Público ao lugar que lhe é devido, o de promover a ordem em sentido amplo, demandará que esses esforços venham a ser, em muito, multiplicados, ou poderão correr o risco de se tornarem apenas boas intenções.

Neste momento, em que os olhos do mundo se voltam para a Cidade do Rio de Janeiro, nasce a possibilidade de um crescimento real alinhavado a partir de soluções efetivas de seus problemas estruturais.

A política de não remoção começa a deixar de ser um tabu, sendo repensada em benefício da Cidade como um todo, haja vista as ações previstas nos projetos relacionados à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. Sem dúvida, vir a ser o palco desses eventos trará investimentos vultosos que, se bem geridos, proporcionarão ao nosso Município estar em igualdade de condições com as cidades mais visitadas no mundo.

Nas auditorias realizadas nos anos de 2004 e 2005 presenciou-se e questionou-se a inexistência de qualquer tipo de controle, com relação ao crescimento de favelas.

Essa situação continua inalterada, sendo o único mecanismo de controle efetivo o exercido pelos POUSOs, No entanto, por estarem presentes em um reduzido número de favelas, a atuação é pouco abrangente e de forma não integrada com os demais órgãos da Prefeitura.

Além disso, se mostra pouco eficaz em relação às construções já existentes, excetuando-se, talvez, aquelas situadas em áreas de risco. A atividade é exercida de maneira educativa, sendo a demolição imposta apenas em casos extremos, até porque muitas vezes esse poder de coerção se esbarra na periculosidade da região.

A ampliação do número de pessoas envolvidas com a atividade exercida pelos POUSOs, proporcionaria o atendimento a uma parcela maior de comunidades, gerando melhoria urbanística e controle de crescimento.

A elaboração de uma legislação, pelos POUSOs, somente após as obras de urbanização, torna-se menos efetiva porque se baseia na situação existente, enfraquecendo seu caráter preventivo no ordenamento urbano e no crescimento desordenado, perdendo, ainda, a possibilidade de utilizar os serviços contratados na urbanização para realizar as adequações urbanísticas necessárias.

Uma efetiva contenção do crescimento de favelas deve necessariamente contemplar a integração dos órgãos envolvidos para levantamento, conhecimento e acompanhamento da real situação existente (IPP, SMAC, SMU e SEOP).

A utilização de delimitadores (muros) em volta das favelas é uma solução simples e eficaz para conter a favelização, que avança rapidamente em direção aos bairros formais da cidade, se for associada a uma fiscalização rigorosa das construções existentes, realizando a remoção daquelas que ocupem áreas públicas, de risco e de proteção ambiental.

Soluções urgentes devem ser tomadas em vista de as condições mínimas de habitabilidade pressuporem a existência de vias carroçáveis e a proibição de construções acima da cota máxima permitida para locais de elevadas inclinações, para garantir o acesso dos serviços públicos.

Uma alternativa para conter a expansão desordenada das favelas, proporcionando-lhes características de bairro seria a de utilizar como limitador de ocupação dessas áreas a inviabilidade de aumento da extensão de vias carroçáveis. Os domicílios situados nos limites alcançados pela extensão das vias receberiam as intervenções e os demais seriam remanejados.

A efetividade do programa como um instrumento de redução dos níveis de violência se esbarra no elevado número de favelas, o que se agrava pela maioria estar situada em morros, cuja forma de ocupação contempla acessos restritos a becos e vielas, tornando-as propícias à criminalidade. Demandando, além da resolução dos problemas urbanísticos, um efetivo controle da violência nestas comunidades, o que somente pode ser concretizado através de umaintegração com os governos estadual e federal.

Ante a expectativa de que o desenvolvimento econômico e o fluxo imigratório, inclusive de mão-de-obra qualificada, venham a ser intensificados com os eventos a serem promovidos nos próximos anos, outras políticas habitacionais e formas de assentamento devem ser consideradas, pois, além do fato de que algumas comunidades dificilmente virem a assumir características de bairro para se integrarem à cidade formal, o surgimento e o crescimento de favelas vem inviabilizando a política de urbanização adotada nos últimos 20 anos.

A construção de novas moradias como a iniciativa do Minha Casa Minha Vida, a implementação de transporte público eficiente e de qualidade, a melhoria e ampliação das malhas ferroviárias e metroviárias constituem exemplos de medidas que garantirão o sucesso na redução do déficit habitacional do Município.

Finalmente, em função dos novos empreendimentos que a Cidade receberá por conta dos eventos internacionais que irá sediar, seria oportuno procurar a cooperação das federações de indústria e comércio para identificar as atividades profissionais mais demandadas e, a partir das ações de caráter social do Programa Favela Bairro a cargo da SMAS, realizar cursos nessas áreas específicas, promovendo o aumento do nível de emprego e consequentemente do desenvolvimento econômico da cidade.

Considerando o exposto neste Monitoramento de Programas de Urbanização de Áreas de Baixa Renda, submete-se este Relatório à apreciação do Conselheiro Relator, propondo o encaminhamento de cópias às Secretarias Municipais de Habitação e de Urbanização para que, após examinarem o seu conteúdo, teçam seus comentários acerca das avaliações e sugestões.

Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2009