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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2017.0000093530 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação 0012422-57.2002.8.26.0286, da Comarca de Itu, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados HENGUEL RICARDO PEREIRA, FABIO HENRIQUE VIEIRA, PAULO SÉRGIO SCHIAVO, VALDERI NUNES, EVARISTO APARECIDO CORDEIRO, GILBERTO MARTINS, CARLOS ALBERTO DOS SANTOS, JOSÉ BEZERRA LEITE, EDUARDO DE OLIVEIRA RODRIGUES, HELIO MORAES, LEDON DINIZ DA SILVA, PAULO CÉSAR VALENTIM, MIGUEL LAZARO DE ALMEIDA, AMARILDO DA COSTA RIBEIRO, LARRI VIEIRA, PEDRO SILVA DOS SANTOS, EVANDO MARQUES DE SOUZA, ANTÔNIO TRAGINO DA SILVA, JOÃO CARLOS SALATIEL, JOSE ANTONIO CONSTANTINO, SERGIO ANTONIO SOARES SANTANA, EVERALDO BORGES DE SOUZA, VALDIR ADRIANO KIRITSCHENKO, EDUARDO NELSON PARRA MARIN, GILMAR LEITE SIQUEIRA, MARCOS MASSARI, PAULO ROBERTO DE MELO LOPES, FRANCISCO JUCIANGELO DA SILVA ARAUJO, DIMAS MECCA SAMPAIO, AUGUSTO FERNANDO DA SILVA, DOUGLAS MARQUES BRAZ, NÉLSON DA SILVA MEZA, PAULO SÉRGIO DE OLIVEIRA, ROBERTO ALVES DA SILVA, JOSE MILTON MARQUES DE CARVALHO, HAMILTON OLIVEIRA DE MORAES, ARMANDO CORREA DE ASSIS JÚNIOR, MAERCIO ANANIAS BATISTA, JOSE CARLOS DA SILVA, FRANCISCO ALEXANDRE FILHO, JOSÉ FERNANDES DE LIMA, RODNEY CARMONA, ANTÔNIO MARCOS DA SILVA, LUIS CARLOS PONDE CARDOSO, ROGÉRIO VIANA ANDRADE, REINALDO DA SILVA RIBEIRO DE CAMPOS e VALMIR FERREIRA. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com determinação. V. U. Esteve presente a I. Defensora, Dra. Ieda Ribeiro de Souza e, sustentou oralmente, o Exmo. Procurador de Justiça, Dr. Carlos Roberto Marangoni Talarico.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS SOARES DE MELLO (Presidente) e EDISON BRANDÃO. São Paulo, 14 de fevereiro de 2017 IVAN SARTORI RELATOR Assinatura Eletrônica

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TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

Registro: 2017.0000093530

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0012422-57.2002.8.26.0286, da Comarca de Itu, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados HENGUEL RICARDO PEREIRA, FABIO HENRIQUE VIEIRA, PAULO SÉRGIO SCHIAVO, VALDERI NUNES, EVARISTO APARECIDO CORDEIRO, GILBERTO MARTINS, CARLOS ALBERTO DOS SANTOS, JOSÉ BEZERRA LEITE, EDUARDO DE OLIVEIRA RODRIGUES, HELIO MORAES, LEDON DINIZ DA SILVA, PAULO CÉSAR VALENTIM, MIGUEL LAZARO DE ALMEIDA, AMARILDO DA COSTA RIBEIRO, LARRI VIEIRA, PEDRO SILVA DOS SANTOS, EVANDO MARQUES DE SOUZA, ANTÔNIO TRAGINO DA SILVA, JOÃO CARLOS SALATIEL, JOSE ANTONIO CONSTANTINO, SERGIO ANTONIO SOARES SANTANA, EVERALDO BORGES DE SOUZA, VALDIR ADRIANO KIRITSCHENKO, EDUARDO NELSON PARRA MARIN, GILMAR LEITE SIQUEIRA, MARCOS MASSARI, PAULO ROBERTO DE MELO LOPES, FRANCISCO JUCIANGELO DA SILVA ARAUJO, DIMAS MECCA SAMPAIO, AUGUSTO FERNANDO DA SILVA, DOUGLAS MARQUES BRAZ, NÉLSON DA SILVA MEZA, PAULO SÉRGIO DE OLIVEIRA, ROBERTO ALVES DA SILVA, JOSE MILTON MARQUES DE CARVALHO, HAMILTON OLIVEIRA DE MORAES, ARMANDO CORREA DE ASSIS JÚNIOR, MAERCIO ANANIAS BATISTA, JOSE CARLOS DA SILVA, FRANCISCO ALEXANDRE FILHO, JOSÉ FERNANDES DE LIMA, RODNEY CARMONA, ANTÔNIO MARCOS DA SILVA, LUIS CARLOS PONDE CARDOSO, ROGÉRIO VIANA ANDRADE, REINALDO DA SILVA RIBEIRO DE CAMPOS e VALMIR FERREIRA.

ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com determinação. V. U. Esteve presente a I. Defensora, Dra. Ieda Ribeiro de Souza e, sustentou oralmente, o Exmo. Procurador de Justiça, Dr. Carlos Roberto Marangoni Talarico.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS SOARES DE MELLO (Presidente) e EDISON BRANDÃO.

São Paulo, 14 de fevereiro de 2017

IVAN SARTORI

RELATOR

Assinatura Eletrônica

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São Paulo

Apelação nº 0012422-57.2002.8.26.0286 - Itu - VOTO Nº 29.569 2/22

APELAÇÃO nº 0012422-57.2002.8.26.0286

Comarca: ITU

Juízo de Origem: 2ª Vara Criminal

Juíza: Hélio Villaça Furukawa

Órgão Julgador: Quarta Câmara de Direito Criminal

Apelante: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apeladas: HENGUEL RICARDO PEREIRA E OUTROS

VOTO DO RELATOR

Ementa: Apelação do Ministério Público “Operação castelinho” Homicídios qualificados, roubos majorados e fraude processual. Eventual parcialidade do magistrado sentenciante que, a par de não arguida no momento oportuno e tampouco pela via adequada, não veio demonstrada Rejeição. Sentença “citra petita” Inocorrência Decisório a apreciar apenas as imputações referentes aos delitos contra a vida, com desfecho favorável aos increpados, circunstância a excluir a competência do tribunal do júri para os crimes conexos, daí o não pronunciamento a respeito Exegese do parágrafo único do art. 81 do CPP Precedentes. Impronúncia de três dos acionados, com o que conformada a acusação, decretada a absolvição sumária dos demais, no que reside a insurgência ministerial Decisão que se sustenta Excludentes de ilicitude da legítima defesa e do estrito cumprimento do dever legal bem delineadas Recurso desprovido, com determinação.

Ação penal em que incursos:

a) José Roberto Martins Marques, Romeu Takami

Mizutani, Augusto Fernando da Silva, Maercio Ananias Batista, Paulo

Sérgio Schiavo, Hamilton Oliveira de Morais, João Carlos Salatiel,

Eduardo Nelson Parra Marin, Helio Moraes, Rodney Carmona,

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Everaldo Borges de Souza, Valdir Adriano Kiritschenko, Maurício dos

Santos, Antonio Marcos da Silva, Paulo Sergio de Oliveira, Luiz Carlos

Pondé Cardoso, Laerte Barqueta, Rogério Viana de Andrade, Reinaldo

da Silva Ribeiro de Campos, Pedro Silva dos Santos, Sergio Antonio

Soares Santana, Evaristo Aparecido Cordeiro, Antonio Tragino da

Silva, José Milton Marques de Carvalho, Marcos Eduardo da Silveira,

Larri Vieira, Nelson da Silva Meza, Miguel Lázaro de Almeida, Alex

Nascimento Chagas, Francisco Juciangelo da Silva Araujo, Valmir

Ferreira, Armando Correia de Assis Júnior, Valderi Nunes, Evandro

Marques de Souza, Eduardo de Oliveira Rodrigues, Fabio Henrique

Vieira, Ledon Diniz da Silva, Amarildo da Costa Ribeiro, Roberto Alves

da Silva, Paulo Roberto de Melo Lopez, Douglas Marques Braz, José

Antonio Constantino, Reinaldo Henrique de Oliveira e José Carlos da

Silva no art. 121, § 2º, II, III e IV, c.c. os arts. 61, II, “g”, e 62, I, por

doze vezes, na forma do art. 69, todos do Código Penal;

b) Roberto Mantovan, Francisco Alexandre Filho, José

Fernandes Lima, Gilmar Leite Siqueira e Marcos Massari no art. 121,

§ 2º, II, III e IV, c.c. os arts. 61, II, “g”, e 62, I, por doze vezes; e no art.

157, § 2º, I e II, por duas vezes, tudo na forma do art. 69, todos do

Código Penal;

c) Carlos Alberto dos Santos, Dimas Mecca Sampaio,

Paulo César Valentim, José Bezerra Leite e Gilberto Martins no no art.

121, § 2º, II, III e IV, c.c. os arts. 61, II, “g”, e 62, I, por doze vezes; e

347, parágrafo único, na forma do 69, todos do Código Penal; e

d) Henguel Ricardo Pereira no art. 121, § 2º, II, III e

IV, c.c. os arts. 61, II, “g”, e 62, I, por doze vezes; art. 157, § 2º, I e II,

por duas vezes; e 347, parágrafo único, tudo na forma do art. 69,

todos do Código Penal.

O feito foi desmembrado em relação a Maurício dos

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Santos, porque não encontrado (fls. 4.106), enquanto decretada a

extinção da punibilidade de Marcos Eduardo da Silveira, em razão de

seu falecimento (fls. 5.301).

Alfim, José Roberto Martins Marques, Romeu Takami

Mizutani e Roberto Mantovan foram impronunciados, consoante

pedido formulado pelo próprio “Parquet”, em sua fala final de fls.

5.499/5.633, ao passo que todos os demais acabaram absolvidos

sumariamente, reconhecidas que foram as excludentes de ilicitude da

legítima defesa e do estrito cumprimento do dever legal.

Recorre a acusação, arguindo, em preliminar,

nulidade sentencial, porquanto: a) o magistrado sentenciante foi

parcial, deixando de se manifestar sobre questões cruciais à aferição

do excesso cometido pelos policiais, tudo em razão de sua “visão

política”, em sendo ele “filho do Secretário da Administração

Penitenciária à época dos fatos”, o que o tornaria inapto a sentenciar

o feito; e b) o r. juízo omitiu-se quanto às acusações de roubos

qualificados e fraude processual. No cerne, busca a pronúncia dos

absolvidos, embora conformada com a impronúncia dos demais (fls.

6.189/6.298).

Contrariedades às fls. 6.300/6.419, 6.423/38,

6.439/45, 6.446/53, 6.456/65, 6.466/73, 6.474/7, 6.481/3,

6.484/92, 6.493/7, 6.498/506, 6.507/40, 6.541/6, 6.547/53,

6.591/5, 6.626/31, 6.632/4, 6.635/7 e 6.638/74.

Reinaldo Henrique de Oliveira e Alex Nascimento

Chagas tiveram julgadas extintas suas punibilidades também em

razão de seus falecimentos (fls. 6.589 e 6.597 respectivamente), os

quais, embora tenham se dado pouco antes da r. sentença (aos

14.05.13 e 26.07.14 nessa ordem), foram comunicados apenas após

sua prolação.

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Remeteram-se os autos à Instância precedente, para a

intimação do assistente da acusação, a fim de que se manifestasse.

Realizado o ato, quedou-se ele inerte (fls. 6685/6690).

A Procuradoria de Justiça é pelo afastamento da

preliminar relativa à parcialidade do julgador, reconhecendo-se,

porém, vício insanável na r. sentença, porquanto “citra petita”. No

cerne, é pelo desprovimento (fls. 6.699/735).

Recurso bem processado.

É o relatório, adotado, no mais, o de primeiro grau.

Por primeiro, tem-se que, respeitado o esforço do

“Parquet”, despropositada a arguição de que eivado de parcialidade o

julgamento singular, em face da condição do magistrado de filho do

secretário da administração penitenciária, à época dos fatos.

É que não se vislumbra qualquer das causas de

impedimento ou suspeição previstas na Lei Processual Penal.

Quanto ao impedimento, basta conferir o art. 252

desse diploma.

Já a arguição de suspeição, a par de levantada por

via inadequada, veio manifestamente a destempo, resultando, há

muito, abarcada pela preclusão, dês que o magistrado subscritor da

r. sentença atua nos autos há mais de nove anos (desde 11.01.07

fl. 3.988).

Por isso que o Ministério Público teve oportunidade

de sobejo para constatar a pretensa imparcialidade. Quedou-se

inerte. Somente agora, quando sai derrotado, traz a questão, com o

evidente intuito único de tornar nulo o julgado.

Realmente, o simples fato de o sentenciante ser filho

do secretário da administração penitenciária, à época dos fatos, por

si só, não enseja o reconhecimento de sua suspeição, até porque este

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feito tem por objeto operação policial coordenada e planejada pelo

Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância GRADI,

ligado à Secretaria de Segurança Pública - SSP, que não se confunde

com a SAP.

Outrossim, a convicção do culto magistrado,

externada no édito recorrido, diz com o mérito recursal, descabendo

pinçar, em sede de preliminar, trechos desfavoráveis ao arguente,

para se concluir pela suspeição.

Tampouco prospera a prejudicial outra, ainda que

encampada pelo lúcido parecer da PGJ.

É que, embora não tenha o douto sentenciante se

manifestado expressamente sobre os crimes conexos (roubos

qualificados e fraude processual), imputados a parte dos acionados,

assim o fez em razão de sua incompetência superveniente para

tanto, dês que impronunciados José Roberto Martins Marques,

Romeu Takami Mizutano e Roberto Mantovan (a pedido do próprio

Ministério Público) e decretada a absolvição sumária dos demais.

Desse modo, ocorrente a situação prevista no

parágrafo único do art. 81 da Lei Processual Penal, a excepcionar a

regra do “caput”, afastada a “perpetuatio jurisdicionis”.

Nesse sentir:

“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.

HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO CONTRA

SERVIDORES FEDERAIS, PORTE ILEGAL E DISPARO

DE ARMA DE FOGO. ENCAMINHAMENTO AO

TRIBUNAL DO JÚRI FEDERAL. IMPRONÚNCIA.

APLICAÇÃO DA REGRA DO PARÁGRAFO ÚNICO DO

ART. 81 DO CPP. INOCORRÊNCIA DA PERPETUAÇÃO

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DA JURISDIÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO

ESTADUAL. 1. Após sentença de impronúncia,

compete ao Juízo Estadual processar e julgar crimes

de porte ilegal e disparo de arma de fogo, conexos ao

delito de competência do Tribunal do Júri Federal, por

não se inserir aqueles entre as infrações elencadas no

art. 109 da Constituição Federal. 2. Conflito conhecido

para declarar-se competente o Juiz de Direito da

Primeira Vara Criminal de Lajeado-RS, o suscitado.”

(STJ CC 92.754/RS, Terceira Seção, rel. Min. Jorge

Mussi, DJe 29.04.2008);

“Conflito Negativo de Jurisdição. Júri. Homicídios

tentados conexos com roubo. Impronúncia quanto aos

crimes contra a vida. Remessa dos autos ao foro

competente para julgar o crime de roubo

remanescente. Aplicação do parágrafo único do artigo

81 do CPP, que surge como exceção ao 'caput' do

referido dispositivo legal. Inocorrência da regra da

'perpetuatio jurisdictionis'. Conflito julgado procedente

para determinar a competência do Juizo suscitante.

(TJSP Conflito de Jurisdição nº 990.10.404702-1,

Câmara Especial, rel. Des. Ciro Campos, j.

22.10.2010, v.u.).

Vai-se ao cerne.

Embora inquestionável a materialidade, a teor dos

laudos necroscópicos de fls. 408/409 e 1.151 (vítima Gerson

Machado da Silva), 410/411 e 1.154 (Djalma Fernandes Andrade de

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Souza), 413/414 e 1.157 (Fábio Fernandes Andrade de Souza),

414/415 e 1.159 (Laércio Antonio Luiz), 416/417 e 1.162 (José

Airton Honorato), 418/419 e 1.165 (Luciano da Silva Barbosa),

420/421 e 1.168 (Jéferson Leandro Andrade), 422/423 e 1.171

(Sandro Rogério da Silva), 424/425 e 1.173 (Aleksandro de Oliveira

Araújo), 426/427 e 1.176 (José Maria Menezes), 428/429 e 1.178

(Silvio Bernardino do Carmo), 430/431 e 1.181 (José Cícero Pereira

dos Santos), o exame dos volumosos autos foi incapaz de externar a

conclusão de que os denunciados tenham propiciado, dolosamente,

ou ao menos tenham assumido o risco de contribuir para o

desenlace sangrento da operação policial.

Extrai-se de tudo, que um grupo tático/de

inteligência (GRADI Grupo de Repressão a Delitos de Intolerância),

formado por policiais (inicialmente civis e militares e, depois, apenas

militares) e diretamente subordinado ao secretário da segurança

pública, programou a interceptação, em praça de pedágio, de

veículos que estariam transportando membros de facção criminosa,

manobra que ficou conhecida como “Operação Castelinho”.

Essa operação foi oficialmente esteada, pelo GRADI,

em notícia (por informantes) de que um avião pagador seria roubado,

na cidade de Sorocaba, como planejado pela facção criminosa

conhecida como “pcc” primeiro comando da capital, que, para

tanto, teria recrutado um grande grupo de indivíduos fortemente

armados (fuzis, metralhadoras e outras armas de grosso calibre).

A interceptação do grupo na praça de pedágio não foi

de todo bem sucedida, eis que houve confronto e pesado tiroteio, a

resultar nas mortes de doze criminosos, ficando ferido um dos

policiais.

Posteriormente, o Ministério Público encontrou

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inconsistências no relato dos policiais envolvidos na operação, pois

as fitas de vídeo do pedágio teriam sido alteradas e a cena do crime

não teria sido preservada.

Testemunhas que estiveram no local, durante a

abordagem e logo após, afirmaram que não houve confronto, mas

execução, eis que os criminosos se entregaram e não tinham armas

nas mãos, porque estas estariam no bagageiro do ônibus.

Trabalhos periciais indicaram que as armas

apreendidas não continham vestígios de sangue.

Revelou-se, então, a possiblidade nefasta de que a

emboscada fora uma armação, com vistas a comover a opinião

pública, que, no momento, era desfavorável à Polícia e à Secretaria

de Segurança Pública.

Nesse contexto, adveio a denúncia de fls. 1A/1Y,

bem como do próprio secretário da segurança pública, de dois

magistrados (que teriam autorizado a participação dos sentenciados

na operação) e do então comandante geral da PM, Rui César de

Melo.

O feito em face do secretário e dos magistrados

acabou arquivado, acatado pedido do “Parquet”, enquanto a

denúncia contra Rui César de Melo foi rejeitada, decisão confirmada

em aresto desta relatoria, no RESE nº 0000153-97.2013.8.26.0286.

A exordial, aqui, foi recebida, prosseguindo o

processo contra os policiais e informantes participantes da aludida

operação policial.

Após extensa instrução, sobreveio o decisório em

foco, firme, na parte que interessa a este julgamento, no

reconhecimento das excludentes da legítima defesa e do estrito

cumprimento ao dever legal.

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E, realmente, do exame de tudo quanto narrado,

depoimentos e demais provas, conclui-se que os absolvidos

participaram de operação policial, como lhes foi ordenado, visando à

captura de grupo fortemente armado, que se dirigia a Sorocaba, com

o escopo de cometer um assalto. Nada mais.

Certo que a manobra não saiu como o planejado,

dado o confronto ocorrente.

Mas, nada leva a crer que tivessem os policiais e

auxiliares a intenção de cometer um massacre, como asseverado

pela acusação.

O simples fato de cuidar-se de efetivo especialmente

treinado não tem o condão de, por si só, caracterizar ânimo

homicida; ao revés, foi uma escolha ponderada, em se tratando da

abordagem e prisão de grupo de criminosos de alta periculosidade,

fortemente armados.

Aliás, a assertiva de que a presença da ROTA

implicaria extermínio é até injuriosa, na medida que atribui caráter

homicida a todo miliciano pertencente a esse laborioso batalhão.

E todos os envolvidos na operação, em todas as vezes

em que ouvidos, foram categóricos ao corroborar as palavras de

Armando Correa de Assis Júnior (miliciano da ROTA, que participou

da empreitada), na senda de que “não recebeu qualquer informação

no sentido de que todos deveriam ser derrubados ou que ninguém

deveria sobrar para contar a história” (fls. 02-a/7, 09/1, 12/4,

27/32, 35/6, 54/63, 65/8, 350/68, 369, 371/4, 466/7, 2.894/52,

2.975/3.090, 3.125/338, 3.236/309, 3.345/9, 3.497/514,

3.515/55, 3.556/662, 3.692, 3.756 3.847, 3.871/82, 3.884/95,

3.897/904, 4.055/8, 4.086, 5.115/33, 5.288/93, 5.344/5, 5.350/1,

5.354/9, 5.360/1, 5.416/7, 5.418/25, 5.426/32, 5.433/6, 5.437/9,

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5.440/4).

Até mesmo os dois presos infiltrados confirmaram

que se tratava de operação focada na prisão de assaltantes, não se

cogitando de emboscada (fls. 2092/3, 2095/7 e 5344/8).

Aliás, dos interrogatórios de todos os acusados não

se extrai, efetivamente, planejamento do fim nefasto verificado, mas

sim de que ocorreu ataque por parte das vítimas, que pretendiam

fugir, como bem sintetizado pelo douto procurador de justiça

oficiante (fls. 6711/21):

“(...) Roberto Mantovan, impronunciado a requerimento

do Ministério Público salientou que não estava no local

quando dos fatos. Esclareceu que atuava no GRADI,

em função administrativa, e que, com autorização de

magistrados, do comandante geral e de membro do

Ministério Público, quatro presos e policiais foram

infiltrados em quadrilhas, para coletas de

informações, o que perdurou por cerca de um ano.

Aduziu que não sabia que ocorreria um roubo na

cidade de Sorocaba, desconhecendo quem organizou

a operação, acreditando que o comandante geral e o

secretário de segurança pública dela tinham

conhecimento. Por fim, relatou que o apelado Henguel

se reportava diretamente ao Comandante Geral

Coronel Rui Cesar. Henguel esclareceu que, por

intermédio de um dos presos colaboradores, Marcos

Massari, souberam que uma quadrilha pretendia

praticar um roubo a um avião pagador na cidade de

Sorocaba. Negou qualquer envolvimento com os roubos

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dos veículos discriminados na denúncia, aduzido que

somente na data dos fatos recebeu informações sobre

quais veículos os criminosos ocupariam. Alegou que o

comandante geral da Polícia Militar e o Secretário de

Segurança Pública tinham conhecimento da operação

e que trajava uniforme da concessionária para

proteger civis e veículos de usuários da rodovia.

Relatou que recebeu a filmagem, que estava

danificada, com chuvisco, e a entregou a um tenente,

que a repassou ao major Roberto Mantovan,

acrescentando que recebera um ofício da via oeste

neste sentido. Por fim, aduz que somente conheceu

Carlos Alberto, Tenente da Polícia Rodoviária, no dia

dos fatos. Hamilton, João Carlos, Eduardo, Helio,

Rodney, Everaldo, Valdir, Francisco Alexandre,

Maurício, José Fernandes, Antonio Marcos, Paulo

Sérgio, Luiz Carlos Pondé, Laerte e Rogerio Viana

informaram integrar o GRADI e negaram existir ordem

ou ajuste entre eles, os integrantes da ROTA, os

presos infiltrados e dos policiais rodiviários para

matar as vítimas, que se encontravam no interior das

pick-ups e ônibus, na denominada operação

castelinho. Hamilton aduziu que estava de férias e

sequer se encontrava no local, tratando-se de erro

administrativo. João Carlos Salatiel, Rodney Carmona

e Helio relataram que, no dia anterior, Henguel

solicitou que, no quando dos fatos, acompanhassem o

ônibus, em veículo descaracterizado. Pararam antes

da praça de pedágio, após a passagem do coletivo,

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que derivou à direita, não participando do tiroteio.

Antonio Marcos e Valdir relataram que, um dia antes,

foram convocados por Henguel para a operação,

sendo determinado que se posicionassem a certa

distância, em caso de fuga, em veículos

descaracterizados. Luiz Carlos Pondé esclareceu que

estava de férias, sendo convocado para participar da

operação, tendo como atribuição permanecer na sala

de controle do pedágio junto com o preso Marcos

Massari, não participando do tiroteio. Eduardo Parra,

Paulo Sérgio de Oliveira e Rogério Vianna Andrade

informaram que, em viatura descaracterizada,

acompanharam o ônibus, que parou logo depois de

passar pelo pedágio, quando seus ocupantes

iniciaram o tiroteio, ocorrendo revide por parte dos

policiais fardados. O primeiro acrescentou que tentou

ingressar no ônibus, sendo recebido com tiros, que

atingiram o escudo empunhado por um dos policiais.

Everaldo e Laerte, já falecido, informaram que

receberam determinação para comparecerem ao posto

de pedágio, não participando do tiroteio,

acrescentando o último que permaneceu no interior da

cabine do pedágio. Helio Moraes aduziu que apenas

acompanharam o ônibus, confirmando que o tiroteio

ocorreu após a passagem do pedágio. Acrescentou que

não ingressou no coletivo, apenas zelando pela

integridade dos civis. Francisco Alexandre e José

Fernandes esclareceram que eram incumbidos de

acompanhar os presos colaboradores até os encontros

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com os integrantes da quadrilha, para que obtivessem

as informações a serem repassadas para seus

superiores. Informaram que, certa feita, Gilmar obteve

a notícia de que a quadrilha planejava roubo a um

avião pagador na cidade de Sorocaba. Negaram

qualquer envolvimento com os roubos dos veículos

discriminados na denúncia ou existir ordem ou acerto

para que as vítimas fossem mortas. Aduziram que,

quando dos fatos, receberam determinação para

realizarem o acompanhamento da quadrilha até o

pedágio, onde ocorreria a abordagem, sendo que não

participaram do tiroteio. (...) Gilmar e Marcos Massari

eram presos infiltrados. Gilmar relatou que o Juiz

Corregedor, Doutor Octavio, o recrutou para para

participar de ações para desmantelar o PCC. Como

possuía amigos que integravam a referida

organização criminosa, foi possível sua infiltração e de

policiais. Soube que a quadrilha planejava o roubo no

aeroporto de Sorocaba, com armas próprias, relatando

que seus integrantes diziam que nunca se entregariam

e reagiriam. Participou da reunião na sede do

Batalhão de choque com o Secretário de Segurança

Pública, que determinou a interceptação do comboio.

Quando dos fatos, rumou ao pedágio, em um veículo

Parati, na companhia de policiais, à frente do comboio,

estando longe quando do tiroteio. Confirmou que

apresentou versões diversas, ora incriminando os

policiais, ora os inocentando. Aduziu que na casa de

detenção passou a receber ameaças de presos do PCC

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e que promotores de justiça prometeram transferi-lo,

caso delatasse os policiais, razão pela qual acabou

por acusa-los injustamente.

Marcos Massari relatou que o juiz de direito do DIPO,

doutor Octavio Augusto, o recrutou para que se

infiltrasse no PCC, visando descobrir as ações de seus

membros. Soube que a quadrilha planejava o roubo no

aeroporto de Sorocaba, sendo incumbido de

acompanhar os policiais para fornecer informes para o

sucesso da operação. Quando dos fatos, estava no

interior da cabine de pedágio, presenciando o

momento em que os veículos, ocupados pelas vítimas,

passaram. Os policiais mandaram que os ocupantes

do coletivo e pick-up descessem, não sendo atendidos,

oportunidade em que, do interior do coletivo,

passaram a efetuar disparos. Alegou que promotores o

ameaçaram para que incriminasse os policiais, senão

seria transferido para um presídio dominado pelo

PCC, motivo pelo qual incialmente incriminou

falsamente os policiais, por medo de morrer.

(...) Romeu Takami Mizutami, Reinaldo da Silva

Ribeiro e Carlos Alberto dos Santos integravam a

polícia rodoviária. Romeu Takami, impronunciado a

requerimento do Ministério Público, Tenente Coronel

da Polícia Rodoviária, alegou que não participou da

operação castelinho ou de qualquer reunião com o

GRADI, informando que seu subordinado Carlos

Alberto Valentim foi requisitado pelo comando da

policia militar para participar da operação, sem seu

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conhecimento, e o avisou por uma questão moral,

pedindo sigilo absoluto. Acrescentou que,

posteriormente, foi incumbido de dar entrevistas em

nome da Polícia Rodoviária. Carlos Alberto dos Santos

informou ser comandante de policiamento rodoviário e

recebeu ordem superior de prestar auxílio aos policiais

da ROTA e do GRADI em operação sigilosa. Participou

de reunião, sendo informado de que uma quadrilha

praticaria um roubo em Sorocaba e que a abordagem

ocorreria no pedágio da Castelinho, com definição da

função de cada grupo. Colocaram um guincho para

obstruir a pista e interceptar a trajetória do ônibus,

dias pick-ups e um veículo parati, ocupados pelos

integrantes da quadrilha. As tropas foram divididas,

permanecendo próximo ao guincho, quando percebeu

que o veículo parati conseguiu furar o bloqueio,

empreendendo fuga. Em seguida, as duas pick-ups

foram bloqueadas pelo guincho. Escutou os disparos

de arma de fogo advindo do local onde se

encontravam as pick-ups, oportunidade em que o

ônibus derivou à direita, onde se encontravam os

policiais da ROTA. O coletivo parou e seus ocupantes

começaram a atirar, dando início ao tiroteio. Participou

da entrada no ônibus, com o auxílio de outros

policiais, sendo que um deles portava um escudo,

relatando que foram efetuados dois disparos em

direção aos policiais, que revidaram. Reinaldo Ribeiro

negou integrar o GRADI, sendo policial do serviço

reservado da CPRodv, alegando que apenas conduziu

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o sargento Everaldo até o pedágio, onde os fatos

ocorreram. Acrescentou que não participou nem

presenciou o tiroteio, desconhecendo o destino das

fitas do sistema de segurança da rodovia. (...) José

Roberto Martins, impronunciado a pedido do

Ministério Público, Tenente Coronel PM e comandante

da ROTA, relatou que, quando dos fatos, foi incumbido

pelo Coronel Barros a prestar apoio ao pessoal do

GRADI, no planejamento ao cerco ao grupo que

pretendia praticar roubo em Sorocaba. Alegou que não

manteve contato com Takami ou Mantovan e nem

esteve no local dos fatos. Segundo apurado, na

operação parte dos policiais da ROTA permaneceu em

um barranco; outros se posicionaram no canteiro

central, para abordagem das pick-ups D-20 e Ranger;

e o grupo maior ficou imbuído de fechar a pista da

rodovia, para abordagem do coletivo. Os policiais Alex

Nascimento, Dimas, Paulo Roberto, Douglas,

Francisco, José Antonio, Paulo Sergio Schiavo e Pedro

relataram que foram convocados para participarem da

operação, sendo incumbidos da abordagem dos

veículos D-20 e Ranger. Relataram que, depois de

passarem pelo pedágio, os ocupantes dos referidos

veículos não obedeceram à ordem de parada,

efetuando disparos na direção da qguarnição e dos

policiais, dando início ao tiroteio. Os policiais Maercio,

Augusto e Larri informaram que permaneceram no

barranco, aguardando a passagem dos veículos

envolvidos, sendo que os dois primeiros negaram a

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existência de ordem para que as vítimas fossem

mortas e alteração da cena do tiroteio. Augusto

acrescentou que interceptaram uma quadrilha que

praticaria um roubo na região de Sorocaba, o que era

de conhecimento apenas dele e dos capitães. Relatou

que ocorreu o primeiro confronto entre os ocupantes

das pick-ups e os policiais, oportunidade em que o

coletivo, que seguia atrás, derivou à direita. Os

policiais Amaraildo, Antonio Tragino, Armando,

Eduardo, Evando, Evaristo, Fabio, José Bezerra, Jose

Carlos, Ladon, Marcos Eduardo, Reinaldo Henrique,

Miguel, Nelson, Paulo Cesar, Valmir, Valderi, Gilberto,

José Milton, Sergio Antonio e Roberto foram

incumbidos de interceptar o ônibus ocupado por

pessoas fortemente armadas, o qual parou logo após

transpor o pedágio, quando seus ocupantes passaram

a efetuar disparos de arma de fogo contra os policiais,

dando início ao tiroteio. Eduardo relatou que foi

alvejado no confronto, quando revidou aos disparos.

Valmir acrescentou que recebeu a fita de gravação da

concessionária e a entregou ao Tenente Henguel, para

que fosse repassada à Secretaria de Segurança

Pública. José Bezerra acrescentou que, após o tiroteio

inicial, determinaram que os ocupantes do coletivo se

rendessem, abandonassem as armas e descessem e,

como não foram atendidos, nele ingressou, com o

escudo balístico, acompanhado de Paulo Sérgio,

Eduardo Parra e Carlos Alberto. Em seguida, os

ocupantes do coletivo efetuaram disparos, atingindo o

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escudo, dando início a novo tiroteio. Finda a ação,

encontraram corpos caídos e armas de fogo sujas de

sangue. Acrescentou que, no bagageiro inferior do

ônibus localizaram uma bolsa cheia de armas, que

foram transferidas para a viatura do comando.

Amarildo esclareceu que sua função seria obstar que

outras pessoas passassem pelo pedágio, depois da

passagem do comboio. Pelo que se depreende de todos

os interrogatórios, de forma geral, os apelados,

integrantes do GRADI, da ROTA e da Polícia

rodoviária, aduzem que agiram em legítima defesa,

estrito cumprimento do dever legal e obediência

hierárquica. (...)”

Realmente, em que pese o raciocínio esposado nas

razões de apelo, participar de uma abordagem como membro de

efetivo policial fortemente armado e bem treinado é uma coisa,

cometer massacre de pessoas indefesas, como quer fazer crer a

denúncia, é outra e bem diversa.

Também a peculiaridade de se terem arregimentado

presos para participar da operação não indica, necessariamente,

tenha sido “forjada” uma abordagem policial para “disfarçar”

execução deliberada. Trata-se sim de estratégia policial, cuja

eticidade não cabe aqui avaliar.

Ainda, os testemunhos dos civis presentes no local

nada externam que possa mudar conclusão tal, já que nenhuma

dessas testemunhas (caminhoneiros, motociclistas, demais usuários

da rodovia e funcionários da concessionária VIAOESTE) soube

precisar quem deu início aos disparos ou mesmo a dinâmica dos

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fatos, dês que procuravam se proteger (fls. 25/6, 33/4, 37/8,

43/53, 341/9, 720, 1.118/26, 1.142/7, 1.226/9, 1.233/8,

1.245/51, 1.255/64, 1.282/4, 1.285/92, 1.293/8, 1.300/2,

1.345/52, 1.354/60, 1.455/8, 1.501/8, 1.510/6, 1.518/20,

1.522/4, 1.531/3, 1.880/3, 4.181, 4.196/7, 4.213, 4.237/44,

4.254, 4.258, 4.283/89, 4.302/4, 4.320/23, 4.510/5, 4.519/28,

4.534/43 e 4.702/9).

Deborah Amiris Corsini, Luiz Fabiano de Freitas e

Marcelo Augusto Rolim, funcionários dos nosocômios para onde

levados os ofendidos, confirmaram terem sido os próprios policiais

que prestaram socorro aos últimos, mas, não puderam afirmar se as

vítimas foram socorridas já sem vida, apenas que já chegaram em

óbito (fls. 1.224/5, 1.243/4 e 1.253/4).

Nem mesmo o desastre da empreitada faz de seus

participantes homicidas, repise-se.

Com efeito, como bem anotado pelo nobre

sentenciante: “É notório no meio criminal e policial que militares

menos graduados não têm autonomia para organizar e executar uma

operação de tamanha magnitude. Além disso, é evidente que a grande

maioria dos acusados tomou conhecimento dos fatos somente no dia

da operação, na reunião realizada no posto da Polícia Rodoviária de

Araçariguama. Operações como a realizada no dia dos fatos são

comunicadas à tropa somente no momento da execução, justamente

para que não haja vazamento. Portanto, é evidente que os policiais se

dirigiram ao local com a informação da existência do grupo de

criminosos armados e se prepararam para detê-los com a força

necessária que a situação exigia. O armamento utilizado pelos

policiais era necessário e não se vislumbra excesso. As graves

consequências advindas da ação policial se deram justamente pelo

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grande efetivo montado e pela reação das vítimas, que estavam

armadas e atiraram contra os policiais. (...) Também é preciso

salientar que o Ministério Público imputou a todos os réus a

responsabilidade por todas as mortes, sem individualizar as

condutas, apontar qual grupo de policiais participou de qual homicídio,

partindo da premissa de que todos estavam cientes da mencionada

farsa e a ela aderiram, o que não restou demonstrado em nenhum

momento. Até mesmo os presos infiltrados estão sendo acusados de

todos os homicídios, sem qualquer apuração de responsabilidade das

autoridades que autorizaram a saída do presídio e acompanharam as

diligências. Não é admissível que os presos, pessoas sob a custódia

da Administração Penitenciária, que foram tiradas da prisão a pedido

da Polícia Militar e com autorização do Poder Judiciário, sejam

punidas pelo resultado lesivo de uma operação policial. Os presos não

tinham domínio nenhum da situação e a colaboração certamente se

deu em troca de prometidas vantagens, que aparentemente nem foram

cumpridas. Não se espera outra conduta de dois presos com

vastíssima ficha criminal e que são solicitados por policiais e

magistrados para que colaborem.” (fls. 6174).

Tampouco as provas técnicas favorecem a

empreitada acusatória, já que: “Os peritos constataram a existência

de orifícios de balas no escudo balístico apreendido, utilizado por José

Bezerra quando da invasão do coletivo (fls. 1459/69). Os peritos

também realizaram a reconstituição do ingresso de parte dos policiais

no coletivo (fls. 1743/810). Os equipamentos de captação e gravação

de imagens da rodovia e sua praça de pedágio; bem como as fitas

apreendidas foram examinados pelos peritos do IC (fls. 817/858) e

pelo CAEX (fls. 1931/1950 9º volume). (...) Efetivamente os peritos

encontraram partículas de chumbo nas mãos direita e esquerda de

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três das vítimas, SANDRO ROGÉRIO DA SILVA, FÁBIO FERNANDES

DE ANDRADE DE SOUZA E GERSON MACHADO DA SILVA (fls.

674/8). Contudo, irrelevante o fato dos peritos não encontrarem

chumbo nas mãos das demais vítimas, pois, como ressalvado, no

próprio laudo e de conhecimento geral no meio jurídico, existe a

possibilidade da presença de chumbo em quantidade inferior ao

mínimo sensível pelo exame, o que não descarta a hipótese de autoria

de disparo. (...)”, consoante observado pela PGJ às fls. 6.732/3.

Desse modo, o conjunto probatório, absolutamente,

não se presta para justificar o prosseguimento do feito, com a

pronúncia e remessa do caso ao Júri, em sendo patentes as

excludentes de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal e da

legítima defesa, a escudarem a absolvição sumária, com fulcro no

art. 415, IV do CPP.

Destarte, mantém-se a r. decisão singular,

encampados seus opimos fundamentos (art. 252 do RITJ), com

remessa dos autos ao juízo criminal comum, para apreciação dos

demais crimes antes conexos.

Nega-se provimento, com determinação.

IVAN SARTORI

Desembargador Relator