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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 3 1 0 8? PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA Relator: Juiz Vilson Fontana Requerente: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Urussanga Requerido: João Batista Bom - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - VEREADOR DESLIGAMENTO VOLUNTÁRIO DA LEGENDA - GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL - INOCORRÊNCIA - AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA DESFILIAÇÃO - PROCEDÊNCIA. Tendo em vista a gravidade das conseqüências advindas do rompimento do vínculo entre o mandatário e o partido que capitaneou as eleições, com reflexos diretos e perniciosos sobre a vontade do eleitor manifestada nas urnas e, por que não dizer, sobre a própria legitimidade para o exercício do mandato, o reconhecimento da hipótese de justa causa fundada na grave discriminação pessoal exige "a demonstração da prática de atos, perpetrados por dirigentes da grei partidária, de distinção arbitrária, de exclusão ou diferenciação infundada para com determinado filiado, que impeçam ou prejudiquem a sua participação no âmbito interno do partido" (TRESC. Ac. n. 25.229, de 10.8.2010. Rei. Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann). O entrechoque de posições e interesses de integrantes de uma agremiação é decorrente do embate político intrínseco à atuação partidária e, no caso específico dos membros detentores de mandado eletivo, parlamentar, descabendo falar em justa causa para a desfiliação sem a prova concreta de atos que caracterizem injusta discriminação. "A discriminação pessoal que justifica a desfiliação partidária tem que se dar no âmbito da agremiação partidária e ser grave a ponto de demonstrar a total incompatibilidade existente entre o eleito e o partido pelo qual se elegeu. Não basta a mera discordância em relação á conjuntura partidária, pois divergências internas são normais a qualquer tipo de agremiação democrática, muito menos disputas com um dos filiados eleitos, titular do executivo municipar (TRESC. Ac. n. 22.129, de 5.5.2008. Rei. Oscar Juvêncio Borges Neto). O

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 3 1 0 8 ?

PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA Relator: Juiz Vi lson Fontana Requerente: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Urussanga Requerido: João Batista Bom

- AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - VEREADOR DESLIGAMENTO VOLUNTÁRIO DA LEGENDA - GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL - INOCORRÊNCIA -AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA DESFILIAÇÃO -PROCEDÊNCIA.

Tendo em vista a gravidade das conseqüências advindas do rompimento do vínculo entre o mandatário e o partido que capitaneou as eleições, com reflexos diretos e perniciosos sobre a vontade do eleitor manifestada nas urnas e, por que não dizer, sobre a própria legitimidade para o exercício do mandato, o reconhecimento da hipótese de justa causa fundada na grave discriminação pessoal exige "a demonstração da prática de atos, perpetrados por dirigentes da grei partidária, de distinção arbitrária, de exclusão ou diferenciação infundada para com determinado filiado, que impeçam ou prejudiquem a sua participação no âmbito interno do partido" (TRESC. Ac. n. 25.229, de 10.8.2010. Rei. Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann).

O entrechoque de posições e interesses de integrantes de uma agremiação é decorrente do embate político intrínseco à atuação partidária e, no caso específico dos membros detentores de mandado eletivo, parlamentar, descabendo falar em justa causa para a desfiliação sem a prova concreta de atos que caracterizem injusta discriminação.

"A discriminação pessoal que justifica a desfiliação partidária tem que se dar no âmbito da agremiação partidária e ser grave a ponto de demonstrar a total incompatibilidade existente entre o eleito e o partido pelo qual se elegeu. Não basta a mera discordância em relação á conjuntura partidária, pois divergências internas são normais a qualquer tipo de agremiação democrática, muito menos disputas com um dos filiados eleitos, titular do executivo municipar (TRESC. Ac. n. 22.129, de 5.5.2008. Rei. Oscar Juvêncio Borges Neto).

O

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA

Vistos etc.

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em julgar procedente o pedido, nos termos do voto do Relator, que integra a decisão.

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Florianópolis, 7 de outubro de 2015.

Relator

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA

R E L A T Ó R I O O Diretório Municipal do Partido do Movimento Democrático Brasileiro

(PMDB) de Urussanga ajuizou ação declaratória de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária em face de João Batista Bom, eleito vereador em 2012 e no exercício do cargo desde 1o. 1.2013, com fundamento nas disposições da Resolução TSE n. 22.610/2007.

Aduz o Partido requerente, em síntese, que o mandatário, em contrariedade aos interesses da legenda e sem o amparo de nenhuma das hipóteses de justa causa previstas no art. 1o, § 1o, da Resolução de regência, comunicou o seu desligamento da agremiação em 27.3.2015, protocolando a respectiva comunicação no Cartório da 34a Zona Eleitoral de Urussanga em 8.4.2015. Relata que desde dezembro de 2014 o requerido já havia tornado pública a intenção de se desfiliar do PMDB por estar sendo assediado pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), concluindo que "a mudança de partido sem a existência de justa causa, motivada apenas por caprichos pessoais e pelo aleivoso sentimento de impunidade e morosidade da tramitação do presente processo não pode passar impune por esta Justiça Eleitoral, merecendo a severa reprimenda de perda do mandato eletivo" (fl. 9). Tece considerações acerca do instituto da fidelidade partidária, pugnando, derradeiramente, pela antecipação dos efeitos da tutela e, no mérito, pela procedência integral do pedido, para que seja declarada a perda do mandato eletivo de João Batista Bom, oficiando-se à Câmara Municipal de Urussanga para que dê posse ao suplente. Arrolou três testemunhas (petição e documentos às fls. fls. 2-92).

À fl. 93, posterguei a análise do pedido de antecipação da tutela e determinei a citação do requerido.

Em sua resposta, João Batista Bom sustenta a existência de justa causa para a desfiliação, consubstanciada na grave discriminação pessoal a que se refere o art. 1o, § 1o, inciso IV, da Resolução TSE n. 22.610/2007. Diz-se vítima de "constante e reiterada hostilidade partidária", levada a efeito, ainda que não exclusivamente, por lideranças do órgão executivo municipal, o que teria redundado na desconfortável sensação de exclusão e isolamento perante os seus correligionários, prejudicando-lhe o exercício do mandato e tornando insustentável a sua permanência no Partido. Alega não ter sido convidado para participar de eventos de extrema importância para o município, "que envolviam comemorações, debates, inaugurações, conquistas em geral, reuniões em torno de temas, situações e problemas relevantes (inclusive alguns relacionados a matérias de competência da Câmara Municipal), além de reuniões do próprio partido, do qual também faz parte o Prefeito Municipal de Urussanga" (fl. 113). Afirma que foram realizadas ao menos 27

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA (vinte e sete) solenidades sem a sua participação, em evidente prejuízo à imagem e ao nome de quem exerce o cargo de vereador, pois "cria um estado de distanciamento do povo" (fl. 113). Argumenta que essa animosidade nutrida por integrantes do Partido e pelo próprio Prefeito, Johnny Felippe, teria sido motivada pela sua atuação livre e independente no exercício do mandato, pautada por críticas e posicionamentos por vezes contrários aos interesses do poder executivo municipal. Insurge-se, outrossim, contra o tratamento desrespeitoso da Secretária Municipal de Educação e da Diretora de Cultura do município para com os membros da Câmara de Vereadores, que teria sido chancelado pelo chefe do poder executivo local e pela cúpula do Partido, "numa típica mostra de absoluta falta de apoio ao vereador" (fl. 116), ainda mais latente após a exoneração dos servidores ocupantes dos dois únicos cargos públicos (Coordenador do Transporte Escolar e Diretor de Escola) indicados pelo mandatário. Ao final, postula o indeferimento da antecipação dos efeitos da tutela e, no mérito, a improcedência do pedido formulado na inicial. Também arrolou três testemunhas (petição e documentos às fls. 112-149).

Com vista dos autos, o Procurador Regional Eleitoral opinou pela produção da prova testemunhal requerida pelas partes, com a ulterior devolução dos autos para nova manifestação (fls. 153-154).

Na decisão de fls. 156-159, o então Juiz processante, Dr. Luiz Felipe Siegert Schuch, indeferiu o pedido de tutela antecipada, determinando a expedição de Carta de Ordem à 34a Zona Eleitoral para a inquirição das testemunhas arroladas pelas partes. Na oportunidade, concedeu ainda ao requerido o prazo de 10 (dez) dias para apresentação de cópias das atas das sessões da Câmara de Vereadores mencionadas na resposta.

Durante a instrução, foram ouvidas as três testemunhas do Partido requerente (Luiz Henrique Martins, Daniela Piacentini Visintin e Brígida Marioti) e apenas duas do requerido (Odivaldo Bonetti e Itamar Dezan), que desistiu da oitiva de Iris Maria de Lorenzi Cancellier

Devolvida a Carta de Ordem (fls. 166-180), declarei encerrada a instrução, determinando a intimação das partes para alegações finais (fl. 183).

O Diretório Municipal do PMDB de Urussanga afirma que a prova amealhada no curso da instrução evidenciou não haver grave discriminação pessoal, mas tão somente meras divergências de opinião, incapazes de configurar a hipótese de justa causa aludida pelo requerido. Aduz que os testemunhos de Luis Henrique Martins e Daniela Piacentini Visintin são esclarecedores de que a desfiliação visou atender interesses pessoais de João Batista, que teria identificado no PDT a possibilidade de se reeleger com um coeficiente eleitoral menor. Ressalta, ainda, que a testemunha Brígida Marioti, Secretária Municipal de Educação, afirmou perante o juízo que João Batista foi o vereador com o maior número de indicações ao cargo de diretor escolar atendidas pelo chefe do poder executivo local, tendo indicado no mínimo quatro pessoas, e não apenas duas, conforme dito na defesa, o

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA que enfraquece a alegação de que as exonerações teriam ocorrido por motivos meramente políticos. Acrescenta, por fim, que a tese de que o vereador teria sido vítima de perseguição política em razão da sua atuação combativa perante a Câmara Municipal carece de lastro probatório, devendo ser declarada a ausência de justa causa para a desfiliação (fls. 186-195).

O requerido João Batista Bom, por sua vez, insiste no reconhecimento da grave discriminação pessoal, argumentando que as provas demonstram de forma segura a existência de importantes dissidências entre ele e o chefe do poder executivo municipal, o que, com o passar do tempo, teria impossibilitado a sua permanência no partido. Afirma estar comprovado que a exoneração dos funcionários que havia indicado deu-se em represália a seu modo de atuação na Câmara de Vereadores, havendo também evidências de que não era convidado para participar de eventos oficiais organizados pelo Município, nem lhe era franqueada presença nas reuniões do Partido, encontrando forte resistência inclusive dentro da própria bancada do PMDB. Questiona a credibilidade dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo requerente, em especial o prestado por Luiz Henrique Martins, que exerce o cargo de vice-prefeito e guarda estreitos laços de amizade com o Prefeito, instando, ao concluir, pelo reconhecimento da hipótese de justa causa prevista no art. 1o, § 1o, inciso IV, da Resolução TSE n. 22.610/2007 (fls. 197-205).

A Procuradoria Regional Eleitoral opina pela procedência do pedido (fls. 207-221).

É o relatório.

V O T O

O SENHOR JUIZ VÍLSON FONTANA (Relator): Sr. Presidente, presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, conheço do pedido.

O cerne da contenda diz respeito à existência ou não de justa causa para a desfiliação de João Batista Bom - vereador eleito em 2012 pela Coligação Muda Urussanga (PMDB/PDT) - , do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Urussanga. O edil diz-se vítima de grave discriminação pessoal, hipótese de justa causa prevista no inciso IV do § 1o do art. 1o da Resolução TSE n. 22.610/2007, que assim dispõe:

Art. 1o O partido político interessado pode pedir, perante à Justiça Eleitoral, a decretação da perda de carrgo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa.

§ 1o Considera-se justa causa:

[...]

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TRESC

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA

I V - grave discriminação pessoal.

Após analisar detidamente os autos, entendo assistir razão ao Partido requerente.

Tendo em vista a gravidade das conseqüências advindas do rompimento do vínculo entre o mandatário e o partido que capitaneou as eleições, com reflexos diretos e perniciosos sobre a vontade do eleitor manifestada nas urnas e, por que não dizer, sobre a própria legitimidade para o exercício do mandato, o reconhecimento da hipótese de justa causa fundada na grave discriminação pessoal exige "a demonstração da prática de atos, perpetrados por dirigentes da grei partidária, de distinção arbitrária, de exclusão ou diferenciação infundada para com determinado filiado, que impeçam ou prejudiquem a sua participação no âmbito interno do partido" (TRESC. Ac. n. 25.229, de 10.8.2010. Rei. Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann).

A produção dessa prova, naturalmente, fica a cargo do parlamentar, uma vez que, "A/o processo de perda de cargo eletivo por desfiliação sem justa causa, cabe ao autor a comprovação do fato constitutivo do ilícito (a desfiliação partidária), recaindo sobre aquele que se desfiliou do partido político o ônus de demonstrar a ocorrência do fato extíntivo (ocorrência de justa causa), nos termos do art. 333, I e II do Código de Processo Civir (TSE. Pet. 3019, de 25.8.2010, Relator Ministro Aldir Guimarães Passarinho Júnior).

Na espécie, a desfiliação está devidamente demonstrada, consoante se depara das cópias das comunicações feitas ao Diretório Municipal do Partido -na pessoa de seu Presidente, Stevan Grutzman Arcari - em 27.3.2015 (fl. 18) e ao Cartório da 34a Zona Eleitoral em 8.4.2015. Este fato, aliás, é admitido pelo próprio requerido, não pairando qualquer controvérsia a respeito.

A grave discriminação pessoal alegada em resposta, contudo, não restou provada.

O requerido João Batista não logrou êxito em comprovar que, propositalmente, não era mais convidado para participar das reuniões e dos demais atos realizados pelo PMDB de Urussanga. Igualmente não há evidências concretas de que a exoneração de dois servidores públicos por ele indicados para o cargo de diretor escolar teria se dado em represália a seu posicionamento na Câmara de Vereadores a respeito de assuntos de interesse do Município.

O que o conjunto probatório demonstra é que existiam, sim, dissidências entre o requerido e lideranças políticas do PMDB local, entre elas o Prefeito de Urussanga, Johnny Felippe.

Ambos foram eleitos por coligações formadas com o PDT (a poligação para a eleição majoritária contava, ainda, com o Partido dos Trabalhadores) e

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA assumiram concomitantemente o exercício de suas funções, integrando João Batista a base do governo na Câmara de Vereadores desde o início da legislatura. Contudo, com o passar do tempo, especialmente a partir de 2014, notou-se certa deterioração dessa relação, e os dois, embora ainda convergissem em alguns pontos, passaram a discordar sobre temas relevantes para o Município.

Sabe-se, porém, que essa discordância é natural em um regime democrático de governo, não podendo ser invocada a pretexto de grave discriminação pessoal à míngua de elementos que apontem, efetivamente, para a prática de atos segregadores, que impeçam ou tornem extremamente dificultosa a permanência do filiado no Partido.

E, sob este aspecto, a prova é frágil.

Logo ao assumir suas funções, em 1o.1.2013, João Batista participou da eleição para a presidência da Câmara de Vereadores e venceu por unanimidade de votos a disputa, contando, portanto, com o apoio integral da bancada do PMDB, que possuía outros três vereadores.

Disse em Juízo Daniela Piacentini Visintin, também vereadora pelo PMDB, "que houve um acordo entre os vereadores neste sentido, depois seria o PT, 2015 a depoente e 2016 seria outro vereador do PMDB" (fl. 173).

Havia, portanto, consenso ente os integrantes do Partido em torno do nome de João Batista, que muito provavelmente era considerado uma liderança política no Município, não se podendo, até então, sequer cogitar de eventual tratamento discriminatório.

Ao que tudo indica, sua desfiliação causou surpresa aos colegas de legenda.

Tanto é assim que a testemunha Daniela declarou que "o requerido falava algumas coisas nos bastidores a respeito da desfiliação, mas oficialmente não; Que a casa legislativa ficou bastante surpresa quando em 16/12/2014, na última sessão ordinária, após a eleição da mesa, no uso da tribuna o requerido anunciou a público que estaria se desfiliando do PMDB e se filiando ao PDT em fevereiro de 2015' (fl. 173).

A inicial fez-se acompanhar de transcrições, não impugnadas, de alguns pronunciamentos feitos por João Batista no uso da tribuna. Do que fora mencionado pela referida testemunha, proferido em 16.12.2014, extraio o seguinte fragmento:

Dar um abraço ao Totinho que está aqui presente, Dona Iresj que eu acho que provavelmente, no ano que vem estamos juntos, Dona Ires^ no PDT. Certo? Eu sou uma palavra de um homem só, não sou bobo, tem gente que

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PETIÇÃO N. 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - URUSSANGA

pensa que eu sou bobo, mas não sou bobo não. E não sou chupim, como tem chupim no PP tem no PMDB também. Amanhã estão falando mal de mim, deixa falar, mas os meus votinhos eu tenho. O meu sobrinho passou em fisioterapia, está lá lavando defunto em Criciúma, trabalhando com o meu primo na funerária, se é outro, quer emprego para o meu sobrinho. A minha sobrinha, tiraram da delegacia, que não fui eu que botei, botaram outra pessoa lá, deve ter mais votos do que eu, deve ter muito mais votos do que eu. Sou solidário também com o Amarildo de Brida, que teve, por isso eu não vou mais a entrega de nada, porque eu estou aprendendo, chega lá eles não falam nem o nome dos Vereadores. Não é de hoje não, é de administrações passadas também, parece que nós Vereadores não existimos, tem gente que parece que, dão um cargozinho, que não tem voto nenhum e se acham. O Amarildo, conversando com ele ontem, o negócio do Vindima, não sei se foi quinta, ou sexta, ou quarta, o presidente do CDL, não chamaram. Daí gente que não é para estar lá em cima, estava lá batendo foto, que não se enxerga, mas estava lá batendo foto [...]. O CDL trabalhou muito com esse Natal encantado e não chamar o presidente do CDL para bater foto, eu não sei porque. Se alguém está se achando ou se tem alguma coisa contra alguém da família, o irmão não tem culpa. E se o chapéu coube para essa administração, alguém sabe para quem eu estou falando, e não é para o Prefeito não. Eu quero agradecer minha família que me apóia, meus amigos. E, pode ter certeza, onde eu vou eu levo muita gente, e não vão por cargos não, pode ter certeza. Infelizmente meu deputado não se elegeu, que é o Renato Hering, provavelmente no final de fevereiro, de janeiro, não está mais aí, estamos já conversando, através da Dona Ires, com o Rodrigo Minoto, não é Dona Ires, para trazer recursos para Urussanga. Certo? E, ele mesmo se prontificou de trazer, por que ele fez votos, através da Dona Ires e do PDT, vários votos em Urussanga e não foi pouco [...] [fls. 80-81 - grifei],

Como se observa, o tom é de despedida. Além disso, a fala de João Batista revela certa mágoa com o tratamento que lhe era dispensado pelo Prefeito e seu cerimonial em solenidades públicas, com pouco ou quase nenhum destaque. O requerido até procurou isentar o Prefeito de sua crítica, mas restou claro o elevado grau de insatisfação que a sua gestão lhe causava.

Essa segregação, na versão de João Batista, seria uma espécie de represália por sua atuação livre e independente no mandato de vereador, nem sempre alinhado à base governista, tendo inclusive se posicionado contra projetos de iniciativa do executivo municipal, dentre eles o projeto de lei que previa o reajuste do Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU). Aduz que foram realizadas ao menos 27 (vinte e sete) solenidades para as quais não teria sido convidado.

Nenhuma delas, todavia, era de estrito caráter partidário; em verdade, as manchetes dos periódicos locais que foram trazidas com a respost0 Q w W o n ' , | a m

que os eventos guardavam relação com festividades patrocinadas p

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Vale dizer, tais eventos não eram organizados pelo Diretório Municipal do PMDB, e sim pela Prefeitura de Urussanga.

Como se não bastasse, não restou comprovado que a ausência de João Batista ocorria por falta de convite. Pelo contrário, a prova colhida na instrução revelou que o vereador era convidado e não comparecia por livre e espontânea vontade.

No ponto, transcrevo em parte o parecer do ilustre Procurador Regional Eleitoral, que, com a perspicácia que lhe é peculiar, assim sintetizou a questão:

[...] esse fato, assim como os demais fatos invocados pelo vereador requerido anteriormente descritos, não impediram a sobrevivência política deste, o qual não foi alijado da participação partidária, sendo, ademais, convidado, ainda que informalmente, para as reuniões partidárias, inclusive aquelas organizadas pelo Vice-Prefeito desse Município, Luiz Henrique Martins, que assim assinalou a esse respeito (fl. 171):

"Que o requerido apesar de convidado, via de regra por telefone, para eventos como inauguração de obras, o mesmo não se fazia presente; Que o depoente costuma fazer reuniões todas as terças com os vereadores e desde o início do mandado em 2013 é costume o requerido não comparecer; Que os demais vereadores comparecem nas reuniões, bem como aos demais atos públicos".

Esse depoimento é consonante com o testemunho da vereadora Daniela Piacentini Visintin, que assim se pronunciou acerca desse fato (fl. 173):

"Que é costume do governo convidar os vereadores para inauguração de obras por exemplo; Que algumas vezes o convite é feito por telefone; Que acredita que o réu também receba esses convites, pois quando é oficial vem em uma pastinha; Que nas vezes em que compareceu a esses tipos de eventos não viu o réu; Que todas as terças tem uma reunião do colegiado, o que foi acordado desde o início para algumas discussões; Que nessas reuniões a participação do réu é esporádica; Que em reuniões da executiva e diretório, desde 2014 tiveram algumas, em umas teve convite oficial do presidente entregue na câmara e outros convites foram informais; Que nas reuniões em que a depoente participou o réu não esteve presente; Que não participou de todas as reuniões".

Também há os testemunhos do vereador Odivaldo Bonetti que atestou as divergências existentes entre o edil requerido e o Prefeito de Urussanga, afirmando inclusive que o demandado lhe disse que não eátava sendo mais convidado para as reuniões que aquele Prefeito fazia com os vereadores da

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base aliada antes das respectivas sessões, além de não ter sido convidado pelo Prefeito para visitar uma obra para o qual todos os demais vereadores tinham sido convidados (fis. 177-178), e do ex-vereador Itamar Dezam, a quem o edil requerido reclamou que não estava sendo convidado '"para as coisas"', sendo "fato público no município que a relação do requerido com o prefeito está deteriorada" (fl. 179).

Registre-se, ainda, que há publicação de 14.2.2014 noticiando a realização de vistoria em obras nos bairros De Villa, Bom Jesus, Loteamento Carol e Rio das Américas realizadas pela Prefeitura de Urussanga, na qual o vereador requerido, 'Tita', mesmo sendo convidado para comparecer, justificou sua ausência por motivo de saúde (fl. 143, em destaque) [fl. 218],

Aliás, conforme visto anteriormente, no pronunciamento feito da tribuna da Câmara de Vereadores em 16.12.2014 o próprio requerido afirmou que não iria mais comparecer nas solenidades do Município porque "chega lá eles não falam nem o nome dos Vereadores", dando a entender que sua ausência era, de certo modo, deliberada, o que dificulta sobremaneira o reconhecimento da grave discriminação pessoal.

A exoneração de duas pessoas que teriam sido nomeadas para o cargo de diretor escolar por indicação do requerido também nao se evidenciou discriminatória, como quer fazer crer a defesa.

A uma porque há fortes indícios de que a exoneração dessas pessoas teria ocorrido por inaptidão para o exercício das funções. A duas porque a prova oral colhida durante a instrução está a evidenciar que João Batista foi o vereador que mais teve indicações para ocupação de cargos públicos atendidas pelo chefe do poder executivo municipal, tendo indicado no mínimo quatro pessoas para o cargo de diretor escolar, e não apenas duas, como alegado na resposta, a qual, neste particular, resta enfraquecida.

Em seu depoimento, Brígida Marioti, Secretária Municipal de Educação, compromissada, disse o seguinte:

Que a nomeação das diretoras de escola se dá por indicação do prefeito ou de algum vereador, mas hoje conseguiram desmitificar a situação; Que geralmente é o prefeito quem nomeia; Que a depoente também pode indicar; Que a depoente tem conhecimento que o maior número de diretores foi indicado pelo réu; Que as indicações foram chanceladas pelo prefeito; Que teve conhecimento há uns 10 dias atrás que a secretária de educação foi o setor com a maior avaliação positiva do município; Que acredita que houve uma certa insatisfação por parte do requerido com a nomeação da depoente para o cargo; Que houve algumas críticas à pessoa da depoente bem como à sua pasta de servidores, por parte do réu; Que o início da crítica se deu em razão de que dois dos diretores indicados p o foram exonerados por incompetência; Que posteriormer n

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pedido por parte do réu e de outros vereadores para conseguir vagas nas escolas ou alteração da carga horária para os ACTS, que não pode ser atendido uma vez que há regulamentação tratando da questão; Que 4 diretores foram nomeados em razão da indicação pelo requerido, que são: leda Massuchetti, Sheila De Brida, João Amaral e Miriam Lavia; Que leda e Miriam continuam no cargo pois são excelentes diretoras [fl. 175 - grifei].

Luiz Henrique Martins, Vice-Prefeito, arrolado pela parte requerente e também compromissado, afirmou:

Que houve várias indicações por parte do réu de pessoas para ocuparam cargos comissionados; Que com relação a pessoa que ocupava o cargo de coordenador de transportes escolares, foi mudada de setor pois não estava dando certo; Que neste outro setor também não deu certo, pois a pessoa não desempenhava bem suas atividades; Que com relação a nomeação de diretora de escola a testemunha não sabe a qual escola o réu se refere, uma vez que houve várias indicações por parte do mesmo [fl. 172-gr i fe i ] .

Cumpre gizar que o requerido, a quem incumbia o ônus de demonstrar a existência de justa causa para a filiação, não produziu nenhuma prova em sentido contrário, limitando-se a alegar que a exoneração deu-se em retaliação a sua postura no exercício do mandato, sem qualquer substrato probatório, contudo.

Prova disso é que até uma das testemunhas arroladas pela defesa, Odivaldo Bonetti, vereador eleito pelo Partido Progressista (PP), afirmou em seu depoimento que, muito embora a dissidência entre João Batista e o Prefeito Johnny Felippe seja fato público e notório, "nunca ouviu o prefeito dizer que as exonerações foram em reprimendas as atitudes do requerido" (fl. 178).

Importante ressaltar, a propósito, que o ataque à credibilidade dos depoimentos prestados pelas testemunhas arroladas pelo Partido sequer tangenciou fatos ou circunstâncias concretas, afora o suposto vínculo de amizade entre Luiz Henrique Martins, vice-prefeito, e o Prefeito de Urussanga, Johnny Felippe, que, por si só, não surte o efeito almejado pelo requerido de se desconsiderar essa prova na formação do convencimento do julgador.

Com efeito, "cabe ao julgador, em razão do princípio do livre convencimento motivado, formar sua convicção com liberdade, examinando livremente as provas, dando prevalência àquelas que entender mais convincentes, demonstrando o vínculo lógico existente entre sua conclusão e a apreciação jurídica dos elementos dos autos" (TSE, ERO n. 1461, de 20.04.2010, Relator^Min. Enrique Ricardo Lewandowski).

No mais, referida testemunha foi objeto de contradita não a

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Não se evidencia, portanto, o tratamento discriminatório por parte do Partido que a norma de regência requer para autorizar o desligamento do mandatário da sigla de origem.

Emblemática, neste particular, mostra-se a "Carta Aberta aos Amigos do PMDB", assinada e divulgada pelo requerido no dia 15.4.2015, uma semana após haver protocolado no Cartório da 34a Zona Eleitoral de Urussanga a comunicação de sua desfiliação do PMDB, com o seguinte teor:

Ao Diretório Municipal do PMDB de Urussanga

Eu, João Batista Bom, o Tita, Vereador eleito por este partido, em coligação com o PDT/PV/PT, venho informar, a este Diretório, o motivo do meu pedido de desfiliação deste partido.

Quero dizer, em primeiro lugar, que sou muito agradecido por ter estado no PMDB, ao longo desses anos todos.

Mas, o que aconteceu, é que Eu tinha opinião divergente de algumas coisas que estavam acontecendo em algumas secretarias, e isso foi deixando a minha permanência no partido insustentável.

Todo mundo sabe que Eu sempre fui um Guerreiro, dentro do partido. Sempre defendi meus companheiros e sempre fui muito justo para com todos.

No entanto, minhas ideias, ultimamente, não eram mais acatadas e sequer ouvidas.

É como se eu fosse um estranho no ninho!

Pessoas que nunca levantaram a bandeira do PMDB, como eu sempre levantei, hoje tem vez e voz!

Por fim, reforço que minha permanência no PMDB, tornou-se insustentável.

Mas, quero dizer eu vou continuar do lado da bancada do PMDB, vou apoiar o prefeito Johnny, e construir essa aliança com o PDT,\para que possamos ganhar mais uma eleição!

Um abraço do amigo Tita.

Urussanga, 15 de abril de 2015.

João Batista Bom

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Vereador [fl. 16 - grifei].

Ora, o entrechoque de posições e interesses entre integrantes de uma agremiação é decorrente do embate político intrínseco à atuação partidária e, no caso específico dos membros detentores de mandado eletivo, parlamentar, não cabendo falar em justa causa para a desfiliação sem a prova concreta de atos que caracterizem injusta discriminação.

A rigor, o que dos autos se evidencia é que a desfiliação visou satisfazer interesses pessoais do mandatário, que teria enxergado no PDT melhores condições para projetar-se politicamente no pleito vindouro. Conforme anotou o ilustre Procurador Regional Eleitoral:

Nessa linha, tem-se que as provas produzidas demonstraram tratar-se de questões interna corporis, diretamente atrelada ã vida democrática dos partidos políticos, uma vez que as disputas internas são inerentes à própria existência das agremiações partidárias. Os fatos alegados em nada têm a ver com qualquer espécie de perseguição ou discriminação política supostamente intentada pelo seu partido de origem, pois trata-se de aspectos políticos a serem analisados dentro das circunstâncias á época existentes.

Aliás, ao contrário da grave discriminação pessoal invocada pelo político demandado, sobrevieram provas de que sua desfiliação da grei partidária demandante teria decorrido de sua própria conveniência e interesse em disputar o pleito municipal vindouro, de 2016, pelo PDT, no qual teria mais chances de ser eleito com a quantidade de votos que obteve na eleição de 2012, conforme se infere dos testemunhos prestados em juízo por Luiz Henrique Martins (fl. 171) e Daniela Piacentini Visintin (fls. 172-173), inclusive pelo fato de, eleito pelo PDT, "poderia nomear um assessor só dele" (fl. 171), já que, atualmente, o PMDB "possui 4 vereadores e apenas 1 assessor" (fl. 171), esvaziando ainda mais, sob esse prisma, a grave discriminação pessoal alegada pelo apontado político [fl. 219-220],

Logo, impossível concluir, de acordo com os elementos de prova reunidos nestes autos, que tenha havido justa causa fundada em grave discriminação pessoal para a desfiliação de João Batista Bom do PMDB de Urussanga, o que resulta na decretação da perda do cargo eletivo de vereador, em conformidade com a regra do o art. 1o, "caput", da Resolução TSE n. 22.610/2007.

Da jurisprudência, a propósito, são precedentes:

- AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE PERDA DE MANDATO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - ALEGAÇÃO DE GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL - AUSÊNCIA TOTAL DE COMPROVAÇÃO - DISPUTAS COM O PREFEITO MUNICIPAL NÃO CONFIGURAM JUSTA CAUSA -PROCEDÊNCIA.

A discriminação pessoal que justifica a desfiliação partidária tem que seroar

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no âmbito da agremiação partidária e ser grave a ponto de demonstrar a total incompatibilidade existente entre o eleito e o partido pelo qual se elegeu. Não basta a mera discordância em relação à conjuntura partidária, pois divergências internas são normais a qualquer tipo de agremiação democrática, muito menos disputas com um dos filiados eleitos, titular do executivo municipal [TRESC. Ac. n. 22.129, de 5.5.2008, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto - grifei],

AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA. PROPOSITURA PELO 1o SUPLENTE DE VEREADOR. RESOLUÇÃO TSE 22.610/07. ALEGAÇÃO DE JUSTA CAUSA POR GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL E MUDANÇA SUBSTANCIAL DO PROGRAMA PARTIDÁRIO QUE NÃO RESTOU DEVIDAMENTE COMPROVADA NOS AUTOS. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

1) A grave discriminação pessoal apenas se configura quando efetivamente se prejudicar o livre exercício do mandado dentro daquela agremiação partidária a qual venha o representante a se retirar, o que não se caracteriza pela destituição do membro da casa a uma das comissões, pelo não convite a evento meramente solene, pela não criação de diretório municipal, tampouco por divergência com a base governista, sendo estas tão somente divergências internas.

2) A autorização do partido para a desfiliação deve ser comprovada e, ainda sim, por si só, não é apta a demonstrar a justa causa quando se evidencia que realizada com a finalidade de perpetrar manobras politicas eleitoreiras.

3) A mudança substancial do programa estatutário guarda relação com condutas que caracterizam o desvio dos ideais partidários, algo que não se equipara a meras alterações de alianças locais.

4) Procedência do pedido [TRE-RJ. Pet. n. 5033, de 10.5.2012, Relator Juiz Leonardo Pietro Antonelli - grifei],

DECRETAÇÃO DE PERDA DE MANDATO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA, SEM JUSTA CAUSA. PRIMEIRO SUPLENTE DO PARTIDO. LEGITIMIDADE. GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL NÃO CONFIGURADA.

1. O requerente, oitavo suplente ao cargo de Vereador de Duque de Caxias/RJ, é o primeiro suplente, na ordem sucessória, filiado ao Democratas - DEM, partido político do qual o primeiro requerido, ocupante do cargo de Vereador do Município de Duque de Caxias, desfiliou-se. Detém, por conseguinte, legitimidade para requerer a decretação de perda de mandato eletivo de Vereador, do mesmo partido, por alegada infidelidade. A jurisprudência do e. Tribunal Superior Eleitoral é pacífica no sentido de que "apenas o primeiro suplente do partido detém legitimidade para pleitear a perda do cargo eletivo de parlamentar infiel à agremiação pela qual foi eleito,

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uma vez que a legitimidade ativa do suplente condiciona-se à possibilidade de sucessão imediata na hipótese da procedência da ação." Precedentes do TSE (Petição n° 3019 e AgRg 2789).

2. Não restou demonstrada, pelo requerido, a quem compete o ônus da prova, a alegada grave discriminação pessoal, que caracterizaria justa causa capaz de legitimar a sua desfiliação partidária.

3. Eventuais divergências entre o partido político e seus filiados fazem parte da vida partidária e, ainda que possam levar a isolamento político, não configuram justa causa para a desfiliação partidária, nos termos da jurisprudência do TSE (Ag. Reg. em AC 198464, Rei. Min. Arnaldo Versiani Leite Soares; RO 1761 Rei. Min. Marcelo Ribeiro; Ag. Reg. AC 2838, Rei. Min. Felix Fischer).

4. Perda de cargo eletivo por infidelidade partidária, nos termos do art. 10 da Resolução do TSE n° 22.610/2007.

5. Preliminar de ilegitimidade ativa rejeitada e pedido procedente [TRE-RJ. PET. n. 73.868, de 31.5.2012, Relatora Juíza Ana Tereza Basílio -grifei].

Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro de Urussanga e declaro a perda do cargo de vereador ocupado pelo requerido João Batista Bom, determinando, ainda, seja o Presidente da Câmara de Vereadores de Urussanga comunicado da presente decisão para que emposse o respectivo suplente, no prazo de 10 (dez) dias, em conformidade com art. 10 da Resolução TSE n. 22.610/2007.

É como voto.

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EXTRATO DE ATA

PETIÇÃO N° 34-75.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - 34a ZONA ELEITORAL - URUSSANGA RELATOR: JUIZ VÍLSON FONTANA

REQUERENTE(S): PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO DE URUSSANGA ADVOGADO(S): JOÃO EDUARDO ELÁDIO TORRET ROCHA; PEDRO ERNESTO BEBBER REQUERIDO(S): JOÃO BATISTA BOM ADVOGADO(S): ROBSON TIBURCIO MINOTTO

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ SÉRGIO ROBERTO BAASCH LUZ PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL

Decisão: à unanimidade, julgar procedente o pedido, nos termos do voto do Relator. Apresentou sustentação oral o Advogado João Eduardo Eládio Torret Rocha. Foi assinado o Acórdão n. 31087. Presentes os Juízes Sérgio Roberto Baasch Luz, Vanderlei Romer, Vilson Fontana, Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli, Alcides Vettorazzi, Hélio David Vieira Figueira dos Santos e Rodrigo Brandeburgo Curi.

SESSÃO DE 07.10.2015.

Aos C •;' dias do mês de £41 de Registro Coordenadoria

^ A

REMESSA 1

_ de 2015 faço a remessa destes autos para Informações Processuais - CRIP. Eu,

oordenador de Sessões, lavrei o presente termo.