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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 28922 RECURSO ELEITORAL N. 600-02.2012.6.24.0009 - CLASSE 30 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 9 a ZONA ELEITORAL - CONCÓRDIA (PERITIBA) Relator: Juiz Hélio do Valle Pereira Recorrente: Coligação "Para Peritiba Voltar A Crescer" (PSDB-PSD) Recorridos: Tarcísio Reinaldo Bervian, Neusa Klein Maraschini, Valmor Pedro Bacca e Gilberto Maciel RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - IMPROCEDÊNCIA. Houve uma pluralidade de fundamentos para sustentar a AIJE (má gestão do fundo municipal de desenvolvimento da indústria e comércio, irregularidade na distribuição de adubos e fertilizantes, gastos excessivos em publicidade, eventos e material gráfico, distribuição de material de construção e próteses dentárias, além de prestação de serviços indevida). Não se ratificou a ilicitude quanto a nenhuma dessas posturas, muito menos se pode confundir a prática dos atos do cotidiano administrativo com uma conduta necessariamente ilícita ou voltada a desequilibrar as eleições. Por maior rigor que se queira dar ao trato das eleições - e este Tribunal tem dado demonstrações muito eloquentes de postura firme no julgamento dos pedidos de cassação - estariam muito longe de ser justos veredictos ditados por suposições, por meras ilações ou que necessariamente sancionassem políticas públicas de caráter assistencial. O reconhecimento do abuso de poder político exige a gravidade das atitudes, algo que represente atitude que vá além dos atos de administração usual, um consciente mal uso da máquina estatal, algo que quebre o ideal democrático de igualdade. Recurso conhecido e improvido. Vistos etc. ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral. Florianópolis, 20 de novembro de 2013. Juiz HÉLIO DO VALLE PEREIRA Relator

Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 600-02.2012.6.24.000. L - CLASS 3E90 - AÇÃ DO E INVESTIGAÇÃO JUDICIA ELEITORAL

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 2 8 9 2 2

RECURSO ELEITORAL N. 600-02.2012.6.24.0009 - CLASSE 30 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 9a ZONA ELEITORAL - CONCÓRDIA (PERITIBA)

Relator: Juiz Hélio do Valle Pereira Recorrente: Coligação "Para Peritiba Voltar A Crescer" (PSDB-PSD) Recorridos: Tarcísio Reinaldo Bervian, Neusa Klein Maraschini, Valmor Pedro

Bacca e Gilberto Maciel

RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - IMPROCEDÊNCIA.

Houve uma pluralidade de fundamentos para sustentar a AIJE (má gestão do fundo municipal de desenvolvimento da indústria e comércio, irregularidade na distribuição de adubos e fertilizantes, gastos excessivos em publicidade, eventos e material gráfico, distribuição de material de construção e próteses dentárias, além de prestação de serviços indevida).

Não se ratificou a ilicitude quanto a nenhuma dessas posturas, muito menos se pode confundir a prática dos atos do cotidiano administrativo com uma conduta necessariamente ilícita ou voltada a desequilibrar as eleições.

Por maior rigor que se queira dar ao trato das eleições -e este Tribunal tem dado demonstrações muito eloquentes de postura firme no julgamento dos pedidos de cassação -estariam muito longe de ser justos veredictos ditados por suposições, por meras ilações ou que necessariamente sancionassem políticas públicas de caráter assistencial.

O reconhecimento do abuso de poder político exige a gravidade das atitudes, algo que represente atitude que vá além dos atos de administração usual, um consciente mal uso da máquina estatal, algo que quebre o ideal democrático de igualdade.

Recurso conhecido e improvido.

Vistos etc.

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão.

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Florianópolis, 20 de novembro de 2013.

Juiz HÉLIO DO VALLE PEREIRA Relator

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R E L A T Ó R I O A Coligação "Para Peritiba Voltar A Crescer" (PSDB-PSD) ajuizou

investigação judicial eleitoral contra Tarcísio Reinaldo Bervian, Neusa Klein Maraschini, Valmor Pedro Bacca e Gilberto Maciel.

Alega que os investigados praticaram diversas irregularidades no intuito de obter vantagem ilícita durante a campanha política: fraudes na gestão do Fundo Municipal de Desenvolvimento da Indústria e Comércio e na distribuição de adubos e fertilizantes; gastos expressivos em publicidade, na semana do idoso, com material gráfico em fornecedor específico e no feriado do dia da mulher; distribuição de material de construção; gastos na Secretaria de Saúde para fins eleitorais e prestação de serviços com fins políticos. Todas essas irregularidades teriam influenciado no resultado da eleição para prefeito e vice-prefeito.

Pediu a cassação do diploma e a decretação da inelegibilidade dos investigados.

Os representados apresentaram defesa em que rebateram ponto a ponto as mencionadas impropriedades.

A sentença julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial.

O recurso repisou as irregularidades, que foram novamente refutadas nas contrarrazões.

Nesta instância, a Procuradoria Regional Eleitoral opinou pelo desprovimento do recurso.

VOTO

O SENHOR JUIZ HÉLIO DO VALLE PEREIRA (Relator): Senhor Presidente, a ação de investigação judicial eleitoral é animada por diversos fundamentos, os quais foram todos afastados pela sentença e são reavivados no recurso. Eles, vale esclarecer, são independentes, sendo trazidos individualmente para justificar - pelas próprias forças - a procedência. Nenhum deles é convincente, não tendo em seu benefício a sentença ou o posicionamento ministerial nos dois graus de jurisdição.

Vou pela mesma vereda e cuido, na sequência, de cada causa de pedir.

1. A primeira está na gestão do Fundo Municipal de Desenvolvimento da Indústria e Comércio - FUNDICOM.

Existem, a tal respeito, leis municipais que permitem a concessão de benefícios financeiros a empresas sediadas em Peritiba.

/ A ilicitude, relata o recurso, estaria na entrega (em 2012) de tal valor a

Vianei Bazei, filho de candidata a vereador pela Coligação integrada pelos réus, e

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Leoni Maria Dilly. Ressalta que em ambos os casos os empresários principiaram suas atividades naquele mesmo ano eleitoral.

O apelo ainda frisa que o tal Fundo tem como agentes responsáveis pela liberação de recursos os representados, uma sobrinha do Prefeito e mais um vereador aliado.

Não me convenço, entretanto, do ilícito eleitoral.

As decisões do Fundo eram bem mais ecléticas, pois seus incentivos eram aprovados pela Comissão Municipal de Indústria e Comércio (art. 7o da Lei 1.840/2010), que é composto pelo Prefeito, Vice-Prefeito, Secretário de Administração e Finanças, dois empresários, um representante da CDL e um representante da Câmara de Vereadores (Lei 1.279/2012).

Cuida-se de regras anteriores ao período eleitoral, que vinham sendo aplicadas desde 2010, pois como esse vê das atas de tal Comissão desde então eram liberados os ditos incentivos (fls. 142 e ss.).

É natural que o Prefeito e o Vice-Prefeito participassem de tais deliberações. O nosso sistema eleitoral permite a recondução ao Poder Executivo, de sorte que não será essa situação que impedirá os atos da rotina administrativa.

O que a legislação eleitoral proíbe são, por assim dizer, os casuísmos de uma política de bondades inaugurada às vésperas do pleito:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais. [...] § 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

No caso, a prática havia anteriormente, não havendo proibição à inclusão de novos beneficiários do programa a contar de 2012.

Outrossim, não existe nenhum, mas absolutamente nenhum indicativo, de que os dois incentivos especificamente criticados pela autora tivessem alguma conotação efetivamente política. Aliás, soaria até mesmo contraditório que as mercês fossem destinadas àqueles já atrelados à candidatura que veio a ser vitoriosa, em uma espécie de catequização de convertidos.

2. O segundo fundamento da ação está na alegação de fraude na distribuição de adubos e fertilizantes.

A alegação é novamente muito frágil.

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Ela tem como premissa que a Lei 1.892/2011 foi editada ardilosamente, permitindo (o que até ali não era viável) que a "agricultores que não tiverem nota fiscal ou que não conseguirem atingir o limite mínimo de R$ 2.000,00" sejam concedidos dois sacos de adubo (fls. 29).

A norma, é evidente, foi aprovada pelo Legislativo e não existe indício de que, dessa maneira.se prognosticava que em 2012 haveria um propósito escuso de, praticamente, trocar adubo por votos.

O fato é que o programa já vinha sendo executado anteriormente. Houve uma ampliação quanto aos limites precedentes, mas sem ofensa à regra eleitoral. Na realidade, deu-se sequência a uma política assistencialista, que é bem compreensível nessas modestas comunidades agrícolas. Se isso é bom ou ruim, deveria ser avaliado pelo eleitorado, que julgaria as boas ou más ações da municipalidade.

3. Depois, alega-se que houve gastos abusivos em publicidade e eventos.

Mais exatamente, é afirmado que no Encontro da Mulher Piratubense houve despesas de R$ 13.406,28, além de ser realizado um bingo com distribuição gratuita de brindes.

A tal respeito, há ótima apreciação no parecer do Dr. André Stefan Bertuol, Procurador Regional Eleitoral:

No que concerne à propalada despesa excessiva com a realização do 'Encontro da Mulher de Peritiba', também neste ponto a recorrente não logrou êxito em amealhar provas para as sanções requeridas na peça vestibular. Referido evento, colhe-se dos autos, vem sendo realizado há aproximadamente vinte anos, sendo que a prova testemunhal produzida, no que se refere à presença da candidata Neusa Klein Maraschini na ocasião, dá conta da ausência de promoção pessoal da mencionada recorrida, uma vez que sequer participou da entrega de brides e nem proferiu discurso naquela festividade. A testemunha Gelsi Dametto informou que no 'Encontro da Mulher de Peritiba' "teve um bingo que tinha muito prêmio acima do normal (...) bastante edredons, mantas" (01'49"). E ainda confirmou que a candidata Neusa Klein Maraschini não participou da entrega dos prêmios e não efetuou nenhum pronunciamento no evento em debate (04'47"). Ivete Langner, ao ser inquirida, afirmou que no ano de 2012 realmente, além das atividades e entretenimentos de sempre, houve um aumento na quantidade de brindes entregues, porém, concluiu que não ocorreu nenhum discurso de algum candidato na ocasião (06'36"). Dissentindo do depoimento acima, a testemunha Clarice Ertel (01'50", 02'30" e 03'24") asseverou que a quantidade de brindes distribuídos foi idêntica àquela dos anos anteriores, contudo, os prêmio pos ' m valor mais elevado nas edições pretéritas.

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Na questão do dispêndio excessivo com a comemoração do 'Dia da Mulher', ressalta-se excerto da sentença ora guerreada:

O exame dos recursos aplicados aponta exatamente o contrário, pois indica um ligeiro acréscimo em 2012 em relação a 2011 - R$ 15.000,00 / R$ 12.160,00 -(fls. 184/191), isso referente a despesas gerais, não somente brindes. No entanto, ainda que se admita que foi distribuída uma maior quantidade de brindes, não se pode divisar abuso de poder econômico ou político em prol da candidatura da requerida Neusa, haja vista que se tratava de um evento que era realizado há muitos anos no município nos mesmos moldes. É lógico que eventual elevação na quantidade de brindes distribuídos não teve o condão de influir na consciência das participantes do evento que a candidatura a situação era a mais preparada para conduzir os rumos do Município, o que implica dizer que não afetou a igualdade de condições na disputa eleitoral, ou, em outras palavras, não teve gravidade. Sobreleva acentuar também que a prova testemunhal foi clara em atestar que não houve qualquer manifestação de cunho político-eleitoral no evento (grifou-se).

Pelo desprovimento do recurso nesse aspecto, pois

Afirma-se, em linha assemelhada, que houve despesas excessivas em relação à publicidade pertinente à Kerbfest, mas mesmo que fosse assim, o que a legislação tem em mira é a elevação como um todo do gasto publicitário. Vale dizer, não se leva em consideração o incremento quanto a um evento, mas e, no gasto total, se despendeu mais do que era o habitual (inc. VII do art. 73 da Lei 9.504/97).

Além disso, foi alertado pela sentença que houvera anterior ação de investigação judicial eleitoral (n. 332-45.2012.6.24.0009), cujo recurso foi julgado por esta Corte da seguinte forma:

- RECURSO - ELEIÇÕES 2012 - INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL -ALEGAÇÃO DE PRÁTICA DE CONDUTA VEDADA AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHA ELEITORAL (LEI N. 9.504/1997, ART. 73, VII) E DE ABUSO DO PODER POLÍTICO (LEI COMPLEMENTAR N. 64/1990, ART. 22) - SUPOSTO PAGAMENTO DE DESPESAS COM PUBLICIDADE INSTITUCIONAL NO PRIMEIRO SEMESTRE DAS ELEIÇÕES ACIMA DO LIMITE MÁXIMO PERMITIDO POR LEI - BALIZA LEGAL EQUIVALENTE À MÉDIA SEMESTRAL DAS DESPESAS LIQUIDADAS PELA ADMINISTRAÇÃO NOS 03 (TRÊS) ANOS ANTERIORES AO PLEITO -IMPOSSIBILIDADE, CONTUDO, DE SEREM CONSIDERADOS NA APURAÇÃO DA CONDUTA OS VALORES REFERENTES A GASTOS QUE FORAM APENAS EMPENHADOS PELA MUNICIPALIDADE INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA E TELEOLÓGICA DA NORMA -DISPÊNDIO DE RECURSOS DENTRO DO TETO AUTORIZADO PELA LEGISLAÇÃO - VEICULAÇÃO DE NOTÍCIAS NA PÁGINA ELETRÔNICA DO MUNICÍPIO A RESPEITO DE FESTA LOCAL - MENSAGENS DE CARÁTER MERAMENTE INFORMATIVO, SEM CONOTAÇÃO FLAGRANTEMENTE ELEITOREIRA - INEXISTÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DA PUBLICIDADE INSTITUCIONAL DO MUNICÍPIO PARA PROMOÇÃO PESSOAL -DESPROVIMENTO.

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1. De acordo com a jurisprudência firmada neste Tribunal, "a teor do inciso VII do artigo 73 da Lei n. 9.504/1997, os agentes públicos, no primeiro semestre do ano da eleição, não podem liquidar recursos referentes a despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média semestral dos gastos liquidados nos 03 (três) últimos anos que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição" (TRESC, Ac. n. 27.662, de 1°.10.2012, Juiz Eládio Torret Rocha).

Por isso mesmo não podem ser incluídos na apuração da conduta vedada em análise os valores referentes a gastos com publicidade institucional que foram apenas empenhados pela Administração no primeiro semestre do ano da eleição.

2. Não configura uso abusivo da publicidade institucional, a veiculação de entrevista e de fotos de secretária municipal - e, posteriormente, candidata ao cargo de prefeito - que se limita a servir de instrumento para levar ao conhecimento da população em geral as peculiaridades de festividade local, como forma de enaltecer a imagem do município e, assim, desenvolver o turismo local, notadamente porque ausente a divulgação de informações de promoção pessoal ou de caráter eleitoral. [Acórdão TRESC n. 28.052, de 04/03/2013, RE n. 332-45, Peritiba/SC, Rei. Juiz Luiz Cézar Medeiros]

Também não convence que seja causa para cassação dos réus o aumento de despesas na Semana do Idoso (de R$ 1.650,39 em 2011 para R$ 4.032,20 em 2012). Na falta de outros aclaramentos, trata-se de gastos corriqueiros e de pequena expressão para um festejo que soa justo. Não se revelou ilicitude ou exploração eleitoreira no caso.

4. Sustenta-se que houve ainda aumento excessivo em gastos com material gráfico em fornecedor específico (R$ 4.614,00 em 2009, R$ 3.512,00 em 2010, R$ 11.612,00 e R$ 19.300,00 em 2012, justamente com o fornecedor que veio a também prestar serviços para a candidatura vencedora.

Não se pode inferir, todavia, que o aumento do dispêndio com tal rubrica seja aprioristicamente ilícito ou que haja algum intento obscuro oculto. Como destacado na sentença, o rol de desembolsos com material gráfico não desperta a atenção (nas fls. 67-75) se faz menção a materiais de expediente como envelopes, papel, ofícios personalizados e assim sucessivamente). Nada, enfim, que possa ser definido como uma infração eleitoral.

Do mesmo modo, seria uma temeridade fazer a mesma ilação feita pelo autor no sentido de - ausente qualquer indício - inferir que houvesse um ato indevido na alegada coincidência de a empresa contratada pela municipalidade também ter prestado serviços para a campanha política.

5. A doação de bens a munícipes e inde ' distribuição de próteses dentárias são outras causas de pedir.

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Aqui, a sentença do Juiz Jeferson Osvaldo Vieira novamente merece prestigiamento e transcrição:

DA ALEGAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS E AUXÍLIOS A PESSOAS FÍSICAS. Sob este título, a proponente assevera que a Administração do requerido Tarcísio, por meio de pareceres fraudulentos emitidos por Assistente Social de sua simpatia política, concedeu benefícios indevidos a três munícipes em 2012. Assim é que teria beneficiado Urbano Sperb e Sélio Sperb com a construção de um banheiro, ao custo de mais de R$ 6.000,00, fundamentado na "vulnerabilidade social", o que não seria verídico, já que os agraciados seriam proprietários de veículos. Do mesmo modo, teria destinado mais de R$ 5.000,00 para construção da residência de Valdecir Marques de Souza. Ora, mais uma vez a autora questiona gastos realizados com um programa social que não foi criado no ano da eleição, ao contrário, já estava em execução há anos, o que implica concluir que não representa nenhuma irregularidade à luz da legislação eleitoral. Não bastasse, não houve nenhum abuso ou desvio de dinheiro na concessão de valores para construção de banheiro na residência de Urbano e Sélio Sperb, já que os estudos sócio-econômicos de fls. 192/199 indicam a precariedade das condições sanitárias das habitações e a incapacidade econômica dos beneficiários de provê-las das instalações necessárias. Antes de representar um abuso de poder político ou econômico, o deferimento da subvenção foi ato que cumpriu o mandamento inserto no inciso IX do art. 23 da CRFB, resgatou a dignidade das famílias e contribuiu até mesmo no aspecto da saúde preventiva, evitando futuros dispêndios ao erário. Em nada difere a situação de Valdecir Marcos de Souza, cuja residência era igualmente precária e desprovida de banheiro, conforme ilustrado às fls. 204/207. Ao contrário do que insinua a autora, não se percebe nenhuma fraude na emissão dos pareceres que viabilizaram o deferimento das subvenções, já que a conclusão da Assistente Social é embasada na estrita realidade fática das famílias. , Além disso, o relatório de fls. 209/256 comprova que a Assistente Social que se licenciou para concorrer no pleito eleitoral pela coligação autora concedeu tantas ou mais subvenções que sua sucessora, grande parte no patamar máximo de 100%, o que deixa evidente que os programas sociais seguiram uma linha constante de implementação, sem variação no ano eleitoral. Não está demonstrado, portanto, que os réus, com o concurso da servidora pública, manipularam a concessão de subvenções com propósito eleitoreiro, com o que o reclamo da acionante é infundado. DA ALEGAÇÃO DE GASTOS NA SECRETARIA DE SAÚDE PARA FINS ELEITORAIS.

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Verbera a acionante que poucos meses antes do pleito eleitoral foi implantado um "programa de próteses dentárias" no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, então titularizada pela requerida Neusa Maraschin, o qual viabilizou a distribuição gratuita de 18 "dentaduras" a pessoas escolhidas na unidade sanitária e implicou aumento de gastos com fins eleitorais. Mais uma vez os requeridos demonstraram que a distribuição das próteses não foi inovação no ano eleitoral, já ocorria em 2011, conforme documentos de fls. 257/269, com aval da servidora pública que concorreu no pleito eleitoral pela coligação autora. A existência pretérita do programa afasta, por si só, a possibilidade de se reconhecer ilegalidade. Ademais, a distribuição de próteses dentárias é imanente à obrigação do Estado, em suas três esferas, de promover a saúde integral do cidadão, a exemplo da distribuição de medicamentos e oportunização de consultas e exames médicos. Em última análise, a tese da acionante equivale a afirmar que o ocupante do cargo eletivo pratica abuso de poder político e econômico com fins eleitoreiros quando, durante sua gestão, executa os programas de saúde relacionados ao SUS. Deve o Presidente, Governador ou Prefeito, portanto, deixar de assegurar a saúde da população para não ser acusado de abuso de poder político e econômico? Na ótica da autora, parece que a resposta é positiva. Na deste juízo, não! Por óbvio, também aqui não se encontra nenhuma prática caracterizadora de abuso de poder político ou econômico que pudesse ensejar o acolhimento dos pedidos. Quanto à gratificação concedida à servidora Paula Roberta Gerhardt Deitos (fls. 285/290), a eventual prática de conduta vedada somente poderia ser apurada mediante Representação, nos termos da Res. TSE. 23.367/2011. Sob o enfoque da investigação judicial eleitoral, é fato irrelevante, pois a concessão de gratificação de 6,25% num mês e 3,75% em outros quatro meses a uma professora municipal jamais pode ser considerada conduta grave a ponto de interferir no resultado de uma eleição.

6. Finalmente, deseja-se a cassação em face da prestação irregular de serviços para eleitores.

O tema é usual neste Tribunal, mas temos decidido que se houver legislação local que assim permita (e aqui há: Leis Municipais ns. 1.823/2010 e 1.879/2011) e não havendo demonstração de propósito eleitoreiro imediato, não existe ato ilícito que possa ser sancionado nesta esfera.

- RECURSO ELEITORAL - INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL -PREFEITO E VICE CANDIDATOS A RFFI FIÇÃO - ALEGAÇÃO DA PRÁTICA DE CONDUTA VEDADA E AE )E PODER - SUPOSTA

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Veja-se:

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UTILIZAÇÃO DE MÁQUINAS DA PREFEITURA EM TERRENOS PARTICULARES EM TROCA DE APOIO ELEITORAL CONTRAPRESTAÇÃO E PREVISÃO LEGAL - POSSIBILIDADE -AUSÊNCIA DE PROVAS DO CARÁTER ELEITOREIRO - IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - DESPROVIMENTO DO RECURSO.

A prática de conduta vedada e do abuso de poder requerem, para a sua configuração, que os fatos sejam comprovados de maneira robusta e inconteste, e que não pairem dúvidas sobre a troca da benesse por apoio eleitoral [Precedentes TRESC: Acórdãos n. 25.671, de 21.3.2011, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino; n. 28.045 e n. 28.142, de 22.4.2013, e n. 28.151, de 24.4.2013, Relator Juiz Luiz Cézar Medeiros; n. 27.905, de 11.12.2012, Relator Juiz Luiz Antônio Zanini Fornerolli; n. 25.469, de 10.11.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn; n. 28.213, de 27.5.2013, e n. 28.193, de 15.5.2013, Relator Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira; e n. 28.024, Relatora Juíza Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli]. [Acórdão TRESC n. 28.842, RE n. 206-93, de 23/10/2013, Rei. Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira]

A respeito da matéria de fato, que reitera a tal mesma situação, o Procurador Regional Eleitoral adequadamente registrou:

E por fim, sustenta a Coligação 'Para Peritiba Voltar A Crescer' que a estrutura municipal foi utilizada em benefício da candidatura dos recorridos, na forma de prestação de serviços com máquinas da Prefeitura em propriedades particulares, citando como exemplos os trabalhos efetuados para Neudi José Conte, Selvino Conte e Romano Conte, sem, contudo, haver a devida contraprestação por parte dos cidadãos beneficiados.

A coligação recorrente assevera que, especificamente no mês de setembro de 2012, houve uma intensificação dos trabalhos realizados com as máquinas do município e, para provar o alegado, arrolou como testemunha o operador de máquinas Jandir Turato, o qual informou na respectiva audiência que possuía anotações das horas trabalhadas, dos serviços prestados e em quais localidades.

Jandir Turato afirmou em Juízo (2'27" da mídia de fl. 336) que desconhece ter havido alguma alteração na forma e na quantidade dos serviços prestados pela Prefeitura Municipal aos moradores de Peritiba.

Na mesma esteira, nas anotações efetuadas pelo tratorista Jandir Turato acostadas aos autos às fis. 345/355 não constam as horas trabalhadas no mês de setembro de 2012, mesmo havendo o referido funcionário se aposentado somente no mês de dezembro do ano eleitoral transato. Por outro lado, mas sem dissentir da concepção acima, infirmam a tese exposta na peça vestibular e, consequentemente, repetida nas razões recursais os documentos juntados às fis. 304-321, os quais dão conta da efetiva contraprestação pelos serviços presta ' la Prefeitura Municipal aos munícipes Neudi José Conte, Selvino Cont lano Conte.

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 600-02.2012.6.24.0009 - CLASSE 30 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 9a ZONA ELEITORAL - CONCÓRDIA (PERITIBA)

Acerca da documentação trazida para o presente caderno processual (anexos 1 a 7), assim se pronunciou o Juiz Eleitoral, decisão, esta, que deve ser mantida por seus próprios fundamentos (fl. 417):

Abstraída a situação desses três munícipes, este juízo requisitou que o Município de Peritiba exibisse a documentação atinente aos serviços prestados pela Administração a particulares nos exercícios de 2011 e 2012. Em resposta, foram encaminhados sete volumes de documentos, que integram os autos anexos.

Noutro passo, a análise acurada da farta documentação anexada revela que todos os serviços prestados a particulares no período perquirido foram devidamente pagos ou ao menos lançados para cobrança (grifou-se).

Isso demonstra que, ao contrário do que expôs a acionante, não houve prestação de serviços gratuitos com o propósito de obter simpatia eleitoral, mas sim a prestação de serviços públicos legalmente autorizados e com a adoção dos procedimentos para ressarcimento ao erário.

A circunstância de que alguns dos serviços não foram pagos logo após a respectiva prestação é irrelevante, pois é questão que escapa ao controle do Administrador (grifou-se).

Com efeito, havendo previsão legal e sendo solicitado o serviço, o Administrador Público deve prestá-lo e apurar o valor a ser recolhido. Não pode ele,, obviamente, ser penalizado caso o contribuinte deixe de imediatamenteVealizar contraprestação. Cumpre-lhe apenaS/ádotar os procedimentqs^abíveis papa a, cobrança, a posteriori.

Assim, conheço do recurso e lhe nego

É como voto.

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TRESC

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL N° 600-02.2012.6.24.0009 - RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - DE PODER POLÍTICO I AUTORIDADE - PEDIDO DE CASSAÇÃO DE REGISTRO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DE DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - 9a ZONA ELEITORAL -CONCÓRDIA (PERITIBA) RELATOR: JUIZ HÉLIO DO VALLE PEREIRA

RECORRENTE(S): COLIGAÇÃO PARA PERITIBA VOLTAR ACRESCER (PSDB-PSD) ADVOGADO(S): EMÍLIO GILMAR GUERREIRO RECORRIDO(S): TARCÍSIO REINALDO BERVIAN; NEUSA KLEIN MARASCHINI; VALMOR PEDRO BACCA; GILBERTO MACIEL ADVOGADO(S): IRINEU GRIGOLO JÚNIOR; MARCOS CÉSAR GERHARD; NEUDI LUIZ RIZZO; CAROLINE FERNANDA FRACASSO RIZZO

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ ELÁDIO TORRET ROCHA

PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL

Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator. Foi assinado o Acórdão n. 28922. Presentes os Juízes Eládio Torret Rocha, José Volpato de Souza, Luiz Henrique Martins Portelinha, Marcelo Ramos Peregrino Ferreira, Ivorí Luis da Silva Scheffer, Carlos Vicente da Rosa Góes e Hélio do Valle Pereira.

SESSÃO DE 20.11.2013.