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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. „ 312 2 4 AÇÃO PENAL N. 83-53.2014.6.24.0000 - DENÚNCIA - CRIME ELEITORAL - CORRUPÇÃO ELEITORAL Relator: Juiz Antônio do Rêgo Monteiro Rocha Revisor: Juiz Vílson Fontana Réus: Mauri José Zucco; Lucila Maria Ferrari Favareto; Cesar Luis Martinelli AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA - CORRUPÇÃO ELEITORAL ATIVA - DENÚNCIA CONTRA PREFEITO, VICE-PREFEITO E SECRETÁRIA MUNICIPAL - RECEBIMENTO - INTERROGATÓRIO E DEFESA PRÉVIA - PRELIMINARES - OFENSA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA - INQUÉRITO POLICIAL - NATUREZA INFORMATIVA - ALEGAÇÕES AFASTADAS - NULIDADE DE GRAVAÇÃO AMBIENTAL - ALEGAÇÃO APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - PRECLUSÃO INSTANTÂNEA - ARTS. 147, §1°, C/C 149 E 223, TODOS DO CÓDIGO ELEITORAL - INOCORRÊNCIA - SUSPEIÇÃO DE TESTEMUNHAS - AUSÊNCIA DE INTERESSE PESSOAL - AFASTAMENTO - MÉRITO - ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL - CONFIGURAÇÃO - PROVA AUSENTE - ABSOLVIÇÃO DE PREFEITO E VICE-PREFEITO - REQUISITOS PREENCHIDOS QUANTO À SECRETÁRIA MUNICIPAL - DECRETO CONDENATÓRIO. 1. Tendo o inquérito policial natureza informativa, eventuais irregularidades em seu curso não têm o condão de ofender o contraditório e a ampla defesa. 2. Afastada a nulidade de gravação ambiental no recebimento da denúncia, não se conhece da respectiva impugnação na fase instrutória (arts. 147, §1°, 149 e 223, todos do Código Eleitoral). 3. Inexiste suspeição em testemunha que não possui interesse pessoal no julgamento da causa. 4. Além do dolo especifico - obter ou dar voto, conseguir ou prometer abstenção - , é indispensável ao art. 299 doXópIráo ejeiforàl que o agente seja eleitor, sem o que improcede a d^i^aa^riffiinal./ 5. Provados os requisitos do art. 299 do Códigc^lejjroraMmpõe-se a condenação da denunciada. / J A i / // // / / / / /1 i ACORDAM os Juízes do Tribunal RegidnafEleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, julgar parcialmente procedente a/ éçãq penal/ para absolver os réus Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli/cqhri lundamento/no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, e absolver ar r f \Jmila MariaFerrari Favareto de duas acusações de prática de corrupção eleitpríjíl Mtí ralação /ao casal Dorvalino e Neusa e ao eleitor Denir Beé), e condená-la é pep\ (um) ano substituída por 02 (duas) restritivas de direito - />/(®n< vigentes à época do fato delituoso e prestação de serviço a/aDmi de 1(um) ano - e de 05 (cinco) dias-multa no valor diário |Ml/3! salário mínimo vigente ao tempo do fato (art. 49, § 1 o , do Sodigc do crime do art. 299 do Código Eleitoral em relação ao elijíor Ns termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integranie da de Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral. de 01 fealárioá mínimos ílo período ^íta avos) do 'pela prática lazetto, nos

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AÇÃO PENAL N. 83-53.2014.6.24.0000 - DENÚNCIA - CRIME ELEITORAL -CORRUPÇÃO ELEITORAL

Relator: Juiz Antônio do Rêgo Monteiro Rocha Revisor: Juiz Vílson Fontana Réus: Mauri José Zucco; Lucila Maria Ferrari Favareto; Cesar Luis Martinelli

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA - CORRUPÇÃO ELEITORAL ATIVA -DENÚNCIA CONTRA PREFEITO, VICE-PREFEITO E SECRETÁRIA MUNICIPAL - RECEBIMENTO - INTERROGATÓRIO E DEFESA PRÉVIA - PRELIMINARES - OFENSA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA - INQUÉRITO POLICIAL - NATUREZA INFORMATIVA - ALEGAÇÕES AFASTADAS - NULIDADE DE GRAVAÇÃO AMBIENTAL - ALEGAÇÃO APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - PRECLUSÃO INSTANTÂNEA - ARTS. 147, §1°, C/C 149 E 223, TODOS DO CÓDIGO ELEITORAL - INOCORRÊNCIA -SUSPEIÇÃO DE TESTEMUNHAS - AUSÊNCIA DE INTERESSE PESSOAL - AFASTAMENTO - MÉRITO - ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL - CONFIGURAÇÃO - PROVA AUSENTE -ABSOLVIÇÃO DE PREFEITO E VICE-PREFEITO - REQUISITOS PREENCHIDOS QUANTO À SECRETÁRIA MUNICIPAL - DECRETO CONDENATÓRIO.

1. Tendo o inquérito policial natureza informativa, eventuais irregularidades em seu curso não têm o condão de ofender o contraditório e a ampla defesa.

2. Afastada a nulidade de gravação ambiental no recebimento da denúncia, não se conhece da respectiva impugnação na fase instrutória (arts. 147, §1°, 149 e 223, todos do Código Eleitoral).

3. Inexiste suspeição em testemunha que não possui interesse pessoal no julgamento da causa. 4. Além do dolo especifico - obter ou dar voto, conseguir ou

prometer abstenção - , é indispensável ao art. 299 doXópIráo ejeiforàl que o agente seja eleitor, sem o que improcede a d^i^aa^riffiinal./

5. Provados os requisitos do art. 299 do Códigc^lejjroraMmpõe-se a condenação da denunciada. / J A i

/ / / / / / / / / /1 i A C O R D A M os Juízes do Tribunal RegidnafEleitoral de Santa

Catarina, à unanimidade, julgar parcialmente procedente a/ éçãq penal/ para absolver os réus Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli/cqhri lundamento/no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, e absolver ar r f \Jmila MariaFerrari Favareto de duas acusações de prática de corrupção eleitpríjíl Mtí ralação /ao casal Dorvalino e Neusa e ao eleitor Denir Beé), e condená-la é pep\ (um) ano substituída por 02 (duas) restritivas de direito - />/(®n< vigentes à época do fato delituoso e prestação de serviço a/aDmi de 1(um) ano - e de 05 (cinco) dias-multa no valor diário |Ml /3! salário mínimo vigente ao tempo do fato (art. 49, § 1o, do Sodigc do crime do art. 299 do Código Eleitoral em relação ao elijíor Ns termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integranie da de

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

de 01 fealárioá mínimos

ílo período íta avos) do

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RELATÓRIO

Trata-se de ação penal ajuizada pela Procuradoria Regional Eleitoral contra Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli, reeleitos prefeito e vice-prefeito pela Coligação PP-PT-PSC, respectivamente, de Coronel Freitas nas eleições 2012, e contra Lucila Maria Ferrari Favareto, Secretária Municipal de Saúde daquele município na gestão anterior.

A denúncia foi formulada nestes termos (fls. I-IV):

Os denunciados MAURI JOSÉ ZUCCO e CESAR LUIZ MARTINELLI foram reeleitos, pela ordem, Prefeito e Vice-Prefeito de Coronel Freitas pela Coligação 'Pra Coronel Seguir Avançando' (PP/PT/PSC) no pleito transato, sendo a denunciada LUCILA MARIA FERRARI FAVARETO Secretária Municipal de Saúde do referido Município na atual gestão e na anterior também, época em que ocorreram os fatos criminosos a seguir narrados. Em comunhão de desígnios, os denunciados antes nominados resolveram encetar um esquema para alavancarem a reeleição a Prefeito e Vice-Prefeito de MAURI ZUCCO e CESAR MARTINELLI, mediante a Secretaria Municipal de Saúde, cuja titular era a denunciada LUCILA FAVARETO, sendo que para esse fim escolheram determinados eleitores que necessitavam realizar cirurgia, a qual seria antecipada em troca de votos dos referidos eleitores naquela candidatura majoritária. Durante a respectiva campanha eleitoral, os denunciados MAURI ZUCCO, CESAR MARTINELLI e LUCILA FAVARETO foram até a residência do eleitor Denir Beé, que necessitava fazer uma cirurgia no ombro, a quem propuseram a realização dessa cirurgia em troca de votos nos então candidatos à reeleição a Prefeito e Vice-Prefeito, MAURI ZUCCO e CESAR MARTINELLI. Em meados de setembro de 2012 a denunciada LUCILA FAVARETO, acompanhada de CESAR MARTINELLI, então Vice-Prefeito de Coronel Freitas e candidato à reeleição para tal cargo eletivo, compareceram na residência do eleitor Nathaniel Antonio Mazetto, que estava na fila para fazer umapifargia no joelho pelo Sistema Único de Saúde - SUS, que não e s t à ^ w i casa naquela ocasião, pelo que propuseram à mãe e irmã deytóafngíníel Mgáetto respectivamente, Marirosa Zabot Mazetto e Andressa adiantamento dessa cirurgia, por meio de um mutirão/^u antecipado em relação à lista geral do SUS, em troca áo reeleição a Prefeito do denunciado MAURI ZUCCO/o após Nathaniel Mazetto ter ido até a casa da denunpadjf L gravado uma conversa entre ambos nesse mespno jfen; referida cirurgia realizada em novembro de 2012.

a Mazetto, o ia atendimento a candidatura à

testou confirmado ILA FAVARETO e (fl. 1p), sendo a

Posteriormente, em 2.10.2012, a denunciada ÍCILiv FAVARETO foi na residência do eleitor Dorvalino de Oliveira, cfue" deceéáitava ore uma cirurgia para remoção de verrugas, o qual estava na companhia/de sua mulher, Neusa Bernardi, a quem propôs a realização da di/a/cirurgia pelo SUS em troca de voto na chapa majoritária à reeleição cortíposfo pe/os denunciados MAURI ZUCCO e CESAR MARTINELLI, o que não/fói apeito fafelo apontado casal, que tiveram que fazer a cirurgia em questão na rede ^articular (fls. 1-4).

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Antes do recebimento da denúncia, os denunciados Mauri José Zucco, Cesar Luis Martinelli e Lucila Maria Ferrari Favareto apresentaram resposta nos termos do art. 4o da Lei 8.038/1990, diploma legal que disciplina a ação penal nos tribunais.

Em 2 de setembro de 2014 esta Corte recebeu a denúncia oferecida contra Mauri José Zucco, Cesar Luis Martinelli e Lucila Maria Ferrari Favareto por ter entendido que os fatos configuram, em tese, o crime do art. 299 do Código Eleitoral, apontando os indícios de autoria com a individualização da conduta e identificando os eleitores supostamente corrompidos.

Após o recebimento da denúncia por este Tribunal Regional Eleitoral, os acusados foram citados, interrogados e apresentaram defesa prévia, quando arguiram preliminares de ofensa ao contraditório e à ampla defesa, nulidade da gravação ambiental e suspeição de três testemunhas. Quanto ao mérito, postularam a improcedência da exordial acusatória.

Foram ouvidas as testemunhas relacionadas às fls. 482-484 (degravação dos depoimentos às fls. 490-520).

Realizaram-se os interrogatórios dos réus (fls. 551-555) e inocorrendo pedido de diligências, declarou-se encerrada a fase de instrução probatória (fl. 564), tendo as partes sido intimadas para apresentarem alegações finais.

Em alegações finais, o Ministério Público Eleitoral manifestou-se pela rejeição das preliminares de violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa pelo fato de Mauri José Zucco não ter sido ouvido no inquérito policial; de nulidade da gravação ambiental realizada por Nathaniel de uma conversa havida entre ele e a acusada Lucila; e de suspeição de três testemunhas. Com relação ao mérito, o douto Procurador Regional Eleitoral aduziu que a instrução probatória deixou ^vidente a prática do crime do art. 299 do Código Eleitoral por parte dos t r ê s ^ c u ^ a rejeição das preliminares suscitadas pelos acusados e, no mérito; a ^óndáiação/dos três réus pela prática do art. 299 do Código Eleitoral, por três yéz^s, c^d/o art. Ifi do Código Penal.

Cesar Luis Martinelli, Lucila Maria Ferrar^ Zucco apresentaram conjuntamente as suas alegaçõe condenação por crime de corrupção eleitoral só pode çfcop ocorrer na forma dolosa, ou seja, quando verificada a mé-fji caso dos autos. Pediram a improcedência da acusatória

Fav^feto e Mauli José ínjEns, afirmando que a

quando a siaa prática lo agente, o que não é o

julgamento. Os autos foram encaminhados ao Ju/z-áevisor,; que pediu dia para

E o relatório.

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V O T O

O SENHOR ANTONIO DO RÊGO MONTEIRO ROCHA (Relator):

1. Preliminarmente, é deste Tribunal a competência originária para conhecer e julgar este feito criminal, pois o codenunciado Mauri José Zucco ainda exerce o cargo de prefeito do Município de Coronel Freitas, possuindo privilégio de foro, a teor do inciso X do art. 29 da Constituição da República.

Nesse sentido, é sólido o entendimento na jurisprudência de que "os tribunais regionais eleitorais são competentes para processar e julgar os prefeitos municipais nos ilícitos penais eleitorais" (TSE, HC n. 469, de 07.10.2003, Min. Luiz Carlos Madeira).

Além disso, o feito segue o rito da Lei 8.038/1990, que disciplina a ação penal originária de competência dos tribunais.

2. Em preliminar, a nulidade da gravação da conversa entre Nathanael e Lucila, que fundamenta a acusação foi rejeitada por este Tribunal no momento do recebimento da denúncia, ao entendimento de que "é lícita a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro, podendo ela ser utilizada como prova em processo judicial, conforme reafirmação da jurisprudência desta Corte feita pelo Plenário nos autos do RE n° 583.937-QO-RG, Rei. Min. Cezar Peluso, DJe de 18/12/2009" (STF, Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n. 742192, de 15.10.2013, Min. LUIZ FUX).

3. Preliminarmente, o argumento do acusado Mauri José Zucco de que houve ofensa ao contraditório e à ampla defesa por não ter sido ouvido no inquérito policial foi analisado por ocasião do recebimento da denúncia, quando este Tribunal decidiu que o inquérito policial possui natureza inquisitiva, destinado à formação de peça informativa e eventuais vícios no curso das investigações não têpma aptidão de anular a ação penal. / /

4. Em preliminar, a suspeição das testemunhas arrojadas/pé Lfr acusarão, resta preclusa, pois foram ouvidas sem qualquer irresignação/da d^fej ;a, conforme termo de audiência de fl. 481. Além disso, a credibilidade ou não de gfeu? testemunhos é matéria probatória, não havendo impedimento jurídico às su/s pi

5. Quanto ao mérito, a peça acusatória imputados dé em continuidade delitiva, do crime de corrupção eleitora/, o; çju definição jurídica no Código Eleitoral: / / /

/ / / Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou fbgeber, wia si ou hara outrem, dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem, $àra ob )f ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que g/çlèrta nã peja aceita: Pena - reclusão até quatro anos e pagamento, ae cinco s juinze oias-multa

As três primeiras condutas (dar, oferdpér e prometer)/ configuram a corrupção eleitoral ativa, já que objetivam alcançar o vfcto do eleitor.

fciados à prática, ossui b/seguinte

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Quanto ao sujeito ativo do ilícito, esse crime pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo que o agente seja candidato, conforme ensinamento doutrinário abaixo:

'O crime imputado ao acusado não é de mão própria. O tipo descrito no art. 299 do Código Eleitoral não exige que a vantagem prometida ao eleitor parta de quem seja candidato. Bem por isso, se alguém promete dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem a outrem, para que destine voto a terceiro, incide nas penas do art. 299 do Código Eleitorar (TRE-SP, RC 122.421, rei. Juiz Márcio Martins Bonilha, Alberto Silva Franco et alii, Leis penais especiais..., 6.ed., vol.2, cit., p. 826)" [GOMES, Suzana de Camargo Gomes. Crimes Eleitorais. 3.ed. São Paulo: RT, 2008, p.243].

Para a caracterização do tipo, é imprescindível o dolo específico, revelado pela oferta ou promessa de vantagem ao eleitor com o fim especial de obter-Ihe o voto.

Outro aspecto do delito é a sua natureza formal, isto é, a consumação independe da efetiva lesão ao bem jurídico tutelado: basta-lhe a potencialidade de dano real:

[...] cabe destacar que a consumação do crime independe da ocorrência do resultado, o que significa ser irrelevante a obtenção efetiva do voto ou da obtenção, como decorrência da atividade típica. Trata-se, na verdade, de crime formal [...] [GOMES, Suzana de Camargo Gomes. Crimes Eleitorais. 3.ed. São Paulo: RT, 2008, p.243.]

É indispensável, contudo, que o ato seja concreto, individualizado e, sobretudo, condicionante da vontade política para objetivamente angariar voto à determinada candidatura.

Fixo essa compreensão com o seguinte precedente: ^

Para a configuração do crime de corrupção eleitoral,ygflera^j^er necessária a ocorrência de dolo específico, qual seja, obter m dép" Jfoio, conseguir ou prometer abstenção, é necessário que a condutsr se a direcionada k eleitores identificados ou identificáveis e que o corrupto/el^ojp /passivo seja pessoa apta a votar [TSE, HC n. 69358, de 11.06./01Xylwr/ José Antônio Dias Toffoli]. / / / /

Quanto ao sujeito passivo do crime, a doutraía ensina querem qualquer das vias [seja no crime de corrupção eleitoral ativa/quarrto np/de corrupção eleitoral passiva], 1sujeito passivo' será o Estado e, secund^riapientej o eleitor de 'bona fide' ofendido pelo comportamento ilícito" [DOMINGUES/FILrIO, JcJsé. Disposições Penais Eleitorais. 1.ed. Campo Grande: Contemplar, 2012. P/.252]. I]

O crime de corrupção eleitoral, por spr/grime foHmal, não admite a forma tentada, sendo o resultado mero exaurirjienio da cofiduta criminosa [TSE, AAG 8905/MG, rei. Min. Arnaldo Versiani Leit^ySoares, j. em 27/11/2007.

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Os acusados Mauri José Zucco, Cesar Luis Martinelli e Lucila Maria Ferrari Favareto teriam se utilizado, indevidamente, da administração pública para ofertar a eleitores, que aguardavam em fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS), a antecipação de procedimentos cirúrgicos em troca de votos.

Convém delinear os trâmites referentes às cirurgias eletivas realizadas pelo serviços de saúde pública do Município de Coronel Freitas, conforme documentos de fis. 186/326:

O projeto das cirurgias eletivas foi instituído pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria n. 486/GM, de 31 de marco de 2005 - a qual Institui a Política Nacional de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos de Média Complexidade e dá outras providências. Entretanto, foi a portaria do mesmo Ministério, editada no ano de 2011, sob o n. 2.318, que incluiu as cirurgias ortopédicas e estabeleceu a competência para sua realização no ano de 2011 até de dezembro de 2012. Posteriormente, ainda no ano de 2012, foi editada a Portaria 669 da Secretaria de Saúde do Estado de Santa Catarina, definindo a estratégia de aumento do acesso aos Procedimentos Cirúrgicos Eletivos no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. As cirurgias eletivas são procedimentos que não precisam ser realizados em caráter de urgência, ou seja, podem ser agendadas. Para reduzir o tempo de espera por esses procedimentos, o Ministério da Saúde liberou, em julho do ano de 2012, R$ 650 milhões para que Estados e Municípios realizem mutirões de cirurgias, com o objetivo de reduzir as filas de espera nos hospitais. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza mais de 700 procedimentos, as áreas mais comuns gue se encaixam no perfil das eletivas são as cirurgias para resolução de problemas ortopédicos, oftalmologia (especialmente casos de catarata), otorrinolaringologia (responsável por tratar ouvidos, nariz e garganta), urologia (trata do aparelho urinário) e a cirurgia va^èlaf?(espejjalmente as cirurgias de varizes! / // j ) 'Estas cinco grandes especialidades têm uma necessijzfâde íe redução de tempo de espera pela cirurgia. Por isso, o Ministério d^Saúáé transfere aos municípios e aos estados um recurso adicional, fora do /eto/qu/e çjjüe já receèe, para que eles realizem estas cirurgias', explica o Cœrd^nMor^eral de/Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, José/Ed^ándç Fdgolin Passos. 'O Ministério da Saúde, guando repassa o/reoupsojpafctua com/os gestores dos estados e municípios as possibilidades paéa úouoéo da fila. E é gestor pode, ou na sua rotina de atendimento, aumentai' o/Áúméro de cirurgias, ou com este recurso adicional contratar novos profissionais para aumentar o número de eguipes para realizarem as cirurgias ditas yíetivasí explica Fc/golin. Quanto ao método de seleção dë jpacientep > para aí realização destes procedimento, a Portaria 669/2012 / estabelece em seu artigo 2o que 'A organização da fila é de responsabUidèdB de cadê t/estor municipal (...)'. Ou seja, dentre os pacientes iá cadaísirtaclòs e habilitadas na fila de espera do SUS, o gestor municipal, ou o responsável pelo setor/da saúde, no caso, os Secretários Municipais de Saúde, selecionam as pessoas gue irão participar dos

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mutirões, elaborando uma lista em apartado na lista geral do SUS, obedecendo a critérios de preferencia legal, estado de saúde, tempo de espera, etc" (fls. 186-326).

Em decorrência do número de pessoas pretendendo ser beneficiadas por essas cirurgias eletivas, havia roteiros de procedimentos a serem cumpridos pelos 'sorteados', conforme os depoimentos de fls. 508/510 e 517/519:

Como é feita essa lista de quem vai ser, receber esse benefício da política pública? Tudo depende do tipo de cirurgia, por exemplo, ortopedia existe o TFD que é o tratamento fora do domicílio, então o médico encaminha, é montado esse processo e ele vai entrar pra uma fila de espera, quando tem algum médico que se habilita pra fazer pelo mutirão então a gente vai chamando as pessoas, quem aceita em fazer o mutirão faz logo ou algumas pessoas preferem preferem esperar pra fazer com o médico que estão se tratando no hospital regional então eles aguardam daí a fila única que é a do hospital regional que é a fila do SUS. É fora da prefeitura municipal? É fora, daí é pela fila única aqui do hospital regional que atende toda a região. (Graciane Fonini, fls. 508-510)

A prefeitura municipal executava. Sim. Esse era o chamado mutirão? De cirurgias? Sim. Então, existiam dois, duas, duas formas distintas. Tinha o mutirão e existia a cirurgia pelo SUS, é isso? Sim. É isso. 'Tá'. E como, como, essas pessoas eram, como ocorriam as inscrições das pessoas necessitadas que faziam as cirurgias. Ah, no caso das cirurgias de ortopedia, a gente montava, urpprocesso chamado TFD, que daí os pacientes, eles, eles, a Secretapia á^^ayde autorizava e agendava consulta no Hospital Regional. Então, el^s fipávamnuma/ista no, no Hospital Regional, 'né\ Aí, com o decorrer daff q\A surgiu essas cirurgias eletivas, aí foi, foi chamado, alguns casos. Ess^esratóya de chamada a gente sempre priorizou, 'né', os critérios do Minisféricy moliço, 'né', ypra crianças, adolescentes e idosos. E aí foi chamado os araotósMntes, os idosos e os casos mais urgentes, 'né, sempre priorizando os casoé/máis urgen/es. Aí que foi chamado esses pacientes pro mutirão, pêy fofaué daí a /fila do Hospital Regional, a fila lá é única, 'né'. Lá tem mu1ta;á^ntW. Lá demoraf anos pra serem chamados. E daí, com o surgimento desfe pfyftirã , due foi, íé'\ chamado esses casos (Simone Zanella Strada, fls. 51/-5/^,. ? ,

' / /

A partir desses elementos, mediante o j denomioíado "mutirão de cirurgias", o Poder Público municipal promovia /cofn recuísés financeiros transferidos pelo Ministério da Saúde, a realização de proceáinfentos niédicos./

Para gerir a inclusão dos ber^fioiados pplos mutirões médicos, a nominata de pacientes era elaborada sob a sjpervisãò da/Secretária de Saúde Municipal, Lucila Maria Ferrari Favareto. ^

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Sobre a composição da lista de pacientes, a agente administrativa Graciane Fonini prestou o seguinte depoimento:

"as prioridades (...) eram dentro daquelas condições que o Ministério Público relatou pra você, quem mais participava dessa formação dessa lista? A secretaria de saúde, a Simone Strada e na época minha ex colega que agora ela saiu 'né\ também ela participava que era ela que cuidava do [...] [...] [...] a senhora me falou que a secretária de saúde tinha acesso à lista 'né'? Sim, como secretária (fIs. 508-510).

Entre os documentos existentes, há uma lista de pacientes com diagnósticos médicos e especialidades, sobre os quais está aposto carimbo identificativo da acusada Lucila Maria Ferrari Favareto, como secretária municipal de saúde (fl. 12).

Pelo que se denota da prova, os denunciados tinham efetivas condições de identificar os munícipes que aguardavam intervenções cirúrgicas, o que lhes possibilitava, negociar a vantagem do atendimento antecipado mediante a contraprestação do voto.

Na época dos fatos, no ano de 2012, Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli exerciam, respectivamente, os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito do Município de Coronel Freitas e postulavam a reeleição, enquanto Lucila Maria Ferrari Favareto era a Secretária de Saúde do mesmo município (fls. 96-101).

Em decorrência das eleições de 2012, Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli foram reeleitos, respectivamente, prefeito e vice-prefeito de Coronel Freitas. Lucila Favareto, entretanto, não é mais Secretária de Saúde do município de Coronel Freitas.

A primeira conduta ilícita denunciada pelá^Proci^ad^ría Ftegional Eleitoral é ora transcrita: 7 ~7~T7 7

Durante a campanha eleitoral relativa ao pleròo municijafa/de 2012, próximo da data em que este ocorreu, os réus M A U R / Z U C C O ; G E S A R M A R T I N E L L I e L U C I L A F A V A R E T O foram até a residencipí do eleitor Deryr Beé, que necessitava fazer uma cirurgia no ombro, q/a e|é propuseram a realização dessa cirurgia em troca de votos na então candiçfatupá /^ajoritaria integr/da por M A U R I Z U C C O e C E S A R M A R T I N E L L I .

Na fase investigativa o mencionado ^élei^or hoticiou /que durante a campanha eleitoral de 2012 "[...] recebeu a visita qíe Lp la Favoreto, Ces4r Luiz Martinelli e Mauri Zucco; que os três estavam juntos na visita e liucijl dis^e a(j> depoerçíe que se ele e sua esposa votassem em Mauri e Cesar Luiz, eles poderiam^ajudar o depoent^a realizar a cirurgia noombro; [...]" (fl. 80). íj j / /

E, em juízo, devidamente com|^r|iissadb,/Denir/Beé declarou sem qualquer firmeza (fls. 501-504), após perguntas do! Ministério Público e da defesa:

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Í...1 Só que o vice e a mulher vieram na minha casa e no carro eu não sabia se era o prefeito ou o, ou era o prefeito, 'né', ma era, ele deixou o carro 'pro' lado de baixo da minha casa. 'Uhum'. Só que prometeram 'pra' mim ajudar, que eu votava 'pra' eles 'pra', na cirurgia, 'né'. Até hoje não fiz cirurgia nenhuma. [...] Era uma cirurgia 'pra' fora, 'né', daí eles encaminharam, só que 'daí' o adevo, o médico deles falaram que, que era 'pra' eu pegar um remédio, tomar um remédio, umas vacina, mas 'daí' eu fui no posto e era muito caro. No posto não tinha, aí eu fui comprar, daí era muito caro, 'né'. 'Daí' eu fui pedir ajuda pra essa mulher. Elas disseram que não podiam ajudar. 'Já'. O senhor 'tá' apontando pra dona Lucila? É. Ela que trabalhava lá. Eu fui pedir ajuda 'pra' ela, daí... Na Secretaria de Saúde? É, e ela disse que não podia ajudar, 'daí' me deu, eu fiquei com raiva, pequei o papel e joguei fora. 'Aham'. 'Daí' nesse dia na sua casa, como é que foi, direitinho? É, o dia gue eles foram lá eles prometeram gue se eu, se eu ajudava eles na política, eles ajudavam na cirurgia. É. Depois, eu fui lá 'pra' cidade, também e o vice me chamou lá e disse 'ajuda nós na política que nós 'ajudemo' você na, na cirurgia, 'né'. Esse 'ajudar na política', era pedido de voto? Isso? É, acho gue 'pra' pedir 'pra' eu votar pra eles, mas eu não votei 'pra' eles. Eu, no carro, não me lembro se tinha o prefeito 'drento' do carro, ou era outra pessoa.

5.1. Em relação ao primeiro ilícito, além de não ser referido no depoimento, não há prova de que o acusado Mauri Zucco esteve na residência do mencionado eleitor, pois este se refere a uma pessoa que estaria dentro de um carro estacionado "pro lado de baixo" da sua casa, acrescentando que "não sabia se era o prefeito ou quem que era".

Não há prova a amparar a condenação dos acusados Mauri Zucco, César Martinelli e Lucila Maria Favareto. Além da "raiva" que Denir Beé disse ter sentido quando procurou o serviço municipal para pegar remédio e não teve sua expectativa atendida, não restou provada a compra de voto, pois sequer sabia çiizer se foi visitado de dia ou de noite. Trata-se de depoimento insegurçrquey não jpánsniite a ocorrência de corrupção eleitoral.

Além de tudo, sobressai a discrepância existi policial e judicial de Denir: no depoimento prestado à políci campanha eleitoral de 2012, recebeu a visita de Lucila Fjaváreto e Mauri Zucco e que os três estavam juntos na visita; que "só que o vice e a mulher vieram na minha casa e prefeito ou o, ou era o prefeito, 'né', ma era, ele de/x minha casa".

os depoimentos eé afirmoji que na

esar Luizi/lartinelli dicial, Der/ir afirmou

carroj $u não satíia se era o 1'pro' lado pe baixo da cm

Confirmando a improcedência da de^úncrá, Ferrari Favareto afirma "que não foi na casa do paciente nenhuma, não sabe onde mora, nunca visitou", eifquanto 1

Luis Martinelli afirmou que "esteve na casa de D^iiriBeé vereador Edilvo Baggio e o Denir não estava em casa, esttivam faíendo campanha

acusada/ Lucila Maria )enir Bee, de maneira

\e o denunciado César >A77 o eràão candidato a

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina AÇÃO PENAL N. 83-53.2014.6.24.0000 - DENÚNCIA - CRIME ELEITORAL -CORRUPÇÃO ELEITORAL como fizeram em todos os bairros, em todas as casas, que ele não estava e conversaram com a filha dele".

Afastando a hipótese condenatória, a testemunha Edilvo Baggio, em campanha a vereador, narra que esteve na residência do eleitor Denir Beé, acompanhado apenas de Cesar Luis Martinelli e que Denir Bée não se encontrava, tendo sido recebidos pela filha deste e que nada foi tratado ou comentado acerca da cirurgia de Denir Beé.

Assim, quanto ao primeiro fato imputado aos acusados Mauri Zucco, César Martinelli e Lucila Favareto, não há prova para condenação, motivo pelo qual transcrevo entendimento do TSE:

A condenação pelo crime de corrupção eleitoral deve amparar-se em prova robusta na qual se demonstre, de forma inequívoca, a prática do fato criminoso pelo réu. (Grifei) No caso dos autos, não houve provas aptas a comprovar a autoria do crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral, pois os depoimentos prestados em juízo mostraram-se contraditórios. Agravo regimental não provido". [TSE. Agravo Regimental em Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n° 569549, Acórdão de 17/03/2015, Relator Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA]

Quanto ao primeiro fato imputado pelo Ministério Público Eleitoral, julgo improcede a denúncia apresentada contra Mauri José Zucco, Cesar Luis Martinelli e Lucila Maria Ferrari Favareto.

5.2. Outra notícia de corrupção eleitoral partiu dos eleitores Dorvalino de Oliveira e Neusa Bernardi (terceiro fato), conforme descrito pela Procuradoria Regional Eleitoral nestes termos:

Em 2.10.2012, a denunciada LUCILA FAVARETO foi ná/residência do eleitor Dorvalino de Oliveira, que necessitava de uma cipurgia .para remoção de verrugas, o qual estava na companhia de sua mullW, ujguéa Béfnarcfi, a quem propôs a realização da dita cirurgia pelo SUS em wocsLde voto /na chapa majoritária à reeleição composto pelos denunciacfos/MAuM ZUCCu e CESAR MARTINELLI, o que não foi aceito pelo apontado &aÁa//que fizeram a cirurgia em questão na rede particular. / / 1 / / /

Em juízo, Neusa Bernardi prestou o seg(iÍMe/aepDimento ms. 498-500), após indagações do Ministério Público e da Defesa: I / \ / /

[...] ele fez um pedido no município pra fapneésa cirurgia? / Sim, sim. / / I I Ta e nesse [...] a senhora soube, estava presente duando a áona Lucila no dia dois de outubro teve na sua residência/pra fazer lalgum encaminhamento dessa cirurgia, como é que foi isso? /] T 7 Ela veio lá na minha casa. / / / / / Veio? I / l I / Sim, e o prefeito também, mas não faeroo da cirtmia aque/a hora lá. Ela chegou a pedir votos pra vocês? {/ T /

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Sim! Ela fez o pedido de votos, e nesse dia ela não fez o pedido de votos pra fazer a cirurgia? Não, só pediu voto sabe, só. [ -J Como é que foi a visita, quern que foi lá na sua casa? Foi lá o prefeito e a Lucila. Foi o prefeito e a Lucila, a dona Lucila. Lá pedir voto, sim o voto. Eies 'tavam' com alguma lista de cirurgias? Não, não. Não, a senhora não viu nenhuma lista? Não, não. Eles não fizeram nenhuma vinculação a esse tipo de procedimento antecipação cirúrgico? Não. Só gue diz gue ia fazer e quando ia lá dizia que não, por enquanto não, até que foi indo 'né', não fizeram aquela cirurgia. E nem prometeram pra senhora? Até agora não. [•••]

A testemunha Neusa Bernardi, ao longo de seu depoimento, circunstanciou que não houve oferecimento de vantagem em troca de votos na visita dos acusados à sua residência, deixando claro que na ocasião da visita apenas houve pedido de votos.

A respeito do que foi narrado na denúncia, a defesa nega a oferta antijurídica, reportando-se aos interrogatórios de Lucila Maria Ferrari Favareto ["e/e veio ao Posto de Saúde pedir a retirada de uma verruga; que a depoente tinha o convênio e disse pra ele que no momento que precisasse poderia fazer"] e Cesar Luis Martinelli ["não tinha conhecimento que Dorvalino estava precisando de cirurgia, veio saber depois do ocorrido'].

A defesa alega a regularidade das inscrições /^òs^pacienteis para as cirurgias eletivas, com amparo em testemunhos do^ríncicm^íos da administração Alceu Antonio Carvalho (assessor de imprensa), Antopio Mandos de Cézgfro e Zelindo Matiasso (motoristas da Secretaria de Saúde) - alení dac das agentes administrativas Graciane Fonini e Sirríone Zc

feles antes jj ília Strada.

examinados

Independentemente dos argurm versão acusatória apresenta-se extremamente/ do CE.

ite

Não há qualquer envolvimento/do$ afcusac Luiz Martinelli em relação ao suposto crimeipo/s/femboii prefeito e vice-prefeito, no período de campanha el| residência de Neusa, esta afirmou que não hoéve oferg em troca de votos.

Jefesa, conétata-se que a ío à configu/ação do art. 299

fos Mauri Jòsé Zucco e César os candidatos aos cargos de

litoral, possam ter visitado a imento ge qualquer vantagem

No tocante à acusada Lucila Maírih Ferrai Favaretò, a testemunha Neusa Bernardi apenas menciona, de forma bastante inconsistente eponfusa, que conversou

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina AÇÃO PENAL N. 83-53.2014.6.24.0000 - DENÚNCIA - CRIME ELEITORAL -CORRUPÇÃO ELEITORAL com aquela no Posto de Saúde sobre a cirurgia de seu marido, mas não narrou os detalhes da indigitada conversa. Quando questionada pelo Ministério Público "como que foi esse pedido", a testemunha apenas respondeu que a Lucila dizia: "Que aguarda-se que ia fazer, que não precisava pagar, isso e aquilo 'né".

Portanto, a acusada Lucila foi procurada no Posto de Saúde pelo casal Dorvalino e Neusa objetivando que a retirada de verrugas fosse agendada, quando receberam orientação para aguardar. E quando perguntada como foi o pedido de voto, Neusa não foi clara em sua resposta.

Embora à configuração do ilícito previsto no art. 299 do Código Eleitoral não haja necessidade de pedido expresso, o MPE fez questionamento direto: "ela pediu expressamente pra senhora votar que ia fazer a cirurgia?", tendo a testemunha respondido: "sim, sim", mas sem esclarecer como teria ocorrido essa conversa.

A suposta corrupção imputada à acusada Lucila Maria em relação ao casal Dorvalino de Oliveira e Neusa Bernardi apresenta-se muito vaga, sem a consistência necessária para um decreto condenatório.

No tocante a esse tópico acusatório, não restou configurado o ilícito previsto no art. 299 do Código Eleitoral, motivo pelo qual transcreve-se entendimento jurisprudencial aplicável ao caso sub-examine:

Em sendo frágil a prova produzida, sem aptidão para gerar certeza acerca do ilícito e autorizar a consequente condenação, que precisa estar apoiada em elementos sólidos quanto à materialidade e à autoria, impõe-se a absolvição do recorrente da prática ora imputada, a teor do que dispêCo art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal [TREMS. RECURSO jQRIMINAL^n. 25584, Acórdão n. 8106 de 25/11/2013, Relator Jui

Quanto a este item, pois, julgo improced

5.3. O suposto aliciamento da fa Mazetto é outro fato denunciado pela Procuradori

énuncia.

"Em meados de setembro de 2012 MARTINELLI compareceram na res - que estava na fila para fazer u Saúde, SUS o qual não e propuseram à mãe e irmã dest Andressa Cristina Mazetto, o mutirão que teria atendimento troca de voto na candidatura à

Resta documentalmente c incluído na lista do mutirão de procedi tendo sido consignado ao lado do seu diagnóstico: lesão" (fl. 1 2 ) .

IA VITTA]

leitor Nathaniel Antonio leitoral: /

FAVAR|/TO e o réu CESAR itor Nattjâniel Antonio Mazetto

p joelho pelo Sistema Único de a naqupla ocasião, pelo que

ente, Márirosa Zabot Mazetto e essa cpurgia, por meio de um

relaçãc/à lista geral do SUS, em eito do/réu MAURI ZUCCO".

Nathaniel Antonio Mazetto foi s patrocinados pelo Município,

"especialidade: joelho esquerdo;

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Marirosa Zabot Mazetto, mãe de Nathaniel Antonio Mazetto, prestou a seguinte declaração à polícia (fl. 41):

[...] que durante a campanha eleitoral municipal de 2012, em Coronel Freitas, recebeu a visita em sua casa da Secretária de Saúde Lucila Favaretto e do então candidato a vice-prefeito Cesar Martinelli; [...] que Lucila e César, na ocasião, pediram votos para os candidatos do PT; que Lucila disse que se votasse no PT a antecipação da cirurgia seria mais fácil; [...] que na ocasião Lucila tinha em mãos uma relação de nomes de pessoas que seriam beneficiadas com a antecipação das cirurgias; que presenciou essa conversa a filha da declarante, Andressa Mazetto; [...] que seu filho fez a cirurgia em novembro de 2012 [...].

Andressa Cristina Mazetto, irmã do referido eleitor, apresentou semelhante relato à autoridade policial (fl. 43):

[...] que durante a campanha eleitoral de 2012, no Município de Coronel Freitas, a Secretária de Saúde Lucila Favaretto e o então candidato a vice-prefeito Cesar Martinelli e sua esposa foram até a casa da declarante pedir votos nos candidatos do PT; que Lucila possuía em mãos uma relação de nomes de pessoas que seriam beneficiados num mutirão de cirurgias; que acha que essa lista é a que consta na folha 12 do inquérito policial; Í...1 que por ter passado Nathaniel na frente de outros pacientes que precisavam fazer cirurgia, Lucila pediu ajuda da declarante e de sua mãe para elegerem os candidatos Mauri Zucco e Cesar Martinelli; gue a declarante não tem a menor dúvida que a antecipação da cirurgia foi em troca de votos; [...] que Nathaniel fez a cirurgia com o Dr. Raichmann em Coronel Freitas, em novembro de 2012, assim como outras pessoas que estavam na lista do mutirão [...] (fl. 43).

Há laudo de internação hospitalar registrando que^lb eleitor Nathaniel Antonio Mazetto foi atendido no mês de novembro de 2012 p^^istema£terro com intervenção do Dr. Joaquim Reichman (fl. 104). / / J

Em juízo, Marirosa Zabot Mazetto, às fls. 49JÍ49&Í rpemciou que/seu filho Nathaniel foi incluído na lista das pessoas que seriam 'mmmaaa&f mediante j&olicitação de voto da denunciada Lucila. / y /

Confirmando o noticiado anteriormenp, oyvaepoimento ne Andressa Cristina Mazetto (fls. 496-497) informa que o avisado/César e a/esposa deste estiveram em sua casa pedindo voto, enquanto que?a dpnmmciada Lucila, além de pedir voto para os denunciados, condicionou a preferêpoi^ /de Nathaniel, ao voto da informante e sua mãe. Esclareceu ainda que o aousaíclo Cesar, quando esteve em sua casa, pediu voto. / / / / /

O eleitor Nathaniel Antonio IV^^etto jl^mbém prestou o seguinte depoimento (fls. 490-492):

[...] a senhora Lucila apareceu lá e prefeitura que ia pagar, que, inclusi anos agora dia 22 de novembro. EnJ

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ferecendp a cirurgia que seria a jrgia e ela vai fazer dois

cirurgi^e como foi prometido por

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eles e tal. Eu acredito que eles chegaram a mim, a vir lá oferecer está cirurgia 'pra' mim, porgue ela foi lá e viu que eu abri o inquérito no SUS, porque ela como Secretária da Saúde com certeza tem acesso a isso. [...] Não na verdade eu fiz esta denúncia porque eu me senti lesado deles terem vindo lá, oferecer um serviço que devia ser oferecido por obrigação do município, que é o que eles têm que estar fazendo lá. Eles vieram e me ofereceram isso em troca de votos, porque era uma necessidade minha, que até hoje eu não tenho condições de pagar. Ainda bem que eles fizeram, pelo menos isso eles estão fazendo pelo município. Parabéns pela parte deles, só que eu achei errado eles oferecerem isso como uma coisa obrigatória deles. [...] Você foi na Prefeitura Municipal de Coronel Freitas 'pra' pedir a sua inclusão em alguma lista? Não! Em algum momento você conversou com o Mauri a respeito desse assunto? Não! Mauri chegou a te prometer alguma coisa? Não! Eu nunca falei com o Mauri. E com o César? Não! Também não? Não. Nenhuma dessas pessoas prometeram alguma coisa 'pra' você? Não! (Grifei)

Com efeito, conforme informado no seu testemunho, o eleitor Nathaniel Antonio Mazetto, após a visita a seus familiares pelos acusados Lucila Maria Ferrari Favareto e César Luis Martinelli, foi à procura da Secretária de Saúde Municipal, oportunidade na qual gravou os diálogos ocorridos nesse encontro.

Apesar da boa qualidade do áudio captado, há trechos de difícil percepção, em que Lucila Maria Ferrari Favareto a b a i x a t o m de sua voz, sussurrando palavras a seu interlocutor. Nathaniel Antonjo Mázetto fpJjotksobre o conteúdo gravado, notadamente dos seus segredos, em djk^fcí^nficjeffícial:

Testemunha: Ela falou, falou que tinha uma^giáid^èía, alguma cáisa assim, inclusive ela ligou 'pra' uma assistente dela^ch^qu^^ra, e ela confirmou gue o meu nome estava nesta lista, e 'daí' noAim/day^avação da 'ppá' ouvir meio baixinho que ela diz, pede o voto 'né'.

Desse modo, mesmo reconhecendo cefta dificuldade ná compreensão do áudio - inclusive submetidas a tratamento té^ico/(fls. 32-35)/-, a autoridade policial, em seu relatório, identificou este teor ps. jrl2-12BJ:

Por volta dos 8'40, a investigad^ começa a/cpchichar pára dizer que foi ela quem escolheu os nomes de qijem/estava qai lista do n/utirão e, em seguida, comentar: 'o votinho tá garantido pra nós'. Este trecho consta entre os 8|53^e|8'55 d compreensão devido à sobreposição de voze fones de ouvido do tipo condig. Em razão;

)/arquivo de áudio, e é de difícil ç, sendo melhor ouvido através de dessa dificudade, a frase não foi

transcrita pelo Policial Federal rf sponfeável pela degradação.

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E, no mesmo sentido, foi a conclusão da Procuradoria Regional Eleitoral:

Destaca-se, ainda, a gravação efetuada pelo eleitor Nathaniel Mazetto de uma conversa que teve com a ré LUCILA FAVARETO, na qual esta deixa claro que, ao ser indagada sobre a espera na lista do SUS, que esta diz respeito "a outra espera! É pelo SUS, mas é mutirão de cirurgião que o município vai fazer. Fui e gue escolhi o nome das pessoas", arrematando logo em seguida ao asseverar que "Eu gue escolhi o nome das pessoas. Eu fui lá e falei com a tua mãe, tá, pra vocês... (parte incompreensível - volume muito baixo) (fl. 27) [CD de fl. 16; respectivas transcrições de fls. 23-28).

Efetivamente, ao ouvir com redobrada atenção o áudio, aos 8min56s, capta-se o significado da dicção de Lucila Maria Ferrari Favareto, coincidente com os apontamentos da autoridade policial e da Procuradoria Regional Eleitoral.

Esse velado apelo eleitoral, aliás, é condizente com o depoimento de Lucila Maria Ferrari Favareto, a qual dá a entender ser a responsável pela seleção dos pacientes prioritários, concedendo, por voluntariedade, uma especial vantagem a Nathaniel Antonio Mazetto ao afirmar; "vou contemplar esse guri aqui"... "fui eu que escolhi o nome das pessoas".

O pedido de voto efetuado por Lucila Maria Ferrari Favareto ["o votinho tá garantido pra nós"] é o arremate, reclamando uma contrapartida do eleitor, pretendendo dizer que estava beneficiando o eleitor.

O conjunto probatório revela a materialidade e a autoria do ilícito por parte da acusada Lucila Maria Ferrari Favareto, com manifesta proposta de cirurgia de Nathaniel Antonio Mazetto em troca de voto.

O aliciamento eleitoral restou configurado na propra Maria Ferrari Favareto, com as credenciais de Secretária Municipal

E, mesmo se fosse indispensável a interfèrêr agentes públicos para adiantar a cirurgia - agendada de moç essa circunstância não obstaria a configuração criminal:

ousada Lucila íaúde^

candic ílar - aindi

atos / assim

É que, conforme pontua a jurisprudência, é tipicamente formal e unilateral; não se reclama ui vontades de corruptor e corrompido convirjam. Igüalm< forma de consequência material, uma efetiva ádes. intento do corruptor; por isso, ainda que a 'vitima' mínima forma tentada a aderir à proposta, na (TRESC. Acórdão n. 30.252, de 11.11.2014, Juiz hfélio doMille Pereira - grifei).

cnttyie jüe corrupç/ao eleitoral aoto/de corrupção em que

'e njao é seu requisito alguma do/destinatária da mercê ao

ao sê sinta pressionada ou de disso impede/a consumação"

Como o elenco probatório atfesta^ a corrij Lucila Maria Ferrari, transcrevo entendim^nt^/jurispru^ aplicável ao caso presente:

}ção eleitoral praticada por èncial alo TSE que entendo

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Presume-se o que normalmente ocorre, sendo excepcional a solidariedade no campo econômico, a filantropia", motivo pelo qual "verificado um dos núcleos do artigo 41-A da Lei n. 9.504/97 - doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza - no período crítico compreendido do registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, presume-se o objetivo de obter voto, sendo desnecessária a prova visando a demonstrar tal resultado. [Ac. TSE, REspE n. 25146, de 07.03.2006, Relator designado Min. Marco Aurélio]

Quanto à visita do acusado César Martinelli à casa da família de Nathaniel Antonio Mazetto, as testemunhas afirmaram que ele não tratou sobre cirurgia e tampouco ofereceu qualquer benefício em troca de votos. Vejamos as afirmativas nesse sentido:

Marirosa Zabot Mazetto, mãe de Nathaniel, compromissada legalmente, declarou em Juízo (fls. 493-495), ao responder às perguntas do Ministério Público e da defesa, que através de conversa com 'a denunciada Lucila', soube que se filho 'seria incluso na lista se ela votasse nos candidatos denunciados'.

Narrou ainda que acha que César não condicionou a cirurgia ao seu voto (fls. 496/497).

Andressa Cristina Mazetto, irmã de Nathaniel, afirmou que o candidato César não falou sobre a indigitada cirurgia, "Não, ele só pediu voto também. Pediu voto 'pra' eles, mas não foi, quem ofereceu a cirurgia em troca do voto, foi a dona Lucila" (fls. 496-497).

Nathaniel Antonio Mazetto, ao depor sobre a alegação de 'cirurgia em troca de votos", afirmou que nunca conversou com os candidatos denunciados (fls. 490-492).

Portanto, em relação à cirurgia no joelho de i^itlianiel Antonio Mazetto, conclui-se que os candidatos Mauri José Zucco e Ceá^/laiis Martinelli não podem ser condenados face à ausência de provas. / / /

Está suficientemente comprovada a corrupoáo eleitôraj^íraticadaypela ré Lucila Maria Ferrari Favareto, conforme seguinte entend^entmlupi^rudencial/

Comprovada a promessa de vantagerc/a eleitor em troca de/voto, resta caracterizado o crime previsto no api/299 ári/QE. A pena-base deve ser fixada no seu patamar mínimo/guando M o houver /circunstâncias judiciais desfavoráveis ao réu/[TRE/SC, ^Cr ime n. d&J, rei. Pedro Manoel Abreu, j. em 5/12/2005]/ / / j j /

6. Comprovado o ilícito e a / a i ^ i a da Mcusada Queila Maria Ferrari Favareto, passo a apreciar a penalidade correspondente. /

Afasta-se a possibilidade da/apflcação d^princípLó insignificância porque ele somente deve ser aplicado nos crimeLcxintra o ps)lrimônio( quando o valor do bem jurídico tutelado é ínfimo. Como o bem ora tutelado é o livre/exercício do voto, a lisura

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina AÇÃO PENAL N. 83-53.2014.6.24.0000 - DENÚNCIA - CRIME ELEITORAL -CORRUPÇÃO ELEITORAL do processo de obtenção do voto, o referido princípio não pode ser utilizado para excluir a tipicidade da conduta. Além disso, a jurisprudência exige um grau de reprobabilidade reduzido do comportamento do autor, o que não é o caso dos autos. O crime previsto no art 299 do CE atinge um bem jurídico de grande valor e a conduta é veementemente reprovada pelo ordenamento jurídico [TSE, AGr. Inst. n. 10672/SC, rel.a Min.a Carmen Lúcia, j. 28-10-2010].

O princípio da insignificância ou doutrina da bagatela, esbarra em dois obstáculos:

1) Apropria-se a certos delitos contra o patrimônio, nos quais a insignificância do resultado prepondera à ação, em termos de política repressiva;

2) A lisura do sufrágio, principalmente em colégios eleitorais de menor expressão, sofre efeitos consideráveis a partir de ofertas ilícitas em expressão de valor, porque, a miúde, é a indução moral decorrente da própria oferta, ou doação, e não o seu conteúdo, que embute na consciência do eleitor mal-avisado, ou ainda despreparado, o efeito maligno do aliciamento [Tito Costa, Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral, São Paulo, Editora Juarez Oliveira, 2002].

O art. 299 do Código Eleitoral prescreve, in abstrato, para o crime de corrupção as penas de "reclusão até quatro anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa".

Integrando a quantificação penal, o teor do art. 284 do Código Eleitoral estabelece que "sempre que este Código não indicar o grau mínimo, entende-se que será ele de quinze dias para a pena de detenção e de um ano para a pena de reclusão".

Na fixação da pena-base, conforme o art. 59 do Códijgo Penal, não se têm, em desfavor da ré, circunstâncias determinantes de acréscirn^^pena mínima.

Com efeito, a censurabilidade da conduta (cu\p^6jmãdíe) é característica à espécie; não há informação de antecedentes decisões cpndeiyátóp^se tampouco elementos desabonatórios da conduta social e da perí^alidápe da acusada; os motivos e circunstâncias do crime são ínsitos ao tipo Qrinmnal,/Nao se revelam, nessa conjuntura, fatores modificativos da pena. / / / y /

Assim, nessa fase, arbitra-se as pen^é «emJty\ (um) ano deyreclusão e 05 (cinco) dias-multa, no quantum unitário de 1/3Q/ (^n^frinra^avos) do /salário mínimo vigente à época dos fatos (art. 49, § 1o, do Códkjó Penal)/ / /

Para a segunda fase da dosiir^etm, não se evidendam agravantes ou atenuantes que possam alterar o montante penal. j J

Na terceira e última fase, n&o/nápaussk de aumento da pena face à reiteração criminal. íf / II /

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Por fim, nos termos do art. 44, § 2o, do Código Penal, substituo a pena de reclusão por 02 (duas) restritivas de direito, quais sejam: 5 (cinco) salários mínimos vigentes à época dos fatos e prestação de serviços à comunidade pelo período de 1 (um) ano.

7. Pelo exposto, julgo parcialmente procedente a ação penal para absolver os réus Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli com fundamento no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, e condenar a ré Lucila Maria Ferrari Favareto à pena de reclusão de 01 (um) ano substituída por 02(duas) restritivas de direito - 5 (cinco) salários mínimos vigentes ao tempo do fato delituoso e prestação de serviço á comunidade pelo período de 1(um) ano - e de 05 (cinco) dias-multa no valor diário de 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo vigente ao tempo do fato (art. 49, § 1o, do Código Penal), pela prática do crime do art, 299 do Código Eleitoral em relação ao eleitor Nathaniel Mazetto.

Com a publicação do acórdão no DJESC, expeça-se cópia da decisão para a Corregedoria Re^oxwíT^m^oxa^ anotando-se no cadastro de eleitores (Lei Complementar n. 6 4 / 1 9 9 0 ^ . ^ % " , 4).

Após o trânsito i r W j ^ ^ o feito ao Juiz Eleitoral para dar cumprimento a decisão, c já^apicr ição ofo nome da ré no rol de culpados.

/ / Ã / E o vp\oJ V j /

/ / / J / / // / /

/ / / j j / / / 4 I I /

í / / / /

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EXTRATO DE ATA

AÇÃO PENAL N° 83-53.2014.6.24.0000 - AÇÃO PENAL - INQUÉRITO - CRIME ELEITORAL -CORRUPÇÃO ELEITORAL - ART. 299 DO CE C/C ART. 71 DO CP - PEDIDO DE CONDENAÇÃO CRIMINAL RELATOR: JUIZ ANTONIO DO RÊGO MONTEIRO ROCHA REVISOR: JUIZ VÍLSON FONTANA

AUTOR(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RÉU(S): MAURI JOSÉ ZUCCO; CESAR LUIS MARTINELLI; LUCILA MARIA FERRARI FAVARETO ADVOGADO(S): NELI LINO SAIBO; NELI LINO SAIBO JÚNIOR; PATRÍCIA SAIBO; MARCOS FERNANDO ZANELLA; MÁRCIO LUIZ FOGAÇA VICARI

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ CESAR AUGUSTO MIMOSO RUIZ ABREU PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ROGER FABRE

Decisão: à unanimidade, afastar as preliminares e, no mérito, julgar parcialmente procedente a denúncia, para absolver os réus Mauri José Zucco e Cesar Luis Martinelli e condenar a ré Lucila Maria Ferrari Favareto pela prática do crime de corrupção eleitoral do art. 299 do Código Eleitoral, aplicando-lhe a pena de um ano de reclusão - substituída pelas penas restritivas de direito de prestação pecuniária no valor de cinco salários mínimos e de prestação de serviço à comunidade pelo período da pena privativa de liberdade - e de cinco dias-multa no valor diário de 1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos, nos termos do voto do Relator. O Tribunal determinou, ainda, a anotação da condenação no cadastro de eleitores. Apresentou sustentação oral o Advogado Márcio Luiz Fogaça Vicari. Participaram do julgamento os Juízes Cesar Augusto Mimoso Ruiz Abreu, Antonio do Rêgo Monteiro Rocha, Vilson Fontana, Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli, Alcides Vettorazzi, Hélio David Vieira Figueira dos Santos e Ana Cristina Ferro Blasi.

PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE 04.04.2016. ACÓRDÃO N. 31224 ASSINADO NA SESSÃO DE 06.04.2016.

R E M E S S A

Aos dias do mês de de 2016 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações Processuais - CRIP. Eu,

, Coordenador de Apoio ao Pleno, lavrei o presente termo.