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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO – 1ª SEÇÃO ESPECIALIZADA AUTOS N. 0100823-57.2018.4.02.0000 (cautelar de busca e apreensão e prisão). DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA AOS AUTOS N. 0100523-32.2017.4.02.0000 (ELETRÔNICO). RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ABEL GOMES. Ref. Petição n. 2018.7402000008-9, Petição n. 2018.7402.000014-3 (cautelar de quebra de dados telemáticos), Petição n. 2018.7402.000016-0 (cautelar de interceptação telefônica) e Petição n. 2018.7402.0000013-5 (cautelar de quebra de sigilo bancário e fiscal). O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com fundamento no art. 1º, incs. I e III, “l” c/c art. 2º, ambos da Lei n. 7.960/89 e nos arts. 312 do Código de Processo Penal e 2º, § 7º, da Lei n. 7.960/89, requerer a DECRETAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA e MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS DIVERSAS DA PRISÃO , conforme especificações abaixo, pelos motivos de fato e fundamentos de direito a seguir expostos. I. INTRODUÇÃO. 1. Com base em requerimento formalizado pelo Ministério Público Federal, foram decretadas monocraticamente as prisões temporárias de AFFONSO HENRIQUE MONNERAT ALVES DA CRUZ, ALCIONE CHAFFIN ANDRADE FABRI, DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA, JENNIFER SOUZA DA 1 Ministério Público Federal – Procuradoria Regional da República – 2ª Região Rua Uruguaiana, 174, Centro, Rio de Janeiro/RJ. CEP.: 20.050-092 Tel: (21) 3554-9209 – [email protected] Assinado digitalmente em 12/11/2018 17:00. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 4507EB07.9E49B3AD.8571F897.C2EFDE0D

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO – 1ª SEÇÃO ... · pertencentes a AFFONSO MONNERAT, apenas seu diploma de ensino superior, que estava cuidadosamente separado sobre a

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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO – 1ª SEÇÃO ESPECIALIZADA

AUTOS N. 0100823-57.2018.4.02.0000 (cautelar de busca e apreensão e prisão).

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA AOS AUTOS N. 0100523-32.2017.4.02.0000

(ELETRÔNICO).

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ABEL GOMES.

Ref. Petição n. 2018.7402000008-9, Petição n. 2018.7402.000014-3 (cautelar de quebra de

dados telemáticos), Petição n. 2018.7402.000016-0 (cautelar de interceptação telefônica)

e Petição n. 2018.7402.0000013-5 (cautelar de quebra de sigilo bancário e fiscal).

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com fundamento no art.

1º, incs. I e III, “l” c/c art. 2º, ambos da Lei n. 7.960/89 e nos arts. 312 do Código de Processo

Penal e 2º, § 7º, da Lei n. 7.960/89, requerer a DECRETAÇÃO DE PRISÃO

PREVENTIVA e MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS DIVERSAS DA PRISÃO,

conforme especificações abaixo, pelos motivos de fato e fundamentos de direito a seguir

expostos.

I. INTRODUÇÃO.

1. Com base em requerimento formalizado pelo Ministério Público

Federal, foram decretadas monocraticamente as prisões temporárias de AFFONSO

HENRIQUE MONNERAT ALVES DA CRUZ, ALCIONE CHAFFIN ANDRADE

FABRI, DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA, JENNIFER SOUZA DA

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SILVA, JORGE LUIS DE OLIVEIRA FERNANDES, JOSÉ ANTÔNIO

WERMELINGER MACHADO, LEONARDO MENDONÇA ANDRADE, LEONARDO

SILVA JACOB, MAGNO CEZAR MOTTA, SHIRLEI APARECIDA MARTINS SILVA

e VINICIUS MEDEIROS FARAH, em síntese, nos seguintes termos:

“O art. 1º da Lei 7.960/1989 estabelece que a prisão temporária terácabimento quando necessária para a colheita de provas em fase anterior àprocessual, havendo fundados indícios de autoria em um dos crimesarrolados no inciso III do art. 1º da Lei 7.960/1989.Não obstante a redação originária do O art. 1º da Lei 7.960/1989 prever ocabimento para o crime associativo de quadrilha ou bando que vigia à época,com a edição da Lei 12.850/13, o art. 288 do Código Penal sofreu algumasalterações, dentre elas o 'nomen iuris', deixando de ser denominado como'quadrilha ou bando' e passando a ter a designação de 'associaçãocriminosa'.Além disso, a nova lei definiu o crime de organização criminosa, o qualpassou a assumir também existência no nosso ordenamento jurídico comocrime de associação, perfeitamente inscrito na hipótese do inciso III do art. 1ºda Lei 7.960/1989.As penas do crime de organização criminosa da Lei n.º 12.850/2013 sãoinclusive mais graves que as do antigo 288 do CP. Por isso a doutrina(EUGÊNIO PACELLI), considera que a referida hipótese do art. 1º, inciso IIIda Lei n.º 7.960/89), é possível encontrar hoje amparo aos crimes da Lei n.º12.850/2013, para fins de cabimento da prisão temporária. […]No caso em tela, dado que muitos são os endereços onde devem ser realizadasas buscas e apreensões, e sendo certo que esses investigados nelesdesempenham atividades profissionais e particulares, podendo, ao saberemda fase ostensiva da investigação, agir em diversos lugares diferentes, paracriar obstáculo à colheita de provas, haja vista tudo o que se viu da atuaçãodessas pessoas nos itens anteriores como tendo acesso a documentos esistemas importantes em tese ligados aos delitos apurados e beneficiandooutros investigados ocupantes de cargos hierárquicos superiores, imperiosoque sejam acutelados temporariamente enquanto as equipes policiais atuamnas diligências acima deferidas. Ademais, a imprescindibilidade da custódia em questão para fins previstos naLei n. 7.960/89 evidencia-se pelo fato de que se faz necessário que todos osenvolvidos sejam ouvidos pela Autoridade Policial, como meio de colheitaoral de elemento de prova (resguardando evidentemente o direito ao silêncioe assistência de advogado), e estejam à disposição para prestaresclarecimentos que se mostrem necessários após a análise do materialcolhido na diligência de busca e apreensão deferida nesta decisão, sempossibilidade de prévio acerto de versões entre si ou mediante pressão porparte de pessoas mais influentes do grupo, sobretudo considerando a grandequantidade de alvos e locais a serem diligenciados e levando em conta quemconcretamente se atestou constantes contatos entre os núcleos seja por

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mensagens, seja por telefone.”

2. Em relação ao requerimento de prisão preventiva dos deputados

estaduais ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA, FRANCISCO MANOEL

DE CARVALHO, JAIRO SOUZA SANTOS, LUIZ ANTÔNIO MARTINS, MARCELO

NASCIF SIMÃO, MARCOS ABRAHÃO e MARCUS VINICIUS DE VASCONCELOS

FERREIRA, Sua Excelência, o desembargador federal Abel Gomes, após algumas

considerações, concluiu, em resumo, o seguinte:

“No cotejo dessas duas situações fáticas, é que as prisões temporárias, nocaso, possuem o efeito de, com menos trauma, afastar os sete indivíduos dofoco das investigações temporariamente. Por outro lado, a prisão temporária no caso, já que fora pedida a prisãopreventiva, pode e deve incidir em substituição.A base fática e jurídica das duas prisões é a mesma, estando presente provada existência dos crimes e os indícios de autoria. A imputação prévia decrimes praticados por organização criminosa, é compatível com o rol do art.1º, inciso III da Lei n.º 7.960/89 como já disse no tópico 8. De modo que épossível a fungibilidade da medida, eis que o MPF ao requerer a prisãopreventiva, logicamente mais grave, traz ínsito em seu pedido depossibilidade de decretação de prisão temporária, menos grave e sobcircunstâncias autorizadoras mais específicas e, no caso, tambémevidenciadas.”

3. Quanto ao requerimento de prisão preventiva de CARLA ADRIANA

PEREIRA, assentou-se o que se segue:

“Do mesmo modo, no que toca à investigada CARLA ADRIANA (Diretora deRegistro de Veículos do DETRAN/RJ), que não ostenta foro por prerrogativa esobre cujo pedido de prisão decido monocraticamente, se mostra, a princípio,suficiente a prisão temporária, tal qual requer o MPF para VINICIUSFARAH e LEONARDO JACOB (atual presidente do DETRAN/RJ), com vistasa assim reunir as provas necessárias que o MPF entende essenciais aoapuratório sem ingerência da investigada.Digo isto porque, ao contrário dos Deputados Estaduais que demonstrarammanter sua influência política, mesmo depois de presos, CARLA ADRIANAnão ostenta, a princípio, essa capacidade de ação fora do DETRAN/RJ, aomenos com o que se tem nos autos, sendo cabível verificar, expirado o prazoda prisão temporária, a suficiência ou não de seu afastamento do cargo comomedida a atender a garantia da ordem pública e a conveniência dainstrução.”

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4. Também foram autorizadas judicialmente buscas e apreensões pessoais

e domiciliares em face de todos os requeridos já discriminados acima, bem como em face de

ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, EDSON ALBERTASSI, FÁBIO

CARDOSO DO NASCIMENTO, HARIMAN ANTONIO DIAS DE ARAÚJO, JORGE

LUIZ RIBEIRO, JORGE SAYED PICCIANI, MARCUS WILSON VON SEEHAUSEN,

MARIA MADALENA CARDOSO DO NASCIMENTO e PAULO CÉSAR MELO DE

SÁ.

5. De posse dessas ordens judiciais, o Ministério Público Federal, a Polícia

Federal e a Receita Federal deflagraram a operação Furna da Onça, na qual foram cumpridos

mandados de prisão preventiva, prisão temporária e buscas e apreensões. Em 8.11.2018, todos

os mandados de prisão foram cumpridos e buscas e apreensões realizadas nos endereços

determinados.

II. JUSTIFICATIVAS DE FATO PARA A CONVERSÃO DE PRISÕES

TEMPORÁRIAS EM PRISÕES PREVENTIVAS.

6. Com base nos elementos de provas recolhidos durante a fase ostensiva

da operação Furna da Onça, bem ainda em parte dos resultados da quebra de sigilos

telemáticos dos envolvidos, descobriram-se fatos novos que, além de corroborarem a narrativa

do requerimento inicial, demonstram ser necessárias a conversão da prisão temporária

decretada em face de alguns requeridos em prisão preventiva, a decretação da prisão

preventiva em face de requeridos que antes foram alvos apenas de busca e apreensão e, ainda,

a aplicação de medidas cautelares pessoais diversas da prisão em face outros alvos.

II.1. Do vazamento da deflagração da operação Furna da Onça: grave prejuízo causado

à investigação.

7. Enquanto as equipes cumpriam os mandados de prisão e busca e

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apreensão na operação Furna da Onça, veio à tona, primeiro por notícias veiculadas na mídia1,

a possibilidade de ocorrência de vazamento para os alvos quanto à deflagração da operação

nas circunstâncias de tempo e lugar em que idealizada.

8. As equipes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que

chegaram aos locais de cumprimento das ordens judiciais observaram indícios de que, de fato,

o sigilo necessário para garantir a efetividade das medidas decretadas provavelmente não foi

respeitado, como se passa a demonstrar.

9. Quando da chegada das equipes da Polícia Federal e do Ministério

Público Federal no apartamento de AFFONSO MONNERAT, residência habitual do agora

ex-secretário estadual por cerca de três anos, em que pese o horário, o investigado já estava

devidamente arrumado, a espera dos agentes. Indagado sobre isso, o requerido disse que teria

escutado o delegado de Polícia Federal anunciar a “Polícia Federal” para o porteiro,

entendendo imediatamente que o assunto a ser tratado seria com ele; por isto, vestiu-se

rapidamente.

10. Não foram encontrados na casa computadores ou documentos

1 https://www.oantagonista.com/brasil/operacao-da-lava-jato-no-rio-vazou/

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pertencentes a AFFONSO MONNERAT, apenas seu diploma de ensino superior, que estava

cuidadosamente separado sobre a mesa. Por sua vez, no aparelho celular apreendido,

verificou-se que as conversas no WhatsApp haviam sido todas apagadas. Questionado sobre o

motivo de não haver conversas no aplicativo, respondeu que possuía o costume de apagar

mensagens.

11. No que se refere ao cumprimento dos mandados em face do deputado

estadual FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO (CHIQUINHO DA MANGUEIRA),

constatou-se que, em sua residência, na Barra da Tijuca, não havia nada em seu apartamento:

nem dinheiro, nem joias, nem papel, nem arquivos eletrônicos – o que não é usual,

notadamente quanto aos últimos dois tipos de material.

12. Da mesma forma pode ser dito em relação à residência de JAIRO

SOUZA SANTOS (CORONEL JAIRO): havia apenas um desktop, com todos os arquivos e

histórico de navegação deletados. De acordo com a equipe designada para a realização da

medida, o deputado estadual e sua filha também haviam saído dos grupos de WhatsApp no dia

anterior ao da deflagração da operação. Ressalte-se, ainda, que, quando da realização da

medida ostensiva, o alvo não estava em casa. Conforme informado, o alvo teria se internado

no hospital da Unimed, na Barra da Tijuca, na madrugada de 8.11.2018, dia do cumprimento

da operação. O motorista do parlamentar, encontrado na residência a que as equipes se

dirigiram para cumprir os mandados, consignou, inclusive, que havia retornado para buscar

roupas.

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13. Em relação ao deputado estadual MARCUS VINICIUS DE

VASCONCELOS FERREIRA (MARCUS VINICIUS “NESKAU”), foram encontradas

vestimentas e passaporte válido no endereço de sua residência, no Rio de Janeiro, a despeito

do fato de sua esposa ter relatado que estavam recém-separados. Não foram encontrados,

contudo, computadores nos apartamentos, seja no Rio de Janeiro, seja em Petrópolis,

tampouco em seu gabinete na Alerj, apenas em seu escritório político em Petrópolis, endereço

que, além de não ser público nem pessoal, não era, frise-se, objeto inicial dos mandados, mas

foi acessado pelas equipes mediante consentimento.

14. Vislumbra-se, portanto, que investigados pertencentes ao núcleo

político da organização criminosa tinham conhecimento de que a operação Furna da Onça

ocorreria no dia em que efetivamente deflagrada, prejudicando as investigações em razão da

ocultação e/ou eliminação de provas da prática de crimes.

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II.3. Do núcleo operacional do deputado estadual PAULO MELO: orientação para

ocultação e destruição de provas.

15. Durante a busca e apreensão pessoal e domiciliar em face de

ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, assessora do deputado estadual PAULO

MELO, foi apreendido documento com o seguinte teor:

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16. A partir da simples leitura, extrai-se que ANDREIA e FÁBIO

CARDOSO NASCIMENTO, irmãos e assessores de PAULO MELO, deram instruções

voltadas à ocultação e à destruição de provas para pessoa ainda não identificada. Algumas

circunstâncias e excertos do documento autorizam essas conclusões. A ver.

17. Quanto à identidade de quem escreveu o documento, observa-se a

semelhança entre a caligrafia majoritária da lista de itens enumerados de 24 a 37, com dois

asteriscos finais, e a caligrafia do documento “Projeto Gabinete Retorno”, apreendido na

operação Cadeia Velha na posse de FÁBIO.

18. Ambos os documentos foram escritos pela mesma pessoa. Inclusive, há

uma anotação ao final da lista, em item destacado com asterisco, em que se lê: “digitar esse

papel, não circular com isso com minha letra não, por favor”. Trata-se, nitidamente, de um

aviso feito por FÁBIO a seu interlocutor, haja vista que, tendo sido ele alvo de investigações

anteriores, havia a possibilidade de que as equipes de investigação pudessem ter acesso a

material para confrontar sua caligrafia com tal documento.

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19. Além disso, há uma anotação, no item 32 da lista que não deixa

margem de dúvida quanto ao fato de que foi FÁBIO quem escreveu o passo a passo: “(eu +

Andreia)”. O destinatário das instruções deveria comprar um conjunto de marcadores de texto

com cores diferentes e canetas vermelhas tanto para o próprio FÁBIO como ainda para sua

irmã, ANDREIA.

20. Quanto a seu conteúdo, um primeiro aspecto a considerar é que o

documento diz respeito, a toda evidência, de um passo a passo para dar tratamento adequado

às provas que os próprios envolvidos reputam relevantes para a presente investigação. Um

trecho, entre tanto, nesse sentido:

“26. Cancelar meu GooglePhotos, senha está junto com arquivo no pendrive –Word. Veja se consegue igual ao 13 celular”

21. O confronto com os demais itens da lista deixa claro que o foco de

FÁBIO era o avanço das investigações a partir dos elementos de prova colhidos nas

operações anteriores no âmbito da Lava Jato no Rio de Janeiro. É o que fica patente dos itens

30 e 31, nos quais se lê:

“30. Preciso de cópia das operações: decisão, inquérito policial, MinistérioPúblico. Operações: Rio 40 graus + Eficiência + Tolypeutes + Fatura Exposta+ Retatouille + Quinta do Ouro + Saqueador + Xepa + Calicute + Ponto Final”

“31. Vc precisa continuar conversando com amigo, outras operações vãosurgir com continuação das investigações das empresas citadas. Vão tentarmanter ele aqui com novos dados. Veja se estão agindo e fazer o que tem queser feito.”

22. De pronto, ganha destaque a menção a “ele”, claramente relacionada ao

deputado estadual PAULO MELO. Isso porque a referência a “empresas citadas” está em

harmonia com os itens 35 e 36, em que FÁBIO determina a exclusão de e-mails do

“Alessandro, Mário, Vinícius, Guilherme, Paulo Afonso Trindade Jr.” e sugere análise dos e-

mails da “Mauá/SPE Guilherme e outros/Alessandro dependendo”. É que, conforme

demonstrado na operação Cadeia Velha, Alessandro Carvalho de Miranda, Mário Peixoto e

Vinícius Peixoto apresentam vínculos societários e eleitorais (doação de campanha) com

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PAULO MELO. A família Peixoto também aparece na operação Quinto do Ouro, vinculada

ao pagamento de propina para o ex-conselheiro do TCE/RJ, Jonas Lopes.

23. Ainda quanto ao ponto, ganha destaque o item 33 da lista em análise.

Nele, FÁBIO orienta seu interlocutor a falar com o síndico da “Rua do Carmo”, para tratar de

“câmeras”. Disse a seu interlocutor que também procurasse o escritório que ficava ao lado, e

que hoje “está na nossa antiga sala 1107”. Rememore-se que, no Anexo 60 de seu termo de

colaboração, CARLOS MIRANDA afirmou que a propina paga por SERGIO CABRAL a

PAULO MELO era entregue a ANDREIA, FÁBIO e MAGNO no escritório do parlamentar,

na Rua do Carmo, 6 ou 8. A intenção, portanto, era ou a de ter acesso às filmagens (em que,

possivelmente, constam o trânsito daqueles envolvidos no esquema pelo local), ou a de

garantir que tais gravações, pelo decurso do tempo, não mais existem.

24. Há, ainda, um segundo aspecto importante que surge da leitura desse

documento: a participação de MARIA MADALENA, junto a outras pessoas do gabinete de

PAULO MELO, no cumprimento das instruções repassadas por FÁBIO, seu filho, como já

havia sido exposto no requerimento original apresentado nos presentes autos. É o que se extrai

dos itens 28 e 34, assim redigidos:

“28. Icloud, caso ñ tenha conseguido, conforme já solicitei antes, ir comminha mãe tentar comprar 1 chip com mesmo número, se precisar deprocuração faz e entrega ao Fábio (adv.) p/ eu assinar/reconhecer firma efazer”

“34. Fazer procuração para minha mãe p/ tudo: banco, luz… caso ela precisefazer algo”

25. A partir desse novo achado, também é possível afirmar que a

constituição de um plano de previdência em nome de MARIA MADALENA em período que

ANDREIA e FÁBIO já estavam presos preventivamente é somente um pequeno exemplo de

prováveis inúmeras outras operações financeiras idealizadas para ocultar patrimônio.

26. De se destacar, ainda, a participação de Natália de Fátima Ribeiro

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David, servidora da Alerj, identificada no documento apenas como “Natália”. No item 24 do

passo a passo, consta: “ver se Natália tem algum papel, pen drive, na casa dela, se ela salvou

no computador da casa dela; mesmo que tenha excluído, se colocou, melhor trocar HD”.

Segundo informação da Polícia Federal, de junho de 2018, com a prisão dos irmãos, que eram

as principais pessoas de confiança do deputado estadual PAULO MELO, a distribuição do

“mensalinho” a cargo da presidência da Alerj passou a ser operacionalizada por Natália e

Maria Raquel Reis Leal – ambas servidoras da Alerj: a primeira é secretária de FÁBIO; a

segunda, de ANDREIA –, a partir de ordens dadas pelos irmãos e a elas repassadas por

MARIA MADALENA, o que é reforçado com a leitura deste documento.

27. Por fim, um terceiro aspecto digno de nota no referido documento é

menção a Rafael Picciani, filho de JORGE PICCIANI, em contexto no qual se discutem

nomeações e exoneração de servidores de gabinetes da Alerj. Isso demonstra, a um só tempo,

a relação próxima entre JORGE PICCIANI e PAULO MELO, conforme exaustivamente

demonstrado na operação Cadeia Velha, bem como a ainda atual e ampla ingerência, na Alerj,

por meio de familiares e assessores, desses deputados estaduais, que integram a cúpula do

núcleo político da organização criminosa.

28. Durante o cumprimento da ordem judicial na casa de CARLA

ADRIANA e MAGNO, que sabidamente compõem o núcleo operacional do deputado

estadual PAULO MELO, foram encontradas provas de corroboração da participação de

CARLA, diretora do Detran/RJ, na última campanha eleitoral de Franciane Motta, esposa

desse parlamentar, descoberta por interceptação telefônica. Os documentos arrecadados

consistem em planilhas de controle de pagamento a prestadores de serviço.

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29. Nesse aspecto, convém relembrar que, no período eleitoral, foi

interceptado diálogo entre MAGNO e Franciane Motta, constante do requerimento inicial, do

qual se extrai que PAULO MELO gerenciava remotamente as estratégias de campanha da

esposa. Ainda quanto ao ponto, sobreleva o uso da estrutura física e humana do Detran/RJ em

Saquarema, conhecido feudo desse mencionado deputado estadual, na campanha eleitoral de

Franciane Motta2.

30. Esses elementos de prova confirmam que não só o parlamentar, como

todo seu núcleo operacional, não se intimidaram com o avanço das investigações; ao

contrário, não só têm agido para frustrá-las, abalando a investigação criminal, como também

se mantêm em reiteração delitiva, na medida em que permanecem operando de forma

2 https://oglobo.globo.com/brasil/dez-onibus-que-faziam-transporte-irregular-para-comicio-de-candidata-em-saquarema-sao-apreendidos-23011104?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo

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associada à organização criminosa, com ingerências em diversos órgãos públicos, o que

compromete a ordem pública.

II.3. Da quebra de sigilo telemático e do material apreendido no Detran/RJ durante a

fase ostensiva da operação Furna da Onça: “quem é quem” no esquema de loteamento

de cargos e mão de obra terceirizada objeto de apuração; contatos recentes e reiterados

entre o secretário estadual de Governo, os parlamentares requeridos e a presidência da

autarquia; manutenção do vínculo subjetivo característico da associação em organização

criminosa.

31. Nos Autos da Petição n. 2018.7402.000014-3, foi deferido o

afastamento de sigilos telemáticos formulado pelo Ministério Público Federal, o que

possibilitou a obtenção de valiosas informações para a compreensão da sistemática de

distribuição de postos de trabalhos em variados órgãos e entidades do estado do Rio de

Janeiro.

32. Os e-mails que serão explorados adiante foram obtidos da conta

[email protected], de propriedade do deputado estadual ANDRÉ CORREA, e datam de

2013. Portanto, embora não sejam atuais, eles são temporalmente compatíveis com os fatos

sob investigação, ajudando a esclarecer quem estava envolvido no esquema, quais as

respectivas atribuições, além dos parâmetros para as designações das áreas e das vagas.

33. A primeira série de e-mails abarca mensagens trocadas entre os

deputados estaduais ANDRÉ CORREA e EDSON ALBERTASSI, o então secretário

estadual de Governo WILSON CARLOS, com cópia enviada para PAULO MELO, à época

presidente da Alerj, e AFFONSO MONNERAT, chefe de gabinete da secretaria estadual de

Governo. O objeto da polêmica é a exoneração do chefe da Fundação Leão XIII no Município

de Barra do Piraí.

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34. A conversa fala por si quanto à existência do esquema criminoso,

trazendo três detalhes interessantes: inicialmente, constata-se que a administração do esquema

de loteamento competia à secretaria de Governo, na figura de WILSON CARLOS e seu

chefe de gabinete, AFFONSO MONNERAT; no mais, aos parlamentares eram afetos cargos

comissionados e vagas de terceirizados segundo sua votação na área de influência (os

deputados estaduais mais votados no município ganhavam o direito de indicar as chefias dos

órgãos); finalmente, vê-se que havia um acordo voltado a manter indicações anteriores,

mesmo que, em função do critério usado para distribuição das vagas (maior votação), os

deputados estaduais por elas responsáveis já não pudessem mais arcar com elas.

35. A troca de mensagens seguinte, em que ANDRÉ CORREA perquire

WILSON CARLOS acerca de postos de trabalho na Delegacia Legal em Cantagalo, reforça

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o entendimento de que WILSON CARLOS e AFFONSO MONNERAT estavam à frente da

gestão da pauta relativa às indicações políticas. Evidencia-se, em soma, que o que rege a

possibilidade de um parlamentar realizar a indicação é, de fato, a expressividade de sua

votação no município.

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36. Por último, a sequência de e-mails abaixo joga luzes sobre a relevância

estratégica dessa pauta, a ponto de justificar que WILSON CARLOS frisasse a ANDRÉ

CORREA que isso era questão que não deveria admitir influências outras que não a dos

deputados estaduais, intermediadas pelo do Executivo estadual, fazendo cessar quaisquer

pretensões de controle de Prefeituras sobre ela. Toda conversa foi acompanhada por

AFFONSO MONNERAT. Confira-se:

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37. Parece mais claro agora o motivo pelo qual a conversa travada entre o

então presidente do TCE/RJ, Aloysio Neves, e André Vinícius Gomes da Silva, ocorrida em

2014, mencionava AFFONSO MONNERAT como a pessoa a quem se devia recorrer para

obter indicações no posto do Detran/RJ no município de Magé.

38. Evidente, também, que, no depoimento prestado por ocasião de sua

prisão temporária, AFFONSO MONNERAT ofereceu uma versão absolutamente inverídica,

ao sustentar que “QUE […] não reconhece a existência de divisão de cargos dentro do

DETRAN/RJ, nem em outros orgãos terceirzados; QUE o declarante não sabe dizer se há

divisão de cargos por deputados ou mesmo se há algum tipo de controle de indicados por

determinado deputado; […] QUE não sabe declinar qual o critério de escolha destas pessoas

ou por qual motivo estas seriam indicadas pelos deputados;”.

39. Merece destaque, ainda, o fato de que o esquema de loteamento de

vagas de emprego terceirizadas no Detran/RJ e em outros órgãos públicos envolve os mesmos

personagens já conhecidos do esquema de distribuição de propina – leia-se: secretaria

estadual de Governo, presidência da Alerj, deputado estaduais –, seguindo, inclusive, o

mesmo fluxograma de tomada de decisões – leia-se: acordo inicial com o Executivo,

execução controlada pela secretaria estadual de Governo, indicação de nomes pelos deputados

estaduais –, o que ratifica a percepção de que esse tipo de indicação compunha o pacote de

vantagens ilícitas de que o Executivo se valia em troca de apoio político na Alerj.

40. Com isso em mente, as provas apreendidas por ocasião da recente

deflagração da operação Furna da Onça estarão melhor contextualizadas.

41. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão pessoais e

domiciliares, foram arrecadados diversos documentos que demonstram não apenas a

existência do esquema criminoso nos exatos contornos citados no requerimento inicial dos

presentes autos, como também, e sobretudo, sua atualidade.

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42. No Detran/RJ, mais especificamente na recepção específica da sala da

presidência e na recepção geral do andar em que localizada a presidência (21o andar), duas

ordens de planilhas chamaram a atenção.

43. A primeira delas consiste em planilhas de controle informal de ligações

direcionadas ao pessoal lotado na presidência da autarquia, hoje ocupada por LEONARDO

JACOB. A planilha indica a data e a hora das ligações, os nomes e números de telefone de

quem ligou e quem era o destinatário do contato. Os documentos apreendidos dizem respeito

ao período de agosto a novembro do corrente ano.

44. O confronto com as planilhas indica que diversas pessoas ligadas a

vários deputados estaduais que aparecem na planilha de distribuição de postos de trabalho

apreendida na operação Cadeia Velha em posse de EDSON ALBERTASSI, objeto da

presente investigação, acionavam constantemente LEONARDO JACOB e seus assessores.

45. Entre os contatos registrados, há aqueles que se originaram de

parlamentares ora requeridos: ANDRÉ CORREA, CHIQUINHO DA MANGUEIRA,

LUIZ MARTINS, MARCELO SIMÃO, MARCOS ABRAHÃO e MARCUS VINÍCIUS

“NESKAU”. Confira-se alguns exemplos:

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46. Ganham destaque, ainda, a série de contatos feitos pela Secretaria de

Governo e pelo próprio AFFONSO MONNERAT, então secretário estadual de Governo.

Como foi visto, e-mails obtidos a partir da quebra de sigilo telemático decretada em face do

também deputado estadual ANDRÉ CORREA revelaram, com riqueza de detalhes, que

AFFONSO MONNERAT era o responsável por administrar a demandas dos parlamentares

relativa ao loteamento de cargos no Detran/RJ.

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47. Como visto, AFFONSO MONNERAT assumira durante, a atual

gestão, o cargo que antes pertencia a WILSON CARLOS, e, com ele, as funções relativas à

administração dessa parte do pacote de vantagens indevidas distribuídas a deputados

estaduais. Também fica fácil compreender porque, em conversa travada em 2014, mencionada

no requerimento inicial, o entao presidente do TCE/RJ, Aloysio Neves, menciona ao seu

interlocutor que AFFONSO MONNERAT seria a pessoa a ser acionada para garantir a

nomeação de duas pessoas de confiança de André no posto do Detran/RJ no município de

Magé.

48. Em paralelo, nas salas de recepção geral do andar da presidência do

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Detran/RJ, foram achadas planilhas de controle de acesso de pessoas à sala da presidência.

Nelas, há a indicação de data, hora, nome, procedência e destino do visitante. Novamente,

observa-se que os deputados estaduais ora requeridos e seus representantes visitavam a

presidência do Detran/RJ com frequência.

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49. Essas provas precisam ser lidas em conjunto com aquelas já exploradas

no requerimento inicial. Embora possa se considerar natural uma certa proximidade entre

deputados estaduais e o presidente do Detran/RJ – na medida em que a Alerj tem atribuição

para deliberar sobre questões de trânsito e pode ser do interesse dos parlamentares entender

dinâmicas e necessidades da autarquia –, esses contatos fonados e presenciais, não só por sua

frequência, mas também porque nem todos os deputados estaduais ligavam ou iam até o

Detran/RJ, respaldam a existência de uma aproximação fisiologista entre certos parlamentares

e a presidência da autarquia. No mesmo sentido, os assuntos tratados na reunião muitas vezes

eram de natureza particular, considerando aquilo que foi expressamente indicado como

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motivo do encontro nas planilhas.

50. Na verdade, em cerca de quatro meses, se considerada a quantidade

total de deputados estaduais, constata-se que a grande quantidade de registros envolvendo os

integrantes do Legislativo era composta basicamente de muitas incursões dos mesmos

parlamentares, muitos dos quais os ora requeridos, o que, dado o contexto da presente

investigação, torna-se mais uma prova das relações espúrias que se estabeleceram entre a

Alerj e o Detran/RJ, destinadas exclusivamente a atender interesses privados dos agentes

públicos e do esquema criminoso, e, ainda, do vínculo subjetivo entre diversos investigados

em organização criminosa.

51. A importância econômica do Detran/RJ para os deputados estaduais, em

face dos múltiplos esquemas criminosos que se instalam na autarquia, notadamente os

voltados ao serviço de vistoria, é perceptível no áudio abaixo transcrito. Nele, a esposa de

MARCOS ABRAHÃO fala que ouviu uma reportagem em que o governador recém-eleito

teria prometido encerrar o serviço de vistoria no Detran/RJ, ao que o parlamentar responde

que “aí, vai ficar sem grana; mas faz diferença, não… o Detran não acaba, só acaba a

vistoria”.

Abrahão X Eucimar – vai acabar a vistoria, mas emite doc.

Eucimar: Oi “mei”.

Abrahão: Oi amor.

Eucimar: já desceu, meu filho?

Abrahão: To no gabinete já há um tempão.

Eucimar: Ah tá. É… Não porque falei aqui… vou ver se Marcos jádesceu porque se não desceu não vou nem almoçar, mas já tem umtempão que te liguei.

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Abrahão: Amor… Amor… O bicho aqui tá pegando, na presidênciada casa haha

Eucimar: é quem é que quer?

Abrahão: tem os dois Andrés. Tem um que tá aqui, não posso deixarnão. Sem contar que ainda tem um monte de gente querendo me levarpara conversar com o governador eleito.

Eucimar: Eita… Marcos...

Abrahão: Tem que esperar, tem que esperar… não é o momento deconversar com ninguém, deixa até a pessoa certa chegar. Porenquanto é muita gente querendo, mas tem que ser a pessoa certa.

Eucimar: querendo que você vá?

Abrahão: querendo me levar para conversar com o cara. Tem quefazer comício pô, não posso…

Eucimar: quem quer levar você?

Abrahão: Pedro Fernandes, André Ceciliano...

Eucimar: Nós vimos uma reportagem, uma entrevista, umareportagem que ele deu, que ele vai tirar a vistoria dos Detrantodinho.

Abrahão: Aí vai ficar sem grana haha. Mas não faz diferença não… ODetran não acaba, só acaba a vistoria.

Eucimar: Não, eu sei amor, acaba a vistoria, ué. Sei lá aonde fazvistoria aqui em Rio Bonito.

Abrahão: é… não… acaba a vistoria mas tem muito documento, tátranquilo. “Vambora”. Vamo trabalhar, vamo trabalhar, “vambora”.

Eucimar: Manda eles falarem com esse tal de...

Abrahão: tá bom, amor. A gente fala pessoalmente.

Eucimar: tá bom amor. Beijo, tchau.

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52. Já o diálogo abaixo, entre o deputado estadual MARCOS ABRAHÃO

e LEONARDO MENDONÇA ANDRADE, seu assessor, revela que, ao contrário do que

alegou AFFONSO MONNERAT durante seu depoimento, a contratação e a demissão de

postos de trabalho terceirizados nada tem a ver com uma suposta “geração de empregos em

suas regiões”, na medida em que ou pessoas que já atendem a esse requisito são demitidas, ou

os parâmetros para indicação nada têm a ver com essa circunstância.

Abrahão X Léo – Detran de Itaboraí tem só gente nossa

Léo: Tem alguém em Itaboraí que não é nós? E que, tipo, identidade?

Abrahão: Hum… Identidade… só… por quê que tá pensando ainda?Por quê que…?

Léo: Não, porque é promoção, chefe. Não dá para trocar assim. Maso senhor também não tinha dito nada que era para a gente mexernisso aquela hora. Lembra? Que eu falei... quem tá lá ficou aservidora mas que tá com a gente, que foi para todas as reuniões, queparte de vocês tudo.

Abrahão: E aquele tal de Xuxu? Quem é esse cara?

Léo: Xuxu? Identidade não é não.

Abrahão: Identidade.

Léo: Não tem homem lá na identidade. Abrahão: Não tem homem na identidade?

Léo: não tem homem na identidade até agora.

Abrahão: Ah… então não trabalha lá não… devia tá lá.

Léo: não tem homem lá, só tem mulher. É Bia, é…(inaudível) tudonosso.

Abrahão: O cara podia tá lá na hora. Chegou de outro posto(inaudível). Agora só tem mulher lá. Léo tá falando.

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Léo: eu, porra. To te falando, porra. É Bia, Viviane…

Abrahão: Bia, Viviane… Joice, Joicinha?

Léo: Não. Joicinha é de shopping.

Abrahão: é do shopping que eu to falando, porra.

Léo: Ah tá. No shopping tem o Ronaldo, que não é nosso.

Abrahão: Ronaldo que não é nosso?

Léo: Isso.

Abrahão: Por que que ele tá lá e não é nosso?

Léo: porque ainda não trocamos. Mas, também, se até agora e fechoucom a gente...já falou que se fechar ficava. (inaudível) a gente tira…

Abrahão: vamo tirar, vamo tirar…

Léo: beleza.

Abrahão: vou mandar o nome da pessoa para botar no lugar dele.Outra mulher. Só tem ele lá?

Léo: de homem só.

Abrahão: tem dois homens lá?

Léo: um gayzão e um gayzinho que é nosso também, no jardimbotânico, Marcos, seu xará.

Abrahão: Preto?

Léo: não.

Abrahão: Não tem um negro Marcos?

Léo: é. Marcos.

Abrahão: é a gente ou não?

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Léo: é, a gente pô. Nós que botamos na (inaudível) da frente.

Abrahão: o da frente é nós?

Léo: na frente, o que? Na recepção?

Abrahão: É.

Léo: (inaudível). Renato que tá falando contigo?

Abrahão: É.

Léo: porra, manda ele parar de (inaudível)… eu to sabendo que ele táperguntando um monte de coisa já.

Abrahão: ah tá, beleza.

Léo: fica querendo vaga... (inaudível).

Abrahão: Então tá, Léo. Assim que eu acabar (inaudível).

53. A foto a seguir, tirada do celular apreendido junto a ALCIONE, chefe

de gabinete do deputado estadual MARCOS ABRAHÃO, demonstram que, na esteira do que

já se verificava a partir das planilhas apreendidas na operação Cadeia Velha, o esquema de

loteamento de cargos públicos e vagas de emprego terceirizado não está adstrito ao Detran/RJ;

ao contrário, contamina inúmeros órgãos públicos fluminenses, tais como a Fundação Leão

XIII. Confirmou-se também que cada parlamentar detém uma área de ingerência.

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54. Em sentido idêntico, no gabinete do deputado estadual LUIZ

MARTINS, foram encontrados documentos que se referem à Faetec, à Fundação Leão XIII, à

FIA e à Secretaria Estadual de Saúde, demonstrando a alta capilaridade da organização

criminosa.

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55. Na casa de SHIRLEI, ex-chefe de gabinete de EDSON ALBERTASSI

e ainda com vínculos intensos com este parlamentar, além da enorme quantidade de planilhas

de controle de indicação de cargos, organizadas e armazenadas em pastas físicas devidamente

recolhidas, foi encontrado um documento que revela que a organização criminosa se deteve

na análise da planilha apreendida na operação Cadeia Velha e ostensivamente divulgada na

mídia, possivelmente para fins de estratégia de defesa – o uso de termos como “citado” e

“divulgação” permite esse entendimento.

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56. Convém frisar que a manutenção do estreito vínculo entre SHIRLEI e

o deputado estadual EDSON ALBERTASSI não se encerrou com sua exoneração do cargo

de chefe de gabinete. Ao contrário, ela segue sendo pessoa de confiança do parlamentar, seu

braço operacional, e, sobretudo, continua agindo para atender seus interesses pessoais.

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57. Do requerimento inicial dos presentes autos, constou diálogo travado

entre SHIRLEI e homem identificado apenas como “Délcio”, em que ela intermedia a

indicacao de um auditor para a Fundacao da Infancia e Adolescencia (FIA), afirmando que “e

o nome do ALBERTASSI que esta em jogo la” – ou seja, explicito desejo de blindagem das

acoes do parlamentar no orgao, mediante escolha de um auditor com ele alinhado. Pois bem:

um dos documentos arrecadados consiste em uma anotação, feita à mão, que indica que, de

fato, um homem identificado apenas como “Oscar” foi cogitado para substituir “Adalberto”,

que, no diálogo, é aquele que se estava se afastando e deixando o cargo vago. Como não há

data referente à anotação, não é possível saber se ela é anterior ou posterior ao diálogo.

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58. Em outra anotação, SHIRLEI pede a “Jackson” - trata-se de Jackson de

Oliveira Emerick, ex-assessor de EDSON ALBERTASSI, hoje lotado na TV Alerj – que veja

a situação de “Alex” na TV Alerj com Rafael Picciani. Conforme se observa, não só a rede de

ingerência de EDSON ALBERTASSI continua firme, mesmo após sua prisão, como também

se mantém o vínculo associativo típico de organização criminosa entre ele e JORGE

PICCIANI, através da pessoa de Rafael Picciani, líder do MDB na Alerj.

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II.4. Dos achados de inteligência fiscal e da grande quantidade de dinheiro em espécie

apreendida durante a operação Furna da Onça: origem ilícita dos valores e atualidade

de condutas relativas à lavagem de dinheiro.

59. Em outubro de 2018, a Receita Federal do Brasil, por meio da

Coordenação-Geral de Pesquisa e Investigação do Escritório de Pesquisa e Investigação Fiscal

da 7a Região Fiscal – ESPEI, produziu a Informação de Pesquisa e Investigação n.

RJ20180059, que traz indicativos contundentes de trânsito de valores de origem ilícita e

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consequente necessidade de ocultação e blindagem patrimonial por parte dos parlamentares

estaduais em que se foca a presente investigação, valendo-se, para tanto, de suas respectivas

pessoas de confiança, também requeridas (v. doc. 1). Muito desses indicativos foram

reforçados, agora, pelo resultado das medidas da fase ostensiva da operação Furna da Onça,

como será discutido a seguir.

a) Análise fiscal do deputado estadual ANDRÉ CORREA e seu núcleo financeiro-

operacional.

60. Segundo apurado pela Receita Federal, ANDRÉ CORREA apresentou

excesso de movimentação financeira, em comparação aos rendimentos líquidos declarados,

em 2012, 2014, 2015 e 2017 – portanto, em período compatível com o esquema de pagamento

de propina sob investigação, que ocorreu entre 2011 e 2014, segundo mandato do ex-

governador SÉRGIO CABRAL.

61. A relacao entre a movimentacao financeira e os rendimentos declarados

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– considerados valores liquidos provavelmente creditados em conta – deve ser a mais proxima

possivel. Quanto maior o desequilibrio, maiores as chances de irregularidades. Quando os

valores movimentados pelo sistema bancário são superiores aos rendimentos declarados pelo

contribuinte, ha indicios de obtencao de recursos nao declarados – portanto, de origem

desconhecida do Fisco – ou ate mesmo a movimentacao de recursos pertencentes a terceiros.

62. Destaque-se, a esse propósito, que, em 2012 (ano-calendário 2011) e

2015 (ano-calendário 2014), o parlamentar apresentou movimentação financeira mais de duas

vezes superior aos rendimentos lícitos conhecidos.

63. Referido parlamentar recebia os valores pagos a título de propina por

meio de seu então chefe de gabinete, JOSÉ ANTONIO WERMELINGER MACHADO,

em relação ao qual a investigação fiscal concluiu que, entre 2014 e 2017, a movimentação

financeira chegou a ser mais de cem vezes superior aos rendimentos lícitos declarados. Em

março de 2016, JOSÉ ANTONIO movimentou cerca de trinta e quatro milhões de reais sem

origem conhecida.

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64. No momento do cumprimento dos mandados de prisão temporária e

busca e apreensão em face de JOSÉ ANTÔNIO, foram encontrados em sua residência R$

60.000,00 em moeda nacional.

65. A análise fiscal conjunta de ANDRÉ CORREA e JOSÉ ANTONIO

confirma que, de fato, o parlamentar usava e ainda tem usado seu assessor como seu principal

operador financeiro. Note-se que, embora não se tenha encontrado grande discrepância entre

movimentação financeira e rendimentos declarados no caso de ANDRÉ CORREA, o fato de

que se tenha detectado, em 2016, uma movimentação financeira sem lastro na ordem de trinta

e quatro milhões de reais, capitaneada por JOSÉ ANTONIO, bem como tenha havido

apreensão de dinheiro em espécie na casa deste assessor, demonstra que se estabeleceu entre

eles uma comunhão patrimonial com objetivo de ocultação de bens e valores e dissimulação

de suas origens.

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66. O mesmo tipo de análise cabe quanto a LUIZ MARTINS e DANIEL

BARBIRATTO. Enquanto as diligências na casa do deputado estadual resultaram

infrutíferas, na casa de DANIEL foram apreendidas mais de R$ 800.000,00 em espécie (entre

moeda nacional e estrangeira). Essa apreensão está conforme a análise fiscal realizada pela

Receita Federal do Brasil, no sentido de que LUIZ MARTINS fazia e faz trafegar quantias

relevantes de dinheiro por fora do sistema bancário, valendo-se, para tanto, de DANIEL. Essa

escolha se deve justamente, é claro, em função da origem ilícita desses valores.

67. Em ambos os casos, a prisão preventiva se faz necessária e adequada,

primeiro, para garantir a ordem econômica – seja porque não foi possível rastrear todo o

patrimônio oculto dos envolvidos, seja porque é preciso desarticular as empreitadas

econômicas dos braços da organização criminosa – e, segundo, para garantir a aplicação da lei

penal e a instrução criminal, dado que o fácil acesso a recursos ainda não rastreados pode

implicar no seu ocultamento e, ainda, no uso para fuga.

68. A movimentação de recursos de origem desconhecida – notadamente na

extensão do que foi detectado para o parlamentar e seu núcleo operacional – aliada ao uso

comprovado, por diversos elementos, do operador para receber “mensalinhos” e “prêmios”

em troca de apoio político, caracteriza condutas tipificadas criminalmente como lavagem de

dinheiro (art. 1o, caput, da Lei n. 9.613/98), que se revelam atuais, dado o período de análise

da Informação de Pesquisa e Investigação n. RJ20180059.

b) Análise fiscal do deputado estadual CORONEL JAIRO e seu núcleo financeiro-

operacional.

69. Segundo apurado pela Receita Federal, CORONEL JAIRO apresentou

excesso de movimentação financeira, em comparação aos rendimentos líquidos declarados,

em 2014 (ano-calendário 2013), 2015 (ano-calendário 2014), 2016 (ano-calendário 2015) e

2017 (ano-calendário 2016) – portanto, em período compatível com o esquema de pagamento

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de propina sob investigação, que ocorreu entre 2011 e 2014, segundo mandato do ex-

governador SÉRGIO CABRAL.

70. A relacao entre a movimentacao financeira e os rendimentos declarados

– considerados valores liquidos provavelmente creditados em conta – deve ser a mais proxima

possivel. Quanto maior o desequilibrio, maiores as chances de irregularidades. Quando os

valores movimentados pelo sistema bancário são superiores aos rendimentos declarados pelo

contribuinte, ha indicios de obtencao de recursos nao declarados – portanto, de origem

desconhecida do Fisco – ou ate mesmo a movimentacao de recursos pertencentes a terceiros.

71. Em complementação, apurou-se que o parlamentar costumava manter

consigo grande quantidade de dinheiro em especie, moeda nacional, o que nao e habitual, uma

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vez que tal pratica, alem de nao conferir a seguranca necessaria ao numerario, importa em

perda de rendimentos.

72. Cumpre destacar que, a partir do exercicio de 2012, nao constam

informacoes sobre dinheiro em especie, tampouco eventual aquisicao de bens, reducao de

divida, concessao de emprestimos ou alguma doacao que justificasse sua utilizacao, nao sendo

possivel identificar como esses valores foram usados pelo investigado.

73. A Receita Federal também constatou, com base no cruzamento entre os

bens indicados nas declarações de imposto de renda e os bens detectados a partir da emissão

de notas fiscais eletrônicas, que, em 2016, CORONEL JAIRO deixou de declarar a

aquisição de um veículo de luxo, avaliado em cerca de R$170.000,00, consumando-se, assim,

ocultação patrimonial.

74. Por fim, foram identificadas doações substanciais feitas pelo deputado

estadual a seus filhos, cujos sigilos não foram quebrados uma vez que não havia indícios de

que o investigado pudesse estar lavando dinheiro por meio de seus familiares.

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75. Sabia-se, contudo, seja por relatório de inteligência financeira elaborado

pelo COAF, seja por áudios captados em interceptação telefônicas, que, entre 2016 e 2017,

JORGE LUIS DE OLIVEIRA FERNANDES e outros servidores também lotados no

gabinete do referido parlamentar haviam movimentado mais de dez milhões de reais – os

valores que circularam por meio de JORGE LUIS foram mais significativos. O requerido

JORGE LUIS tambem protagonizou diversas conversas telefonicas recentes, interceptadas

com autorizacao deste juizo, dizendo respeito a nomeacoes em cargos publicos em troca de

apoio eleitoral ao CORONEL JAIRO.

76. Pois bem. A investigação fiscal concluiu que, entre 2008 e 2017, a

movimentação financeira de JORGE LUÍS sempre foi muito superior aos rendimentos lícitos

declarados. Entre 2012 e 2016, ela variou de quatro a nove vezes o valor dos rendimentos

lícitos declarados. Em 2017, JORGE LUÍS movimentou mais de um milhão de reais sem

origem conhecida.

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77. A movimentação de recursos de origem desconhecida – notadamente na

extensão do que foi detectado para o parlamentar e seu núcleo operacional – aliada ao uso

comprovado de interpostas pessoas para movimentação de recursos caracteriza condutas

tipificadas criminalmente como lavagem de dinheiro (art. 1o, caput, da Lei n. 9.613/98), que

se revelam atuais, dado o período de análise da Informação de Pesquisa e Investigação n.

RJ20180059.

c) Análise fiscal do deputado estadual LUIZ MARTINS e seu núcleo financeiro-

operacional.

78. Segundo apurado pela Receita Federal, em 2009 e 2010, LUIZ

MARTINS apresentou movimentação financeira bastante deficitária em comparação aos

rendimentos líquidos declarados. Em menor grau, o mesmo padrão (déficit) se repetiu em

2012 (ano-calendário 2011), 2013 (ano-calendário 2011), 2016 e 2017 – portanto, em período

compatível com o esquema de pagamento de propina sob investigação, que ocorreu entre

2011 e 2014, segundo mandato do ex-governador SÉRGIO CABRAL.

68Ministério Público Federal – Procuradoria Regional da República – 2ª Região

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79. A relacao entre a movimentacao financeira e os rendimentos declarados

– considerados valores liquidos provavelmente creditados em conta – deve ser a mais proxima

possivel. Quanto maior o desequilibrio, maiores as chances de irregularidades. Quando os

valores movimentados em conta bancaria sao inferiores aos rendimentos declarados pelo

contribuinte, existe a possibilidade de haver recursos circulando a margem do sistema

bancario.

80. Em complementação, apurou-se que o parlamentar costumava manter

consigo grande quantidade de dinheiro em especie, moeda nacional, o que nao e habitual, uma

vez que tal pratica, alem de nao conferir a seguranca necessaria ao numerario, importa em

perda de rendimentos.

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81. Cumpre destacar que, a partir do exercicio de 2014, nao constam

informacoes sobre dinheiro em especie, tampouco eventual aquisicao de bens, reducao de

divida, concessao de emprestimos ou alguma doacao que justificasse sua utilizacao, nao sendo

possivel identificar como esses valores foram usados pelo investigado.

82. Referido parlamentar recebia os valores pagos a título de propina por

meio de seu enteado, DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA (DANIEL

“MARTINS”), em relação ao qual a investigação fiscal concluiu que, entre 2008 e 2017, a

movimentação financeira chegou a ser mais de quinze vezes superior aos rendimentos lícitos

declarados. Em março de 2012, DANIEL movimentou cerca de um milhão de reais sem

origem conhecida.

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83. Além disso, a Receita Federal apurou que, em 2010, 2012, 2013, 2014,

2015 e 2017, DANIEL apresentou variação patrimonial a descoberto, ou seja, os valores dos

dispendios/aplicacoes nao estao respaldados pelos rendimentos declarados. O desequilibrio

entre origens e aplicacoes evidencia a obtencao de recursos nao declarados e, portanto, nao

conhecidos pelo Fisco.

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84. No momento do cumprimento dos mandados de prisão temporária e

busca e apreensão em face de DANIEL, foram encontrados em sua residência mais de R$

730.000,00 em moeda nacional, além de EUR 11.000,00 (onze mil euros) e US$ 23.000,00

(vinte e três mil dólares) – o requerido informou que esses valores em espécie são em parte

seu, em parte de seu pai – e relógios de alto valor.

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85. Tais constatações, lidas em conjunto das conclusões vinculadas a LUIZ

MARTINS (relacao entre a movimentacao financeira e os rendimentos declarados deficitaria,

grande quantidade de dinheiro em espécie guardada consigo), permitem concluir que, de fato,

DANIEL era o operador financeiro de LUIZ MARTINS e que ambos movimentavam de

forma conjunta, com o fim de ocultação e blindagem patrimonial, recursos de origem

desconhecida do Fisco (facilmente reportável, contudo, aos valores recebidos a título de

propina, se não no todo, ao menos em parte).

86. A movimentação de recursos de origem desconhecida – notadamente na

extensão do que foi detectado para o parlamentar e seu núcleo operacional – aliada ao uso

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comprovado, por diversos elementos, do operador para receber “mensalinhos” e “prêmios”

em troca de apoio político, caracteriza condutas tipificadas criminalmente como lavagem de

dinheiro (art. 1o, caput, da Lei n. 9.613/98), que se revelam atuais, dado o período de análise

da Informação de Pesquisa e Investigação n. RJ20180059.

d) Análise fiscal do deputado estadual MARCOS ABRAHÃO e seu núcleo financeiro-

operacional.

87. Segundo apurado pela Receita Federal, MARCOS ABRAHÃO

apresentou excesso de movimentação financeira, em comparação aos rendimentos líquidos

declarados, entre 2009 (ano-calendário 2008) e 2012 (ano-calendário 2011) – portanto, em

período compatível com o esquema de pagamento de propina sob investigação, que ocorreu

entre 2011 e 2014, segundo mandato do ex-governador SÉRGIO CABRAL.

88. A relacao entre a movimentacao financeira e os rendimentos declarados

– considerados valores liquidos provavelmente creditados em conta – deve ser a mais proxima

possivel. Quanto maior o desequilibrio, maiores as chances de irregularidades. Quando os

valores movimentados pelo sistema bancário são superiores aos rendimentos declarados pelo

contribuinte, ha indicios de obtencao de recursos nao declarados – portanto, de origem

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desconhecida do Fisco – ou ate mesmo a movimentacao de recursos pertencentes a terceiros.

89. Em complementação, apurou-se que o parlamentar costumava manter

consigo grande quantidade de dinheiro em especie, moeda nacional, o que nao e habitual, uma

vez que tal pratica, alem de nao conferir a seguranca necessaria ao numerario, importa em

perda de rendimentos.

90. A Receita Federal também constatou, com base no cruzamento entre os

bens indicados nas declarações de imposto de renda e os bens detectados a partir da emissão

de notas fiscais eletrônicas, que, em 2014 (ano-calendário 2013), MARCOS ABRAHÃO

deixou de declarar a aquisição de um veículo de luxo, avaliado em cerca de R$190.000,00,

consumando-se, assim, ocultação patrimonial.

91. Referido parlamentar recebia os valores pagos a título de propina por

meio de sua então chefe de gabinete, ALCIONE CHAFFIN ANDRADE FABRI, em relação

à qual a investigação fiscal concluiu que, entre 2012 e 2017, a movimentação financeira

chegou a ser mais de três vezes superior aos rendimentos lícitos declarados.

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92. Sabia-se, ainda, por relatório de inteligência financeira elaborado pelo

COAF, que LEONARDO MENDONÇA ANDRADE, assessor no gabinete do deputado

estadual MARCOS ABRAHAO, fez trafegar, em apenas uma de suas contas, R$ 289.524,00,

com movimentacoes atipicas, notadamente grande quantidade de creditos e debitos efetuados

por outras pessoas com vinculos funcionais com MARCOS ABRAHAO – entre elas, a

mencionada ALCIONE. Áudios captados em interceptação telefônicas revelaram que,

embora registrada em nome de LEONARDO ANDRADE, a empresa Fabrica Metal Bonito

Metalurgica – ME pertencia de fato a MARCOS ABRAHÃO, funcionando seu assessor

como “laranja”.

93. Pois bem. A investigação fiscal concluiu que, em 2008, 2014, 2015,

2016 e 2017, a movimentação financeira de LEONARDO ANDRADE sempre foi superior

aos rendimentos lícitos declarados.

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94. No momento do cumprimento dos mandados de prisão temporária e

busca e apreensão em face de MARCOS ABRAHÃO, foram encontrados em sua residência

mais de R$ 50.000,00 em moeda nacional, dinheiro que o investigado tentou ocultar,

jogando pela janela, mas que foi recuperado pela Polícia Federal.

95. A movimentação de recursos de origem desconhecida – notadamente na

extensão do que foi detectado para o parlamentar e seu núcleo operacional – aliada ao uso

comprovado de interpostas pessoas para movimentação de recursos caracteriza condutas

tipificadas criminalmente como lavagem de dinheiro (art. 1o, caput, da Lei n. 9.613/98), que

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se revelam atuais, dado o período de análise da Informação de Pesquisa e Investigação n.

RJ20180059.

d) Análise fiscal do deputado estadual MARCUS VINÍCIUS “NESKAU” e seu núcleo

financeiro-operacional.

96. Segundo apurado pela Receita Federal, MARCUS VINÍCIUS

“NESKAU” apresentou excesso de movimentação financeira, em comparação aos

rendimentos líquidos declarados, entre 2007 e 2017 – portanto, em período compatível com o

esquema de pagamento de propina sob investigação, que ocorreu entre 2011 e 2014, segundo

mandato do ex-governador SÉRGIO CABRAL.

97. A relacao entre a movimentacao financeira e os rendimentos declarados

– considerados valores liquidos provavelmente creditados em conta – deve ser a mais proxima

possivel. Quanto maior o desequilibrio, maiores as chances de irregularidades. Quando os

valores movimentados pelo sistema bancário são superiores aos rendimentos declarados pelo

contribuinte, ha indicios de obtencao de recursos nao declarados – portanto, de origem

desconhecida do Fisco – ou ate mesmo a movimentacao de recursos pertencentes a terceiros.

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98. Destaque-se, a esse propósito, que, em 2010, 2011 e 2017, o

parlamentar apresentou movimentação financeira mais de duas vezes superior aos

rendimentos lícitos conhecidos.

99. A Receita Federal também constatou, com base no cruzamento entre os

bens indicados nas declarações de imposto de renda e os bens detectados a partir da

Declaracao de Informacoes sobre Atividades Imobiliarias (DIMOB), que, em 2015,

MARCUS VINÍCIUS “NESKAU” deixou de declarar a aquisição de um imóvel de luxo em

Itaipava/RJ, avaliado em cerca de R$ 700.000,00, consumando-se, assim, ocultação

patrimonial. Em consulta a Declaracao sobre Operacoes Imobiliarias (DOI), foi possivel

concluir que, em 2011, um imóvel adquirido pelo parlamentar em Búzios/RJ, de valor

estimado em R$ 200.000,00, não foi declarado.

100. Da mesma forma, com base no cruzamento entre os bens indicados nas

declarações de imposto de renda e os bens detectados a partir da emissão de notas fiscais

eletrônicas, que, entre 2014 e 2017, MARCUS VINÍCIUS “NESKAU” deixou de declarar a

aquisição de quatro veículos de luxo, todos avaliados em valores maiores que R$140.000,00,

consumando-se, assim e novamente, ocultação patrimonial.

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101. Em 2013 e 2014, MARCUS VINÍCIUS “NESKAU” apresentou

variacao patrimonial a descoberto, ou seja, os valores dos dispendios/aplicacoes nao estao

respaldados pelos rendimentos declarados. O desequilibrio entre origens e aplicacoes

evidencia a obtencao de recursos nao declarados e, portanto, nao conhecidos pelo Fisco.

102. Referido parlamentar recebia os valores pagos a título de propina por

meio de MARCUS WILSON VON SEEHAUSEN, em relação ao qual a investigação fiscal

concluiu que, entre 2012 (ano-calendário 2011) e 2014 (ano-calendário 2013) e em 2017, a

80Ministério Público Federal – Procuradoria Regional da República – 2ª Região

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movimentação financeira chegou a ser mais de sete vezes superior aos rendimentos lícitos

declarados.

103. A Receita Federal também constatou, com base no cruzamento entre os

bens indicados nas declarações de imposto de renda e os bens em seu nome no Renavam, que,

entre 2008 e 2013, MARCUS WILSON deixou de declarar a aquisição de três veículos, um

deles avaliado em cerca de R$110.000,00, consumando-se, assim, ocultação patrimonial. Em

consulta ao registro de embarcações, também foram detectadas duas embarcações não

declaradas ao Fisco.

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104. Ainda com base no cruzamento entre os bens indicados nas declarações

de imposto de renda e, desta vez, os bens detectados a partir da Declaracao de Informacoes

sobre Atividades Imobiliarias (DIMOB), que, em 2007, MARCUS WILSON deixou de

declarar a aquisição de um imóvel de luxo na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ, avaliado em

cerca de R$ 700.000,00, consumando-se, assim, ocultação patrimonial.

105. A movimentação de recursos de origem desconhecida – notadamente na

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extensão do que foi detectado para o parlamentar e seu núcleo operacional – aliada ao uso

comprovado, por diversos elementos, do operador para receber “mensalinhos” e “prêmios”

em troca de apoio político, caracteriza condutas tipificadas criminalmente como lavagem de

dinheiro (art. 1o, caput, da Lei n. 9.613/98), que se revelam atuais, dado o período de análise

da Informação de Pesquisa e Investigação n. RJ20180059.

e) Análise fiscal do deputado estadual MARCELO SIMÃO.

106. Segundo apurado pela Receita Federal, MARCELO SIMÃO

apresentou excesso de movimentação financeira, em comparação aos rendimentos líquidos

declarados, em 2013 (ano-calendário 2012), 2015 (ano-calendário 2014), 2016 (ano-

calendário 2015) e 2015 (ano-calendário 2017) – portanto, em período compatível com o

esquema de pagamento de propina sob investigação, que ocorreu entre 2011 e 2014, segundo

mandato do ex-governador SÉRGIO CABRAL.

107. Entre 2007 e 2017, os rendimentos declarado foram de pouco mais de

quinze milhoes de reais, enquanto que os valores creditados nas contas do investigado

superaram os vinte e oito milhoes de reais – ou seja, mais de treze milhoes de reais sem

origem conhecida foram creditados em suas contas.

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108. Em complementação, apurou-se que o parlamentar costumava manter

consigo grande quantidade de dinheiro em especie, moeda nacional, o que nao e habitual, uma

vez que tal pratica, alem de nao conferir a seguranca necessaria ao numerario, importa em

perda de rendimentos.

109. Além disso, a Receita Federal apurou que, entre 2007 e 2010 e em 2012

(ano-calendário 2011), MARCELO SIMÃO apresentou variação patrimonial a descoberto,

ou seja, os valores dos dispendios/aplicacoes nao estao respaldados pelos rendimentos

declarados. O desequilibrio entre origens e aplicacoes evidencia a obtencao de recursos nao

declarados e, portanto, nao conhecidos pelo Fisco.

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110. A movimentação de recursos de origem desconhecida – notadamente na

extensão do que foi detectado para o parlamentar –, somada às circunstâncias já declinadas no

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requerimento inicial, caracteriza condutas tipificadas criminalmente como lavagem de

dinheiro (art. 1o, caput, da Lei n. 9.613/98), que se revelam atuais, dado o período de análise

da Informação de Pesquisa e Investigação n. RJ20180059.

f) Apreensão de dinheiro em espécie no escritório de CHIQUINHO DA MANGUEIRA.

111. No momento do cumprimento dos mandados de prisão temporária e

busca e apreensão em face de CHIQUINHO DA MANGUEIRA, foram encontrados em seu

escritório, em Vila Isabel, mais de R$ 80.000,00 em moeda nacional.

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III. DOS FUNDAMENTOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

112. Com vista a tudo quanto exposto, é necessária a decretação da prisão

preventiva dos seguintes requeridos:

1. AFFONSO HENRIQUE MONNERAT ALVES DA CRUZ;

2. ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA;

3. ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO;

4. CARLA ADRIANA PEREIRA;

5. DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA;

6. FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO;

7. FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO;

8. JAIRO SOUZA SANTOS;

9. JOSÉ ANTÔNIO WERMELINGER MACHADO;

10. LEONARDO MENDONÇA ANDRADE;

11. LUIZ ANTÔNIO MARTINS;

12. MAGNO CEZAR MOTTA;

13. MARCELO NASCIF SIMÃO;

14. MARCOS ABRAHÃO;

15. MARCUS VINICIUS DE VASCONCELOS FERREIRA

113. Salienta-se que elementos de fato já foram amplamente apontados no

pedido cautelar de buscas e apreensões e prisões, que seguem agora reforçados com o material

colhido quando da deflagração da Operação Furna da Onça. Pela análise de tais elementos

fáticos, restam evidentes os indícios de autoria delitiva e provas de materialidade, requisitos

necessários à decretação da prisão preventiva, conforme preceitua o art. 312, do Código de

87Ministério Público Federal – Procuradoria Regional da República – 2ª Região

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Processo Penal.

114. A prisão preventiva, embora excepcionalíssima, revela-se, no contexto

dos autos, a única medida eficaz para desestruturar a organização criminosa e a cessação da

corrupção e da lavagem de dinheiro, protegendo a ordem pública. Isso porque os requeridos já

demonstraram, em mais de uma ocasião, sua capacidade de ingerência, articulação e

autoblindagem, por meio de interpostas pessoas (parentes e assessores), de modo que a

manutenção dos requeridos em liberdade, a partir da imposição de medidas cautelares

pessoais diversas da prisão hoje legalmente disponíveis, é insuficiente para evitar que

continuem agindo dessa forma, uma vez que permanecerão com amplo e irrestrito à sua rede

de operadores, configurando o periculum libertatis.

115. Em relação aos deputados estaduais mencionados, saliente-se que a

constrição deve ser tomada sem a observância da medida constitucional que determina a

submissão da ordem judicial às Casas Legislativas (art. 53, § 2º, da Constituição da

República).

116. Como visto, há indícios veementes da prática criminosa e de sua

autoria, com severa repercussão social, algo que está a impor a adoção da medida constritiva

de liberdade por ser o único meio de barrar os efeitos deletérios dessa habitual e reiterada

atuação criminosa.

117. No caso em tela, entretanto, a imposição da custódia cautelar é a

medida mais adequada, ante a gravidade, habitualidade e atualidade dos fatos, bem como dos

indícios já mencionados de reiteração criminosa. A ver.

118. A prisão preventiva funda-se nos requisitos de fumus comissi delicti e

periculum libertatis, consubstanciados na probabilidade de existência do crime, indícios

suficientes de autoria e, ainda, no perigo que a liberdade do investigado representa para a

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eficácia da apuração criminal e fiel aplicação da lei. Tais premissas estão delimitadas nos arts.

282 e art. 312, ambos do Código de Processo Penal.

119. Com o advento da Lei n. 12.403/11, surgiu ainda um terceiro

pressuposto para a decretação não só da prisão preventiva como também das demais

cautelares constritivas da liberdade: a observância do binômio necessidade-adequação,

matizes do princípio da proporcionalidade.

120. Diante deste novo cenário legal da matéria, a prisão preventiva passou a

ser vista como ultima ratio, privilegiando-se outras medidas cautelares previstas no artigo 319

do CPP. Nesse sentido, Eugênio Pacelli assevera que

“a referência feita à adequação da providência (art. 282, II, CPP),tendo em vista a gravidade e demais circunstâncias do fato, bemcomo as condições pessoais do indiciado (na investigação), ou, doacusado (no processo), vem a ser, na realidade, a verdadeira pedra detoque do novo sistema de cautelares.”3

121. Em que pese a excepcionalidade da medida, é consolidada a

jurisprudência no sentido de que a prisão preventiva não importa violação à presunção de

inocência (art. 5º, inc. LVII, CR/88) e, uma vez decretada de acordo com os parâmetros legais,

sua idoneidade constitucional é inconteste.

122. Isso porque não se trata de antecipação da pena, mas de instrumento

processual de extrema relevância para a conveniência da instrução criminal, com vistas à

colheita probatória efetiva e fiel aplicação da lei penal, a fim de garantir a efetividade da

prestação jurisdicional e, em última análise, restabelecer e preservar a ordem pública,

especialmente nas hipóteses em que há risco concreto de reiteração criminosa e

reprovabilidade da dinâmica delitiva acima da média. Nesse sentido, confiram-se os seguintes

trechos de vários julgados ilustrativos:

“(Prisão preventiva. Afora a gravidade concreta da infração penal, areiteração na prática criminosa constitui motivo hábil a justificar a

3 Eugênio de Oliveira Pacelli, Curso de Processo Penal, 13ª Edição. Ed. Lumen Juris, 2011, p. 432.

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manutenção da prisão cautelar para resguardar a ordem pública,conforme o art. 312 do Código de Processo Penal (...)”. (STF, 1a

Turma, HC-AgR n. 116.744, rel. Min. Rosa Weber, DJ de 13/8/2013)

“A privação cautelar da liberdade individual – cuja decretaçãoresulta possível em virtude de expressa cláusula inscrita no própriotexto da Constituição da República (CF, art. 5º , LXI), nãoconflitando, por isso mesmo, com a presunção constitucional deinocência (CF, art. 5º, LVII) – reveste-se de caráter excepcional,somente devendo ser ordenada, por tal razão, em situações deabsoluta e real necessidade (…).” (STF, 2a Turma, HC n. 94.194/CE,Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 20.11.2012)

“A decretação da prisão preventiva baseada na garantia da ordempública está devidamente fundamentada em fatos concretos ajustificar a segregação cautelar, em especial diante da possibilidadede reiteração criminosa, a qual revela a necessidade da constrição(...)”. (STF, 2ª Turma, HC n. 96.997, rel Min. Ricardo Levandowski,DJ de 9/6/2009)

“A custódia cautelar do Paciente mostra-se suficientementefundamentada na garantia da ordem pública, não havendo, portanto,como se reconhecer o constrangimento, notadamente porque, aocontrário do que se alega na petição inicial, existem nos autoselementos concretos, e não meras conjecturas, que apontam apericulosidade do Paciente, circunstância suficiente para amanutenção da prisão processual (...)”. (STF, 1ª Turma, HC n.94.260, rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de 17/6/2008)

123. Por sua vez, os requisitos da prisão preventiva, elencados no art. 312 do

CPP, foram muitos bem sintetizados pelo saudoso Ministro Teori Zavascki, em voto no

julgamento da AC n. 4.039/DF:

“(...) algumas premissas são fundamentais para um juízo seguro a respeito daprisão preventiva. A primeira delas é a de que se trata de medida cautelarmais grave no processo penal, que desafia o direito fundamental dapresunção de inocência, razão pela somente 'deve ser decretada quandoabsolutamente necessária. Ela é uma exceção à regra da liberdade' (HC80282, Relator(a): Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, DJ de 02-02-2001).Ou seja, a medida somente se legitima em situações em que ela for o únicomeio eficiente para preservar os valores jurídicos que a lei penal visa aproteger, segundo o art. 312 do Código de Processo Penal. (…)A segunda premissa importante é a de que, a teor do disposto no art. 312 doCódigo de Processo Penal, a prisão preventiva pressupõe, sim, prova daexistência do crime (materialidade) e indício suficiente da autoria; todavia,por mais grave que seja o ilícito apurado e por mais robusta que seja a prova

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da autoria, esses pressupostos, por si sós, são insuficientes para justificar oencarceramento preventivo. A eles deverá vir agregado, necessariamente,pelos menos mais um dos seguintes fundamentos, indicativos da razãodeterminante da medida cautelar: (a) a garantia da ordem pública, (b) agarantia da ordem econômica, (c) a conveniência da instrução criminal ou(d) a segurança da aplicação da lei penal. (…)Mas há ainda uma terceira premissa: em qualquer dessas situações, além dademonstração concreta e objetiva das circunstâncias de fato indicativas deestar em risco a preservação dos valores jurídicos protegidos pelo art. 312 doCódigo de Processo Penal, é indispensável ficar evidenciado que oencarceramento do acusado é o único modo eficaz para afastar esse risco.”4.

124. Do mesmo modo, consoante leciona Andrey Borges de Mendonça

“[a] prisão preventiva pode ser decretada quando se demonstrar operigo que a liberdade do agente pode causar a bens jurídicos evalores tutelados pelo processo, ou, ainda, para a própriacomunidade. Como dito, a prisão preventiva visa tutelar valoresrelacionados à persecução penal (intraprocessuais) e interesses dasociedade (metaprocessuais), que poderiam sofrer risco caso o autordo delito permanecesse em liberdade durante o processo. Assim, oschamados 'fundamentos da prisão preventiva' indicam justamentequal é o perigo da liberdade do acusado para o processo. Em outraspalavras, expressam o periculum libertatis, demonstrando o motivopela qual a prisão do investigado/réu é necessária antes do trânsitoem julgado.”5

125. A hipótese dos autos se amolda com perfeição às premissas doutrinárias

e jurisprudenciais acima lançadas. A gravidade dos fatos narrados, aliada ao claro estado de

flagrância dos investigados, indicam que a única maneira de garantir a fluência regular do

processo e interromper os crimes praticados por esta sofisticada organização criminosa é

através da constrição libertária.

126. O material colhido até o momento é robusto o suficiente para

confirmar a materialidade e indícios de autoria, evidenciando a prática de condutas

graves e extremamente deletérias à Administração Pública, bem como um

comportamento criminoso sistêmico, de inconcebível desprezo pela coisa pública, num

4 AC 4039 Ref, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 25/11/2015, ACÓRDÃOELETRÔNICO DJe-097 DIVULG 12-05-2016 PUBLIC 13-05-2016).5 Prisão e outras medidas cautelares pessoais. Editora Método: São Paulo, 2011. p. 262.

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estado hoje literalmente falido em boa medida pela atuação desenfreada dessa insidiosa

organização.

127. Diante do cenário degradante em que o Rio de Janeiro se encontra, com

hospitais e transportes públicos sucateados, servidores ativos e aposentados passando

privações por não receberem seus salários e segurança pública sem controle efetivo, as

práticas insistentes de corrupção e lavagem de dinheiro configuram, no mínimo, verdadeira

afronta à população fluminense, principal vítima dos crimes praticados por integrantes do

legislativo estadual e seus respectivos colaboradores.

128. A permanência de AFFONSO HENRIQUE MONNERAT ALVES

DA CRUZ, ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA, ANDREIA CARDOSO

DO NASCIMENTO, CARLA ADRIANA PEREIRA, DANIEL MARCOS

BARBIRATTO DE ALMEIDA, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO, FRANCISCO

MANOEL DE CARVALHO, JAIRO SOUZA SANTOS, JOSÉ ANTONIO

WERMELINGER MACHADO, LEONARDO MENDONÇA ANDRADE, LUIZ

ANTONIO MARTINS, MAGNO CEZAR MOTTA, MARCELO NASCIF SIMÃO,

MARCOS ABRAHÃO e MARCUS VINÍCIUS DE VASCONCELOS FERREIRA em

liberdade representa verdadeiro risco à efetividade da atuação jurisdicional e à garantia da

ordem pública pois, dada sua ampla rede de influência política e econômica, não medirão

esforços – como, de fato, não têm medido – para dificultar a aplicação da lei penal e dar

prosseguimento aos delitos comumente praticados.

129. No caso em análise, estão demonstrados (i) a periculosidade do

agente, (ii) seu papel de destaque na organização criminosa, (iii) a gravidade dos fatos, e

(iv) o risco de reiteração delitiva, que se revelam nas práticas delituosas mesmo depois

de iniciada a investigação, comum em atividades ilícitas em desenvolvimento por longo

período e das quais se inferem ilícitos contra a Administração Pública e corrupção

sistêmica envolvendo a cúpula do Poder Legislativo local. A análise meticulosa da

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jurisprudência dos Tribunais Superiores leva ao entendimento de que tais são requisitos

para a decretação da prisão preventiva com fundamento na garantia da ordem pública.

130. Neste sentido, destacam-se os seguintes julgados:

“A manutenção da segregação processual justifica-se, na espécie, pelaconfiguração de, ao menos um dos requisitos do art. 312 do Código deProcesso Penal, qual seja, a garantia da ordem pública, em razão do fato de,além da grande quantidade de medicamentos apreendidos, ter o recorridocomercializado medicamentos como Pramil e Cytotec, que denotam altapericulosidade à saúde dos moradores da região. 3. A manutenção da prisãodo recorrente evita a reiteração da conduta delitiva, já que consta dos autosser sócio de empresa de comércio e distribuição de medicamentos proibidos.4. As condições pessoais favoráveis, tais como primariedade, bonsantecedentes, ocupação lícita e residência fixa, não têm o condão de, por sisós, desconstituir a custódia antecipada, caso estejam presentes outrosrequisitos de ordem objetiva e subjetiva que autorizem a decretação damedida extrema. (...)”. (RHC 201300687363, FELIX FISCHER, STJ -QUINTA TURMA, DJE DATA:15/10/2014) (grifos nossos)

“Ao princípio constitucional que garante o direito à liberdade de locomoção(CR, art. 5º, LXI) se contrapõe o princípio que assegura a todos direito àsegurança (art. 5º, caput), do qual decorre, como corolário lógico, aobrigação do Estado com a 'preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio' (art. 144). Presentes os requisitosdo art. 312 do Código de Processo Penal, a prisão preventiva não viola oprincípio da presunção de inocência. Poderá ser decretada para garantia daordem pública - que é a 'hipótese de interpretação mais ampla e flexível naavaliação da necessidade da prisão preventiva. Entende-se pela expressão aindispensabilidade de se manter a ordem na sociedade, que, como regra, éabalada pela prática de um delito. Se este for grave, de particularrepercussão, com reflexos negativos e traumáticos na vida de muitos,propiciando àqueles que tomam conhecimento da sua realização um fortesentimento de impunidade e de insegurança, cabe ao Judiciário determinaro recolhimento do agente' (Guilherme de Souza Nucci). Conforme FredericoMarques, 'desde que a permanência do réu, livre ou solto, possa dar motivo anovos crimes, ou cause repercussão danosa e prejudicial ao meio social, cabeao juiz decretar a prisão preventiva como garantia da ordem pública' (…)Havendo fortes indícios da participação do investigado em 'organizaçãocriminosa' (Lei n. 12.850/2013), em crimes de "lavagem de capitais" (Lei n.9.613/1998) e 'contra o sistema financeiro nacional (Lei n. 7.492/1986),todos relacionados a fraudes em processos licitatórios dos quais resultaramvultosos prejuízos a sociedade de economia mista e, na mesma proporção,em seu enriquecimento ilícito e de terceiros, justifica-se a decretação daprisão preventiva como garantia da ordem pública (…)”. (HC201403376106, NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR

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CONVOCADO DO TJ/SC), STJ - QUINTA TURMA, DJEDATA:10/03/2015) (grifos nossos)

“É válida a decretação da custódia cautelar para a garantia da ordempública, de modo a evitar a prática de novos crimes, ante a periculosidadedo acusado, manifestada por sua participação em estruturada organizaçãocriminosa, na qual exerce função relevante (…).” (RHC 51.072/MS, Rel.Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em23/10/2014, DJe 10/11/2014) (grifos nossos).

"a necessidade de se interromper ou diminuir a atuação de integrantes deorganização criminosa enquadra-se no conceito de garantia da ordempública, constituindo fundamentação cautelar idônea e suficiente para aprisão preventiva (…)". (STF, 1ª Turma, HC 95.024/SP, Rel. Min. CármenLúcia, DJe de 20/02/2009)

"a custódia cautelar visando à garantia da ordem pública legitima-sequando evidenciada a necessidade de se interromper ou diminuir a atuação deintegrantes de organização criminosa (...)" (RHC 122.182, Rel.Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/8/2014)

“A presunção de inocência, ou de não culpabilidade, é princípio cardeal noprocesso penal em um Estado Democrático de Direito. Teve longodesenvolvimento histórico, sendo considerada uma conquista da humanidade.Não impede, porém, em absoluto, a imposição de restrições ao direito doacusado antes do final processo, exigindo apenas que essas sejam necessáriase que não sejam prodigalizadas. A antecipação cautelar da prisão , conformelição do eminente Ministro Celso de Mello, não se revela incompatível com oprincípio constitucional da presunção de não culpabilidade (HC 94.194/CE,decisão monocrática, 28.8.2008, DJE nº 165, de 2.9.2008). Não constitui umvéu inibidor da apreensão da realidade pelo juiz, ou mais especificamente doconhecimento dos fatos do processo e da valoração das provas, ainda que emcognição sumária e provisória. O mundo não pode ser colocado entreparênteses. O entendimento de que o fato criminoso em si não pode servalorado para decretação ou manutenção da prisão cautelar não éconsentâneo com o próprio instituto da prisão preventiva, já que a imposiçãodesta tem por pressuposto a presença de prova da materialidade do crime ede indícios de autoria. Se as circunstâncias concretas da prática do crimerevelam a periculosidade do agente e o risco de reiteração delitiva e, porconseguinte, à ordem pública, justificada está a decretação ou amanutenção da prisão cautelar, desde que igualmente presentes boas provasda materialidade e da autoria. (...) 3. Prisão decretada não com base nagravidade abstrata do crime, mas fundada nas circunstâncias concretas desua prática, a evidenciarem, pelo modus operandi, risco de reiteraçãodelitiva e, por conseguinte, à ordem pública, fundamento suficiente para adecretação da preventiva, conforme o art. 312 do Código de Processo Penal.(…)”.(RHC 106697, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma,

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julgado em 03/04/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-093 DIVULG 11-05-2012 PUBLIC 14-05-2012) (grifos nossos)

131. No presente caso, não há como desconsiderar a gravidade em concreto

dos crimes em investigação, que tratam de corrupção, lavagem de dinheiro e organização

criminosa atribuíveis à cúpula do Legislativo fluminense que, a cada dia, exercita sua força

política e confirma a vocação para reiterar nas práticas delitivas.

132. Não se pode perder de vista a regra prevista no art. 53, § 2º, da

Constituição da República, que garante aos deputados e senadores a prerrogativa de não

serem presos, senão em flagrante de crime inafiançável, hipótese em que os autos serão

remetidos à respectiva casa legislativa, no prazo de 24 horas, para a apreciação da medida a

partir do voto da maioria dos membros. Trata-se de garantia também conhecida como

incoercibilidade pessoal relativa (freedom from arrest), para que o parlamentar desempenhe

seu mandato com independência e liberdade.

133. A referida imunidade também se aplica aos deputados estaduais, por

força do art. 27, § 1º, da Constituição da República, tanto que a Constituição do Estado do Rio

de Janeiro possui regra semelhante, nos termos do art. 102, §§ 1º e 3º:

Art. 102 - Os Deputados são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos. § 1º - Desde a expedição do diploma, os Deputados da Assembleia Legislativanão poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, nemprocessados criminalmente, sem prévia licença da Casa. (...)§ 3º - No caso de flagrante de crime inafiançável, os autos serão remetidos,dentro de vinte e quatro horas, à Assembleia Legislativa, a fim de que estaresolva sobre a prisão e autorize, ou não, a formação de culpa.

134. Entretanto, deve-se ter em mente que não há, em um Estado

Democrático de Direito, imunidades absolutas, sob pena de se criar privilégios espúrios. Desta

feita, a leitura do artigo 53, § 2º, da Constituição da República não pode ser realizada de

forma isolada, devendo levar em conta a aplicação efetiva e eficaz do sistema como um todo,

bem como o papel constitucionalmente definido para o exercício de cargo tão relevante que é

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o de um parlamentar, que não pode se valer desta função, e das garantais que lhes são ínsitas,

para atuar em prol de vantagens particulares, alheias ao interesse público.

135. Este foi também o entendimento da primeira Turma do STF, ao apreciar

o HC n. 89.417/RO, nos termos da ementa abaixo:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PRISÃO DECRETADA EMAÇÃO PENAL POR MINISTRA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.DEPUTADO ESTADUAL. ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DAAUTORIDADE COATORA E NULIDADE DA PRISÃO EM RAZÃO DE NÃOTER SIDO OBSERVADA A IMUNIDADE PREVISTA NO § 3º DO ART. 53C/C PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 27, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DAREPÚBLICA. COMUNICAÇÃO DA PRISÃO À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVADO ESTADO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. INTERPRETAÇÃO EAPLICAÇÃO À ESPÉCIE DA NORMA CONSTITUCIONAL DO ART. 53, §2º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONSTRANGIMENTO ILEGALNÃO CONFIGURADO. (...) 2. Os elementos contidos nos autos impõeminterpretação que considere mais que a regra proibitiva da prisão deparlamentar, isoladamente, como previsto no art. 53, § 2º, da Constituição daRepública. Há de se buscar interpretação que conduza à aplicação efetiva eeficaz do sistema constitucional como um todo. A norma constitucional quecuida da imunidade parlamentar e da proibição de prisão do membro deórgão legislativo não pode ser tomada em sua literalidade, menos ainda comoregra isolada do sistema constitucional. Os princípios determinam ainterpretação e aplicação corretas da norma, sempre se considerando os finsa que ela se destina. A Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia,composta de vinte e quatro deputados, dos quais, vinte e três estão indiciadosem diversos inquéritos, afirma situação excepcional e, por isso, não se há deaplicar a regra constitucional do art. 53, § 2º, da Constituição da República,de forma isolada e insujeita aos princípios fundamentais do sistema jurídicovigente. 3. Habeas corpus cuja ordem se denega. (HC 89417, Relator(a): Min.CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 22/08/2006, DJ 15-12-2006PP-00096 EMENT VOL-02260-05 PP-00879)

136. Ainda neste mesmo julgado, a Exma. Ministra Carmen Lúcia fez

relevantes ponderações sobre o alcance da imunidade prevista naquele dispositivo:

“A Constituição não diferencia o parlamentar para privilegiá-lo. Distingue-oe torna-o imune ao processo judicial e até mesmo à prisão para que osprincípios do Estado Democrático da República sejam cumpridos; jamaispara que eles sejam desvirtuados. Afinal, o que se garante é a imunidade, nãoa impunidade. Essa é incompatível com a Democracia, com a República ecom o próprio princípio do Estado de Direito.

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Afirmava GERALDO ATALIBA, que pensar que a impunidade possa seracolhida no Estado de Direito, sob qualquer disfarce, é imaginar que se podeconstruir uma fortaleza para dar segurança e nela instalar um portão depapelão. E seria isso o que teria sido construído, constitucionalmente, se seadmitisse que a Constituição estabeleceu, expressamente, os princípios daRepública, com os consectários principiológicos que lhe são próprios, agarantia da liberdade do eleitor para escolher o seu representante a fim deque ele crie o direito que possa atender às demandas sociais, a garantia damoralidade e a obrigação da probidade dos representantes para segurançaética dos eleitores e, paralelamente, se tivesse permitido que se orepresentante trair o eleitor e fraudar a Constituição rui o EstadoDemocrático, afunda-se a Constituição, sossega-se o juiz constitucional,cala-se o direito, porque nada há a fazer, diante de uma regra que sesobreporia a toda e qualquer outra; a garantir que uma pessoa pudesse seressalvar de qualquer regra jurídica em face da regra proibitiva de seuprocessamento e de sua prisão em qualquer caso.[…]

Tal como a autonomia da vontade, que é encarecida como expressão daliberdade individual e que, por vezes, é amparada pela decisão judicial porausência de condições da pessoa para manifestar livremente a sua vontade,nos termos da legislação civil vigente e que é dessa forma aparentemente (eapenas aparentemente) contraditória que se garante a liberdade, tambémpara garantir a vida constitucional livre e democrática há que se aceitar que,em situações excepcionais e de anormalidade, como a que se apresenta nocaso em foco, o provimento judicial, fundado, rigorosa e estritamente, nosprincípios que sustentam o sistema positivado, é que se poderá garantir aintegridade da Constituição. Eventualmente, há que se sacrificar ainterpretação literal e isolada de uma regra para se assegurar a aplicação e orespeito de todo o sistema constitucional.

Imunidade é prerrogativa que advém da natureza do cargo exercido.Quando o cargo não é exercido segundo os fins constitucionalmentedefinidos, aplicar-se cegamente a regra que a consagra não é observânciada prerrogativa, é criação de privilégio. E esse, sabe-se, é mais umaagressão aos princípios constitucionais, ênfase dada ao da igualdade detodos na lei. E a se observar esse, a prisão haverá de ser aplicada segundo asregras que valem para todos quando o status funcional de alguém já nãoesteja em perfeita adequação ao ofício que determina a aplicação do regimejurídico constitucional ao agente. Então, ter-se-á de garantir a ordempública, que se põe como obrigação a ser assegurada por ser dever do Estadoe responsabilidade de todos (art. 144 da Constituição da República). Afastar-se os princípios constitucionais para aplicar a regra excepcional não é,seguramente, garantir a ordem pública e a segurança jurídica.

Em casos de tamanho comprometimento das instituições jurídicas e políticas,a ordem pública já não é pública e nem é ordem quando os agentes públicos

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deixaram de se investir dessa condição, a não ser formalmente, para selocupletarem do que entendem ser benesses e não deveres que os cargospúblicos impõem àqueles que os provêem.

11. Aplicar como pretende o Impetrante a norma do art. 53, §§ 2º e 3º daConstituição, quer dizer, como espaço jurídico que impede que o PoderPúblico cumpra a sua obrigação para chegar à apuração, e, se for o caso, àeventual punição de alguns pela proibição de adotar as providências devidaspara se chegar ao fim do direito, além de se impedir que se extinga oambiente institucional contaminado por práticas que podem se mostrardelituosas e ao possível cometimento de infrações que se vêm perpetrando noente federado, simplesmente porque não se pode aplicar o direito, seriachegar à mesma equação de ineficácia já narrada em numerosas passagensliterárias. Mas a vida não é ficção e a moral e o direito não hão de serhistórias para ser contadas sem compromisso com a eficácia”. (grifos nossos)

137. Ora, no cenário excepcional e de extrema gravidade verificado no caso

dos autos, inexiste alternativa que não seja a aplicação do mesmo raciocínio desenvolvido no

âmbito do HC n. 89.417/RO, em que se admitiu a prisão dos parlamentares sem a necessidade

de submissão posterior da medida à casa legislativa correspondente.

138. É que, tanto aqui quanto no referido julgado, a autonomia exigida

para a análise da prisão dos deputados por seus pares se encontra fragilizada em função

das próprias condutas sob apreciação, já que os alvos da medida cautelar fazem parte de

uma complexa organização criminosa, com forte influência política dentre do próprio

parlamento o que real e concretamente acaba com a chance de eventual decisão de

afastamento da preventiva estar lastreada em motivos ilegítimos.

139. Assim, não há como negar que, a imunidade prevista no art. 53, § 2º, da

CR/88, neste contexto específico, muito mais se aproxima de uma impunidade do que uma

garantia, sendo certo que, nas palavras da Exma. Ministra Carmen Lúcia:

“A Constituição não diferencia o parlamentar para privilegiá-lo. Distingue-oe torna-o imune ao processo judicial e até mesmo à prisão para que osprincípios do Estado Democrático da República sejam cumpridos; jamaispara que eles sejam desvirtuados. Afinal, o que se garante é a imunidade, nãoa impunidade. Essa é incompatível com a Democracia, com a República ecom o próprio princípio do Estado de Direito”.

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140. E acrescenta:

“Duas ordens de cuidados devem presidir a interpretação das normasconstitucionais na matéria em causa na presente ação: a) a Constituiçãogarante a imunidade relativa dos parlamentares e a Constituição proíbe aimpunidade absoluta de quem quer que seja; b) a regra legitimadora doprocessamento de parlamentar e a proibitiva de sua prisão são garantias docidadão, do eleitor para a autonomia do órgão legiferante (no caso) e daliberdade do eleito para representar, conforme prometera, e cumprir oscompromissos assumidos no pleito. Não configuram aqueles institutos direitopersonalíssimo do parlamentar, mas prerrogativa que lhe advém da condiçãode membro do poder que precisa ser preservado para que preservado sejatambém o órgão parlamentar em sua autonomia, a fim de que ali se cumpramas atribuições que lhe foram constitucionalmente cometidas.”

141. Considerando que os bens jurídicos postos em xeque pela organização

criminosa ora em apuração, que são caros a toda população fluminense, bem como a

necessidade de interpretação das normas constitucionais que leve em conta o sistema jurídico

como um todo, de modo coeso e harmônico, e o risco que a liberdade dos investigados

acarreta para a sociedade e instituições democráticas, a prisão imediata dos deputados

estaduais, sem a necessidade de avaliação pela Casa Legislativa, é medida que se impõe.

142. De modo semelhante, a Corte Suprema, na AC n. 4.039, concluiu pela

possibilidade de se relativizar o art. 53, § 2º, da CR/88 e admitir, excepcionalmente, a

imposição da prisão preventiva ao Senador Delcídio do Amaral, por se encontrar em estado de

flagrância. Naquela ocasião, assentou o Ministro Teori Zavascki em seu voto:

“A mencionada incoercibilidade pessoal dos congressistas configura-se, porconseguinte, como garantia de natureza relativa, uma vez que o TextoConstitucional excepciona a prisão em flagrante de crime inafiançável, comoexceção à regra geral da vedação de custódias cautelares em detrimento deparlamentares.

A própria realidade, porém, vem demonstrando que também o sentido dessanorma constitucional não pode decorrer de interpretação isolada (…).

Valeriam aqui, portanto, com muito maior razão as ponderações que seextraem do antes referido voto da Min. Carmén Lúcia:

'[…] Aplicar, portanto, isoladamente a regra do art. 53, §§ 2º e 3º da

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Constituição da República, sem se considerar o contexto institucional e osistema constitucional em sua inteireza seria elevar-se acima da realidade àqual ela se dá a incidir e para a qual ela se dá a efetivar. O resultado de talcomportamento do intérprete e aplicador do direito constitucional conduziriaao oposto do que se tem nos princípios e nos fins do ordenamento jurídico.

A aplicação pura e simples de uma norma em situação que conduz aoresultado oposto àquele buscado pelo sistema jurídico fundamental – que seinspirou na necessidade inegável e salutar de proteger os parlamentarescontra investidas indébitas de anti-democracias – é negar a Constituição emseus esteios mais firmes, em seus fundamentos mais profícuos, em suasgarantias mais caras. É ignorar a cidadania (art. 1º, inc. II) para enaltecer orepresentante que pode estar infringindo todas as normas que o deixam nessalegítima condição; é negar a submissão de todos, governantes e governados,ao direito, cuja possível afronta gera o devido processo legal, ao qual não hácomo fugir de maneira absoluta sob qualquer título ou argumento.

Tal é o que me parece ocorrer no caso ora apreciado. O que se põe,constitucionalmente, na norma do art. 53, §§ 2º e 3º. c/c o art. 27, § 1º, daConstituição da República há de atender aos princípios constitucionais,fundamentais, a) ao da República, que garante a igualdade de todos e amoralidade das instituições estatais; b) ao da democracia, que garante que asliberdades públicas, individuais e políticas (aí incluída a do cidadão queescolhe o seu representante) não podem jamais deixar de ser respeitadas,especialmente pelos que criam o direito e o aplicam, sob pena de seesfacelarem as instituições e a confiança da sociedade no direito e adescrença na justiça que por ele se pretende realizar. [...]

Deve ser acentuado, entretanto, que:a) o princípio da imunidade parlamentar permanece integro e de aplicaçãoobrigatória no sistema constitucional para garantir a autonomia dasinstituições e garantia dos cidadãos que provêem os seus cargos pela eleiçãodos seus representantes. Cuida-se de princípio essencial para assegurar anormalidade do Estado de Direito;

b) a sua não incidência, na espécie, pelo menos na forma pretendida pelointegrante, deve-se a condição especial e excepcional em que a sua aplicaçãogera a afronta a todos os princípios e regras constitucionais que se interligampara garantir a integridade e a unidade do sistema constitucional, querporque acolher a regra, em sua singeleza, significa tornar um brasileiroinsujeito a qualquer procedimento judicial, faça o que fizer, quer porque daraplicação direta isolada à norma antes mencionada ao caso significa negaraplicação aos princípios fundantes do ordenamento;

c) o caso apresentado nos autos é situação anormal, excepcional e não

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cogitada, ao que parece, em qualquer circunstância pelo constituinte[interpretação teleológica do art. 53 da CF]. Não se imagina que um órgãolegislativo, atuando numa situação de absoluta normalidade institucional doPaís e num período de democracia praticada, possa ter 23 dos 24 de seusmembros sujeitos a inquéritos e processos, levados adiante pelos órgãospoliciais e pelo Ministério Público;

d) à excepcionalidade do quadro há de corresponder a excepcionalidade daforma de interpretar [interpretação republicana] e aplicar os princípios eregras do sistema constitucional, não permitindo que para prestigiar umaregra – mais ainda, de exceção e de proibição e aplicada a pessoas para queatuem em benefício da sociedade – se transmute pelo seu isolamento de todasas regras do sistema [interpretação sistemática] e, assim, produza efeitosopostos aos quais se dá e para o que foi criada e compreendida noordenamento.

Tal é o que aconteceria se se pudesse aceitar que a proibição constitucionalde um representante eleito a ter de submeter-se os processamento judicial e àprisão sem o respeito às suas prerrogativas seria um álibi permanente eintocável dado pelo sistema àquele que pode sequer não estar sendo maistitular daquela condição, a não ser formalmente. (...)'

16. Ante o exposto, presentes a situação de flagrância e os requisitos do art.312 do Código de Processo Penal, decreto a prisão cautelar do SenadorDelcídio Amaral, observadas as especificações apontadas e ad referendum daSegunda Turma do Supremo Tribunal Federal. (...)”

143. Também esta 1ª Seção Especializada do e. TRF-2, em questão de

ordem, decretou a prisão preventiva de JORGE PICCIANI, PAULO MELO e EDSON

ALBERTASSI, deputados estaduais do Rio de Janeiro sem oitiva da Assembleia Legislativa

do Estado do Rio de Janeiro, por conta de fatos dos quais os agora em análise são mera

continuação.

144. Naquela ocasião, o Exmo. Relator Abel Gomes afirmou, em seu voto

que, no caso dos deputados investigados, a gravidade dos fatos se apresentava com ainda mais

nitidez, eis que tinham em comum o fato de terem sido eleitos pelo povo fluminense para

atuar representando o interesse público, mas ao revés, “o que o MPF demonstra ter colhido

até agora mostra que não cumpriram com o dever funcional. Ou se algumas vezes até

cumpriram, em outras dele olvidaram”.

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145. Dada a deliberação da Alerj, descumprindo a ordem de prisão

preventiva decretada pela referida Corte, a 1ª Seção Especializada, em 21.11.2017, reiterou os

termos do acórdão anteriormente proferido, e acrescentou:

“Não resta dúvida que a Constituição Federal estabelece imunidades aosparlamentares federais, assim disposta a imunidade formal que interessa àpresente questão de ordem: (…)Essas imunidades são estendidas aos Deputados Estaduais, por força do art.27, § 2º da CF: (...)No entanto, a Constituição do Estado do Rio de Janeiro alargou o que aConstituição Federal lhe remeteu, já em desacordo com os limites da CartaFederal.Art. 102 - Os Deputados são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos.§ 1º - Desde a expedição do diploma, os Deputados da Assembléia Legislativanão poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, nemprocessados criminalmente, sem prévia licença da Casa.§ 2º - O indeferimento do pedido de licença ou a ausência de deliberaçãosuspende a prescrição, enquanto durar o mandato.§ 3º - No caso de flagrante de crime inafiançável, os autos serão remetidos,dentro de vinte e quatro horas, à Assembléia Legislativa, a fim de que estaresolva sobre a prisão e autorize, ou não, a formação de culpa.

A Constituição do Estado do Rio de Janeiro fala em "licença e seuindeferimento", bem como em "autorização" para a prisão e o processocriminal, ali onde a Constituição da República fala em "resolver" sobre aprisão e "sustar" processo criminal já iniciado.De antemão, portanto, essas regras da Constituição Estadual devem sercontidas pelo que estabelece a Constituição Federal, em razão do princípiofederativo, que orienta inclusive a regra de contenção da atuação dosEstados:Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis queadotarem, observados os princípios desta Constituição.§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadaspor esta Constituição.

Nessa esteira, quando a Constituição Federal dispõe que a Casa Legislativaresolverá sobre a prisão, está limitando o ato legislativo à espécie de prisãoda qual se trate. Se flagrante por crime inafiançável, considerando que essetipo de prisão tem natureza administrativa e pode ser feita até por qualquerdo povo, o Legislativo estaria mais livre para resolver sobre sua legalidade.Mas tratando-se de prisão preventiva, de natureza judicial, somente o PoderJudiciário pode resolver sobre sua revogação, limitando-se o Legislativo,nessas prisões, a resolver sobre outras questões dela decorrentes, como a

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abertura de processo ético-disciplinar e coisa dessa natureza.Não podendo reapreciar decisão judicial, não poderia a ALERJ “revogar”prisão decretada por órgão judiciário federal e menos ainda fazer de suaresolução alvará de soltura.A Constituição de 1988 não deu competência ao Poder Legislativo paradecretar prisões, razão pela qual, também não é legítimo a esse Poderexpedir mandados de prisão e nem o seu inverso, o alvará de soltura. Essa competência é apenas do Judiciário. No caso, do TRF da 2ª Região:(...)Na verdade, a imunidade formal que serviu de fundamento para que a ALERJindevidamente determinasse a soltura dos parlamentares deriva de períodohistórico no qual ainda não havia Poder Judiciário constitucionalmentecompetente para dar ordens de prisão, sendo construída com o objetivo detutelar o exercício das atividades parlamentares de eventuais arbitrariedadeque os soberanos então impunham ao Legislativo em formação.(…)Ademais, o limite constitucional para "resolver" sobre prisões cautelares(preventiva no caso) decretadas pelo Judiciário não inclui o de revogarprisões de tal natureza processual.Destarte, não poderia a ALERJ deliberar sobre prisões de tal natureza pararevogá-las, menos ainda adotar resolução administrativa como alvará desoltura. Até porque há regras sobre mandados de prisões e alvarás para finsde registros em órgãos competentes e controle de presos e prisões, que nãoforam observadas, e se dirigem à competência da autoridade judiciária.A Resolução n.º 108/2010 do CNJ, que trata do cumprimento de alvarás desoltura e sobre a movimentação de presos dos sistema carcerário é explícitaao citar em seu art. 1º, §6º:'Art. 1º O juiz competente para decidir a respeito da liberdade ao presoprovisório ou condenado será também responsável pela expedição ecumprimento do respectivo alvará de soltura, no prazo máximo de vinte equatro horas.§6º O cumprimento do alvará de soltura é ato que envolve o juízo prolatorda decisão e a autoridade administrativa responsável pela custódia, nãoestando submetido à jurisdição, condições ou procedimentos de qualqueroutro órgão judiciário ou administrativo, ressalvadas as hipóteses dosparágrafos 1º e 2º(grifei)(…)

Como se observa do caso concreto, a resolução expedida pela ALERJ parapropiciar a soltura dos Deputados Estaduais, não só não serve como alvaráde soltura, como descumpre praticamente todos os normativos relacionadosao procedimento.E mais, gera absoluta impropriedade no que toca também à Resolução n.º137 do CNJ, que trata do banco de dados de mandados de prisão, sendo certoque o que se tem no momento, são mandados de prisões expedidos por esteTribunal.(…)

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A Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro desafortunadamenteusurpou a competência e a função judiciária federal, fazendo de meraresolução que deveria se conter no restrito limite estabelecido pelaConstituição Federal verdadeira ordem de soltura, a qual só poderia ser dadapelo Poder Judiciário Federal, e ainda a transformou em esdrúxulo alvará desoltura, tudo sem o mínimo conteúdo nem forma de direito[1].Ademais, avançou em deliberação que não lhe estava autorizada pelaConstituição Federal e as leis do país, resolvendo, sem competência alguma,sobre afastamento cautelar de natureza processual penal, o que também estána competência desta Corte Federal, que sobre ele deliberara oralmente nosvotos dos Desembargadores, entendendo que a decretação das prisõespreventivas, acolhendo pedido sucessivo anterior do MPF, tornou implícito oafastamento do exercício da função.Tais fatos, para além de ilegais, ainda constituem flagrante sinal de exercíciodesarmônico por parte do Legislativo Estadual, criando obstáculos aoexercício efetivo do Poder Judiciário Federal (art. 2º da CRFB/88)”. (grifosdo original)

146. Ainda sobre a Resolução Legislativa n. 577/2017, da Alerj, que revogou

a ordem judicial de prisão preventiva dos deputados JORGE PICCIANI, EDSON

ALBERTASSI e PAULO MELO, contra ela a Procuradoria Regional da República

ingressou no STF com Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 497.

147. Afirmou a PGR em sua manifestação que:

“o fato de a Resolução legislativa ter sido cumprida por ordem direta daAssembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, sem expedição de alvaráde soltura pelo Poder Judiciário, é prova eloquente do clima de terra sem leique domina o Estado. O Tribunal Regional Federal da 2ª Região foiostensivamente desrespeitado pela Assembleia Legislativa do Estado do Riode Janeiro.O simples fatp de a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, por amplamaioria, ignorar o quadro fático de crimes comuns descrito acima indica aanomalia e a excepcionalidade do quadro institucional vivido nessemomento, a exigir resposta imediata e firme do Supremo Tribunal Federal,apta a indicar ao país que a Constituição será respeitada, seja qual for acircunstância”.

148. Por fim, a PGR asseverou que:

“não há como a Assembleia Legislativa aplicar a regra do art. 53, § 2º c/c27-§1º da Constituição, dado que presentes anomalia institucional e situaçãode superlativa excepcionalidade a franquearem a possibilidade de decretaçãodas medidas cautelares previstas no artigo 312 cumulado com o artigo 319,

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inciso IV do Código de Processo Penal, contra Deputado Estadual, semnecessidade de comunicar à Assembleia Legislativa”.

149. O Plenário do STF iniciou o julgamento da ADPF n. 497. Com cinco

votos contrários à possibilidade de os parlamentares estaduais soltarem seus pares presos pela

Justiça antes da sentença condenatória, o STF adiou a decisão final sobre o tema. Ficaram

pendentes os votos dos Ministros Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski.

150. Em soma, e partindo da tese construída pelo STF na AC 4.039/DF,

pode-se concluir que os crimes praticados pelos investigados no presente caso também se

enquadram no conceito de inafiançáveis, eis que o art. 324 do CPP, ao tratar das

situações nas quais a fiança será inadmitida, prevê, em seu inc. IV, a seguinte regra:

Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:(…)IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisãopreventiva (art. 312).

151. Assim, muito embora os delitos de corrupção, lavagem de dinheiro,

e organização criminosa não estejam expressamente previstos no art. 323 do CPP e art.

5º, inc. XLII, XLIII e XLIV, da Constituição da República as circunstâncias em que

foram praticados autorizam a decretação da prisão preventiva, com base no inciso IV do

artigo 324 do CPP.

152. Neste sentido, entendeu a Segunda Turma do STF, ao referendar a

decisão do Ministro Teori Zavascki, na AC n. 4.036, nos seguintes termos:

“O tipo do art. 2º da Lei 12.850/2013 ('Promover, constituir, financiar ouintegrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa')remete ao conceito estatuído no art. 1º:

'Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou maispessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujaspenas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de carátertransnacional'.

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Esse delito, tipificado anteriormente pela Lei 12.694/2013, é pacificamentereconhecido como crime permanente (…) e, como tal, contempla não só apossibilidade de flagrante a qualquer tempo (…) como até mesmo a chamada'ação controlada' (…).

Aqui se cuida, em tese e pelas razões já examinadas, de estrito flagrante. Masnão é só. No mesmo art. 2º, porém em seu § 2º, lê-se:

'Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça ainvestigação de infração penal que envolva organização criminosa'.

Em qualquer caso, a hipótese é de inafiançabilidade decorrente do dispostono art. 324, IV, do Código de Processo Penal.”6

153. A inafiançabilidade das condutas criminosas atribuídas a

AFFONSO HENRIQUE MONNERAT ALVES DA CRUZ, ANDRÉ GUSTAVO

PEREIRA CORREA DA SILVA, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, CARLA

ADRIANA PEREIRA, DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA, FÁBIO

CARDOSO DO NASCIMENTO, FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO, JAIRO

SOUZA SANTOS, JOSÉ ANTONIO WERMELINGER MACHADO, LEONARDO

MENDONÇA ANDRADE, LUIZ ANTONIO MARTINS, MAGNO CEZAR MOTTA,

MARCELO NASCIF SIMÃO, MARCOS ABRAHÃO e MARCUS VINÍCIUS DE

VASCONCELOS FERREIRA resulta patente, perfazendo-se situação que autoriza a

segregação de todos esses, pois presentes os pressupostos e fundamentos ensejadores da

prisão preventiva, consoante o art. 312 c/c artigo 324, inc. IV, ambos do Código de Processo

Penal.

154. A prisão preventiva dos investigados é necessária e adequada, sob

pena de violação ao princípio da proibição da proteção deficiente.

III.1. Do necessário afastamento excepcional das funções parlamentares dos deputados

estaduais requeridos.

6 (AC 4036, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 25/11/2015, ACÓRDÃOELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 26-02-2016 PUBLIC 29-02-2016)

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155. Sem prejuízo da decretação da prisão preventiva, é necessário ainda o

afastamento dos deputados estaduais das funções públicas exercidas, com base no artigo

319, inc. VI, do CPP, tendo em vista as premissas acima alinhavadas que revelam o uso dos

cargos públicos para o cometimento de crimes.

156. A respeito do tema, Renato Brasileiro observa:

“Assim, da mesma forma que a suspensão do exercício da função pode serdeterminada para evitar novas práticas delituosas, a medida também podeser imposta para que o acusado não se utilize de suas funções para destruirprovas, pressionar testemunhas, intimidar vítimas, ou seja, para obstruir ainvestigação de qualquer forma ou prejudicar a busca da verdade. Portanto,apesar de o art. 319, VI, fazer menção à suspensão apenas para evitar aprática de novas infrações, é evidente que o agente também poderá sersuspenso para garantia da investigação ou instrução criminal.(…)Sem embargo de opiniões em sentido contrário, pensamos que a funçãopública a que se refere o art. 319, inciso VI, abrange toda e qualqueratividade exercida junto à Administração Pública, seja em cargo público, sejaem mandatos eletivos. De mais a mais, se considerarmos que há precedentesdo STJ e do Supremo admitindo inclusive a prisão preventiva de Governadorde Estado, seria de ser estranhar que uma medida de tal porte pudesse serutilizada, negando-se, porém, a possibilidade de suspensão da funçãopública, a qual, a depender do caso concreto, pode revelar-se igualmenteeficaz para assegurar a eficácia do processo, só que com grau de lesividadebem menor. Logo, se se admite a aplicação de medida mais gravosa (prisãocautelar), não há restrição para a aplicação de medidas menos gravosas.”7

157. No presente caso, não há dúvidas quanto à gravidade dos fatos

imputados nem quanto ao risco de reiteração delituosa: trata-se de parlamentares suspeitos de

praticar, no âmbito de uma organização criminosa, diversos atos de corrupção e lavagem de

dinheiro, em detrimento dos cofres públicos.

158. Neste aspecto, é clara a presença do fumus comissi delicti e garantia da

ordem pública que justificam a referida medida cautelar, pois presente o nexo funcional entre

a prática do delito e a atividade funcional desenvolvida pelos detentores do mandato

parlamentar. Eventual permanência dos deputados no cargo eletivo certamente servirá como

7 Renato Brasileiro de Lima, Manual de processo penal, 4. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 1010/1011.

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estímulo para a reiteração delituosa, dada a habitualidade e atualidade do esquema criminoso.

159. Os julgados abaixo, oriundos dos Tribunais Superiores, ilustram a

possibilidade de afastamento das funções públicas com base nos motivos acima expostos:

“2. A decretação de prisão de membros de associação ou organizaçãocriminosa - sobretudo quando se tratar de pessoa que tenha posição dedestaque no grupo - justifica-se como forma de diminuir ou interromper suasatividades. Precedentes. 3. A anterior denegação de pedido de prisãotemporária não tem o poder de macular a ordem de prisão preventiva, pois,malgrado ambas sejam dotadas de provisoriedade, têm requisitos e escoposdiversos mais ainda se demonstrada a persistência da prática dos atoscriminosos, a vindicar a adoção da medida extrema, anteriormente rejeitada.(…) 6. O Superior Tribunal de Justiça, na trilha do entendimento do SupremoTribunal Federal, tem acatado a imposição da prisão como medida cautelaradequada para, com o escopo de garantir a aplicação da lei penal, evitar adissipação de bens ou resguardar a recuperação dos ativos oriundos daprática delitiva, especialmente em casos que envolvem crimes do jaez dos quesão imputados à paciente e à organização criminosa, em tese, por elacoliderada. 7. Os novos meios de comunicação disponibilizados pelatecnologia francamente acessível, afora ainda conter dispositivos ainviabilizar o seu rastreio e o acesso ao seu conteúdo, dispensamdeslocamento físico, comprovação de identidade e etc., de forma a permitirtanto a qualquer pessoa estar fisicamente em um lugar e presente em outrostantos como se passar por outra pessoa para realizar movimentação bancáriae etc., e são, por isso mesmo, de dificílimo controle. Assim, do âmbito de suaresidência ou de outro local que lhe for permitido frequentar ou mesmo porinterposta pessoa, sobre a qual não recai qualquer medida restritiva, sãopossíveis a movimentação, a dissimulação ou a dissipação dos ativos que sebusca resgatar. 8. Conquanto os fatos criminosos atribuídos à organizaçãocriminosa tenham se iniciado com a assunção da paciente em seu primeiromandato de Prefeita, a cautelaridade da prisão preventiva encontra arrimona persistência da conduta delituosa; havendo menção, inclusive, a fatoscontemporâneos ao decreto prisional, com a extensão dos efeitos do crimeaté 2018. De toda sorte, é entendimento assente nesta Corte Superior que, "Senão houve prisão em flagrante e somente após as investigações realizadas[...] foram colhidos elementos indiciários suficientes para embasar o pedidode prisão preventiva pelo Parquet local, não há se falar em ausência decontemporaneidade entre o fato delituoso [...] e a prisão preventiva [...]"(RHC n. 79.041/MG, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, 6ª T., DJe 4/4/2017). (…)(HC 381.871/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTATURMA, julgado em 18/05/2017, DJe 09/06/2017) (grifos nossos)

“(...) A urgência intrínseca da prisão preventiva impõe a contemporaneidadedos fatos justificadores aos riscos que se pretende com a prisão evitar.” (HC214.921/PA, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em

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17/03/2015, DJe 25/03/2015)

“(...) medida cautelar de suspensão do exercício da função (art. 319, VI, doCPP), a abranger tanto o cargo de presidente da Câmara dos Deputadosquanto o mandato parlamentar. Cabimento da providência, no caso, em faceda situação de franca excepcionalidade. Comprovação, na hipótese, dapresença de múltiplos elementos de riscos para a efetividade da jurisdiçãocriminal e para a dignidade da própria casa legislativa. Especificamente emrelação ao cargo de Presidente da Câmara, concorre para a suspensão acircunstância de figurar o requerido como réu em ação penal por crimecomum, com denúncia recebida pelo Supremo Tribunal Federal, o queconstitui causa inibitória ao exercício da Presidência da República.deferimento da medida suspensiva referendado pelo plenário”. (AC 4070 Ref,RELATOR(A): MIN. TEORI ZAVASCKI, TRIBUNAL PLENO, JULGADOEM 05/05/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJE-225 DIVULG 20-10-2016PUBLIC 21-10-2016) (grifos nossos)

“(...) SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PÚBLICADEVIDAMENTE MOTIVADA. PRÁTICA CRIMINOSA RELACIONADA COMO MANDATO ELETIVO. FUNDADO RECEIO DE CONTINUIDADE DASATIVIDADES ILÍCITAS. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.IRRELEVÂNCIA. COAÇÃO ILEGAL NÃO EVIDENCIADA. RECLAMOCONHECIDO EM PARTE E, NESSE PONTO, IMPROVIDO. (…) orecorrente, na condição de vereador, é acusado de solicitar vantagemindevida para se licenciar do mandato e assim permitir que os demaissuplentes assumissem a vaga no parlamento municipal, inclusive com divisãode salários. 3. Estando-se diante de prática criminosa que guarda relaçãodireta com o mandato eletivo exercido pelo paciente, e havendo o fundadoreceio de que a sua permanência no cargo poder ensejar a continuidade dasatividades ilícitas em apuração, inexiste qualquer ilegalidade oudesproporcionalidade na imposição da medida em questão. 4. Condiçõespessoais favoráveis não têm o condão de revogar as medidas cautelaresdiversas da prisão se há nos autos elementos suficientes a demonstrar a suanecessidade, como ocorreu in casu. (…)” (RHC 201501257308, JORGEMUSSI, STJ - QUINTA TURMA, DJE DATA:17/06/2016 ..DTPB:.) (grifosnossos)

“(...) Aplica-se aos detentores de mandato eletivo a possibilidade de fixaçãodas medidas alternativas à prisão preventiva previstas no art. 319 do CPP,por tratar-se de norma posterior que afasta, tacitamente, a incidência da leianterior. 2. A decisão de afastamento do mandatário municipal estádevidamente fundamentada com a demonstração de suas necessidade eutilidade a partir dos elementos concretos colhidos dos autos. (…)”. (HC228.023/SC, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA,julgado em 19/06/2012, DJe 01/08/2012) (grifos nossos)

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160. Assim, havendo demonstração cabal de ilícitos gravíssimos (fumus

comissi delicti), ainda, que a liberdade dos referidos alvos implicaria perigo concreto

(periculum libertatis) à ordem pública, além da aplicação da lei penal, entende o MPF

que é imprescindível a decretação das prisões preventivas em desfavor dos requeridos

enumerados no início deste tópico, com fulcro no art. 312 do Código de Processo Penal,

bem como o afastamento imediato das funções públicas, nos termos do artigo 319, inc.

VI, do mesmo diploma legal.

IV. DOS PEDIDOS

Com essas considerações, o Ministério Público Federal requer:

(a) dada a necessidade de garantia da ordem pública, conveniência da

instrução criminal e aplicação da lei penal, a conversão da prisão temporária em prisão

preventiva em face de:

1) AFFONSO HENRIQUE MONNERAT ALVES DA CRUZ;

2) ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA;

3) ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO;

4) CARLA ADRIANA PEREIRA;

5) DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA;

6) FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO;

7) FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO;

8) JAIRO SOUZA SANTOS;

9) JOSÉ ANTÔNIO WERMELINGER MACHADO;

10) LEONARDO MENDONÇA ANDRADE;

11) LUIZ ANTÔNIO MARTINS;

12) MAGNO CEZAR MOTTA;

13) MARCELO NASCIF SIMÃO;

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14) MARCOS ABRAHÃO;

15) MARCUS VINICIUS DE VASCONCELOS FERREIRA; e

(b) dada a necessidade de garantia da ordem pública, conveniência da

instrução criminal e aplicação da lei penal, a manutenção da prisão preventiva em face de:

1) EDSON ALBERTASSI;

2) JORGE SAYED PICCIANI; e

3) PAULO CÉSAR DE MELO SÁ;

(c) como medida cautelar diversa da prisão, a decretação de suspensão

do exercício de função pública em face de:

1) ALCIONE CHAFFIN ANDRADE FABRI; e

2) JORGE LUIS DE OLIVEIRA FERNANDES;

(d) dada as respectivas exonerações, ocorridas entre a data da

deflagração da operação e hoje, a decretação de proibição de exercício de função pública em

face de

1) LEONARDO SILVA JACOB; e

2) SHIRLEI APARECIDA MARTINS SILVA.

Nada a requerer, por ora, quanto a HARIMAN ANTONIO DIAS

ARAUJO, JENNIFER SOUZA DA SILVA, JORGE LUIZ RIBEIRO, MARIA

MADALENA CARDOSO DO NASCIMENTO, MARCUS WILSON VON

SEEHAUSEN e VINÍCIUS MEDEIROS FARAH, em que pese os indícios veementes de

autoria e materialidade delitiva.

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Ao contrário do que se demonstrou quanto aos requeridos para os

quais se pede a prisão preventiva, não há, até o presente momento, nenhum elemento

mínimo que justifique essa medida gravosa, cuja excepcionalidade impõe cautela em sua

aplicação, daí porque, quanto a estes investigados, o MPF deixa de formular a imposição

de medida cautelar.

Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2018.

CARLOS AGUIAR

Procurador Regional da República

ANDREA BAYÃO PEREIRA FREIRE

Procuradora Regional da República

JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOS

Procurador Regional da República

RENATA RIBEIRO BAPTISTA

Procuradora da República

LEANDRO MITIDIERI FIGUEIREDO

Procurador da República

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