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Trovas Populares II Essas trovas são utilizadas em brincadeiras e músicas típicas populares principalmente nos municípios citados abaixo. Elas podem sofrer algumas alterações de acordo com a região. Isto é uma característica do fato folclórico que se adapta ao tempo e ao espaço. Município de Ouro Fino Você diz que sabe muito, borboleta sabe mais: anda de perna pra cima, coisa que você não faz. Você diz que amor não dói? Dói dentro do coração. Queira bem e viva ausente, veja lá se dói ou não... Meu peito padece dor, minh’alma sofre agonia meus olhos vivem chorando; - terão consolo algum dia? Estes versos que se seguem possuem um acentuado sabor lusitano, nada estranhável numa região de forte imigração portuguesa: Tanto limão, tanta lima, tanta silva, tanta amora, tanta menina bonita e meu pai sem uma nora... Quando o loureiro der baga e o loureiro der cortiça, então te amarei, meu bem, se não me der a preguiça. _______________________________________________________________ Municípios de Santa Maria do Suaçuí, Virginópolis, Peçanha e São João Evangelista Lá vem a lua saindo, já cantou o bacurau; môça gorda é girimum, môça magra é varapau. Ó engenho nôvo, engenho da Carioca;

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Trovas Populares II

Essas trovas são utilizadas em brincadeiras e músicas típicas populares principalmente nos municípios citados abaixo. Elas podem sofrer algumas alterações de acordo com a região. Isto é uma característica do fato folclórico que se adapta ao tempo e ao espaço.

Município de Ouro Fino

Você diz que sabe muito, borboleta sabe mais: anda de perna pra cima, coisa que você não faz.

Você diz que amor não dói? Dói dentro do coração. Queira bem e viva ausente, veja lá se dói ou não...

Meu peito padece dor, minh’alma sofre agonia meus olhos vivem chorando; - terão consolo algum dia?

Estes versos que se seguem possuem um acentuado sabor lusitano, nada estranhável numa região de forte imigração portuguesa:

Tanto limão, tanta lima, tanta silva, tanta amora, tanta menina bonita e meu pai sem uma nora...

Quando o loureiro der baga e o loureiro der cortiça, então te amarei, meu bem, se não me der a preguiça.

_______________________________________________________________ Municípios de Santa Maria do Suaçuí, Virginópolis, Peçanha e São João Evangelista

Lá vem a lua saindo, já cantou o bacurau; môça gorda é girimum, môça magra é varapau.

Ó engenho nôvo, engenho da Carioca;

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quero ver a cana que êsse engenho boca.

Você diz que me quer bem, eu também quero a você; onde há fogo há fumaça, quem quer bem logo se vê.

Batatinha quando nasce, põe a rama pelo chão; Sinhàzinha quando deita Põe a mão no coração.

Cachorrinho está latindo, lá no fundo do quintal; cala boca, cachorrinho, deixa meu benzinho chegar. Tigelinha d’água morna, o que faz na prateleira? Esperando o meu benzinho, que chega segunda-feira.

Segunda-feira eu te amo, têrça te quero bem; na quarta morro por ti, quinta por mais ninguém.

Chove, chuva miudinha, na copa do meu chapéu; Padre-Nosso de mulher não leva homem ao céu.

Amarelo – desespero encarnado – linda cor; seja falso quem quiser serei firme ao meu amor.

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Região do São Francisco

- Mane Palmeira? - Hein! - Ora viva a nossa união! O barco ta lá no pôrto.

- Mane Palmeira? - Hein! - Ora viva a nossa união!

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O padre tá lá no altar, tá querendo sacristão.

- Mané Palmeira? - Hein! - Ora viva a nossa união! A rêde tá lá na praia, tá querendo consertação.

- Mané Palmeira? - Hein! - Ora viva a nossa união! A cana tá lá no engenho, tá querendo moeção.

- Mané Palmeira? - Hein! - Ora viva a nossa união! A farinha tá lá no forno, tá querendo torração.

- Pego no barco e remo, ajudo missa no altá, pego na rêde e conserto, levo a cana pra muê, pego na farinha e torro;

- Eh! Mané Palmeira! Ora viva a nossa união!

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Região do Centro-Oeste de Minas (Patos, Paracatu e Patrocínio)

Teu coração bem amado, é de tão grande doçura, que se fôsse esquadrejado parecia rapadura.

O amor é como pipoca, ou como passoca de vaca; amor de mulher é cabaça de cachaça rala e fraca.

Na rua não sei de onde puseram não sei que santo, pra rezar não sei o quê, e ganhar não sei lá quanto.

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Esta noite eu tive um sonho, parece sonho de louco, abraçado com uma pedra, dava “boquinha”num tôco.

Se encontrar no seu caminho a mulher que já queri, faz o sinal-da-cruz e foge como eu fugi.

No ventre da Virgem Pura, entrou a Divina Graça. Entro como também saiu: como o sol pela vidraça.

Quanto a tetéia abre o pico, turva-se o tempo, meu bem; quem tem sua dor, que gema, que eu não sou pai de ninguém.

Tal desgraça não se evita, até parece uma lenda: meu amor faz tanta fita e compra fita na venda.

Teus vestidos eu não acho muito decentes, minha prima: são altos demais por baixo e baixos demais por cima.

Coração de sapo morto, banana não tem carôço. Garrafão tem fundo largo, botija não tem pescoço.

Resposta branda e suave quebra da ira o furor; palavras duras excitam ressentimento e rancor.

O teu rosto de morena levemente tem a côr; para poder compará-lo não encontro uma só flor.

Que os homens são uns diabos não há mulher que o negue; mesmo assim elas procuram um diabo que as carregue.

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Abrigo de todo o mundo, tens, quarto, testemunhado exaltação do feliz e queixas do desgraçado.

Não opino, nem me meto, em brigas de namorados; vocês hoje estão brigando e amanhã estão abraçados.

Sou jardineiro imperfeito, pois, no jardim da amizade, quando planto um amor-perfeito nasce sempre uma saudade.

Vi hoje uma árvore velha tôda coberta de flores e me lembrei da minh’alma carregadinha de dores.

Ao ver-te fico perdido, mulher – onça desalmada, sinto dor, fico ferido vai-se ver – não tenho nada.

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Região do Nordeste de Minas (Serro)

Se eu fôsse um retratista tirava um retrato teu, para mim pôr no meu quarto para ser consôlo meu.

Vou tirar o teu retrato, na beira do poço fundo; estando com êle na mão, estou com a jóia do mundo.

Vou tirar o teu retrato, no tampo da minha viola, o dia que não te ver, teu retrato me consola.

Fui na fonte apanhar água, molhei a ponta do lenço; o amor de muitos homens da minha parte dispenso.

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Eu joguei a prata nágua, a prata mudou de côr; eu também quero mudar o meu sistema de amor.

Dizem que a pedra é dura, mais duro é o teu coração; ela é dura, na verdade, mas não faz ingratidão.

Coração de pedra dura, da mais dura que houver; eu jurei de te amar, enquanto vida tiver.

O meu coração é mudo, não fala nem aparece; se o meu coração falasse contava por quem padece.

Morena, quando eu morrer, me enterre no mesmo dia; Eu quero ser enterrado no coração de Maria.

Eu plantei a cana verde, sete palmos de fundura; quando fôr a meia-noite, cana verde está madura.

Morena, se tu soubesses O quanto eu te quero bem, Tu não rias, não brincavas, Perto de mim, com ninguém.

Quando eu era galo nôvo Comia milho na mão. Hoje eu sou galo velho Cato com o bico no chão.

A dor que meu peito tem, Meu coração não publica Tome amor com quem quiser Que essa mágoa cá me fica.

Se suspiro fôsse bala Como estaria meu peito! Estava todo varado, Morena, por teu respeito.

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Quem ama não tem vergonha, Faz das tripas coração, Faz que não vê muita coisa, Sofre cada ingratidão!

Você ontem me falou Que não anda, não passeia, Como é que hoje cedinho Eu vi seu rasto na areia?

Você diz que me quer bem Mas ontem não riu pra mim, Deixe dêsse fingimento, Quem ama não faz assim.

Lá no céu caiu um cravo De tão grande desfolhou. Quem não amou neste mundo No outro não se salvou.

O vento bateu na porta Eu pensei que era a Sinhana, Tive pena de mim mesmo! Até o vento me engana.

Morena, minha morena, Minha flor de melancia, Um beijo da tua bôca Me sustenta todo o dia.

Peguei da minha viola E cantei num desafio: - Foi a mulher que inventou Dormir dois pra mode frio.

Que cigarro tão cheiroso! Me dê uma fumacinha. Com a desculpa do cigarro, Sua mão pega na minha.

Já fui galo, já cantei Já fui dono do terreiro. Não me importo que outros cantem Onde eu já cantei primeiro.

Diga, meu benzinho, diga, Com tua bôca, confesse Se no mundo já encontrou Quem tanto bem lhe quisesse.

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Na verdade nunca sonhei Quem tanto assim me quisesse Mas também nunca encontrei Quem mais trabalho me desse.

Eu venho lá de tão longe De tão longe venho eu Renovar uma saudade De um amor que já foi seu.

Estava no meu cantinho E não amava ninguém, Você mesmo me chamou E agora outro amor já tem.

Quem tem seu amor oculto Pra ninguém desconfiar. Quando olhar não deve rir, Quando rir não deve olhar.

Jurei não amar ninguém, Mas eu confesso a fraqueza, Não é tanto minha a culpa Como é da natureza.

Cravo branco serenado Gostoso perfume tem. Quem tem amor tem ciúme Quem tem ciúme, quer bem.

Região do Oeste de Minas:

Da banda daqui tem sicura, da banda de lá tem sicurá. Quando estiver com meu bem, ninguém venha me tentar; quando meu bem fôr simbora, ninguém me ajuda a chorar...

Todo o verso que eu sabia veio o vento e carregou; só o amor e o querer-bem na memória me ficou.

O sol prometeu à lua ramalhete de fulor; quando o sol promete prenda, que dirá quem tem amor?”

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Lá no céu não tem dois Deus; nem na terra dois senhor; eu tenho um só coração, não posso ter dois amor.

O amor e querer-bem são dois pontos delicados; Os que namoram são muitos, os que amam são contados.

Quem quiser falar de mim, fale bem, que a fama corre; deixar de amar é que não deixo, quem tiver paixão, que morre.

Vou amar a pedra dura, da mais dura que houver; quero amar rapaz solteiro, que os casados têm mulher.

Lambari está pelejando pra nadar nágua parada; eu também estou pelejando pra arranjar a namorada.

Morena, você me conte quando fôr seu casamento; quero me vestir de luto pra mostrar meu sentimento.

Eu plantei a cana Java, quando nasceu foi caiana; onde tem môça morena, eu não caso com baiana.

Fui na horta apanhar couve, mas só apanhei serralha. Eu gosto da côr morena, que é côr que não desmaia.

Bate, bate, coração, quando não puder, descansa. O alívio de quem ama, é viver na esperança.

Eu plantei e semeei samambaia no cupim; eu não tomo amor dos outros pra ninguém tomar de mim.

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Eu plantei e semeei sete sementes na mata. Sete paixões me acompanham, sete saudades me matam.

Eu plantei um dente de alho, dentro de um gomo de cana. Você pensa que eu te amo, e como você se engana!

Se eu fôsse um passarinho, todo dia eu te veria; como não sou passarinho, vivo só, sem alegria.

Passarinho, prêso, canta, deve sempre de cantar, pois se está prêso sem culpa, canta para aliviar.

Eu queria, ela queria, eu pedia, ela negava, eu chegava, ela fugia, eu fugia, ela chorava.

Duas coisas me contentam e são da minha paixão; perna grossa cabeluda, peito em pé no cabeção.

É deveras, meu amigo, agora vou lhe falar, carro não puxa sem boi e eu não canto sem tomar.

Com pena peguei na pena, com pena de te escrever; a pena caiu da mão, - são penas de não te ver.

Êste seu cabelo prêto, pelos ombros em anéis, mereciam ser atados com notas de cem mil réis.

Mandei fazer uma pipa de madeira da canela, pra passar tôda cachaça da pipa para minha goela.

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O amante sem dinheiro faz viagem sem vontade. Quem perde um amante dêste, conta grande felicidade.

Amar e saber amar, qualquer amante faz isto; mas amar como eu te amo, só eu nasci para isto.

O amor entra pros olhos, vai pro peito direitinho. Amor embebeda a gente como cachaça com vinho.

Eu não quero mais amar, coisinha que tem seu dono, o dono dorme na cama e o ladrão perde o seu sono.

Se eu fôsse um beija-flor, voava e não assentava. Voava devagarinho, e tua bôca beijava.

Se eu fôsse um retratista, tirava o retrato teu, para pôr lá no meu quarto, e ser o consôlo meu.

Menina, se eu fôsse um rato, tua parede furava; cada pulinho que eu desse os seus braços abraçava.

Passarinho que cantava no primeiro de janeiro canta sua liberdade, e eu choro meu cativeiro.

No tempo em que eu caçava, era famoso caçador. Fazia pontaria certa, meus olhos matavam amor.

Ó amor, que vai e volta, deixa o teu passarinho! Quando vier, não amole, se achar outro no seu ninho.

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Se achar outro no ninho, eu fá-lo-ei avoar. O passarinho bem sabe que quem vai há de tornar.

Eu hei de ir e voltarei no seu colo hei de assentar. Quero ver o valentão que me faça levantar.

Êste mundo vive cheio de tantas filosofias... Quem não presta quer ser bom, quem é bom não tem valia.

Eu sou cabra rezingueiro, quando pego a rezingar, mas é pra aquilo que é meu quando os outros quer tomar.

Se eu soubesse quem tu eras, quem tu havias de ser, meu coração não daria para agora padecer.

Padecer por padecer, muito tenho padecido, agora padeço mais, por trazer-te no sentido.

Bem podia os seus divinhos atender os meus gemidos, que de castigo já basta o que eu tenho padecido.

Cachorro que late grosso, é bonito quando acoa; amar quando é de gôsto, meu Deus, que coisa mais boa!

Menina tu és a uva, da uva se faz o vinho, teus braços serão gaiola, eu serei teu passarinho.

Bati na porta a tramela caiu, o caboclo apanhou, a morena saiu.

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Ribeirão que corre água, no fundo corre-lhe areia. namorar se fôsse crime eu já estava na cadeia.

Quem tiver môça bonita, traga-a prêsa na corrente, que eu também já tive a minha e jacaré levou no dente.

Ò meu Deus, como êle é bôbo em pensar que eu o adoro, só porque me viu chorando sabendo Deus por que eu choro!

Menina, chama teu pai, que eu quero te ver de perto, quero te dar um vestido de cinco mil réis o metro.

Menina, minha menina, não descubra o meu segrêdo; amor de mulher casada, acho bom, mas tenho mêdo.

Não sou daqui, sou de fora, pinto balão, vou-me embora.

Plantei cravo na baixada, hortelã nas oiteiras, a salsa me deu o cheiro, boa vida a de solteiro.

Quem aos ares quer subir e o céu quer alcançar, as estrêlas estão rindo do tombo que há de levar.

Esta noite, meia-noite, vi cantar um gavião, logo o povo já o diz, venha lá meu coração.

Dentro do meu peito trago duas cartas por abrir. Uma a de saber amar, Outra a de saber sentir.

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Dentro do meu peito trago duas escadas de flor, uma pra subir saudade, outra pra descer amor.

Vai, ó carta venturosa, por êste mundo sem fim, vai dizer ao meu amor que não se esqueça de mim.

Tenho viola de pinho, cavalete de pau prêto, hei-de te amar, menina, casamento não prometo.

A minha viola sabe querer bem: quando ela me vê chorando chora comigo também.

Minha calça é de imbira, meu colête de cipó; vou mandar tirar taquara, para fazer meu palitó. _______________________________________________________________

Região do Norte de Minas

Menina, se tu soubesses o quanto te quero bem, calava tua bôca, não falava a ninguém.

Suspirando eu deitei, suspirando amanheci. Meus suspiros foram em vão, suspirei tanto por ti.

Lá atrás daquela serra, tem um banquinho de areia, onde assentam as muié velha pra falar da vida alheia.

Lá do céu caiu um cravo, na mesa da ralação; quando o cravo foi ralado, Que dirá meu coração?

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Cupido subiu ao céu, foi pedir a Deus perdão; os anjos saíram de pedra, São Pedro de bofetão.

A perdiz pia no campo, a jaó na mata deserta; vai um amor e vem outro, nunca vi coisa tão certa.

Amor, se fores embora, não fica a praia deserta, Vão uns amôres, vem outros, não há palavra tão certa!

A maré que enche a vasa, deixa praia descoberta; Vão uns amôres, vem outros, não se dá coisa mais certa.

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Bonfim

Meu patrão é home rico, mora lá no Pau Arcado, côco verde, limão doce, êle mandou muito recado.

O recado que êle mandou, eu não posso ti falá; ocê é filha do patrão eu não posso decifrá.

Região do Nordeste de Minas

Moça está na janela comendo seu pão com queijo; da bôca faz um revólver, atira de lá um beijo.

Está chegando a hora, a hora da despedida; de ti levo saudade, saudade pra tôda a vida.

A despedida foi hoje, amanhã não pode ser;

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chega a hora da partida nem adeus posso dizer.

De teus olhos um volver, do teu lábio um sorriso; vale mais que o mundo inteiro, vale mais que o paraíso.

Menina, êstes teus olhos, são dois amigos brilhantes; de dia – são duas tochas de noite – dois diamantes.

Menina, minha menina, quem te fêz tão bonitinha?

Meu amor não é este, nem aquele que lá vem; meu amor é bonitinho, não mistura com ninguém.

De longe te trago perto, à vista dos olhos meus; dentro do meu peito trago o lindo retrato teu.

Tudo que é triste no mundo, quisera que fôsse meu; para ver se tudo perto, era mais triste que eu.

O vapor da Cachoeira não navega mais no mar; anda, roda e toca o buso, Nós queremos navegar. Ai, ai, ai, nós queremos navegar.

Atirei um limão verde numa môça na janela; o limão caiu no chão, eu caí no colo dela.

Eu fui me confessar que não tinha amor nenhum; a penitência do padre foi que namorasse ao menos um.

A garça com o bico n’água pode estar quarenta dias;

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eu fora de meu bem, nem uma hora, nem um dia.

Bate água, bate na pedra, na pedra dura do peito. Como cabem tantas mágoas num espaço tão estreito?

Menina tome esta uva, Da uva faça seu vinho; teus braços serão gaiola, eu serei o passarinho.

Agora acabei de crer que o amor é coisa triste; dá-se por acabado e o coração não resiste.

Bem vejo que não mereço seu carinho e seu amor; por isso é que choro, suspiro e padeço dor.

Ingratidão vou sofrendo até o dia marcado, que tudo no mundo tem fim, e há de ser acabado.

O amor que tenho a você nunca há de se acabar; não perco a esperança do nosso coração juntar.

Muitas que amei, muitas que me amaram, nenhuma deixou paixão como a da que gostei.

De dia vivo triste, de noite apaixonado, morrendo de sentimento, sem poder ser consolado.

Grande razão eu tenho de viver amargurado, porque sou louco por ti, mas fico tão desprezado.

Depois que vim de lá, poucas noites tenho dormido;

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anoiteço, amanheço com você no meu sentido.

Vou ao Rio de Janeiro fazer queixa ao delegado, que o maldito trem de ferro muita gente tem matado.

Existe esta variante:

Vou ao Rio de Janeiro fazer queixa ao delegado, que o maldito trem de ferro carregou meu namorado.

Menina você me espera, deixa correr esta sorte, não temas, que serei firme até na hora da morte.

Sou de pouca ventura quando se fala em amor; eu morrendo por você e você nem uma flor.

Alembro de que já fui, Hoje não sou mais ninguém. Já fui consôlo dos tristes, Hoje sou triste também.

Já não posso mais sofrer e vou sofrendo devagar Ainda há de chegar o dia, do meu sofrer acabar.

Cai o raio sôbre a terra, assim como hei de falar. Um amor como êsse nosso, não precisa se acabar.

Coração como êste meu, você precisa dar valor, porque vive sofrendo por causa do nosso amor.

O meu coração é mudo, não fala, nem aparece; se meu coração falasse, chorava, porque padece.

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Você de lá, eu de cá, ribeirão passa no meio; você de lá dá um suspiro, eu de cá suspiro e meio.

Você me chamou de feio, eu não sou tão feio assim; foi depois que você veio, é que pegou feio em mim.

O cravo por ser poeta, pediu à rosa um botão; a rosa por ser ingrata, deu-lhe com as fôlhas no chão.

As estrêlas do céu correm, do nascente para o norte; também corre a fortuna, para quem tem boa sorte.

Ainda que teu pai não queira, tua mãe diga que não, eu querendo e tu querendo, tudo está em nossas mãos.

Quem me dera, dera, dera, um cavalinho de vento; para dar um galopinho, onde está meu pensamento.

Vou fazer meu reloginho da folhinha do poejo; para contar os minutos e horas que não te vejo.

Coitadinho de quem ama, do outro lado da lagoa; de dia não tem tempo, de noite não tem canoa.

Coitadinho de quem canta, na porta do seu amor: do sereno faz a cama, das estrêlas cobertor.

Tirei abelha mumbuca, no chifre do marruá; tirei mel para beber, e cêra pra alumiá.

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Bati o pé na bola; Joguei a bola pr’uá; êsse jôgo da bola não é pra qualquer jogá.

É divera companheiro, comigo você não pode; eu te espremo na parede, você berra como um bode.

É divera meu colega, meu colega cidadão; eu conheço um caboclinho do cotovêlo pr’mão.

Eu subi pru rio arriba, encontrei com João Diá; eu quero que você me conta quem ensinou peixe nadá.

Companheiro de porfia, eu não quero porfiá; quem porfia mata caça eu não quero te matá.

Bendito é negro rico, diretô da negraria; Se não sou cabra esperto, Benedito me lambia.

Camisinha de José não se lava com sabão; lava com raminho verde água do meu coração.

Trepadeira vermelhinha, atrepou na gamileira; nunca vi homem casar sem dinheiro na algibeira.

Sete e sete são quatorze, com mais sete vinte e um; ainda ontem eu tinha sete, hoje não tenho nenhum.

Tiro-li gambá-ruê, tiro-li gambá-ruá; môça, aperta seu colête, balanceia seu tundá.

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Essas meninas de agora, tôdas querem se casar; põe a panela no fogo, e não sabem cozinhar.

Quando eu era galo nôvo, comia milho na mão; agora sou galo velho, bato com o bico no chão.

A lua já vem saindo, redonda como um botão; calçada de meia de sêda, sapatinho de algodão.

Menina diga teu pai, que eu dêle não tenho mêdo; por êle mandei fazer, um anel para teu dedo.

Tomara que seque o mato, pra ver o que as formigas come, pra depois chegar o tempo das muié tratar dos home...

Alecrim da beira d’água, manjerona d’outra banda, hei-de te amar, ó morena, inda que corra demanda.

Mandei fazer um relógio, de talhadinhas de queijo, pra nêle marcar as horas dos dias que não te vejo.

No caminho da fazenda que não tem pedra nem areia, tôda hora, todo instante, meu sentido lá passeia.

No Triângulo tem três coisas, que é da gente admirar, muito gado, môça bonita, dinheirama pra gastar.

Menina de olhos de fada, me dê água pr’a beber; não é sêde, não é nada, é vontade de te ver.

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Fui andando pr’um caminho, ramo verde balançou; fica quieto ramo verde, nosso tempo já passou.

Não sei o que significa, dois anéis num dedo só; significa duas môças namorando um coió.

Plantei o meu ananás, e nasceu abacaxi; tanto tempo que eu pelejo, pra tirar meu bem daqui.

Laranjeira é pau de espinho aonde eu sento para chorar, Meu amor é meu sòzinho, todo o mundo quer tomar.

Eu pedi à laranjeira que não desse mais fulor; ela passa sem laranja como eu passo sem amor.

Laranjeira atrás da porta, que laranja pode dar? Môça que namora muito, marido não pode achar.

Laranjeira pequenina, carregada de fulor; eu também sou pequenina, carregada dos amor.

Você diz que nunca viu laranjeira dar limão; pois na minha horta tem pepino que dá feijão.

Laranjeira que secou, está tornando enverdecer. O amor que me deixou está tornando me querer.

Alecrim na beira d’água, não se corta com machado, você ainda olha pra mim, cara de sapo rajado?

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Alecrim na beira d’água, Pode estar quarenta dias; Um amor longe do outro não pode estar nem um dia.

Alecrim verde e cheiroso na janela de meu bem, eu sou mal-afortunado, quem mandou eu querer bem?

Vou plantar êste alecrim na hora de Deus, amém, Se o alecrim pegar, meu amor pega também.

Se seus beijos espigassem, como espiga o alecrim, haveria muita gente com inveja de mim.

Alecrim na beira d’água tem a raiz amarela; É difícil encontrar amor firme nesta era.

Alecrim da beira d’água manjerona da outra banda, hei de amar aquêle roxo ainda que corra demanda.

Alecrim verde e cheiroso chora a terra em que nasceu; eu também vivo chorando por um amor que já foi meu.

Menina dos olhos prêtos sobrancelhas de retrós; eu faço carinho às outras, mas não me esqueço de vós.

Menina, teus olhos prêtos, que inda ontem reparei, achei muito de meu gôsto, só por morte os deixarei.

Menina dos olhos prêtos, sobrancelhas de veludo, vamos berganhar os olhos com sobrancelhas e tudo.

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Menina dos olhos prêtos, sobrancelhas de veludo, ainda que teu pai não queira, teu corpo merece tudo.

Você disse que bala mata, bala não mata ninguém; a bala que mais me mata são os olhos de meu bem...

A saudade, se matasse, eu já tinha falecido; penso que não mereço o tanto que tenho sofrido.

Não há tinta nesta rua, nem papel nesta cidade; nem pena que resista escrever tanta saudade.

Saudade que tenho passado, não sei como não morri, por não poder estar gozando da terra onde nasci.

Se os meus suspiros pudessem aos teus ouvidos chegar, verias que uma saudade, é bem capaz de matar...

Pra tirar meu bem daqui, precisa de paciência; o malvado do ciúme fazedor de malquerença.

Quem quiser me ouvir cantar, tem que me pagar primeiro; minha goela não é fole nem é tenda de ferreiro.

Esta noite tive um sonho, que meu marido morreu; acordei muito assustada, antes ele do que eu.

Minha senhora dona, senhora dona, meu bem, do agrado sou cativo, negro não sou de ninguém.

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Menina, tu és a uva, a uva que faz o vinho; meus braços são gaiola e eu serei teu passarinho.

Menina, me dá seu lenço, que eu quero chorar com êle, já que não tive a fortuna de chorar com a dona dêle.

Meu amor me deu um lenço, peguei nêle pela ponta, pra êle ficar sabendo que de amor não faço conta.

Suspiros que vão e vêm, dai-me novas de meu bem; se é vivo ou se é morto, se está nos braços de alguém.

Meu amor quando se foi, me pediu que não chorasse; desse só suspiro e meio quando dêle se lembrasse.

Quem me dera ser um pássaro pássaro jarari, pra caindo nos seus braços nunca mais de lá sair.

Menina, chama teu pai, que êle venha ter comigo; pra pagar o que me deve ou você casar comigo.

Tu és a fonte serena o teu olhar – água pura; só falta, ó linda morena, ser a minha formosura.

Caititu do Mato Grosso, corre mais do que cotia; jararaca quando morde, sempre faz uma rodia.

Tenho meu colchão de penas, meu lençol de piedade, travesseiro de suspiro, fronha de mata-saudades.

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Ó meu Deus, como êle é bôbo, em pensar que eu o adoro, só porque me viu chorando! Sabe Deus por quem eu choro!

Da laranja quero um gomo, do limão quero um pedaço; da criança quero um beijo, e de ti quero um abraço.

Olha aquêle passarinho onde foi fazer seu ninho: na mais alta laranjeira, no derradeiro galhinho.

Da laranja nasce a lima, da lima nasce o limão; da mulher nasce o ciúme, do homem a ingratidão.

Tanta laranja madura, tanto limão pelo chão; tanto sangue derramado dentro do meu coração.

Eu vou dar por despedida, lá na proa do navio; a mulher foi que inventou dormir dois pro mode o frio.

Eu estava cheirando a cravo que a morena me deu; ainda não tinha cheirado, quando a peroba desceu.

Eu não gosto de brincar onde não sou conhecido; tenho mêdo da peroba zoar nos meus ouvido.

Eu não sou casa caída, nem parede derrubada; eu não sou chá de canela pra curar cabeça inchada.

Fui na fonte beber água debaixo da ramalhada; era só pra ver Maria, que a sêde não era nada.

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Passarinho chora, chora, chora sem maginação, tome amor e more longe pro ocê ver se dói ou não.

Chove, chuva miudinha, na copa do meu chapéu; além dos trabalhos do mundo, ainda o castigo do céu.

Sabiá cantou no tôco, saracura cantou no brejo; não posso dançar aqui, que as môças tá de privilégio.

A mulher e a galinha pouco devem passear; a galinha bicho come, a mulher dá que falar.

_______________________________________________________________ Muito interessante é esta contribuição arrecadada em Peçanha, intitulada: “A-E-I-O-U”:

É deveras, mano velho, peixe nágua não se afoga; das cinco letras vogais, a primeira é a que voga.

A, e, i, o, u, bicho mau é urubu. U, o, i, e, a, deixa a viola cantá.

Você me mandou cantar pensando que eu não sabia; jararaca fêz o bote, cascavel faz a rodia.

Eu joguei meu limão verde, que desceu pro morro abaixo; deu no ouro, deu na prata, deu na môça que eu queria.

Menina não sai lá fora, que lá fora está ventando; é a fôlha do coqueiro que está balanceando.

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Adeus, campina tão verde, Onde meu bem assentou; Campina, fala verdade, com quem meu bem conversou?

Lá atrás daquela serra, Tem dois cravos para abrir; Quem me dera ser sereno, Para num dêles cair.

Lá atrás daquela serra, Passa boi, passa boiada; Também passa a moreninha, Do cabelo cacheado.

Menina, minha menina, Cinturinha de retrós; Dá um pulo na cozinha, Vai fazer café pra nós.

Lá atrás daquela serra, Tem duas fitas voando; Não é fita, não é nada, Meu amor que está penando.

Menina, minha menina, Sapatinho de cordão; Na barra da tua saia Navega meu coração.

Lá no céu caiu um cravo, De tão alto desfolhou, Um beijinho do meu bem, De tão doce açucarou.

As estrêlas miudinhas, Têm o céu muito composto; Já te disse moreninha, Quem te ama tem bom gôsto.

Tenho minha viola nova, Cavalete de pau prêto; Eu quero te amá, morena, Casamento não prometo.

Meu patrão é home rico, Mora lá no Pau-Arcado, Côco verde, limão doce, Êle mandou muito recado.

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O recado que êle mandou, Eu não posso ti falá; Ocê é filha do patrão, Eu não posso decifrá.

O meu coração é mudo, não fala nem aparece; Se meu coração falasse, diria por quem padece.

Eu tenho dentro do peito duas espinhas de peixe: uma diz que não te ame, outra diz que não te deixe.

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Região do Centro-Sul, Cubas (Santana de Ferros): Cantaria de Batuque

- Lá do Cubas, lá embaixo, eu trouxe uma morena na garupa do meu macho, lá no Cubas, lá embaixo.

Lá embaixo vem um bicho, segura nêle que é baleia; Meu amor vem caindo segura nêle senão bambeia.

A corneta quando toca, Toca, toca, a reunir, Acorda minha gente, que é hora de partir.

Adeus, adeus! não chores não! Adeus, querido anjo, até outra ocasião.

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Esta perlenga é de Santa Maria de Itabira

Eu botei meu cachorro no mato, Tatu tá no moinho, fui correndo cercar no serrado, tá roendo fubá; as meninas estão dizendo Eu também vou moer que o cachorro vem calado. fubá prá Sinhá.

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O galo canta, Penera prá lá, o pinto pia; penera prá cá; Levanta Maria, Vamo penerá que já é dia. fubá pra Sinhá.

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Região do Nordeste de Minas (Sabinópolis) Dez mandamentos em forma amorosa fazem paródias para fazer sátiras sociais ou política

Desde que te vi (nome da pessoa) outro môço não amei; já não sei mais quantas vêzes os dez mandamentos rezei.

Amar a Deus e a você é para mim um dever; se você me fôr constante, hei de amá-lo até morrer.

Não jurar nunca, queridinho, o seu santo nome em vão; jurarei amá-lo sempre de todo o meu coração.

Ouvir a missa aos domingos, e dias santificados, eu as missas ouvirei só junto do meu amado.

Honrar pai e mãe - meus pais obedecerei; só por causa de você, meus pais desobedecerei.

Não matar - nunca matarei ninguém Deus conserve a vida a todos e a sua vida também.

Guardar castidade é virtude apetecida, que terei junto a você para tôda minha vida. Não furtar

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Nada que dos outros são; Mas você bem que furtou meu pobre coração.

Não levantar falso A ninguém; Eu digo que não é falso O meu amor ao meu bem.

Não cobiçar as coisas Que dos outros são; de você cobiçarei o bondoso coração.

Não desejar mal do próximo a mulher; só desejo o seu olhar, enquanto ele me quiser.

Estes dez mandamentos Só duas coisas encerram; Amar a Deus lá no céu E a você aqui na terra.

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Região do Oeste de Minas: Antônio Monforte conta que

São o relógio do pobre, os galos madrugadores, que ainda a noite nos cobre, já eles andam de amores.

Receia-os tanto o diabo, Como ao cruzeiro da igreja. Não leva as obras a cabo, Logo que um galo o preveja.

Ave Jeal e sagrada, As sombras têm-lhe medo. Por sua causa a alvorada Desperta sempre mais cedo.

Por isso os homens rendidos À vigilância dos galos, Nos campanários erguidos, costumam sempre arvorá-los.

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Região do Oeste de Minas (Estrêla do Indaiá)

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Você diz que bala mata, Bala não mata ninguém. A bala só mata a gente quando a gente estima alguém.

Você diz que vai, que vai, E não leva eu também. Esta é sua ingratidão, não é de quem quer bem. Roco-teco tererê, Roco-teco tererá, minha barba pegou fogo, meu bigode quer queimar.

Eu joguei o jacu nágua e o jacu nágua morreu. E fiquei admirado De ver as voltas que o jacu deu.

Debaixo da malva-rosa sentemos e conversamos; se houver algum transtorno, somos solteiros e casamos.

Eu já estou com saudades lá da terra do Indaiá, quando a noite vem chegando e o matum pega a gemer, dá vontade de chorar...

Perlenga: Feijão, arroz, couve e mocotó: - alegria de pobre é um dia só...

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Região do Rio São Francisco

Menino de beira-rio que, quando vê gente corre, se é linda, por que não fica? se é feia – porque não morre?

Farinha com rapadura n’água faz geléia, toma a benção, chamo a tia, quando vejo muié veia.

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O meu Rio São Francisco corre que desaparece; no meio tem um remanso onde o meu amor padece.

Ai, meu bem, você me mata, eu não quero morrer, não; se eu morrer, você me enterre, na cova do coração. ___________________________________________________________

Região do Médio São Francisco Perlengas: - Sua perna é preta enrolada na baeta - Você com seu pé de gancho não entra no meu rancho.

Eu vou ali eu volto já, eu vou panhá maracujá.

Se tem paixão, me rodeia, se tem dinheiro, me sameia!

Sabão de muqueca, coquinho de alegria, Quando galo canta Macaco sovia: Fiau, Fiau! Fiau de alegria.

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Região do Nordeste Mineiro

Perlenga: Sabiá cantou? É sica Tôda môça bonita É rica.

Pipoca, ameidoim torrado, - Eu vi sua vó n’um carrinho quebrado.

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Torra, soca e côa - Café requentado traz macacoa.

Vem cá, Zabedeu, vêm cá, Eu que te contar, um caso que sucedeu, na ilha de Jericó. A mulher matou o marido com caldo de mocotó - Vem cá, Zabedeu, vem cá!

- Você gosta de mim? - Eu também de você. Vou pedir a teu pai para casar com você . Se êle disser que sim, tratarei dos papéis , se disser que não morrerei de paixão.

-Tá falando de mim? -Deixa lá. Não é gente de bem, que me importa lá!

Môça bonita, Balaio de fulo. Arreda pra lá tá fazendo calô.

Ai! bambu! negro de casaca, parece urubu! arruá, arrue, urubu tem que fazê.

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Município de Santa Maria de Itabira:

Perlenda: Meio-dia, panela no fogo, barriga vazia, macaco torrado, chegou da Bahia, fazendo careta pra D. Maria.

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Região do Médio São Francisco (Januária)

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-Minha mãe, quero me casar. -Minha filha, diga com quem? -Minha mãe, com o tropeiro. -Minha filha, não casa bem. Assim como êle bate no couro, engenha minha filha também.

-Minha mãe, quero me casar. -Minha filha, diga com quem? -Minha mãe, com o ferreiro. -Minha filha,não casa bem. Assim como êle malha o ferro, malha minha filha também.

-Minha mãe quero me casar. -Minha filha, diga com quem? -Minha mãe, com o engenheiro. -Minha filha, não casa bem. Assim como êle faz engenharia, engenha minha filha também.

-Minha mãe, quero me casar. -Minha filha, diga com quem? -Minha mãe, com um homem rico. -Minha filha, você casa bem. Assim como êle têm dinheiro, Minha filha terá também.

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Região do Oeste de Minas (Itaúna, Cajuru)

Cantiga: Bezerro de Maio Eu sou aquêle bezerro que nasceu no mês de maio, eu nasci com triste sina de passar muito trabaio.

Com a idade de ano e meio Começou a marcação, e em vez de amansar de carro, amansou de carretão.

Mulato do meu carreiro, mulato sem coração, batia com pé da vara, me machucava com o ferrão. Eu dei nele uma chifrada que varou o coração.

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Em um ano eu fui bezerro, em um ano e meio garrote, e agora sou boi velho, chegando perto da morte.

Olhei no alto do campo, avistei dois cavaleiros. Um era o meu patrão, que vinha me visitar e o malvado do carniceiro que já vinha me buscar.

Me fecharam no curral, e não achei mais saída. Melhor jeito que eu achei foi entregar minha vida.

Adeus, terra do coqueiro, terreno dos ananais, olhos que hoje me viram, amanhã não me vê mais.

Bati de joelho na terra, pra não ver sangue correr Adeus, tudo que é do mundo, que agora vou morrer.

Eu já fiz uma promessa pra quem meu couro tirar. O mundo dá muita volta, sem camisa hei de ficar.

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Região da Zona da Mata (São Paulo do Muriaé): Cantiga

Capelinha de São João É de melão. É de cravo é de rosa e de manjericão São João está dormindo, que não houve nada. É de cravo é de rosa, e de manjericão

Acordai, acordai, João! Venha ver as andorinhas Que já vão para o sertão. Andorinha! Andorinha! Andorinha!

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Região Central de Minas (Bonfim): Cantiga de viola

É divera, companheiro, agora vou te falá o que é macumba – fumba -é mafundará. O que é que significa mulhé velha namorá.

Mulhé velha se namora. com atenção de se casá bota fumo no cachimbo solta fumaça pru ar.

Sou menino pequitito, não morro sem batizá. É peta, colega é peta, é peta ocê pelejá.

É divera, companheiro, eu também quero falá. Já vi um bago de mio, dá três quarta de fubá. Também já vi um carneiro depois de morto berrá.

É divera companheiro, bonito vou lhe falá Quero que você me conta, quem ensinou Deus a rezá.

Quem ensinou Deus a rezá foi livro de rezaria. Começou no Padre-Nosso, terminou na Ave-Maria.