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TT55 PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL ESTUDO DE CASO RELAÇÃO ENTRE TRINCAS E FISSURAS DE IMÓVEIS E EXECUÇÃO DE COLETOR TRONCO PELO MÉTODO NÃO - DESTRUTIVO ANA CAROLINA VALERIO NADALINI PERITA JUDICIAL ATUANTE NA ÁREA DE PERÍCIAS E AVALIAÇÕES DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL, NOMEADA POR JUÍZES DE DIREITO NA CAPITAL, INTERIOR E LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, ASSISTENTE TÉCNICO E CONSULTORA DE DIVERSOS ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA E EMPRESAS PRIVADAS. GRADUADA EM ENGENHARIA CIVIL E PÓS-GRADUADA EM ENG. AMBIENTAL, AMBAS PELA FAAP. CURSOU UM QUADRIMESTRE DO MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL DO IPT/SP - USP EM 2006.

TT55 PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL ESTUDO DE CASO … · - Plano de Fogo elaborado por Consultoria em Engenharia; - ABNT NBR 9653, 1896. Guia para avaliações dos efeitos provocados

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TT55

PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL ESTUDO DE CASO RELAÇÃO ENTRE TRINCAS E FISSURAS DE IMÓVEIS E EXECUÇÃO DE COLETOR TRONCO

PELO MÉTODO NÃO - DESTRUTIVO

ANA CAROLINA VALERIO NADALINI PERITA JUDICIAL ATUANTE NA ÁREA DE PERÍCIAS E AVALIAÇÕES DE ENGENHARIA CIVIL E

AMBIENTAL, NOMEADA POR JUÍZES DE DIREITO NA CAPITAL, INTERIOR E LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, ASSISTENTE TÉCNICO E CONSULTORA DE DIVERSOS ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA E EMPRESAS PRIVADAS. GRADUADA EM ENGENHARIA CIVIL E PÓS-GRADUADA EM ENG. AMBIENTAL, AMBAS PELA FAAP. CURSOU UM QUADRIMESTRE DO MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL DO

IPT/SP - USP EM 2006.

XIV COBREAP – CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE

AVALIAÇÕES E PERÍCIAS. IBAPE/BA

NATUREZA DO TRABALHO: PROFISSIONAL

PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL – ESTUDO DE CASO – RELAÇÃO ENTRE

TRINCAS E FISSURAS DE IMÓVEIS E EXECUÇÃO DE COLETOR TRONCO

PELO MÉTODO NÃO - DESTRUTIVO

Resumo

Este trabalho consiste em estudo de caso, do resultado de uma perícia técnica sobre

manifestações patológicas e suas eventuais causas que atingiram dez imóveis

situados no Município de Osasco/SP, em decorrência da obra de execução do

Coletor Tronco Ribeirão Vermelho, através da utilização do método não–destrutivo

conhecido como NATM (New Austrian Tunneling Method), e conseqüente utilização

de explosivos.

Palavras-chave: Patologia das construções, Prova pericial de engenharia,

Explosivos, Método não-destrutivo.

II

1. PRELIMINARES .............................................................................................................2

1.1 OBJETO...........................................................................................................2

1.2 OBJETIVO .......................................................................................................4

1.3 DOS TRABALHOS PERICIAIS ...........................................................................4

2. VISTORIA ........................................................................................................................6

2.1. LOCALIZAÇÃO............................................................................................6

2.2. CONSTATAÇÕES FEITAS NO LOCAL..........................................................10

2.2.1 DEMAIS IMÓVEIS VISTORIADOS ...............................................................38

3. ANÁLISE DOCUMENTAL ..............................................................................................41

3.1 EXECUÇÃO DA OBRA................................................................................41

3.2 SONDAGENS ..............................................................................................42

4. ANÁLISE DA QUESTÃO .............................................................................................44

4.1 COM RELAÇÃO AO USO DE EXPLOSIVOS ......................................................44

4.2 COM RELAÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO ......................................46

4.3 COM RELAÇÃO ÀS CONSTRUÇÕES PROPRIAMENTE DITAS ..........................47

5. CONCLUSÕES...............................................................................................................49

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................51

2

1. PRELIMINARES

,

1.1 Objeto

Os autores propõem na inicial uma Ação de Reparação de Danos

contra ré-construtora, alegando basicamente os seguintes motivos:

- Os autores são proprietários dos imóveis situados na Rua Luiz Rink, nº 54

e 58, na Vila São José em Osasco.

- De acordo com os requerentes, a ré executou obras na rede esgoto nas

proximidades de seus imóveis, no período entre 2002 e 2004, o que teria

ocasionado diversas fissuras em toda a estrutura de ambas as casas.

- Os aludidos danos teriam sido causados por vibrações no subsolo

advindas do uso de explosivos para o desmonte de grandes rochas, utilizado

na aludida obra de esgoto.

- Os autores afirmam que as avarias em suas residências se deram em toda

a extensão das casas, atingindo paredes, piso e telhado, ocasionando

inclusive vazamentos através das fissuras geradas pelas constantes

explosões.

- Alegam ainda que o encarregado da obra, teria solicitado orçamento a uma

empresa de Engenharia para reparação dos danos constatados nos imóveis

em questão. Afirmam inclusive, que o mesmo teria reconhecido que os

problemas nas casas teriam surgido após o início das obras.

- Os autores fizeram a juntada de documentos de fls. 09/108, constando

3

entre eles: o orçamento para reparação dos danos no valor de R$ R$

11.833,00 datado de maio de 2004 e ilustrações fotográficas dos imóveis

objeto da lide.

- Ao final da inicial, requerem a procedência da ação, a citação da ré e a

condenação da mesma ao pagamento de custas processuais, honorários

advocatícios e demais cominações legais.

Por sua vez, a requerida na contestação de fls. 159/171, alega em

síntese basicamente o seguinte:

- A obra em questão consistia na execução do interceptor do Coletor Tronco

Ribeirão Vermelho, no trecho do PV-6 ao PV-4, no Município de Osasco/SP,

sendo a ré vencedora da licitação promovida pela SABESP.

- A obra foi executada através do método não destrutivo, conhecido como

NATM, cuja principal vantagem é a não necessidade de abertura de valas na

via pública, evitando transtornos à população.

- A ré afirma que o trabalho foi feito atendendo os níveis de ruídos permitidos

por lei, nos horários autorizados pela Municipalidade e que não houve

vibrações em torno da obra.

- No entanto, durante a execução da obra em questão, a requerida teve

ciência que moradores da Rua Luiz Rink haviam comunicado à SABESP que

seus imóveis teriam sofrido danos em decorrência da execução do

interceptor.

- Assim, a requerida contratou os serviços de duas empresas de consultoria

na área de engenharia, para que verificassem se o serviço realizado por ela

teria ocasionado qualquer dano às residências dos moradores.

4

- Munida de pareceres elaborados empresa especializada, onde foi

constatado que a obra em questão não teria sido responsável pelos

problemas apontados, a requerida encaminhou os pareceres aos autores e

deu por encerrada as ocorrências.

- A ré afirma ainda que os danos na casa dos requerentes já existiam antes

de iniciadas as obras, sendo decorrência de falhas construtivas.

- Face ao exposto, requer a improcedência da ação e a condenação dos

autores nas despesas processuais e honorários advocatícios.

Saneado o feito e necessária a prova pericial foi a signatária honrada

com a sua nomeação na qualidade de perita judicial, tendo sido indicados

assistentes técnicos de ambas as partes.

1.2 Objetivo

O objetivo do presente trabalho é fornecer subsídios ao MM. Juízo,

elaborando laudo técnico e respondendo aos quesitos formulados, para a

apuração de eventuais problemas causados nos imóveis dos autores em

decorrência da obra de execução do Coletor Tronco Ribeirão Vermelho, no

trecho do PV-6 ao PV-4, no Município de Osasco/SP.

1.3 Dos trabalhos periciais

Os trabalhos para a elaboração do presente laudo implicaram nos

seguintes procedimentos:

Vistorias:

Os trabalhos de campo começaram com uma vistoria detalhada dos

5

imóveis em questão, com a presença dos assistentes técnicos das partes,

que consistiu em:

- Vistoria das áreas internas e externas dos imóveis dos autores;

- Vistoria da obra executada pela requerida, no trecho próximo aos

imóveis em questão, e do Córrego Ribeirão Vermelho.

Posteriormente, a signatária efetuou uma segunda visita ao local, para

a constatação da existência ou não de problemas em outros imóveis da

região.

Análise documental:

Nos autos:

- Contrato CSO nº 23682/01, firmado entre Construtora e Sabesp de

fls. 173/204;

- Relatório Técnico CT Ribeirão Vermelho;

- Parecer Técnico – Impactos Ambientais por Vibração, elaborado por

uma consultoria em Engenharia.

Obtida pela perícia:

- Projeto Executivo dos Coletores Tronco de Esgoto da Bacia TO-20

(Ribeirão Vermelho), fls. 01 e 02;

- Plano de Fogo elaborado por Consultoria em Engenharia;

- ABNT NBR 9653, 1896. Guia para avaliações dos efeitos provocados

pelo uso de explosivos nas minerações em áreas urbanas

(Procedimento).

6

2. VISTORIA

2.1. Localização

Os imóveis em questão estão situados na Rua Luiz Rink, nº 54 e 58,

na Vila São José do bairro denominado Rochdalle, no Município de

Osasco/SP.

O trecho em questão, indicado no mapa da figura 1, encontra-se na

Rua Luiz Rink, entre as ruas Mario Macílio e Luís Durazzo, sendo provida de

todos os melhoramentos públicos essenciais, estando localizada nas

proximidades da Avenida Brasil e Rodovia Castelo Branco, e ainda do braço

morto do Rio Tietê denominado Ribeirão Vermelho. Sua ocupação, bem

como das vias adjacentes, tem caráter misto, representado por residências

de padrão simples e comércio de âmbito local.

Segundo informações locais, ocorrem inundações na Avenida Brasil

e em parte da Rua Luis Rink devido às enchentes do Ribeirão Vermelho, no

entanto tais inundações não atingem os imóveis pesquisados.

7

Figura 1: mapa da região indicando localização dos imóveis em questão e

do Córrego Ribeirão Vermelho.

Figura 2: vista aérea da região indicando a localização dos imóveis, da obra

da Sabesp e do Córrego Ribeirão Vermelho (fonte: Google Earth).

IMÓVEIS Ribeirão

Vermelho

IMÓVEIS

RIBEIRÃO

VERMELHO

Coletor tronco

8

Foto 01: Vista dos imóveis de propriedade dos autores.

Foto 02 vista da quadra onde estão situados os imóveis em questão.

IMÓVEIS

RUA LUIS RINK

CANTEIRO DE OBRAS

IMÓVEL

Nº 58

IMÓVEL

Nº 54

9

Foto 03: Vista da Avenida Brasil no trecho onde foi assentado o coletor tronco.

Foto 04: Vista do córrego Ribeirão Vermelho nas proximidades dos imóveis da Rua Luis Rink.

Coletor tronco

Canteiro

Córrego

10

2.2. Constatações feitas no local

Em vistoria realizada pela signatária em conjunto com os assistentes

técnicos das partes, foram inspecionados os dois imóveis relacionados na

inicial.

Trata-se de duas casas térreas geminadas em estado regular de

conservação, necessitando de reparos simples e importantes, com idade

real estimada entre 20 e 25 anos, de padrão construtivo simples de acordo

com o estudo “Valores de Edificações de Imóveis Urbanos/2002” do IBAPE

SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São

Paulo.

Foram mapeados todos os locais nos aludidos imóveis onde há

ocorrência de manifestações patológicas, os quais estão apontados no

croqui a seguir:

11

Legenda:

- Em amarelo, trincas e fissuras; - Em azul, manchas de umidade devido a infiltrações; - Em verde, local com reforma recente.

Figura 3: Croqui de mapeamento das manifestações patológicas

constatadas por ocasião da vistoria, nos imóveis da Rua Luis Rink, nº 54 e

58.

SALA

COZINHA

DORM. 2

DORM. 1

BANHO A.S.

HALL

GARAGEM

SALA

COZINHA

DORM. 2

DORM. 1

BANHOA.S.

HALL

GARAGEM

COZINHA

SALA

BANHO

DORM. 1

PAVIMENTO TÉRREO PAVIMENTO SUPERIOR

DORM. 2

HALL

17 1718

EDÍCULADORM.

VARANDASALA

Sem escala

12

Será relatado a seguir, via documentação fotográfica, a situação dos

imóveis em questão constatada na vistoria bem como as manifestações

patológicas apontadas na figura 4.

IMÓVEL DA RUA LUIS RINK, Nº 54

Foto 05: Vista da parede externa da sala de estar.

Fotos 06 e 07: Vista da fissura situada na parede externa da sala de estar.

13

Foto 08: Vista da fissura no piso da garagem.

Foto 09: Vista da fissura situada acima da porta da sala de estar.

14

Foto 10: Vista da fissura que desce a 90o da janela da sala de estar.

Foto 11: Vista da fissura localizada acima da porta que dá acesso ao hall.

15

Foto 12: Vista da fissura na parede da sala de estar (divisa com o nº 58).

Foto 13: Vista da cozinha e acesso à área de serviço com indícios de

reforma recente.

16

Foto 14: Vista da trinca existente no beiral que continua pelo teto da cozinha

e hall.

Foto 15: Vista das trincas e umidade existentes no teto do hall.

17

Foto 16: Vista das trincas e fissuras presentes no azulejo do banheiro.

Foto 17: Vista da fissura na laje do dormitório.

18

Foto 18: Vista da trinca em outro ponto do beiral, na altura do dormitório 1.

Foto 19: Vista da fissura localizada abaixo da janela do dormitório 2.

19

Foto 20: Vista das fissuras situadas próximo ao piso do dormitório 2.

Fotos 21/22: vista da fissura na vertical situada na parede do dormitório 2.

20

Foto 23: vista externa da lateral da referida casa.

Foto 24: Vista das fissuras presentes na parede externa da casa, próximo ao

piso.

21

Foto 25: Vista da trinca e umidade presente na parede externa da área de serviço, cuja causa é a furação na laje no ponto logo acima, conforme fotografias 26 e 27 a seguir.

Fotos 26 e 27: Detalhe da fiação elétrica existente sobre o beiral e furação

inadequada.

22

Foto 28: vista das fissuras próximo ao piso presentes na parede externa do

dormitório 2.

Fotos 29 e 30: vista das trincas existentes na junção do beiral com a parede

de divisa do imóvel de nº 58.

23

Foto 31: Vista da edícula que foi reformada recentemente.

Foto 32: vista externa do 2o pavimento da edícula onde foi constatada a

presença de fissuras e umidade logo abaixo da janela do dormitório.

24

Foto 33: vista de fissuras a 90o no muro de divisa.

Fotos 34/35: vista de outras trincas existentes no aludido muro.

25

IMÓVEL DA RUA LUIS RINK, Nº 58

Fotos 36/37: vista das trincas existentes na fachada do imóvel.

Foto 38: vista das trincas existentes no piso da garagem.

26

Foto 39: detalhe de outras fissuras presentes no aludido piso cerâmico.

Foto 40: detalhe do local onde houve descolamento do rodapé com a

parede, ainda na garagem.

27

Foto 41: vista da garagem e parede externa da sala de estar, e detalhe de

onde houve deslocamento da telha de fibrocimento.

Vista 42: vista da trinca existente na parede da garagem, provocada pelo

deslocamento da cobertura de telhas de fibrocimento.

28

Foto 43: vista interna da sala de estar.

Foto 44: vista da fissura situada acima da porta de entrada da sala de estar.

29

Foto 45: vista da fissura existente acima da porta que dá acesso ao hall.

Foto 46: detalhe da fissura que percorre verticalmente toda a parede de

divisa com o nº 54.

30

Foto 47: vista do hall.

Foto 48: vista da trinca existente na parede do hall, na divisa com o nº 58.

31

Foto 49: vista da trinca existente no azulejo da cozinha.

Fotos 50/51: vista das fissuras e descolamento dos azulejos na parede da

cozinha e porta externa.

32

Foto 52: vista da parede externa da cozinha onde existem fissuras.

Foto 53: vista das fissuras existentes nos azulejos do banheiro

33

Fotos 54/55: vista da umidade presente na parede do dormitório 1, próxima à

janela.

Foto 56: vista da trinca paralela ao teto e próxima à porta de entrada do

dormitório 2.

34

Fotos 57 e 58: vista das trincas existentes ao redor da janela do dormitório 2.

Foto 59: vista da rachadura que se estende pela parede externa do mesmo

dormitório.

35

Foto 60: vista da trinca presente no beiral na altura dos dormitórios.

Foto 61: vista da trinca existente no piso externo.

36

Foto 62: vista da casa dos autores de quem dos fundos do terreno olha.

Fotos 63/64: vista externa da edícula.

37

Foto 65: vista da trinca existente na parede externa da edícula próximo à janela do piso inferior.

Foto 66: vista da fissura existente na parede interna da edícula.

38

2.2.1 Demais imóveis vistoriados

Neste item será relatada a vistoria efetuada em outros imóveis da Rua

Luis Rink, para a verificação de presença de manifestações patológicas

semelhantes às encontradas nos imóveis dos autores. Tal procedimento se

torna necessário, pois se realmente houve abalo no aludidos imóveis devido

à utilização de explosivos na obra executada pela ré, os demais imóveis

também apresentariam problemas.

Figura 3: croqui ilustrativo da localização dos imóveis vistoriados pela perícia, em relação aos imóveis dos autores (em amarelo).

Cabe ressaltar que, os proprietários dos imóveis vistoriados pela

perícia, afirmaram que podiam sentir as vibrações em suas residências por

ocasião das explosões efetuadas na obra do coletor tronco.

Os imóveis vistoriados pela perícia foram os seguintes:

- Rua Luis Rink, nº 112

Observações: casa com indícios de reforma recente, porém com presença

de fissuras na fachada externa e no beiral do telhado. Segundo a

proprietária, devido às explosões que continuam ocorrendo, o vidro da sala

estilhaçou e as portas internas estão com problema de fechamento.

- Rua Luis Rink, nº 80

Observações: duas construções com idades reais de 60 anos e 20 anos,

Nº 48 Nº 42 Nº 46 Nº 32 Nº 39 Nº 35 Nº 80 Nº 112

RUA LUIS RINK

Nº 58 Nº 54

39

ambas apresentando os seguintes problemas:

- trincas e fissuras inclinadas em paredes internas;

- trincas e fissuras na laje;

- trinca no beiral do telhado e cobertura da garagem;

- havia problemas de fissuras nos azulejos da cozinha mas a

proprietário procedeu à troca dos mesmos;

- alguns pontos com presença de água devido à presença de trincas.

- Rua Luis Rink, nº 35

Observações: casa dos fundos com idade real de 50 anos em estado ruim

de conservação, apresentando rachaduras em diversos pontos da

construção.

A casa da frente tem idade real de 50 anos, apresentando trincas e fissuras

praticamente em toda a área interna e externa.

- Rua Luis Rink, nº 39

Observações: casa com idade real de 20 anos. Segundo a proprietária, a ré

efetuou reparos em sua residência em 2004, mas outros problemas

surgiram, especificamente na cozinha, onde notamos a presença de fissuras

no teto, nos azulejos e na parede externa.

- Rua Luis Rink, nº 48

Observações: casa com idade real de 20 anos, porém tendo sido reformada

há cerca de 8 anos estando em bom estado de conservação, apresentando

os seguintes problemas:

- rachadura vertical na parede da sala que tem continuação no

dormitório do 2o pavimento;

- trincas nos azulejos da cozinha, no piso do hall do 2o pavimento e

azulejos do banheiro;

- trincas na laje da garagem causando infiltração.

- Rua Luis Rink, nº 42

Observações: casa com idade real de 25 anos, apresentando os seguintes

40

problemas:

- trincas e fissuras na garagem, na sala, no hall e no dormitório da

frente;

- fissuras nos azulejos da cozinha;

- porta da sala com problema de esquadro.

O imóvel de nº 36 da Rua Luis Rink, segundo a proprietária,

apresentava problemas de trincas e fissuras mas foi totalmente reformado.

O imóvel de nº 32 da Rua Luis Rink, não apresentava problemas

construtivos por ocasião da vistoria.

41

3. ANÁLISE DOCUMENTAL

3.1 Execução da Obra

De acordo com o Termo de Contrato CSO nº 23682/01 acostado aos

autos, a requerida foi contratada pela SABESP para a execução do

interceptor de esgotos Tietê ITI-3-Trecho entre Ponte do Piqueri e Travessia

do EM-2, coletores tronco e travessias nas bacias TO-11, TO-15, TO-20,

TO-21 e TC14, incluindo interligações e obras complementares , integrantes

do sistema Barueri na RMSP.

O trecho que interessa ao estudo em questão, está situado entre o

PV-6 e o PV-4 e faz parte do Coletor Tronco Ribeirão Vermelho, sendo que

os imóveis dos autores estão localizados a uma distância aproximada de

58,00 metros conforme levantamento efetuado pela perícia.

O coletor foi executado através do método não–destrutivo conhecido

como NATM (New Austrian Tunneling Method) que consiste na escavação

seqüencial do maciço através de pequenos avanços, utilizando concreto

projetado como suporte.

De acordo com o projeto executivo do referido coletor tronco anexado

ao presente, a escavação do túnel foi executada numa camada de aterro de

argila siltosa e argila arenosa, a uma profundidade média de 6,00 metros

abaixo do nível da rua, sendo que o nível d´água se encontrava a cerca de

2,00 metros de profundidade.

Como houve necessidade da drenagem para a escavação do túnel,

42

foi realizado o esgotamento da água através de bomba submersa de

pequeno porte instalada nos poços uma vez que o nível d´água encontra-se

aproximadamente dois metros acima da geratriz superior do conduto.

Devido à presença de fragmentos de rocha que se encontravam

imersos na camada de aterro, foi necessária também a execução de

desmonte de rocha, utilizando-se carga explosiva que variou entre 0,40 kg e

0,70 kg de acordo com o Plano de Fogo em anexo.

3.2 Sondagens

Sondagens são um tipo de ensaio que consiste em introduzir um tubo

no terreno, mediante golpes de uma massa, com peso e altura constantes,

registrando a penetração e o número de golpes. A informação referente ao

estado do solo é considerada com base a resistência que o solo oferece à

penetração do mostrador

Durante a amostragem são anotados os números de golpes do

martelo necessários para cravar cada trecho de 15 centímetros do

amostrador (tubo). Desprezam-se os dados referentes ao primeiro trecho de

15 cm e define-se resistência a penetração (SPT) como o número de golpes

necessários para cravar 30 cm do amostrador, após aqueles primeiros 15

cm.

O perfil geológico do solo ao longo do coletor tronco, especificamente

no trecho do PV-6 ao PV-4, está retratado nas plantas da Sabesp fornecidas

pela requerida.

Às fls. 208/217 foi juntado outro levantamento geotécnico efetuado

numa seção transversal ao coletor, abrangendo a área existente entre o

coletor e as residências, num total de quatro furos.

43

Com base no resultado das referidas sondagens, destaca-se a

ocorrência de aterro de argila siltosa na cor marrom e cinza escuro, e argila

arenosa que encontram-se no subsolo da região, com SPT entre 3 e 11 o

que caracteriza o solo com pequena rigidez.

44

4. ANÁLISE DA QUESTÃO

Primeiramente vale ressaltar que as fissuras nas edificações são

provocadas por tensões oriundas de atuação de sobrecargas ou de

movimentações de materiais, dos componentes ou da obra como um todo

(Thomaz, 1989 1).

Ainda segundo Thomaz, as fissuras também podem ser provenientes

da má utilização do edifício, de falhas na sua manutenção, de vibrações

transmitidas pelo ar ou pelo solo, e solicitações cíclicas e degradações

sofridas pelos materiais e componentes em função do seu envelhecimento

natural.

Assim, é preciso analisar as manifestações patológicas constatadas

tantos nos imóveis dos autores, como nos imóveis adjacentes, sob os

aspectos acima mencionados.

4.1 Com relação ao uso de explosivos

Como dito anteriormente, foi necessária a utilização de

explosivos para o desmonte de rochas durante a execução do mini-túnel.

O desmonte de rochas com emprego de explosivos em áreas

urbanas gera como efeito indesejável ruídos e vibrações no solo, os quais

1 THOMAZ, ERCIO. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo, 1989.

PINI/USP/IPT.

45

podem causar danos às estruturas construídas.

A norma NBR 9653 da Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT) que regulamenta o uso de explosivos nas minerações em áreas

urbanas recomenda que se utilize, para o cálculo da carga máxima por

espera, o critério da Distância Escalonada (DE), ou seja, o valor algébrico

calculado pela fórmula abaixo:

DE = d/Q 0,5 onde:

- d é a distância em metros entre o ponto de medição e o ponto de

detonação;

- Q é a carga máxima por espera de explosivo em Kg.

- Sendo que DE deve ser maior ou igual a 40 para minimizar o risco de dano

por vibração nas estruturas vizinhas.

Para o caso em questão, o emprego da aludida fórmula resultou nos

seguintes cálculos:

Para d = 58,00 metros (distância mínima dos imóveis da R. Luis Rink em

relação ao ponto de detonação), temos:

Q (Kg) DE (> 40)

1,0 58

1,5 47

2,0 41

2,5 36

Portanto verifica-se que a carga máxima em espera de explosivos (Q)

para o caso em questão, não deveria ultrapassar 2,0 kg o que está de

acordo com o Plano de Fogo anexado ao presente.

A norma NBR 9653 ainda estabelece a velocidade de vibração de

46

partícula igual a 15 mm/s como limite máximo de vibração admissível nos

arredores das áreas de detonação. Tal medida é auferida no local, através

da soma das velocidades máxima de partícula no eixo longitudinal, vertical e

transversal, sendo que as cargas de explosivos devem ser ajustadas para

atender a legislação.

Tais medições devem ser feitas in loco por ocasião das detonações,

porém a signatária não tem como fazer a verificação uma vez que tais dados

não estão contemplados no Plano de Fogo obtido pela perícia.

Verifica-se assim, que é essencial que haja um controle em campo

para o monitoramento das detonações para que sigam rigorosamente o

plano de fogo previamente determinado, bem como a legislação vigente.

4.2 Com relação às características da região

Outro fator agravante das manifestações patológicas presentes nos

imóveis em questão é o fato de estar situado próximo ao córrego Ribeirão

Vermelho o qual transborda causando inundações nas proximidades. A

inundação ocorre tanto na Avenida Brasil como na própria Rua Luis Rink,

mas segundo informações no local, as águas da enchente não chegam a

atingir os aludidos imóveis.

No entanto, devido à ocorrência das enchentes e ao fato de o lençol

freático da região estar próximo à superfície, em alguns pontos até cerca de

dois metros, a constante infiltração de água no solo acarreta na diminuição

de sua resistência, podendo provocar recalques, este efeito é tanto maior

quanto mais argiloso for o solo, como é o caso do solo na região em estudo.

Segundo Thomaz, as variações de umidade no solo, principalmente

no caso das argilas, provocam alterações volumétricas e variações no seu

47

módulo de deformação, com possibilidade de ocorrência de recalques

localizados. Estes recalques são bastante comuns por causa da saturação

do solo pela penetração da água da chuva nas vizinhanças da fundação.

Aqui vale uma explicação sobre o comportamento dos solos em

presença de água2.

Um solo saturado de umidade é um esqueleto sólido dentro d´água.

Uma certa parte da carga que o solo suporta é absorvida pelo esqueleto

sólido e a outra pelo líquido. Logo que se permite à água escapar, o

esqueleto sólido se comprime e a pressão neutra diminui, aumentando a

carga suportada pelo esqueleto.

Finalmente, após muito tempo, água não suportará mais pressão e o

solo estará adensado. A velocidade de adensamento depende da facilidade

em que a água pode escapar ou escoar, e essa facilidade é tanto maior

quanto mais permeável for o terreno.

É esta permeabilidade que dá a velocidade de recalque das

construções. Nos solos menos permeáveis, como as argilas, a deformação é

bastante lenta, ao contrário dos solos arenosos, e a deformação é tanto

maior quanto maior a quantidade de água ela contiver e quanto maior for a

carga sobre ela aplicada.

4.3 Com relação às construções propriamente ditas

Os imóveis dos autores têm cerca de 20 anos de idade e como já dito,

são edificações de padrão simples, tendo sido provavelmente construídas

2 Explicação adaptada do livro Ao Pé do Muro de Robert L´Hermite, traduzida pelo Eng. L. A.

Falcão Bauer, editado pela Concrebras SA.

48

sem um padrão rigoroso de controle da execução.

De acordo com informações obtidas com os requerentes e também

com os imóveis adjacentes vistoriados, constatou-se que as construções

foram edificadas em sua maioria sobre brocas, um tipo de fundação pouco

profunda (estas brocas podem ser perfuradas até não mais do que 4,00

metros de profundidade) e são largamente empregadas em residências

modestas, porém não são eficazes em solos compressíveis.

Cabe ressaltar que, a signatária não logrou êxito em obter os projetos

de construção das casas dos autores, tendo inclusive se dirigido à Prefeitura

Municipal onde foi informada que não havia nenhum documento desta

natureza para consulta.

As referidas edificações apresentam diversos tipos de trincas e

fissuras, e em alguns pontos infiltração de água ou umidade no teto. A maior

parte das fissuras presentes nas paredes são inclinadas a 45o ou próximas

ao piso na horizontal, e em alguns pontos nota-se nitidamente uma variação

na abertura da fissura o que indica sintoma de recalque.

Apesar da idade avançada dos imóveis situados na Rua Luis Rink, as

trincas e fissuras constatadas por ocasião da vistoria são recentes, e

conforme relato de alguns moradores, mesmo após a reforma de algumas

casas (imóvel nº 112 e imóvel nº 48) as fissuras reapareceram.

49

5. CONCLUSÕES

Diante da exposição apresentada nos itens anteriores, onde se

procurou reunir todos os elementos documentais disponíveis, além de

informações colhidas durante as vistorias, concluímos o seguinte:

- O subsolo da região onde foi executada a obra do coletor tronco em

questão é de baixa resistência;

- as sondagens executadas indicaram um elevado nível do lençol freático,

em certos pontos situado a 2,00 metros de profundidade;

- nas sondagens transversais ao coletor, verifica-se que a profundidade do

lençol freático vai aumentando à medida que se aproxima dos imóveis dos

autores, pois se distancia do córrego do Ribeirão Vermelho. Tal fato

demonstraria que o solo não apresenta-se saturado, segundo o relatório de

fls. 208/217;

- no entanto, a região é assolada por enchentes do Ribeirão Vermelho, que

chegam a inundar as áreas circunvizinhas à dos requerentes, o que acarreta

na penetração de água causando a saturação do solo.

- Para uma distância mínima de 58,00 metros (distância dos imóveis dos

autores ao local onde ocorreu o desmonte de rocha), a carga máxima em

espera de explosivos (Q) para o caso em questão, não deveria ultrapassar

2,0 kg, o que está de acordo com o Plano de Fogo. Com relação a

velocidade máxima de vibração da partícula (15 mm/s), a signatária não tem

como averiguar pois tais medições devem ser feitas in loco e não constam

50

do referido plano de fogo;

- As fundações da maior parte dos imóveis situados na Rua Luis Rink,

inclusive dos imóveis objeto da lide, são provavelmente do tipo pouco

profunda, o que não tem grande eficácia em solos de baixa resistência e

sujeitos a saturação, podendo ao longo dos anos ocorrer recalques

diferenciados.

Em função destas premissas básicas, cuja fundamentação pode ser

verificada ao longo do trabalho, conclui-se o seguinte:

A ocorrência de trincas e fissuras em construções podem ocorrer em

função de diversas variáveis. A vibração gerada por explosivos durante a

execução da obra da ré pode ter sido o instante detonador de um processo

de instabilidade atribuído a outras causas, como recalque, insuficiência de

material, erro de cálculo de projeto, etc.

Tal hipótese é compatível com as condições pouco resistentes do

subsolo e à proximidade ao Córrego Ribeirão Vermelho e do seu

transbordamento que atinge esta área, ocasionando a saturação do solo, o

que tornaria a situação favorável à propagação das vibrações, acelerando o

processo de deformação do solo, acarretando recalques diferencias que

geraram parte das trincas e fissuras constatadas nos imóveis dos autores e

também nos imóveis adjacentes.

Tal fato explicaria também o relato dos moradores que afirmaram

poder sentir as vibrações em suas casas no momento das detonações.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR NBR

9653. Guia para avaliações dos efeitos provocados pelo uso de

explosivos nas minerações em áreas urbanas. Norma de Procedimento.

São Paulo: 1896.

BACCI, Denise de La Corte. Principais normas e recomendações

existentes para o controle de vibrações provocadas pelo uso de

explosivos em áreas urbanas – Parte II. Rem: Revista Esc. Minas. Abr/jun

2003, vol. 56, nº 2, p.131-137. ISSN 0370-4467.

KOPPE, Jair Carlos. Monitoramento geofísico de desmonte de rocha

com utilização de explosivos em condições de risco elevado em zona

urbana. Rem: Revista Esc. Minas. oct/dec 2001, vol. 54, nº 4, p.273-280.

ISSN 0370-4467.

L´HERMITE, Robert. Ao pé do muro. SOCIETÉ DE DIFUSION DES

TECHNIQUES DU BATIMENT ET DES TRAVAUX PUBLICS – PARIS, (s.n.).

SPRINGER, Richard Robert. Metodologia para realização de prova

pericial de vícios, defeitos e não-conformidades de construção em

edificações. São Paulo: IBAPE-SP, 2006

THOMAZ, Ercio. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação.

São Paulo: PINI/USP/IPT, 1989.