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FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS (FIFE) FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS (FEF) IZAÚ JOSÉ DE QUEIROZ FILHO “TUBERCULOSE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA” FERNANDÓPOLIS SP 2012

Tuberculose revisão bibliográfica

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Page 1: Tuberculose revisão bibliográfica

FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS (FIFE)

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS (FEF)

IZAÚ JOSÉ DE QUEIROZ FILHO

“TUBERCULOSE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA”

FERNANDÓPOLIS – SP

2012

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IZAÚ JOSÉ DE QUEIROZ FILHO

“TUBERCULOSE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA”

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

Banca Examinadora do Curso de Graduação em

Farmácia da Fundação Educacional de

Fernandópolis como exigência parcial para

obtenção do título de bacharel em farmácia.

Orientador: Prof. MSc. Vania Luiza Lucatti Sato

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS

FERNANDÓPOLIS – SP

2012

Page 3: Tuberculose revisão bibliográfica

IZAÚ JOSÉ DE QUEIROZ FILHO

TUBERCULOSE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de conclusão de curso aprovado como

requisito parcial para obtenção do título de

bacharel em farmácia.

Aprovado em: ___de novembro de 20___.

Banca examinadora Assinatura Conceito

Profª. MSc.Vania Luiza Ferreira Lucatti Sato (Orientadora)

Profª. MSc Daiane Fernanda Pereira Mastrocola (Avaliadora 1)

Prof. MSc. Jeferson Leandro de Paiva (Avaliador 2)

Profª. MSc. Vania Luiza Ferreira Lucatti Sato

Presidente da Banca Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela saúde e sabedoria proporcionada para a realização

desse trabalho. Agradeço aos meus familiares pelo apoio indispensável.

Agradeço também a banca examinadora, em especial a minha orientadora Vania Luiza

Ferreira Lucatti Sato, por aceitar me orientar mesmo estando sozinho e também por sua paciência,

dedicação e disponibilidade.

Page 5: Tuberculose revisão bibliográfica

“A ciência progride de duas maneiras: adicionando fatos novos e simplificando os

existentes...”

Claude Bernard

(1813 – 1878)

Fisiologista francês

Page 6: Tuberculose revisão bibliográfica

RESUMO

Mycobacterium tuberculosis são bastonetes delgados e aeróbicos restritos causadores da tuberculose (TB), uma doença infecciosa preferencialmente no sistema pulmonar e evidências sugerem que essa predileção pelos pulmões deve-se à tensão do oxigênio nestes órgãos. A doença é disseminada quando pessoas que apresentam TB pulmonar expelem partículas infectantes no ar através de tosse, espirro e ou perdigotos, podendo permanecer em suspensão por algumas horas; por isso é uma doença altamente contagiosa. Em 2010, houve 8,8 milhões de casos de TB no mundo; 5,7 milhões de notificações de casos novos e recorrentes.O Brasil ocupa o 13° lugar no ranking dos 22 países que concentram 80% dos casos de TB do mundo. A incidência da TB em 2001 foi de 42,8 casos para cada grupo de 100 mil habitantes; em 2011, caiu para 37,1 casos. Já a taxa de mortalidade que era de 3,1 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes em 2001, caiu para 2,4 em 2010. O padrão para o diagnóstico da TB é a baciloscopia e cultura com a identificação da espécie.O tratamento consiste na combinação das drogas isoniazida, rifampicina, pirazinamida e estreptomicina (ou etambutol) durante os dois primeiros meses, seguida por uma combinação de isoniazida e rifampicina por pelo menos mais quatro meses.A vacina BCG tem sido utilizada na profilaxia contra a TB humana desde a década de 1920.A tuberculose, mesmo afetando a humanidade há milênios, ainda não está totalmente controlada. O descaso com o tratamento por parte dos doentes, associado com fatores socioeconômicos e o baixo retorno financeiro para a indústria farmacêutica, ainda levam milhares à morte anualmente.

Palavras-chave: Tuberculose. M. tuberculosis. Diagnóstico. Tratamento.

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ABSTRACT

Mycobacterium tuberculosis are slender rods and aerobic restricted causing tuberculosis

(TB), an infectious disease preferentially in the pulmonary system and evidence suggests

that this predilection for the lungs due to the oxygen tension in these organs. The disease

is spread when people with pulmonary TB expel infectious particles in the air by coughing,

sneezing, or droplets, which can remain in suspension for a few hours, so it is a highly

contagious disease. In 2010, there were 8.8 million cases of TB worldwide, 5.7 million

new cases and notifications recorrentes.O Brazil occupies the 13th place in the ranking of

22 countries which account for 80% of TB cases in the world. The incidence of TB in 2001

was 42.8 cases for every 100 thousand inhabitants in 2011, fell to 37.1 cases. The rate of

mortality was 3.1 deaths for every 100 thousand inhabitants in 2001, fell to 2.4 in

2010. The standard for the diagnosis of TB sputum and culture is with the identification of

espécie.O treatment consists of the combination drug isoniazid, rifampin, pyrazinamide,

and streptomycin (or ethambutol) during the first two months followed by a combination of

isoniazid and rifampin for at least four more meses.A BCG vaccine has been used for

prophylaxis against human TB since 1920.A decade of tuberculosis, even affecting

humanity for millennia, is still not fully controlled. The neglect of the treatment by patients,

and socioeconomic factors associated with low financial return for the pharmaceutical

industry, even lead to death thousands annually.

Key words: Tuberculosis. M. tuberculosis. Diagnosis. Treatment.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Estrutura da parede celular micobacteriana 13

Figura 2 M. tuberculosis 14

Figura 3 Taxa de incidência de tuberculose, por Unidade da Federação, em

2011 20

Figura 4 Fórmula das drogas de primeira linha contra a tuberculose 24

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

2 MICOBACTÉRIAS.............................................................................................. 11

2.1 Propriedades Gerais das Micobactérias ...................................................... 11

2.2 Parede celular .............................................................................................. 12

2.3 Mycobacterium tuberculosis......................................................................... 14

3. TUBERCULOSE: A DOENÇA ........................................................................... 15

3.1 Patogênese da TB ....................................................................................... 16

3.2 Histórico da Tuberculose ............................................................................. 17

3.3 Epidemiologia .............................................................................................. 18

3.3.1 Epidemiologia no Brasil ......................................................................... 19

3.5 Diagnóstico .................................................................................................. 21

3.6.2 Imunoprofilaxia ...................................................................................... 26

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 27

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 28

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1 INTRODUÇÃO

Mycobacterium tuberculosis são bastonetes delgados e aeróbicos restritos

causadores da tuberculose (TB), uma doença infecciosa causada por bacilos

desse gênero. Os bastonetes apresentam crescimento lento, formando filamentos

algumas vezes e tendendo a crescer em cachos. Na superfície de um meio

líquido, seu crescimento assemelha-se a forma de um bolor, o que sugeriu o

nome Mycobacterium, já que o prefixo myco significa “fungo”, em latim

(TORTORA, 2008).

A tuberculose pulmonar caracteriza-se no adulto como uma inflamação

crônica intensa, acompanhada de necrose e caseificação do tecido pulmonar. As

cavidades formadas nos pulmões podem romper-se nos brônquios, levando a

difusão de bacilos pela aerolização através da tosse, espirros e perdigotos;

havendo, dessa forma, a possibilidade de contaminação de outros indivíduos

(MENEZES e SILVA et al., 2006).

A tuberculose foi a primeira doença a ser declarada uma questão de

urgência à saúde pública mundial pela WHO (World Health Organization –

Organização Mundial da Saúde, em português), em 1993. Ainda hoje é

responsável pelo maior índice de mortalidade humana por um único agente

infeccioso. Os principais fatores dessa nova pandemia são o aumento na

incidência de resistência aos fármacos, a epidemia de HIV/AIDS no início da

década de 1980 e a condição de miséria e exclusão social presente nos países

pobres (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

O presente trabalho visa realizar uma revisão bibliográfica sobre a história

da doença e suas características, seu agente etiológico, sua prevenção e

tratamento.

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11

2 MICOBACTÉRIAS

O gênero Mycobacterium é formado por bacilos aeróbios imóveis e não

esporulados. Compreende cerca de 100 espécies identificadas atualmente, muitas

das quais causadoras de enfermidades em humanos (MURRAY, 2006);

entretanto, bactérias saprófitas de solo ainda constituem a maioria dos

exemplares. Dentre as patogênicas no homem, estão as causadoras da

tuberculose (M. tuberculosis, M. bovis e M. africanum) e da lepra (M. leprae). De

forma geral, os representantes desse grupo apresentam um crescimento lento,

levando por vezes semanas para formar colônias visíveis em meio sintético

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005). Em alguns casos, estes bacilos formam

filamentos ramificados; sem dificuldade, estes, podem romper-se com facilidade.

A parede celular é rica em lipídeos, o que torna a sua superfície hidrofóbica,

conferindo as micobactérias resistência frente a muitos desinfetantes e aos

corantes habituais de laboratório (MURRAY, 2006).

2.1 Propriedades Gerais das Micobactérias

As micobactérias são bastonetes delgados, obrigatoriamente aeróbicos;

não possuem flagelos ou cápsula, não formam esporos, não produzem toxinas e

são consideradas fracamente Gram-positivas (TORTORA, 2008).

Propriedades exclusivas da sua parede celular, como a quantidade e a

variedade de lipídios complexos presentes no seu envelope, as diferenciam das

demais bactérias. Uma dessas propriedades refere-se à retenção de fucsina

básica pela parede celular, mesmo após serem lavadas com álcool e ácido,

conferindo-lhes a designação de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR)

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

Devido, ainda, a sua parede celular completa e por serem exigentes do

ponto de vista nutricional, a maioria das micobactérias crescem lentamente,

dividindo-se entre 12 e 24 horas. Algumas espécies necessitam de 3 a 8 semanas

de incubação, enquanto as de crescimento rápido necessitam menos de 3 dias de

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incubação. A temperatura ótima de crescimento também varia conforme o gênero

(MURRAY, 2006).

As micobactérias patogênicas são microorganismos intracelulares, que

infectam e proliferam-se no interior dos macrófagos do hospedeiro. Observou-se

que as manifestações clínicas das infecções micobacterianas decorrem da

resposta imunológica do hospedeiro à doença e aos antígenos que portam.

Hipersensibilidade do tipo tardia geralmente acompanha essa infecção,

envolvendo imunidade mediada por células. A relação entre ambas pode ser

estudada através da administração intradérmica de tuberculina, uma mistura de

proteínas de baixo peso molecular produzidas pelo M. tuberculosis. E utilizada em

teste dermatológico de reatividade para diagnosticar contato prévio ao bacilo e

infecção latente, além de ser importante no monitoramento epidemiológico.

Quando purificada, a tuberculina recebe a designação de PPD (sigla de Purified

Protein Derivative – Derivados Protéicos Purificados, em português) (TRABULSI e

ALTERTHUM, 2005).

2.2 Parede celular

As micobactérias possuem uma parede celular com uma estrutura

diferenciada, na qual o peptídeoglicano contém ácido N-glicolilmurâmico ao invés

de ácido N-acetilmurâmico, que é encontrado na maioria de outras bactérias

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

O peso da parede celular micobacteriana é composto por proteínas

transportadoras e porinas (15%) e por ácidos micólicos (lipídeos responsáveis por

60%). Os ácidos micólicos são constituídos por ácidos graxos de cadeia longa

que possuem 60 a 90 átomos de carbono e ligam-se covalentemente aos

polissacarídeos da parede celular, denominados arabinogalactanos que, através

de pontes fosfodiéster, ligam-se ao peptidoglicano (MURRAY, 2006).

A parede celular contém também outros tipos de lipídios livres e não

covalentemente associados a este esqueleto basal, denominado complexo

arabinogalactano-peptidoglicano (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

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As proteínas de membranas formadoras de canais catiônicos seletivos

(porinas) estão pouco presente na parede micobacteriana, conforme a figura 1.

São elas que controlam ou retardam a difusão de pequenas moléculas hidrofílicas

pela parede celular, conferindo baixa permeabilidade a solutos hidrofílicos. A

parede da M. tuberculosis é uma das mais permeáveis a agentes

antimicobacterianos hidrofílicos, enquanto as outras espécies são mais

resistentes a esse tipo de droga (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

Fig. 1: Estrutura da parede celular micobacteriana, composta de: (A) membrana plásmica, (B) peptideoglicano, (C) arabinogalactano, (D) lipoarabinomanano, (E) proteínas associadas a membrana plasmática e a sua parede celular, (F) ácidos micólicos e (G) moléculas de glicolípidos de superfície associados aos ácidos micólicos. Fonte: MURRAY, 2006

Os lipídeos da parede celular são passíveis de reconhecimento pelo

hospedeiro (epítopos), enquanto as bactérias constituem antígenos importantes

que estimulam a resposta imunológica celular do paciente frente à infecção

(MURRAY, 2006).

Estas propriedades permitem que as micobactérias sobrevivam dentro

dos macrófagos, que tem por função aniquilar os patógenos fagocitados. Facilita

também a agregação bacteriana, o que dificulta o cultivo do patógeno e,

consequentemente, seu diagnóstico. Como as micobactérias são relativamente

resistentes à dessecação e a muitos desinfetantes químicos, prevenir sua

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transmissão em instituições e em meios urbanos torna-se difícil (TRABULSI e

ALTERTHUM, 2005).

2.3 Mycobacterium tuberculosis

M. tuberculosis é o principal agente etiológico da tuberculose humana. O

bacilo possui diâmetro entre 0,3 e 0,6 µm (micrômetros) e comprimento entre 1,0

e 4,0 micrômetros, de acordo com a figura 2 (WHO, 2005). Estabelece sua

infecção preferencialmente no sistema pulmonar e evidências sugerem que essa

predileção pelos pulmões deve-se à tensão do oxigênio nestes órgãos

(TRABULSI, 1989).

Fig. 2: M. tuberculosis (em vermelho). Fonte: (WHO, 2005)

O M. tuberculosis tem sua ação regulada pelo sistema imunológico do

hospedeiro, sendo condicionado a um estado de dormência na maioria das vezes.

O tempo de geração não depende do meio de proliferação (meio sintético ou em

animais infectados), durando, aproximadamente, 24hrs. Ocorre a formação de

colônias com superfície seca e rugosa no crescimento do organismo em ambiente

laboratorial e, para que as mesmas se tornem visíveis, o tempo de crescimento

em placa varia de três a quatro semanas (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

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3. TUBERCULOSE: A DOENÇA

A principal bactéria responsável pela tuberculose é o M. tuberculosis. O

M. africanum é uma variedade típica da África Ocidental; já o M. bovis é

responsável pela tuberculose em bovinos domésticos ou selvagens. Este pode ser

transmitido, embora raramente, para seres humanos através do leite não

pasteurizado ou fervido. Estas três espécies de bacilos são conhecidas como

Complexo Mycobacterium tuberculosis (WHO, 2005).

A TB ataca principalmente os pulmões (TB pulmonar - entre 80 a 90% dos

casos), mas pode atacar outros órgãos (TB extrapulmonar – entre 10 e 20% dos

casos) (WHO, 2006).

A tuberculose disseminada é denominada miliar (o nome se deve aos

numerosos tubérculos do tamanho de sementes ou grãos, formados nos tecidos

infectados). Com as defesas restantes do corpo suplantadas, o paciente perde

peso, começa a tossir (frequentemente com escarro sanguinolento) e há perda

geral de vigor (TORTORA, 2008).

A doença é disseminada quando pessoas que apresentam TB pulmonar

expelem a bactéria no ar através de uma tosse, por exemplo. Normalmente, uma

pequena fração dos infectados pelo Mycobacterium tuberculosis desenvolverá a

doença TB (WHO, 2011). A transmissão ocorre, principalmente, através de

partículas infectantes. Em pacientes em que a tuberculose está ativa, a tosse é

um sintoma de inflamação pulmonar crônica, além de ser o principal mecanismo

disseminador do microorganismo. A tosse, o espirro ou os perdigotos contém

expelidos que saem diretamente do pulmão para o ambiente, podendo

permanecer em suspensão por algumas horas; por isso é uma doença altamente

contagiosa (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

Pesquisas em animais mostraram que 1 a 10 bacilos nas partículas em

suspensão são suficientes para causar a infecção. A concentração de

microorganismos em uma partícula exalada, sua característica aerodinâmica, a

taxa de ventilação do ambiente, a duração da exposição e o estado imunológico

de quem aspira as partículas são os principais determinantes de risco de infecção

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

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Em pacientes com coinfecção TB/HIV, a AIDS progride mais rapidamente

e a formação de granulomas típicos algumas vezes não ocorrem. Entretanto, o M.

tuberculosis pode disseminar-se no hospedeiro, comprometendo as meninges,

rins, gânglios linfáticos e a pele (MENEZES e SILVA et al., 2006).

3.1 Patogênese da TB

A patogênese da TB pode ir desde o contágio até um desfecho fatal.

Entretanto, na maioria das pessoas saudáveis, o sistema imunológico irá

combater a infecção potencial, especialmente se a dose infectante for baixa

(TORTORA, 2008).

Segundo Tortora (2008), o processo inicia-se com os bacilos da TB

atingindo os alvéolos pulmonares e sendo atacados pelos macrófagos; mas

alguns freqüentemente sobrevivem. Não há sintomas da doença, mas a infecção

já está presente. Os bacilos causam uma resposta quimiotática quando se

multiplicam nos macrófagos, o que traz macrófagos adicionais e outras células

defensoras à área. Eles formam uma camada circundante e, em tempo, um

tubérculo inicial, característica que dá nome a doença. A maioria dos macrófagos

circundantes não obtêm sucesso em destruir as micobactérias, mas liberam

enzimas e citocinas que causam uma inflamação perigosa ao pulmão. Caso a

infecção progrida, o hospedeiro isola os patógenos em uma lesão fechada.

Os sintomas da doença aparecem após algumas semanas, quando há a

morte de muitos macrófagos, liberando os bacilos e formando centros caseosos

no tubérculo. O bacilo da tuberculose é aeróbico e não se desenvolve bem nessa

condição. Entretanto, muitos deles permanecem dormentes (TB latente) e podem

servir para uma posterior reativação da doença. Quando interrompida nesse

estágio, as lesões podem calcificar, sendo mostradas claramente nos raios X e

denominadas complexos de Ghon (TORTORA, 2008).

A doença progride à medida que o centro caseoso aumenta no processo

denominado liquefação e o tubérculo maduro se forma. Há o aumento do centro

caseoso e formação de uma cavidade tuberculosa cheia de ar, onde os bacilos

aeróbicos podem se multiplicar fora dos macrófagos (TORTORA, 2008).

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O processo de liquefação continua até que o tubérculo se rompa, fazendo

com que os bacilos penetrem nos bronquíolos e possam se espalhar pelos

pulmões e, posteriormente, pelos sistemas circulatório e linfático (TORTORA,

2008).

3.2 Histórico da Tuberculose

A Peste Branca, como a tuberculose também é conhecida, foi a principal

causa de morte no final do século XIX e início do século XX. Provavelmente

descrita pela primeira vez em textos indianos, desde os tempos de Hipócrates a

tuberculose pulmonar é popularmente conhecida como “tísica” (fraqueza)

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005). Houve, recentemente, a descoberta de DNA

de M. tuberculosis em múmias egípcias de mais de 3.000 anos (TORTORA,

2008).

Um dos primeiros estudos complexos e significativos sobre a tuberculose

foi realizado pelo alemão Robert Koch (1843-1910). No dia 24 de março de 1882,

apresentou na Reunião da Sociedade de Fisiologia, em Berlim, a forma de cultivo

e de isolamento do Mycobacterium tuberculosis extraídos de tubérculos

macerados, identificando-os como o agente etiológico da tuberculose. Em sua

homenagem, o M. tuberculosis passou a ser chamado de bacilo de Koch

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

O aparecimento de novos antibióticos, como a estreptomicina, a

isoniazidas e o ácido para-amino-salicílico durante a Segunda Guerra Mundial foi

um dos mais importantes avanço contra a TB, pois atacavam a doença ativa,

reduzindo consideravelmente a mortalidade. Posteriormente, surgiram outras

drogas, como o etambutol e a rifampicina, entre outros (TRABULSI e

ALTERTHUM, 2005).

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3.2.1 Histórico no Brasil

Acredita-se que já no seu descobrimento, em 1500, a TB fora introduzida

com a chegada dos portugueses e missionários jesuítas no Brasil. Já a história do

seu tratamento pode ser resumida da seguinte forma:

1927: Arlindo de Assis aplicou a primeira vacina BCG (Bacilo de

Calmette e Guérin) oral em recém-nascidos;

Década de 1940: drástica redução da mortalidade, graças a drogas

tuberculostáticas como: estreptomicinas (SM), ácido para-amino-salicílico (PAS) e

isoniazidas (INH);

1973: Implantação da vacinação com BCG intradérmica, obrigatória

para crianças menores de um ano de idade;

1976; Esquema de tratamento de curta duração (seis meses),

baseado na rinfampicina (RMP), isoniazidas (INH) e pirazinamida (PZA)

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

3.3 Epidemiologia

Em 2010, houve 8,8 milhões de casos de TB no mundo; 5,7 milhões de

notificações de casos novos e recorrentes; 1,1 milhões de mortes por tuberculose

entre pessoas HIV negativo, e mais 350 mil óbitos de co-infectados HIV(Human

immunodeficiency virus)/TB (WHO, 2011). As micobactérias continuam sendo

uma importante causa de morbidade e mortalidade, especialmente nos países

com recursos sanitários limitados (MURRAY, 2006).

A infecção produzida pelo HIV leva a maior vulnerabilidade às infecções

oportunistas, já que confere ao indivíduo infectado uma debilidade do sistema

imune. Neste aspecto, a tuberculose e o HIV estão intimamente relacionados, já

que a infecção pelo vírus propicia o aumento na incidência da tuberculose.

Page 19: Tuberculose revisão bibliográfica

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A co-infecção do HIV com outros patógenos é um fator exógeno

importante na influência da taxa de progressão e na gravidade da doença em

indivíduos soro-positivos (ALMEIDA JUNIOR, 2008). A co-infecção HIV/TB

apresenta efeitos devastadores. Um terço de todos os pacientes infectados com

HIV/AIDS também estão infectados com TB, o que a torna a principal causa de

morte das pessoas que vivem com o HIV/AIDS. Entretanto, a primeira linha de

medicamentos contra a tuberculose não é compatível com os anti-retrovirais

usados no tratamento contra o HIV/AIDS, deixando, assim, muitos pacientes sem

opções de tratamento (TB ALLIANCE, 2011).

Há evidências abundantes de que a pobreza aumenta a vulnerabilidade a

TB. A superpopulação, desnutrição, instalações sanitárias pouco higiênicas e má

circulação de ar aumentam a probabilidade de infecção pela TB pelos grupos

carentes. Os moradores das comunidades de baixa renda também são mais

atingidos pela precariedade do sistema de saúde, atrasando o diagnostico e o

tratamento da TB (PUBLIC HEALTH WATCH, 2006).

A TB tem grande impacto social, já que acomete adultos em idade

economicamente ativa. Estima-se que 2/3 dos casos ocorra em pessoas entre

os15 e os 59 anos de idade e é mais comumente encontrada em homens do que

em mulheres (WHO, 2011).

Uma pessoa a cada 20 segundos morre vítima da TB no mundo; a cada 5

minutos, uma criança (TB ALLIANCE, 2011).

3.3.1 Epidemiologia no Brasil

O Brasil ocupa o 13° lugar no ranking dos 22 países que concentram 80%

dos casos de TB do mundo (BRASIL, 2012).

A TB afeta, no Brasil, principalmente as periferias urbanas ou

aglomerados urbanos (denominados de favelas) e está, geralmente, associada às

más condições das moradias e da alimentação, além do abuso de álcool, tabaco e

de outras drogas (BRASIL, 2012). A prevalência da tuberculose e as taxas de

mortalidade refletem padrões socioeconômicos mais amplos, com os pobres e as

comunidades desfavorecidas sofrendo seu maior impacto (PUBLIC HEALTH

WATCH, 2006).

Page 20: Tuberculose revisão bibliográfica

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O Programa Nacional de Combate a Tuberculose (PNCT) do Ministério da

Saúde definiu, entre suas populações vulneráveis, como prioritárias a população

em situação de rua (apresentam entre 48 e 67 vezes maior incidência de

tuberculose do que a população em geral), a população privada de liberdade (em

2010, a população encarcerada representou 0,2% da nacional, entretanto,

representou 6,0% dos casos novos notificados naquele ano), a população

indígena (representa 0,4% da população brasileira, no entanto, é responsável por

cerca de 1,0% de todos os casos novos) e as pessoas que vivem com HIV/AIDS

(cerca de 10% dos casos novos de tuberculose notificados em 2010 eram de

pessoas co-infectadas por HIV/TB) (BRASIL, 2012).

A incidência da TB em 2001 foi de 42,8 casos para cada grupo de 100 mil

habitantes; em 2011, caiu para 37,1 casos. Já a taxa de mortalidade que era de

3,1 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes em 2001, caiu para 2,4 em

2010. As maiores taxas de incidência e mortalidade foram encontradas no estado

do Rio de Janeiro (62,7 e 5,6 respectivamente); enquanto o estado de Tocantins

(12,0 e 0,8) e o Distrito Federal (11,8 e 0,5) apresentaram as menores taxas,

respectivamente (BRASIL, 2012).

Fig 3: Taxa de incidência de TB, por Unidade da Federação (UF), no ano 2011 (dados preliminares sujeitos a revisão).

Fonte: BRASIL, 2012

Page 21: Tuberculose revisão bibliográfica

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3.4 Notificação

“Caso de tuberculose” é todo indivíduo com diagnóstico de tuberculose

confirmado por baciloscopia (ou cultura) e aquele que o médico, com base nos

dados clínico-epidemiológicos e no resultado de exames complementares,

confirma o diagnóstico de TB. Quando o doente com tuberculose nunca usou, ou

usou por menos de um mês, drogas antituberculosas, é denominado “caso novo”

(BRASIL, 2012).

Os serviços de saúde, sejam públicos ou privados, são os locais ideais

para se organizar a procura de casos. Nestas instituições – postos, centro de

saúde, ambulatórios e hospitais – a realização de busca ativa de sintomáticos

respiratórios deve ser uma atitude permanente de todos os membros da área da

saúde (BRASIL, 2012).

Ao confirmar o diagnóstico, a equipe de saúde deve notificar a secretaria

municipal e estadual de saúde. Esta, por sua vez, reporta-se ao Ministério da

Saúde (BRASIL, 2012).

3.5 Diagnóstico

O padrão ouro para o diagnóstico da TB é a cultura com a identificação da

espécie. Entretanto, o resultado, além de demorado, apresenta razoável

sensibilidade apenas (NEVES et al, 2004).

A técnica de baciloscopia (ou esfregaço de escarro para bacilos álcool-

ácido resistentes) sofreu pouca modificação desde que foi criada por Koch, em

1882, e continua sendo um dos métodos mais rápidos de detecção de M.

tuberculosis, já que é uma maneira simples, de fácil acesso e baixo custo de

diagnosticar tuberculose (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

Reconhecidamente, a pesquisa bacteriológica é o método prioritário, quer

para o diagnóstico, quer para o controle do tratamento da TB, além de permitir a

identificação da principal fonte de transmissão da infecção: o paciente bacilífero.

Page 22: Tuberculose revisão bibliográfica

22

O diagnóstico microbiológico consiste na detecção e no isolamento da

micobactéria; na identificação da espécie e/ou do complexo isolado; e, na

determinação da sensibilidade do micro-organismo aos medicamentos anti-

tuberculose. Todas estas etapas dependem da situação clínico-epidemiológica do

paciente sob investigação e dos recursos laboratoriais disponíveis. O estudo

radiológico convencional torácico é indicado sempre, como método auxiliar

(CASTELO FILHO, 2004).

O teste de tuberculina (PPD) é a única maneira de diagnosticar uma

infecção latente de TB pela reação de hipersensibilidade do tipo tardia provocada

contra antígenos micobacterianos e pode ser utilizado para detectar infecção de

muito tempo ou de origem recente. Conhecido como teste de Mantoux, O teste

consiste numa injeção intradérmica de 0,1 ml de tuberculina ou de PPD na face

anterior do antebraço. É considerado positivo quando os pacientes desenvolvem,

após 48 horas, uma área endurecida de pelo menos 5 mm2 no local da injeção.

Porém, a vacinação com BCG também gera reatividade ao PPD, produzindo

falso-positivo, diminuindo a confiabilidade e a utilização deste teste (TRABULSI e

ALTERTHUM, 2005).

Pode-se realizar testes de sensibilidade do bacilo a drogas anti-

tuberculose para diagnosticar MDR-TB (Multiplas Drogas Resistentes –TB).

Realiza-se o monitoramento diário, durante a incubação, das amostras. As

linhagens susceptíveis apresentam leitura estável ou decrescente enquanto

aquelas que apresentam leitura crescente representam as linhagens resistentes.

Há ainda o método de proporção, no qual se observa com quais drogas e em

quais concentrações mínimas ocorre a inibição de pelo menos 99% do

crescimento bacteriano (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

Com o progresso das técnicas moleculares surgiram testes mais

sensíveis e rápidos na detecção e identificação de micobactérias. Algumas destas

técnicas já estão disponíveis no mercado, com sensibilidade e especificidade

superior a 90%. Porém, o alto custo destes métodos restringe o seu uso a países

desenvolvidos (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

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23

3.6 Tratamento

As micobactérias de crescimento lento, como o M. tuberculosis, são

resistentes à maioria dos antibióticos utilizados para combater infecções

bacterianas. Normalmente, os pacientes devem tomar vários tipos de antibióticos

durante um tempo maior (período mínimo de 6 a 9 meses); caso contrário,

desenvolverá cepas resistentes aos antibióticos (MURRAY, 2006).

O tratamento quimioterápico padrão contra a TB atualmente recomendado

pela OMS (Organização Mundial da Saúde, sigla aportuguesada de WHO) e

aplicado no Brasil também, baseia-se na terapia de curta duração, conhecida

como DOTS (Directly Observed Treatment Short-course), e que utiliza uma

combinação de quatro drogas anti-tuberculose. O tratamento consiste na

combinação das drogas isoniazida, rifampicina, pirazinamida e estreptomicina (ou

etambutol) durante os dois primeiros meses, seguida por uma combinação de

isoniazida e rifampicina por pelo menos mais quatro meses. No entanto, a longa

duração do tratamento, seus efeitos colaterais desagradáveis e o descaso com o

mesmo, levam muitos pacientes a pararem com o tratamento. Isso leva a

ocorrência de novas infecções e, ainda mais importante, possibilita o

desenvolvimento da MDR-TB (Multidrug-Resistant Tuberculosis). Durante o

tratamento, ainda, pode-se observar uma resistência inicial do bacilo à isoniazida,

fazendo-se necessária a adição de outras drogas de primeira linha, como o

etambutol e a estreptomicina. Quando há resistência a rifampicina e isoniazida,

caracterizando MDR-TB, faz-se necessário o aumento do tempo de tratamento,

optando-se então, pela utilização de drogas de segunda ou até terceira linha,

ainda que a maior toxicidade desses fármacos seja um fator limitante. As drogas

de primeira linha, geralmente bactericidas, combinam uma alta eficácia com uma

relativa toxicidade ao paciente. São estas: isoniazida, rifampicina, pirazinamida,

estreptomicina, etambutol e fluoroquinolonas; já as drogas de segunda linha, que

na maioria são bacteriostáticas, apresentam eficácia menor e toxicidade maior,

são: para-amino-salicílico, etionamida, cicloserina e outras (TRABULSI e

ALTERTHUM, 2005).

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Pensando nisso, o Ministério da Saúde brasileiro propôs, a partir de 2009,

uma mudança no sistema de tratamento da doença. Basicamente há a alteração

das dosagens de pirazinamida e hidrazida; há a introdução de uma quarta droga,

o etambutol, nos primeiros dois meses de tratamento; e há a junção das quatro

drogas num único comprimido, a dose fixa combinada (SECRETARIA DE SAÚDE

DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

Pacientes com tuberculose latente podem ser tratados profilaticamente

apenas com o uso de isoniazida (INH) por seis a nove meses, que inviabiliza o

desenvolvimento da doença através da eliminação dos bacilos dormentes. Essa

monoterapia funciona somente em pacientes que ainda não desenvolveram a

doença ativa. Pacientes HIV positivos tratados conforme as recomendações da

OMS (DOTS) apresentaram conversão do escarro e índices de cura semelhantes

aos de pacientes HIV negativos tratados (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

Fig 4: Fórmula das drogas de primeira linha contra a TB. Fonte: TRABULSI e ALTERTHUM, 2005

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3.6.1 Mecanismo de ação das drogas

O primeiro efeito bioquímico da hidrazida do ácido isonicotínico ou

isoniazida (INH) ocorre nos primeiros estágios da síntese de ácidos micólicos. INH

é uma droga sintética inibidora da síntese do ácido micólico e que requer o

produto do gene estrutural katG para sua ativação; passa a ser um composto

ativo após metabolização pela catalase-peroxidase da M. tuberculosis, inibindo

assim, a atividade da enzima enoil-ACP (Coa) redutase, codificada pelo gene

inhA, em presença de NADH ou NAD+. A resistência a isoniazida, por sua vez, é

mais complexa, já que envolve pelo menos quatro genes: katG (mediador tanto da

susceptibilidade como da resistência a INH, e que também codifica a enzima

catalase-peroxidade); inhA (envolvido no alongamento de ácidos graxos); o ahpC

(codifica a hidroperóxido alquil redutase C); e o oxyR (importante regulador do

estresse oxidativo) (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

A rifampicina interage especificamente com a subunidade β da enzima

RNA polimerase de organismos procarióticos, inibindo a transcrição e levando a

morte bacteriana. A análise da resistência ao fármaco é relativamente fácil de ser

detectada molecularmente, já que cerca de 96% dos casos de resistência

envolvem mutações específicas no gene rpoB, codificador da cadeia β da enzima,

diminuindo, assim, a afinidade de ligação da rifampicina à polimerase (TRABULSI

e ALTERTHUM, 2005).

A estreptomicina inibe o início da síntese de proteínas procarióticas. Dois

genes foram identificados como os responsáveis pela sua resistência: rrs, que

codifica o rRNA 16S; e rpsL, que codifica a proteína ribossomal S12 (TRABULSI e

ALTERTHUM, 2005).

A pirazinamida é uma pré-droga que, dentre todas as espécies

micobacterianas, tem efeito apenas na M. tuberculosis. Ela inibe a síntese de

ácidos graxos e sua resistência é conferida por mutações no gene pncA,

codificador da pirazinamidase, enzima que hidrolisa a droga para torná-la ativa

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

As fluoroquinolonas têm ação nas enzimas responsáveis pela

conformação topológica do DNA (topoisomerases), principalmente nas DNA

girases. São compostos bactericidas que aumentam a atividade de isoniazida e

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rifampicina, mesmo em linhagens multirresistentes ao tratamento. A resistência a

ciprofloxacina, uma das fluoroquinolonas mais ativas contra o bacilo da TB, é

causada por mutações nos genes gyrA, gyrB e lfrA, que codificam,

respectivamente, a subunidade A e B da DNA girase, e uma proteína de efluxo

(TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

3.6.2 Imunoprofilaxia

A vacinação com M. bovis atenuado (BCG), foi desenvolvida no século

passado e é utilizada até hoje com imunoprofilaxia para a TB. Em 1908, Camille

Guérin e Albert Calmette, dois cientistas franceses, conseguiram produzir uma

vacina para a TB. Após 230 repiques, eles obtiveram a partir de uma cepa

virulenta do M. bovis, uma cepa atenuada (incapaz de produzir a doença, mas

suficiente para sensibilizar o sistema imune) que tem sido utilizada na profilaxia

contra a TB humana desde a década de 1920. Em 1990, estima-se que 70% das

crianças em idade escolar foram vacinadas contra a TB em todo o mundo

(TORTORA, 2008). Esta prática pode conduzir a uma redução significativa na

incidência de TB quando a BCG é administrada em crianças (menor eficácia em

adultos). Não obstante, a vacinação com BCG não pode ser aplicada em sujeitos

imunodeprimidos (pessoas contaminadas com HIV, por exemplo). Por tanto, é

improvável que seja útil em países com uma alta prevalência de AIDS (países da

África) ou para o controle da TB resistente a fármacos (MURRAY, 2006).

Atualmente, se explora muito as vacinas de DNA. Seqüências de DNA

microbianas podem ser usadas como vacina-alvo. O processo consiste em

identificar proteínas imunogênicas, isolar o seu gene codificante e transportá-lo

para um plasmídio de expressão que possua um forte promotor. Utiliza-se as

células bacterianas com o plasmídio recombinante para aumentar sua quantidade,

isolá-lo, e utilizá-lo como uma vacina (TRABULSI e ALTERTHUM, 2005).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tuberculose, mesmo afetando a humanidade há milênios, ainda não

está totalmente controlada.

O descaso com o tratamento por parte dos doentes, associado com

fatores socioeconômicos e o baixo retorno financeiro para a indústria

farmacêutica, ainda levam milhares à morte anualmente.

Há, entretanto, avanço nas pesquisas por medicamentos mais eficazes e

baratos, sendo uma grande aposta para a erradicação da tuberculose no mundo.

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REFERÊNCIAS

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SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO: Mudanças no Tratamento da Tuberculose. Revista de Saúde Pública. V. 44. ed.1 - 2010

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