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Resumo Este projeto de doutorado insere-se no âmbito do projeto temático Padrões Rítmicos, Fixação de Parâmetros e Mudança Lingüística – Fase II (processo FAPESP 04/03643-0) e tem como objetivo investigar as características da sintaxe de posição do verbo em duas fases gramaticais do Português: a gramática do Português Europeu Moderno (PE) e a gramática do período imediatamente anterior ao PE. Além disso, pretende-se delimitar no tempo o momento em que se dá a mudança entre esses dois sistemas gramaticais. Trabalhamos com a hipótese de que a gramática do Português Europeu era organizada com base no efeito V2 (verbo em segunda posição), vindo a perder essa característica a partir do século 18, quando se observa a emergência de certos aspectos sintáticos que caracterizam a gramática do PE e que não eram até então atestados. 1. Objetivos Neste trabalho, pretende-se estudar, a partir do quadro teórico da gramática gerativa, a questão da sintaxe de posição do verbo na história do Português Europeu, especificamente o período que se estende do século 16 ao 19, norteando-se pelas seguintes questões: Quais são as características da sintaxe de posição do verbo da gramática imediatamente anterior à do PE? Em que aspectos o PE se diferencia da gramática que o precede com relação ao posicionamento do verbo? Quando e como ocorre a mudança entre os dois sistemas gramaticais? 2. Justificativa Em anos recentes, na literatura gerativista, considerável debate tem sido realizado sobre a ordem V2 (verbo em segunda posição) em línguas nas quais se manifestava esse fenômeno, mas que, ao longo de sua história, deixaram de apresentá- lo, como o Francês (cf. Adams 1987, Vance 1989, Roberts 1993) ou o Inglês (cf. van 1

Resumotycho/pesquisa/monografias/ANTONELLI_A... · Resumo Este projeto de ... Vance 1989, Roberts 1993) ou o Inglês (cf. van 1. Kemenade 1987, Weerman 1989, Kroch & Taylor 1997)

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Resumo

Este projeto de doutorado insere-se no âmbito do projeto temático Padrões

Rítmicos, Fixação de Parâmetros e Mudança Lingüística – Fase II (processo FAPESP

04/03643-0) e tem como objetivo investigar as características da sintaxe de posição do

verbo em duas fases gramaticais do Português: a gramática do Português Europeu

Moderno (PE) e a gramática do período imediatamente anterior ao PE. Além disso,

pretende-se delimitar no tempo o momento em que se dá a mudança entre esses dois

sistemas gramaticais. Trabalhamos com a hipótese de que a gramática do Português

Europeu era organizada com base no efeito V2 (verbo em segunda posição), vindo a

perder essa característica a partir do século 18, quando se observa a emergência de

certos aspectos sintáticos que caracterizam a gramática do PE e que não eram até então

atestados.

1. Objetivos

Neste trabalho, pretende-se estudar, a partir do quadro teórico da gramática

gerativa, a questão da sintaxe de posição do verbo na história do Português Europeu,

especificamente o período que se estende do século 16 ao 19, norteando-se pelas

seguintes questões:

• Quais são as características da sintaxe de posição do verbo da gramática

imediatamente anterior à do PE?

• Em que aspectos o PE se diferencia da gramática que o precede com relação ao

posicionamento do verbo?

• Quando e como ocorre a mudança entre os dois sistemas gramaticais?

2. Justificativa

Em anos recentes, na literatura gerativista, considerável debate tem sido

realizado sobre a ordem V2 (verbo em segunda posição) em línguas nas quais se

manifestava esse fenômeno, mas que, ao longo de sua história, deixaram de apresentá-

lo, como o Francês (cf. Adams 1987, Vance 1989, Roberts 1993) ou o Inglês (cf. van

1

Kemenade 1987, Weerman 1989, Kroch & Taylor 1997). Em termos descritivos, pode-

se dizer que, nas línguas em que se opera o fenômeno V2, o verbo finito de sentenças

matrizes é necessariamente precedido por apenas um constituinte sintático. Ou seja,

seqüências do tipo Y+XP+V, em que Y é um elemento não-nulo, são agramaticais nas

sentenças matrizes de línguas V2. Em relação à posição XP pré-verbal, ela pode ser

ocupada ou pelo sujeito, ou por um complemento ou ainda por um constituinte de

natureza adverbial, fato este que mostra não haver restrições quanto à natureza precisa

do elemento que precede o verbo. Essas considerações iniciais são ilustradas em (1),

onde apresento exemplos do Holandês Moderno (extraídos de Lightfoot 1995), uma

típica língua V2:

(1) a. [Peter] [bezoek] [den Haag]

Pedro visita Haia

“Pedro está visitando Haia”.

b. [den Haag] [bezoek] [hij].

Haia visita ele.

“Ele está visitando Haia”.

b. [in den Haag] [bezoek] [hij] [het museum]

em Haia visita ele o museu

“Ele está visitando o museu em Haia”.

No que se refere à sintaxe de ordenação dos constituintes na história do

Português Europeu, existem indícios de que a gramática do Português Clássico, ou

Português Médio1, como passarei a designar aqui, também apresentaria algum tipo de

efeito V2, em contraste com a não-ocorrência desse fenômeno no PE. O primeiro deles

vem da observação dos padrões de posicionamento do sujeito em posição pré-verbal. De

acordo com os dados apresentados em Galves, Britto & Paixão de Sousa (2005), que

estudam a colocação de clíticos na história do Português Europeu, no contexto das

orações matrizes enclíticas ou proclíticas com o verbo finito em segunda posição 1 Galves (2004) chama a fase gramatical anterior ao PE de Português Médio (para distingui-la do Português Clássico, termo este que faz referência a um período definido de um ponto de vista cultural e literário). Essa gramática intermediária entre a do Português Arcaico e a do PE corresponderia ao período central da história gramatical do Português, estendendo-se do século 14 ao fim do 17, e é delimitada, em Galves (2004), com base em fatos do fenômeno da colocação de clíticos.

2

superficial, a proporção percentual durante os séculos 16 e 17 entre as ordens SV

(sujeitos pré-verbais) e XV (X podendo ser um PP ou um advérvio) apresenta um

paradigma diferente daquele que é atestado para o período de tempo que corresponde

aos séculos 18 e 19. Esta diferença é percebida de forma mais nítida especialmente a

partir da segunda metade do século 18, como atesta o gráfico 1.2

Este primeiro gráfico possibilita observar que, nos textos escritos entre a

primeira metade do século 16 e a primeira metade do século 18, a opção SV nunca é

superior em termos percentuais à seqüência XV. Além disso, o índice de uso da ordem

SV não se mostra constante ao longo desse tempo (0,48-0,39-0,48-0,37-0,50). Interessa

agora apontar o contraste oferecido pelos textos a partir da segunda metade do século

18. Tanto no período de 1750-1799, como no de 1800-1850, a proporção da ordem de

palavras SV é de 65%. Em nítida diferença ao padrão anterior a 1750, agora não só a

seqüência SV é superior à XV, mas também o seu índice de uso permanece regular.

Um paradigma com as mesmas tendências é verificado por Antonelli (em curso).

Nesse trabalho, que recobre o mesmo período de tempo investigado por Galves, Britto

& Paixão de Sousa (2005), estuda-se também o fenômeno da colocação de clíticos no

contexto das orações com verbo em segunda posição superficial, porém apenas no

subconjunto das sentenças que envolvam o pronome clítico se. No gráfico 2, a partir do

universo de sentenças que fazem uso especificamente do pronome se com valor não-

passivo,3 verifica-se o panorama para a superficialização do sujeito em posição pré-

verbal do século 16 ao 19.

Em comparação ao gráfico 1, este segundo evidencia que, nos textos escritos

entre a primeira metade do século 16 e a primeira metade do século 18, há uma

oscilação ainda maior no percentual de uso da ordem SV (0,63-0,36-0,52-0,26-0,59).

Além disso, os dados revelam que a seqüência com sujeitos pré-verbais não é a ordem

de palavras necessariamente preferida nesse período de tempo. Na realidade, o que se

nota é que, em certos momentos, a proporção da ordem SV é maior, ao passo que em

outros é inferior ao índice percentual da ordem XV. Porém, nos dois últimos períodos

de 50 anos considerados, a superficialização do sujeito em ordem pré-verbal emerge

como a escolha nitidamente preferida e em escala ascendente (0,73 e 0,94,

respectivamente).2 Por uma questão de melhor formatação do texto, todos os gráficos se encontram no apêndice deste trabalho.3 Com relação às sentenças com se passivo, há questões teóricas em torno do constituinte comumente entendido como sujeito que fogem ao escopo da presente discussão. Para uma problematização aprofundada desse tópico, cf. Raposo & Uriagereka (1996).

3

Como hipótese de trabalho para a explicação dos diferentes paradigmas relativos

ao posicionamento do sujeito em posição pré-verbal que podem ser observados a partir

desses dois gráficos, poderia ser argumentado que, nos séculos 16 e 17, o Português

Europeu se caracteriza como uma língua que manifesta algum tipo de restrição V2. Isto

explicaria a oscilação no percentual de uso entre as construções SV e XV, algo esperado

de um sistema gramatical no qual a posição que precede o verbo não precisa

necessariamente ser preenchida pelo sujeito, tal como se dá em gramáticas do tipo V2.

Por sua vez, do século 18 em diante, a gramática do Português Europeu não exibiria

mais um sistema V2, tomando como base para essa afirmação o fato de que, a partir

desse período, a superficialização do sujeito antes do verbo é nitidamente a escolha mais

empregada em relação à alternativa XV, alternativa esta que se torna uma opção mais

marcada, em termos quantitativos.

Outro indício em favor da hipótese de que o Português Médio (PM) seria uma

língua de natureza V2, diferentemente da gramática do PE, vem da comparação entre a

proporção da ênclise com sujeito em posição pré-verbal e a proporção da ênclise com

outros sintagmas em posição pré-verbal. Isso é realizado em Paixão de Sousa (2004), de

onde extraímos o gráfico 3, que apresenta tanto o índice percentual de SV com ênclise

bem como o de XV com ênclise. É importante destacar que os resultados de Paixão de

Sousa diferem dos que são encontrados em Galves, Britto & Paixão de Sousa (2005) e

daqueles registrados por Antonelli (em curso) em dois aspectos. Ao contrário destes

dois últimos trabalhos, Paixão de Sousa não computa as sentenças com o clítico se.

Além disso, o universo total considerado não é apenas o conjunto de ocorrências de

próclise e ênclise nos contextos de variação, tal como investigados por Galves, Britto &

Paixão de Sousa e Antonelli, mas sim a totalidade de sentenças afirmativas matrizes

com clíticos, divididas em sentenças V1, V2 e V3.

O gráfico 3 mostra que a proporção de construções XV com ênclise nas orações

principais, em períodos de 50 anos, superficializa-se num percentual de 0,024-0,004-

0,009-0,007-0,030-0,012-0,115 (como esperado, a ênclise já é mais freqüente no século

19)4. Por outro lado, a proporção de SV com ênclise em orações principais, em cada

período de 50 anos, é de 0,000-0,004-0,006-0,024-0,051-0,156-0,319. Isto é, observa-se

um acentuado aumento na freqüência de sujeitos pré-verbais com ênclise entre a

primeira e a segunda metade do século 18 (de 0,051 para 0,156), paradigma este que

4 Para uma visão geral da distribuição da ênclise em relação à próclise nesse período, cf. Galves, Britto & Paixão de Sousa (2005). Adiante, esse panorama geral será apresentado.

4

não é acompanhado pelo contexto XV (que passa de 0,030 para 0,012 no mesmo

período); e, embora o aumento da ênclise seja finalmente observado com não-sujeitos

no último período de tempo, a proporção de SV com ênclise permanece 20 pontos

percentuais mais elevada do que a de XV com ênclise (0,319 para 0,115). Ressalte-se

ainda que as duas construções têm uma proporção idêntica nos textos até a segunda

metade do século 17 (0,024-0,004-0,009-0,007 para XV, e 0,000-0,004-0,006-0,024

para SV).

Os resultados de Paixão de Sousa também podem ser interpretados a partir da

hipótese de que, até o fim do século 17, o fato de não haver um contraste entre a

proporção da ênclise em sentenças SV e sentenças XV é um indicativo de que sujeitos

pré-verbais e tópicos deslocados poderiam ocupar a mesma posição, tal como ocorre em

línguas de estrutura V2. Já o contraste observado entre esses dois tipos de construções, a

partir de 1700, pode ser tomado como um indício de que os sujeitos em posição pré-

verbal e os tópicos deslocados não estariam mais ocupando uma mesma posição em

comum.

A idéia de que, a partir do século 18, sujeitos pré-verbais e tópicos deslocados

deixam de compartilhar a mesma posição sintática, tal como sugerem os resultados dos

três trabalhos apresentados anteriormente, é compatível com fatos sintáticos da

gramática do PE. Conforme discutido em Costa (1998), construções de múltipla

topicalização apresentam um considerável grau de degradação no PE, ao passo que

sentenças com apenas um tópico em posição pré-verbal são perfeitamente gramaticais.

Assim, os exemplos em (2) e (3) são considerados mais marcados do que (4), e, para

que sejam aceitos, é necessário que haja uma pausa prosódica entre o segundo PP pré-

verbal e o verbo.

(2) ?/?? Sobre o tempo, com o Pedro, falei.

(3) ?/?? Com o Pedro, sobre o tempo, falei.

(4) Sobre o tempo falei com o Pedro.

Um aspecto interessante, conforme destacado por Costa, é que o contraste entre

(2) e (3), por um lado, e (4), por outro, não é reproduzido em construções como (5), que

envolvem um sujeito pré-verbal e um constituinte não-sujeito deslocado: tanto não há

5

grau algum de degradação como também não é necessário introduzir uma pausa entre o

sujeito e o verbo. Por sua vez, alterar a ordem entre o sujeito e o PP afeta a

aceitabilidade da sentença, como evidencia o exemplo (6).

(5) Com a Maria, O Pedro falou.

(6) ?? O Paulo com a Maria falou rapidamente.

Esses fatos indicam haver um claro contraste entre sentenças com sujeitos pré-

verbais e sentenças com múltiplos tópicos, o que parece dar apoio à idéia de que os

sujeitos não se comportam como tópicos deslocados e, por conta disso, ocupam uma

posição diferente da que é preenchida por tópicos não-sujeitos. Tal conclusão, portanto,

vem ao encontro da hipótese de que, com a perda do efeito V2 na passagem do PM para

o PE, posições sintáticas distintas passam a ser reservadas para o sujeito pré-verbal e

para constituintes não-sujeitos superficializados antes do verbo.

À luz desse conjunto de dados, resta saber então qual a posição ocupada pelo

verbo na gramática do PM e as mudanças que ocorreram na passagem para o PE.

Enquanto que para o PE têm sido apresentadas propostas para a localização do verbo na

estrutura oracional,5 para o PM trata-se de uma questão a ser devidamente investigada

ainda. Na realidade, o que se tem até o momento são apenas estudos que sugerem haver

algum tipo de restrição V2 na gramática do Português desse período, ao se postular que

não há uma posição pré-verbal exclusiva para o sujeito (cf. Galves, Britto & Paixão de

Sousa 2005, Paixão de Sousa 2004). No entanto, falta ser realizada uma discussão

sistemática que problematize especificamente a questão da posição do verbo dentro da

estrutura sintática do PM, atentando para as possíveis diferenças ocorridas de uma fase

para outra da língua. Além disso, um estudo detalhado dessa natureza que enfoque tais

questões de uma perspectiva diacrônica poderá ainda lançar um esclarecimento maior

de como e quando ocorre, em textos escritos, a emergência da gramática do PE, a partir

da perspectiva da questão da sintaxe de posição do verbo.

3. Quadro Teórico

5 Cf. Benincà (1995), Raposo (2000), Galves & Sândalo (2004), entre outros.

6

3.1. A concepção de gramática na Teoria de Princípios e Parâmetros

Neste projeto de pesquisa, assumo a concepção de gramática do modelo

gerativista da Teoria de Princípios e Parâmetros em sua versão minimalista, tal como

delineado em Chomsky (1995). Nesse modelo teórico, o estado inicial da faculdade da

linguagem (Gramática Universal), inato a todos os indivíduos, é caracterizado como um

conjunto de princípios gerais com parâmetros abertos, e as gramáticas particulares são

entendidas como o resultado da fixação de valores paramétricos específicos, fixação

esta baseada nos dados lingüísticos primários aos quais a criança tem acesso no

processo de aquisição da linguagem.

3.2. A Mudança Sintática

Dentro da Teoria de Princípios e Parâmetros, as diferenças sintáticas entre dois

ou mais estágios de uma língua, assim como as diferenças entre as línguas, são

analisadas em termos de fixação diferente para um determinado parâmetro. Nesse

sentido, a mudança sintática é vista como mudança de parâmetro, e, em razão disso,

fortemente vinculada à aquisição da linguagem. Ou seja, a mudança ocorre quando as

crianças são levadas pelas propriedades dos dados lingüísticos primários aos quais são

expostas a escolher uma gramática diferente da dos adultos. Para os estudos

diacrônicos, tal concepção de mudança direciona o olhar do pesquisador para a tentativa

de descobrir propriedades nos dados lingüísticos que induzem as crianças a uma análise

destes dados diferente da dos adultos, ocasionando a mudança lingüística.

Quanto à propagação da mudança, especialmente na forma como é manifestada

na linguagem escrita, assumo que, embora a mudança gramatical seja de natureza

abrupta no processo de aquisição da linguagem, a sua difusão no desempenho escrito

dos falantes ocorre em meio a uma tensão entre a gramática nova e a gramática antiga,

produzindo o que Kroch (1994, 2001) chama de “Competição de Gramáticas”. Assim, o

que se vê nos textos não é a mudança em si, mas suas conseqüências.

4. Sintaxe de posição do verbo e mudança gramatical: hipóteses preliminares

7

O estudo da sintaxe de posição do verbo, no âmbito da teoria da gramática

gerativa, envolve em particular uma pergunta abstrata que vai além da descrição da

ordem relativa do verbo com os outros constituintes da oração, e que se coloca nos

seguintes termos: em que categoria funcional se encontram o verbo e os constituintes

que o precedem e o seguem? Diante dessa indagação, e motivado pela hipótese de que a

gramática imediatamente anterior à do PE apresentava algum tipo de restrição V2,

apresento inicialmente uma discussão sucinta de como tem sido analisada a ordem de

palavras V2 nas línguas onde esse fenômeno é registrado. Em seguida, mostro como

essas interpretações podem ser articuladas diante de fatos sintáticos do PM

preliminarmente investigados, apontando para certas hipóteses e aspectos que deverão

ser analisados mais profundamente na tarefa de definir a posição do verbo na estrutura

oracional da gramática do Português desse período. Mostro ainda que tais hipóteses

preliminares, por sua vez, possibilitarão uma comparação sistemática com análises que

têm sido propostas para os fatos relacionados à questão da posição do verbo no PE, e,

desse modo, permitindo também compreender o que de fato mudou de uma fase a outra.

Além disso, apresento uma direção de trabalho inicial para a tentativa de delimitar no

tempo a possível mudança ocorrida do PM para o PE.

4.1. Análises do fenômeno V2

Dentro do quadro teórico da gramática gerativa, vários estudos têm indicado que

a restrição V2 pode ser interpretada como o resultado do movimento do verbo para uma

de duas posições diferentes, a depender da língua investigada. Em línguas como o

Holandês, o Alemão ou as línguas escandinavas continentais, a ordem de palavras V2

tem sido entendida como uma derivação do movimento do verbo finito para a posição

de Comp (C0) e concomitante movimento de alguma projeção máxima para [Spec, CP]

(cf. den Besten 1983). Em outras línguas germânicas (Iídiche e Islandês), no entanto, a

ordem V2 pode refletir o movimento do verbo finito para uma posição mais baixa. Em

trabalhos que adotam a estrutura frasal proposta em Chomsky (1986), esta posição é I

(I0) (cf., entre outros, Diesing 1990 e Santorini 1992, para o Iídiche, e Pintzuk 1991,

para o Islandês). Isso tem motivado os pesquisadores a nomearem de línguas CP-V2

aquelas em que o verbo se move para a projeção de CP, ao passo que aquelas nas quais

o verbo permanece em I0 são designadas de línguas IP-V2.

8

A principal razão para essa subdivisão em torno do fenômeno V2 tem a ver com

fatos atestados no contexto das orações dependentes. Enquanto que todas as línguas V2

apresentam essa restrição em sentenças principais, os dois subtipos diferem na

disponibilidade de tal ordem de palavras em sentenças encaixadas. Tomando-se como

exemplo o Alemão, pode-se verificar que as línguas CP-V2 permitem a ordem de

palavras com o verbo em segunda posição apenas nas orações principais, como atestam

os exemplos em (7).

(7) a. Er hat ihm gestern gesehen (van Kemenade 1997:

327)

Ele tem o ontem visto

“Ele o viu ontem”

b. Gestern hat er ihm gesehen

(ibid.)

ontem tem ele o visto

“Ele o viu ontem”

c. *...daß gestern hat er ihm gesehen (op. cit.:

328)

que ontem tem ele o visto

d. *...daß hat er ihm gestern gesehen

(ibid.)

que tem ele o ontem visto

e. ...daß er ihm gestern gesehen hat

(ibid.)

que ele o ontem visto tem

“que ele o viu ontem”.

Já no caso das línguas IP-V2, além da ordem V2 ser atestada em orações

principais, no contexto de orações encaixadas essa restrição é igualmente registrada. Os

9

exemplos do Islandês em (8), extraídos de Rögnvaldsson & Thráinsson (1990),

comprovam exatamente isso.

(8) a. Ég held [aδ þegar hafi Maria lesiδ.

Eu acredito que já tem Maria lido

“Eu acredito que a Maria já leu”.

b. Jón harmar [aδ þessa bók skuli ég hafa lesiδ

João lamenta que este livro (v. modal) eu ter lido

“O João lamenta que eu tenha lido este livro”.

Em línguas CP-V2, a idéia é que, em orações principais, dada a ausência de

material foneticamente realizado em Comp, o verbo seja alçado para essa posição (cf.

7a e 7b). Estando o núcleo de CP preenchido, como se supõe seja o caso das sentenças

encaixadas, o alçamento do verbo para Comp é bloqueado. Vemos isso no contraste

entre (7c) e (7d), por um lado, e (7e), por outro. Nesses três exemplos, o núcleo de CP é

ocupado pelo complementizador daβ. O que se vê então é que a única opção gramatical

é aquela em que o verbo finito permanece in situ, já que o movimento para Comp é

impossibilitado pela presença do complementizador. Já em línguas IP-V2, o que se

observa é que a ordem de palavras V2 é compatível mesmo com a presença de um

complementizador, como atesta (8). Por conta disso, assume-se que o verbo passou por

uma operação de movimento, porém tal movimento não se estende até o núcleo de CP,

já que o complementizador se encontra ocupado, mas termina em alguma posição

abaixo de Comp, como o núcleo de IP, por exemplo.

4.2. A posição do verbo no PM

Como já procurei mostrar, há indícios que sugerem haver em operação, no PM,

algum tipo de restrição V2. O desafio que se coloca então é investigar se a gramática

dessa fase do Português Europeu possui características das línguas CP-V2 ou das

línguas IP-V2. Isso pode ser verificado inicialmente por meio de uma descrição que

tente verificar se há (a)ssimetria quanto ao fronteamento do verbo entre orações

10

principais e dependentes. Nesse sentido, é significativo o estudo preliminar de Galves,

Britto & Paixão de Sousa (2005), onde se afirma que, com relação ao PM, não há uma

aparente assimetria entre orações matrizes e dependentes. De fato, os exemplos em (9) e

(10) mostram que, tanto nas principais como nas orações dependentes, o verbo se

superficializa na segunda posição6.

(9) Orações matrizes

a. O mesmo diz S. Clemente Romano nas Constituições Apostólicas.

b. Muito jejua o entendimento de quem, por enobrecer uma coisa tão vil,

envilece outra tão nobre...

(10) Orações dependentes

a. Consta do sobredito [que toda a santidade destes homens era superficial...

b. Poderá ser [que unidos obrem mais fortemente este engano no coração de

algum afligido...

O fato de se ter a ordem V2 também nas dependentes, mesmo em presença de

um complementizador, sugere que o verbo estende o seu movimento até uma categoria

em posição mais baixa que Comp. A princípio, então, pode-se pensar que o PM seja

uma língua do tipo IP-V2, em que o verbo é alçado para I0 tanto nas orações matrizes

bem como nas dependentes. Neste caso, o [Spec, IP] seria capaz de abrigar tanto o

sujeito pré-verbal como também tópicos deslocados.

No entanto, há um indício que sugere uma proposta alternativa de

implementação da ordem V2, proposta esta que consiste na hipótese de que o

movimento do verbo se dá para alguma projeção intermediária entre CP e IP. Martins

(2003), dando continuidade a idéias formuladas em Laka (1990), defende a existência

de uma categoria funcional localizada entre CP e IP, por ela denominada de Σ. Essa

categoria seria responsável por codificar valores de polaridade, tais como afirmação,

negação ou modalidade. Partindo da idéia de que os itens lexicais que se superficializam

em respostas mínimas não-marcadas para perguntas do tipo sim/não são incorporados

em Σ, Martins argumenta que a possibilidade ou não de elipse de VP (uma construção

que permite que objetos verbais não sejam expressos) em resposta a perguntas do tipo 6 Os exemplos em (9) e (10) foram extraídos da obra de Manuel Bernardes intitulada Nova Floresta, e disponível no Corpus Tycho Brahe (http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus/index.html). Esse autor nasceu em 1644.

11

sim/não, como contrastado nos exemplos do Galego e do Espanhol em (11) e (12), pode

ser associada ao fato de Σ portar ou não um traço de V forte. Em línguas nas quais Σ

tenha um traço de V forte, o verbo sempre seria alçado para essa posição e,

conseqüentemente, a elipse de VP seria licenciada, como no Galego. Se, por outro lado,

Σ tiver um traço de V fraco, o verbo não se move para essa categoria e a elipse de VP

não é então licenciada, tal como ocorre no Espanhol.

(11) Galego: (Tu) décheslle o livro? Si, din.

“Você lhe deu o livro?” Sim, dei

(12) Espanhol Le diste el libro? * Sí, di.

“Você lhe deu o livro?” Sim, dei.

Com relação ao PM, estudo preliminar mostra a possibilidade de elipse de VP

em resposta a perguntas do tipo sim/não, como é verificado nos exemplos (13) e (14).

(13) Este servo de Deus, sendo de treze anos, enfermou gravemente. E, mandando

chamar ao Padre António de Vasconcelos, da mesma Companhia, Reitor do

Colégio do Porto, onde ele estudava as primeiras letras, lhe disse, com maior siso

do que sua tenra idade prometia: Estou para morrer; quero-vos encomendar um

riquíssimo tesouro, que tenho escondido; haveis de me dar palavra de cuidar

dele como coisa própria. Sim, prometo (disse o bom padre). (Manuel Bernardes,

1644)7

(14) Não deseja V. M. muito o mesmo? Sim, deseja. (António das Chagas, 1631)8

Assim, é plausível admitir então que, dentro da linha de raciocínio de Martins, o

PM seja uma língua em que a categoria Σ tenha um traço de V forte, capaz, portanto, de

hospedar o verbo. Desse modo, a questão da não-existência de uma assimetria entre

orações matrizes e dependentes em relação ao fronteamento do verbo finito também se

explicaria em termos de movimento do verbo para uma categoria funcional entre CP e

7 Cf. a nota 7.8 A obra Cartas Espirituais, de António das Chagas, de onde tirei o exemplo (15), também se encontra disponível no Corpus Tycho Brahe (http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus/index.html).

12

IP, e concomitante movimento de algum outro sintagma para a posição de especificador

de semelhante categoria, de tal forma que a presença ou não de um complementizador

foneticamente realizado não afetaria o movimento do verbo e a subseqüente derivação

da ordem V2. Aliás, essa hipótese vai ao encontro da proposta de Schwartz & Vikner

(1996), os quais argumentam que, em qualquer tipo de língua V2, o verbo sempre se

move para fora do domínio de IP.

Dada essa problematização, para que se possa determinar com precisão a real

posição do verbo na estrutura sintática do PM, é imprescindível verificar em que

medida se dá a (a)ssimetria entre orações principais e encaixadas, procurando detalhar

também aspectos relacionados a construções do tipo elipse de VP. Não menos

importante nessa tarefa de escolha entre as duas possíveis implementações para a

restrição V2 deve ser a descrição sistemática da ordenação dos constituintes que

precedem o verbo. Para tornar mais claro esse ponto, veja-se o exemplo (15), extraído

de Raposo (2000), onde se tem uma oração bem formada no PE.

(15) Muito whisky o capitão me tem servido!

Tem-se admitido que, no PE, constituintes quantificados, tais como muito

whisky, estejam localizados no especificador de uma determinada categoria

intermediária entre CP e IP.9 Aceito isto, em (16), como argumenta Raposo, o verbo

provavelmente se encontra em I0, dado que entre ele e o sintagma quantificado se

encontra o constituinte com a função de sujeito o capitão, admitida a hipótese plausível

de que o sujeito oracional possa ocupar a posição [Spec, IP]. Dentro dessa perspectiva,

será importante averiguar, com relação aos dados do PM, até que ponto se atesta algum

tipo de constituinte entre o verbo e o elemento no especificador da categoria funcional

localizada entre CP e IP, e, em caso afirmativo, qual a natureza desse constituinte. As

implicações disso são claras: havendo elementos que se interponham entre o verbo e o

especificador da categoria acima de IP, é bastante razoável supor então que o verbo foi

licenciado em I0 mesmo, sem necessidade de alçamento para o núcleo de alguma outra

categoria projetada acima de IP

Além disso, qualquer que venha a ser a hipótese de implementação para a

posição do verbo no PM, será necessário articular ainda uma proposta que dê conta da

eventual natureza V2 dessa gramática com o fato de que, nessa fase do Português

9 Trata-se da categoria Σ, nos termos de Martins (2003), ou F, na terminologia de Raposo (2000).

13

Europeu, atesta-se de maneira bastante produtiva sentenças em que o verbo é o primeiro

constituinte da oração. Portanto, torna-se importante compreender em que contextos a

ordem V1 é licenciada, e como tal fato pode ser estruturado dentro de uma gramática

onde se opera um certo tipo de efeito V2.

4.3. A Posição do Verbo no PE

Para que haja uma comparação minuciosa entre a gramática do PM e a do PE no

que diz respeito à sintaxe de posição do verbo, não basta que se tenha uma análise

criteriosa dos fatos sintáticos atestados no PM. Trata-se de uma tarefa igualmente

importante interpretar de maneira sistemática a sintaxe de ordenação dos constituintes

no PE, para que se possam formalizar as eventuais mudanças ocorridas do sistema

médio para o sistema moderno.

Boa parte dos estudos que abordam a questão da posição do verbo na estrutura

oracional do PE articula esse tópico ao fenômeno da colocação de clíticos e ao problema

da posição do sujeito. Especificamente em relação à sintaxe dos clíticos do PE, sabe-se

que a próclise é obrigatória em orações subordinadas bem como em orações matrizes

nas quais o verbo é precedido ou por um elemento wh, ou por um sintagma quantificado

ou por um constituinte focalizado.

• Orações Subordinadas10

(16) a. Todo mundo sabe que a viste.

b. *Todo mundo sabe que viste-a.

• Orações matrizes com verbo precedido por um elemento wh (17), um sintagma

quantificado (18) ou focalizado (19)

(17) a. Quem me chamou?

b. *Quem chamou-me?

(18) a. Alguém me chamou.10 Esses exemplos da colocação de clíticos no PE foram extraídos de Galves & Paixão de Sousa (2004).

14

b. *Alguém chamou-me.

(19) a. Só ele a entende.

b. *Só ele entende-a.

Por sua vez, a ênclise é categórica quando o verbo está na primeira posição

absoluta (cf. 20) ou quando o verbo finito, nas orações matrizes, é precedido por um

sintagma referencial, como um sujeito, por exemplo (cf. 21).

(20) a. Deu-me um livro.

b. *me deu um livro.

(21) a. O João deu-me um livro.

b. *O João me deu um livro.

Benincà (1995), para dar conta de fatos relacionados à colocação de clíticos nas

línguas românicas medievais, e ao mesmo tempo estendendo sua proposta para o PE,

assume que nessas línguas o verbo sempre se move para o núcleo de CP, a menos que

tal núcleo já esteja preenchido por um complementizador. Além disso, a autora defende

a aplicação da generalização de Tobler-Mussafia (T-M), que impede a superficialização

de pronomes clíticos na primeira posição absoluta da sentença. Com base nesses

pressupostos, a autora propõe a seguinte lei para a colocação enclítica, em hipótese

aplicável também ao PE:

(22) Os complementos clíticos ocorrem após um verbo finito se e somente se o verbo

regente está em C e o [Spec, CP] se encontra vazio.

Dentro dessa proposta, a próclise em sentenças como (16) é explicada devido ao

fato de que o verbo não se move para o núcleo de CP, dada a presença de um

complementizador foneticamente realizado. Quanto aos exemplos de (17) a (19), é

assumido, por um lado, que o verbo estaria em Comp e, por outro, que operadores wh,

constituintes quantificados ou sintagmas focalizados obrigatoriamente ocupem o [Spec,

CP]. Nesse caso, então, embora o verbo esteja em C0, o [Spec, CP] não está vazio, de

modo que não são preenchidas todas as exigências para que a ênclise seja derivada.

15

Nos exemplos com a ênclise apresentados anteriormente, a explicação seria a

seguinte. Em (20), por exemplo, o verbo estaria em Comp, dada a ausência de um

complementizador foneticamente realizado. Como o [Spec, CP] está vazio, todas as

condições para a superficialização da ênclise, tal como expressas em (22), são

satisfeitas, e, por conseguinte, a colocação enclítica é derivada. Já em (21), para manter

a validade de sua proposta para a derivação enclítica, Benincà assume que, no PE,

sujeitos pré-verbais referenciais estejam localizados numa posição externa à oração, que

seria uma categoria projetada acima de CP, denominada pela autora de TOP. Assim,

tanto o [Spec, CP] se encontra vazio como também o núcleo de CP está disponível para

o movimento do verbo, já que não há a presença de um complementizador que possa

bloquear tal movimento. Portanto, a ênclise é a opção superficializada.

Em termos de comparação com os fatos do PM preliminarmente investigados, a

proposta de Benincá para a posição do verbo no PE pode não representar

necessariamente uma mudança em relação ao período gramatical anterior. Dizemos isso

desde que se adapte a idéia de movimento do verbo para o núcleo de CP, como

argumentada pela autora, para uma análise variante que se baseie simplesmente no

movimento do verbo para fora de IP, como, por exemplo, alguma projeção

intermediária entre CP e IP. Nesse sentido, caso se comprove que o PM era uma língua

em que o verbo também se movia até o núcleo de tal projeção intermediária, pode-se

pensar que a real mudança entre o PM e o PE é que, naquele primeiro momento, o

sujeito e o verbo estavam numa relação Spec-head, ao passo que neste segundo isso não

mais ocorre, já que o sujeito se encontra numa posição de TOP acima do domínio do

núcleo onde se localiza o verbo. Assim, a mudança que de fato ocorre não tem a ver

crucialmente com a sintaxe de posição do verbo, mas sim com a sintaxe de posição do

sujeito.

Em Galves & Sândalo (2004), esses fatos da colocação de clíticos no PE são

explicados de forma diferente. As autoras, em oposição à Benincà (1995), assumem que

sujeitos pré-verbais no PE não são sintagmas deslocados, mas sim elementos internos a

IP, conforme defendido por Costa (1998). Além disso, assume-se que o verbo finito

permanece em IP, sem a necessidade de alçamento para Comp ou alguma outra

categoria funcional entre CP e IP. As autoras argumentam então que a ênclise nessa

língua é o resultado da aplicação da seguinte restrição no nível morfológico:11

11 Galves & Sandalo (2004) formulam sua proposta dentro do quadro da Teoria da Otimalidade.

16

(23) NON-INITIAL (CL, 1X-BAR): um clítico não pode ser o primeiro elemento do

primeiro X-barra da oração.

Esta restrição adequadamente prediz que, nas situações em que I-barra é o

primeiro X-barra da oração, a ênclise é derivada.12 Isto aconteceria, por exemplo em

orações verbo-iniciais.

(24) A ênclise em orações verbo-iniciais

[IP [I V cl

Como Galves & Sandalo salientam, dado que (23) se aplica ao nível do primeiro

X-barra (não no nível XP), a presença de um constituinte no especificador de IP é

irrelevante para a restrição. Eis a razão então por que a ênclise é produzida

independentemente da presença de um sujeito em IP:

(25) A ênclise em sentenças com sujeito pré-verbal

[CP [IP sujeito [I V cl

A próclise seria desencadeada nos casos em que há algum X-barra projetado

numa posição acima de IP. Estes seriam os contextos de próclise obrigatória nas orações

subordinadas ou com operadores wh em posição pré-verbal:

(26) A próclise em orações subordinadas ou com operadores wh

[CP [que [IP [I cl V

[CP wh [C [IP [I cl V

Com relação a sintagmas quantificados e focalizados em posição pré-verbal,

contextos estes em que a próclise também sempre é categórica, Galves & Sandalo

seguem a proposta de vários que defendem a existência de um sintagma extra entre CP e

IP no Português (cf., entre outros, Costa & Galves 2002, Martins 1994), sintagma este

que tem recebido diferentes rótulos. Nesta hipótese, os elementos quantificados ou

12 Galves & Sandalo assumem considerações de economia, na linha de Bošković (1997), por exemplo. Para as autoras, sentenças que não são introduzidas por complementizadores foneticamente realizados são IP, e não CP

17

focalizados estão nesta posição intermediária entre CP e IP e, portanto, I-barra não é o

primeiro constituinte X-barra.

(26) A próclise com sintagmas quantificados ou focalizados em posição pré-verbal:

[CP [Σ XP [IP [I cl V

Dentro da análise de Galves & Sândalo, a alteração que se opera do PM para o

PE pode ser entendida como um processo de mudança que afetou a sintaxe de posição

do verbo e do sujeito, ao mesmo tempo, especialmente se viermos a confirmar que o

PM era de fato uma língua em que o verbo se movia para fora do domínio de IP.

Seguindo a proposta das autoras, pode-se pensar que o sujeito pré-verbal no PE é

reinterpretado como um constituinte interno à categoria de IP, o que, forçosamente,

obrigaria o verbo a não mais se mover para uma categoria localizada entre CP e IP.

Dada essa discussão introdutória do problema, a fim de averiguar os possíveis

contrastes entre a gramática do PM e a do PE, será importante que, em relação a este

último período do Português Europeu, se tenha uma proposta de análise que relacione a

questão da sintaxe de posição do verbo a outros fenômenos sintáticos, de uma forma

especial, aos que dizem respeito ao problema da posição do sujeito na estrutura

oracional e ao fenômeno da colocação de clíticos.

4.1. A mudança

Em nosso trabalho, procuraremos também observar os padrões de evolução dos

diferentes fatos pertinentes à questão da ordenação do verbo em relação aos demais

constituintes da oração, para que, desse modo, possamos chegar a uma proposta o mais

precisa possível da delimitação no tempo de uma eventual mudança quanto à sintaxe de

posição do verbo do PM para o PE. Além disso, procuraremos verificar em que medida

os resultados por nós obtidos no que diz respeito à sintaxe do verbo podem ser

articulados com os resultados do padrão de evolução de outros fenômenos lingüísticos

em mudança.

Consideramos essa estratégia importante em razão do quadro teórico que

utilizaremos para a realização dessa pesquisa, que se trata do modelo de Princípios e

Parâmetros, no qual a mudança sintática é interpretada como a mudança na fixação de

18

uma ou mais parâmetros. Tal mudança paramétrica, como Kroch (2001) demonstra,

afeta a gramática como um todo, e não apenas uma determinada construção. Nesse

sentido, a descrição pormenorizada dos padrões de evolução do posicionamento do

verbo em relação aos demais constituintes da oração, atentando igualmente para a

evolução dos padrões de outros fenômenos lingüísticos em mudança, pode ser uma

articulação interessante na tentativa de entender quais mudanças paramétricas

desencadearam as possíveis alterações na sintaxe de colocação do verbo do PM ao PE.

Dentro dessa perspectiva, um enfoque especial será dado ao fenômeno da

colocação de clíticos. Em geral, as mudanças ocorridas na sintaxe de posição dos

pronomes clíticos têm sido tomadas como uma diretriz para determinar o momento em

que se dá a passagem do PM para o PE (cf., por exemplo, Galves 2004, Paixão de Sousa

2004, Galves, Britto & Paixão de Sousa 2005). A partir de uma investigação baseada na

análise de textos escritos por autores nascidos entre 1542 e 1836, Galves, Britto &

Paixão de Sousa (2005) atestam uma significativa mudança no padrão de colocação de

clíticos em orações matrizes XV, sendo X ou um sujeito referencial não-focalizado, ou

um advérbio fronteado que não funcione como modificador de VP ou um PP que não

seja um argumento fronteado. Até o fim do século 19 esses contextos sintáticos

apresentam uma variação empírica entre a ênclise e a próclise, porém em padrões

diferentes, como ilustra o gráfico 4, onde são apresentados os resultados obtidos pelas

autoras.

Com base numa análise quantitativa e qualitativa, Galves, Britto & Paixão de

Sousa argumentam que uma mudança gramatical na questão da colocação de clíticos

teria ocorrido na virada do século 17 para o 18. Até então, a alternância entre a ênclise e

a próclise é produzida por uma única gramática, sendo que a ênclise é a opção marcada.

Do início do século 18 em diante, porém, ocorre um aumento progressivo do uso da

ênclise. As autoras mostram que, nesse segundo momento, a ênclise se constitui como a

opção categórica da nova gramática, embora uma grande variação seja ainda atestada

nos textos durante esse período. Essa variação seria o resultado de competição de

gramáticas (no sentido de Kroch 1994, 2001), ou seja, a tensão entre a gramática do PE,

que passa a emergir nos textos, e a gramática antiga, que permitia a alternância

ênclise/próclise

Observações interessantes podem ser feitas ao se comparar os resultados da

variação ênclise/próclise com aqueles que foram obtidos para o índice percentual da

19

seqüência SV em relação à ordem XV em sentenças com o clítico se não-passivo, por

exemplo. Registramos tal comparação no gráfico 5.

Pela comparação entre os dois gráficos, nota-se que, de 1700 em diante, o

percentual tanto de SV quanto de sentenças enclíticas passa a apresentar valores

superiores ao que se tem pelo menos em relação ao século 17, o período de cem anos

imediatamente anterior. E tanto no que diz respeito à colocação enclítica, bem como à

ordem SV, o aumento no uso dessas possibilidades se dá de maneira crescente a partir

do início do século 18. Dada essa comparação, os resultados sugerem que o início da

fixação como ordem preferida da seqüência SV, um dos fatos que tomo como

fundamental para a hipótese da mudança no sistema de colocação verbal no Português

Europeu, coincide no tempo com o estabelecimento da colocação enclítica como opção

preferível para o posicionamento do clítico. Assim, uma vez que esses dois fenômenos

parecem passar por uma mudança quantitativa no mesmo período de tempo, surge a

questão: estariam os processos de mudança relativos a esses dois fenômenos sendo

desencadeados pelas mesmas mudanças paramétricas?

Atualmente, existem ferramentas de pesquisa que, amparadas numa estatística

robusta e baseadas num conjunto apropriado de dados, podem determinar a relação

existente entre fenômenos em mudança aparentemente distintos. Uma dessas

ferramentas é delineada em Kroch (1989). Usando métodos estatísticos que levam em

consideração a razão (proporção) em que as mudanças ocorrem, o autor mostrou que, se

a razão de mudança for constante, ou seja, a mesma para várias das mudanças

superficiais, apenas um parâmetro está envolvido na mudança. Kroch pôs em evidência

que mudanças afetando fenômenos distintos, mas associados na sincronia a uma mesma

fixação paramétrica (como o uso de do perifrástico e a posição dos advérbios em

Inglês), seguem uma taxa constante de evolução. Esse Efeito da Taxa Constante

(Constant Rate Effect), portanto, uma vez solidamente fundamentado no plano

empírico, torna-se um teste valiosíssimo para avaliar se duas mudanças são o efeito de

uma única refixação paramétrica.

Porém, enquanto que para o fenômeno da colocação de clíticos já existam

trabalhos que analisem de maneira sistemática o processo de evolução que se dá do PM

para o PE,13 para a questão da sintaxe de posição do verbo, como dissemos em momento

anterior, há uma ausência de estudos que forneçam uma descrição sistemática e

amparada num conjunto apropriado de dados. Assim, dificulta-se qualquer articulação

13 Cf., entre outros, Paixão de Sousa (2004) e Galves, Britto & Paixão de Sousa (2005).

20

estatística, como a empregada por Kroch (1989), no sentido de investigar em que

medida os fatos representados no gráfico 5 realmente ostentam efeitos de mudança

paramétrica em comum no tocante à colocação de clíticos e à sintaxe de posição do

verbo. Por essa razão, dada a possibilidade permitida por ferramentas estatísticas de

associar as mudanças na sintaxe de posição do verbo a outros fenômenos em mudança,

torna-se fundamental descrever detalhadamente os padrões de evolução do

posicionamento do verbo em relação aos demais constituintes da sentença. Além disso,

esta estratégia poderá trazer um esclarecimento maior sobre a questão de quando

emerge nos textos a nova sintaxe verbal do Português Europeu.

5. Corpus e Método de Trabalho

5.1. O Corpus

Nesse projeto de pesquisa, assumo tal como em Galves (2004) que o PM se

estende do século 14 ao 1714. Nessa perspectiva, então, a partir do século 18 já teríamos

a emergência da gramática do PE. Portanto, a fim de documentar a sintaxe de posição

do verbo no PM e a evolução desse fenômeno até o PE, escolhi como ponto inicial da

pesquisa o século 16, momento este que corresponde a um período central do PM,

focalizando até o século 19, quando já se tem uma gramática do PE mais estabilizada.

Os textos selecionados para compor o corpus dessa pesquisa se encontram

disponíveis no Corpus Tycho Brahe (http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus/index.html).

A opção por selecionar textos que se encontram no Corpus Tycho Brahe parte do fato

de que, nesse corpus eletrônico, é abrangido com uma significativa diversidade de

autores todo o período de tempo que pretendo investigar. Além disso, o trabalho com

um material em formato eletrônico propicia a vantagem de se recuperar dados com uma

maior agilidade em relação a outras formas de trabalho.

Com relação à questão da data que será considerada para localizar o texto de

cada autor na história do Português, sigo a proposta empregada na elaboração do

Corpus Tycho Brahe, que leva em conta a data de nascimento dos escritores.

Feitas essas considerações, os textos que formarão o corpus da pesquisa são:

14 Cf. a nota 1.

21

1) Francisco de Holanda (1517-1585) Da Pintura Antiga

2) Diogo do Couto (1542-1616) Décadas

3) Luis de Sousa (1556-1632) A Vida de Frei Bartolameu dos Mártires

4) F. Rodrigues Lobo (1579-1621) Côrte na Aldeia e Noites de Inverno

5) Antonio Vieira (1608-1697) Cartas

6) Antonio das Chagas (1631-1682) Cartas Espirituais

7) Maria do Ceu (1658-1753) Rellaçaõ da Vida e Morte da Serva de Deos a

Venerável Madre Ellena da Crus

8) André de Barros (1675-1654) A Vida do Padre António Vieira

9) Matias Aires (1705-1763) Reflexão sobre a Vaidade dos Homens e Carta sobre a

Fortuna

10) Antonio da Costa (1714-1780?) Cartas do Abade António da Costa

11) Marquesa D’Alorna (1750-1839) Cartas e Outros Escritos

12) Almeida Garrett (1799-1854) Viagens na Minha Terra

13) Camilo Castelo Branco (1825-1890) Amor de Perdição

14) Ramalho Ortigão (1836-1915) Cartas a Emília

5.2. Método de Trabalho

O método de trabalho que empregarei divide-se em três etapas: 1) coleta e

classificação dos dados; 2) quantificação dos dados; 3) análise qualitativa dos dados.

1) Coleta e Classificação dos dados: Esta etapa consiste na separação das

sentenças que se encaixam dentro dos contextos sintáticos relevantes para este trabalho.

A princípio, selecionaremos sentenças matrizes finitas, sejam elas declarativas,

interrogativas ou imperativas, bem como as sentenças dependentes finitas.

Para a classificação dos dados, serão levados em consideração os seguintes

critérios:

a) O tipo de sentença − se matriz ou dependente. No caso das orações matrizes, se

declarativa, interrogativa ou imperativa.

b) A natureza dos constituintes que precedem o verbo − se um sujeito (nominal ou

pronominal), um PP, um advérbio, uma oração etc.

22

c) A natureza dos constituintes que se superficializam após o verbo − se um sujeito

(nominal ou pronominal), um PP, um advérbio, uma oração etc.

2) Quantificação dos dados: Consiste no tratamento estatístico dos dados para a

verificação dos padrões de ordenação do verbo em relação aos demais constituintes da

sentença.

3) Análise qualitativa dos dados: Nesse estágio, dentro do quadro teórico do

modelo de Princípios e Parâmetros, a idéia é analisar os padrões de posicionamento do

verbo em diferentes contextos com o intuito de propor uma análise abrangente da

sintaxe de colocação do verbo no PM bem como as mudanças pelas quais ela passa na

passagem do sistema gramatical do PM para o PE.

6. Cronograma de trabalho

1o. ano: Aprofundamento na bibliografia referente ao fenômeno V2 bem como à sintaxe

de posição do verbo no Português Europeu. Levantamento e classificação dos dados.

Cumprimento de créditos em disciplinas.

2o. ano: Continuação de leituras relevantes para os fenômenos estudados. Continuação

do levantamento e classificação dos dados. Tratamento estatístico dos dados.

Encaminhamento de qualificação de área em Sintaxe (início do 2o. semestre). Exame de

qualificação de área em Sintaxe (final do 2o. semestre).

3o. ano: Estágio no exterior. Preparação da qualificação da tese (2o. semestre).

4o. ano: Exame de qualificação da tese (início do 1o. semestre). Redação final da tese.

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Apêndice

Gráfico 1: a proporção das ordens SV e XV em relação à totalidade de sentenças (SV+XV) com clíticos períodos de 50 anos (Galves, Britto & Paixão de Sousa 2005).

Gráfico 2: a proporção das ordens SV e XV em relação à totalidade de sentenças (SV+XV) com o clítico se não-passivo períodos de 50 anos (Antonelli, em curso).

26

0,48

0,39

0,48

0,37

0,50

0,65 0,65

0,52

0,61

0,52

0,63

0,50

0,35 0,35

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1500-

1549

1550-

1599

1600-

1649

1650-

1699

1700-

1749

1750-

1799

1800-

1849

SV XV

Gráfico 3: a evolução de SV-cl e XV-cl em relação ao total de dados em orações principais séculos 16 a 19 (Paixão de Sousa 2004).

27

0,63

0 ,36

0 ,52

0 ,26

0 ,59

0 ,73

0 ,94

0 ,37

0 ,64

0 ,48

0 ,74

0 ,41

0 ,27

0 ,06

0 ,00

0 ,10

0 ,20

0 ,30

0 ,40

0 ,50

0 ,60

0 ,70

0 ,80

0 ,90

1 ,00

1500-

1549

1550-

1599

1600-

1649

1650-

1699

1700-

1749

1750-

1799

1800-

1849

S V XV

0,000 0,004 0,0060,024

0,051

0,156

0,319

0,0240,004 0,009 0,007

0,0300,012

0,115

0,00

0 ,10

0 ,20

0 ,30

0 ,40

0 ,50

1500-1549 1550-1599 1600-1649 1650-1699 1700-1749 1750-1799 1800-1849

% SV c l % XV c l

Gráfico 4: a distribuição da ênclise versus a próclise contexto XV (Galves, Britto & Paixão de Sousa 2005).

Gráfico 5: comparação dos índices de ênclise e da ordem SV (cf. gráficos 4 e 2).

28

0,10 0,08

0,15

0,05

0,37

0,59

0,85

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1500-

1549

1550-

1599

1600-

1649

1650-

1699

1700-

1749

1750-

1799

1800-

1849

% Ênc lis e

0,10 0,08

0,15

0,05

0,37

0,59

0,85

0,63

0,36

0,52

0,26

0,59

0,73

0,94

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1500-1549

1550-1599

1600-1649

1650-1699

1700-1749

1750-1799

1800-1849

% Ênclise % SV