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Ú l c e r a s p o r P r e s s ã o

Revisão e Adaptação:Lina MonettaCOREN: 26880Enfermeira Mestre pela Universidade de São PauloEspecialista em Enfermagem em DermatologiaDiretora de Enfermagem da Bio Sana’sPresidente da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia

© 2006 RTM Ltda. Tel: 55 11 5507.57.35 – Fax: 5507.57.34 e-mail: [email protected] – todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia por escrito dos editores.

DefiniçãoA úlcera por pressão (UP) pode ser definida como uma lesão da pele e tecidos subjacentes, produzida pela redu-ção do fluxo sanguíneo local e conseqüente isquemia teci-dual provocada por pressão prolongada e/ou atrito entre regiões corpóreas e uma superfície sólida.

Localização As UP localizam-se quase exclusivamente em áreas cor-porais relacionadas às proeminências ósseas.Ocorrem com maior freqüência nas regiões: sacra, coccígea, tuberosidade ísquea, trocanteriana, esca-pular, occipital, maleolar, calcânea, lateral externa dos pés e cotovelos. A maioria delas ocorre na meta-de inferior do corpo e dois terços na faixa da cintura pélvica.5

A localização da úlcera denunciará a posição em que o paciente mais frequentemente se apóia ou sofre injúria. Esta região deve ser imediatamente protegida e os fatores de risco controlados para a pronta interrupção do proces-so de agressão dos tecidos.

Lina Monetta

ÚLceras por pressão

Úlceras por pressão

Incidência das UpAs elevadas taxas de incidência e prevalência, morbidade e custos das UP tem levado os órgãos de saúde, públicos e privados, a debaterem este assunto com os profissionais de saúde e, recentemente, a investirem em sua prevenção.Órgãos internacionais apontam elevados índices de inci-dência e prevalência das UP. Devido à elevada freqüência e gravidade deste problema, foi criado em 1987, nos Es-tados Unidos, o painel americano em úlcera de pressão (National Pressure Ulcer Advisory Panel - NPUAP). Tra-ta-se de uma organização interdisciplinar de especialistas na área de saúde (médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e podólogos), com o objetivo de melhorar a prevenção e o tratamento das úlceras de pressão. Segun-do eles, estes índices são variáveis conforme a clientela e o tipo da instituição. A prevalência pode variar de �% a 1�% em hospitais ge-rais, de 15% a 25% em serviços de pacientes crônicos e de 7 a 12 % em atendimento domiciliário. A incidência pode chegar a 66% quando se trata de pacientes provenientes de clínicas ortopédicas e de reabilitação. 1,9,2�,12,�

etiopatogeniaAs úlceras por pressão são causadas por uma combina-ção de fatores mecânicos, bioquímicos e fisiológicos que podem ser classificados como intrínsecos ou internos e extrínsecos ou externos.

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Quando a pressão aplicada sobre determinada área cor-pórea não é aliviada, ocorre uma cadeia de eventos celu-lares e vasculares que levam à necrose tecidual. BRYANT (1992) resume muito bem este fenômeno: “pressões prolongadas interrompem, por obstrução,o fluxo sanguíneo e linfático, além da passagem de fluídos intersticiais.� Os tecidos sofrem redução do aporte de oxigênio e nutrientes. Os produtos metabólicos tóxicos acumulam-se. Aumenta a permeabilidade capilar, ocorre acúmulo de proteínas no espaço intersticial, desidratação celular, acidose tecidual e formação de edema, o que ain-da piora a perfusão , levando à morte celular”. ação das forças mecânicasA área de contato criada entre a superfície sólida (assen-to, leito, etc ) e a área corpórea do indivíduo, promovem uma pressão que obstrui o fluxo capilar local.A pressão normal de fechamento capilar é de aproxima-damente �2 mmHg nas arteríolas e de 12 mmHg nas vê-nulas. Uma pressão prolongada e superior a �2 mmHg, irá causar colapso dos vasos capilares, provocando hipó-xia dos tecidos moles e acúmulo de substâncias tóxicas do metabolismo. Com a manutenção da pressão, instala-se a anoxia tissular, morte celular e conseqüente necrose dos tecidos envolvidos. 1�,�,22

Forças mecânicas como atrito, fricção ou a força de cisa-lhamento*, podem deformar e destruir o tecido cutâneo,

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pois removem as camadas superiores de células epiteliais, fragilizando o tecido. Algumas situações cotidianas po-dem ilustrar esta condição, tais como: “arrastar” o pa-ciente no leito, em vez de levantá-lo; o deslizamento do corpo quando se está sentado na cama, apoiado pelas costas na cabeceira; o uso prolongado de aparelhos or-topédicos e a repetição de movimentos involuntários e espásticos. 9

A formação das UP tem causa multi-fatorial. Apresenta-mos os fatores de risco mais freqüentes e importantes na gênese destes tipos de úlceras.* pressão tangencial que atua paralelamente na pele, pro-duzindo atrito por movimento ou tração, ocorre quando duas superfícies são esfregadas uma na outra

- Fatores extrínsecos- pressão, fricção e força de cisalhamento: forças mecâ-

nicas relacionadas como a principal causa da forma-ção das UP.

- intensidade e o tempo de pressão: determinam a pro-porção do efeito deletério da pressão nos tecidos. Portanto, baixa intensidade de pressão por um longo período de tempo pode causar o mesmo dano tissular que uma alta intensidade de pressão por um curto pe-ríodo de tempo. �,5

- umidade: quando excessiva, interfere na integridade da pele, causando maceração. Frequentemente asso-

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ciada aos quadros clínicos neurológicos que levam à incontinência vesical e anal, sudorese excessiva, dre-nagem de fístulas ativas, vazamento de curativos mui-to exsudativos

- agentes químicos: utilizados na higiene corporal e na lavagem das roupas, podem provocar dermatite e da-nificar a pele quando o enxágüe é insuficiente. O uso inadequado de substâncias químicas nos curativos, pode provocar citotoxicidade, alterar o pH e o grau de umidade da pele, prejudicando sua função de bar-reira, aumentando os efeitos iatrogênicos dos fatores mecânicos, além de provocar maior risco de infecção, devido às condições favoráveis ao desenvolvimento de microorganismos. 2,20,5

- sujidade: na pele ou no leito, como presença de mi-galhas e restos alimentares, provocam maceração da pele.

- contato prolongado com superfícies duras: como o uso de determinados aparelhos ortopédicos, comadres, vestuário inadequado, leito cirúrgico, sondas (quando fixadas inadequadamente), fraldas, entre outros, tam-bém são citados como fatores importantes e na maio-ria das situações, possíveis de serem prevenidos. 1�,2

- Fatores Intrínsecos- tolerância tissular: fator determinante no efeito deleté-

rio da pressão, pois influencia na distribuição do peso

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do esqueleto entre os tecidos moles e a superfície rígi-da. Os tecidos têm diferentes tolerâncias à pressão e à isquemia. O tecido muscular é mais sensível do que a pele, isto justifica o dano maior das estruturas inferio-res à pele nas UP, por este motivo, costuma-se atribuir a estas lesões a forma de um “iceberg”.

- imobilidade: diminui a capacidade de mudança de po-sição corporal. Pacientes com lesão medular, sedados, politraumatizados, com determinados quadros neuro-lógicos e com senilidade avançada, permanecem por períodos prolongados na mesma posição, pois de-pendem de outras pessoas para movimentar-se. Este quadro leva a atrofia muscular e contraturas, o que evidencia os pontos de pressão nas áreas corpóreas de proeminências ósseas, levando às ulcerações. 5,1�,� A imobilidade física pode produzir mudanças críticas na capacidade de adaptação do sistema cardiovascular na condução do sangue para os capilares, que favore-cem a formação de trombose venosa.9 A imobilidade causa também graves danos ao sistema respiratório. O acúmulo de secreção pulmonar frequentemente evolui para quadro de infecção. Em conseqüência aos distúr-bios respiratórios, a troca gasosa é ineficiente, prejudi-cando o suprimento de oxigênio aos órgãos do organis-mo, inclusive a pele, o que fragiliza sua integridade. 9

- idade: determina mudanças nas características da pele. Com o envelhecimento, há uma redução quali-

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quantitativa da produção do colágeno da derme, a pele se torna mais delgada e sofre diminuição de sua força tensil, tornando-se menos elástica. Com a cres-cente perda de massa corpórea total e com a redução do colágeno que “acolchoa” as estruturas, formam-se dobras soltas de pele que são muito vulneráveis aos agentes agressores. 9,6 Além das alterações cutâneas, a idade acarreta em cada indivíduo, alterações degene-rativas individuais que contribuem na formação das UP, como a incontinência vesical e anal, a diminuição da percepção dolorosa, a falta de sono e inapetência, quadros depressivos, entre outras, que devem ser ob-servadas e tratadas pela equipe de saúde.

- condição nutricional: deve ser avaliada detalhadamen-te por ser importante fator de risco e por contribuir diretamente na posterior cicatrização dos danos teci-duais. As proteínas são essenciais na manutenção da integridade cutânea e participam da síntese de colá-geno, o principal componente do tecido conjuntivo, fundamental na proliferação epidérmica e na neovas-cularização.

A vitamina C é essencial na síntese de colágeno, na pro-dução de fibroblastos e na manutenção da integridade capilar. As vitaminas do complexo B são necessárias para a manutenção das fibras colágenas, na função lin-focitária, no desenvolvimento celular e nas atividades enzimáticas. 5,10,21

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O controle de dados como: peso, avaliação da ingesta alimentar, índice de massa corpórea (IMC) e nível de al-buminemia sérica, colaboram na avaliação da condição nutricional do paciente.- suprimento sanguíneo deficiente: compõe outro fator

relevante por reduzir a pressão capilar periférica e provocar a desnutrição nos tecidos. Pode ser causado por doenças cardíacas, vasculares periféricas, anemias ou diabetes.

Outros fatores como raça, hipertermia, infecção, hipo-tensão (pressão diastólica abaixo de 60mmHg), fumo, também são descritos como fatores intrínsecos que criam condições favoráveis para o surgimento das UP. Úlcera de pressão como indicador de qualidadeDurante muito tempo, as úlceras por pressão foram rela-cionadas à falha profissional no tratamento de pacientes imobilizados e, especialmente, como resultado de assis-tência de enfermagem de baixa qualidade, pois acredita-va-se que uma assistência de enfermagem qualificada era suficiente para prevení-las.Documento publicado pelo Departamento de Saúde da Inglaterra de 199�, sugere a indicação da incidência das úlceras por pressão como indicador de qualidade na ava-liação do tratamento fornecido por instituições hospita-lares.

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Esta atitude vem sendo revista graças a muitos estudos que contribuem para a melhor compreensão da fisiopa-tologia destas úlceras e aos vários fóruns criados para um debate interdisciplinar. Sociedades multidiscipli-nares foram formadas, como a Agency for Healthca-re Research and Quality, a Tissue Viability Society e o European Pressure Ulcer Advisory Panel, com o ob-jetivo de exercer a interdisciplinaridade no estudo das UP e a busca por soluções efetivas para um tema tão importante. 27,28,2�

Os custos envolvidos no tratamento destas lesões são ele-vados, somente nos Estados Unidos estima-se que o go-verno pague cerca de 1,� bilhões de dólares/ano no trata-mento destas úlceras, podendo gastar de 15.000 a 86.000 dólares por paciente. 1�,11,17

classificação das úlceras por pressãoExistem mais de dez métodos descritos para a graduação das UP. Porém, internacionalmente, muitos especialistas adotam o Sistema de Graduação proposto pelo NPUAP no painel de 1989 da Agency for Health Care Policy and Research - AHCPR. Este sistema foi apresentado pelos especialistas do NPUAP como uma declaração consen-sual desenvolvida para a identificação e classificação do nível de lesão da UP, permitindo a uniformização das in-formações entre os profissionais da saúde. Ele propõe a classificação em � graus:19

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Grau I Eritema que não regride após alívio da pressão.Pele íntegra. Em indivíduos de pele escura, calor, edema e endurecimento podem ser indicadores deste estágio.

Grau II Ulceração superficial que apresenta-se clinicamente como abrasão ou bolha.Com perda parcial da espessura da pele, envolvendo a epiderme e a derme.

Grau III Ulceração apresenta-se clinicamente como uma cratera, mas pode estar recoberta por tecido necrótico.Perda de toda a espessura da pele, até o subcutâneo, sem envolver a fáscia muscular.

Grau IV Ulceração profunda, podendo conter áreas de descolamentos e tunelizações.Perda total da espessura da pele com extensa destruição tecidual, necrose ou dano do tecido muscular, ósseo ou estruturas de suporte (tendões e cápsulas articulares).

cuidados no tratamento das UpOs cuidados para o tratamento das UP podem ser divi-didos em cuidados locais e cuidados gerais. O primeiro grupo, refere-se aos cuidados relacionados ao manuseio da lesão propriamente dita e o segundo, são as mesmas medi-das implantadas para a prevenção de novas úlceras e que contribuem para a melhora da perfusão tecidual do local da úlcera, acelerando o processo de reparo. Estas últimas

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serão abordadas no tópico sobre prevenção das UP.

-Cuidados Locais1) Avaliação da lesão Avaliar a úlcera quanto às seguintes características:- estruturas comprometidas (pele, músculo, tendão ou

osso)- exsudação (quantidade e característica: serosa, san-

guinolenta, purulenta ou intermediárias)- viabilidade dos tecidos expostos (presença ou não de

necrose)- presença de sinais de infecção (sinais flogísticos)- odor- dorEstas características subsidiam o profissional a determi-nar qual a conduta tópica a ser indicada e a freqüência de troca dos curativos.Os profissionais devem realizar registro sistemático destas características, preferencialmente em impresso próprio no prontuário, para facilitar a análise da evolução da úl-cera. O registro fotográfico auxilia na documentação do tratamento e uma haste (swab) pode auxiliar no controle e mensuração da profundidade de possíveis tunelizações e áreas de descolamento. Atualmente, o método mais in-dicado para controle das proporções reais da lesão é a planimetria que depende de programa computadorizado específico, mas permite avaliação mais minuciosa.

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2) Limpeza da Ferida Fundamental para a manutenção do processo fisioló-

gico cicatricial. Recomenda-se:- preferir a técnica de irrigação ao esfregaço- utilizar soro fisiológico ou solução de papaína e não

soluções anti-sépticasA técnica do esfregaço (limpeza que utiliza gazes fric-cionando diretamente o leito da ferida, no intuito de varrer a sujidade local), tem sido utilizada apenas para higienizar feridas com presença de debris ou de-tritos, devido ao trauma provocado no tecido neo-for-mado.5,2�

A irrigação tem sido recomendada para a limpeza de fe-ridas por sua capacidade de remover o produto exsuda-tivo e contaminantes, inclusive bactérias, sem danificar o tecido de granulação. Recomenda-se, no Brasil, uti-lizar seringa de 20 ml adaptada à agulha de calibre 18. Esta combinação, obtém a pressão de 9,5psi (per square inch), considerada efetiva para a limpeza e abaixo do limite de 15 psi, avaliada como traumática ao tecido de granulação. 26

A literatura contra-indica o uso dos anti-sépticos em fe-ridas, não apenas pela comprovada citotoxicidade (para leucócitos, fibroblastos e monócitos) que acarreta retar-do do processo de cicatrização, mas também por não serem eficazes na redução de contagem bacteriana nas feridas.5,7,2�

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�) Cuidados com a pele da margem da lesão:- higienizar cuidadosamente, utilizando soro fisiológico

ou pouca quantidade de solução degermante, apenas quando necessário, com enxágüe adequado;

- evitar friccionar a pele dessa região;- cobrir com produto “barreira” ou pomadas compos-

tas por óxido de zinco para evitar maceração pelo contato prolongado com exsudato da ferida;

A escolha da cobertura adequada para o controle da quantidade de fluídos da ferida auxilia na manutenção da integridade cutânea da pele peri-lesional. �) Controle da infecção O controle da flora bacteriana que coloniza a ferida é fundamental para a manutenção do processo de cicatri-zação. Atenção especial deve ser dada aos pacientes ido-sos e microangiopatas que podem não apresentar sinais e sintomas durante a instalação de processo infeccioso. Recomenda-se:- avaliar tempo da lesão, presença de: eritema, edema,

endurecimento, fragilidade tissular, pus, hipertermia local e sistêmica, crepitação, elevação do número de leucócitos (especialmente neutrófilos) e dor;

- cultura (por swab ou tecido) deve ser indicada não ape-nas na presença de indícios clínicos de infecção, mas quando houver comprometimento ósseo ou quando a lesão não evoluir apesar de tratamento adequado. Co-

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letar exsudato somente após higiene do leito da lesão e expressão da ferida;

- à medida que a ferida cronifica, as bactérias invadem tecidos mais profundos, exigindo, alternativas mais agressivas como desbridamento e antibioticoterapia. 25

5) Desbridamento do tecido necróticoA presença de tecido necrótico no leito da ferida é um fa-tor impeditivo para a cicatrização. Naturalmente, na fase inflamatória, neutrófilos e macrófagos promovem a autó-lise, removendo células indesejáveis à cicatrização. Porém, quando há acúmulo do tecido necrótico, o processo de desbridamento fisiológico é insuficiente e a permanência desta condição leva à cronicidade do processo inflamató-rio, ao aumento do risco infeccioso e impede o processo de cicatrização. Cabe ao profissional especialista, avaliar a ferida, as condições do paciente e selecionar o tipo de desbridamento mais indicado. Tipos de desbridamento:- Autolítico: método de desbridamento seletivo, não in-

vasivo e geralmente indolor, promovido através da au-tólise (método fisiológico de lise da necrose através da ação de leucócitos e enzimas endógenas (proteolíticas, fibrinolíticas e colagenolíticas). Depende da manuten-ção do leito da ferida em meio úmido e de condições vasculares locais que permitam a ação leucocitária e enzimática. Mais lento que os outros métodos, está

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contra-indicado em feridas infectadas, com macera-ção de bordas e elevada exsudação, pois exige cober-tura oclusiva para garantir a umidade local e ação no tecido necrótico. Recomenda-se uso de hidrogel amor-fo ou em placa, associado a filme de poluiretano ou similar para reter a umidade.26

- Enzimático: método químico de desbridamento, sele-tivo (pois não agride os tecidos saudáveis), não inva-sivo, pode provocar queixa de dor leve e temporária em alguns pacientes, obtido através do uso de enzimas exógenas, que promovem um desbridamento mais efe-tivo, rápido e econômico do que o autolítico. As enzi-mas podem ser de origem microbiana, animal ou ve-getal. A colagenase é derivada da bactéria clostridium histolyticum, atua na degradação de fibras colágenas e age mais efetivamente em pH de 6 a 8. A fibrinolisina tem origem animal (obtida do plasma bovino), atua na degradação da fibrina em pH de 7 a 8. A papaína é uma enzima de origem vegetal, atua em pH muito variável (de � a 12), apesar de ser proteolítica (atua em moléculas de proteína), não age sobre o tecido são, de-vido a ação de anti-proteases endógenas como a alfa1-anti-tripsina. Promove aumento do exsudato da lesão, o que pode provocar maceração da pele peri-lesional, recomenda-se portanto, o uso de um produto barreira sobre essa área. 15,16,17,18,26

- Instrumental Conservador: método de remoção dos

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tecidos necrosados, sem atingir os tecidos viáveis e sem ocasionar dor e sangramento, através do uso de pinças metálicas, tesoura delicada e bisturi. Recomendado para lesões com pouca a média quantidade de necro-se, pode ser realizado ambulatorialmente ou durante assistência domiciliária, apenas por médicos ou enfer-meiros que tenham recebido treinamento*, oferecido apenas nos cursos de Estomaterapia ou Enfermagem em Dermatologia.26

- Instrumental Cirúrgico: recomendado quando a úl-cera exige remoção maciça de tecido necrótico e na vigência de quadro infeccioso grave. Realizado ape-nas por médico, geralmente em centro cirúrgico e sob anestesia. Método de desbridamento mais rápido e efetivo, tem como desvantagem não ser seletivo, o ele-vado custo e exigir a hospitalização.26

*COREN-SP Coletânea de Pareceres, vol1 Câmara Téc-nica Assistencial. Parecer 100, pp. 81-82, 11 de abril de 1999.

avaliação dos pacientes de riscoA avaliação do risco de cada paciente para desenvolver as UP é realizada pelo enfermeiro através da utilização sis-temática de métodos especificamente desenvolvidos para esta avaliação.A literatura apresenta vários métodos, entre os quais cita-mos: Norton, Waterlow, Bowman, Arnell, Rubio-Solde-

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villa, Shanon, Braden, Nova-�. �,1�

A avaliação do risco não pode restringir-se apenas ao uso de um indicador, para a determinação do “escore” de cada paciente e automaticamente, dar início à implanta-ção de medidas preventivas indicadas para cada nível.Calcular os riscos faz parte do processo de avaliação do paciente. Somente após a avaliação da equipe multipro-fissional, faz-se possível a implantação de um plano as-sistencial que amenize o impacto dos fatores que levam o paciente a determinada faixa de risco. Cada paciente deve ser regularmente avaliado e não ape-nas em sua admissão. Além disso, a adição de recursos preventivos, cada vez mais eficazes e acessíveis, pode pre-venir a formação de lesões e auxiliar no tratamento das já existentes. prevenção das úlceras por pressãoA detecção precoce dos pacientes de risco para formação de UP e a implantação de um plano de ações sistemáticas de enfermagem, dirigidos a minimizar os fatores de risco destes pacientes, reduzem o índice de formação destas úl-ceras.As diretrizes européias para prevenção das UP publicadas pelo European Pressure Ulcer Advisory Panel – EPUAP em 1998, propõe quatro grupos de ações: 6,8

- Identificar indivíduos “em risco”, que necessitem de prevenção e os fatores de risco específicos.

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- Manter e melhorar a tolerância do tecido à pressão, para prevenir lesões

- Proteger contra os efeitos adversos de forças mecâni-cas externas: pressão, fricção e cisalhamento

- Melhorar os resultados dos pacientes em risco de le-sões causadas pela pressão, por meio de programas educacionais.

As diretrizes da AHCPR para a prevenção das úlceras de pressão, abordam quatro aspectos do cuidado e discrimi-nam as seguintes ações para a obtenção dos objetivos:9

1) Avaliação do Risco- considerar pessoas restritas ao leito ou cadeira de ro-

das e aquelas com capacidade debilitada de reposicio-namento;

- selecionar e utilizar um método de avaliação de risco (como escala de Norton ou de Braden por exemplo) para assegurar uma avaliação sistemática e padroniza-da por toda equipe, dos fatores individuais de risco;

- avaliar todos os pacientes de risco no momento da ad-missão no serviço de saúde e em intervalos regulares;

- identificar todos os fatores individuais de risco, de forma a direcionar as medidas preventivas específicas para cada um;

2) Cuidados com a pele e medidas preventivas

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- inspecionar a pele pelo menos uma vez ao dia e docu-mentar as observações;

- individualizar a freqüência do banho.Utilizar um agente de limpeza suave, evitar água quente e fricção excessiva;

- avaliar e controlar a incontinência. Quando não pu-der ser controlada, limpar a pele no momento em que sujar, utilizar uma barreira tópica e selecionar absor-ventes ou fraldas que forneçam de forma rápida uma superfície seca à pele;

- utilizar hidratantes para pele seca. Minimizar os fato-res ambientais que causam o ressecamento da pele;

- evitar massagear as proeminências ósseas (isto não significa não hidratar e proteger a pele destas regi-ões);

- posicionar adequadamente o paciente, utilizando téc-nicas corretas de movimentação e transferência de forma a minimizar as forças de fricção e cisalhamento na pele;

- utilizar lubrificantes e ou coberturas protetoras para reduzir a lesão por fricção;

- identificar e corrigir os fatores que comprometam a ingestão calórica e proteica e considerar a utilização de suplementação ou suporte nutricional para pessoas que necessitem;

- instituir um programa para manter ou melhorar o es-tado de atividade e mobilidade;

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- monitorar e documentar as intervenções e os resulta-dos;

�) Redução da Carga Mecânica e Utilização de Superfí-cies de Suporte

- reposicionar as pessoas restritas ao leito ao menos a cada duas horas e pessoas restritas a cadeira (cadei-rantes) a cada uma hora;

- documentar a utilização de uma escala de horário para o reposicionamento no prontuário de cada pa-ciente;

- selecionar recursos que reduzam a pressão para cada paciente de risco, segundo suas necessidades. Não uti-lizar almofadas tipo argola.

- considerar o alinhamento postural, a distribuição do peso, balanço e estabilidade e o alívio da pressão quando posicionar os pacientes;

- ensinar as pessoas cadeirantes que são capazes, a mu-dar a posição ou promover manobras de alívio de pressão a cada 15 minutos;

- utilizar recursos tipo trapésio ou forro de cama para elevar ou movimentar ao invés de arrastar as pessoas durante a transferência ou mudança de posição;

- utilizar travesseiros ou almofadas de espuma para manter as proeminências ósseas como joelhos e calcâ-neos fora do contato direto com a cama ou o próprio corpo;

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- utilizar recursos que aliviem totalmente a pressão nos calcâneos (colocar travesseiros sob a panturrilha para elevar os pés);

- evite posicionar o paciente , apoiando-o diretamente sobre o trocânter. Quando utilizar o decúbito lateral, lateralizar o paciente em ângulo de �0 graus;

- elevar a cabeceira da cama o menos possível e por pouco tempo (ângulo máximo de �0 graus).

�) Educação- implementar programas educacionais para a preven-

ção de UP que sejam estruturados e direcionados a todos os níveis de fornecedores de serviços de saúde, pacientes e cuidadores;

- incluir informações sobre: a. etiologia e fatores de risco para UP b. instrumentos de avaliação de risco e sua aplicação c. avaliação da pele d. seleção e uso de superfícies de suporte e. desenvolvimento e implementação de programas in-

dividualizados de cuidados com a pele f. demonstração do posicionamento para diminuir o

risco de perda da integridade dos tecidos g. documentação correta de dados pertinentes para

avaliação.

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27 - Disponível em: http://www.abgaurp.org28 - Disponível em: http://www.ahcpr.gov

Revisão MédicaRoberto Luiz da SilvaCRM 69.825Mestre pela Faculdade de Medicina da USPDiretor Médico - Bio Sana´s

FerIDas crÔNIcas e aGUDas

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notas________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Título: Myriade pro bold cedensad italica - Tamanho - 17

Número do fascículo: Myriade pro Black Italic - Tamanho - 27,7

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