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s.. im foi ·º •e ia ho as do !O ita da JÍZ, a do :os 1e- ao am IS ! e 1gar dor me ha, ar a, Ufll ;ar al. ' . t; A. ...... -- - - ·- V.üado pela Cea• •ara do Podo OBRAº' AAPAZEStPARA PELOS -A .. -o-I V - N- . º- 10-, - . . _ ..::. Pr o 1$00 Redação, Administração e Propri etá ria - Casa do Gaiato PAÇO DE SO U SA ======--= Director e Editor: - P a d r e A m r 1 e o 21 de Fevereiro de 1 948 e DH Q il1 11 õ EllH Comp. e lmp. Ti p. Nun' Alvares-R Santa Catarina, 628 Porto == = Valts do Correio para CETE ===== •• •• •• Por muitas vezes e variados títulos tenho ent rado no Ministério das Colónias, mas nunca vim de lá ttJ.o contente como desta feita. Nada mais nada menos que a perspectiva feliz de enviar para as nossas províncias ultrama1 inas, na qualidade de colonos, uma duzia de rapazes do Lar de Coimbra. A noticia caiu·lhes bem e causou grande alvoroço. Os rapases querem ir. nao há o mêdo do desconhecido. A nossa politlca cúlonial de tal maneira tem sido orien- tada. que hoje do Terreiro do Paço, vê-se Angola e Moçambique/ E 1 pregar aos colonos o amor à tena aonde a vida lhes vai bem. Que se esta- beleçam. Sr. a vida séria em toda a parte custa, pois que lhes custe ali. Devemos ocupar o que é nosso com o suor do rosto e n<!o com linlzasJJ.os mapas, que essas 1 qualquer acontecimento sociat as muda ou faz até desaparecer. E' da história. Quereria faser um FUNDO, mas nao temos espaço, por isso, damos o primeiro lugar a esta nota da quinzena, ttlo importante ela se nos afigura. O alcance social deste primeiro embarque, nao se discute. Rapazes dados em perigo moral, dos quais os Serviços juridlscionals de Menores tomaram conta em pequeninos, lzoje apresentam-se no ultramar, como trabalhadores de primeira classe. Mecanicos, alfaiates, marceneiras, tipo- grafos, -vão todos contentes ganhar o ptlo de cada dia, debaixo da bandeira de Portugal. Sem famfiia, adotados pelo Governo, leem hoje a Naçao por mtle. Sao também os colonos que mais prometem, justamente por ntlo terem laços de sangue que os prendam à terra natal. Quem me dera ir com estes primeiros/ A seu tempo, daremos os nomes e profissôes de cada um dos felizes colonos. Eram da rua/ O Chico carpinteiro disse-me duma ve2 que ntlo queria voltar para a rua 1 tendo saído de ld. Pois nao volta não senhor. Vai vêr Portugal. Eu sou da era em que as creanças nadas em perigo moral, cresciam e medravam no mesmo perigo e iam mais tarde para a A/rica, sim, mas com o passaporte nas mctos do coman- dante;-e eram ali seres perigosos. Eu sou dessa era. Hoje, outros tempos, outros cos- tume[ . O António Sérgio, que teve 37 vot os nas eleições da Casa do Gaiato do Pot•to e #cou o chete .. ........................ .. .............. .. ......................................... _:_:. MAIS UMA CARJA A.Q U 1, cEm nome doe doentes da Casa de Saúde de Santa LI SBOA! cMaria da Batalha·Car am ulo, venho, agradecer a e V. Ex:.ª a amabilidade que t em tido para com os cdoentee daqui, envi ando semp re o j ornal aO Gai ato11 , cNllo quero de forma algumn que e ssa vossa fran- c queza, passe sem dei'u r rasto; e por iss o, e ntre todos •colhi o q ue junto envio; é pouco, bem sabemos. Mas «creia que é a expreeello profun da do nosso reconheci- cmento. Somos doentes e pobres; e por isso sei que o nosso cmodesto óbulo terá boa aceitação-material e espir itual. • e Quer ia pedir-l he um favor: s.e, no seu jornal, <.fazia uma alusão à nossa casa hospitalar, isto é, aos «doent es: uma palavra de conforto. · •Oxalá todos com preendeeaem o grande significado e dessa obra. Mas os que compreendem o p<i dem e os que <podem não querem compreender. Mas Deus é grande. E' dos doentes de u ma casa de Saude do Cara- m ulo. De uma vez foi· me dado tratar de um doente, no que levei todo um mez; o de Setembro. Oa dias eram tão formosos! Oa parques de Coi mbra, aonde o doente morava, aliciavam a gente. Pois nunca ali fui. Apaixonei-me a tal ponto pelo meu doente, que quando êle começa a experimentar melhoras, começo eu a ficar triate. me fazia falta o meu doente! A doença tem um sentido espiritual. O doente é uma pessoa conhecida de Deus. E' preciso não conceder tudo à med.ici na. Nós temos o nome escrito no livro d11o vida. Não estamos de maneira nenhuma esquecidos ainda quando os eofrir.aentoe nos parecem desengano. Se o doente pode apaixonar um estranho que o trata, é que algo existe nas doenças, fora e acima do que os médicos sabem. E' a vontade de Deus. Ora Deus é Pai! Aos doentes do Aos doentes de Out!to. Aos doentes de Monchique, caaae estas aonde o uGaiato> tem entrada. A outros particul ares, isolados, todos compreend am. E' para nos li vrar de males piores, que o nosso Bom Deus per mite os nossos grandes males. Quem assim n!o le, não sabe ler. Estamos a um mês da fundação da Casa do Gaiato. Mar caram-se poeiç<Ses, arr umou-se a c asa, adquiriu-se o i ndis pensável, chegou a máquina de costura 1 O utra est ava prometida!! A H usqvarna maia uma vez bateu as outras marcas. Vam os fi nalmente abrir as port as. Não tarda a aparecer ai a procissão que sai d as fu rnas e das latas e vai dispersar na praça pública. Ficará desta vez resolvido o problema das cr ian- ç as abandonadas? - Muito longe disso. Ia quase a dizer que comamos pelo fim. E' que te nho sempre deante doe ol hos aquela t étrica imagem das furnas, por onde afinal se devia começar. Mas antes de nós, muitos outros puseram o dedo na chaga, viram a profundidade e extensão do mal, e, vamos lá, muito se fez para que ele não tão longe. Quando, la tarde, elevei os meus olhos ao céu à procura de remédio para tio hedionda chaga social, e eles foram pousar sobre airoees bairros econó- micos que à vol ta se construiram, não deixei de exultar. Estava ali de facto, delineado, o primeiro passo a dar o com bate ao flagelo. Remédio insuficient.e. A prova estava à vista. Habitaçito, o lar l Sem isso nada feito. M&. s, ainda que por milagre, o Estado, as empresas e os particulares construissem habitaç<Ses condignas para todos os que por ei as não podem obter, nem por isso o problema ficar ia solucionado. Não é por viver em palácio dourado que o sen- deiro de o ser. Educaçitc, assistencia directa e i medi ata à família onde quer que se encontre, eia o remédio fundamental que é urgente aplicar em mais larga escala. Sei da boa vontade doe estadi stas neste ponto. Ai está a C<'mprová-la a Obra das Mães, os Centros de à Família, os diferentes Patronatos oficiais. Muito e muito pode fazer o bom fu ncionário qua ndo se coloca no seu lugar. Como delegado entre o Estado e a Nação, & le desempenha um verdadei ro sacerdócio, se ti ver consciencia '1a sua miaello. Assim seria se, sem desacredi tar o Est11do, ajudasse o pobre a levu a cr uz da vida. M as não vamos pedir ao funcionalismo o que ele o pode dar. Cuidar de leprosos, pôr a bôca a ferid as purulentas, substituir o condenado às galéa, dar metade da sua capa ao mendigo, descer à arena a lut ar com as feras, são heroicos que ao podem exigir a um padre Damião, a u ma Catarina de Sena, 8 Vicente de Paulo, a S. Martinho, a um Paulo de T11.rso , ou àqueles que bt naiJ mesmas fontes do Evangelho e se fortificam com o meuno pão-o que desceu do céu. Pois não menos heroica é a missão doe que descem às furnas, sobem às agu as furtadas e penetram nas caves nocturnas o pobre vegeta, para levar·l hee conforto; a lição da vida, e resignação cristã, num réstea de sol. E' o que fazem em Coim- bra os Criaditae doe pobres, no Por to as Assibtentee do Centro Social da Sé, em Lisboa as Irmâzinhas do Bairro da Liberdade, em toda a parte os Vicentinos e, em muitas cidades, as Noelistas. Quando estes dois remédios-habitação e educa- ção, se aplicarem em toda a sua extensão, nessa altura as casas do Gaiato desa parecerão por falta de concor• ren te!!. Mas por enquanto, a prccieaito cresce, o mal inqui na as fontes da vida, e ninguem pode dizer- desta água não beberei. Que se leiam os jornais, onde os crimes se relatam cada vez em maior número. Uma coisa me entristece sempre que visito estas frentes de combate à miséria: é a falta de apoio da reta· guarda. Quantas vezes não tenho ouvido dizer às pobres Ct iacUta1: n6s vivemo1 por milagre. '1 em sucedido paBSarmoB mal para <J."6 não falte a &opa ao1 no1sos pobre1. O mesmo verifico aqui em Lisboa. Estamos ainda muito longe do dia em que os que podem, compreendam a função exacta da riqueza. PADRE ADRIANO.

U L I SBOA!portal.cehr.ft.lisboa.ucp.pt/PadreAmerico/Results/OGaiato/j0104... · cMaria da Batalha·Caramulo, venho, ... cmodesto óbulo terá boa aceitação-material e espiritual

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V.üado pela Cea• •ara do Podo

OBRAº' AAPAZEStPARA RAPAZE.~, PELOS RP\PAZE~ -A .. - o-IV- N-.º-10-, - . . _ ..::. Pr eç o 1$00

Redação, Administração e Proprietária - Casa do Gaiato ==~-== PAÇO DE SO USA ======--=

• Director e Editor: - P a d r e A m ~ r 1 e o • • 21 de Fevereiro de 1948 e

~ ··· · · IlO Tll DH Qil111õEllH • •

Comp. e lmp. Tip. Nun' Alvares-R Santa Catarina, 628 Porto === Valts do Correio para CETE =====

• • •• • •

• Por muitas vezes e variados títulos tenho

entrado no Ministério das Colónias, mas nunca vim de lá ttJ.o contente como desta feita. Nada mais nada menos que a perspectiva feliz de enviar para as nossas províncias ultrama1 inas, na qualidade de colonos, uma duzia de rapazes do Lar de Coimbra. A noticia caiu·lhes bem e causou grande alvoroço. Os rapases querem ir. já nao há o mêdo do desconhecido. A nossa politlca cúlonial de tal maneira tem sido orien­tada. que hoje do Terreiro do Paço, vê-se Angola e Moçambique/

E 1 preci~o pregar aos colonos o amor à tena aonde a vida lhes vai bem. Que se esta­beleçam. Sr. a vida séria em toda a parte custa,

• • pois que lhes custe ali. Devemos ocupar o que é nosso com o suor do rosto e n<!o com linlzasJJ.os mapas, que essas1 qualquer acontecimento sociat as muda ou faz até desaparecer. E' da história. Quereria faser um FUNDO, mas nao temos espaço, por isso, damos o primeiro lugar a esta nota da quinzena, ttlo importante ela se nos afigura.

• • •

O alcance social deste primeiro embarque, nao se discute. Rapazes dados em perigo moral, dos quais os Serviços juridlscionals de Menores tomaram conta em pequeninos, lzoje apresentam-se no ultramar, como trabalhadores de primeira classe. Mecanicos, alfaiates, marceneiras, tipo­grafos, -vão todos contentes ganhar o ptlo de cada dia, debaixo da bandeira de Portugal. Sem famfiia, adotados pelo Governo, leem hoje a Naçao por mtle. Sao também os colonos que mais prometem, justamente por ntlo terem laços de sangue que os prendam à terra natal. Quem me dera ir com estes primeiros/

A seu tempo, daremos os nomes e profissôes de cada um dos felizes colonos. Eram da rua/ O Chico carpinteiro disse-me duma ve2 que ntlo queria voltar para a rua1 tendo saído de ld. Pois nao volta não senhor. Vai vêr Portugal.

Eu sou da era em que as creanças nadas em perigo moral, cresciam e medravam no mesmo perigo e iam mais tarde para a A/rica, sim, mas com o passaporte nas mctos do coman­dante;-e eram ali seres perigosos. Eu sou dessa era. Hoje, outros tempos, outros cos­tume[ .

• • O António Sérgio, que teve 37 votos

nas eleições da Casa do Gaiato

do Pot•to e #cou o chete

.. ......... ............... ...... .......... .. ............ ............ ................. _:_:.

MAIS UMA CARJA A .Q U 1, cEm nome doe doentes da Casa de Saúde de Santa

L I SBOA! cMaria da Batalha·Caramulo, venho, agradecer a e V. Ex:.ª a amabilidade que tem tido para com os cdoentee daqui, enviando sempre o j ornal aO Gaiato11 ,

cNllo quero de forma algumn que essa vossa fran­cqueza, passe sem dei'u r rasto; e por isso, entre todos •colhi o que junto envio; é pouco, bem sabemos. Mas «creia que é a expreeello profunda do nosso reconheci­cmento. Somos doentes e pobres; e por isso sei que o nosso cmodesto óbulo terá boa aceitação-material e espiritual.

• e Q ueria pedir-lhe um favor: s .e, no seu jornal, <.fazia uma alusão à nossa casa hospitalar, isto é, aos «doentes: uma palavra de conforto. ·

•Oxalá todos com preendeeaem o grande significado e dessa obra. Mas os que compreendem não p<idem e os que <podem não querem compreender. Mas Deus é grande.

E' dos doentes de uma casa de Saude do Cara­m ulo. De uma vez foi·me dado tratar de um doente, no que levei todo um mez; o de Setembro. Oa dias eram tão formosos! Oa parques de Coimbra, aonde o doente morava, aliciavam a gente. Pois nunca ali fui. Apaixonei- me a tal ponto pelo meu doente, que quando êle começa a experimentar melhoras, começo eu a ficar triate. Já me fazia falta o meu doente! A doença tem um sentido espiritual. O doente é uma pessoa conhecida de Deus. E' preciso não conceder tudo à med.icina. Nós temos o nome escrito no livro d11o vida. Não estamos de maneira nenhuma esquecidos ainda quando os eofrir.aentoe nos parecem desengano. Se o doente pode apaixonar um estranho que o trata, é que a lgo existe nas doenças, fora e acima do que os médicos sabem. E' a vontade de Deus. Ora Deus é Pai!

Aos doentes do Cara~ulo. Aos doentes de Out!to. Aos doentes de Monchique, caaae estas aonde o uGaiato> tem entrada. A outros particulares, isolados, ~esconhtcidos. Q~e todos compreendam. E ' para nos livrar de males piores, que o nosso Bom D eus permite os nossos grandes males.

Quem assim n!o le, não sabe ler.

Estamos a um mês da fundação da Casa do Gaiato. Marcaram-se poeiç<Ses, arrumou-se a casa, adquiriu-se o indispensável, chegou a máquina de costura 1 Outra estava já prometida!! A H usqvarna maia uma vez bateu as outras marcas. Vamos finalmente abrir as portas.

Não tarda a aparecer ai a procissão que sai das fu rnas e das latas e vai dispersar na praça pública.

Ficará desta vez resolvido o problema das crian­ças abandonadas?

- Muito longe disso. Ia quase a dizer que começamos pelo fim.

E' que tenho sempre deante doe olhos aquela tétrica imagem das furnas, por onde afinal se devia começar. Mas antes de nós, muitos outros puseram o dedo na chaga, viram a profundidade e extensão do mal, e, vamos lá, muito se fez já para que ele não vá tão longe. Quando, naqu~ la tarde, elevei os meus olhos ao céu à procura de remédio para tio hedionda chaga social, e eles foram pousar sobre airoees bairros econó­micos que à volta se construiram, não deixei de exultar. Estava a li de facto, delineado, o primeiro passo a dar o com bate ao flagelo.

Remédio insuficient.e. A prova estava à vista. Habitaçito, o lar l Sem isso nada feito. M&.s, ainda que por milagre, o Estado, as empresas

e os particulares construissem habitaç<Ses condignas para todos os que por ei só as não podem obter, nem por isso o problema ficar ia solucionado.

Não é por viver em palácio dourado que o sen­deiro deix~ de o ser. Educaçitc, assistencia directa e imediata à família onde quer que se encontre, eia o remédio fundamental que é urgente aplicar em mais larga escala.

Sei da boa vontade doe estadistas neste ponto. Ai está a C<'mprová-la a Obra das Mães, os Centros de Assist~ncia à Família, os diferentes Patronatos oficiais. Muito e muito pode fazer o bom funcionário quando se coloca no seu lugar. Como delegado entre

o Estado e a Nação, &le desempenha um verdadeiro sacerdócio, se tiver consciencia '1a sua miaello. Assim seria se, sem desacreditar o Est11do, ajudasse o pobre a levu a cruz da vida.

Mas não vamos pedir ao funcionalismo o que ele não pode dar. Cuidar de leprosos, pôr a bôca a feridas purulentas, substituir o condenado às galéa, dar metade da sua capa ao mendigo, descer à arena a lutar com as feras, são acto~ heroicos que ao podem exigir a um padre Damião, a uma Catarina de Sena, 8 Vicente de Paulo, a S. Martinho, a um Paulo de T11.rso, ou àqueles que bt b~m naiJ mesmas fontes do Evangelho e se fortificam com o meuno pão-o que desceu do céu. Pois não menos heroica é a missão doe que descem às furnas, sobem às aguas furtadas e penetram nas caves nocturnas ond~ o pobre vegeta, para levar·lhee conforto; a lição da vida, e resignação cristã, num réstea de sol. E' o que fazem em Coim­bra os Criaditae doe pobres, no Porto as Assibtentee do Centro Social da Sé, em Lisboa as Irmâzinhas do Bairro da Liberdade, em toda a parte os Vicentinos e, em muitas cidades, as Noelistas.

Quando estes dois remédios-habitação e educa­ção, se aplicarem em toda a sua extensão, nessa altura as casas do Gaiato desa parecerão por falta de concor• rente!!. Mas por enquanto, a prccieaito cresce, o mal inquina já as fontes da vida, e ninguem pode dizer­desta água não beberei. Que se leiam os jornais, onde os crimes se relatam cada vez em maior número.

Uma coisa me entristece sempre que visito estas frentes de combate à miséria : é a falta de apoio da reta· guarda. Quantas vezes não tenho ouvido dizer às pobres Ct iacUta1: n6s vivemo1 por milagre. '1 em sucedido paBSarmoB mal para <J."6 não falte a &opa ao1 no1sos pobre1. O mesmo verifico aqui em Lisboa.

Estamos ainda muito longe do dia em que os que podem, compreendam a função exacta da riqueza.

PADRE ADRIANO.

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2 O G~l~TO

DO QUE NóS NECESSITAMOS Eu det10 •tf' hoje o maior •crna de todo o imp,rio

Se houvuae cc.neur10 dtlt•, ganhat1a o pr,mio. Mal acabo ~ ptdir uma bieiclete para Paço de &u1a, e meamo aem a receber, já t1t n1ao jalar numa j<Wgorieú para o 7ojul. O P11dre Adriano antu qutf' um Jeep, "'ª' eu cá t1oto pdo primeiro t1eiculo. Maia ~ azeitllo um pacote de roupas. Mai1 ditas de Monte Redondo. Maia medicamento• de Dafundo. Mai• dito• de Luboa. Mai.a roupas de S. JolJ.o Butilta d'Ajuda. Mau de Vizeu lenço•. Maia roupa• de Paredea. Mau de Loriga um cobertor. Mui• livro• e roupa• dei:cadoa no Lar do P(Jrto. Maia 7 pulot1er1 de M. <Juilhomil. Maia roupa• de Bragança. Maia ditas de Pontevel. Mair da FGntela 400 garrafa•. Mais de Rio Mau uma colmeia. Reina cá na aldeia muito interuse pela• abelha1. E' um dia de festa quando se tira o mtl e 01 f'apaze• go1tam muito de doença• que ae curam com 6le. Ainda O'ltem o Alfredo me veio pedir um potU:o, por eau1a de dore• da garganta. o mu d,o, no11a colheita encontra· 86 na adega, num pote de barr<'. Maia doi• mil eacud(JB de alguem de JJraga, '[Ue º' legou em telta>nento. Nd1 aceitamo• 'de boa mtnte uta1 pequiminoa lembrançaa clo1 que vão para a 1ua mOf'ada, e no altar, retribuimo1. E' para uso meamo que temo• a capela e o culto. 7 odo• 01 dicu falo do• que ae lembram de 1161. F11.lo no altar. 7 amMm coatumo ir de longe a longe abrir a caixa das nouaa. alminhas " topo Hmpre dinheiro.

A'a vezu q1,antia1 muito conaideraveia. &ma conaidM"avel, •im, maa de moedas ptquenas, o que significa aerem muito• os dtvotoa das Alma• do Pur­gat6rio. 7emo• cruzeiro, temos alminhas, temo• ca­pela, aqui ' Pt rtugal.

Maia 20 obrigaÇÕ!S do lonsoUdado que cO Co­mercio do Porto u noa qui'z oferecer, como dútribuiclor de muitas outros que pi). ra êue fim rectbsu; mais con­veraa no altar. Mais da Cavilha uma peça de fa­zenda para ag11salhar oa Gaiatos, correspondendo assim ao seu apêlo no famoso.

Peça grande, pano bom, quanto• não vamoa n6• cobrir! E como poderiamoa fazê-lo, se não jo88em oa que noa e1cutam' Mau de 1orru Vedraa uma caixa de fruta. Mai_. da M.ariaainha de Lisboa duaa enco· mendaa, que foram parar a Paçoa de Fe'l'reira. Ora a gente mora ma• ' em Paço de Sousa. Não é ela a primeira, nem ha·de •e · a derradeira.· Oa nomea 1i!o pr~moa e aa terraa ião tJizi11haa. Ma1 1e o erro 1e poduae et1itJJr, iHo go•taria, 1im. Vamoa a ver. Mai• de S. João da Madeira um vapor e um automo · t1el para d~t· ao pequenino que ficou t1iste por •e h!1t1er partido uma roda de um que antu pouuia. Já lhe fir. ent?·ega. Foi a meia, no refeit6rio doa Batatas. Vinte e dois olharea dti:caram a 1opa que enti!o se comia, para os fixar flOB brinquedos: Ai que lindo! Agora por Batatas, digo aqui um pedidoque me jez ontem o cheje delu , o B ... rroa: cortar o cabêlo d homem. Eu sou chefe, di1Be. Nã"J pode ser. S6 o porteiro, o L '. urenço, tem ê1se privilégio, na cla88e doa pequeno•. E tem-no, po1· via da comimlo que me veio aolicitar aquela graça e dar ao meamo tempo aa 1ua1 raz3e•: ele tem de abrir a porta ós se­nhoras e parece mal aparecer rapado. O Lourenço •Ím, maa outro não. .

Outra eoi1a. 7 enho encontrado alguna dos nos­'º' a fogar cartas. Ontem eram Carlos, Amadeu,

~··~~~·~~••&~•···~· Movimento do hospital durante o mê '1 de Janeiro

Deram entrada na enfermaria, 23 doentes. Saíram, 17; ficaram para Fevereiro, 6; Cura­

tivos, 339; Consultas, 110; Injeções endovenosas, 50; Tratamento antisifiliticos, 218; Análises, 12; Radioscopias, 12; Sala de estomatológia, 21; Com as vacinas que nos deram, já vacinamos 70 rapa­zes, contra otifo.

Eis aqui os numeros e dizeres oficiais do senhor enfermeiro. O que êle aqui não conta é o numero de vidros que os doentes teem quebrado nas portas e nas janelas das enfermarias. Sim. Isso não conta o senhor enfermeiro. São contas minhas. Eu é que tenho de andar. Também não diz nada dos estragos que o Ne1•0 e o Ma1•ão ali fazem, às migalhas que os doentes deixam na cama, da borôa que escondem debaixo dos traves­seiros. Também passa em silencio as brigas entre o Zé da. Lenha e Molesti.a, enfermeiros ajudantes, mais os doentes; e ainda as brigas também cons­tantes entre os dois. E mais e mais e mais. Seria preciso um Gaiato semanal para dizer metade. E os meninos que à sombra do curativo, deixam-se ficar nas enfermarias, de tal modo que se torna necessário enxotar alguns. de cac~te na mão! O Zé Sá, para vêr se escapava de ir roçar mato para o monte Calves, escohdeu-se num armado. E' uma casa de 160 rapazes, um de cada tamanho e de cada feitio. Esta é v maior doença.

Cid e Jol!.c. N8o pede 1er. D6i aviao ttf'minante, ma• tmho ~ •ub•tituir. 'I enho de ojerdcer outro• jogo• . QuandG há ncoe11idade de proibir uma coita emgida pda tWl8a pr6pria natureza, 6 nece,,árío p8r logo outra temelhanCe ao alcance da puaoa, e àepai1 jalar, rdpreendw, eai.gir. Ora muito b11m. 'lenho de arranjar outra• qualidade dd jogaa. Lá ele• aa d c..maa, o domin6, o loto, a gl6f'ia • outroa que taia. O AtJelino já md promettu gud tomava conta da •ecção doe jogoa. Dada a <replicação ao• leitore1 ne1ta coluna do jornal, creio bem que nada mais temo• a acrescentar . . . Cá taperamo• e deade j á agradecemoa.

Agora chegado ao fim desta, recebo carta do 7ojal, para onde tambdm o Comercio do Porto qui1 mandar 10 obrig1ç3111, eguaia às 20 que mandou para aqui. V foa o Comercio do Port:>! E mai• nada.

O l osé Mat•ia da. Covilhã, chete eleito da. Casa do Gaiato, de Coimh1•a, po1• 21 votos

·ouTRA CARTA E' das Funcionárias. E' para o Cete. O Cete

é o António, da administração. As Funcionárias devem ser as senhoras d'aquela casa que o Cet~ descobriu ao pé d'um jardim, aonde despacha em todas as vendas algumas dezenas de numeros do jornal. Ele agora não tem ido lá; manda 20 exem­plares. Elas querem saber porquê e presumem que tenha havido tolice do rapaz. Houve tolice sim senhor. Mas elas são amigas: Que1•emos q,ue d'aq,ui em diante o tamoso tale de ti como sendo dos mais bem comportados. Eu tambem espero poder dar estas noticias com verdade, mas por enquanto não. Aqui digo às Funcio1uú•ias que não nos mandem o dinheiro dos jornais que o rapaz tem mandado, porquanto êle, o Cête, brevemente regressará á venda, e então recebe tudo, para entregar tudo. Tudo, sim, mas êle não tem assim feito, e aqui é que foi justamente a tolice.

Sabem uma coisa, minhas serihoras, nós temos de fazer assim; largamos corda e puxamos corda para manter equilibrio. Se assi.n não" fizerem os que botam papagaios, eles caem no chão. O Cete há· de tornar a ir; vamos dar-lhe corda. Teremo.s de novamente o puxar? Eu seu aquele obreiro aflito que constroi com pedras movediças. Quando cuido ter a parede segura, ela desmorona de novo! O ..que isto não custa, meu Deus 1

Sim. O Cête rnz tolice. Muitos dos vende­dores as fazem. Não é para que as façam, já se vê, que nós os pomos a vender. E' sim, para que aprendam a ser fieis nas coisas pequenas. Uma vez vigiados agora nas tolices, pode ser que amanhã não venham a cometer crimes. E' impos­sivel que o nosso esforço se perca, mesmo que muitas pedras continuem a desmoronar, por move­diças. Impossível. O trabalho que se faz por amor de Deus, não é inutil. Já ha muito tempo, até, que teria caído o obreico e ficado debaixo das pedras que pretende erguer, senão fôsse a força que vem d'aquele Amor!

Funcionárias da tal casa ao pé d'um jardim, muito devo a cada uma, pelo vosso interesse.

Brevemente irá aí o Cete despachar famosos. Por ~le mando saudades.

21. 048

O Peditório da igreja de S. Domingos, não ficou a dever nada ao da ig(eja de Nossa Senhora de Fàtima; e até teria sido muito superior, houvesse eu pedido a todas as missas. A's onze, ao meio dia e às treze, -passou de vinte contos em notas e moedas. Sim senhor. Estou gostando muito da minha eloquencia. Verdade é que eu também me aprumo. Estudo. Preparo-me. E' a capital e está tudo dito.

Estava combinado irmos almoçar à nossa casa do Tojal. Não há caldo como o nosso. O cozi­nheiro ali é o Constantino. Saímos da igreja ajoujados; eram 3 sacos âe dinheiro. Depois de comer, foi-se contar. Eram o Constantino, o Ma­nuel Pedreiro, o Pedro Cronista, o Carlos, Padre Adriano mais eu. O Pedro, ou o Radio, como entre nós é conhecido, por falar muito e falar sempre; o Pedro, digo, fritou-me durante a conta­gem: olhe q.ue este din.heit•o é todo prá gente.. Deixe· o cá Uc.at• todo. Em Paço de Sousa cai muito di.nlteirin.ho.

Também quer uma caneta. Seringasme por ela, sempre que ali vou. E' pFás cr6nü:as-diz êle. Depois de tudo contado e arrumado, notei que Padre Adriano deixara a porta do escritório aberta. Agora sou eu que o frito. Sou eu o Radio: Vai fechar a porta. Olha a porta.

- Muito escaldado deve voe~ estar, para assim insistir. O meu companheiro de trabalho e de trabalhos não têm tido, ao que parece, as minhas duras experiencias. Ele aprenderá à sua custa e depois fecha a porta com trancas, sim, mas só depois d~ roubado, para não fugir à regra.

A seguu à de S. Domingos, temos a igreja de S. Sebastião da Pedreira. Tenho muito boas informai,.ões; que é tudo gente rica e que ali é que há-de ser et coetera e tal. Eu, porém, já de lá venho! Tenho outras experiencias e formo. outra opinião dos tais bairr.os ricos... Vamos a vêr.

No Tojal, e pouco depois de se ter conferido o dinheiro das sacas, vou dar com a costureira sentada na casa da costura, de lapis e papel na mão. Já sabia quanto tínhamos em dinheiro. Sabia, também, do que precisavamos em roupas. Estava fazendo as contas 4o que poderia obter amanhã em Lisboa, do muito que nos falta no Tojal. Quer dizer: chapa ganha, chapa batida.

Estão certas estas contas. O maná vinha.. do céu, cada hebreu apanhava a sua medida e nin­guem morreu à mingua. Todos comiam, cada um a sua parte . Se algum levasse mais do que neces· sitava, apodrecia-lhe! Ora eu não quero que nada apodreça nas nossas casas. A Maria do Carmo, a costureira, lá foi no dia seguinte para as lojas da capital. Em vindo o dia do peditório em S. Sebastião da Pedreira, ela torna a marchat Qara as lojas da capital; e assim per omnia saecula. Gosto de viver da Pobreza. Não há engano quando sinceramente pedimos e sinceramente de­sejamos o pão nosso de cada dia. Porquê? Porque é ao Pai Celeste que a gente o pede.

Até nos legados que nos deixam, temos sido muito felizes. O ultimo, como aqui se diz no Do q.ue n6s necessitamos, foi de dois mil escudos. Está certo. Não alvoroça. Não desorienta. Não nos vem roubar o nosso maior bem.- A Pobreza

••••••••••••••••••• Como foi a minha viagem a Lisboa Sempre chegou &sse dia tão ancioeo, de eu tornar

a dizer aquela palavra tio doce e tão suave ; mie, minha querida mie. Sai de Paço de Sousa na quinta fc1ira e fui ficar a Lisbôa a casa de um Senhor Doutor que foi o primeiro a pedir para eu lá ficar, tratou-me como se eu fôsse filho dêle, dormi, comi, deu -me rou­pas, levou-me ao Coliseu etc.

N l sexta-feira foi dormir a casa dum Senhor Comaurlante que me deu cem escudos para levar à minha mlte. No sábado fui ver a minha mie que há oito anos nllo a via, e que não lhe chamava aquela tio apreciada palavra mãe.

Nllo me conhecia; pois se eu quando sai de lá era um infézado, um esfarrapado que andava pelas ruas aoa tost<Ses, e agora parecia um Senhor bem vestido, fato novo, camisa lavada, etc.

Durante todo o dia estive com ela e com os me11.1 irmlos que nllo me largavam, á noite deapedime da minha mãe e vim ficar a casa de uma Senhora que nos arranjou aeainantes novos, e é do que nós maia precisamos.

Na segunda-feira vi·me embora para Paço de Sousa com o Senhor Pádre Américo. E assim acabou a viagem snblime de um pobre viajante.

CARLOS REB~LO GONÇALVEa

Visado pela Comissão de Censura

1

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VIAGEM SUBLIME ,.. Por muitos títulos o foi esta ida a Lisboa .

Nunca fiquei a gostar tanto da Arcada como desta feita, e eu já gostava muito dela. Mas vamos -primeiramente tratar do que deu à viagem aquêle <JUaliHcativo; o filho de visita à mãe.

Sai de Paço de Sousa à tardinha, para ir ficar a Coimbra, e disse ao viajante para seguir na manhã imediata e deitar a mão de fora na estação velha. A's tantas, lá estava êle com a mão de tora, e eu na gare, à espreita. O Mondego gal­~ava como nunca. O povo acudia às margens, a vêr. Dizia-se que a cheia grande de 1909, não teve tanto volume.

Eu também estive na Portagem, de onde segui para a Estação Nova, a tomar a ligação . .Entrei na carruagem. Ouvia·se ali o formidavel caudal. · Bene.di.cií.e. tlumina, Domi..tw. Rios, bendizei ao Senhor! A minlia oração foi interrompida por um escondido tom.e lá 500$. Guardei. Era a réplica a outros 500$ que momentos antes, nas ruas de Coimbra, eu entregara a ~alguem. Colhe-se na medida em que se semeia. E' a regra. Eram treze horas quando chegamos a Lisboa. Padre Adriano veio do Tojal para conversarmos, roas antes fomos comer. Também é a regra. Sem comer, ninguem diz ou faz coisa do jeito. Entra­mos no Real. Foi caldo de couves e feijão pas­sado, peixe cosido com todos, fruta, queijo e uma pinga. A' tardinha dêsse dia, depois de muito termos conversado, Padre Adriano tomou o rum9 do Tojal, eu ·do Hotel e o viajante, da primeira

·~·~····~=~~*~····~ Impressões Não há palavras que descrevam ao vivo a ago-

11ia lenta das pessoas que vivem no Bairro das Latas, na Conchada, votadas ao esquecimento no antro dos nossos egoísmos( Atrás de uma fachada de prédios luxuosos, de linhas modernas, estende­-se um rosário de toscas cabanas, erguidas com tábuas de sardinha, e fustigada pelo vento, pela chuva . . Dentro dessas cabanas vivem pessoas humanas alheias ao míni mó de conforto desejável .que andam aos papeis dia e noite numa ânsfa deses­perada de matar a fome! Com menos de 6 metros quadrados, onde cabem apenas uma cama (se a tal 5e pode chamar!) um tosco banco e uma mesa des­conjuntada, lá se alojam nada menos do que 6 pes­·soas, velhos e novos, numa 01•gia. de perfeita pro­miscuidade sem limites!

O que mais confrange a nossa vista, o que mais nos r.etatha o coração, é a existência sórdida, das crianças naqueles casebres sob o contágio sifi­lítico e tuberculoso dos pais e demais parentes. Não vivem-vegetam como· parasistas, sem qual­quer réstea de educação e abandonados ao tempo € à morte prematura.

Se é certo que este mal não pode ser radical­mente soluçionado, não é menos certo que pode ~emediar-se. Basta, para isso, que os corações empedernidos se compadeçam daqueles irmãos €squecidos, se lembrem do direito à vida que assiste a todos numa coesão perfeita de amor.

Existe ali, naqueles terrenos, óptimo local para melhores habitações, desfrutando bons ares e rasgados horizontes. O que não se tolera é que se cobre pela indigência daquelas cabanas rendas de 30$00 e 50$00. Isto derruba os mais elemen­tares princípios de moral e vai de encontro à nossa pretensão de civilidade. Menos se tolera ainda que nos recibos comprovativos da entrega daque­las importâncias se diga que elas são referentes a ~onativos oferecidos ... pelos pobres. Os pobres, sem terem com que saciar a fome, a entregarem .donativos por viverem em quatro apertadas e tos­<:as paredes! Triste ironia que brada aos céus( Há ainda a agravante de serem ameaçados se o :tal donativo não vier a ser entregue com pontua­lidade mensal. Com esta desumanidade estamos quase a duvidar se os pobres carecem de mais .compaixão do que as pessoas que cobram ou man­dam exigir estes misericordiosos donativos.

A propósito, frisa-se o facto de um casal pobre, .com dois filhos, albergar no seu seio um outro casal que havia perdido a sua cabana, dando assim 1.lma rica e esplêndida lição de caridade.

Pudessem as sentidas palavras desta crónica impressionar tanto como impressiona uma visita -0.irecta aqueles tugúrios. Só quem lá vá poderá testemunhar a realidade desta descrição, em cujo motivo inspirador está bem patente a indiferença ~goista dos que podem e não querem.

H. F.

família que respondeu. Muitas famílias respon­deram. Tenho pêna que não fôsse dos primeiros, o convite do Levantier Morgado, que foi da Obra da Rua e hoje é um respeitavel comerciante. Esse tinha todos os títulos de receber em sua casa um filho da mesma mãe que o ajudou. Tinha, sim, mas chegou tarde. Tomamos lugar no vapor de Cacilhas. O rapaz suspirava. A' maneira que se aproximava a hora, crescia· lhe o mêdo no peito: Como set•á vêr agora a mi.n.ha mãe! Eu ia ali ao pé, silencioso, contente. Chegamos.

O encontro deu-se fóra da porta. Não é preciso descrever, nem poderia fat@-lo se quizesse. Está tudo dito e escrito dentro de nós. O coração é centro. Eu entrei em casa. Casa? Bem dissera antes o filho, que a mãe não tinha aonde o rece­ber. Eu nunca tal vi, e mais tenho visto tanto!

O filho puxa por uma nota de cem escudos para dar à mãe. Não aceito, diz ela. Eu é que len.ho obrigação de te dar a ti e nã.o tu a mim. Mas isto é verdade. Isto é exacto. E' a regra. A mãe tem toda a ra.zão. O filho é menor. Per­tence aos Pais olhar pelos seus filhos, enquanto estes se não bastam.

Ela sabe o Decalogo e quer cumprir, sim, mas o mundo não deixa;-oh mundo ignorante e pre­sumido!

Farrapo envelhecido de 35 anos, fez-me doer a humilhação daquela mãe ao receber a nota, quando ela na verdade desejaria mas é dar: eu é que tenho obriq,ação. Tinha ali à sua frente um filho seu, menina dos seus olhos por direito humano e divino e ele é, mau grado seu, minina dos meus; quanto isto me faz doer! Eu gostaria de viver num mundo aonde todas as mães podessem gozar total­mente os seus filhos. Cada familia tivesse lareira, fi.zesse lume, cuidasse dos seus próprios interesses. Então sim. Teríamos o cristianismo a reinar.

A visinltança acode. Todos se lembrava·m do farra pão d' ontem, mas ninguem o reconhecia hoje.

Na multidão, há uma rapariga nova e gasta, com traços de formosura. Era do Porto. Tem um irmão em Paço de Sousa. E' o Abel. Ao dirigir-se a mim, dá-me o nome de senhor doutor. As outras mulheres escutam e dizem baixinho umas às outros: Vês? Ouves? E' o senhor doulo1t/ Eu era ali o senhor doutor. Tivessem elas que me dar, que me não vinha embora sem nada . Assim, deram-me um nome. Senhor doulm•!

Eu tenho assistido a festas doutas, aonde os senhores vão buscar títulos Honoris causa. Ali, naquele dia e no meio daquele povo, também me deram um Am.oris causa.

ete NOTICIAS ~ii oe COIMBRA 11· • 1

Um dia destes foi uma tragédia porque não se sabia qual doe miudos havia de rapar o tacho .

E por ias~ mesmo o servente perguntava: -Quem é hoje a rapar o tacho. E ouvindo tal pergunta, o nosso batata disse: -Sou tiU.

Houve barulho entre todos, r.oas quem venceu foi o mais fraco.

Ü.J nossos miudoe já sabem o a, e, i, o, u e ainda mais algumas coisinhas,

Mas o p:or é a tinta que eles estragam a fazerem bonecos nas testas.

Nós cá também ouvimos o Zéquinha e a Lélé, Aos domingos tudo pergunta:

-Então hoje não fala o Zéquinha e a Lélé? Agora tomamos banho em ~gua quente por causa

do frio, -@ Snr. Padre Baptiata de quem eu já...falei no

famoso, mandou-nos para cá alguma roupa. Recebemos a visita do Pai Américo. Foi num

domingo à tarde. Entra ele. o ajudante de cozinha que veio para Miranda e outro pequeno que veio para a m4'sma Casa.

u O Pai Américo parece que não gosta de nós, porque quando ele cá vem vai-se logo embora>.

A nossa venda do famoso está a ser boa. No ultimo número vendemos 221 nós, e os de Miranda qu~si outros tantos. Estamos trabalhando para ver se u 13. • cidade de Portugal se vai comparar com a 2.".

CARLOS INACIO.

O Herla.nde.J• F1•eilas, chefe eleito do Lar dos Pupilos dos Refotmató1•ios do País

po1' 27 votos.

ASSINANT(S

Aquela palestra dita ao micro da Emissora em um d'eetee dias, foi muito falada. Pelas cartas qne se receberam a pedir aeeinatura do jarno10, nota·se qne ~odos estiveram ~tentos . até ao fim, porquanto era JUstamente no ultimo per1odo, que se pedia aos ouvin­tes fôssem tam b:im leitores.

Nilo vamos aqui dizer que tantos os ouvintes quantos os assinantes. Não senhor. Não foi assim. Mas o certo é que os administradores andam mnito co!1tentes por terem mais que fazer desde que eu pas­sei palavra.

Ouvi dizer em Liebol\, em c11ea de uma família, que a creada não sabe Mr e frita os senhores para que lhe leiam o Gai,, to. E que os não larga enquanto o não fazem de ponta a ponta! Ora quando a par da creada de servir, eu tenho notícias do engenheiro e do médico e do comerciante e do aviador e do soldado e do sacerdote e do condenado e de todos quantos assinam ou compram, declarando por palavras suas o mesm? que diz ~ creada de servir; quando noto que esta linguagem simples mata a eêde ás gentes mais variadas, eu digo para mim mesmo que todos nós temos uma mesma aspiração: Conhecer a verdade~ Amar a verdade.

Deus é a Verdade ! Ainda vamos muito longe, mas caminhamos a

passo firme para os trinta mil. E enmo que eu deponho a chapa de mendigo. Não passarei maia pela vergonha de vêr, como já tenho visto, senhores de categoria a apertar as algibeiras quando eu apareço!

A chusma dos novos assinantes que acudiram ao final da palestra, ao pedirem o jornal, pedem tambem condições. Aqui as digo para todos. Todos fioam a saber, porquanto estes que agora veem, nllo elo maia fidalgos do que os que já estavam e por isso leem de fio a pavio. Leem tudo. Tambem hlo· de ler aa condições. Quais sito elas? Lêr, Quanto custa o jornal? Leiam. Quando bito-de de pagar? Leiam.

Ele ha coisas que só não são amadas porque nlo são conhecid~s. Um jornal aonde vem a dizer do noeeo semelhante, e a derradeira trata do mesmo assunto; um jornal assim, tem necessáriamente de prender a alma inteira dos seus leitores. Por isso é lido por todos de cabo a rabo. Pois bem, Mais lei­tores. Nós temos necessidade de mais, de muitos, de todos os portugueses que fizeram a quarta classe. Que estes o leiam aos d'elee que não fizeram nada, e assim teremos o jamoao na mito e na mente de todos. Amen.

-++--++-•+-• ....................... +-

Um , . anunc1.o·

E' da Casa Husqvarna. Entre muitos e variados artigos, tem maquinas de costura. Ofe­receu uma à Casa do Gaiato de Coimbra. Ofe­receu duas à Casa do Gaiato do Porto. Acaba de oferecer outra à Casa do Gaiato de Lisboa.

E' ela quem oferece directamente, exponta· neamente, amorosamente. Nunca se viu tal! Pois se alguem houver de comprar uma maquina de costura, êsse cumpra o seu dever, se é por­tuguês,-e compre uma Husqvarna.

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21 • 048.

Isto é · a Gasa· 111111111111111m e1111111111111111emmwij11m•111111íl11mle:m111111111me111111111111111111e1111111111111me~111m111m,.e11111~11111me111111111111111111mmemm111~~:•ru11m11111111e1111111111111111em11111111ijm•111111111~11111i~•:m111rn]•111llll111111m•~~~1rn11we 1m11m1m11111u

VEIO aqui ter de uma vez um peque­nino da viela. Tempos depois, aparece a Mãe. Aparatosa, des­

pejada, eu disse-lhe que não voltasse. Tornou. Fui ao seu encontro, disse. lhe palavras altas, mas eu também sou lôdo e ela não me atendeu! Só Jesus pode levantar a lama ... porque Jesus 1 Quis levar o filho. Daí a nado, vem.me ter recado de um dos nossos, que o peque· oito seguia avenida abaixo a puxar as saias da mãe e a gritar por ir embora. Alto, disse eu. E fui como um leão, direitinho ao Juiz de Menores, ti rar a criança e buscar um documento que me desse a sua posse jurídica até à maior idade. Assim se fêz. O rapaz voltou e o documento arquivou-se. Um dia que eu vinha de fóra, ouvi di:rer na aldeia de mais visitas da mãe. Aparatosa, despe­jada, - um perigo 1 Piquei triste. Muito triste. Nilo temos a clássica portaria das casas desta natureza, nem o porteiro. O nosso é o Lourenço. O LourenÇo tem t 1 anos d'idade.

Entristecido e visivelmente amargu­rado, entrtguei·me ao caso daquele dia e comecei a ruminar neste nosso sistema: Nem portaria nem por teiro. Entram pe­rigos, saem perigos.

Que fazer ? - perguntava eu a mim mesmo!

Isto era no meu escritório, o meu Getesemani I Entra um dos maiores. O Carlos. O que quis e foi ver a sua mãe. Leu-me no rosto qualquer coisa. Perguntou. Eu disse. Mas isso é fácil, diz-me o rapaz. Nós temos mais casas. E' mandá-lo pra outra casa. Prá mais longe que tivermos daqui. Assim se fez. Salvei-me por uma receita caseira, dada por um filho. Tão simples e eu nuncn assim pensara 1 De forma que aq ueles que me fazem as feridas, esses me dão o remédio. Avant<>, poh~, in nomine Do· mini.

• C HEGOU o desejado óleo de fígado

de bacalhau; um grande pipo dele. Se alguns dos nossos lambem os

beiços por mais, ci verdade é que a maio­ria detesta. Não querem. Ora eu, vendo a repugnância, fiz um sermão no tribunal. Disse das qualidades do óleo e da neces­sidade que todos têm rle abrir a boqui­nha e tomar.

Na mesa dos Batatas não foi neces· sária a minha palavra. Esses, todos eles, acham delicioso - morrem por mais.

No refeitório grande é que está o pre­juízo.

No dia seguinte ao do sermão, viu-se que as coisas pouco haviam melhorado. Agora era sabotagem. Eles aceitavam o óleo na colher, deixavam-no cair dentro do prato e. . . nem óleo nem sopa 1 Dedo no nariz, olhos fechados, cara feia e a sopa ia-se embora para os animais. E esta 1 Que fazer? Subi ao meu escri· tório, fechei a porta e apaguei a luz. E' de noite, sem luz, que eu costumo ver melhor estes problemas. Nem óleo nem sopal

Falei ao Chefe, particularmente, e depois a todos, pitblicamente. Sermão muitíssimo resumido; duas palavras se­renas, claras e fortes. Sérgio iria em roda das mezas tomar nota dos que deixassem a sopa, e esses ficavam na sala. Sérgio pesa 70 quilos, mede um metro e setenta e dois de altura e é um áz da bota. E' o chefe. Chefe agarra num cacête e vai dar volta a todas as mesas, uma por uma, lugar por lugar. Pergunta, certifica-se. Todos tomaram o óleo. Todos comeram a sopa. Nin· guém deixou fi car nada. Foi assim na· quela maré. Tem sido assim sempre. Espera·se que continue a ser. Mais uma vez se demonstra que o medo é que guarda a vinha.

• Eu vinha a chegar de Lisboa quando

oiço uma data de vozes em reáor: Temos cá um menino. Palavras

não eram ditas, e já um dos do grupo se aproximava de mim, com o menino ao colo. Três anos por fazer. Foi achado por alguém que o teve em sua casa algum tempo, depois de o ter chamado à vida, de mortiço que ele era ! Não im­porta a história. As feridas expostas fazem arripiar; é mPlhor o silêncio. O que importa saber é que hoje, pela pri­meira vez fui desobedecido. Nunca hil me aconteceu ! Poi o caso que mandei r~por o menino e veio a aldeia em pêso dizer que não. O chefe do refeitório dos Bala/as, aonde ele come. disse, até, que era um pecado fazê· lo ! O Rodrigo alfaiate, proclama que ele é o nosso distintivo. Os adminls!radores do jornal, vão roubá·lo às senhoras da rouparia, e evam-no para a séde. aonde há aqueci-

mento. Se aparecerem agora nomes ou números trocados, já se sabe de onde o mal vem ; é o menino. O nosso menino.

Eu já me tenho desapacientado por causa dele, sim, mas logo reconheço que não pode ser. Silo contas do meu rosá­rio. A desordem que o menino trouxe à nossa comunidadP, é do coração. A dor que ela causa à gente, reconforta. Eu já tenho visto mães darem de mamar aos fil hos com sangue a rebentar nos peitos, e elas não se queixam.

E' uma desordem construtiva, neces­sária. E' a voz deste mundo de creanças, ontem das ruas, que morrem oor amor e nunca foram amadas. O menino já tem alcunha; é o príncipe I O primeiro, sim, por ser o mais pequenino.

• A NDAMOS actualmente ocupados

com o plantio de vides. O senhor Madureira, que é o chefe das nos­

sas escolas e também dos trabalhos da quinta, garante cincoenta pipas de vinho dentro de alguns anos. Que bom. Tam· bém não temos cessado de plantar árvo­res, de fruta e de sombra. U Rio Tinto, nas horas vagas, planta jardim. Os meus sucessores hão·de colher com alegria tudo quanto em lágrimas foi semeado. E' a regra.

·• O Acácio, com a chegada do Prlnclpe,

foi destronado. !:;:te era, até ali. o mais pequenino da casa. /d nãf)

tenho mãe, - foi a sua queixa. Tem sim senhor; é a Obra. E' a Obra da Rua. Nilo lhe fal ta nada, do que antes

possuía. O Acácio é que quer tudo quanto tinha, mais as festas que agora fazem ao Príncipe I

• A PARECEU-ME aqui agora mesmo o João Maria da Murtosa, o das capoeiras. Vinha a bufar, com um

cesto de vime na mão e quinze ovos dentro : olhe tudo d'ho}e. Mostra os ovos um cor um. Os do fundo do cesto têm outra côr. São de pata; as patas já p6em. Enquanto o rapn repõe no cêsto o recheio, vai dizendo da sua pêna por não ter galinhas chocas, agora que os ovos abundam. Ele já entregou uma segunda galinha aos cozinheiros, por lhe parecer andar no chôco. Pela fala ou pela crista, procura ele entre muitas, nas c&poeiras, tanto o seu gosto pela creaçilo. Realmente, ao passar pela cozinha, tinha visto empoleirada uma galinha amarela, atrás do fogão, ó quentinho. Tinha visto, e logo desconfiei, que andava ali zêlo do Sapo. Não me enganei. Ele mesmo confirmou. O pior é que ainda desta vez não temos galinha choca. Não quis aninhar. Eu acho infinita graça a estas coisas pequeninas. EnfeitAm a nossa casa. Dão vidt1. aos seus habi· tentes. Fazem parte da comunidade. Deus não creou só o homem. Se o pôz EI presidir, é que lhe deu criaturas subal­ternas por complemento necessário à vida. O anseio do Sapo é uma resposta ê vontade do Creador. Ele quer pre. sidir. Já tem muitos ovos, mas agora quer muitos pintaínhos para ter ao depois muitas galinhas O que seria uma Casa do Gaiato sem galinhas! Es­tive há dias na de Li~boa e refilei por não ver ainda a capoeira. -

P IRIQUITO mandou fazer um fat<> novo. Vieram as amostras dº Porto. Ele escolheu pano e cor.

No dia da estreia, veio ter comigo, plan· ta-se à minha frente e gira sobre si, para eu ver a peça do norte, do sul, do nas­cente e do poente. Sem me dizer nada nem querer saber dos meus gostos, vai ele diztndo os seus : Sabe, quis assim folgado porque estou a crescer. Foi resolução espontânea e mandC>u executar d'acordo. Ora isto vale uma pausa. Vale uma meditação. E' o valor da autonomia. Fôsse ele fato regimental escolhido e imposto por outros, ']ue se importava o rapaz? Que gosto teria nele? Aonde ia ele buscar o sentido de economia, mandando fazer folgado para durar mais tempo, aonde? Todos estes valores espirituais se perderiam e per­dia-se também àlegria espumante deste feliz mancêbo. Tanta, que no fim de dar as voltas à minha beira com o seu fato novo, pede· me para ir ao Porto tirar o retrato. Foi tirar o retrato. Foi sôzinho. Quanto se não teria ele mirado e remirado nos espelhos das montras, a ver o que ainda não tinha visto, pois que, nas oficinas da nossa aldeia, não temos espelhos ! Tudo isto constroi o homem. Dá lhe gosto de viver.

Velo há dias uma carta oficial, a bem da nação, a perguntar qual o número de Internados no asilo. Aqui não há lntemados. Aqui há a cidade livre. Que o diga o Piriquito. E pró quê desta vtz não, que já vão equl as fotografias dos chefes, mas no próximo número, esperamos dar aos leitores <> retrato do fato do Piripuito.

C:rónica ~8 nossa ftl~eitl No dia um de Fevereiro uns

1 Senhores trouxeram um pt que­nino de trêz anos. Como é muito engradaçado todos o querem.

Ele anda sempre atraz do Senhor Erneeto para o deixt\r andar de car~o. Ele anda sempre de cólo em cólo e por fim até há zangas por causa do miado. Nós trouxemo-lo para o escritório roas o Pai A.merico não quer lá e por isso mandou- o para a rouparia. .Mas o pior é Á noite é um castigo para 11e deitar, e quando algum rapaz paasa por a Menina da rouparia ele começa logo a chorar, e sabem por que é que ele chora e nllo quer estar ao pé da nienina? porque cuida que é para o deitar. J á tem nome de guerra o nosso pequeDino Joaquim. E ' o prin· cipe por ser assim tlo bonito e o Pai Americo também não lhe rapa o cabelo que ele tem por ser muito loirinho.

E' verdade já me esquecia de dizer que o pequenino ainda nllo fala só diz alguma coisinha mas mal.

O Grupo de Paço de Sousa

2 constituído por alguns dos nos­sos rapazes tem maravilhado o publico de Paço de Sousa. Ora

este grupo deslocou-se a Oa telo de Paiva perdendo com o grupo sitiante por um a ~ero O grupo de Pãço de Sousa também deu um teatro ao publico que tem manifes tado interesse. por 6ste.

'

Matamos uma porca que pesava sem mentir 10 arr6bae.

Chamou·ae o matador é às seis e meia da manhlt.

Mas une dias antes tinha nos ohe· gado uma porca pr6ta e muito feia mas damos prossa em agradecer a quem a mandou.

Andamos muito interessados com ae nossas vinhas.

Andamos a plantar videiras em tôdos os campos para ter-

mos muito vinb<'. Oa do campo até á eementeira das batatas não fazem ou tra coisa, se nlto em ir cortar mato e plantar videiras. E ainda estamos a abrir maia gaivae para plantar mais.

Uma das nossas ovelhas teve 1: ma is um cordeirinho para , aumentar o nosso rebanho que

não é muito grande. O Pastor andava todo contente mas o cordeiro morreu no dia em que nasceu e lá se foi a sua alegria e veio-lhe a tristeza.

A nossa mata apesar de estar

6 murada em tôda a volta e vigiada pelos nossos rapazes nllo impedem que os ladrões lá

vão roubar lenha. O Rio Tinto viu lá um homem e foi em cima dele e prendeu-o. O Rio Tinto mandou-o à presença do Pai A.mérioo e o homem começou a lamentar-se e pediu se lá podia ir, mas o homem não tinha oom que cortar a lenha porque o Rio Tinto tinha-lhe tirado a serra.

O Senhor António e o Lu& ':J andam anafados a engarrafar r vinho de trêz qualidades; vinho

branco, tinto, e vinho de bica aberta. Engarrafaram se para cima de mil garrafas ml\8 como nt'to obPga­vam o Pai Américo pediu par!l .Fontela mais quatrocentas garrafas que temos muito que agradecer a 6stes senhores.

Lembram·se do Malhado, que à

'

tempos falei, eu disse que êle era muito refilão e até falava mal, e faltava ao trabalho, pois

agora é um belo rapaz trabalhador bem educado. O Senhor Joaquim que é o que manda nos mais pequeaos gosta muito dêle, por êle ser tam bom rapaz.

Veio para cá um rep11z, e esse

9 rap•z é de farr ilia francesa. Ele torrou por obrigaçã<.'1 lim­par o Hospital e a bar bearia do

Periquito. Noutro dia de ma n h ít, quando 11ndava a limpar a barbearia, fomos dar com 6le a deitar perfuro& na oabe9a e a trocar por broa. O Peri· quito quando soube mandou o cbnmar e repreendeu-o, mas êle que não.gos­tou daquilo e saiu pela porta fora a. dizer, eu vou dizer ao Pai Americo~ mas quAndo o viu não teve coragem para lhe· dizer, porque bem eabia que tinha feito mal.

10 Graças a Deus já começa­mos novamente a fa!>rioar manteiga, que é tam boa pua ae nossas merendas, até

agora era sempre eó broa. Mae come> não havia leite, não se podia fazer, mas agora já as nossas vacas teem dado muito leite.

O Poeta já tem feito algurua mas ~ pouca. Esperamos que dentro em pouco começan:os a ter outra vez.

O Zé Smtarém que já cL

11 esteve foi para a ~ua terra, mas segundo nos ioformar&m adoeceu e foi para um hos­

pital de Liebot1, afim de se cur11r. .Mas como ele tem uma avaria no miolo deu-Íhe na telha de ir arranjnr assinantes para o nosso jornal nO Gai­ato11 mse com uma condição pagar logo. O Zé ficava com o dinheiro. E também se lembrou de uma boa . Foi a um dos Postos emissores, e um senhor do posto preguntou· lhe o que é que desejava. O Zé disse queria cantar um fado. Outro senhor disse : ora canta a ver como é a tua voz. O Zé não queria cantar para experien­oias, queria cantar directamente M microfone, mas depois sempre cedeu em mostrar a sua voz. Entllo o senhor disse-lhe vai &finar melhor a voz e depois volta cá. O Zé sai todo oon­tente pela porta fora.