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UFRGS INSTITUTO DE LETRAS TEORIA E PRÁTICA DA LEITURA TURMA A – 2017 Augusto Stevanin, Kelly Castro de Araujo Resistência e Arte Urbana

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UFRGS INSTITUTO DE LETRAS

TEORIA E PRÁTICA DA LEITURA TURMA A – 2017Augusto Stevanin,

Kelly Castro de Araujo

Resistência e Arte Urbana

Público-alvo: oficina livre a todas os anos do EM; no máximo 25 alunos.

Número de horas/aula: três encontros de 1h30.

Recursos necessários:suporte áudio-visual, textos impressos, cartolina/ papel pardo, tintas e pincéis.

Resultados esperados:Com essa oficina - Resistência e Arte Urbana - esperamos que seja possível dialogar com os jovens de diferentes idades a respeito das manifestações artísticas urbanas e contemporâneaS, especificamente as ligadas ao Hip Hop, movimento cultural, social e político surgido nas periferias. Com esse diálogo espera-se estabelecer relações entre a arte e o engajamento social.

Forma de avaliação:Auto-avaliação. No último encontro será pedido aos alunos que escrevam um breve relato sobre suas experiências com a oficina.

Unidade temática: Resistência . Arte Urbana . Cidade1º ENCONTRO1. Pré-leitura: o movimento cultural, social e político HipHop2. Primeira leitura: texto fílmico, documentário O rap pelo rap3. Compreensão de leitura

2º ENCONTRO1. Segunda leitura: escuta e análise de canção e poesia (Antiga poesia; e

Milionário do sonho)2. Compreensão de leitura

3º ENCONTRO1. Produção textual: Se engajar, escrever e resistir!2. Avaliação

1ª encontro1. Pré-leitura: O movimento cultural, social e político Hip HopInício do diálogo:a) Você conhece a história do Hip Hop? O que você sabe sobre esse movimento cultural?

b) Você conhece e/ou costuma ouvir rap? Se sim, quais são os temas dessas canções?

c) Os muros e prédios da cidade/bairro onde você mora são pixados ou grafitados? Que textos são esses e o que eles dizem?

d) Do seu ponto de vista, o que seria o engajamento na arte?

2. Primeiro momento de leitura (texto fílmico): documentário O rap pelo rap dirigido por Pedro Fávero.Perguntas a serem respondidas:a) Considerando as múltiplas vozes que se expressam e ganham espaço no documentário O rap pelo rap, seria possível fazer uma leitura única de o que significa o rap? Porquê?b) Algum dos artistas chamou mais a sua atenção? Quem e por qual motivo?c) A partir das experiências narradas no documentário, por qual motivo é possível afirmar que o Hip Hop é um movimento de contestação? O que ele contesta? Cite exemplos retirados do filme.

O rap pelo rap: documentário alternativo dirigido por Pedro Fávero lançado nas redes no ano de 2015 que traz inúmeras vozes, ritmos e narrações sobre o movimento Hip Hop no Brasil. O projeto encabeçado por Fávero iniciou com a escrita de seu TCC no curso de Comunicação Social e acabou por virar um filme. ( https://www.youtube.com/watch?v=Mt7S6YkosPc&t=21s )

d) Dicas de leitura:1. Pichação é arte? - Cidade ocupada. ( https://www.youtube.com/watch?v=UsGrGN1x6mE )

2. Luz, câmera, pichação!( https://www.youtube.com/watch?v=b_MB_CmhjUQ )

2º Encontro1. Segundo momento de leitura: escuta e análise de uma canção (Antiga poesia da Ellen

Oléria, e Milionário do sonho do Emicida). Nesta atividade de leitura os nomes dos artista serão suprimidos.

- texto 01: Antiga Poesia/ Ellen Oléria( https://www.letras.mus.br/ellen-oleria/antiga-poesia/ )/ letra( https://www.youtube.com/watch?v=u0lxuiyW6f0 )/ vídeo

- texto 02: Milionário do sonho/ Elisa Lucinda e Emicida ( https://www.letras.mus.br/emicida/milionario-do-sonho/ )/ letra( https://www.youtube.com/watch?v=MWhEvCaptmw )/ áudio

Antiga Poesia - Ellen Oléria

Salve! Salve! Hey Salve!Salve! Salve!

Minha nova poesiaÉ antiga poesiaEu me fiz sozinhaForça feminina, rá ráEscrevo sem ter linhaEscrevo torto mesmoEscrevo torto, eu falo tortoPra seu desespero

É só minha poesia, antiga poesiaRepito, rasgo, coloPoesia sem maestria, mas é a minha poesiaEu não sou mais meninaA minha poesia é poesia combativa

Eu entendi seu livro, eu entendi sua línguaAgora minha língua, minha rima eu façoEu já me fiz sozinhaE eu tenho mais palavrasDa boca escorrendoCê disse que tá junto e eu continuo escrevendo

A planta é feminina, a luta é femininaLa mar, la sangre y mi América LatinaO meu desejo é que o seu desejo não me definaA minha história é outraTô rebobinando a fita

Salve! Negras dos sertões, negras da BahiaSalve! Clementina, Leci, JovelinaSalve! Nortistas, caribenhas, clandestinasSalve! Negras da América LatinaPor nós por amor

A baixa auto-estima da Dona MariaDa sua prima, da sua filha e sua vizinhaIsso me intriga, isso me instigaE cê não entendeu o que significa feministaEsquento a barriga no fogão, esfrio na baciaCuido do filho do patrão, minha filha tá sozinhaA mão tá no trampo, a mente tá na filhaUm monte de gaiato em volta ainda pequeninaPorque depois dos 40 é de casa pra igrejaÉ tudo é por ninharia, pretendente Jesus, o MessiasTive que trabalhar, não pude pararGuerreira estradeira, capoeira na gingaDisseram pra neta que a vó era analfabetaO mundão tá doido!

Acaba, mas ela nãoMinha vó formou na vida e nunca soube o que é reprovaçãoEis a questão: Se não me espelhou, não me espelhou?

Não chamo de educaçãoManhadeua singe o nariz da esfingeDe axé tô cercadoOyá! Iemanjá vive!

Aqui não tem drama ou gente inocenteAqui tem mulher firme arrebentando as suas correntesA vida toda alguma coisa tentou me matar e eu me refizDandara! Acotirene!

Salve! Negras dos sertões negras da BahiaSalve! Clementina, Leci, JovelinaSalve! Nortistas caribenhas clandestinasSalve! Negras da América latina

Salve! Eu sei não é fácil chegarSalve! A gente sabe levantarSalve! Aonde eu for é o seu lugarSalve! Permanecemos vivas

É por nós, por amorPor nós amor

Milionário do sonho - Elisa Lucinda e Emicida

É o que eu digo e faço, não suponho, sou milionário do sonhoÉ o que eu digo e faço, não suponho, sou milionário do sonhoÉ difícil para um menino brasileiro, sem consideração da sociedadeCrescer um homem inteiro, muito mais do que metadeFico olhando as ruas, as vielas que ligam meu futuro ao meu passadoE vejo bem como driblei o errado, até fazer taxista crerQue posso ser mais digno do que um bandido branco e becadoFalo querendo entender, canto para espalhar o saber e fazer você perceberQue há sempre um mundo, apesar de já começado, há sempre um mundo pra gente fazerUm mundo não acabadoUm mundo filho nosso, com a nossa cara, o mundo que eu disponho agora foi criado por mimEuzin, pobre curumim, rico, franzino e risonho, sou milionário do sonho

Ali vem um policial que já me viu na tv espalhar minha moralVeio se arrepender de ter me tratado malChegou pra mim sem aquela cara de mau: Fala, mano, abraça, manoIrmãos da comunidade, sonhadores e iguais, sei do que estou falandoHá um véu entre as classes, entre as casas, entre os bancosHá um véu, uma cortina, um espanto que, para atravessar, só rasgandoAtravessando a parede, a invisível parede, apareço no palácio, na tela, na janela da celebridade, mas minha palavra não sou só eu, minha palavra é a cidadeMundão redondo, capão redondo, coração redondo na ciranda da solidariedade

A rua é noiz, cumpadiQuem vê só um lado do mundo só sabe uma parte da verdadeInventando o que somos, minha mão no jogo eu ponho, vivo do que componho, sou milionário do sonhoVou tirar onda, peguei no rabo da palavra e fui com ela, peguei na cauda da estrela delaA palavra abre portas, cê tem noção?É por isso que educação, você sabe, é a palavra-chaveÉ como um homem nu todo vestido por dentro, é como um soldado da paz armado de pensamentos, é como uma saída, um portal, um instrumentoNo tapete da palavra chego rápido, falado, proferido na velocidade do vento, escute meus argumentosSão palavras de ouro, mas são palavras de ruaFique atentoTendo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim? Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? ruim pra quê? ruim pra quem?Infeliz do povo que não sabe de onde vemPequeno é o povo que não se ama, o povo que tem na grandeza da mistura o preto, o índio, o branco, a farra das culturasPobre do povo que, sem estrutura, acaba crendo na loucura de ter que ser outro para ser alguémNão vem que não tem, com a palavra eu bato, não apanhoEscuta essa, neném, sou milionário do sonho

O mundo ainda não está acostumado a ver o reinado de quem mora do outro lado da ilusãoA ilusão da felicidade tem quatro carros por cabeça, deixando o planeta sem capacidade de respirar à vontade, a ilusão de que é mais vantagem cada casa, mais carro que filho, cada filho menos filho que carroEnquanto eu com meu faro vou tirando onda, vou na bike do meu verbo tirando sarroMinha nave é a palavra, é potente o meu veículo sem código de barra, não tem etiqueta embora sua marca seja boa, minha alma é de boa marca, por isso não tem placa, tabuleta, inscriçãoMeu cavalo pega geral, é pegasus, é genial, a palavra tem mil cavalos quando eu faloSou embaixador da rua, não esqueço os esquecidos e eles se lembram de mim, sentem a lágrima escorrer da minha voz, escutam a música da minha alma, sabem que o que quero pra mim quero pra todo o universo, é esse o papo do meu versoPor isso eu digo e repito: Quem quiser ser bom juiz deve aprender com o preto beneditoMas fique esperto porque sonho é planejamento, investimento, meta, tem que ter pensamento, estratégia, táticaEu digo que sou sonhador, mas sonhador na práticaTô ligado que a vida bate, tô ligado quanto ela dói, mas com a palavra me ergo e permaneço, porque a rua é nóizPortanto, meu irmão, preste atenção no que vende o rádio, o jornal, a televisão você quer o vinho, eles encarecem a rolha, deixa de ser bolha e abre o olho pra situaçãoA palavra é a escolha, a escolha é a palavra, meu irmão

Se liga aqui, são palavras de um homem preto, samurai, brasileiro, cafuzo, versador, com tambor de ideias pra dispararNão são palavras de otário, já te falei, escreve aí no seu diário:Se eu sou dono do mundo, é porque é do sonho que eu sou milionário!

2. Compreensão textual:

a) Se suprimirmos a autoria dos textos, o que seria possível supor a respeito do lugar de fala assumidos na canção e na poesia? Traga um fragmento do texto para ilustrar e comente.

b) Na linha 10 do texto 01, “Pra seu desespero”, do desespero de quem está se falando? Quem é o interlocutor na canção de Ellen Oléria?

c) É possível encontrar outros fragmentos na canção em que se perceba o interlocutor? Traga um fragmento do texto para ilustrar e comente.

d) De maneira global, sobre o que fala a canção Antiga Poesia? Nela são tratados assuntos e discussões que fazem parte de seu universo?

d) Na linha 15 anuncia-se explicitamente a combatividade da canção, “A minha poesia é poesia combativa”, em quais outros fragmentos é possível perceber essa resistência tomada pelo texto? O que você pensa sobre o posicionamento da canção?

e) Ao longo da canção são feitas referências à mulheres, você já ouviu falar sobre alguma delas? Se não, faça uma pesquisa rápida e descubra.

f) O que é denunciado no texto 02, Milionário do sonho? Exponha exemplos e comentários.

g) O que representa a “a palavra” no poema? O que é feita com ela e porque ela é potente?

h) Nas linhas 08-10, “Falo querendo entender, canto para espalhar o saber e fazer você perceber/ Que há sempre um mundo, apesar de já começado, há sempre um mundo pra gente fazer” que mundo é esse do qual nos é falado ser possível “fazer”?

i) De acordo com o poema, o que é um “sonhador na prática”? Você é um?

j) Seria possível estabelecer relações entre o texto 01 e o 02? Em quais aspectos eles se assemelham, em quais fragmento é possível perceber isso?

3º encontro:1. Produção textual: Se engaje, escreva e resista!

Para a produção desta atividade organizem-se no máximo em três pessoas.Agora que já tomamos um pouco de conhecimento sobre a história do Hip Hop, as bases nas quais ele se apoia - MC, Break, DJ, Grafite -, ouvimos e discutimos uma canção e uma poesia, e estabelecemos dialogamos sobre arte e engajamento:

a) Inspire-se no movimento cultural, político e social Hip Hop, na canção e na poesia ouvida e nas conversas estabelecidas durante a oficina para que seja possível confeccionar um cartaz que será exposto na biblioteca da escola. Como foi visto nos textos, lembre-se do caráter decisivo no Hip Hop: contestação! Lembre-se também que todo texto é produzido por alguém em um determinado contexto social e histórico e é destinado para um determinado público

b) Reúna-se com seus companheiros de grupo, debata com eles os aspectos mais interessantes percebidos por você nas leituras e encontros, ouça também a perspectiva dos colegas e elejam possíveis temas a serem desenvolvidos no cartaz. Pensem no que será denunciado, para quem se destinará e justificativa.

c) Reúna-se com o grande grupo e exponha, junto de seus colegas de grupo, as ideias já discutidas anteriormente. Todos os grupos devem expor suas ideias e dialogar com os outros para que seja possível o amadurecimento da confecção do cartaz.

d) Novamente reúna-se com seu grupo para a produção do cartaz.

2. Auto-avaliação:a) Escreva um breve relato sobre sua experiência com a oficina. Fale sobre o que mais

chamou a sua atenção e sobre aquilo que era desconhecido por você. O que você mais gostou de ter aprendido?