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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 27
OPERAÇÕES ESTABELECEDORAS:UM CONCEITO DE MOTIVAÇÃO
RACHEL NUNES DA CUNHAGEISON ISIDRO-MARINHO
apresentar ambigüidades pelas várias acepções
do verbete na língua portuguesa. O dicionário
eletrônico do Instituto Antônio Houaiss (2001)
da língua portuguesa traz o verbete motivação
como um substantivo feminino, e na acepção
de “ato ou efeito de motivar”, o verbete é defi-
nido em termos jurídico, lingüístico e semió-
tico e psicológico. Na rubrica da psicologia,
apresenta como significado um “conjunto de
processos que dão ao comportamento uma in-
tensidade, uma direção determinada e uma
forma de desenvolvimento próprias da ativi-
dade individual”. Tal definição é apresentada
no referido dicionário como:
1. motivação altruísta, aquela “que
considera ou favorece o bem-estar
de outrem”;
2. motivação de eficácia, aquela rela-
cionada à competência (capacida-
de). O dicionário indica como sinô-
nimo e variantes a consulta do ver-
bete “causa”.
Douglas Mook, em seu livro Motivation –
The organization of action (edição de 1987), pre-
ocupa-se com a forma como as diferentes abor-
dagens do conceito de motivação têm sido apre-
sentadas. Refere-se, por exemplo, às controvér-
sias e às questões teóricas que, às vezes, são apre-
sentadas uma em oposição à outra, a exemplo
de impulsos versus instintos (padrões-fixos-de-
ação), impulso animal versus teorias cognitivas,
pesquisa com humanos versus com organismos
não-humanos. Para Mook, esse modo de com-
2
O emprego do conceito de motivação
como termo técnico da psicologia requer pre-
cisão seja qual for o referencial teórico e meto-
dológico utilizado, de modo a dirimir a ambi-
güidade que o termo encerra na linguagem
coloquial.
Historicamente, as variáveis motivacio-
nais têm sido consideradas como determinan-
tes da ação humana, aspecto que manteve o
conceito de motivação como um tópico vigen-
te na psicologia. O que torna esse tema fasci-
nante e desafiador para os psicólogos é com-
preender a que esse conceito se refere no am-
plo arcabouço teórico, conceitual e metodoló-
gico da psicologia. A questão fundamental está
no tratamento e na descrição das variáveis
controladoras do comportamento. Análises so-
bre o papel da motivação na explicação do com-
portamento têm conduzido a várias concepções
teóricas e metodológicas que refletem os es-
forços da psicologia para elucidar uma pergun-
ta básica: por que os homens comportam-se
da maneira como o fazem? O estudo do tópico
de motivação nos conduz à discussão sobre a
natureza das variáveis motivacionais que têm
sido caracterizadas tanto como processos in-
ternos quanto como eventos do ambiente ex-
terno. Essas diferenças ocorrem porque a psi-
cologia apresenta diversidades na definição de
seu objeto de estudo, de sua metodologia e de
seus pressupostos epistemológicos. Para os ana-
listas do comportamento, as variáveis motiva-
cionais são variáveis ambientais.
Um fator complicador é que “motivação”,
como um termo da linguagem coloquial, pode
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28 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
paração pode levar-nos a negligenciar algumas
possibilidades de interface que, por exemplo, as
pesquisas com organismos não-humanos e hu-
manos têm, como nos tópicos sobre fome, sede,
afeiçoamento ou simpatia e desamparo. Não
podemos negar essas divergências e devemos
ter o cuidado para não pôr uma teoria contra
outra, porque poderemos cometer erros de na-
tureza lógica, epistemológica e conceitual. Tal-
vez o maior equívoco seja perder as possibilida-
des de interface entre diferentes concepções que
podem proporcionar uma visão nova ou um me-
lhoramento – ou maior esclarecimento – do con-
ceito de motivação com todo o rigor que a pes-
quisa exige para descaracterizar o uso coloqui-
al do termo motivação.
O conceito de motivação passou por vá-
rias acepções ao longo do tempo – tais como
instinto, impulso e a retomada do conceito de
instinto pelos etologistas –, mas, sem dúvida al-
guma o termo impulso foi o que teve maior im-
pacto. Esse impacto é refletido, por exemplo,
na postura dos analistas do comportamento ao
definir o conceito de motivação sem fazer refe-
rência ao termo impulso, de modo a dissipar a
base mentalista ou organísmica que o termo
recebeu dos behavioristas metodológicos, como,
por exemplo, Clark Hull (1884-1952).
Quando o conceito de impulso tinha um
status fortemente mentalista ou organísmico,
Skinner, em seu livro publicado em 1938, The
behavior of organisms – An experimental
analysis, dedicou dois capítulos a este concei-
to (Capítulo 9 – “Drive” e Capítulo 10 – “Drive
and conditioning: The interactions of two va-
riables”), nos quais fornece uma abordagem
essencialmente objetiva sobre o tópico. Segun-
do Skinner, o problema que temos com o con-
ceito de impulso é a natureza causal de proprie-
dades internas que foi atribuída a essa variá-
vel. Skinner (1938, 1953/2000) trata a moti-
vação em termos de operações de privação,
saciação e estimulação aversiva, enfatizando
essas operações como variáveis ambientais
controladoras do comportamento.
Skinner (1938, 1953/2000), posterior-
mente Keller e Schoenfeld (1950/1974),
Millenson (1967) e Millenson e Leslie (1979)
referem-se ao termo impulso como um evento
do meio ambiente, ou seja, como a descrição
de uma operação que pode ser executada so-
bre o organismo (p. ex.: privá-lo de alimento,
aumentar a temperatura do ambiente acima
das condições adequadas de adaptação e con-
forto). Verificamos, portanto, que a questão
crucial que gera as divergências na definição
do termo motivação está na concepção da cau-
salidade do comportamento dos organismos.
Skinner (1953/2000, p. 24) abordou os ter-
mos causa e efeito em ciência a partir de uma
relação funcional, uma causa foi definida como
“uma mudança em uma variável independen-
te” e um efeito foi definido como “uma mu-
dança em uma variável dependente”. Dessa
forma, para ele, a relação de “causa e efeito”
foi transformada em uma relação funcional.
Para descrever uma relação funcional entre o
organismo e o ambiente, Skinner desenvolveu
um instrumento conceitual que se tornou a fer-
ramenta básica do analista do comportamen-
to: as contingências de reforço.
Para garantir a especificidade de um ter-
mo, na acepção psicológica faz-se necessário
um conjunto de ferramentas intelectuais e ex-
perimentais, constituído de conceitos básicos
e de princípios que norteiem uma análise sis-
temática e funcional do comportamento. Essa
exigência está presente na abordagem analíti-
co-comportamental do conceito de motivação,
denominada de Operações Estabelecedoras.
OPERAÇÕES ESTABELECEDORAS
O termo operações estabelecedoras, como
um conceito de motivação, será abordado, con-
siderando os aspectos históricos, metodológicos
e teóricos das pesquisas básica e aplicada.
Considerações históricas
Keller e Schoenfeld (1950/1974) enfati-
zaram a necessidade de se conceituar a mo-
tivação como variáveis ambientais controla-
doras do comportamento de forma a evitar o
conceito de impulso como variável interna, con-
forme defendido pelos behavioristas metodo-
lógicos, e de acordo com o empreendimento
científico de Skinner denominado de Análise
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 29
Experimental do Comportamento. Keller e
Schoenfeld chamavam a atenção dos analistas
do comportamento para outros eventos
ambientais, além dos eventos reforçadores, ao
se fazer uma análise de contingências. O as-
pecto ressaltado nessa advertência refere-se ao
fato de que para um objeto funcionar eficaz-
mente como reforçador, faz-se necessário que
um outro evento ambiental estabeleça sua efi-
cácia. Assim, Keller e Schoenfeld introduziram
o conceito de operação estabelecedora para
identificar esses eventos ambientais e demons-
trar sua função motivacional.
Ao empregarem o termo operação estabe-
lecedora (primeiro uso do termo) para definir
a motivação na abordagem analítico-compor-
tamental, Keller e Schoenfeld (1950/1974)
demonstraram que podemos tratar a variável
motivacional como uma variável independen-
te, que pode ser manipulada de maneira expe-
rimental. Definir motivação como operações
estabelecedoras implica poder executar certas
operações sobre o organismo (p. ex.: privá-lo
de alimento), as quais têm como efeitos uma
mudança momentânea da efetividade de um
evento como reforçador e uma mudança mo-
mentânea da freqüência de qualquer compor-
tamento que tenha sido seguido por esse evento
reforçador.
Keller e Schoenfeld (1950/1974) preocu-
param-se em definir o termo impulso não como
estímulo nem como resposta, usando-o como
um recurso de linguagem para descrever um
conjunto de relações. Por exemplo, impulso não
poderia ser confundido com estímulos inter-
nos (câimbras estomacais que acompanham a
privação de alimento). Esses estímulos são
discriminativos para a resposta verbal “tenho
fome” (operante verbal – tato). O impulso tam-
bém não poderia ser confundido com uma res-
posta produzida pela operação de privação, por
exemplo, o comportamento de comprar um
lanche. Para Keller e Schoenfeld, o impulso
seria mais adequadamente definido como um
conjunto de relações entre o organismo e o am-
biente – operações estabelecedoras.
Ao lidar com o conceito de motivação,
Millenson (1967) e Millenson e Leslie (1979)
também enfatizaram o papel das variáveis
ambientais. Para eles, a motivação correspon-
deria a operações de impulso, as quais teriam
a função de alterar o valor dos reforçadores.
Esses autores classificaram em dois tipos as
operações de impulso: “(1) uma [operação]
que tem a função de reduzir ou eliminar o va-
lor reforçador (saciação) e (2) outra que tra-
balha para aumentar o valor dos reforçadores
(privação)” (Millenson, 1967, p. 366).
Preocupado também com a precisão dos
conceitos e com a forma de enunciar relações
funcionais que abrangem interações do indiví-
duo com o ambiente, Michael (1982, 1993)
retomou o conceito de operação estabelece-
dora, proposto por Keller e Schoenfeld (1950/
1974), para definir motivação na análise do
comportamento. Em sua análise, Michael
incluiu as variáveis motivacionais aprendidas
que não foram explicitamente tratadas por
Skinner (1938, 1953/2000), Keller e Schoen-
feld (1950/1974), Millenson (1967) e Millenson
e Leslie (1979), os quais se limitaram a discutir
as variáveis motivacionais filogeneticamente
determinadas (da Cunha, 1993). Michael fez
uma importante contribuição para a análise do
comportamento, ao estabelecer um novo ins-
trumento conceitual e metodológico, caracte-
rizado como operações estabelecedoras apren-
didas, com implicações para as pesquisas bási-
ca e aplicada (da Cunha, 1993, 1995; Iwata,
Smith, e Michael, 2000; Sundberg, 1993).
Skinner não utilizou o termo operação
estabelecedora para tratar do conceito de mo-
tivação, tratando-o em termos de privação/
saciação e estimulação aversiva. Por outro lado,
pode-se dizer que Skinner (1938, 1953/2000),
Keller e Schoenfeld (1950/1974), Millenson
(1967) e Millenson e Leslie (1979) deram o
mesmo tratamento para as variáveis motivacio-
nais como controladoras do comportamento,
ou seja, as variáveis motivacionais foram tra-
tadas como variáveis ambientais (da Cunha,
1993, 1995, 2000).
Definição
Michael (1993) define uma operação
estabelecedora como uma variável ambiental
em função de seus dois principais efeitos, de-
nominados de efeito estabelecedor do reforço
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30 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
e efeito evocativo. O efeito estabelecedor do
reforço é caracterizado pela alteração momen-
tânea da efetividade reforçadora de algum
objeto, evento ou estímulo; o efeito evocativo,
por sua vez, é caracterizado pela alteração
momentânea da freqüência de um tipo de com-
portamento que tem sido reforçado por aquele
objeto, evento ou estímulo. É importante en-
fatizar que a definição do conceito é feita a
partir dos efeitos que a variável motivacional
exerce sobre o comportamento do organis-
mo (da Cunha, 1993, 1995, 2002; Keller e
Schoenfeld, 1950/1974; Michael, 1993, 2000).
Uma operação estabelecedora é um
evento ambiental que está correlacionado
filogenética e ontogeneticamente com a efi-
cácia do reforço ou da punição e que evoca
ou suprime um tipo de comportamento que
tenha sido reforçado ou punido por esse even-
to (privação ou saciação são exemplos de ope-
rações estabelecedoras). Skinner (1953/
2000) cita alguns exemplos de efeitos sobre o
comportamento exercidos por essas operações
estabelecedoras: (a) restringindo-se a ingestão
de água (privação), pode-se aumentar a pro-
babilidade de uma criança beber leite; (b) ser-
vindo-se grandes quantidades de pão de boa
qualidade antes do jantar (saciação), pode-se
diminuir a probabilidade de um cliente recla-
mar da pequena quantidade de comida servi-
da no jantar.
Refinamento do conceitode operações estabelecedoras
Michael (1982) tratou o conceito de mo-
tivação como estímulo estabelecedor (SE), o
qual teria a função de modificar a efetividade
de um outro estímulo como reforçador e de
evocar um tipo de comportamento que tenha
sido reforçado por aquele estímulo. Em 1993,
o termo estímulo estabelecedor foi substituído
pelo termo operação estabelecedora como uma
forma genérica de se referir à variável motiva-
cional. A partir da classificação de dois tipos
de operações estabelecedoras e da efetivação
de uma taxonomia comportamental, Michael
sistematizou o conceito de motivação.
As operações estabelecedoras de privação
e saciação trabalham em direções opostas. A
privação de algum objeto implica um período
de tempo de acesso restrito a esse objeto, seja
ele alimento, água ou qualquer outra condi-
ção de estímulo, como, por exemplo, interações
sociais. Entretanto as operações ambientais que
trabalham na direção oposta da privação po-
dem variar para um ou outro estímulo e, as-
sim, o termo saciação pode não ser útil. Por-
tanto, Michael (2000) propõe um refinamen-
to conceitual da terminologia motivação, intro-
duzindo o termo operações abolidoras para
fazer referência àquelas operações ambientais
que suprimem a efetividade de um evento
reforçador e a ocorrência de comportamentos
que tenham sido reforçados por esse evento
reforçador.
Classificação
Michael (1993) propôs a classificação
das operações estabelecedoras em duas cate-
gorias:
Operações estabelecedoras incondicionadas
São de origem filogenética e variam de
espécie para espécie. Os efeitos de alteração
da eficácia do reforço que esse tipo de opera-
ção estabelecedora produz abrangem eventos
ou estímulos reforçadores incondicionados, por
isso Michael denominou essas operações de
operações estabelecedoras incondicionadas.
Nascemos com a capacidade de termos nossos
comportamentos reforçáveis por alimentos ou
pela cessação ou redução de estímulos aver-
sivos, sendo que determinados aspectos do
ambiente podem aumentar ou reduzir a eficá-
cia desses reforços. Embora esses reforços se-
jam incondicionados, o comportamento evo-
cado por uma operação estabelecedora incon-
dicionada (verificado pelo efeito evocativo) é
sempre aprendido. Por exemplo, a privação de
água torna a água mais efetiva como forma de
reforçador para os mamíferos, como resultado
dessa operação, sem que haja história de apren-
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4430
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 31
dizagem. Porém o repertório comportamental
para adquirir água é sempre aprendido por
esses organismos.
A seguir, apresentamos exemplos de ope-
rações estabelecedoras incondicionadas e seus
respectivos efeitos:
1. Saciação de alimento. Esta operação
tem como efeito estabelecedor do re-
forço a diminuição, momentânea, da
eficácia do alimento como reforça-
dor e, como efeito evocativo, a di-
minuição, momentânea, da freqüên-
cia de qualquer tipo de comporta-
mento que tenha sido reforçado por
algum alimento. Por exemplo, em
uma refeição, comer do prato prin-
cipal até a saciação pode diminuir a
eficácia reforçadora da sobremesa e
suprimir a freqüência do comporta-
mento de consumo desta.
2. Privação de alimento. Esta operação
tem como efeito estabelecedor do re-
forço, o aumento momentâneo da
eficácia do alimento como evento
reforçador, e seu efeito evocativo é
demonstrado pelo aumento, tam-
bém momentâneo, de qualquer tipo
de comportamento que tenha sido
reforçado por alimento. Privando
um indivíduo de alimento, por
exemplo, pode-se alterar a eficácia
reforçadora do alimento e aumen-
tar a freqüência do comportamento
de preparar um lanche.
3. Aumento da temperatura. Esta ope-
ração quando está acima do nível
normal das condições de adaptação
e de conforto tem como efeito esta-
belecedor do reforço a diminuição
do nível da temperatura como um
evento reforçador eficaz. O efeito
evocativo é verificado pelo aumen-
to momentâneo da freqüência de
qualquer comportamento que tenha
sido reforçado pela diminuição do
nível da temperatura. Um exemplo
seria ligar o ventilador em um dia
de calor insuportável.
4. Diminuição da temperatura. Esta
operação quando está abaixo do ní-
vel normal das condições de adap-
tação e de conforto tem como efeito
estabelecedor do reforço o aumen-
to do nível da temperatura como um
evento reforçador eficaz. O efeito
evocativo é verificado pelo aumen-
to momentâneo da freqüência de
qualquer comportamento que tenha
sido reforçado pelo aumento do ní-
vel da temperatura (p. ex.: ligar o
ar quente do carro na presença de
uma temperatura muito baixa).
5. Estimulação dolorosa. Esta operação
tem como efeito estabelecedor do re-
forço o aumento da eficácia momen-
tânea da cessação ou da remoção do
estímulo doloroso, e o efeito evoca-
tivo é demonstrado pelo aumento
momentâneo de qualquer tipo de
comportamento que tenha sido re-
forçado pela cessação ou pela remo-
ção da estimulação dolorosa (p. ex.:
tomar um analgésico em função de
uma forte dor de cabeça).
Michael (1993) identificou nove tipos
de operações estabelecedoras incondicio-
nadas, a saber: estimulação dolorosa; dimi-
nuição da temperatura abaixo das condições
de adaptação e de conforto, aumento da tem-
peratura acima das condições de adaptação
e de conforto; variáveis relacionadas ao
reforçamento do comportamento sexual. Os
outros cinco tipos de operações estão relaci-
onados às operações de privação e de
saciação de água, de alimento, de oxigênio,
de atividade e de sono.
Operações estabelecedoras condicionadas
São de origem ontogenética e, portanto,
relacionadas à história de reforçamento de cada
organismo. A distinção entre as operações
estabelecedoras incondicionadas e as condi-
cionadas é feita com base no efeito estabe-
lecedor do reforço, pois o evento reforçador
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32 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
pode ser inato ou aprendido. No que concerne
às operações estabelecedoras condicionadas,
elas têm recebido maior atenção dos pesquisa-
dores na tarefa de demonstração empírica e
foram classificadas por Michael (1993) em três
tipos:
1. Operação estabelecedora condiciona-
da substituta. Esta operação refere-
se a uma relação simples, envolven-
do uma correlação temporal de um
evento, previamente neutro, que sis-
tematicamente antecede uma ope-
ração estabelecedora incondiciona-
da ou condicionada e, como resul-
tado desse emparelhamento, aque-
le evento neutro adquire a caracte-
rística motivacional da operação
estabelecedora com a qual fora em-
parelhado (adquire suas funções
evocativas e funções de estabeleci-
mento do valor do reforço). Por
exemplo, ao emparelhar uma luz
(estímulo neutro para a função moti-
vacional) com a redução de tempe-
ratura (operação estabelecedora
incondicionada), seria esperado que
a luz adquirisse não só as funções
respondentes (eliciadoras) ou refor-
çadoras/punitivas, como também as
funções motivacionais da redução
da temperatura. A presença dessa
luz deveria estabelecer o aumento
da temperatura como uma forma efi-
caz de reforçamento e evocar qual-
quer tipo de comportamento que
tenha sido reforçado pelo aumento
da temperatura.
2. Operação estabelecedora condiciona-
da reflexiva. Esta envolve uma rela-
ção mais complexa em que um even-
to ou estímulo sistematicamente
precede alguma forma de estimu-
lação aversiva e, se esse estímulo é
removido antes da ocorrência da
estimulação aversiva, a estimulação
aversiva deixa de ocorrer. Os proce-
dimentos de esquiva sinalizada são
exemplos desse tipo de operação
estabelecedora. De acordo com
Michael (1993), o evento ou estímu-
lo sinalizador da esquiva funciona
como uma variável motivacional do
tipo condicionada reflexiva, e não
como um estímulo discriminativo,
como enfatiza a literatura sobre es-
quiva sinalizada (ver o Capítulo 7
para uma discussão detalhada do
papel do estímulo sinal na esquiva).
A denominação condicionada refle-
xiva para esse tipo de operação deve-
se ao fato de que o próprio estímulo
antecedente motivacional adquire a
capacidade de estabelecer sua pró-
pria remoção como uma forma efe-
tiva de reforçador condicionado e
evoca qualquer tipo de comporta-
mento que tenha produzido a su-
pressão desse estímulo reforçador
condicionado. Por exemplo, a luz do
painel de um automóvel que indica
a quantidade de combustível dispo-
nível no tanque possui as proprie-
dades motivacionais de uma opera-
ção estabelecedora condicionada re-
flexiva. Essa luz acesa, aviso de que
o combustível está na reserva, esta-
belece a sua remoção como uma for-
ma de reforço efetivo, pois sua pre-
sença esteve pareada com a aversivi-
dade de ter o automóvel sem gaso-
lina. Além disso, evoca o comporta-
mento de abastecer o carro, o qual
tem sido reforçado pela remoção da
luz acesa.
3. Operação estabelecedora condiciona-
da transitiva. Esta operação é a rela-
ção mais complexa e foi relacionada
por Michael (1993) com o conceito
de reforçador condicionado condi-
cional. A efetividade de muitas
formas de reforçadores positivos
condicionados podem depender de
uma condição de estímulo antece-
dente (operação estabelecedora con-
dicionada transitiva), na qual esses
reforçadores positivos condiciona-
dos tiveram sua eficácia estabele-
cida. O estabelecimento da eficácia
desses reforçadores depende de uma
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4432
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 33
história individual do organismo.
Por exemplo, um aparelho de tele-
fone público é ocasião para o com-
portamento de fazer uma ligação te-
lefônica. Porém, em relação ao car-
tão telefônico, o aparelho funciona
como uma operação estabelecedora
condicionada transitiva porque es-
tabelece o cartão como uma forma
efetiva de reforço e evoca o compor-
tamento de procurá-lo na carteira.
A demonstração empírica desse tipo
de operação estabelecedora tem re-
cebido atenção de alguns pesqui-
sadores com trabalhos publicados
(McPherson e Osborne, 1968; 1988)
e de outros pesquisadores com tra-
balhos não-publicados (McPherson,
Trapp e Osborne, 1984; Osborne e
Mcpherson, 1986; Alling, 1990; da
Cunha, 1993 – estes dois últimos
citados em da Cunha, 1995). Essas
demonstrações empíricas têm uti-
lizado pombos como sujeitos expe-
rimentais e têm, de certa forma, de-
monstrado, com algum sucesso, o
desenvolvimento de procedimentos
experimentais para investigar ope-
rações estabelecedoras condiciona-
das transitivas como uma variável
ambiental e uma variável motiva-
cional controladora do comporta-
mento. Nesses procedimentos têm
sido difícil distinguir a função moti-
vacional de um evento ambiental (a
suposta operação estabelecedora
condicionada transitiva) de sua
função discriminativa, caracterizan-
do assim, como aspecto fundamen-
tal dessa linha de pesquisa, o de-
senvolvimento de procedimentos
que nos permitam demostrar empi-
ricamente essa distinção. Surge, as-
sim, uma nova área de investiga-
ção na análise experimental do
comportamento que possibilita aos
analistas do comportamento estu-
dar a motivação como uma variá-
vel independente e não apenas
contextual (da Cunha, 1993; 1995;
2000; Iwata, Smith e Michael,
2000; Sundberg, 1993).
Relação entre os conceitos de operaçãoestabelecedora (OE) e de estímulodiscriminativo (SD)
Os conceitos de operação estabelecedora
e de estímulo discriminativo estão relaciona-
dos, pois ambos são eventos antecedentes ao
comportamento e têm, de forma diferenciada,
implicações com a conseqüência. A análise fun-
cional do comportamento tem sido, geralmen-
te, realizada com ênfase no SD e, conseqüente-
mente, a unidade de análise utilizada tem sido
a contingência de três termos. Para se fazer
uma análise funcional mais adequada do com-
portamento, considerando as funções motiva-
cionais e discriminativas dos estímulos ante-
cedentes, faz-se necessário incluir a OE como
um quarto elemento da contingência. A inclu-
são de mais um termo na relação de contin-
gência implica a necessidade de distinção das
funções discriminativa e motivacional do estí-
mulo antecedente. Nesse sentido, o conceito
de SD é fundamental para a compreensão e para
a demonstração empírica do conceito de OE.
Os estímulos discriminativos são, em ge-
ral, denominados como sinais ou pistas para
uma determinada ação, à medida que sinali-
zam as ocasiões em que as respostas terão cer-
tas conseqüências e, portanto, ocasionam com-
portamento. O conceito de SD tem sido cor-
relacionado às condições antecedentes que são
ocasião para a resposta levando-se em consi-
deração apenas a condição em que uma dada
resposta será reforçada. Michael (1982), en-
tretanto, retoma o conceito de SD enfatizando
as suas duas condições de estímulo: uma con-
dição de estímulo SD, em que, dada a efetivi-
dade de um evento como reforçador, a ocor-
rência de um determinado comportamento será
seguida pelo reforço; e uma condição de estí-
mulo SΔ, em que, dada a efetividade daquele
evento reforçador, a ocorrência desse mesmo
comportamento não será reforçada. Isto é, o
conceito de SD envolve uma história específica
de treino discriminativo com duas condições
de estímulos antecedentes relacionadas à dis-
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4433
34 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
ponibilidade diferencial de reforçamento
(Michael, 1993). Como resultado do treino
discriminativo, o SD evoca um dado comporta-
mento com uma história de reforçamento dian-
te desse estímulo, enquanto o SΔ não evoca o
mesmo comportamento. Em resumo, o SD apre-
senta uma função evocativa sobre o comporta-
mento devido a uma história de correlação tem-
poral com o reforço.
Em uma dada situação experimental, por
exemplo, a função evocativa do SD pode ser cla-
ramente observada. Em uma caixa operante,
equipada com uma barra, um bebedouro e uma
lâmpada localizada acima da barra, um rato
privado de água é submetido ao treino discri-
minativo. Quando a lâmpada acima da barra
está acesa (presença de luz), as respostas de
pressão à barra são seguidas por água como
reforço. Por outro lado, quando a lâmpada está
apagada (ausência de luz), nenhuma conse-
qüência é dada ao mesmo comportamento do
animal. Após algumas exposições a essas con-
dições, o rato exibe o comportamento de pres-
são à barra apenas na presença da luz. Diante
da luz como condição de estímulo SD, o com-
portamento de pressão à barra é reforçado e,
portanto, quando a luz está presente o com-
portamento é evocado. Diante da ausência de
luz (condição de estímulo SΔ), o comportamen-
to de pressão à barra não é exibido, pois não
há uma história de reforçamento por água nes-
sa condição.
O conceito de OE, no entanto, está rela-
cionado à efetividade do evento reforçador.
Para Michael (1993), a OE como condição de
estímulo antecedente altera momentaneamen-
te a efetividade de um reforço e evoca com-
portamentos relacionados historicamente com
esse reforço. A privação de água, por exemplo,
altera a efetividade reforçadora da água, e qual-
quer comportamento que a produza é fortale-
cido. Na situação experimental anteriormente
citada, a privação alterou o valor da água como
reforço, que ao seguir o comportamento de
pressão à barra passou a selecioná-lo. Por ou-
tro lado, além de estabelecer o valor do refor-
ço, a OE evoca o comportamento de pressão à
barra, pois há uma relação histórica entre aque-
le comportamento e o reforço, cuja efetividade
é estabelecida pela privação.
Semelhantemente ao SD, a OE possui a
função evocativa do comportamento, que, por
vezes, é confundida com a função evocativa
do SD. O que diferencia as referidas condições
de estímulo antecedente é a função estabele-
cedora do reforço, a qual é apresentada so-
mente pela OE. Essa função é imprescindível
para que, em um treino discriminativo, o SD
adquira a função evocativa. No exemplo an-
terior, o controle discriminativo só foi possí-
vel porque havia um reforço efetivo – água –
e assim o comportamento de discriminar en-
tre a ausência e a presença de luz foi observa-
do. Nesse sentido, pode-se verificar que a OE
aumentou a efetividade evocativa do SD, o
que, para Michael (1993), seria um terceiro
efeito da OE.
A privação como OE tem uma função
motivacional, e a presença da luz (SD) tem uma
função discriminativa. Em situações labora-
toriais, a clareza na distinção da OE e do SD
requer mais estudos empíricos. Em situações
aplicadas, essa distinção é obscurecida, algu-
mas vezes, por variáveis como, por exemplo, a
história de vida particular do organismo. Con-
siderar a história do organismo é considerar
as relações das quais resultam as operações
estabelecedoras condicionadas (OEC). Diante
dessas condições, a distinção de uma OEC e
um SD pode tornar-se difícil.
No seguinte contexto aplicado, por exem-
plo, qual seria a função antecedente de um
pneu furado de um automóvel para o compor-
tamento de trocá-lo ou de procurar por uma
borracharia? Em um primeiro momento, pode-
se considerar essa condição de estímulo como
sendo SD, pois é a ocasião para trocar o pneu
pelo estepe. Entretanto o pneu furado altera a
efetividade reforçadora do estepe e de todos
os objetos (ferramentas) relacionados com a
ação de trocar o pneu, bem como de qualquer
placa de sinalização que indique a presença de
borracharia – função motivacional. Nesse caso,
o pneu furado funciona como uma operação
estabelecedora condicionada transitiva que es-
tabelece o valor reforçador condicionado de
alguns estímulos. A consideração precipitada
apenas da função evocativa do pneu furado
implicaria o equívoco de deixar de lado a fun-
ção motivacional que essa condição de estímulo
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4434
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 35
tem sobre a definição de certos objetos como
reforçadores.
Outro exemplo a ser considerado na dis-
tinção da OE e do SD consiste nos procedimen-
tos de esquiva sinalizada. Um rato na caixa
experimental recebe choques (Ss aversivos) em
um intervalo de tempo variável de um minuto
(VT 1 min). Antes da apresentação de cada cho-
que, um som é apresentado. Ao pressionar a
barra, o animal interrompe a apresentação do
som e do choque. No entanto, se a pressão à
barra ocorrer na presença do som apenas, essa
resposta pode prevenir a apresentação do estí-
mulo aversivo (choque). Nesse procedimento,
o som e o choque são considerados operações
estabelecedoras reflexivas condicionada e
incondicionada, respectivamente, e não estí-
mulos discriminativos (Michael, 1993).
O som, ao ser apresentado junto com o
choque, adquire as funções necessárias para
que sua presença evoque respostas de evi-
tação. Para ser considerado um SD, a situação
experimental deveria possuir uma condição
de estímulo análoga à condição SΔ. Na pre-
sença do som, a resposta de esquiva é evocada,
pois há uma conseqüência reforçadora ime-
diata – a eliminação do som. Supondo um
paralelo com a situação de SΔ, a ausência do
som impossibilita o reforçamento negativo por
sua própria remoção – “a efetividade do re-
forçador negativo depende diretamente da
presença do estímulo aversivo condicionado”
(Miguel, 2000, p. 262), ou seja, depende da
presença do som. O mesmo ocorre na situa-
ção de fuga do choque em que o reforçador
negativo só se torna efetivo quando o choque
está presente. Na ausência do estímulo aver-
sivo (suposto SΔ), não há reforço negativo,
portanto não há reforço efetivo. Nesse senti-
do, o choque não é um SD. Tanto o som quan-
to o choque estabelecem sua própria remo-
ção como formas de reforço efetivo e evocam
comportamentos que tenham uma relação
histórica com esses reforços e, assim sendo,
devem ser identificados como OEs.
Paralelamente à situação experimental,
no contexto aplicado, a distinção entre SD e
OE em situações de esquiva também é possí-
vel. Nos Transtornos de Ansiedade, como o
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), por
exemplo, observa-se uma pessoa emitir inúme-
ras vezes uma série de comportamentos com
função de esquiva, como lavar as mãos, o veri-
ficar o fechamento do registro do botijão de
gás e conferir o fechamento de portas e de ja-
nelas. As condições dos estímulos anteceden-
tes a esses comportamentos (p. ex.: mãos su-
jas ou algum tempo sem contato com água e
sabão, registro de gás aberto, portas e janelas
abertas ou destrancadas ou qualquer outra
condição relacionada ao comportamento ob-
sessivo) não são SD para as respostas ditas com-
pulsivas. Essas condições de estímulo são ope-
rações estabelecedoras condicionadas reflexi-
vas que estabelecem a efetividade reforçadora
das conseqüências do comportamento compul-
sivo, semelhantemente à presença do som ou
do choque, nas condições laboratoriais. Nesse
caso, supor uma situação análoga à condição
de SΔ é tão inviável quanto na situação experi-
mental anteriormente descrita.
Em resumo, o SD apresenta uma função,
a função evocativa do comportamento ou
discriminativa – na presença do estímulo
discriminativo há o aumento na probabilida-
de de ocorrência do comportamento por cau-
sa de uma história de correlação entre a con-
dição de SD e o reforçamento, e entre a con-
dição de SΔ e o não-reforçamento. Por outro
lado, conforme indicado por Michael (1993),
a OE apresenta quatro diferentes efeitos co-
muns relacionados à função motivacional.
São eles:
1. Efeito estabelecedor do reforço: uma
OE aumenta momentaneamente a
efetividade reforçadora/punidora
de um estímulo. A privação de água
torna a água um evento reforçador
eficaz.
2. Efeito evocativo/supressivo direto
da OE sobre o comportamento: evo-
cação/supressão imediata da OE
sobre os comportamentos que te-
nham uma relação histórica com o
reforçador/punidor cuja efetividade
fora alterada em (1). A privação de
água evoca o comportamento de
pressão à barra que tem sido histo-
ricamente reforçado por água.
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4435
36 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
3. Efeito da OE sobre a efetividade
evocativa/supressiva do SD: aumen-
to na efetividade evocativa/supres-
siva dos estímulos discriminativos
correlacionados com o reforçador/
punidor em (1). No treino discri-
minativo, a privação de água au-
menta a efetividade evocativa da luz
como SD, pois a luz tem uma corre-
lação com a água.
4. Efeito da OE sobre o reforçamento/
punição condicionado: aumento da
efetividade reforçadora/punidora
de reforçadores/punidores condi-
cionados cuja efetividade depende
de (1). Na seguinte cadeia compor-
tamental – um som – puxar a cor-
rente → luz → pressionar a barra →
água–, o som aumenta a efetivida-
de da luz como reforço condicio-
nado, que tem uma relação históri-
ca com água (reforçador incondicio-
nado) e o som também evoca o com-
portamento de puxar a corrente, de-
vido a relação dessa resposta com
um reforço efetivo (luz).
Contribuições da pesquisa básica
Da Cunha (1993) identificou e classifi-
cou os primeiros procedimentos experimentais
para investigar os efeitos de operações estabe-
lecedoras, realizados no laboratório animal,
enfatizando as operações estabelecedoras con-
dicionadas transitivas. Entre eles temos os apre-
sentados a seguir.
Procedimento de três discos
McPherson e Osborne (1986, 1988) uti-
lizaram um procedimento de tentativa discre-
ta com três discos de respostas para pombos.
Ao início de cada tentativa, o disco da direita
era iluminado. A primeira resposta nesse dis-
co tinha como conseqüência a iluminação do
disco central. Uma vez iluminado o disco cen-
tral, bicadas no disco da direita não tinham
conseqüências. O disco da esquerda era ilumi-
nado em função de um esquema VT. Quando o
disco da esquerda estava iluminado, uma res-
posta no disco central era reforçada por ali-
mento. Respostas adicionais de bicar o disco
central não tinham conseqüências programa-
das. O término de cada tentativa ocorria com
o acesso ao alimento, que era seguido por um
intervalo entre tentativas (ITI). Durante o ITI,
todos os discos permaneciam escuros.
O reforço para a resposta de bicar o disco
da direita foi a iluminação do disco central (um
reforço condicionado, estabelecido por sua re-
lação com o alimento). O estímulo anteceden-
te à resposta de bicar o disco da direita foi a
iluminação do disco da esquerda (suposta OEC
transitiva). Quando o disco da esquerda não
estava iluminado, bicar o disco da direita não
estabelecia o valor da iluminação do disco cen-
tral como reforçador. De acordo com a con-
cepção teórica de Michael (1982, 1993), a ilu-
minação do disco da esquerda deveria funcio-
nar como uma OEC transitiva, por estabelecer
a iluminação do disco central com uma forma
efetiva de reforçador condicionado (efeito
estabelecedor do reforço) e evocar a resposta
de bicar o disco da direita (efeito evocativo).
A efetividade reforçadora do disco central es-
tava condicionada à iluminação do disco da
esquerda. Um efeito eficaz da operação estabe-
lecedora deveria produzir um desempenho que
consistia em esperar a iluminação do disco da
esquerda, então, bicar o disco da direita, cuja
conseqüência imediata era a iluminação do
disco central e, finalmente, bicar o disco cen-
tral, que resultava em alimento.
McPherson e Osborne (1986) verificaram
que o controle não foi evidente depois de 60
ou mais sessões. Apenas um entre quatro pom-
bos demonstrou o desempenho previsto. No se-
gundo estudo (McPherson e Osborne, 1988)
alterou-se o tempo de iluminação dos discos
do centro e da esquerda, visando a um maior
controle dos estímulos antecedentes. Quando
o disco da esquerda era iluminado, em média
12 s depois da iluminação do disco central, o
controle pela OEC (iluminação do disco da es-
querda) sobre a resposta no disco da direita
foi, em geral, muito fraco.
Os experimentos de McPherson e Osborne
(1986, 1988) trouxeram contribuições para o
início das pesquisas experimentais sobre o con-
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4436
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 37
ceito de operações estabelecedoras, pois foram
analisadas as dificuldades que o procedimen-
to de três chaves apresentava. Entre essas difi-
culdades, há a possibilidade de que as contin-
gências nos três discos permitam uma inter-
pretação de automodelagem de alguns aspec-
tos do desempenho, porque as respostas de
bicar os discos da direita e do centro foram
automodeladas e, uma vez que esses discos fo-
ram iluminados, assim permaneciam até o tér-
mino da tentativa. Outro fator que talvez te-
nha dificultado a demonstração empírica dos
efeitos da OE foi o fato de a iluminação do dis-
co central (reforço condicionado para a res-
posta do disco da direita) permanecer até a
obtenção do alimento. Essa situação poderia
reduzir o contato com tentativas sem uso do
disco central quando o disco da esquerda esta-
va escuro. Se a iluminação do disco central fos-
se estabelecida em alguns segundos, seria pos-
sível um maior controle da função motivacional
do disco da esquerda. Essa característica do pro-
cedimento também fez com que a suposta OEC
funcionasse como um estímulo discriminativo
para bicar o disco central quando o mesmo es-
tava iluminado antes da condição de OEC.
Procedimento de pedal-e-disco
Alling (1990) utilizou um procedimento
com topografias de respostas diferentes. A res-
posta de pressionar um pedal produzia um re-
forço condicionado, e a resposta de bicar um
disco produzia um reforço incondicionado. Esse
procedimento consistia em uma cadeia de duas
respostas: a resposta de pressionar o pedal
produzia a mudança da cor da luz acima do
pedal – de branca para vermelha – (reforço
condicionado), e a resposta de bicar o disco
produzia 3 s de ração para pombos (reforço
incondicionado). Uma única resposta no pe-
dal tinha como conseqüência a apresentação
do reforço condicionado por 5 s (luz do pe-
dal). Uma única resposta no disco da esquer-
da, na presença da luz vermelha (luz do pe-
dal), produzia alimento por 5 s, dependendo
da condição da iluminação da câmara experi-
mental que deveria funcionar como a suposta
OEC transitiva para a resposta de pressionar o
pedal. A luz da câmara apagada foi definida
como ausência da OE. Quatro pombos foram
distribuídos em dois grupos a fim de balance-
ar as condições experimentais: para o Grupo
1, a presença de luz ambiente funcionava como
presença da OEC, e sua ausência funcionava
como ausência da OEC; para o Grupo 2, as
condições experimentais foram invertidas.
Cada tentativa experimental começava com a
condição de não-OEC, sendo a condição de
OEC gerada com base em um esquema de VT
60 s. Quando a condição de OEC começava,
ela permanecia em efeito até a obtenção de
alimento.
O desempenho esperado era não pressio-
nar o pedal até que a condição de OEC (luz
ambiente acesa ou apagada, dependendo do
grupo) estivesse presente, então, a resposta no
pedal produziria a mudança de cor da luz do
pedal de branca para vermelha e, se em 5 s o
pombo bicasse o disco da esquerda, essa res-
posta seria seguida por 3 s de acesso ao ali-
mento. Todos os quatro pombos desenvolve-
ram o desempenho previsto (em 90% ou mais
das tentativas verificou-se que a resposta no
pedal ocorria na presença da suposta condi-
ção de OEC). Na segunda fase – o teste – re-
moveu-se a conseqüência para a resposta no
pedal, de modo que a luz branca estava sem-
pre presente (luz do pedal). Como resultado
dessa mudança, esperava-se que ocorresse a
quebra na cadeia comportamental, o que não
foi observado. A luz da câmara experimental
pode ter funcionado como um estímulo
discriminativo e não como uma OEC para a
resposta no pedal. Supõe-se que a cadeia de
duas respostas tenha funcionado como um
único bloco de resposta, pois um esquema de
razão fixa (FR 1) controlava a resposta de pres-
sionar o pedal e, provavelmente, a resposta no
disco estivesse mais sob o controle da luz da
câmara experimental do que da luz produzida
pela resposta no pedal. Outro aspecto que pode
ter contribuído para esse resultado foi o uso
de dois estímulos visuais, pois a condição de
iluminação (luz/escuro) poderia criar condi-
ções de estímulos diferentes quando a luz do
pedal estivesse branca ou vermelha. Por exem-
plo, a luz vermelha acima do pedal poderia ser
caracterizada como uma condição de estímulo
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4437
38 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
diferente se a câmara operante estivesse ilu-
minada ou escura. A terceira fase consistiu em
retomar as condições experimentais da primei-
ra fase para se verificar a recuperação da res-
posta sob as duas condições experimentais.
Como resultados dessa fase, os quatro pombos
retomaram a resposta no pedal na presença da
OEC em 90% ou mais das tentativas.
Para dar continuidade aos estudos expe-
rimentais de OECs transitivas, da Cunha (1993)
utilizou um esquema de razão variável (VR 6)
para controlar a resposta de pressionar o pe-
dal que produzia a mudança da luz do pedal
(de branca para vermelha) por 5 s. Um estí-
mulo auditivo funcionava como a suposta OEC
(um som tipo bip), cuja apresentação foi con-
trolada por um esquema de tempo randômico
(RT 1 min). Quatro pombos foram distribuí-
dos em dois grupos: para um grupo, a presen-
ça do som era a suposta OEC e, para o outro,
sua ausência era a suposta OEC; seus opostos
estabeleciam a condição de não-OEC.
A medida comportamental dos estudos
anteriores foi o percentual de tentativas sem
erro (McPherson e Osborne, 1986, 1988;
Alling, 1990). Da Cunha (1993) verificou que
a taxa de respostas era uma medida mais sen-
sível do que a percentagem de tentativas sem
erro ao introduzir um esquema de reforçamen-
to intermitente para a resposta de pressionar
o pedal. Para todos os sujeitos, verificou-se ni-
tidamente que a taxa de respostas de pressão
ao pedal na condição de OEC foi maior do que
na condição de não-OEC. A taxa de respostas
de pressão ao pedal na presença da suposta
OEC variou de 24 a 27 resp/min, enquanto a
taxa de respostas de pressão ao pedal na au-
sência da suposta OEC variou de 2 a 8 resp/
min, considerando os dados dos quatro sujei-
tos. A segunda fase teve como objetivo testar o
controle da suposta variável motivacional, re-
movendo o evento reforçador condicionado da
resposta de pressão ao pedal (luz vermelha do
pedal). Esperava-se uma deterioração da ca-
deia comportamental durante a fase de teste,
sendo esse resultado observado apenas para
dois dos quatro pombos. Os demais sujeitos
desenvolveram um padrão de pressionar o pe-
dal várias vezes e, então, bicar o disco. A ter-
ceira fase do procedimento consistia na reto-
mada da Fase 1. Algumas falhas nesse proce-
dimento também foram observadas; por exem-
plo, não havia uma contingência punitiva para
as respostas de mudança do pedal para o dis-
co. Verificou-se que os dois sujeitos que manti-
veram a resposta no pedal depois da remoção
do reforçador condicionado tiveram, aciden-
talmente, as respostas de mudança reforçadas.
Observou-se, também, que o decréscimo da
taxa de respostas na condição de não-OEC po-
deria ter sido mascarado pelo efeito da extinção
presente nessa mesma condição.
Esses estudos contribuíram com sugestões
para refinamentos de delineamentos experi-
mentais e têm reafirmado a importância da dis-
tinção dos controles discriminativo e motiva-
cional dos estímulos antecedentes para se de-
monstrar com clareza os efeitos de uma ope-
ração estabelecedora.
Contribuições da pesquisa aplicada
Segundo Sundberg (1993), o conceito de
OE é útil e relevante para a análise funcional
do comportamento, permitindo que a interven-
ção dos analistas do comportamento seja mais
efetiva. A OE exerce um importante papel na
relação de contingência, uma vez que estabe-
lece a efetividade da conseqüência. É sabido
dos analistas do comportamento que a relação
de contingência (antecedente – comportamen-
to – conseqüência) é fortalecida quando uma
conseqüência reforçadora efetiva é apresenta-
da ao comportamento. A efetividade dessa con-
seqüência é alterada pela OE que estabelece o
valor do reforço e evoca comportamentos re-
lacionados historicamente com esse reforço. As
conseqüências terão efeitos sobre o comporta-
mento somente se forem efetivas como reforça-
dores ou punidores, cabendo à OE estabelecer
essa efetividade; portanto, é de fundamental
importância considerar a inclusão da OE como
mais um elemento da relação de contingência.
Como veremos, a pesquisa aplicada tem muito
a dizer sobre a relevância do conceito.
Na tentativa de explicar tanto a ocorrên-
cia de comportamentos quanto a efetividade
das conseqüências que os mantém, analistas
do comportamento vêm, cada vez mais, incluin-
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4438
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 39
do o conceito de OE na unidade de análise fun-
cional. Um exemplo disso é a publicação de
um volume do Journal of Applied Behavior
Analysis (JABA) inteiramente dedicado a dis-
cussões sobre operações estabelecedoras na
análise aplicada do comportamento (JABA,
2000, 33 [4]).
Para estimular pesquisas sobre o tema,
Iwata e colaboradores (2000) sugerem três
grandes temas de pesquisa para a avaliação das
influências da OE sobre o comportamento em
contextos aplicados:
a) demonstrações gerais das influências
da OE sobre o comportamento;
b) uso da manipulação da OE para clari-
ficar os resultados de avaliações
comportamentais;
c) tentativa de melhorar o repertório
comportamental do sujeito pela incor-
poração de manipulações da OE como
componente do tratamento.
Friman (2000) apresenta uma demons-
tração de que objetos chamados de transacio-
nais – objetos que facilitam a transição de crian-
ças jovens de uma fase de dependência para
autonomia – podem ocasionar comportamen-
tos que sugerem a participação de uma OE. O
autor observou uma criança com o comporta-
mento de chupar o dedo, sob duas condições:
em uma condição, a criança estava no berço
sozinha (ausência de estimulação social) e, na
outra, ela estava no colo de um adulto (pre-
sença de estimulação social). Nessas condições,
o comportamento de chupar o dedo foi obser-
vado em sessões de linha de base (ausência de
um pedaço de pano) e sessões de teste (pre-
sença de um pedaço de pano). Os resultados
mostraram que o comportamento de chupar o
dedo na presença do pedaço de pano ocorria
mais freqüentemente quando a criança estava
no berço do que quando estava no colo. Du-
rante a linha de base, nas duas condições de
estimulação a percentagem de intervalos de
chupar o dedo foi zero. A presença do pedaço
de pano pode ter funcionado como uma OE
para o comportamento de chupar o dedo, uma
vez que esse objeto poderia ter alterado a
efetividade reforçadora da conseqüência des-
se comportamento. Friman discute que a efeti-
vidade reforçadora dessa conseqüência possa
ter ocorrido em função de uma OEC (pedaço
pano), pois o processo pelo qual o objeto al-
tera a efetividade reforçadora de chupar o
dedo, mesmo sendo desconhecido, parece ser
aprendido.
McCommas, Hoch, Paone e El-Roy (2000)
indicaram que exigências ambientais poderi-
am funcionar como operações estabelecedoras
que evocavam comportamentos agressivos,
autolesivos e perturbadores, reforçados nega-
tivamente, em crianças com diagnóstico de
deficiências intelectuais. Essas exigências
envolviam a realização de tarefas acadêmicas
difíceis, repetitivas ou em uma seqüência de-
terminada por um adulto. A manipulação expe-
rimental consistiu na presença e na ausência
da suposta OE com três crianças. A primeira
criança, que apresentava dificuldade em ope-
rações matemáticas, foi exposta às seguintes
condições:
a) disponibilidade de uma folha de pa-
pel com as contas a serem realizadas;
b) disponibilidade de uma folha de pa-
pel com as contas, incluindo um ábaco
e uma calculadora.
A segunda criança foi exposta a estas con-
dições:
a) realização de tarefas repetitivas;
b) realização de tarefas não-repetitivas.
A terceira criança foi exposta às seguin-
tes condições:
a) escolha por um adulto da seqüência
de tarefas acadêmicas;
b) escolha pela criança da seqüência de
tarefas.
Os resultados mostraram que a maneira
como as tarefas acadêmicas foram exigidas fun-
cionou como operação estabelecedora. Diante
da segunda condição, os comportamentos-pro-
blema não foram observados, sendo essa con-
dição favorável à emissão de comportamentos
acadêmicos mais adequados.
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4439
40 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
A intervenção do analista do comporta-
mento com o objetivo de reduzir a ocorrência
de comportamentos inadequados mantidos
por reforçamento negativo torna-se efetiva
quando o conceito de operação estabelecedora
é utilizado. Smith e Iwata (1997) discutiriam
que comportamentos estereotipados e auto-
lesivos são padrões comportamentais que po-
dem ser controlados pela remoção de exigên-
cias sociais. A exigência social funciona como
uma operação estabelecedora que determina
sua própria remoção como uma forma efetiva
de reforço (OEC reflexiva). A dificuldade de
uma tarefa, a complexidade do comportamen-
to exigido para essa tarefa e a imprevi-
sibilidade de eventos ambientais são exem-
plos de exigências sociais. Uma primeira es-
tratégia para a redução de comportamentos
estereotipados e autolesivos evocados nessas
situações seria a mudança das exigências
ambientais para condições de menor aversi-
vidade (apresentação de tarefas mais simples,
por exemplo). Uma segunda estratégia seria
o uso do esquema de reforço diferencial de
outros comportamentos (DRO). O terapeuta
pode reforçar os comportamentos mais ade-
quados e submeter os comportamentos este-
reotipados e autolesivos à extinção. Por exem-
plo, permitir a fuga de uma exigência social
diante de uma solicitação verbal e não diante
de um comportamento autolesivo. Uma ter-
ceira estratégia seria utilizar esquemas de
reforçamento independente da resposta (p.
ex.: os estudos de Durand e Crimmins, 1988;
McGill, 1999).
Durand e Crimmins (1988) e McGill
(1999) sugerem que comportamentos-proble-
ma mantidos por atenção, em geral são apre-
sentados em ambientes caracterizados pela
escassez de contato social. A carência produzi-
da por um ambiente com essa natureza pode
ser considerada uma operação estabelecedora
que torna a atenção um reforço efetivo. Se, no
passado, a autolesão e a agressão foram refor-
çadas pela atenção social, obviamente a priva-
ção de atenção evocará o comportamento tido
como problema. Entretanto, se a carência de
contato social (operação estabelecedora) for
substituída por uma condição de maior acesso
ao reforçamento social, pela liberação de aten-
ção em esquemas de tempo fixo (FT), os com-
portamentos autolesivos e agressivos podem
diminuir de freqüência. Essa diminuição na fre-
qüência comportamental ocorre devido à di-
minuição da efetividade da atenção como re-
forço, o que corresponde a uma operação
abolidora.
Em um estudo envolvendo a manipula-
ção da operação estabelecedora como estraté-
gia de tratamento de comportamentos-pro-
blema, Kahng, Iwata, Thompson e Hanley
(2000) forneceram evidências de que a apre-
sentação de reforçamento social em esquema
de reforçamento de tempo fixo (FT) promove
a redução desses comportamentos. Duas con-
dições experimentais foram apresentadas a três
indivíduos com diagnóstico de Retardo Men-
tal. Na condição FT-EXT houve a liberação de
reforços sociais de acordo com um esquema
FT e extinção para a ocorrência de comporta-
mentos-problema, durante 10 min. Na condi-
ção EXT subseqüente não houve liberação de
reforços sociais durante 20 min. As condições
experimentais foram manipuladas dentro de
uma mesma sessão. Os resultados da condição
FT-EXT revelaram que a apresentação do re-
forço sob o esquema FT contribuiu para a re-
dução dos comportamentos-problema, em fun-
ção de dois possíveis efeitos: primeiro, o
reforçamento sob esquema FT pode ter gera-
do um efeito semelhante à saciação, devido ao
acesso freqüente ao reforço; segundo, a
extinção que ocorria simultaneamente pode ter
sido a responsável pela diminuição na freqüên-
cia do comportamento. A condição EXT visou
a testar se esses resultados ocorreram em fun-
ção da saciação ou da extinção. Se ocorresse
um aumento inicial na freqüência dos compor-
tamentos-problema, poderia ser dito que a
saciação foi a responsável pela redução desses
comportamentos durante o reforçamento sob
o esquema FT. Caso contrário, os resultados
obtidos pela extinção poderiam ser explicados.
Os resultados indicaram que diante da condi-
ção EXT, o comportamento-problema perma-
neceu com baixa freqüência. Esse dado sugere
que os efeitos da extinção durante a apresen-
tação do esquema FT podem ter permanecido
durante a condição EXT. Assim, a transição
entre as condições FT-EXT (reforço presente)
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 41
e EXT (reforço ausente) pode não ter sido re-
levante para evocar o comportamento-proble-
ma. Os autores discutem ainda que a dificul-
dade de utilização de esquemas FT deve-se ao
fato de que nesses esquemas há um compo-
nente de extinção presente, o qual obscurece
os efeitos diferenciados da saciação e da
extinção, embora ambos os efeitos possam ser
responsáveis pela redução da freqüência do
comportamento (ver também Hagopian,
Crockett, van Stone, DeLeon e Bowman, 2000).
Implicações do conceito de operaçõesestabelecedoras para a clínica
A clínica analítico-comportamental é ca-
racterizada por uma proposta de intervenção
que visa não só à mudança de comportamen-
tos, mas à identificação das variáveis que os
mantém. Skinner (1953/2000) afirmou que
não se pode esperar uma explicação adequada
do comportamento sem que suas relações com
essas variáveis sejam analisadas. O clínico ana-
lítico-comportamental que está interessado em
fazer uma intervenção adequada no contexto
terapêutico deve ter clareza dos diferentes pa-
péis das variáveis das quais o comportamento
é função. Os problemas comportamentais têm
sido explicados com base na contingência
tríplice (antecedente – comportamento – con-
seqüência), em que os eventos antecedentes
históricos e atuais são identificados sem, às
vezes, serem distinguidos como eventos com
funções comportamentais particulares.
Skinner (1953/2000, p. 34) chamou a
atenção para certos eventos ambientais que
têm funções específicas sobre o comportamen-
to. Esses eventos podem atuar no sentido de,
certamente, produzir comportamento:
É decididamente falsa a afirmação de que sepode levar um cavalo até a água, mas que nãose pode fazê-lo beber. Privando-o de água poralgum tempo, poderemos estar “absolutamen-te certos” de que o cavalo irá bebê-la assimque chegar até ela.
Essa afirmação revela a presença da pri-
vação (OE) como variável determinante do
comportamento. É claro que outras variáveis
(história de condicionamento, potencial bio-
lógico) também participam do processo de pro-
dução de comportamento, mas é notório o pa-
pel da OE. Desse modo, a clareza do papel dessa
variável permitirá uma intervenção mais efeti-
va do terapeuta analítico-comportamental.
Sundberg (1993) sugere que o analista do com-
portamento, ao incluir a análise da OE no con-
texto clínico, como um termo a mais na rela-
ção de contingência, poderá:
a) tatear as operações estabelecedoras no
ambiente natural de vida do cliente;
b) manipular as operações estabelecedo-
ras no momento em que podem estar
atuando com maior força;
c) distinguir seus efeitos motivacionais
dos efeitos discriminativos sobre o
comportamento.
No contexto de vida humana, são obser-
vadas algumas operações estabelecedoras co-
muns. Carências afetivas (atenção, sexo, reco-
nhecimento social, prestígio, popularidade, en-
tre outras), carência de bens de consumo (rou-
pas, automóveis, imóveis entre outras), carên-
cia de lazer e diversão são situações que exer-
cem papel de operações estabelecedoras, as
quais estabelecem a efetividade reforçadora de
certos estímulos, objetos ou eventos. Ao reali-
zar a coleta de dados, o terapeuta deve identi-
ficar e tatear as possíveis operações estabelece-
doras em atuação, bem como verificar seus efei-
tos sobre os padrões de comportamento apre-
sentados por seu cliente.
Em alguns casos de escassez de contatos
sociais (carência de atenção e de reconheci-
mento), por exemplo, o indivíduo pode apre-
sentar padrões de comportamento de insistên-
cia e cobrança queixosa em relação ao outro.
Esses comportamentos podem, inclusive, ocor-
rer na relação terapêutica (p. ex.: um cliente
que descreve que ninguém se interessa ou se
preocupa com ele e, fitando os olhos do
terapeuta, diz enfaticamente: “Ninguém me
ama!”). Esse comportamento pode consistir em
um mando disfarçado de tato. O terapeuta pode
apresentar estímulos discriminativos, na pre-
sença dos quais a disponibilidade diferencial
de reforço social é maior do que na sua ausên-
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42 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
cia e, portanto, o comportamento verbal é evo-
cado. No entanto a privação de afeto (OE) pa-
rece ser a variável controladora da queixa em
relação aos outros, que, na verdade, está sen-
do dirigida ao terapeuta. Uma estratégia a ser
utilizada pelo clínico analítico-comportamen-
tal, em casos desse tipo, poderá ser o reforço
diferencial de outras iniciativas comporta-
mentais do cliente (DRO) e a liberação de re-
forço social em esquemas de tempo fixo (FT),
o que pode minimizar os efeitos da carência
afetiva por meio de um efeito contrário à ope-
ração de privação (saciação). Minimizados os
efeitos da carência afetiva, o terapeuta poderá
modelar comportamentos mais adequados no
repertório comportamental do cliente, come-
çando, por exemplo, pela clareza na comuni-
cação do que se quer: “Valorize-me! Dê-me
amor!”.
Michael (1993) define uma OE com base
em seus efeitos momentâneos (efeito evocativo
e efeito estabelecedor do reforço), consideran-
do apenas eventos temporalmente próximos.
Daugher e Hackbert (2000), entretanto, dis-
cutem a possibilidade de que eventos tempo-
ralmente distantes funcionam como operações
estabelecedoras, as quais apresentam um efei-
to mais duradouro. Esse efeito poderia ser con-
siderado em termos de cognição e de emoção.
Eventos como a perda de um grande amor, abu-
so sexual, trauma, seqüestro, entre outros, são
eventos que geram fortes emoções e que alte-
ram a efetividade reforçadora/punidora de ou-
tros eventos ambientais, inclusive a longo pra-
zo. Instruções verbais como “mantenha-se lon-
ge do casamento, você pode sofrer” ou “você
tem de ser o melhor” estabelecem o valor de
certos objetos, eventos ou condições de estí-
mulo como reforçadores, valor esse que tam-
bém pode perpetuar-se na vida de uma pes-
soa. Essas condições, em geral, quando obser-
vadas no contexto clínico, caracterizam os efei-
tos de uma OE a longo prazo. Skinner (1953/
2000) afirma que as relações entre as variá-
veis ambientais e o comportamento, que delas
é função, são quase sempre complexas e sutis,
adquiridas a partir de uma história de interação
do organismo com o ambiente. Diante dessa
ótica, Daugher e Hackbert sugerem uma aná-
lise de relações possivelmente sutis que preci-
sam de esclarecimentos resultantes de muita
reflexão.
As relações entre operações estabelece-
doras e estados emocionais podem ser com-
plexas e intrincadas. Contextos históricos de
grave privação de alimento podem manter
comportamentos de estocagem de alimento,
sem que haja necessidade. O mesmo pode acon-
tecer com indivíduos submetidos a privações
de afeto por períodos prolongados. Esses indi-
víduos podem apresentar alta freqüência de
comportamentos reforçados por afeto, mesmo
em situações em que não haja carência, e sen-
timentos de menos valia e rejeição, os quais se
perpetuam por longos períodos na vida. Clien-
tes que apresentam histórias prolongadas de
carência afetiva, rejeições, ridicularizações e
críticas têm, em certos eventos ambientais,
reforçadores/punidores efetivos. A história de
interação prolongada efetivamente determina
as funções comportamentais de relações sociais
e interpessoais afetivas como reforçadores e do
isolamento ou solidão como punidores.
Por exemplo, um dos autores atendeu um
cliente que apresentava um quadro de pânico
e observou a presença de respostas emocionais
típicas e de padrões de esquiva das situações
que provocam essas respostas emocionais. O
cliente queixava-se de medo de morte iminen-
te quando se deparava com situações de via-
gens de avião do casal ou do cônjuge, de ne-
cessidade de andar de elevador ou de ter de
sair da sua cidade por mais de dois dias. Os
dados a respeito de sua história de vida in-
dicaram a presença prolongada de críticas e
de ridicularizações dos familiares, desqualifi-
cação de qualquer iniciativa comportamental
do cliente e carência afetiva em relação aos
pais e irmãos. Esse contexto de desproteção
afetiva (operação estabelecedora) alterou tan-
to a efetividade reforçadora de qualquer
interação social e interpessoal afetiva de cui-
dado e proteção quanto a efetividade punidora
de situações de isolamento, de avaliação, de
críticas e de rejeições. Essas situações, no con-
texto do referido cliente, provocavam respos-
tas emocionais de pânico e evocavam compor-
tamentos de esquiva.
Em casos de depressão, a persistência de
níveis insuficientes de reforçamento, a perda
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 43
de grandes fontes de reforço e o excesso de
punições e de estimulações aversivas produ-
zem efeitos comportamentais, como, por exem-
plo, diminuir a freqüência de comportamen-
tos adequados, eliciar reações emocionais ne-
gativas e alterar a efetividade de conseqüên-
cias de certos comportamentos. Essas condi-
ções de estímulos, como operações estabele-
cedoras, podem estabelecer a efetividade re-
forçadora da atenção, da valorização, da assis-
tência e de cuidados especiais, além de po-
tencializar o valor reforçador do alimento, do
isolamento, do sono, de drogas ou álcool. E,
ainda, as contingências geradoras da depres-
são podem abolir a efetividade reforçadora da
interação social, do trabalho e de atividades
de lazer (Daugher e Hackbert, 2000). Em ge-
ral, os comportamentos depressivos são refor-
çados negativamente. Por exemplo, a esquiva
pode ser reforçada pela prevenção de inte-
rações sociais, uma vez que esses tipos de
interações, no passado, estiveram relacionadas
a algum tipo de crítica negativa. Por outro lado,
os comportamentos depressivos podem ser re-
forçados positivamente pela atenção, pelos cui-
dados e pela assistência de parentes mais pró-
ximos. Uma estratégia de atuação terapêutica,
em casos de depressão, seria apresentar o re-
forço social contingente aos comportamentos
mais adequados e não aos comportamentos
depressivos. Dessa forma, o aumento na den-
sidade de reforçamento de outros comporta-
mentos pode produzir o aumento na freqüên-
cia de comportamentos mais funcionais e a di-
minuição na freqüência dos comportamentos
depressivos. A partir dessa intervenção, pode-
se modelar comportamentos mais funcionais
no repertório comportamental do cliente, de
modo que as contingências de reforço natu-
rais mantenham esses comportamentos em alta
freqüência.
Na terapia, os comportamentos verbais do
cliente e do terapeuta são de fundamental im-
portância. A audiência não-punitiva estabe-
lecida no contexto terapêutico permite ao clien-
te falar a respeito de sua vida e de suas ex-
periências sem o risco do julgamento. A ver-
balização de certos eventos traumáticos per-
mite a diminuição de seu impacto negativo
sobre a vida do cliente, por um processo de
dessensibilização, no qual os estímulos elicia-
dores relacionados à situação traumática per-
dem gradualmente o poder eliciador de res-
postas emocionais negativas. Esse processo de
dessensibilização e de extinção respondente
altera as funções reforçadoras positivas e ne-
gativas de certas contingências relevantes na
vida do cliente, permitindo o aumento na fre-
qüência de alguns comportamentos adequados
e a diminuição na freqüência de comportamen-
tos inadequados. Esses comportamentos estão
relacionados às contingências de reforço cuja
efetividade é alterada pela verbalização.
Portanto, a alteração da OE funciona
como um ponto-chave para uma intervenção
efetiva por parte do analista do comportamen-
to junto aos casos clínicos apresentados no
consultório de psicologia, na tentativa de me-
lhorar o repertório comportamental do cliente
e, conseqüentemente, sua qualidade de vida.
CONCLUSÃO
Um dos aspectos fundamentais da pro-
posta de Michael é a possibilidade de a análise
do comportamento investigar o controle de va-
riáveis motivacionais, como variáveis indepen-
dentes, proporcionando, de certa forma, o res-
gate do tópico de motivação nesta abordagem.
As operações estabelecedoras designam um ins-
trumento conceitual e metodológico para o
estudo experimental do tópico de motivação.
O maior impacto do conceito de opera-
ção estabelecedora tem sido sobre a análise
aplicada do comportamento, considerando os
vários contextos de aplicação. Segundo Iwata
e colaboradores (2000), vários temas de pes-
quisa estão envolvidos na aplicação da opera-
ção estabelecedora. Para esses autores, as pes-
quisas de manipulação da variável motiva-
cional, como componente relevante para a aná-
lise funcional do comportamento, são as mais
importantes porque podem potencializar as
intervenções. Inúmeras são as possibilidades
de aplicação do conceito de operação estabe-
lecedora na análise do comportamento, como,
por exemplo, nos contextos de medicina
comportamental, de clínica, de educação, de
organizações, de esportes, entre outros. Inde-
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44 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
pendentemente do contexto em que ocorra, o
comportamento sempre será o mesmo – um
fenômeno natural determinado por variáveis
ambientais. A tarefa do analista do comporta-
mento é identificar e analisar as relações entre
o comportamento e os eventos ambientais para,
assim, programar contingências de reforça-
mento efetivas em sua prática em quaisquer
um desses contextos.
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